Mostrar mensagens com a etiqueta Fernando Moreira. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Fernando Moreira. Mostrar todas as mensagens

domingo, 14 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25070: Facebook...ando (49): O Fernando Moreira (1950-2021), ex-fur mil trms, CCS/BCAÇ 3883 (Piche, 1972/74) terá sido o último militar do exército a falar pela rádio com o ten pilav Castro Gil (1950-1979) antes do abate do seu Fiat G-91 R/4, "5437", por um Strela, em 31/1/1974, sob os céus de Canquelifá


Parelha de Fiat G-91 R/4


Vitor Manuel Fernandes Castro Gil, cap pilav
 (1951-1979). 
Fotos : Cortesia de Fernando Moreira / Quidnovi (2011)


1. Página do Facebook do Fernando Moreira (c. 1950- 2021) > 31 de janeiro de 2013 | 01;45

Há uma outra versão do abate do Fiat G-91 R/4, do ten pilav Castro Gil (*):  foi escrita pelo Fernando Moreira, ex-fur mil trms inf, CCS/BCAÇ 3883 (Piche, 1972/74); está ainda disponível na sua página do Facenook e foi também produzida, com a devida autorização do autor,  no Blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74 > domingo, 3 de fevereiro de 2013 > VOO 2688 – 31 Jan. 1974 - Míssil abate avião; eu "estava" lá.



Fernando Moreira, Fur mil trms 
CCS/BCAÇ 3883 (Piche, 1972//4)


Fernando Moreira (c. 1950-2021)


Fotos (e legendas): © Fernando Moreira  (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O Fernando Moreira, que era nosso amigo do Facebook da Tabanca Grande, morreu há dois anos, em 12 de dezembro de 2021.  De acordocom a sua página, era  natural de Mirandela, andou nos Liceus de Bragança e Vila Real, bem como na Escola Agrícola de Coimbra; viva em Vila Real.  

O depoimento do Fernando Moreira, na primeira pessoa do singular, é também valioso para a história da guerra na Guiné e da FAP, porque foi ele, na qualidade de furriel de transmissões da CCS/BCAÇ 3883, em Piche,  o último militar do exército a falar com o ten pilav Castro Gil. 

Reproduzindo o seu texto (**), com a devida vénia, estamos a homenagear dois camaradas, já falecidos, que não queremos que fiquem inumados na "vala comum do esquecimento".

Ficámos também a saber que o nosso camarada da FAP, então já com o posto de cap pilav,  Vitor Manuel Fernandes Castro Gil (1951-1979), viria  a falecer, cinco anos depois, em 5 de janeiro de 1979, aos 28 anos na BA 5, Monte Real, num acidente com um T-33. Teria nascido, pois, em 1951. 

Mas, atenção, há outras versões deste episódio, anteriores à do Fernando Moreira.  No Blogue dos Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74, pode ler-se:

Ver também no nosso blogue, Luís Graça & Camaradasda Guiné:

31 Jan 1974 - Míssil abate avião: eu "estava" lá

por Fernando Moreira


No início de 1974, a zona Leste da Guiné  [, rehião de Gabu], e particularmente a área sob o controlo do Batalhão com sede em Piche  [BCAÇ 3883, 1972/74], começou a sentir o forte assédio do PAIGC que se havia iniciado a Norte (em Guidage) e a Sul (em Guilege). 

Para poder cortar as rotas de comunicação e pressionar diretamente o aquartelamento de Piche, a estratégia do PAIGC passava pela tomada da nossa guarnição de Canquelifá  [CCAÇ 3545]mais a norte.

No dia 31 de janeiro 
 [de 1974], após aquele destacamento ter sido flagelado com mais de 50 foguetões de 122 mm em apenas duas horas (houve abrigos que não resistiram e ficaram destruídos), foi decidida uma acção de apoio aéreo. Da Base de Bissalanca [BA 12], , em Bissau, levantou uma parelha de aviões Fiat G-91 R/4 pilotados pelos tenente-coronel Vasquez e tenente  [CastroGil (na foto).

A missão, designada de "apoio de fogo", tinha como objectivo aliviar a pressão sobre a guarnição e, como tal, impunha-se auxílio logístico às aeronaves. Essa tarefa foi atribuída ao Comando do Batalhão, em Piche. 

