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terça-feira, 2 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25708: Timor-Leste, passado e presente (10): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte II: Como era a pequena colónia do sudoeste asiático em 1940/41 ?



Timor Leste > s/d (c. 1936/40) > O "liurai" Dom Aleixo Corte-Real (1886-1943), régulo de Ainaro e Suro, um dos heróis luso-timorenses  da resistência contra os ocupantes japoneses na II Guerra Mundial.


Timor Leste  > Dili >  c. 1939 > 
Vapor Oekussi, adquirido em março 1939.  



Timor Leste  > Dili >  c. 1936/40  > 
O Palácio do Governador




Timor Leste > Dili > s/d  > Colégio-liceu "Doutor Francisco Machado", inaugurado em 1939.

Fotos do Arquivo de História Social > Álbum Fontoura. Imagens do domínio público, de acordo coma Wikimefdia Commons.


O Álbum «Colónia Portuguesa de Timor», mais conhecido por «Álbum Fontoura», nome do governador que o mandou elaborar em finais dos anos 30, e coincidindo, então, com a permanência em Timor de uma missão geográfica e geológica, chefiada pelo geógrafo Jorge Castilho, contém 549 fotografias relativas a «grupos étnico-linguísticos e tipos em geral», «trajos, ornamentos, pertences e armas», «vida familiar e social», «formas de trabalho (…), arte indígena e instrumentos musicais» e «acção civilizadora e colonizadora». O exemplar do álbum, recuperado após Abril de 1974 pelo antropólogo, professor António de Almeida, foi depositado no AHS (Arquivo Histório Social, ISC/UL, pela «Família Almeida», através do Doutor Pedro Cardim. (Fonte: AHS/Album Fontoura)


Uma cópia digitalizada deste álbum foi oferecido pelo ICS/UL a Xanana Gusmão: "Quisemos fazer um 'fac-simile' para oferecer aos arquivos de Timor, que isto fosse um instrumento de estudo do país. O álbum é algo que interessa aos timorenses, apesar da carga muito colonial. É um retrato de partes de Timor que desapareceram com a invasão japonesa na Segunda Guerra Mundial e que as gerações nascidas depois de 1945 desconhecem", disse Fátima Patriarca, arquivista e socióloga do ICS, ao jornal "Público".

O coronel Álvaro Fontoura (Bragança, 1891 - Lisboa, 1975), foi "governador de Timor entre 1936 a 1940 e é-lhe atribuída a ideia de organizar o Álbum Fontoura". Era então major de infantaria,

Licenciou-se em engenharia civil na Universidade do Porto e foi professor do Colégio Militar entre os anos de 1925 a 1937, da Escola Superior Colonial entre 1932 a 1947 e do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Ultramarinas (ISCSPU) / Universidade Técnica de Lisboa entre os anos de 1939 e 1961.

Será depois chefe de gabinete do Ministro das Colónias, Francisco José Vieira Machado, de 1940 a 1944, presidente da Junta Central de Trabalho e Emigração do Ministério do Ultramar de 1937 a 1960 e Diretor dos Caminhos de Ferro de Moçambique. Como parlamentar participou como deputado da IV Legislatura (1945 - 1949) pelo círculo eleitoral de Macau.



1. Estamos a publicar notas de leitura e excertos do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (*), disponível em formato digital no Internet Archive.

 Timor Leste, como é sabido, foi o único território  ultramarino (na altura, designado como "colónia" , até 1951)  que foi invadido e esteve ocupado por forças estrangeiras, durante a II Guerra Mundial (entre dezembro de 1942 e setembro de 1945): tropas autralianas e holandesas, primeiro, e depois japonesas.

O livro em apreço é um documento importante para se conhecer melhor este dramático  período da história de Timor.  

Segundo o nosso grão-tabanqueiro,  cor art ref Morais Silva que é natural de Lamego, o médico José dos Santos Carvalho teria nascido no concelho vizinho de Armamar (e,  pelas nossas contas, no início de República): 

"Família Santos Carvalho, originária de Cimbres (município de Armamar). Em Lamego viveram o irmão, dr Joaquim Carvalho (acompanhou a gravidez da minha mulher) e a irmã, dra. Maria Adelaide, ambos médicos da Casa de Saúde de Lamego, já falecidos. Família prestigiada, tem descendência a viver em Lamego." (Comentário ao poste P25683) (*)

Atualizávamos a ortografia e a grafia dos topónimos. O livro foi redigido no principio da década de 1970, sendo uma edição da Livraria Portugal Editora, na Rua do Carmo 70  (que já não existe como editora, creio eu),composto e impresso na Gráfica de Lamego.


