sábado, 20 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17381: Manuscrito(s) (Luís Graça) (118): o deus da guerra


Lourinhã > Praia da Areia Branca > 29 de abril de 2017 >  Pôr do sol, no mar do Cerro, com a ilha das Berlengas ao fundo,,,

Texto, fotos e legendas: © Luís Graça  (2017). Todos os direitos reservados. [Edição.  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O deus da guerra

por Luís Graça


Todo os dos dias o sol  “se põe”
e todos os dias volta a “nascer”.
Sabemos desde Galileu,
de ciência certa mas feita com emoção,
que a terra gira à volta de si própria
e ao mesmo tempo do sol.

Já tirámos milhões de fotos
ao "nascer" e ao "pôr" do sol,
já pintámos milhares de telas,
já construímos centenas de pirâmides,
tentando captar para a eternidade
a magia do sol.
Ou simplesmente fixar a eternidade.

Seres terráqueos, periféricos, frágeis,
somos borboletas,
somos girassóis,
somos adoradores do sol,
devemos-lhe tudo,
a começar pela vida
na terra.
(Haverá outra ?)

A magia do sol
ou o poder do fogo,
princípio e fim da vida:
pergunto-me,  o que é que nos atrai,
a nós, (e)ternos amantes,
que vimos à praia
para um derradeiro adeus ao astro-rei ?

Teme o dia, meu amor,
em que o sol se torne o deus da guerra
e, num acesso de ira,
incendeie o nosso planeta azul.

Guiné 61/74 - P17380: Parabéns a você (1256): Mário Pinto, ex-Fur Mil Art da CART 2519 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17376: Parabéns a você (1255): Joaquim Martins, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4142 (Guiné, 1972/74) e Xico Allen, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 3566 (Guiné, 1972/74)

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17379: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte X: Puerto Vallarta, México

O escritor e a esposa, Hai Yuan
1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais  de 180 referências.

É casado com a médica chinesa Hai Yuan e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais. Soubemos, pelos jornais, que o João há poucas semanas andava  pela China e pela Coreia do Norte...

Neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016. Três semanas depois o navio "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, depois de sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017).

Texto, fotos e legendas: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]







Parte X (pp. 28-30)
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17313: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte IX: De S. José da Costa Rica à antiga capital da Guatemala

Guiné 61/74 - P17378: Notas de leitura (958): “Portugal e as Guerrilhas de África”, por Al J. Venter, Clube do Leitor, 2015, prefácio de John P. Cann (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,

O melhor é lerem o livro de fio a pavio. É uma poderosa reportagem, não contesto, não conheço investigação tão minuciosa. Não se entende, no entanto, como é que o jornalista e escritor não procurou a confirmação de dados que ele expõe com a ar mais diáfano deste mundo. 

Quanto à Guiné, vê-se que o impressionou o patrulhamento que fez em Tite junto do capitão João Bacar Djaló. Não esconde que a Guiné era o teatro de operações mais atribulado e que a retirada de Spínola, em Agosto de 1973, prenunciava os tempos dolorosos que todos experimentaram. E confrange-se como um movimento de libertação com créditos tão firmados até na arena internacional mal chegou ao poder em Bissau parece que apostou na fragilidade do Estado e em desconjuntar o equilíbrio social, nunca lhe ocorrendo que a reconciliação de todos seria o primado da reconstrução nacional.

Um abraço do
Mário



Portugal e as guerrilhas de África (2), por Al J. Venter(*)

Beja Santos

“Portugal e as Guerrilhas de África”, por Al J. Venter, Clube do Leitor, 2015, é uma coletânea de reportagens de alguém que se perfila como o “único jornalista estrangeiro presente nas três frentes da guerra colonial”

Ao longo de cerca de 500 páginas, o jornalista e escritor colhe testemunhos, na verdade, nas três frentes. A sua investigação contempla a natureza das guerras de Portugal em África, dedica a segunda parte da obra por inteiro à guerra da Guiné e a terceira à evolução das operações no Leste de Angola e Moçambique, este último teatro de operações leva-o a proferir juízos muito cáusticos sobre o comportamento dos militares portugueses.

Na Guiné, destaca a Operação Tridente, não esconde a profunda admiração pelo herói militar João Bacar Djaló. Esteve na Guiné durante a guerra e muito depois. Nesse depois, visitou a Fortaleza de Cacheu e a suas velhas relíquias coloniais, fala mesmo em Vasco da Gama (!?) o primeiro homem a dobrar o Cabo da Boa Esperança e refere as canhoneiras portuguesas ali deixadas e tece o seguinte comentário: 

“Estas outrora orgulhosas embarcações de combate foram entregues intactas ao novo regime. Ao fim do ano tinham sido postas em seco e abandonadas para a sucata. Os seus motores foram vendidos ao um barco de pesca chinês de passagem”.

Em Nova Lamego foi recebido pelo Administrador, Dr. Aguinaldo Spencer Salomão. 

“Foi educado em Cantuária e era um anglófilo assumido. Se o enfadonho chefe de posto de Tite tinha sido um desapontamento, Aguinaldo era um sopro de vitalidade no preconceituoso reino da burocracia portuguesa na Guiné. Os seus livros em inglês, francês e português abrangiam quase todos os assuntos. A sua discoteca era vasta. Preferia Vivaldi a Schoenberg, mas era suficientemente eclético para ouvir um disco dos Beatles”

Viaja até Bambadinca, conversa com o comandante do BART 2917 e dá-nos a seguinte informação: 

