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terça-feira, 29 de julho de 2025

Guiné 51/74 - P27065: Humor de caserna (207): A fome aguça o engenho: roubar vacas, não prenhas, aos balantas de Nhacra, com recurso aos serviços de um "ginecologista"; e "pescar" galinhas com anzol... (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAV 4540, 1972/74)




Guiné > Bissau > Nhacra> c. 1973/74 > Na piscina do quartel... O Eduardo Campos aparece em primeiro plano, a bricnar com um cãozinho. 

Foto (e legenda): © Eduardo Campos (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné




Crachá da CCAV 4540/72 (1972/74), "Somos um Caso Sério": a penúltima companhia a guarnecer Nhacra.Em 10 de abril de 1974, tinha um pelootão destacado na Ponte de Ensalmá.  Em 16 de agosto, foi rendida no subsector de Nhacra pela CCaç 4945/73 e
seguiu para Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso à metrópole.


1. O  Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74) foi um dos nossos camaradas que melhor conheceu Nhacra  onde permaneceu quase um ano, até ao fim da guerra... Tem  cerca de 6 dezenas de referências no blogue. Mora na Mora e faz parte da Tabanca Grande desde 21/5/2008. É autor da série "Histórias do Eduardo Campos".  Algumas delas têm interesse documental para se conhecer melhor como  era o quotidiano da NT nos últimos anos da guerra da Guiné. E estão, em geral,  devidamente recheadas com o "piripiri" do humor de caserna (*).  

Por norma, e se acordo com as nossas regras editoriais, não fazemos juízos de valor (de natureza ética,  disciplinar, deontológica,  política, operacional, etc.) sobre  os episódios aqui relatados (neste caso, sobre levantamentos de rancho, ladrões de vacas,  pilha-galinhas...).  Essa função cabe ao leitor, não ao editor.

A CCAÇ 4540/72, vinda do sul, de Cadique, Cantanhez, região de Tombali, esteve destacada em Nhacra cerca de um ano, desde setembro de 1973 a agosto de 1974.

Como o Eduardo já aqui escreveu, Cadique foi o inferno e Nhacra o paraíso. Ele voltaria ao "local do crime", mais de 3 décadas e meia  depois,   em abril de 2010, com um grupo de companheiros. E não escondeu a sua emoção: 

Quem por lá andou na construção da estrada que liga a Cadique, sabe o quanto nos custou, em sofrimento e morte, essa obra. A partir de Iemberem comecei a sentir e a pensar algo que jamais conseguirei decifrar, mas que posso tentar definir como um misto de emoções, desilusões, euforia, tristeza… por ali fora ia dizendo: “Aqui estive emboscado!”, “Ali morreu o A, o Bê, o Cê..”, “Foi aqui que o capitão paraquedista Terras Marques levantou 4 minas.”, etc, etc. (***)


 A fome aguça o engenho: roubar vacas, não prenhas, aos balantas de Nhacra, com recurso ao serviço de um "ginecologista"; e "pescar" galinhas com anzol... 

por Eduardo Campos


Como nada de importante acontecia  em Nhacra, os dias eram passados de uma forma totalmente diferente das matas do Cantanhez, e, acreditem que por vezes, surgiam-nos as saudades. A vida era tornava-se demasiado sedentária.

As alternativas encontradas, para fugir à rotina, eram as idas a Bissau, e, já que a alimentação nunca foi algo digno desse nome em Nhacra, aproveitava estas saídas para ir ao Pelicano, à Churrascaria de Santa Luzia, ao Bento, etc. Assim, evitava que a “dieta” que me tinha sido imposta, fosse levada muito a sério.

Por falar de alimentação, enquanto no Cantanhez suportávamos tudo, por vezes até com um sorriso, em Nhacra as coisas eram diferentes. O pessoal ficou mais rebelde e negou-se a comer duas vezes. Houve dois levantamentos de rancho.  Um dos quais teve como resultado, que passadas duas horas do início do levantamento, estávamos a comer um bacalhau cozido com batatas, que parecia ter sido confecionado no Hotel Hilton.

Embora não estivesse de oficial de dia nessa data, foi o nosso camarada e amigo tabanqueiro Vasco Ferreira (ex-alferes mil da CAÇ 4540), que resolveu o problema.

A dificuldade em adquirir gado bovino (como já disse em poste anterior , o povo,  por motivos religiosos e tradicionais,  não o vendia) (**), dava origem a que, um grupo de camaradas acompanhado de um especialista em ”ginecologia”, fossem às tabancas, de madrugada, â procura de gado. Então o nosso “especialista” apalpava… apalpava e, não estando prenha a vaca, toca a roubá-la.

Logicamente, o dono da rês vinha atrás deles a gritar e a chorar, mas não havia nada a fazer. Chegados ao aquartelamento, acabavam por fazer negócio e diziam que lhe pagavam um preço justo.

A minha eterna dúvida, nestes negócios forçados, é: “Mas que raio de preço justo era esse, se o homem não queria vender o animal!?”

A minha curiosidade sobre o desenvolvimento destas operações levou-me a que, um belo dia, os acompanhasse para ver como decorria a captura da vaca selecionada.