"Uma vista de olhos sobre Timor em 1941" (**)

por José dos Santos Carvalho


(i) Nas páginas 11 a 15, o autor faz uma sucinta mas interessante apresentação do então  pequeno território português de Timor ao qual ele atribuiu mais 4 mil quilómetros quadrados de superfície (19 mil em vez de 15 mil).

(...) "O território principal de Timor Português apresenta uma forma em ferro de lança e a sua superfície corresponde a cerca de 19.000 km2 , pouco mais que um quinto da da metrópole " [15007 km km é a superfície oficial de Timor Leste, segundo o sítio do respetivo Governo].

(...) A  ilha de Timor está situada na zona tórrida, muito perto do equador e ao norte da Austália da qual dista cerca de quatrocentos quilómetros, pertencendo a Portugal somente a metade oriental e o pequeno território do Oecussi encravado na metade estrangeira (hoje indonésia, em 1940 holandesa) .

"Pertence-nos [ é curiosa esta "apropriação coletiva" por parte do autor na qualidade de funcionário colonial] também, a ilhota de Ataúro (cujo nome em malaio é o de Poeloe Cambing, isto é, a ilha das cabras)".


(ii) Sobre a topografia e  o clima  do exótico e longínquo território, José dos Santos Carvalho faz questão de esclarecer os seus leitores:

(...) A terra timorense mostra-se muito acidentada sendo, praticamente, uma cadeia de montanhas que emerge abruptamente do mar. O seu ponto mais alto é o pico do Tatamailau, do monte Ramelau, que se aproxima dos 3.000 m. de altitude. (...)

O clima é muito quente nas terras à beira-mar, tais como Díli e Liquiçá, sendo esta última a terra do ultramar português que apresenta uma temperatura média anual mais elevada.

Porém, como quase todo o território está situado em certa altitude, a maior parte das povoações dispõe de clima agradável, por ser relativamente seco e bastante uniforme. Em terras de 1.000 metros de altitude, como a Ermera, por exemplo, o clima é de «Primavera Eterna», como Teófilo Duarte o denominou.

Não se diferenciam as quatro estações anuais dos países temperados. Distinguem-se, sim, duas épocas — a da seca e a das chuvas — desenvolvendo-se esta última de Novembro a Março. (...)


(iii) Pode também ter algum interesse para os nossos leitores, que acompanham a história recente de Timor, saber como, do ponto de vista administrativo, estava organizado o território, quando o "médico de 2ª classe", José dos Santos Carvalho é lá colocado. O modelo era o das "circunscrições administrativas" (que também conhecemos na Guiné):

(...) Em 1940, a então oficialmente denominada colónia de Timor estava dividida em cinco circunscrições administrativas com sede em Bobonaro, Aileu, Manatuto, Baucau e Lautém e um concelho, o de Díli. 

A circunscrição com sede em Bobonaro tinha o nome de circunscrição da Fronteira, a de sede em Baucau o de circunscrição de S. Domingos e a de sede em Aileu, o de circunscrição do Suro. (...) [Vd. na Wikipedia a atual organização administrativa que "é fruto da fusão de influências da colonização portuguesa e da ocupação indonésia".]

(iv) A organização dos serviços de saúde era muito sumária, repartindo-se em três "delegacias de saúde": 

  • a da zona central com sede em Díli e abrangendo o concelho deste nome, a circunscrição de Aileu, o posto administrativo de Ataúro e o território do Oecussi; 
  • a da zona leste, com sede em Baucau e abrangendo as circuncrições deste nome, a de Manatuto e a de Dautém; 
  • e a da zona oeste, com sede na Hátu-Lia e abrangendo o restante território.

(...) Cada zona sanitária era administrada por um médico, o delegado de saúde. Nas sedes das zonas sanitárias estava instalada uma enfermaria regional, dirigida pelo delegado de saúde, e, nas restantes circunscrições e postos administrativos, funcionava uma ambulância sanitária a cargo de um enfermeiro diplomado.