“O último ataque ocorrera exatamente um ano antes de eu chegar: um grupo infiltrado tinha-se dirigido para Norte do outro lado da fronteira a partir de Kandiafara para tentar cortar a estrada de Bafatá. Num final da tarde, os guerrilheiros atacaram Bambadinca a partir do outro lado do rio, retirando-se depois para uma posição pré-determinada, onde esperaram pelo dia seguinte antes de se juntarem a outros dois grupos. Esta força combinada iria então atacar outras posições durante o assalto. Foi então que algo correu mal. Um grupo de pisteiros da força atacante colidiu com uma patrulha de Bambadinca e foi capturada intacta, sem ter sido disparado um único tiro. Um dos homens era um alto oficial do PAIGC. Os quatro homens foram levados de helicóptero para Bambadinca onde foi oferecida ao oficial a opção de contar tudo ou aceitar as consequências. Era uma situação sem saída, e o rebelde foi suficientemente inteligente para aceitar”

Sentiu-se impressionado com Bissau, encontrou-lhe semelhanças com Banjul. Considera que o PAIGC, ao agir despoticamente, provocou um dos mais trágicos desastres políticos de África. Faz uma menção a outros grupos pró-independentistas, caso da FLING. Aborda a formação de Amílcar Cabral e como organizou a orgânica do PAIGC. Não sabemos bem onde é que ele foi buscar aqueles dados, mas achou que ele tinha quatro filhos do primeiro casamento. De igual modo atribui aos soviéticos a instrução pessoal de Cabral, dado não comprovado.

De repente, introduz o tema da aviação nas guerras coloniais portuguesas, e logo a seguir vamos até ao Leste da Angola, a N’Riquinha, onde Al Venter conversa com o capitão Vítor Alves. Tudo somado, em Angola a guerra de guerrilhas estava a ser um sucesso para as Forças Armadas portuguesas, o MPLA desfazia-se em intrigas, tornara-se pouco atuante, a UNITA estava aberta à cooperação e a FNLA era uma sombra do passado. Estamos agora em Moçambique, cita várias fontes sul-africanas e rodesianas, era inconcebível como as forças armadas portuguesas destruíam tudo e mal tratavam as populações, e escreve: 

“Nas condições atuais de combate, os sul-africanos e os rodesianos consideravam os militares portugueses em Moçambique desastrados e ineptos”

Era patente que tinha havido uma deterioração no relacionamento entre os oficiais os homens sobre o seu comando, era quase uma repetição da síndrome vietnamita e tece nova consideração ácida: 

“A verdade era que em quase todo o Exército português em Moçambique tanto os oficiais como os homens mal conseguiam aguentar até ao fim as suas comissões de serviço. Na sua maioria, acabaram por desprezar o mato africano e as condições primitivas sobre as quais eram obrigados a operar”

Tanta neglicência, diz Al Venter, favoreceu a capacidade da FRELIMO em se movimentar livremente à noite. Durante as marchas operacionais, viu colunas barulhentas e desgarradas, o Estado-Maior era extremamente burocrático, impedia as respostas prontas. Tece as suas considerações sobre a natureza das baixas sofridas pelas Forças Armadas portuguesas e enaltece o papel das enfermeiras paraquedistas.

O papel documental destes relatos esbarra com imprecisões incompreensíveis para um investigador como Al Venter, serve de exemplo mostrar o jornal Avante! e dizer que é um jornal de Luanda. Os apêndices têm maior utilidade: ficamos com um escorço das tropas africanas no exército colonial português, trabalho de João Paulo Borges Coelho, como as forças especiais rodesianas contribuíram em Angola e Moçambique para ajudar os portugueses, travando nomeadamente ações de retaguarda. E, por último, repesca as operações costeiras na Guiné extraídas do livro do capitão John Cann, recentemente traduzido pela Academia da Marinha.

Em 22 de Novembro último, Al Venter concedeu uma entrevista ao Diário de Notícias, onde foi questionado se Portugal tinha perdido a guerra colonial, fugiu a uma resposta clara, não deixando de observar, porém, que o país estava a ficar exangue. Perguntado se tinha havido massacres na nossa guerra, respondeu: 

“Houve alguns massacres como My Lai nas guerras coloniais portuguesas? Diria que sim, mas apenas nos primeiros dias das mutilações em Angola. Foi um período lunático de trocas excessivamente violentas entre os dois lados e durou menos de um ano. Nada de comparável aconteceu em Moçambique ou na Guiné. No conjunto, Lisboa conduziu os últimos conflitos coloniais by the book. Isto não agradou a todos e não impediu a PIDE e outros serviços secretos de segurança de ultrapassarem as marcas”.

Guiné 61/74 - P17377: Historiografia da presença portuguesa em África (76): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte V: De regresso, de Bafatá a Bissau, sexta-feira, 7 de fevereiro, com passagem por Fá (Mandinga), Bambadinca, Xitole e Porto Gole


Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 2005 > O Rio Geba, junto a Porto Gole. Do outro lado, a margem esquerda. Mais à frente, para leste, o Rio Corubal vai desaguar no Rio Geba.

Foto: © Jorge Neto (2005)- Todos os direitos reservados {[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > 2005 > Marco comemorativo do V Centenário da Descoberta da Guiné (1446-1946) > Porto Gole, na margem direita do Rio, na estrada Bissau - Nhacra - Mansoa - Porto Gole - Bafatá (interdita no meu tempo, 1969/71. L.G.). A fotografia é do Jorge Neto (pseudónimo,. Jorge Rosmaninho, autor do blogue "Africanidades (Vivências, imagens, e relatos sobre o grande continente - África vista pelos olhos de um branco") que não já está ativo).

Este monumento foi inaugurado em 8/2/1947 pelo subsecretário de Estado das Colónis, engº  Rui Sá Carneiro, sendo governador geral Sarmento Rodrigues

Foto: © Jorge Neto (2005)- Todos os direitos reservados {[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68) > 1966 > Marco comemorativo do V Centenário da chegada do primeiro explorador da Guiné, em Porto Gole, fotografado em 1966. Este é o lado oposto à fotografia do Jorge Nero. Dizeres, gravados na pedra: "Aqui chegou Diogo Gomes, primeiro explorador da Guiné, no ano de 1456". Foto de  Henrique Matos, o primeiro comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé e Porto Gole, 1966/68), açoriano de São Jorge, que vive hoje em Olhão.