Nesse dia, logo por azar, o “ginecologista” improvisado enganou-se e trouxe mesmo uma vaca prenha. Foi remédio santo para mim, nunca mais comi carne bovina até ao fim da comissão.

A partir de determinada altura, mesmo cabritos, galinhas e porcos os nativos resistiam em vender. 

Aqui chegados, um camarada das transmissões inventou uma fórmula original, na época, para roubar galinhas, que constava do seguinte: um fio de pesca com vários anzóis, onde colocava uns grãos de milho. Depois pela tabanca fora ia espalhando mais alguns grãos de milho pelo chão. As galinhas vinham por ali adiante a comer os grãos e acabavam, quase sempre, por engolir um dos anzóis. Quando o tal camarada via que a bicha tinha caído na esparrela, saía rapidamente da tabanca com a “vítima” atrás dele.

(Seleção, revisão / fixação de texto, título, negritos: LG)

_________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 28 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27060: Humor de caserna (206): Dois conselhos que aprendi na tropa mas que depois esqueci na guerra: 'Nunca dar nas vistas, nem nunca armar em herói, já que os cemitérios estão cheios deles'..... Felizmente fui para Nhacra e acabou-se a guerra (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Bigene, Cadique e Nhacra, 1972/74)


(***) Vd. poste de 6 de junho de 2010 > Guiné 63/74 – P6546: Histórias do Eduardo Campos (14): Cantanhez: Do inferno ao Paraíso

Guiné 61/74 - P27064: As nossas geografias emocionais (536): a Nhacra que eu conheciu no final da guerra (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74)



Guiné > Bissau > Nhacra > Janeiro de 1972 > Foto 249 > Fonte do Vale,  desvio para a estrada para Cumeré

Foto nº 249 do álbum do  João de Jesus Moreira, ex-fur mil at cav , MA, CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)




Guiné > Bissau > Nhacra > Agosto de 1971 >  O João Moreira em cima do espaldão do morteiro 81

Foto nº 212  do álbum do  João de Jesus Moreira, ex-fur mil at cav, MA, CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)


Guiné > Bissau > Nhacra > Janeiro de 1972 >Posto retransmissor da Emissora Oficial da Guiné, com anti-aéreas

Foto nº 227  do álbum do  João de Jesus Moreira, ex-fur mil at cav, MA, CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)

Fotos (e legendas): © João Moreira  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]
 


Guiné > Bissau > Nhacra> c. 1973/74 > Aspeto da entrada e porta-de-armas do quartel


Foto (e legenda): © Eduardo Campos   (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > Cadique > Junho de 2007 > Pedras que falam da CCAÇ 4540, "Somos um Caso Sério":  esteve aqui, em Cadique, em pleno coração do Cantanhez, na margem esquerda do Rio Cumbijã, de 12 de dezembro de 1972 a 17 de agosto de 1973.

 Foto: Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007)./ Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné 



1. Condensação de 2 textos do  Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74), um dos nossos camaradas que melhor conheceu Nhacra  onde permaneceu quase um ano. Tem  cerca de 6 dezenas de referências no blogue. Faz parte da Tabanca Grande desde 21/5/2008.

É autor da série "Histórias do Eduardo Campos". Vamos lembrar algumas das suas memórias de  Nhacra, que ficava as escassas duas dezenas e meia de quilómetros, a norte de Bissau.


A Nhacra que eu conheci no final da guerra

por Eduardo Campos 




1. Em 08/09/73, saímos do Depósito de Adidos, com destino a Nhacra, onde iríamos substituir a CCaç 3477, “Os Gringos de Guileje”


A partir de 19/09/73, a Companhia passou a ter á sua responsabilidade o subsector de Nhacra, sob as ordens do COP 8, instalado no local.

A área do subsector de Nhacra, tinha por limite:

  • a Norte o Rio Mansoa, 
  • a sul o Rio Geba, 
  • a Oeste o Canal do Impernal 
  • e, a leste, confinava com o Dugal.

Era atravessada, nos seus limites, por uma estrada asfaltada (com grande movimento de pessoas e viaturas), que ligava Bissau a Mansoa. Havia também a ligação entre Nhacra e Cumeré, em estrada asfaltada.

As tabancas mais populosas tinham ligações com as estradas principais, através de picadas largas.

Sobre o Canal de Impernal e no itinerário Bissau – Mansoa, encontrava-se a Ponte de Ensalmá, onde se mantinha em permanência um destacamento da Companhia, dada a sua importância estratégica e pelo facto capital de ser a única ponte que permitia a ligação por terra, entre Bissau e o resto do território da Guiné.

O terreno apresentava uma uniformidade e configuração incaraterísticas, em que os relevos praticamente não existiam. Er apenas entrecortado pelas bolanhas que abundavam nessa região, visto formarem-se a cotas inferiores às do terreno.

Hidrograficamente a região era rica, com os importantes rios Mansoa e Geba, bastante caudalosos na praia-mar, que chegavam a atingir cerca de três metros de amplitude e invadiam uma série de canais, do qual se destacava o Canal do Impernal, que estabelecia a ligação entre eles, dando origem à ilha de Bissau… 

Sim, disse ilha, porque Bissau era uma ilha e, curiosamente, muitos dos nossos camaradas desconheciam o facto.