Os serviços centrais de saúde competiam à Repartição Técnica de Saúde e Higiene da Direcção da Administração Civil da colónia e eram chefiados por um dos médicos aí em serviço, nomeado pelo Ministro.

A Repartição de Saúde estava instalada no pavilhão principal do Hospital Dr. Carvalho, em Lahane, próximo do qual tinha o chefe a sua residência. (...)

O hospital, inaugurado em 1906, chamava-se Carlos I, o penúltimo rei de Portgal. Depois, com a República, foi renomeado Hospital Dr Carvalho, em homenagem à figura do dr. Tomás de Carvalho (1819-1897), um médico que defendia o ideal republicano, e  que em 1858 tinha sido sido eleito deputado pelo círculo eleitoral de Macau (que incluía Timor) e exerceu essas funções durante várias legislaturas, até se tornar Par do Reno...

O governador de Timor era então (de 1940 a 1945) o capitão Manuel Abreu Ferreira de Carvalho (Porto, 1893 - Lisboa, 1968). (Durante a ocupação estrangeira, australiano-holandesa e depois japonesa, o seu cargo terá sido meramente formal ou simbólico.) 

(v) Era, entretanto,  diminuto o pessoal que  administrava o território: 

(...) O governador de Timor residia no vulgarmente chamado palácio de Lahane e despachava os assuntos de administração pública no também denominado palácio da secretaria da administração civil em Díli, na avenida marginal. Dois funcionários superiores, o chefe do gabinete e o secretário, trabalhavam intimamente com o Governador.

A direcção dos serviços de administração civil pertencia a um intendente administrativo de quem dependiam o administrador do concelho de Díli e os administradores das diversas circunscrições. Destes últimos dependiam os chefes de posto administrativo.

No concelho de Díli e nas circunscrições estavam em serviço, além do administrador, um secretário de circunscrição e um ou mais aspirantes administrativos.

Diretamente do Governador dependiam, além dos serviços militares, e de administração civil, os de saúde e higiene, das alfândegas, dos correios e telégrafos, da fazenda e das obras públicas. (...)




Timor Leste > 2024 > Com c. 15 mil km2, e mais de 1,3 milhões de habitantes, ocupa a parte oriental da ilha de Timor, mais o enclave de Oecusse e a ilha de  Ataúro. Antiga colónia portuguesa, tornou-se independente em 2002, depois de ter sido  invadida e ocupada pela Indonésia durante 24 nos, desde finais de 1975.    

Em termos administrativos, a atual República Democrática de Timor-Leste encontra-se dividido em 13 distritos: 

(i) Bobonaro, Liquiçá, Díli, Baucau, Manatuto e Lautém na costa norte; 

(ii) Cova-Lima, Ainaro, Manufahi e Viqueque, na costa sul; 

(iii) Ermera e Aileu, situados no interior montanhoso; 

(iv) e Oecussi-Ambeno, enclave no território indonésio.

Infografia : Wikipédia > Timor-Leste |  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné 



(vi) Mais escassa ainda era a força militar que defendia Timor em 1941. O autor não esconde o caricato do dispositivo militar,  incapaz de assegurar a efetiva "neutralidade" de Portugal no conflito mundial, que chegou também ao Sudoeste Asiático, em 1941, e que será de resto um pretexto para as duas invasões estrangeiras:

(...) A tropa de Timor, constituída na sua quase totalidade por naturais da ilha, estava pessimamente equipada e com armas obsoletas, como espingardas Kropatchek do modelo de 1895, com cartuchos carregados em 1905,  e de carabinas Winchester idênticas às dos filmes do Far West, com excepção de algumas metralhadoras de tipo moderno recentemente adquiridas. 

Era muito reduzido o número de oficiais e sargentos e mesmo de cabos, com a agravante de bastantes destes dois últimos estarem fora do serviço militar, em comissão como chefes de posto administrativo.

O único organismo de algum valor militar que então havia era a Companhia de Caçadores de Timor, aquartelada em Taibéssi, próximo de Díli, tendo como oficiais os tenentes Liberato, Ramalho e Garcia de Brito.(...) 