Foto: © Henrique Matos (2009). Todos os dreitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]











Recorte da primeira página do "diário de Lisboa", nº 8693, ano: 26, edição de domingo, 9 de fevereiro de 1947 (Director: Joaquim Manso)

Cortesia de Casa Comum > Instituição: Fundação Mário Soares > Pasta: 05780.044.11044 > Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos

Citação:

(1947), "Diário de Lisboa", nº 8693, Ano 26, Domingo, 9 de Fevereiro de 1947, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_22338 (2017-5-19)


1. P
rossegue a viagem ("triunfal", segundo a imprensa da época) à Guiné, do subsecretário de Estado das 
 (Colónias, Engº Rui Sá Carneiro, pelo interior Norte, Centro e Leste (regiões do Cacheu, Oio, Gabú e Bafatá), uma década depois da última "campanha de pacificação" (Canhabaque, arquipélago dos Bijagós, 1936/37)(*). 

Recorde-se que era então, em 1947, governador-geral o comandante da Marinha, Manuel Sarmento Rodrigues,
futuro ministro das Colónias e depois do Ultramar.

O representante do Governo de Salazar tinha chegado ao território no dia 27 de janeiro de 1947, tendo por missão encerrar as comemorações do V Centenário do Descobrimento da Guiné (em 1446).



2. Da leitura da curta notícia da agência "Lusitânia", publicada no "Diário de Lisboa", na sua edição de 9/2/1947 (pp. 1), fizemos um resumo para ajudar os nossos leitores a perceber melhor o seu enquadramento:


(i) no dia 7 de fevereiro de 1947, sexta-feira,  ao fim da tarde, o subsecretário de Estado das Colónias, engº Rui Sá Carneiro,   chega à Praça do Império, em Bissau, depois de um périplo pelo interior da Guiné, que incluiu as regiões de Gabu e de Bafatá;


(ii) às 8h30 desse dia despede-se de Bafatá e segue em cortejo automóvel até Fá (Mandinga) onde visita a serração mecânica do português, o "madeireiro" Fausto Teixeira ou Fausto da Silva Teixeira, radicado na colónia há 20 anos; (no nosso tempo, meu e do "alfero Cabral", em 1969/71, já não havia vestígios desta serração mecânica, e muito menos do Fausto da Silva Teixeira);


(iii) entretanto, em Bambadinca (e não Sambadinca, grosseira gralha tipográfica), e sob a aclamação de "milhares de fulas" (sic), o representante do governo da metrópole procede à condecoração de "três grandes chefes, companheiros de Teixeira Pinto" (sic), durante as campanhas de pacificação (1913-15); é pena o jornalista não citar os seus nomes;


(iv) ainda em Bambadinca, uma centena de crianças das escolas católicas e da escola oficial,  cantam, por seu turno, o hino nacional;




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Setor de Xitole > 10 de março de 2009 > A antiga ponte Marechal Carmona, sobre o Rio Corubal, de há muito em ruínas... Já não era usada no tempo da guerra colonial... O primeiro camarada nosso a falar dela foi o David Guimarães que a revisitou em 2001. Sabemos agora que foi construída em 1937, e que colapsou logo a seguir... Quem terá sido o "engenheiro"  ?

O nosso camarada Carlos Silva, na sua última viagem à Guiné, andou no encalce desta "jóia arquitectónica", a antiga "Ponte Carmona"... Com um guia local, de catana na mão, a abrir caminho, num antiga picada que ia do Xitole até à ponte (assinalada, de resto, no mapa do Xitole)... O Carlos ficou fascinado com a beleza desta obra de engenharia...

Foto: © Carlos Silva (2009). Todos os direitos reservados..[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



(v) durante o trajeto de regresso a Bissau, o engº Sá Carneiro ainda terá tempo de visitar "a grande ponte do Rio Corubal, de 210 de comprimento, construída em 1937", e que entretanto ruíra, num troço de 21 metros, durante a época das chuvas; ora esta ponte só pode ser a do Xitole,a ponte marechal Carmona,  sendo substituída mais tarde (1956) pela ponte general Craveiro Lopes, no Saltinho (**);

(vi) às 13 horas dessa sexta-feira, dia 7 de fevereiro de 1947,  o nosso homem está em Porto Gole, depois de cambar o rio Geba, em Bambadinca;


(vii) mas, antes disso, ainda teve tempo de condecorar "dois régulos" (provavelmente do Cuor e do Enxalé), pelos "relevantes serviços prestados a Portugal";  


(viii) no caso de Porto Gole, ficamos a saber, segundo a notícia dada pela agência "Lusitânia", publicada no "Diário de Lisboa", que se trata de uma povoação recentíssima, "com poucos meses de existência", ou seja, construída em 1946;


(ix) o jornalista da "Lusitânia" assinala que Porto Gole foi o primeiro ponto de penetração portuguesa no interior da Guiné, "há 91 anos" [gralha, deve ser 491 anos];


(x) aqui, os mandingas, em maioria, e também aos "milhares" (sic), assistem à inauguração do monumento a Diogo Gomes, o primeiro explorador do continente africano: reza a história que subiu o estuário do Geba com três caravelas (!); (estranha-se a ausência dos balantas do Óio);


(xi) antes do descerramemto do  monumento, foi proferido um discurso sobre o feito histórico, discurso esse que esteve a cargo do  2º tenente da marinha Teixeira da Mota, ajudante de campo do governador geral Sarmento Rodrigues; e foi brilhante, ou melhor "notável", como não podia deixar de ser, proferido pela maior autoridade da época em matéria de história da Guiné;