A mata era muita reduzida nessa região, exceptuando-se pequenas manchas existentes no extremo norte do Rio Geba e nas proximidades do Canal do Impernal.

Na zona interior a savana arbustiva, era salpicada aqui e além, por árvores de grande porte (poilões), mangueiros e cajueiros.

Nas zonas marginais dos rios e dos canais, zonas extremamente pantanosos, abundavam as plantas hidrófilas que se ramificavam em múltiplas raízes, formando o que se designava por “tarrafo”.

A fauna, sem ser abundante, poderia considerar-se rica em diversas espécies. Além dos animais considerados domésticos (bovinos, caprinos, suínos e galináceos), destacavam-se as gazelas, os porcos-espinhos, os macacos, as hienas e as cabras do mato.

Nas aves destacavam-se os pelicanos, as garças os periquitos, além das perdizes, rolas, codornizes, galinha-do-mato, patos, sem esquecer  os jagudis. (...)



2. Em Nhacra, fomos encontrar os camaradas do Pelotão de Morteiros 4581/72 e os do 3º Pelotão AA da Btr AA 7040, além de dois pelotões de Milícias: o 329, aquartelado em Oco Grande,  e o 230 aquartelado em Bupe, ambos pertencendo à Companhia de Milícias de Nhacra e que ficaram adidos à CCAÇ 4540.


O IN não possuía dentro da nossa ZA, pessoal suficiente em quadros e grupos que lhe permitisse desenvolver uma atividade dinâmica e poderosa, quer para flagelar e atacar o aquartelamento e o Centro Emissor de Nhacra, quer para emboscar as NT fora do aquartelamento.

No entanto, fomos informados que Nhacra e o Centro Emissor foram flagelados pelo IN duas vezes: a primeira ao tempo da CCAÇ 3326, em maio de 1972, por um grupo equipado com armas automáticas e RPG-2 e 7; e a segunda em agosto de 1972, utilizando também um canhão s/r. Em ambos os casos sem qualquer consequência material ou pessoal para as NT.

Sabíamos que o IN andava por ali perto e que atravessava, frequentemente, algumas linhas principais de infiltração, para o interior da nossa ZA a saber: de Choquemone, Infaide, Biambe, pela península de Unche para Iuncume, quando se dirigiam para Nhacra.

As principais prioridades da nossa Companhia eram:

  •  a garantia da segurança do Centro Emissor de Nhacra,
  •  o itinerário Bissau–Mansoa;
  •  e, através de intensa actividade (patrulhamentos e reconhecimentos), evitar que o IN se aproximasse de forma a evitar que pudesse atacar a cidade/capital de Bissau, o Aeroporto de Bissalanca, os complexos miltares de Brá e da Sacor, bem como as instalações militares e civis do Cumeré.

Em onze meses de permanência em Nhacra, nunca tivemos contacto com IN, nem as instalações sofreram qualquer ataque.

Os aglomerados populacionais da ZA da nossa Companhia distribuíam-se por dois regulados: 
  • o Regulado de Nhacra com as tabancas de Nhacra, Teda, Sal, Bupe, Sucuto, Incume, Sumo, Nhoma e Cholufe; 
  •  e o Regulado do Cumeré com as tabancas do Cumeré, Com, Cuntanga, Quide, Birla, Caiana, Som Caramacó, Cola, Nague, Ocozinho, Rucuto e Oco Grande (reordenamento zincado).

A estrutura agrícola existente baseava-se numa economia básica de subsistência, cujos produtos, que ocupavam lugares especiais de relevo, eram o amendoim, o arroz, o milho, a mandioca, o feijão, a cana sacarina e pouco mais. 

Na pecuária existiam boas condições para a criação de gado, com a condicionante, porém,  do ancestral costume tribal que considerava o gado como um sinal exterior de respeito e riqueza e não com um factor económico.

Era evidente e manifesto o desagrado em abater, ou mesmo vender, qualquer cabeça de gado, fosse para alimentação ou para outros fins industriais. 

Em toda aquela zona predominava a etnia Balanta, coexistindo com algumas minorias étnicas que se estabeleceram em chão Balanta, vindas de outras regiões, escorraçadas pela insegurança que a guerra originava, principalmente Fulas, Mandingas e alguns Manjacos.

Os Balantas eram dotados de uma impressionante constituição física, trabalhadores, valentes, enérgicos e com grande força de vontade pela vida, ao que acrescentaria que eram bons agricultores, arrancando da terra os meios de subsistência de que necessitavam, alimentando-se à base de arroz, azeite de palma, milho e mandioca. Além disso, eram polígamos e condenavam o celibato. Extremamente supersticiosos, acreditavam na transfiguração da alma, atribuindo à feitiçaria as suas desgraças.

Praticavam o roubo, em especial de gado, com a consciência de um ato não criminoso, mas sim um admirável e enaltecedor sinal que revelava a perícia pessoal, bem com de toda a sua própria tribo. 