A justiça reduzia-se a dois magistrados:

(...) Os serviços de justiça dispunham de um juiz de direito, o Dr. José Nepomuceno Afonso dos Santos e de um delegado do procurador da república, o Dr. Noronha. [O juiz era o pai do cantor e compositor José Afonso, 1927-1987: vd. documentário da RTP "Rosas de Ermera"].


(vii) Quanto à Igreja Ctaólica estava tradicionalmente melhor implantada:

(...) Existia em Timor (que pertencia à diocese de Macau) uma eficiente organização missionária católica servida por sacerdotes, formados em Macau, e por irmãs missionárias canossianas, de nacionalidade italiana.

As «Missões» dispunham de colégios para rapazes na Soibada e em Ossú, onde preparavam excelentes catequistas e ministravam a instrução primária a grande número de alunos; as irmãs tinham ao seu cuidado colégios em Díli, Dare e Soibada, onde educavam e instruíam bastantes meninas timorenses e de
outras naturalidades.

Em Díli funcionava um colégio-liceu, cujos professores eram funcionários de diversos serviços oficiais que viviam em Díli. Assim, por exemplo, o professor de história era o tenente Dr. Garcia de Brito, o de matemática o senhor Lourenço de
Oliveira Aguilar, administrador do concelho de Díli, etc. (...)


Timor, por outro lado, e como é sabido, foi também um local de 
"encarceramento e deportação" (Vd. poste P25454) (**)

(...) Encontravam-se então em Timor algumas dezenas de portugueses metropolitanos que para aí haviam sido deportados por motivos políticos, vivendo livremente e recebendo do Estado um subsídio para a sua subsistência. 

Pertencentes a diversas profissões eram, pela sua preparação técnica e capacidade de trabalho, elementos muito apreciáveis para o desenvolvimento da terra, Colonos, artífices ou comerciantes, distinguiam-se ela sua actividade. Dentre eles, avultava a figura prestigiosa do Dr. Carlos Cal Brandão que exercia a profissão da advocacia em Díli, onde havia constituído família. (...)

O autor também aborda a questão da língua, sendo o tétum o mais falado:

(...) Em Timor fala-se mais de uma dúzia de línguas ou dialetos diversificados, apesar da área da ilha ser tão pequena. Porém, há um deles, o «tétum» que é compreendido em toda a parte. A sua gramática é muito simples e a pronúncia fácil para europeus. (...)

(viii) Figura destacada então, por pertencer à nobreza guerreira timorense, e leal à bandeira portuguesa, era então o "liurai" (ou régulo) de Suro e Ainaro,  Aleixo Corte-Real (1886-1943), que será depois preso e fuzilado pelos japoneses.
("Dom Aleixo viria a visitar Portugal, juntamente com mais oito timorenses, a fim de participar na Exposição Colonial do Porto", segundo se lê na Wikipedia).

(...) Os timorenses conservam os seus chefes tribais tradicionais, os «liurais» (por nós chamados régulos), tendo alguns mais ilustres o título de Dom e, aqueles com serviços à Nação, postos na tropa de segunda linha que em Timor se chama a
tropa de «moradores».

Eram muito conhecidos em 1940, o liurai de Ainaro, D. Aleixo Corte-Real, o de Ossuroa, D. Paulo, o do Remexio, coronel D. Moisés, etc., e o coronel José Nunes, de Maubara. (...)


(ix) Há mais informações no livro do nosso médico, sobre os Timorenses e Timor, incluindo as muitas poucas empresas agrícolas de natureza colonial:

(...) Os timorenses são de fraca constituição física, de inteligência viva e de carácter firme e leal. Portugueses de alma e coração, adoram participar em formaturas e marchas de tropas de segunda linha e sentem respeito religioso pela bandeira da Pátria que mais que tudo veneram.

Em Timor cultivam-se com largueza todos os géneros agrícolas necessários para uma boa alimentação. O arroz, o milho, a mandioca, as leguminosas, o amendoim, etc, encontram -se por toda a parte em abundância e os frutos são variados e deliciosos. O mar fornece excelente peixe e mariscos e a profusa criação de búfalos dá carne e leite.

A Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho produz nas suas plantações de Fátu-Béssi, na área do posto da Ermera, o excelente e aromático café de Timor e algum cacau.

