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segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22935: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XXV: Berlim, Alemanha, 1969








Imagens, que julgamos do domínio público, referentes a Berlim, antes da "queda do muro" (que só aconteceria, vinte anos depois, em 9 de novembro de 1989)



1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo", da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74. (*)

Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp);  é membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem já mais de 300 referências no blogue.

Texto e fotos recebidos em 26/11/2021. Sendo uma viagem realizada em 1969, pode parecer um "anacronismo" publicar este texto nesta série, que é pós-Guiné, o mesmo é dizer, pós-25 de abril de 1974...Mas já aqui publicámos um outro texto do autor, ainda mais "anacrónico", sobre Hamburgo, datado de  1967. Não era fácil, todavia,  para um português, viajar nesse tempo pelos países da então "cortina de ferro", a Europa de Leste... Dada esta explicação sobre o contexto, aqui vai o texto do nosso camarada António Graça de Abreu, que desde cedo, se tornou  o "globetrotter" que conhecemos, o viajante compulsivo com duas voltas ao mundo, em cruzeiros... As fotos não devem ser dele, sendo mais provavelmente oriundas da Net, sem referência à fonte. São imagens que, todavia,  nunca mais gostaríamos de ver na nossa Europa. Vd. também os quatro postes que o nosso editor Luís Graça publicou em 2015, na sequência de uma estadia em Berlim, em março desse ano (***)


Berlin, Alemanha, 1969

por António Graça de Abreu


Ano de 1969. Venho desde Hamburgo (**), no Ford Escort na longa viagem desde Lisboa, atravessando agora tristes fronteiras de uma mesma pátria alemã, percorrendo autoestradas antigas construídas no tempo do Hitler, caminhos então modernos que tanto facilitaram a mobilidade da poderosa máquina de guerra nazi.

Antes da chegada a Berlin, ao entrar na Alemanha de Leste, a polícia e soldados da DDR (Deutsche Demokratische Republik) vasculham tudo, levantam os bancos do carro, metem-se por baixo do veículo, inspecionam, verificam, fazem perguntas após perguntas em sucessivos controles dos passaportes e dos papéis do seguro.

Chego a Berlin Ocidental, em tempos gelados de Guerra Fria. Numa transversal da Kurfürstendamm, a principal avenida da cidade, encontramos alojamento não muito caro num hotelzinho alojado num velho prédio impiedosamente bombardeado durante a 2ª. Guerra Mundial, mas restaurado, reconstruído a preceito, com cicatrizes a disfarçar meio escondidas em quase todos os patamares, esconsos e paredes. Camas confortáveis, um pequeno almoço substancial e saudável, o descanso possível após umas tantas emoções fortes.

Berlin Ocidental, cidade sitiada pela República Democrática Alemã, tem sobrevivido com dificuldade às asfixiantes tragédias da História. Por aqui respira-se alguma liberdade, o engenho e a capacidade de cada um a fazer-se, a exercitar-se na construção de milhões de quotidianos diferentes, melhores.

No terceiro dia na cidade, ida a Berlin Oriental. Tento e consigo entrar com o meu Escort pelo Checkpoint Charlie. Outra vez infindáveis controles, verificação de documentos, suspeitas de sermos uns perigosos espiões a soldo não sei bem de quem. O que vêm cá fazer? Turistas? Sim, meine Mutter, meine Schwester, eine Freundin und ich, (a minha mãe, a minha irmã, uma amiga e eu). O que querem ver? Trazem carro e tudo, porquê a viagem à Alemanha Democrática? Respondo, preencho mais papelada, lá me vou desenrascando no meu alemão, os dois anos de liceu mais um ano de estudo e trabalho em Hamburgo fazem de mim um falante nada vesgo no que à deutsche Sprache, a língua alemã diz respeito, o que também levanta suspeitas aos polícias da DDR.

Em Berlin Oriental, a cidade tem pouco trânsito automóvel, a sensação de uma grande silêncio, não a azáfama e correrias do capitalismo do outro lado do muro. Andamos uns quilómetros por dentro de Berlin Oriental, falta cor e alegria à cidade. Paramos, passeamos num jardim. Não falamos com ninguém, ninguém fala connosco. As pessoas movem-se, vão à luta à sua maneira, trabalham, mas parecem viver numa paz, numa tranquilidade instaurada por decreto.

Há ainda dezenas, centenas de edifícios por reconstruir, bombardeados pelos aviões aliados em 1945, ou esventrados nos combates de rua quando os soldados russos, e logo depois os aliados, entraram e ocuparam Berlin. O grande edifício do Reichstag (uma espécie de Parlamento), ainda em reparações, é uma assustadora sombra do passado.