O gado bovino que possuíam destinavam-no às cerimónias de sacrifício, nomeadamente nos seus rituais de acompanhamentos fúnebres ("choros").

Os Fulas de um modo geral eram hospitaleiros, considerando mesmo a hospitalidade como um dever sagrado. Apesar da influência que o Islamismo tinha entre eles, praticavam ainda o feiticismo e criavam gado, considerado este facto como um sinal de respeito e nobreza.

A acção psicológica desenvolvida pela NT na zona era bastante intensiva, apesar de se constatar,  em alguns núcleos, certa reserva em relação à mesma, quando não nula, com maior evidência nas tabancas de Sal e Bupe.

As populações tinham:
  • apoio médico/sanitário, 
  • transporte em viaturas militares, 
  • assistência educativa prestada por missões religiosas em várias escolas, um professor militar e vários elementos africanos que estavam adidos à Companhia,
  •  sendo também de salientar a assistência religiosa prestada por padres missionários aos domingos.

(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos, título: LG)


______________

Nota do editor LG:


segunda-feira, 28 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27060: Humor de caserna (206): Dois conselhos que aprendi na tropa mas que depois esqueci na guerra: 'Nunca dar nas vistas, nem nunca armar em herói, já que os cemitérios estão cheios deles'..... Felizmente fui para Nhacra e acabou-se a guerra (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Bigene, Cadique e Nhacra, 1972/74)



Crachá da CCAÇ 4540, "Somos um Caso Sério" (Bigene, Cadique e Nhacra, 1972/74).  Nhacra tinha piscina, o que explica a "sereia" do emblema... (Por mostrar os mamilos, não passa no Facebook, com pena nossa... mas vamos tentar) 



1. O Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540/72  (Bigene, Cadique e Nhacra, 1972/74) tem cerca de 6 dezenas de referências no blogue, tem um excelente sentido de humor e é um bom contador de histórias, como se comprova por aquela que apresentamos a seguir. 

É também um dos melhores conhecedores de Nhacra, onde cumpriu a segunda parte da sua "comissão de serviço"...Não foi herói e tem pena. É um bom amigo e camarada que muito prezo, estando connosco, aqui na Tabanca Grande, desde 21 de maio de 2008. 

É autor da série "Histórias do Eduardo Campos". Vamos lembrar algumas dessas histórias, e que giram à volta de Nhacra.


Na tropa e na guerra, passa despercebido e nunca te armes em herói...

por Eduardo Campos 


(...) Em 17/08/73, a CCaç 4540 ("Somos um Caso Sério") disse adeus a Cadique, a bordo,  mais uma vez, da LDG Bombarda, tendo chegado a Bissau no dia seguinte e sendo conduzida para o Depósito de Adidos, em Brá, onde ficou instalada.

Nessa altura eu já não me encontrava em Cadique, pois tinha sido chamado para uma “missão” programada há algum tempo (35 dias de férias na Metrópole). Apanhei um helicóptero (coisa rara nessa altura) e voei para Bissau.

Neste preciso momento, tentei imaginar o que teria sentido na despedida de Cadique, conjuntamente com a minha Companhia, e, a única coisa que me ocorria, nessa data, era pensar: “A merda do barco nunca mais sai daqui.”

Se fosse hoje, creio bem sério, pensaria: “Foi com certa nostalgia e saudade que deixei para trás aquelas paragens, que, com sacrifício sem conta, ajudei a desenvolver e prosperar ficando ligado para sempre a Cadique.”

Depois de ter gozado as merecidas férias, regressei a Bissau em 31/08/73 e, quando entrei nos Adidos, deparei com muitas viaturas na parada prontas para saírem. Foi nessa altura que tomei conhecimento que a minha Companhia se encontrava ali, ao ver camaradas meus em cima das mencionadas viaturas.

Na recruta, o aspirante do meu pelotão dizia com alguma frequência que existiam duas formas de ultrapassar os obstáculos que a vida militar nos opunha:

  • primeira: tentar passar o mais despercebido possível daquilo que nos rodeava, não dando nas vistas;
  • segunda: nunca se armar em herói, já que os cemitérios estavam cheios deles.

Eu, ao entrar nos Adidos, quando tomei conhecimento que o pessoal e as viaturas, que eu vira momentos antes, iriam escoltar uma coluna que se deslocaria de Bissau para Farim, cometi precisamente o primeiro erro, ao violar a regra “passar despercebido”. De facto, reconheço que terei cometido uma imprevidência, “mandando umas bocas foleiras”.

O nosso capitão, ao ver quem era o “artista das bocas” (que mais parecia desfilar numa passerelle, para trás e para a frente), deve ter pensado lá para ele: “Tens a mania que és fino, então toma lá”, pois virou-se para mim e disse:

 
– Ó Campos, larga o saco e sobe para cima de uma viatura!

– Eu,  meu Capitão? – perguntei.

– Não,  a tua prima !

–  Mas eu nem sequer tenho uma arma... – exclamei.

– Nem precisas, os turras sabendo que vais na coluna não nos atacam. Logo não precisas de arma nenhuma!