(xii) oferecido pelo administrador de Mansoa, sede de circunscrição, foi servido o almoço, à sombra dos mangueiros, em Porto Gole;


(xiii) o eng Sá Carneiro seguirá depois para Bissau, ainda a tempo de chegar e ser "vivamente aclamado", na Praça do Império, por: (i) funcionalismo; (ii)comerciantes; (iii) colonos; e (iv) indígenas;


(xiv) no  domingo, dia 9, partirá movamente para o interior, incluindo as "pitorescas ilhas dos Bijagós": irá visitar as ilhas de Bolama e Bubaque;





Guiné > Zona Leste > Circunscrição de Bafatá > Rio Geba > 1931 > Cambança do rio Geba, antes das pontes de cimento armado... "Jangada no Rio Geba. Passagem entre Bafatá e Contuboel"... Imagem reproduzida em "O Missionário Católico", Boletim mensal dos Colégios das Missões Religiosas Ultramarinas dos Padres Seculares Portugueses, Ano VIII, nº 81, Abril de 1931, p. 169 (Exemplar oferecido ao nosso blogue pelo camarada Mário Beja Santos).

Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 4 de maio de  2017 > Guiné 61/74 - P17318: Historiografia da presença portuguesa em África (75): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte IV: No chão fula, Bafatá e Gabu, 6 de fevereiro de 1947...

(**) Vd. poste de 8 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5237: Memória dos lugares (53): Rio Corubal: As três pontes... (C. Silva / P. Santiago / M. Dias / Luís Graça)

Guiné 61/74 - P17376: Parabéns a você (1255): Joaquim Martins, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4142 (Guiné, 1972/74) e Xico Allen, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 3566 (Guiné, 1972/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17369: Parabéns a você (1254): Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil Art da CART 1659 (Guiné, 1967/68)

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17375: Inquérito 'on line' (116): Fátima... Num total (final) de 84 respostas, conclui-se que : (i) todos lá fomos, pelo menos uma vez na vida, antes (44%), durante (8%) ou depois da tropa (20%); (ii) não tanto como peregrinos (20%) mas mais como turistas (55%)... A questão admitia mais do que uma resposta.

I. INQUÉRITO 'ON LINE':
N. Sra. de Fátima de Guileje...
Foto do António Camilo (2010)



"FUI COMBATENTE, NUNCA FUI A FÁTIMA"...



Total de respostas > 84


1. Fui lá ainda em miúdo 

ou ainda antes de ir para a tropa > 37 (44%)

2. Fui lá, como militar, 
antes de ir para o ultramar > 7 (8%)

3. Fui lá logo depois de vir do ultramar > 15 (17%)

4. Só fui lá muitos anos depois 
(de vir do ultramar) > 17 (20%)

5. Fui lá como verdadeiro peregrino ou crente > 17 (20%)

6. Fui lá como simples turista ou em passeio > 47 (55%)

7. Nunca fui a Fátima 
mas ainda gostaria de lá poder ir > 0 (0%)

8. Nunca fui a Fátima 
nem tenho especial interesse em lá ir > 0 (0%)


II. O prazo de resposta terminou na 4ª feira, dia 18. (*)


O facto mais surpreendente é que todos nós, ex-combatentes, crentes ou não crentes, já fomos a Fátima, num dado  momento da nossa vida, uma ou mais vezes. 

A maioria (55%) respondeu que foi lá "como simples turista ou em passeio". E só um em cada cinco admitiu que foi lá como "verdadeiro peregrino ou crente" (20%).  

Os que lá foram logo depois de vir do ultramar (17%) ou muitos anos depois de vir do ultramar (20%) somam mais de um terço. Nestes haverá, por certo, um nº razoável de pagadores de promessas, mas que é difícil de quantificar, talvez uns 10% ou menos dos respondentes.(**)

Faltam-nos testemunhos de camaradas que tenham ido em peregrinação a Fátima, a pé ou de carro, por razões de fé, e nomeadamente no pagamento de promessas feitas por ocasião da guerra no ultramar /guerra colonial (por ex., não ter sido mobilizado, não ter ido como atirador, não ter morrido ou não ter sido ferido, ter voltado são e salvo). 

Mas este é um assunto do foro íntimo, é difícil encontrar camaradas dispostos a dar, em público, no nosso blogue, o seu testemunho sobre a sua ida a Fátima.

Guiné 61/74 - P17374: Agenda cultural (561): Os nossos amigos da banda musical "Melech Mechaya" vão tocar, ao vivo, no 8º Festival de Telheiras, na praça do metro de Telheiras, Lumiar, Lisboa, sábado, dia 20, às 22h00. Entrada gratuita.


A banda portuguesa Melech Mechaya vai atuar ao vivo, sábado, dia 20 de maio, às 22h, na Praça do Metro de Telheiras. em Telheiras, freguesia do Lumiar, Lisboa, no âmbito do 8º Festival de Telheiras, a decorrer de 10 a 21 de maio de 2017 (programa disponível aqui). Entrada gratuita. 

É uma oportunidade para ouvir músicas do novo disco, "Aurora", o 4º da sua carreira. Os Melech Mechaya, criados em 2006 (por João Graça, Miguel Veríssimo, André Santos, João Novais e Francisco Caiado),   são apresentados no programa do 8º Festival de Telheiras, nestes termos:

 "Quinteto que constitui a mais proeminente banda portuguesa de música klezmer.  A sua sonoridade inspira-se ainda na música portuguesa, balcânica e árabe."

Para saber mais ver aqui:

(i)  o sítio oficial do grupo; bem como

(ii) a sua página no Facebook (onde têm cerca de 26 mil seguidores).