Guio o carro pela avenida Unter den Linden. Ao fundo, a porta de Brandenburgo, ex-libris da capital alemã, fica neste lado oriental. Logo depois, diante da Berlin Ocidental começa mais uma vez o muro e as barreiras de arame farpado. Mandam-me voltar para trás, a estranha sensação de conduzir um automóvel numa cidade cortada ao meio pelos homens, com obstáculos, polícia e soldados vigilantes por todo o lado.

Muros, guaritas levantadas, metralhadoras prontas a disparar, as barreiras de arame farpado a dividir as duas Berlins, uma sensação de desconforto e mal estar.

Regresso a Berlim Ocidental. Na avenida Kurfürstendamm entro na Kaiser Wilhelm Gedächtniskirche, ou seja, a igreja construída em 1890 em memória do Kaizer Guilherme I, brutalmente bombardeada pelos aliados num raid aéreo em 1943. Lá dentro, no que resta da nave central retalhada pela guerra, um órgão toca Johann Sebastian Bach. A música faz estremecer as paredes do templo, levanta um hino à Alemanha, enobrece o coração dos homens.

António Graça de Abreu

_________

Notas do editor:

(**) Vd. poste de 31 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22418: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XIII: Hamburgo, Alemanha Federal, 1967

(***) Vd. postes de

31 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14424: Os nossos seres, saberes e lazeres (80): Berlim, cidade ainda hoje invisivelmente dividida: as marcas da guerra e do terror (Parte I) (Luís Graça) 

domingo, 11 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18404: Blogpoesia (558): "Como desconhecido...", "Fome de paz...", e "A gente quastiona-se...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Como desconhecido…

A idade não perdoa.
O tempo transforma os corpos e os rostos da gente.
Me sinto mascarado.
Entro na minha terra como um desconhecido.
Só meu nome perdura ainda na memória dos mais velhos.
Minha aldeia está transformada.
Nada igual.
Tanta casa nova onde nenhuma havia.
Mais largos os velhos caminhos.
Todos virados para os automóveis.
Não sobra nada para os pedestres.
Só a velha ermida branca e o cruzeirinho em pedra ali estão.
Eu os olho e eles a mim.
- Olá, Quim Luís - parece ouvi-los.
Por onde tens andado?
Lhes respondo só em pensamento.
- Como estás mudado!
Eras um garoto a sério, sempre na brincadeira.
Já poucos restam da tua idade.
Vai aparecendo sempre. Fazes falta aos da velha guarda. Quando, para vós, éramos o centro de tudo…

Berlim, 4 de Fevereiro de 2018
19h34m
Jlmg

********************

Fome de paz…

Minha alma caminha célere para o infinito.
Sente fome de paz.
Deambula no mundo, feita migrante.
Desde o começo.
Uma chama viva a seduz.
Ora acesa ora escondida.
Farol ao longe que a conduz.
Uma voz a chama. Como sereia.
Caravela branca, alucinada.
No mar da vida. Tão agitado.
Fitando ao alto.
Estrela polar.
Transpõe desertos.
Verdes oásis.
Nuvens de sonhos.
São só quimeras.
Não perdeu a esperança.
Vai alcançar…

Berlim, 7 de Março de 2018
7h20m
Jlmg

********************

A gente questiona-se...

Nascemos apardalados.
Mas que vem a ser isto onde estamos mergulhados?
Onde é que eu vim parar!?
Donde se vem e para onde se vai?
O real é estático e é dinâmico?
O que é o movimento?
Real ou ilusório?
Propagação dos seres.
Tudo morre e desaparece?
Que acontece?
De que se compõem?
Hoje, acordei mergulhado nestas questões.
Tudo me parecia claro.
Vi o yin e o yan.
Claramente.
Compreendi o Buda.
Tudo em movimento tende para a quietude.
Do começo ao fim.
O verdadeiro estado é o ondulatório.
Como um farol.
Acende e apaga.
Permanece no mesmo lugar.

Bar dos Motocas, Berlim, 8 de Março de 2018
15h35m
Tarde linda de sol. 10 graus!...
Jlmg
____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18390: Blogpoesia (557): No Dia Internacional da Mulher - "Mulher", por Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor do BCAÇ 3872

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14587: Efemérides (186): 8 de maio de 1945: o fim da II Guerra Mundial na Europa, com a capitulação da Alemanha nazi... O mundo não voltaria mais a ser o mesmo...


Brlim > 3 de junho de 1945 > O Reichstag em ru+inaa, um mês depois da rendição dos alemães (a 2 de maio, em Berlim, e a 8 de maio, em todos os teatros de operações). Imagem do Imperial War Museum, Londres. Domínio público. Cortesia de Wiki Commons.