Em 1940, as acções desta sociedade pertenciam aos herdeiros do grande governador de Timor, coronel Celestino da Silva (representados pelo senhor Jaime de Carvalho) , ao Estado português, ao Banco Nacional Ultramarino e a uma firma japonesa, pelo que uma meia dúzia de empregados da sociedade eram súbditos nipónicos, sendo os mais importantes os srs. Segawa e Inocúchi.

Na Hátu-Lia cultivava-se o chá, em especial numa granja do Estado, denominada Granja Eduardo Marques,  no posto da Ermera, cujo capataz era o deportado, sr. Carrascalão.



Capa do livro de José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972,  208 pp.  Cortesia de Internet Archive.



(x) Não faltam, por fim, informações sobre as ligações entre Portugal e Timor, começar pelo omnipresente BNU (Banco Nacional Ultramarino), que de resto continua hoje a operar em Timor, desde 1912, como se pode ler na sua página do Facebook: O BNU, que hoje faz parte do Grupo Caixa Geral de Depósitos, "está em Timor-Leste desde 1912, apoiando Timor-Leste na implementação e crescimento do sector privado, e auxiliando os vários governos do país na implementação de uma economia estável e sustentável".)


(...) Em Díli funcionava uma agência do Banco Nacional Ultramarino cujo gerente era o sr. João Jorge Duarte e onde trabalhavam vários empregados não-timorenses.


A moeda que então corria era a pataca que se dividia em cem avos e valia seis escudos. As patacas eram em papel, mas inda existia boa quantidade de moedas de prata, cunhadas no México, em depósito do Estado no Banco Nacional Ultramarino. Eram as vulgarmente chamadas «patacas grossas» ou «patacas mexicanas»  (...)

Timor comunicava com Macau e Lisboa por meio de uma estação radiotelegráfica, instalada em Taibéssi e era servida por pequenos navios holandeses que levavam os passageiros a Soerabaja e por uma carreira de grandes hidroaviões entre a Austrália e Singapura que amaravam na baía de Díli e pertenciam a uma empresa australiana, a QANTAS (Queenstand and Northern Territory Aerial Service). 

Há pouco tempo, havia carreiras aéreas semanais entre Díli e a vizinha capital da parte holandesa, Koepang, feitas num avião Fokker que o governo de Timor alugara, contratando, também, a respectiva tripulação de holandeses.

As emissões de radiotelefonia europeia, sobretudo o noticiário, não eram, praticamente, ouvidas em Timor, pois, devido ao seu grande afastamento da Europa, em longitude, havia uma diferença de oito horas entre a hora local e a do continente português. Assim, o noticiário mais importante que nesses tem-
pos era dado pela Emissora Nacional às dezanove horas, somente poderia ser ouvido em Timor por quem se levantasse às três da madrugada.

Todas as povoações de alguma importância dispunham de postos de correio e de telefone.

O número de quilómetros de estradas transitáveis durante todo o ano era bastante reduzido e o transporte por automóvel só estava ao alcance de muito poucos. Praticamente, as viagens pelo interior da ilha faziam-se sempre utilizando o valente e brioso pónei timorense.

Um naviozinho a motor, chamado «Oé-Kússi» transportava passageiros e carga para os diferentes pontos da ilha onde podia aportar, tais como Manatuto, Baucau, Liquiçá, Suai, etc, ao enclave do Oé-Kússi e à ilha de Ataúro. (...)

(xi) As páginas seguintes (de 15 a 31) também têm interesse, para o leitor de hoje: são saborososos apontamentos sobre a sociedade colonial local, em que os poucos portugueses que lá estavam (deportados e funcionários públicos, civis e militares),  se conheciam todos e conviviam uns aos outros, tal como na Guiné dos anos 40/50, à volta de dois clubes, o Benfica e o Sporting. 

Vivia-se, em Díli, em 1940/41, uma falsa paz bucólica que será sacudida pela terrível notícia dfa entrada do Japão na guerra, com o ataque a Pearl Horbor, a 7 de dezembro de 1941,  a mais de 7 mil quilómetros dali, em pleno Pacífico.  (LG)

Fonte: José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, pp. 11/15

(Continua)

(Seleção, revisão / fixação de texto, excertos e itálicos dos excertos: LG) 
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