E lá fomos até Farim. A partir de Mansoa vi imensos vestígios arrepiantes e desagradáveis de emboscadas, ainda por cima sob uma chuva copiosa, durante toda a viagem de ida e de volta, que jamais esquecerei.

Nesse tempo, quase todas as colunas que faziam esse percurso, eram surpreendidas com emboscadas, das quais, infelizmente, resultaram muitas mortes de camaradas nossos. Alguns dos corpos ainda se encontravam nos Adidos a aguardar embarque de regresso ao Continente.

O capitão teve razão, ia na coluna um militar que “impunha muito respeito” ao IN e de facto não aconteceu nada em toda o percurso e devo acrescentar que, em quase vinte e quatro meses de Guiné, nunca tive distribuída uma arma e nem um tiro disparei.( É verdade, nem aos pombos!)

No entanto, fui ferido várias vezes e também tive o meu momento de glória.

Os ferimentos (várias escoriações) foram fruto das “aterragens” mal feitas nas valas. Umas vezes mal calculadas e outras porque entrava de bruços, cabeça, etc. (Por favor,  não se riam porque muitos de vós também as fizeram.)

Quanto ao ato de grande de heroísmo, tudo se passou durante um ataque do PAIGC, com armas ligeiras ao nosso aquartelamento. O meu camarada de serviço foi para o abrigo, não tendo levado o rádio como lhe competia e nada nem ninguém o demoveu, para o ir buscar.

Eu, com uma calma que não me era habitual, saí do abrigo e fui buscar o rádio, regressando ao abrigo com toda a descontração deste mundo. A justificação para tal feito só a encontro num bom copo de whisky que emborcara momentos antes.

Para surpresa minha, não surgiu nenhuma proposta para o prémio Governador ou mesmo um simples louvor. Senti-me deveras injustiçado pela atitude das minhas chefias militares.

Em 08/09/73, saímos do Depósito de Adidos, com destino a Nhacra, onde iríamos substituir a CCaç 3477, “Os Gringos de Guileje”.

A partir de 19/09/73, a Companhia passou a ter á sua responsabilidade o sector de Nhacra, sob as ordens do COP 8, instalado no local.

Meus amigos, para mim e para a minha Companhia,  a guerra tinha terminado, iria ter cerca de um ano de férias e ainda por cima almoçado remuneradas. (...)

(Revisão / fixação de texto, título: LG)
____________________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 24 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27051: Humor de caserna (205): uma boleia para Bissau à pala de uma falsa evacuação Ypsilon (Paulo Santiago, ex-alf mil, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72)

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25689: Humor de caserna (68): Passa-palavra, furriel Canhão à frente! (Alberto Branquinho)



Leiria > Monte Real > Palace Hotel > 26 de Junho de 2010 > V Encontro Nacional da Tabanca Grande > Sousa de Castro, o antigo 1º cabo radiotelegrafista (CART 3494, Xime e Mansambo, 1971/74), tentando comunicar com o Eduardo Campos, ex-1º cabo trms (CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74), simulando uma situação de comunicação militar,  vulgaríssima, em operações no mato, com recurso ao velhinho Emissor / Receptor AVP1, o famoso"rádio-banana" (*).

Fotos (e legendas): © Sousa de Castro (201o). Todos os direitos [Edição e legendagem complementar : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 

 

1. A comunicação humana parece fácil... mas não é. É uma das principais fontes de conflito, a nível das nações, das sociedades, das organizações, dos grupos, das famílias... E, então, nas redes sociais, é que pode ser mesmo um "bico de obra"...Podemos falar todos português, a mesma "língua", o que não quer dizer a mesma "linguagem"... Em suma, muitas vezes  a gente não se entende...

Comunicar (do latim, "communicare", que quer dizer "pôr em comum", "partilhar"...) é mais do que uma técnica: quem diz o quê a quem, por que meio, e com que efeitos...

A comunicação é uma "arte",  uma "competência", que se tem de se aprender, praticar, desenvolver... Tem muitas subtilezas e armadilhas... Não é só o "texto", é o "contexto"...

 Na tropa e na guerra, no nosso tempo, não faltaram as situações (umas trágicas, outras dramáticas, outras ainda caricatas) de incomunicação, total ou parcial. Às vezes até podia dar jeito à "tropa macaca" quando queria "acampar": por exemplo, as "transmissões não funcionavam" entre terra e ar...


Alberto Branquinho (n. 1944, Vila Foz Coa),
advogado e escritor, a viver em Lisboa desde 1970,
ex-alf mil, CART 1689 / BART 1913,
Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69),
tem mais de 140 referências no nosso blogue:
é autor das notáveis séries "Contraponto"
e "Não venho falar de mim... nem do meu umbigo". 
Tem vários livros publicados, incluindo 
o "Cambança Final"  (2013).


2. O nosso Alberto Branquinho, no seu livro de contos "Cambança Final" (2013) tem uma dessas cenas de (in)comunicação "bem apanhadas", e que merece ser contada ... 

Mais uma vez, temos o privilégio de beneficiar do seu apurado sentido de humor e do seu talento como contador de histórias (**). 