Berlim > 21 de março de 2015 > O histórico edifício do Reichtag, hoje sede do parlamento federal alemão (Bundestag) (desde 1999). O edifício foi profundamente remodelado sob a direção do arquiteto inglês Sir Norman Foster.



Berlim > 21 de março de 2015 > Ediífício do Reichtag, hoje sede do parlamento federal alemão (Bundestag) (desde 1999) > A famosa cúpula de vidro e aço desenhada pelo arquiteto inglês Sir Norman Foster. A original (de 1894) foi destruída pelo incêndio de 1933 e pelos bombardeamentos da II Guerra Mundial...


Berlim > 21 de março de 2015 > Edifício do Reichtag, hoje sede do parlamento federal alemão (Bundestag) (desde 1999) > Aspeto do interior da famosa cúpula de vidro e aço, desenhada pelo arquiteto inglês Sir Norman Foster, e que é um os ex-libris da cidade, "fénix renascida" do triplo pesadelo que foi o regime nazi (1933-1945), a II Guerra Mundial e a divisão da Alemanha e da cidade de Berlim durante a ocupação e o período da guerra fria... Recorde-se que o muro de Berlim caiu em 1989 e a reunificação da Alemanha é do ano seguinte.


Berlim > 21 de março de 2015 > Edifício do Reichtag, hoje sede do parlamento federal alemão (Bundestag) (desde 1999) > Aspeto, já ao pôr do sol,  do interior da famosa cúpula de vidro e aço, desenhada pelo arquiteto inglês Sir Norman Foster



Berlim > 21 de março de 2015 > Ediífício do Reichtag, hoje sede do parlamento federal alemão (Bundestag) (desde 1999) > Interior da cúpula > Exposição documental sobre a história do parlamento alemão (construído em 1894, e já um cúpula de vidro e aço. no tempo do Kaiser Guilherme I),  > Imagem das primeiras tropas soviéticas que ocuparam o edifício em 2 de maio de 1945.


Berlim > 21 de março de 2015 > A porta de Brandemburgo vista da cúpula do edífício do Reichtag.


Berlim > 22 de março de 2015 > Com a porta de Brandemburgo, um numeroso grupo de adolescentes nipónicos tira a sua "foto de família"... Recorde-se que a rendição incondicional  do Japão, na II Guerra Mundial,  só se vai verificar no dia 2 de setembro de 1945, três meses do colapso de Berlim...



Berlim > 22 de março de 2015 > As portas de Brandemburgo, Lê-se  na Infopédia, e reproduz-se aqui com a devida vénia:

"As Portas de Brandemburgo, construídas entre 1788 e 1791, são o que resta da entrada na cidade de Berlim pela Avenida Unter den Linden [, a famosa Avenida das Tílias]. A construção do monumento ficou a dever-se ao arquiteto Carl Gottard Langhans, na época em que era Diretor de Arquitetura em Berlim.Trata-se de um pórtico colunado com seis pares de colunas dóricas encimadas por entablamento como se apresentam os propileus gregos. A famosa Quadriga da Vitória, uma estátua com um coche de gala puxado por quatro cavalos, remata todo o conjunto.  É ainda ladeado por dois corpos laterais simétricos, porticados e sobrepujados com frontão triangular. A sobriedade monumental reflete a vontade que a Alemanha exprimia em ser uma continuadora da tradição arquitetónica da Grécia. A ordem dórica, embora exprimindo mais eficazmente a simplicidade e grandeza clássica, era ao mesmo tempo pouco flexível, razão pela qual não foi extensivamente usada durante o período neoclássico.

"O monumento reflete os ideais autocráticos pela sua monumentalidade, conseguida através do uso de elementos classicistas. Evocando os arcos de triunfo, apresenta uma maior frieza precisamente pelo uso da ordem dórica. A estrutura ficou bastante danificada durante a Segunda Guerra Mundial, tendo sido restaurada em 1957-58. Entre 1961 e 1989 o muro de Berlim vedava o acesso a esta entrada por alemães orientais e ocidentais. Em consequência da reunificação alemã, as portas foram reabertas em 1989."...



Berlim > 21 de março de 2015 > > Portas de Brandemburgo > A Quadriga, a escultura que reprsenta a deusa (romana) Vitória a conduzir o seu coche, é da autoria do alemão Johann Gottfried Schadow (1764-1850), tendo sido adicionada à porta em 1793/94. Em 1806, Napoleão, derrotados os prussianos em Jena, trouxe a quadriga como troféu para Paris. Derrotado Napoleão oito anos depois, a escultura é trazida  de volta. É então, que recebe a cruz de ferro (uma condecoração militar instituída pelo rei da Prússia,  Fredereco Guilherme III) com uma águia prussiana no topo. Concebida originalmente como uma "porta da paz", acabou sempre por estar associado aos valores do militarismo... Em 1933, a porta é atravessada pelo cortejo de archotes dos nazis, marcando simbolicamente o início do Reich dos mil anos...