Por volta das quatro da tarde, numa frequência rádio previamente determinada, estabeleceu-se o contacto. O alferes de transmissões encarregava-se das comunicações com o avião n.º 1 da parelha, enquanto a mim me cabia o n.º 2 , pilotado pelo tenente Castro Gil.

Fomos fornecendo coordenadas para ataque ao solo e outras informações solicitadas pelos pilotos. Entre elas destacava-se o "feedback" dos nossos colegas em Canquelifá que, por outra via rádio, nos davam conta daquilo que observavam da ofensiva aérea. 

Tudo indicava que a operação estava a decorrer com sucesso. Subitamente, quando fornecia ao "meu" piloto uma coordenada a norte de Canquelifá, ele deixou de falar e, acto contínuo, ouvi um barulho parecido a uma pequena explosão. E perdi o contacto. 

A seguir entra no meu rádio o comandante da esquadrilha e diz: "…o n.º 2 está em perda, foi atingido… está a cair… ejectou-se…". Depois ouvi-o comunicar com a base solicitando a mudança de frequência pelo que cessou aí a nossa ligação rádio.

Já de noite, soubemos que o avião tinha sido atingido por um míssil terra-ar SAM-7 (conhecido por Strela), durante a recuperação de um "passe de bombas", eventualmente feito sem a necessária aceleração, entrando assim no "envelope do míssil". 

O piloto ejectou-se (a explosão que ouvi pela rádio terá ficado a dever-se a essa ação de evasão), conseguindo dirigir-se para Norte e passando a noite para lá da fronteira com o Senegal. 

Ao amanhecer iniciou uma caminhada para sul, a fim de tentar encontrar a estrada Canquelifá – Piche, contornando as linhas inimigas. Esta decisão, inteligente, ter-lhe-á valido não ser capturado pelo PAIGC.

Entretanto, estavam já na zona os meios de busca e salvamento: várias aeronaves (nunca vi tantas!), os paraquedistas e o famoso grupo do Marcelino da Mata transportados em helicópteros. 

O ten Gil avistou os aviões que o procuravam e, sem hipóteses de os contactar, continuou a caminhar. Cansado e cheio de sede, resolveu entrar numa tabanca onde pediu água. Felizmente para ele foi recebido de um modo amistoso e deram-lhe água e laranjas, o que o levou a oferecer 1000 pesos a quem o levasse a um quartel da zona. 

À vista de tal quantia, foi o próprio Homem Grande da tabanca que, pegando na sua bicicleta, o transportou ao posto da tropa mais próximo, Dunane, situado na estrada para Piche. Como em Dunane os militares eram todos africanos, o piloto pediu que o levassem até um quartel com militares brancos. o que fez o homem grande pedalar rijo até Piche.

Em Piche, cerca das 18 horas, uma multidão aguardava o tenente Castro Gil. Toda a gente o queria ver e cumprimentar. Eu ainda consegui dar-lhe um aperto de mão e identificar-me como o seu ajuda rádio durante a operação e no momento do impacto do míssil. Ele retorquiu: "Eh pá… não houve hipóteses” (de escapar)!"

Depois de descansar, se alimentar e pagar a dívida ao Homem Grande, partiu num Dakota que o esperava na nossa pista de aviação. Consta que em Bissalanca outra recepção grandiosa aconteceu.

O avião (Fiat G-91, nº identificação "5437" (na foto) do tenente Gil foi o último a ser abatido por um míssil terra-ar Strela antes da independência. Durante a guerra colonial, na Guiné, foram abatidos 7 aviões Fiat G-91 de que resultou 1 piloto morto e 6 ejecções com êxito e posterior resgate.

Por ironia do destino, o tenente Victor Manuel Castro Gil que em 31/1/1974 resistiu, como vimos, a um míssil e a uma ejecção em zona de guerra, veio a falecer em Monte Real, a 5 de janeiro de 1979, com 28 anos, aos comandos de um T-33 durante a fase de aterragem.

(Referências: José Manuel Pinto Ferreira, em “Luís Graça & Camaradas da Guiné”; Arnaldo Sousa, em “Especialistas da Base Aérea 12, Guiné”)

Autoria: Fernando Moreira, Ex-Furriel Miliciano de Transmissões de Infantaria – Guiné-Bissau (Piche: Maio de 1973 a Junho de 1974; Bissau, CHERET, Jul. a Set. 74). 