 Passa-palavra, furriel Canhão à frente!

por Alberto Branquinho


Durante as operações militares a comunicação, entre o capitão, comandante de uma companhia e os quatro alferes responsáveis pelos pelotões, era feita através dos chamados rádios-banana: rádios pequenos, com cerca de um palmo de comprimento e cerca de cinco centímetros de espessura, previamente sintonizados e com regulador de som. As extremidades do rádio eram ligadas por uma correia de lona, extensível, que permitia pendurá-lo do pescoço, caído sobre o peito.

No entanto, quando era necessário passar uma mensagem ou uma ordem para retaguarda da coluna, era usada a transmissão homem a homem, o chamado "passa-palavra".

Tinham sido detetadas, na frente da coluna, terras recentemente movimentadas e folhagem caída, ainda fresca. O capitão entendeu dever chamar o furriel de minas e armadilhas, com o apelido Canhão.

− Passa-palavra, o furriel Canhão à frente !

A mensagem foi passando para a retaguarda:

− Furriel Canhão à frente...

− Furriel Canhão à frente...

E assim sucessivamente, homem a homem.

Passaram minutos e minutos. O capitão estava já impaciente, porque o furriel não vinha. Então surgiu a resposta, de trás para a frente:

− Canhão não veio... 

− Canhão não veio... 

− Não veio o canhão... 

− Canhão ficou no quartel!... 

Fonte:  Alberto Branquinho  - Cambança final: Guiné, guerra colonial:  contos. Vírgula, Lisboa, 2013, pp. 45/46

(Título, excerto,  revisão / fixação de texto, parênteses curvos, para efeitos de publicação deste poste, na série "Humor de caserna": LG)  (Com a devida vénia ao autor e à editora...)

___________

Notas do editor:


terça-feira, 18 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25654: Elementos para a história do Pel Caç Nat 51 - Parte VII: Notícias do Armindo Batata e fotos do seu tempo de Cufar (1970)



Foto nº 56



Foto nº 64 


Foto nº 65


Foto nº 66


Foto nº 60


Foto nº 57


Foto nº 63


Foto nº 62

Guiné > Região de Tombali > Cufar > Pel Caç Nat 51,  > 1970 > Álbum fotográfico do Armindo Batata, ex-alf mil, que esteve em Guileje (de jan 69 a jan 70), e depois em Cufar (de jan a dez 70), até acabar a comissão,como comandante do Pel Caç Nat 51.

Fotos  acima, nºs  56, 57, 60, 62,  63, 64, 65, 66

Fotos (e legenda): © Armindo Batata (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Mensagem de Armindo Batata (foto atual à esquerda):

Data - segunda, 17/06/2024, 18:03
Assunto - Pel Caç Nat

Caro Luís

As minhas desculpas por não te ter respondido de imediato como devia ter feito, mas ... sempre alguma coisa (inventada) para fazer, cumulativamente com a crescente vontade de preguiçar.

Quanto ao Pel Caç Nat 51, pouco ou nada tenho para contribuir para esse louvável movimento de recuperação de memórias. Durante umas duas dezenas de anos, ou mais, após o meu regresso da Guiné, essas memórias foram atiradas para um qualquer pego bem fundo nos confins das recordações. Felizmente que por lá ficaram.

Prometo que vou ter o cuidado de ler tudo o que se publicar referente aos tais dois anos em que por lá estive (1969 e 1970) e pode ser que alguma coisa venha à tona.

Um abraço
Armindo Batata


2. Republicam-se, reeditadas, mais algumas fotos do álbum do nosso camarada, que esteve em Cufar, em rendição individual, durante o ano de 1970,  como comandante do Pel Caç Nat 51, depois de ter estado, durante o ano de 1969, em Guileje. 

Aproveita-se para recompletar as legendas com a ajuda de vários camaradas que passaram por Cufar em diferentes períodos:

(i) Mário Fitas (ex-fur mil, op esp,  CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/66);

(ii)  Eduardo Campos (ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74);

(iii) António Graça de Abreu (ex-alf mil, CAOP1, Canchungo / Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74)


Acrescente-se, da nossa lavra, que nas fotos nº 56 e 64 vê-se o pau da bandeira e, na sua base, um pequeno monumento de homenagem à CART 1687 (Cachil e Cufar, 1967/69). 
Na foto nº 57  é visível um posto de vigia no alto de uma árvore, com uma escada de acesso. Devia ter uma bom ângulo de visão.