Berlim > 22 de março de 2015 >Portas de Brandemburgo, A deusa Vitória conduzindo a Quadriga...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados

1. Em todas as guerras e em todos os regimes, ninguém dispensa o poder da propaganda... Umas das fotos-ícone do séc. XX foi tirada justamente aqui, no Reichtag, em 2 de maio de 1945, pelo fotojornalista Yevgeny Khaldei (Donetsk, Ucrânia, 1917- Moscovo, Rússia, 1997)... 

Não reproduzimos aqui a foto por não estar inteiramente esclarecido se é do domínio público ou não. Mas continua, por enquanto, disponível na Wikipedia: um soldado soviético, em pose heróica, crava a bandeira vermelha, com a foice e o martelo, num dos cantos do telhado do Reichtag [, a antiga sede do parlamento da República de Weimar, proclamada em 9/11/1918], em Berlim. A capital do poderoso Reich dos mil anos tinha acabado de cair, sem honra nem glória, às mãos do exército de Staline. 

Soube-se, todavia, mais tarde que a foto sofreu sucessivos  "retoques artísticos"... por imperativos de propaganda. Uma das razões foi ditada pela necessidade de "limpar" a imagem do heróico soldado soviético... Afinal, o porta-bandeira de ocasião ostentava nos braços pelo menos dois  relógios, supostamente provenientes de um saque...

No dia 2 maio de 1945, de manhãzinha, Yevgeny Khaldei estava no edifício do Reichstag, que os soviéticos tomavam erradamente como um dos símbolos do nazismo. (O Parlamento da república de Weimar foi incendiado  em 1933, e esse cabo tenebroso acabou por dar pelnos poderes a Hitler)...

Três horas antes, o último comandante alemão que defendia a cida tinha capitulado, mas ainda havia combates esporádicos. Khaldei tinha sua câmera Leica com ele, além de uma bandeira soviética.

O fotógrafo militar, de 28 anos, tenente da marinha, de origem judia, encontrou um jovem camarada junto ao edifício do antigo parlamento, seriamente destruído pelas chamas e pelos bombardeamentos, persuadindo-o a subir ao telhado com a bandeira. Dois outros soldados do exército vermelho se juntaram a eles..

Khaldei tirou um rolo inteiro, ou seja, 36 fotografias. Uma delas tornou-se célebre, ao simbolizar a derrota da Alemanha nazi e a vitória do exército vermelho. Foi sabiamente usadas pela propaganda soviética, para quem o Reichtag tinha um valor simbólico... e não propriamente militar.

Vtima, ao que parece, do antissemitismo estalinista no pós-guerra, Khaldei caiu no esquecimento, e ele e a sua foto. Seria só em 1991, já depois da queda do muro de Berlim, e do desmoronamento da URSS, que um artista berlinense, Ernst Volland, se deparou por acaso com estas fotos de Khaldei em Moscovo, tendo decidiu publicá-las em livro.

Em 8 de maio de 2008, no aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, o museu Martin Gropius Bau, em Berlim, fez uma retrospectiva da obra de Khaldei, considerado o mais importanbe fotojornalista da era soviética. A exposição mostrou fotografias da "Grande Guerra Patriótica": a conquista, pelo exército vermelho, de Sofia, Bucareste, Budapeste e Viena, bem como a conferência de Potsdam e os julgamentos de Nuremberg. Também contava com fotografias da vida quotidiana na União Soviética, de antes e depois da guerra.

Khaldei não era, técnica, formal e esteticamente, um fotógrafo de grande estilo. Em contrapartida, teve o mérito de captar momentos historicamente importantes (e alguns únicos), ao longo de uma carreira de seis décadas. Pode-se lamentar que, do ponto de vista deontológico, o seu comportamento nem sempre tenha sido correto, como no caso da sua obra-prima fotográfica, a foto da bandeira vermelha no Reichtag. De qualquer modo, não deixa de ser um dos grandes fotojornalistas do séc. XX.