Os seus vídeos no You Tube já tiveram cerca de 685 mil visualizações.
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Nota do editor:

Último poste da série >  9  de maio de  2017> Guiné 61/74 - P17337: Agenda cultural (560): Apresentação da coleção "Recordações da Pesca do Bacalhau" (5 vols., Âncora Editora; autor: comandante Valdemar Aveiro, capitão Aveiro, uma lenda viva da epopeia da Terra Nova): Escola Superior Náutica Infante D. Henrique, Paço de Arcos, Oeiras, 17 de maio, 4ª feira, 15h00

Guiné 61/74 - P17373: Recortes de imprensa (87): Combatentes da Guiné, homenageados em Abrantes pelo Chefe do Estado-Maior do Exército (Morais da Silva, Cor Art Ref)


1. Mensagem do Cor Art Ref António Carlos Morais da Silva, que foi comandante da CCAÇ 2796 (Gadamael e Quinhamel, 1970/72), com data de 12 de Maio de 2017:

Caro Editor
Dou-lhe conta da notícia publicada em http://ultramar.terraweb.biz/index_medalhas_SM_Ultramar1_Cerimonias_de_imposicao_de_Condecoracoes_RAME_06Mai2017.htm por julgar de interesse para os leitores do blog que dirige com assinalável sucesso.

O meus cumprimentos
Morais Silva
Coronel
(ex-cmdt CCaçInd2796 em Gadamael)


Abrantes: Ex-Combatentes da Guiné homenageados pelo Chefe do Estado-Maior do Exército

Este sábado, dia 6 de maio, o Regimento de Apoio Militar de Emergência, em Abrantes, acolheu a cerimónia de homenagem aos mortos em combate e condecoração aos 66 ex-Combatentes da Companhia de Caçadores Independente 2796 “Gaviões”, que combateram na Guiné de 1970 a 1972.

O General Rovisco Duarte, Chefe do Estado Maior do Exército, esteve presente em Abrantes e falou do caráter pessoal desta cerimónia, devido à ligação com o Coronel Morais da Silva, comandante da companhia.

“O Coronel Morais da Silva foi um homem que marcou a Academia Militar, particularmente a minha geração, nos anos 70, e várias gerações de oficiais. No meu caso, em 76, mais concretamente. Gerações essas que, como o próprio se referiu, estão agora em posições de comando no Exército”, explica o Chefe do Estado Maior do Exército, que afirma ainda que, no seu caso particular “foi ainda mais gratificante perceber que aquele Capitão que eu conheci há cerca de 40 anos atrás, tinha sido um homem [na altura, eu, Cadete, não me apercebi pois a juventude não dá para muitas coisas] que tinha tido uma experiência na Guiné. 

Foi extremamente reconfortante perceber agora comportamentos na altura. Daí aumentar-lhe a admiração pelas qualidades humanas deste nosso Coronel. Que era, de facto, exigente mas já tinha tido a experiência da Guiné, um teatro extremamente difícil. Isso era vertido na educação dos Cadetes”.  [Negrito e realce a amarelo, da responsabilidade do editor]

Para os 66 ex-Combatentes presentes na cerimónia, o General Rovisco Duarte deixou um “agradecimento profundo e reconhecido por parte do Exército. E dizer que o Exército os admira muito e que está disponível para poder de alguma forma colaborar naquilo que seja a sua qualidade de vida, conforto, anseios e preocupações. No fundo, uma palavra de solidariedade muito amiga, muito profunda e muito sincera”.

José Mora Alves, de Sardoal, e João do Rosário Oliveira, de Abrantes, são dois ex-Combatentes desta Companhia que lutou num dos piores palcos da guerra colonial. “Recordar situações que já se passaram há 40 anos e que é bom não esquecer”, afirmou José Mora Alves acerca do significado desta cerimónia. Quanto à presença do General Rovisco Duarte, afirma que tem “um valor especial porque vem de alguém que percebe onde nós andámos e o que passámos”.

João do Rosário Oliveira ainda ostentava no peito a medalha da condecoração mas afirmou que “a medalha, por si só, não é importante. Foi toda a cerimónia, o que se passou até hoje e, principalmente, a homenagem aos que faleceram. O Exército não abandona os seus e homenageia-os, quando, muitas vezes, a comunidade civil se esquece de o fazer”, afirma.

Foram 23 meses de missão onde a Companhia “Gaviões” viu tombar cinco dos seus membros e contou com 13 feridos graves. Foram agora alvo de homenagem por parte dos seus pares e numa cerimónia que contou com a presença do Chefe do Estado Maior do Exército, no RAME.



José Mora Alves e João do Rosário Oliveira

(Notícia publicada em Antena Livre, no dia 8 de Maio de 2017, reproduzida aqui com a devida vénia)
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17271: Recortes de imprensa (86): Artigo de opinião de Fátima Ascensão, no DN Madeira, de hoje, intitulado Obrigada, ex-Combatentes

Guiné 61/74 - P17372: Convívios (803): XXXVIII Encontro do pessoal da CCAV 2639, dia 10 de Junho de 2017, em Oiã - Aveiro (Mário Lourenço)



1. Pede-nos o nosso camarada Mário Lourenço (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 Binar, Pete, Bula, Ponta Consolação e Capunga, 1969/71), que anunciemos o 38.º Convívio da sua Unidade, a levar a efeito no próximo dia 10 de Junho de 2017, em Oiã - Aveiro.


XXXVIII CONVÍVIO DO PESSOAL DA 
COMPANHIA DE CAVALARIA 2639
DIA 10 DE JUNHO DE 2017
OIÃ - AVEIRO
 
Amigos,
Gostaria que fosse divulgado no blogue, o encontro anual (que já vai no 38.º) da CCAV 2639, que este ano será em OIÃ-AVEIRO, no dia 10 de junho 2017, organizado pelo MORETO e cujo contacto é o seguinte:
Tel. 234 722 891 ou 935 542 125. 