Publicado em "Guerra Colonial - A História na Primeira Pessoa" da QUIDNOVI. (Trata-se de um conjunto de 16 volumes, de 111 pp. cada. da autoria de Paulo F. Silva e Orlando castro, Edição: Quidnovi, Vila do Conde 2011.)

(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos, notas entre parênteses retos: LG)

Referência bibliográfica:

Guerra colonial : a história na primeira pessoa / texto Paulo F. Silva, Orlando Castro ; rev. Mariana Guimarães. - Vila do Conde : QuidNovi, cop. 2011-. - v. : il. ; 23 cm. - Contém bibliografia. - 

1º v.: Antecedentes e Baixa de Cassange. - 111 p. 

2º v.: 4 de Fevereiro e massacres de Março. - 111 p. 

3º v.: Formação da Frelimo e PAI passa a PAIGC. - 111 p. 

4º v.: Nova frente militar ; Criação dos comandos (1962) e primeiras operações. - 111 p. 

5º v.: Operação Tridente ; Bases militares na Tanzânia e o inicío da luta armada. - 111 p. 

6º v.: Operação Águia, em Mueda ; Bloqueio do porto da Beira. - 111 p. 

7º v.: Fundação da UNITA ; MPLA abre a frente leste da guerra. - 111 p. 

8º v.: Acções militares do ELNA-FNLA ; UNITA expande-se para Leste ; Cunene e Cahora Bassa. 

9º v.: A pior situação militar ; A guerra expande-se ; Operações do MPLA no Leste. - 111 p. 

10º v.: A chegada de Spínola ; Crise política na FRELIMO ; Operação Zeta ; Kaúlza nomeado comandante da Região Militar de Moçambique. - 111 p. 

11º v.: Samora Machel assume a liderança da FRELIMO ; Operação Nó Górdio ; Operação Mar Verde. 

12ºv.: Acção psicológica ; A terceira via de Marcelo. - 111 p. 

13º v.: O papel de Costa Gomes ; O papel de Kaúlza de Arriaga. - 111 p. 

14º v.: O papel de Spínola ; Morte de Amílcar Cabral ; Movimento dos capitães. - 111 p. 

15º v.: A revolta dos capitães ; Operação Madeira ; Acontecimentos na Beira. - 111 p. 

16º v.: O fim da guerra colonial. - 111 p.  (...)


Comentários (selecionados)
 
José Ferreira

Mais uma bonita história dos nossos Combatentes na Guiné. Eu, que estive "de férias" ali naquela zona, incluindo Dunane, fico abismado com as diferenças em relação aos fins de 1968.

Arlindo Marques

Canquelifá, foi para a companhia 122 de Páras, da qual eu fazia parte, um lugar de má memória, porque perdemos um camarada, por rebentamento de mina, quando faziamos proteção ( guarda de flanco) a uma companhia do exército.

Antonio Rodrigues

Neste dia em que o FIAT G91 foi abatido, encontrava-me em Copá a embrulhar fortemente para não fugir à regra do dia a dia, como acontecia por ali e em Canquelifã naquela altura. O avião foi abatido na área entre Copá e Canquelifã, que distavam cerca de 12 Kms, portanto assistimos a toda aquela cena de muito perto. 

Depois de o Piloto se ter ejectado após ser atingido e ter ganho bastante altura, o avião guinou para o lado esquerdo do sentido em que voava, fez quase uma inversão de marcha, ficou completamente descontrolado e veio a despenhar-se paralelamente a Copá, junto à fronteira com o Senegal. 

Em Copá vimos toda esta cena a olho nu. Passam hoje 39 anos sobre este acontecimento, mas estas imagens ficaram-me gravadas para sempre na memória. 

Mais uma vez os meus sinceros Parabéns por este belíssimo trabalho do Fernando Moreira.

Rui Bruno

O ten Gil morreu mais tarde na BA5, já no posto de capitão (em 1979) a bordo do T-33A Tail Number 1925, quando o seu avião embateu na pista durante a recuperação de um Touneaux.... Morreu também o cap Santos Costa.

Carlos Pinto

Tive três irmãos na Guiné. Já ouvi tantas histórias deles, que nomes como Guidage, Guilege e outros locais até já me são familiares.