2. A história dessa falsificação, o "making off" da foto do Reichtag, foi reconstituída por Volland, o curador da exposição de Berlim.  Segundo ele, Khaldei nessa mesma noite de 2 maio seguiu de avião para  Moscovo, levando os negativos. Quando a imagem apareceu na revista Ogonjok,  em 13 de maio de 1945, já havia um detalhe modificado. Na realidade, o soldado que está apoar o seu camarada com a bandeira tinha um relógio em cada pulso, o que só podia ser produto de roubo. Khaldei admitirá mais tarde que tinha riscado o relógio no braço direito do homem num dos negativos,  usando uma agulha... Por outro lado, as  nuvens negras de fumo, dando maior carga dramática e tom épica à foto, terão sido adicionadas mais tarde.... Enfim, na versão final, há uma nova bandeira, ondulando dramaticamente no vento.

Khaldei justificou-se, alegando que manipulou a foto por uma boa causa, o seu ódio ao nazismo... O seu pai e três das suas quatro irmãs foram assassinados pelos alemães... Uns anos antes de morrer (em 1997), disse publicamente que perdoava aos alemães, mas nunca poderia esquecer... O que se entende, porque é humano. 

Conheceu grandes fotógrafos do seu tempo como Robert Capa (1913-1954), de seu nome verdadeiro, Endre Ernő Friedmann, judeu de origem húngara,  um dos fundadores da agência Magnum. Tornaram-se amigos e Capa deu a Khaldei uma câmera "Speed ​​Graphic", quando ambos faziam a cobertura dos julgamentos de crimes de guerra em  Nuremberg.

  by Michael Sontheimer, in Berlin. Spiegel on line International, 7 may 2008.

3. O fim da I Guerra Mundial foi o fim da Europa imperial, e a emergência dos EUA como grande potência... O fim da II Guerra Mundil foi o fim dos impérios coloniais, logo com a Inglaterra, em 1947, a abrir mão da "joia da coroa" que era a Índia... Foi também a divisão do mundo em dois blocos, polítco-militares, com um longo período de guerra fria, a emergência do movimento dos não-alinhados, o 3º Mundo, a descolonização...

Mas foram também os "trinta gloriosos", as três décadas de crescimento económico ininterrupto dos países europeus, sob a tutela dos EUA: o "milagre económico" alemão, francês, italiano... Um mundo (e um modelo de desenvolvimento) que entrou em crise, a partir de 1973, com o choque petrolífero, e acabou em 1989, com a queda do muro de Berlim...  No meio de tudo isto, Portugal, país milenar, viu-se reduzido, em 1975, às fronteiras do séc. XIV e aos seus modestos 89 km mil quadrados, depois de ter levado a cabo, ingloriamente, a maior guerra do séc. XX, de baixa intensidade, em três teatros de operações, a milhares de quilómetros de distância, mobilizando mais de um milhão de homens, ao longo de quase década e meia... Essa guerra calhou-nos na rifa, à geração nascida com a (ou depois da) II Guerra Mundial... Feita a paz, e as contas, verficamos que o português é hoje a língua de 250 milhões de seres humanos, da Guiné ao Brasil, de Angola a Timor...O português é, verdadeiramente, a nossa "joia da coroa" e não é mais uma língua imperial...

De facto, a partir de  1945, o mundo não mais voltaria a ser como dantes...  (LG)

domingo, 3 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14560: Blogpoesia (414): do alto Minho... a Berlim, de regresso a casa (J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)


Lisboa > Livraria Bar Les Enfants Terribles > Cinema King > 2 de novembro de 2013 > 19h00 > Sessão de lançamento do livro de poesia do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, "Baladas de Berlim"  (Lisboa, Chiado Editora, 2013) > Da esquerda para a direita: Luís Graça, que apresentou o livro: o autor e o seu filho mais velho, Paulo Teia, padre jesuíta, que apresentou o pai e o poeta; e ainda a representante da Chiado Editora...

Foto: © Virgínio Briote (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


Berlim > 2012 > Joaqum Luis Mendes Gomes,  com dois dos seus netos


Foto: © J. L. Mendes Gomes (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]




Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > Ao centro, o Jorge Rosales, "régulo" da Tabanca da Linha, tendo à sua esquerda o seu solícito e competente "secretário", o "pira" Zé Dinis... À ponta esquerda, o nosso poeta J. L. Mendes Gomes  que nos deu este ano a alegria da sua presença. Tem casa em Mafra mas mora, uma boa parte do ano, em Berlim... Entre ele e o Rosales, o mais veterano dos três, o José Augusto Ribeiro...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados

alto minho...

subi às terras altas do alto minho,
cada vez mais verdes,
cheias de rochas e de castelos,
igrejas brancas
e campanários.

onde o vinho cresce enforcado por estas gentes pacatas
e derrama a sua bênção
lá por volta do mês de agosto.
e uma manta alta de pinheiros bravios
se estende abundante
por essas encostas serranas.

e há rios caudalosos,
minho, lima, cávado e ave,
descendo em correrias,
lá das montanhas,
serpenteando campos
e vinhedos,
em busca do mar.