Confirmar presença até 31 maio. 

Desde já agradeço, com forte abraço a todos os camaradas destas andanças. 
Mário Lourenço
tabanqueiro 662
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17367: Convívios (802): XXXII Encontro do pessoal da CART 3494/BART 3873, a realizar-se no próximo dia 11 de Junho, em Tondela, Viseu (Sousa de Castro)

Guiné 61/74 - P17371: "Revista Militar", nº 2577, de outubro de 2016: um artigo muito interessante do prof doutor Orlando J. B. Almeida Pereira (IST/UL): "Análise comparativa dos rácios entre tropas e populações nas campanhas de África (1961-1974)"... Sugestão de leitura do José Matos.



Revista Militar nº 2577, outubro de 2016. Todos os números desde  janeiro de 2004 disponíveis aqui.


1. Mensagem Jose Matos com data de 14 do corrente


Olá,  Luís

Gostaria que divulgasses no blogue um artigo que saiu há pouco tempo na Revista Militar do Orlando Pereira, que possui uma análise comparativa dos rácios entre tropas e populações, que suscita uma reflexão interessante, principalmente no caso do teatro de operações da Guiné. Aqui fica o link para ler e comentar.


Um grande abraço
José Matos

 [formado em astronomia em 2006 na Inglaterra ( University of Central Lancashire, Preston, UK ), o José Matos, membro da nossa Tabanca Grande, é especialista em aviação e exploração espacial desde 1992; faz parte da Fisua - Associação de Física da Universidade de Aveiro; tem, artigos publuicados na "Revista Militar" e outras publicações periódicas; filho de um antigo combatente, nosso camarada da Guiné, já falecido;  é investigador independente em história militar ]


2. Comentário do editor LG:

Obrigado ao José Matos, pela referência e pela deferência. Pedi-lhe que contactasse o autor para nos dar a devida autorização. O José comunicou-nos ontem o seguinte: "Já falei com ele,  não há problema...". Aqui vão os nossos especiais agradecimentos ao autor e ao editor, a prestigiada "Revista Militar" (que se publica desde 1849).

Para efeitos de publicação no blogue, foi feita a fixação do texto pelo nosso editor. O realce a amarelo e os negritos são da sua responsabilidade.






[O Prof Doutor Orlando J. B. Almeida Pereira é professor auxiliar no Departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e Georrecursos, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa; Doutorado em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico. ]


A julgar pelo conteúdo do processo “Comparação do potencial militar em relação à extensão territorial e às populações das províncias ultramarinas” do Fundo da 1ª Repartição – Operações – do Secretariado-Geral da Defesa Nacional, no Arquivo da Defesa Nacional[1], só em 1971 é que essa comparação terá começado a ser realizada em Portugal-

Apesar de os dados sobre os efectivos do Exército em cada um dos teatros de operações (TO) se encontrarem publicados desde 1988[2], não é do conhecimento do autor qualquer análise comparativa dos rácios entre tropas e populações.

Na análise que se segue, utilizaram-se, para as populações, os dados dos censos de 1960 e 1970 e assumiu-se uma taxa de crescimento constante durante todo o período. À população da Guiné, segundo o censo de 1970, adicionou-se 16%, a estimativa das autoridades militares portuguesas, em 1971, tanto para a população sob controlo do PAIGC no interior da Guiné como para o número total de refugiados guineenses nos países vizinhos[3].

Na figura 1, comparam-se os rácios entre o efectivo total do Exército em cada TO e a população do respectivo teatro. Na figura 2, comparam-se os rácios entre o efectivo de recrutamento local em cada TO e a população do respectivo teatro e também o rácio entre o efectivo de recrutamento metropolitano no conjunto dos três TO e a população da Metrópole.



Figura 1 – Efectivo total do Exército em cada TO, por cada 1000 habitantes do mesmo.


Figura 2 – Efectivo do Exército, colocado em África, recrutado por cada 1000 habitantes do local de origem.



O autor não dispõe de séries cronológicas tão completas para as forças policiais e milícias, as quais dependiam das autoridades administrativas, nem para os outros ramos das Forças Armadas. No entanto, os dados disponíveis não levam a pensar que a inclusão dos efectivos destas forças atenuasse as diferenças entre TO evidenciadas nas figuras.

Do conjunto das duas figuras, podem retirar-se as seguintes conclusões:


• Em Moçambique, tanto o esforço como o aproveitamento do potencial humano local foram sempre os menores dos três TO[4];


• No final de 1973, mais de nove anos após o início da guerra neste TO, o rácio do efectivo total do Exército em Moçambique era apenas 52% do rácio em Angola e ainda inferior ao deste TO no final de 1961, ano do início da guerra, neste TO;


• Quer em Angola quer em Moçambique, os rácios do efectivo total nunca atingiram valores que não pudessem ser sustentados indefinidamente recorrendo exclusivamente ao recrutamento local;


• Na Guiné, o aproveitamento do potencial humano local estava a atingir, no final da guerra, o limite do que poderia ser sustentado indefinidamente[5];


• Na Guiné, no final de 1973 [1963 no texto original, trata-se de uma gralha] , o rácio do efectivo total excedeu o que poderia ser sustentado indefinidamente recorrendo exclusivamente ao recrutamento local[6];


• Na Guiné, no final de 1971, o rácio do efectivo total tinha ultrapassado 50:1000, valor do índice de recrutamento que, em 1970, nas páginas da Revista Militar, se admitia ter grave perigo para todas as actividades civis, na Metrópole, e estar muito além do que seria possível obter, em Angola e em Moçambique[7].