 
(i) Mário Fitas
  • Foto nº 62 > À esquerda identifica-se a pista de Cufar em terra batida, inaugurada em 1957 pelo então presidente da Republica Craveiro Lopes na sua visita à Guiné. Esta pista tinha na altura mil e novecentos metros de comprimento. No começo da pista ficava a entrada principal do aquartelamento. Ao fundo vê-se a mata de Cufar Novo, de onde foram extraídas as palmeiras para construção dos abrigos do novo aquartelamento. Do lado direito, vislumbra-se a mata de Cufar Nalu onde existia uma importante base do PAIGC e que foi tomada em 15 de naio de 1965 na operação "Razia". É bastante visível no sentido descendente a estrada para o cais do rio Manterunga.
  • Foto nº 56 > É a parada com o pau de bandeira, que não consigo identificar, se é o cibe que nós lá colocamos. Ao lado direito a Capela construída pelos "Lassas" e que posteriormente por outra companhia foi transformada em armazém.
  • Foto nº 64 > Parada, vendo-se ao fundo a antiga fábrica de descasque de arroz do sr. Camacho, e que em seu redor em abrigos cavados no chão era o aquartelamento que existia. De março a maio de 1965 foi um trabalho de loucos, para não sermos apanhados pelas chuvas nos buracos.
  • Foto nº 65 > Esta foto foi tirada do varandim da habitação da antiga quinta e transformada em habitação e funcionamento do comando.
  • Foto nº 66 > Julgo tratar-se da fachada norte do comando onde existia a tabanca dos milícias do João Bacar Jaló.
  • Foto 60 > Varandim do comando, vendo-se ao fundo a casa do gerador. Na altura da CCaç 763, de permeio, existia o canil.  
(ii) Eduardo Campos (esteve em Cufar apenas 4 meses em diligência, ao serviço do Cop4 e adido a CCAC 4740.)

  • Foto nº 57 e 62 > "O que a foto 57 nos mostra, tenho a certeza que já não existia, no meu tempo, pois pela sua originalidade eu jamais poderia esquecer o engenho e obra de arte que a mesma transmite."
  • Foto nº 62 > É Cufar, mas quando lá cheguei em 1972 o 'aglomerado residêncial' era muito maior. Do lado esquerdo da foto, parecer ser a pista em terra (quando lá cheguei já era em alcatrão) e saída para Catió e Matofarroba. Lado direito, o que parece ser uma estrada, seria a picada que ia para o porto no rio Combijã.
  • Fotos nºs 56, 64 e 65 > Recordo, aqui sem dúvidas, que são de Cufar. As restantes fotos não me recordo. Quanto a boas recordações de Cufar, direi que sim foram mesmo muitos boas: manga de ataques com foguetões (...), dois ataques de armas ligeiras ao arame, dormir numa tenda de campanha em que o colchão foi feitas de folhas de árvores e ainda alguma fominha á mistura. 40 anos depois e podendo até ser irónico, tudo isso para mim hoje, são mesmo boas recordações. As restante fotos não consigo identificar (...), mas por breves momentos voltei a Cufar, o que por si foi bom.

(iii) António Graça de Abreu

  • Fotos nº 57, 63 e 65: Não é uma terra portuguesa, é Cufar, com certeza. Mas Portugal andou por lá. Cufar é, na Guiné o único lugar onde eu gostava de regressar. Sofri em Cufar tanta, tanta dor, coisas que não tenho vergonha de contar seja a quem for. Adiante, camarada, ávante. Sou tão português que ainda gosto de sofrer, como se está a ver. 
  • Na foto 63, a tabanca mais à esquerda foi a minha casinha durante uns quatro meses. Os bidons cheios de terra eram uma segurança nas flagelações, mas havia muitas valas. O poleiro alto na foto 57 já não existia em 73/74. 
  • Mas a capela lá estava  (foto  65) e foi usada, infelizmente com demasiada frequência para guardar corpos de militares falecidos em combate, antes de vir o cangalheiro para depois seguirem de DO ou Noratlas para Bissau.



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CART 2477 (1969/71) > O Jorge Simão, 
 residente em São João da Madeira, foi 1º Cabo Escriturário, CART 2477, Cufar, 1969/71. Aqui junto ao edifício da secretaria... Várias companhias por aqui passaram, além da CART 2477: CCAÇ 763, CCAÇ 1621, CART 1687...  Na foto de cima, uma vista aérea de Cufar...


Fotos (e legenda): © Jorge Simão (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

3. Comentários adicionais de Armindo Batata: 

(i) Olha o Jorge Simão !!! Um abraço,  caro Jorge. A secretaria era ao lado do meu quarto. Tinha de facto uma 'chaise long'  à porta. Seria aquela?


(ii)  Caros Mário Fitas e Eduardo Campos: Disseram tudo o que era importante. Deixem-me só acrescentar dois pormenores: Foto nº 60 > Do lado de cá do extintor é a porta da secretaria e do lado de lá, a do meu quarto; Foto nº 57 >  Era um posto de vigia, raramente ocupado, junto ao canhão s/r e do lado de Cufar Nalu.

13 de outubro de 2012 às 21:37



Comentário do nosso leitor Henrique Reis, um "cufarense":

Feliz por estar aqui a conhecer a história duma tabanca/aldeia onde cresci (por meu pai lá ter trabalhado 5 anos pós a guerra colonial), anos e anos depois da vossa vida lá.

Vendo os vestígios da guerra colonial mas sem poder interpretar ou melhor conhecer bem a história, claro, ninguém podia nos contar. Conheço bem a pequena tabanca/aldeia de Cufar, vi os vestígios (sucatas de carros queimados logo depois do quartel e atrás a casa de gerador tínhamos sucatas de carros queimados... de balas de armas pequenas e grandes por todo e quanto é lado em Cufar, os restos do barco queimado ainda até a data está lá a ponta do barco no pequeno porto...o quartel ainda lá está). E vou lá de quando em vez visitar e prometo ainda dentro de dias poder ir visitar de novo e, se possível, vos trazer fotos daquela pequena aldeia/tabanca de Cufar que conheciam.