onde havia mulheres tão atentas e corajosas,
como a maria da fonte,
fazendo frente
e pondo na ordem
os desacatos loucos
desses políticos.

onde vive um povo alegre
e trabalhador,
que enxameia de festas e romarias,
a temporada fértil
do estio e do outono...

onde portugal se enlaça a espanha,
pelo norte e pelo leste.

póvoa de lanhoso, 

na casa do meu irmão, 
11 de Abril de 2015
4h36m

ouvindo "nocturnos" de chopin

Joaquim Luís Mendes Gomes


desabafo

cheguei de novo a berlim, 

deixei-a despida, gelada e triste,
encontrei-a verde, 
recheada de arvoredo,
denso e gigantesco,
entrelaçando as casas. 

um céu azul e luminoso,
um fervilhar de gente alegre e descontraída a passear na rua,
nada de stresses,
vivendo a vida em festa.

desigualdades, aqui não há. 
toda a gente igual
e trabalha, 
cada um faz bem o que sabe e que é capaz. 
toda a gente dorme descansada...

como gostaria eu que o meu portugal,
que é tão lindo e rico, 
vivesse igual. 
mas não,
há uma casta de privilegiados,
parasitas e oportunistas,
uma dúzia só... 
que os explora. 
desenfreadamente. 
como uns selvagens... 
apoderaram-se do poder. 
e, pasme-se!, pela via democrática!...
que terrível paradoxo. 
que ninguém desata...

aqui há ordem, 
respeito das regras. 
tudo funciona perfeito,
desde as escolas, tribunais e aos hospitais. 
cada um tem sua vez. 
e não espera muito. 
o estado se preocupa, se antecipa 
na solução dos problemas dos seus cidadãos.
uma verdadeira sinfonia,
com bons maestros. ...
e não estou a exagerar nem a fantasiar.

berlim, 3 de maio, 11h45

[ex-Alf Mil, CCAÇ 728, 
Cachil, Catió e Bissau, 1964/66]

_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 3 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14559: Blogpoesia (413): No dia em que se lembram todas as Mães, um poema do nosso camarada Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887 (Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14481: Os nossos seres, saberes e lazeres (87): Berlim, cidade ainda hoje invisivelmente dividida: as marcas da guerra e do terror (Parte IV) (Luís Graça): o muro da nossa vergonha europeia...


Berlim > "East Side Gallery" > 22 de março de 2015  > O famoso beijo entre dois "camaradas"... [O artista, ele próprio russo, passou por cima da idiossincracia do "beijo russo",  deu à sua pintura mural uma outra conotação, histórica e política, a do beijo da morte... Entre os russos, o beijo na boca entre dois homens nada tem de chocante ou homofóbico, é de acordo com a tradição russa um grande sinal de afeto e gratidão...]


Господи! Помоги мне выжить среди этой смертной любви [em russo], Gospodi! Pomogi mne vyzhit' sredi etoy smertnoy lyubvi [em russo transliterado]

Mein Gott, Hilf Mir Diese Tödliche Liebe Zu Überleben [em alemão] |

Tradução: My God, Help Me to Survive This Deadly Love [inglês]   | Meu Deus, ajuda-me a sobreviver a este amor mortal [português]...


1. Um dos mais famosos grafitos da "maior galeria de arte ao ar livre, do mundo", a chamada "East Side Galllery", situada numa  seção de mais de 1,3 km, na parte oriental do antigo muro de Berlim, que escapou ao camartelo...

É um dos lugares obrigatórios dos percursos da "ostalgie"... [Um neologismo, usado pelos berlinenses, que deriva de Ost (leste) e Nostalgie (nostalgia)... Mais do que um sentimento, é um negócio, o turismo da "ostalgie" que alimenta museus, privados, excursões, visitas guiadas, restauração, hotelaria, arte, cultura...Não há, na Alemanha de hoje,  "saudades" do regime da RDA onde parece que havia emprego para todos na proporção inversa da liberdade... Em relação ao passado (nazismo, holocausto, guerra, muro de Berlim, reunificação...) os alemãs lá vão fazendo, como podem, o difícil "coping".... Até inventaram um palavrão para designar esse fenómeno: Vergangenheitsbewältigung, a arte alemão de saber lidar com o passado...

Apesar de tudo, parece-me que, a nível público, os alemães (ou pelo menos os berlinenses) fazem-no melhor do que nós, que ainda não conseguimos fazer o luto de muita coisa, e nomeadamente a perda do nosso cordão umbilical histórico com o "além-mar" (, desde a nossa frota do bacalhau e a nossa marinha mercante, até às "joias da coroa" ultramarinas, India e Angola, por ex.) ou o debate sereno sobre o Estado Novo, a guerra colonial / guerra do ultramar / guerra de África, o 25 de abril e a descolonização...