A Guiné era o TO com uma geografia mais favorável para movimentos subversivos que dispusessem de santuários externos; excluindo o Arquipélago dos Bijagós, nenhum ponto estava a mais de 100 km de uma fronteira terrestre; cerca de um terço da superfície total estava a não mais de 20 km de uma fronteira terrestre[8].  Dado o ambiente político internacional da época, era previsível que ambos os vizinhos da Guiné se tornassem santuários para movimentos de libertação[9]. 

Era, portanto, o TO onde os Estados patrocinadores de movimentos de libertação podiam obter uma maior rentabilidade para o seu investimento, em termos de solicitação do potencial humano da Metrópole. Deste modo, não era expectável que fosse possível obter, no interior da Guiné, uma vitória que justificasse a redução do efectivo nesse teatro.

Esta poderá ter sido uma das razões pelas quais o Subsecretário de Estado da Aeronáutica recomendou, na reunião de 13 de Abril de 1959, do Conselho Superior de Defesa Nacional, uma defesa militar “capaz” da Guiné e uma defesa militar “a todo o custo” de Angola, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe[10].

Excedido o rácio que podia ser sustentado indefinidamente recorrendo exclusivamente ao recrutamento local, reforçar a Guiné tornava-a ainda mais atractiva para os Estados patrocinadores dos movimentos de libertação.

Assim, em 1971, os rácios entre os efectivos militares dos movimentos de libertação e as populações dos respectivos TO eram estimados em: 1:1000 para a Frente Nacional de Libertação de Angola; 1:1000 para o Movimento Popular de Libertação de Angola; 0,1:1000 para a União Nacional para a Independência Total de Angola; 13:1000 para o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde; 1:1000 para a Frente de Libertação de Moçambique[11]. 

Esta desproporção só era possível devido à desproporção na ajuda internacional a cada movimento. Como fez o Comandante-Adjunto Operacional, na reunião de Comandos em Bissau, a 15 de Maio de 1973, é possível afirmar, em relação aos Estados patrocinadores, “haver forçosamente um conceito estratégico global [...] estar o esforço a ser desenvolvido no TO da Guiné”[12].

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Notas:

[1] No processo, existe um Quadro Comparativo, referido a Março de 1973, escrito a lápis, e outro sem data mas não anterior a 1971 (Paço de Arcos: Arquivo da Defesa Nacional, Fundo 02/01, Caixa 225, Processo 25).

[2] Os dados relativos a 1961-1973 podem ser encontrados nas páginas 259-261 de Estado-Maior do Exército, Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África – 1º Volume – Enquadramento Geral (Lisboa, 1988). Para 1960, utilizaram-se os dados nas páginas 132, 134 e 135, de Sérgio Augusto Margarido Lima Bacelar, A Guerra em África 1961-1974: Estratégias adoptadas pelas Forças Armadas (Liga dos Amigos do Museu Militar do Porto e Universidade Portucalense Infante D. Henrique, 2000).

[3] De acordo com a página 94 de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, Guerra Colonial – Angola – Guiné – Moçambique (Diário de Notícias, 1998). Ao tornar-se independente, tomou o nome de Guiné-Bissau.

[4] Apesar de, a partir de 1961, a proporção do recrutamento local no efectivo total ter sido sempre a maior dos três TO, de acordo com a página 261 de Estado-Maior do Exército, Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África – 1º Volume – Enquadramento Geral.

[5] Em 1970, a proposta mais ambiciosa apresentada para a Guarnição Normal da Guiné correspondia a um rácio de 11:1000, de acordo com Secretariado-Geral da Defesa Nacional, Guiné – Estudo sobre a Guarnição Normal (Paço de Arcos: Arquivo da Defesa Nacional, Fundo 03, Caixa 36, Processo 31).

[6] Em Março de 1974, o rácio entre o efectivo recrutado na metrópole para todos os ramos das Forças Armadas e a população da metrópole era de 18:1000, para os dados na página 57 de Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso, Os Anos da Guerra Colonial – Volume 15 (QuidNovi, 2009). Acerca do início da guerra na Guiné, veja-se José Matos, “O início da guerra na Guiné (1961-1964)”, Revista Militar, n.º 2566 (2015), 937-950.

[7] Francisco Maria Rocha Simões, “Portugal como Nação Pluricontinental e Multirracial realizado e em Paz dentro de 5 anos”, Revista Militar, vol. 22, n.º 8/9 (1970), 613-639.

[8] Para uma descrição da vulnerabilidade decorrente destas particularidades da Guiné e uma comparação com Angola, vejam-se as páginas 91 e 92 de António S. O. Soares Carneiro “As transformações operadas nas Forças Armadas para responderem às exigências do conflito em África” in As Campanhas de África e a Estratégia Nacional (Lisboa: Instituto de Altos Estudos Militares, 1996). A carta das densidades de população na Guiné pode ser encontrada entre as páginas 192 e 193 de A. Teixeira da Mota, Guiné Portuguesa – Volume I (Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1954); para a comparação com Angola e Moçambique, vejam-se as páginas 61 e 63 de João Soares, Novo Atlas Escolar Português (Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1971).

[9] Quanto aos países vizinhos, a situação de Moçambique era claramente mais favorável a Portugal e a de Angola ainda o era mais, dado que alguns se comportavam como aliados e Portugal podia dificultar o acesso ao mar de alguns dos restantes. Sobre o ambiente político internacional e os vizinhos de Angola, veja-se John P. Cann, “Securing the Borders of Angola – 1961-1974”, Revista Militar, n.º 2495 (2009), 1677-1696.

[10] Secretariado-Geral da Defesa Nacional, Acta da reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional de 13 de Abril de 1959 (Paço de Arcos: Arquivo da Defesa Nacional, Fundo 01, Caixa 91, Processo 11).

[11] De acordo com os dados nas páginas 134, 139, 141, 155 e 162 de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, Guerra Colonial – Angola – Guiné – Moçambique.