Antonio Victor Pegas

Aterrei num Boeing 707 à luz de archotes, com um carregamento vindo de Luanda, depois foi cerveja e ostras no Espada e para adormecer tivemos morteirada ao longe.....e o meducho dos mísseis terra ar....

Rui Costa Branco

Era um miúdo com 5 anos mas lembro-me bem da chegada do ten Gil à base de Bissalanca.

Pedro Costa Branco

Pois é Rui Costa Branco, eu ainda não era nascido, mas já ouvi esta história contada algumas vezes pelo nosso pai.

Armando Pereira Gonçalves

O Gil um grande amigo meu, eu também lá estava, ele andou perdido no mato, sei a história toda, contada pessoalmente por ele, éramos grandes amigos, um tipo pequeno mas com uma enorme nobreza, depois estive com ele na BA5 quando lá fui jogar futebol de Onze, pela equipa da BA4, tive imensa pena com a morte do Gil, foram um bocado estúpidas estas mortes. Que continue em Pal a sua Ala. GVS

Maurício Gomes

Nos primeiros mêses de 1974 estava eu em Binta a fazer proteção à construção da estrada Binta - Guidage e naquela zona (o Cufeu) tinha no ano anterior sido palco de terríveis emboscadas às colunas que reabasteciam Guidage, na nossas deslocações para o local,onde estavam as frentes de trabalho que íamos proteger, encontrávmos com muita frequência minas anti-carro e anti-pessoais e tivemos até uma com elevada carga de explosivos que destruiu completamente a Berliet - rebenta minas... Também uma anti-pessoal vitimou um camarada que foi evacuado de helicóptero para Bissau, destas imagem nunca mais me esqueço e muito surpreendido fiquei com a rapidez da chegada do helicóptero ao local.

 Voltando ao atrás referido Cufeu, também é uma das imagens que me ficou gravada, aquele verdadeiro campo de batalha onde encontrávamos viaturas todas destruídas pela nossa aviação no ano anterior, Berliets, Unimogues, Mercedes, sei lá que mais, ao lado de buracos enormes no chão, resultantes das bombas dos Fiats que foram em auxilio das nossas tropas que já tinham debandado e o inimigo apoderou-se das viaturas da coluna,  daí o facto do bombardeamento ter destruído as viaturas que eles alegremente já condiziam em comemoração.

Antonio Rodrigues

Caro Maurício Gomes, quando cheguei à Guiné em Setembro de 73, não se falava de outra coisa , o assunto principal era Guidage e Guilege. A mim coube-me em sorte Copá, onde vivi e assisti a esta história do abate deste Fiat.

António Maia

Estive em Catió de 72 a 74. Como conheci esta história. Guilege, Cacine, Gadamael, Cufar, pertenciam ao meu Batalhão, e ainda tinhamos a celebre Ilha de Como, bem próxima.

Jose Maria de Noronha

Geração heroica.

Carlos Santos

Estava na BA 12 nessa altura,
 
Alvaro Seabra

Um facto histórico!

Carlos Barbosa

Estava em Buruntuma, CCAÇ 3544. Um grande abraço a todos os ex-combatentes.
 
Carlos Manuel Prazeres Cerqueira

Pois nesse altura em Dunane já só estava a milicia,  embora estivesse lá um Pelotão da CCAÇ 3545 ou seja o 3º Pelotão,  comandado pelo nosso Alferes Francisco Presa .

Carlos Ferreira

Em Guileje foi o primeiro a ser abatido, em 25 de março de 1973... Aconteceu quase tudo igual só que era o tenente Pessoa, ainda vivo, graças a Deus.
 
Luis Gonzaga Rocha

Em 31 de janeiro de 1974 eu estava em Guidage na CCaç 4150.

_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25059: Casos: a verdade sobre... (39): "Canquelifá era o seu nome" - Uma batalha de há 50 anos (José Peixoto, ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883, 1972/74) - Parte II: o abate do último Fiat G-91 R/4, em 31/1/1974, a recuperação do piloto, ten pilav Victor Manuel Castro Gil

(**) Último poste da série > 29 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P25013: Facebook...ando (48): No tempo em que passva na televisão o "Natal do Soldado" (A. Marques Lopes, autor de "Cabra Cega", livro de memórias, 2015, 582 pp.)