Como é sabido, o muro esteve de pé entre 1961 e 1989,  dividindo não só os berlinenses e os alemães, como o próprio continente europeu. A ser apropriada a expressão "muro da vergonha", ele foi historicamente o muro da vergonha de todos, nós, europeus... A reunificação da Alemanha, em 3 de outubro de 1990, marca o fim da chamada guerra fria, que opôs a Rússia soviética aos seus antigos aliados ocidentais da II Guerra Mundial (EUA, Inglaterra e França). Desgraçadamente, outros muros, menos visíveis, se estão a erguer na Europa de hoje, enter o norte e o sul, entre o oeste e o leste... A Rússia, por exemplo, é um urso ferido e humilhado,, o que não é bom para ninguém...

A guerra fria marcou a nossa geração e as duas superpotências (EUA e URSS) diglariaram-se em muitos pontos do mundo  (da Coreia a Cuba, do Vietname a Angola). através de terceiros a quem armamaram ou apoiaram de muitas outras maneiras [, como foi o caso da ex-Guiné portuguesa, onde a G3 era  alemã ocidental, e a Kalash era russa; no caso da ex-RDA, todos os três movimentos nacionalistas lusófonos, PAIGC, MPLA e FRELIMO, que combateram contra o exército colonial português, beneficiaram da "solidariedade internacionalista" (sic) dos alemães de leste].

O mural é do artista russo Dmitri Vladimirovich Vrubel (n. 1960) e data de 1990 (restaurado em 2005) (*). Esta pintura mural pretende caricaturar o dirigente comunistas Leonid Brezhnev  (1906-1982), russo, e o presidente Erich Honecker (1912-1994), alemão oriental, num dos seus famosos "beijos fraternos" (saudação tradicional russa).  Dimitri Vrubel reproduziu aqui uma célebre foto tirada em 1979, por ocasião da celebração do 30º aniversário  da fundação da República Democrática Alemão (RDA). A pintura mural tem as seguintes dimensões: 365 cm × 480 cm.



Berlim >"East Side Gallery" A> 22 de março de 2015  >  Outra não menos famosa pintura... Em primeiro plano, o símbolo da RDA, o "Trabant" (ou "Trabi", em linguagem coloquial), a versão alemão oriental do... "carro do povo". Em segundo plano, o beijo dos "camaradas"  Brezhnev e Honecker... Autor: Lake.


2. A "East Side Gallery" tem trabalhos de 118 artistas de 21 diferentes países, que usaram diferentes técnicas plásticas para  comentar, livremente, num hino à paz e à liberdade, acontecimentos políticos decisivos dos anos em que caiu o muro de Berlim (1989) e acabou a guerra fria (1990)....

A "East Side Gallery" fica ainda no centro histórico de Berlim, na Mühlenstraße,  em Friedrichshain-Kreuzberg, estendendo-se ao longo da margem direita do rio Spree que atravessa Berlim e Brandemburgo.


 Berlim > "East Side Gallerey" > 22 de março de 2015 > O histórico dirigente soviético Mikhail Gorbachev  (n. 1931),  fazendo da foice e do martelo um "volante simbólico" da história,  provável referência à sua política de reformas, consubstanciadas nas palavras de ordem Glasnost Perestroika... Foi-lhe atribuído, muito justamente,  o Prémio Nobel da Paz (1990). O mural está muito "vandalizado", não consegui saber quem era o autor...


Berlim >"East Side Gallery" > 22 de março de 2015 > A arma (sempre desconcertante e saudável) do humor...




Berlim > "East Side Gallery" A> 22 de março de 2015  > A Alice Carneiro,  nossa grã-tabanqueira, e a mana Nitas, na iminência de serem "atropeladas" por um Trabi (**)...




Berlim > "East Side Gallery" A> 22 de março de 2015  > A Alice, ao longo do muro, saturado de grafitos... Esta parte correspondia, no passado, ao território de Berlim Oriental.


Berlim > "East Side Gallery" A> 22 de março de 2015  >  Uma secção do muro que foi deslocada da localização original, pro razões de acesso ao rio Speer... Do lado direito da foto era Berlim ocidental e do lado esquerdo, Berlim Oriental... Ao fundo a famosa ponte de tijolo, a Oberbaumbrücke, que foi em tempos a mais comprida da cidade (, datando de 1896). Continua a ser um dos ícones da cidade. Foi dinamitada, a secção central, pelos alemães em abril de 1945 para atrasar a chegada do exército vermelho.  Com a criação do Muro, em 1961, a ponte passou a servir de fronteira entre o leste e o oeste. Havia aqui  um dos "checkpoints" dos alemães orientais. Foi posteriormente reconstruída e devolvida ao seu esplendor em 1994.