[12] De acordo com a página 17 da Acta da reunião de Comandos de 15 de Maio de 1973, Bissau (AHM/DIV/2/4/314/2). Sobre as recomendações feitas na reunião de 8 de Junho, veja-se Matthew M. Hurley e José Matos, “A arma que mudou a guerra”, Revista Militar, n.º 2553 (2014), 893-907.

Guiné 61/74 - P17370: Tabanca Grande (437): Luís Branquinho Crespo, ex-alf mil, CART 2413 (Xitole e Saltinho, 1968/70)... Passa a sentar-se à sombra do nosso polião, no lugar nº 744. É advogado em Leiria e autor do livro "Guiné: Um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017)


1. O Luís Branquinho Crespo é o novo membro da nossa Tabanca Grande. Passa a sentar-se, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 744. 

Formalizamos deste modo a sua entrada nesta comunidade virtual de camaradas e amigos da Guiné (*). Tínhamos prometido apresentá-lo no dia 11 do corrente. Ele, por sua vez, ficou de nos enviar duas coisas: (i) as duas fotos da praxe, uma atual e outra do tempo da tropa; e (ii) o texto da apresentção do seu livro, que esteve a cargo do nosso camarada António Graça de Abreu.

O nosso grã-tabanqueiro é do tempo do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), esteve no sector L1, na zona leste, no Xitole e Saltinho, como alferes miliciano, na CART 2413.

Sobre esta subunidade temos poucas (13) referências no nosso blogue... Os elementos a seguir discriminados foram-nos fornecidos pelo nosso colaborador permanente José Martins. Muito sumariamente diremos então que a CART 2413:

(i) foi mobilizada Eegimento de Artilharia Pesada nº 2, instalado na Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia;

(ii) foi inicialmente comandada pelo cap art Raul Alberto Laranjeira Henriques, sendo substituido,
pelo cap inf José Medina Ramos;

(iii) tinha como divisa “Nova Onda”;

(iv) embarcou para a Guiné em 11 de agosto de 1968, chegando a Bissau no dia 16 desse mês;

(v)  fez em  Fá Mandinga, a IAO (Intrução de Aperfeiçoamento Operacional), ainda ao tempo do BART 1904;
(vi) participou em m operações nas zonas de Nova Lamego e Cabuca;

(vii) a 12 de setembro de 1968 desloca-se para o sector Xitole, para sobreposição com a CART 1646, tendo assumido a responsabilidade desse subector em 18 de setembro;

(viii)  desloca um pelotão para o Saltinho, ao mesmo tempo que fica integrada no dispositivo de manobra do BCAÇ 2852;

(ix) em 25 de eevereiro de 1969,  com a criação do subsector do Saltinho, foi o pelotão, da CART 2413, substituido pela CCAÇ 2406;

(x) durante alguns períodos e por tempo variável, deslocou pelotões para guarnecer os destacamentos de Quirafo, Sinchã Maunde Buco, Cambassé, Sinchã Madiú e Tangali;

(xi) nos finais de abril de 1969, passou a deslocar um pelotão para a ponte do rio Pulon, também conhecida como como Ponte do Fulas (não sabemos a razão da designação);

(xii) ter,minada a comissão, foi rendida pela CART 2716, em 7 de junho de 1970, tendo recolhido a Bissau, de onde embarca para a metrópole em 18 de junho.

Portanto, a  CART 2413 estava adida ao BCAÇ 2852. Sabemos que foi rendida pela CART 2716 / BART 2917 (1970/72), a que pertenceu, entre outros, o nosso David Guimarães. Mais tarde, hão de passar pelo Xitole os nossos camaradas Francisco Silva, Joaquim Mexia Alves, entre outros, da CART 3492... E ainda temos o José Zeferino, alf mil da 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74), que fechou a guerra, com 2 mortos, 15 de maio de 1974, se não erro...
De qualquer modo, os "periquitos" da CCAÇ 12 [ou CCAÇ 2590] cruzaram-se com os "velhinhos" da CART 2413...Fizemos colunas loucas, no 2º semestre de 1969 para levar a "bianda" aos camaradas de Mansambo, Xitole, Saltinho... E operações no mato... Foram anos loucos, os de 1969 e 1970. Estou-me a lembrar da Op Bodião em fevereiro de 1970. Não sei se o Luís Branquinho Crespo participou nessa operação ou se, nessa altura, estava destacado.


2. Sobre  Luís Branquinho Crespo podemos repetir aqui o que já dissemos sobre ele e que vem, de resto, na sua página no Facebook;  

(i) nasceu em Leiria, na freguesia das Cortes; (ii) andou na Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo (Leiria); (iii) estudou em Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, tendo completado o curso em Lisboa; (iv) pelo meio, fez a triopa e a guerra colonial na Guiné, com o poste de alf mil, (v) vive em Coimbra e é advogado em Leiria.

É, além disso, autor do livro "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017), lançado recentemente (**).

Talvez os camaradas, mais velhos,  do tempo do BCAÇ 2852, tal como o Jaime Machado, o Torcato Mendonça ou o Beja Santos... se lembrem do Luís Branquinho Crespo...Se não erro, será o primeiro camarada da CART 2413 a integrar a nossa Tabanca Grande. 

Sobre o Xitole temos 196 referências, menos do que sobre Mansambo (332), Xime (367) ou Bambadinca (574) mas mais do que sobre o Saltinho (108).

O Luís é, naturalmente, bem, vindo à nossa Tabanca Grande.  E fazemos votos para o seu livro seja um sucesso, Aguardemos mais notícias suas e, naturalmente, também histórias do seu/nosso tempo.

Guiné 61/74 - P17369: Parabéns a você (1254): Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil Art da CART 1659 (Guiné, 1967/68)

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Nota do editor

Último poste da série de 17 de maio de  2017 >  Guiné 61/74 - P17364: Parabéns a você (1253): António Pinto, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 506 (Guiné, 1963/65)