Meus muito obrigado à todos vocês.
"Cufarense"
Henrique Reis

8 de agosto de 2019 às 03:56

sexta-feira, 22 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23189: Memória dos lugares (440): A antiga pista de Cufar...e uma torre de vigia do tempo da CART 2477 (1969/71) (Martin Evison, Action Guinea-Bissau, Catió e Cufar)

 












Guiné-Bissau >Região de Tombali > Catió > Cufar  > A antiga pista de Cufar, usada pela Força Aérea Portuguesa durante a guerra colonial (1961/74). Posto de sentinela do tempo da CART 2477 (Cufar, 1969/71).

Fotos (e legenda): © Martin Evison  (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Tombali > Cufar > c. 1973 > O Nordatlas na pista de Cufar... Posando junto dele o Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms, CCAÇ 4540 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74) (*)



Guiné > Região de Tombali > Cufar > c. 1973 > O Nordatlas na pista de Cufar (*).

Cufar era uma placa giratória de apoio logístico para o Sul e, por esse motivo, originava um movimento muito fora de vulgar, quer em meios aéreos, quer em viaturas e pessoal militar.


Fotos (e legendas): © Eduardo Campos  (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de 20/04/2022 à(s) 20:31, enviada por Martin Evison, através do formulário de contacto do Blogger:

Estive em Cufar na semana passada. Tenho algumas fotos da pista de pouso (sic).
 
Um tem um prédio marcado como CART 2477. Por favor, deixe-me saber se eu posso enviá-los para você. Martin.


2. Respondemos-lhe de imediato nestes termos:

Olá, Martin, teríamos todo o gosto... Temos poucas referências a essa companhia de artilharia, a CART 2477, que por lá passou, em Cufar, em 1969/71, durante a guerra colonial. 

 Saudações, "mantenhas". Luís Graça


3. Nova mensagem do Martin Evison, quinta, 21/04, 19:48  


Olá, Luis,

Anexo algumas fotos. Há algumas mullheres na passarela secando arroz.

Tive problemas por tirar as fotos e tive que me apresentar ao comandante em Buba. Acho que também era um acampamento do exército português. A pista tem sido usada por traficantes de drogas. O exército colocou toras 
 [, toros, em português dePortugal] na pista para controlar seu uso. Supõe-se que a recente tentativa de golpe de Estado tenha sido relacionada a drogas.

Tive o prazer de encontrar uma foto de blog mostrando a 'torre de controle' (?), com um Nord Nordatlas.

4. Depois de recebermos as fotos, perguntámos, com data de ontem, 11:53 e 14:36:

Olá, Martin, está tudo OK. Vou publicar  as fotos com o teu nome. Podemos identificar o autor das fotos ? Não há problema (de segurança, por exemplo) ?

 Gostava de resto que, enquanto amigo da Guiné-Bissau e falando português, te juntasses a esta "tertúlia" ou "comunidade virtual", a Tabanca Grande, que tem 860 "amigos e camaradas da Guiné"... E faz amanhã 18 anos de existência na Net, um grande longevidade... 

 É apenas um blogue de "partilha de memórias (e de afectos)", sem quaisquer "bandeiras" (político-ideológicas, religiosas, étnicas, etc.)... Claro que a maioria dos participantes (90%) são antigos combatentes...E gostariámos que houvesse mais guineenses

Vives na Guiné-Bissau ? Vai dando notícias...  Mantenhas. Luís

5. Resposta do Martins Evison, com data de ontem, 16:05

Olá, Luis,

Obrigado por suas respostas.

Não sou guineense - sou inglês e estava visitando Guiné a convite de uma instituição de caridade inglês - "Action Guinea Bissau" - que ajuda a restaurar poços de água, casas de banheiro e prédios escolares, e patrocinar  uns estudantes de direito e mediina, por exemplo.

Estou aprendendo português, mas meu progresso é lento. Interesso-me pela história portuguesa, de que nós, em Inglaterra, não conhecemos o suficiente.

Por isso, tirei as fotos da pista e da torre, e pouso (sic) e encontrei a foto de 69/71 do Nordatlas com a torre de controle mostrada nele em seu blog! (*)

Tudo bem,  você usar meu nome como autor. Seria possível incluir algumas fotos do trabalho da "Action Guinea-Bissau", uma  instituição de "charity" (beneficência) em Catió e Cufar, e um link para projetos anteriores - se você acha que é apropriado?   (**)

https://www.actionguineabissau.org.uk/project-gallery

Publicaremos a seguir um poste, com as fotos referentes  à " Action Guinea Bissau", " uma organização sem fins lucrativos,  fundada em 2020", sediada no Reino Unido, e que  "está a trabalhar para resolver questões relacionadas com a igualdade de género, desemprego e ambiente na Guiné-Bissau."
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31  de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 – P5569: Histórias do Eduardo Campos (2): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério (Parte 2): 5 meses como operador de mensagens em Cufar