Berlim > "East Side Gallery" A> 22 de março de 2015  > Também há marcas de "tugas"... que por aqui passaram recentemente e quiseram deixar a sua "peugada"... Neste caso, de uma Rita Gaião e de uma Carol...


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados

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Notas do editor:

(*) Vd., postes anteriores >

9 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14450: Os nossos seres, saberes e lazeres (85): Berlim, cidade ainda hoje invisivelmente dividida: as marcas da guerra e do terror (Parte III) (Luís Graça)

1 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14428: Os nossos seres, saberes e lazeres (82): Berlim, cidade ainda hoje invisivelmente dividida: as marcas da guerra e do terror (Parte II) (Luís Graça)

31 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14424: Os nossos seres, saberes e lazeres (80): Berlim, cidade ainda hoje invisivelmente dividida: as marcas da guerra e do terror (Parte I) (Luís Graça)

(**) Último poste da série > 15 de abril de  2015 > Guiné 63/74 - P14472: Os nossos seres, saberes e lazeres (86): Bruxelles, mon village (Parte 1) (Mário Beja Santos)


quinta-feira, 9 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14450: Os nossos seres, saberes e lazeres (85): Berlim, cidade ainda hoje invisivelmente dividida: as marcas da guerra e do terror (Parte III) (Luís Graça)


Berlim, Postsdamer Platz, 27 de março de 2015.  Por aqui passava o muro da vergonha (de todos nós, europeus, do oeste e do leste)... Completamente destruída na II Guerra Mundial, a praça Potsdam é hoje um dos símbolos feéricos da fénix renascida que é a cidade de Berlim...  Aqui se ergue também o famoso Sony Centre"...

Vídeo (0' 34'') alojado em You Tube > Luís Graça













Berlim, 27 de março de 2015 > Potsdamer Platz > A "arquitetura BMW" (*)...

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados

1. Legenda para o vídeo: na natureza nada se desperdiça, tudo se transforma... A gralha cinzenta (corvus cornix, se não erro) aproveita o nosso "lixo" para fazer o seu ninho... Há de continuar  a aproveitar os nossos restos mortais quando o IV Reich dos mil anos desaparecer, e com ele a nossa civilização e a nossa espécie...

O "homo sapiens sapiens" foi demasiado bem sucedido, ao longo de muitos milhares de anos, mas o sucesso tem um preço... Não soube respeitar as outras espécies, o planeta terra que o hospeda e sobretudo os outros indivíduos da sua espécie... O nosso modelo de desenvolvimento é insustentável... Temos horror ao vazio, em lugar das enormes crateras deixadas pelas bombas da II Guerra Mundial, os berlinenses construiram  templos de aço e vidro dedicados aos deuses do capital, do mercado e do consumo... Mesmo assim, têm 16 mil hectares de espaços verdes, jardins e parques... E corvos, muitos corvos...Mas o urso, já desaparecido,  é que é a mascote da cidade...

Na nossa cultura, o corvo está associado ao terror e à morte... Em Lisboa, é o símbolo e o padroeiro da cidade, mas eu é raro ver corvos pela minha cidade do Tejo e das sete colinas... Diz a lenda que o corpo do São Vicente, martirizado pelos romanos no séc. IV, foi resgatado dos mouros e  chegou a Lisboa, vindo do Algarve (, do Cabo de São Vicente), no séc. XII, de barco,  acompanhado  por dois corvos... Pobre corvo, indevidamente instrumentalizado  na luta entre duas civilizações e duas religiões monoteístas...


2. Berlim, cidade aberta, 
fénix renascida...
A Alemanha não é Berlim,
ou Berlim não é a Alemanha,
diz-me um luso-alemão,
filho de mãe teutónica e de pai tuga,
que o amor não escolhe nacionalidades...
"Berlim é a civilização,
o resto são as tribos germânicas"...
O turista, o estúpido em férias,
não se apercebe das diferenças...
Afinal, a Alemanha não é monolítica...
O que faz o secreto encanto de Berlim ?
Quem são os berlinenses ?
Os filhos do Kaiser?
Os filhos do Adolf Hitler ?
Os filhos do Walter Ulbricht ?
Os filhos do Willy Brandt ?
Os filhos da Angela Merkhel ?
São filhos do desejo de liberdade, justiça e paz...
Afinal, somos todos filhos, menores. de um deus maior. (**)

Berlim, 23 de março de 2015
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Notas do editor: