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terça-feira, 14 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27317: Convívios (1043): Rescaldo do Encontro dos Antigos Combatentes de Meimoa na Guerra do Ultramar, levado a efeito no passado dia 4 de Outubro (Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav)



1. Mensagem do nosso camarada Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa) e Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, (Bissau) (1970/1971), com data de 13 de Outubro de 2025:

Caros amigos
Votos de ótima saúde

Realizou-se em Meimoa em 2025.10.04 um convívio de ex-combatentes.
Meimoa é uma povoação portuguesa sede da Freguesia de Meimoa (20,58 km² de área e 307 habitantes - censo de 2021) do Município de Penamacor, concelho de Castelo Branco.

A freguesia da Meimoa fica a cerca de 12 Km a norte de Penamacor. Da sua fundação pouco ou nada se sabe. Presume-se que terá sido muito importante no tempo dos romanos devido à existência da ponte Romana / Filipina, erguida sobre a ribeira da Meimoa. Para a origem do seu nome aponta-se a mesma que a do Meimão. Segundo Frei de Sousa, o nome Meimão e Meimoa, são de origem árabe e derivam de Mamona, nome próprio de mulher, cujo significado é, estar segura, firme, constante, conservada, etc. Pinho Leal diz que a mais provável origem destes nomes (Meimão e Meimoa), é a palavra Mâmoa (monumento funerário). Tempos depois os romanos chamavam-lhe mamona, pela semelhança que tem com o peito da mulher (Junta de Freguesia Meimoa).

A minha presença foi proporcionada pelo amigo General João Afonso Bento Soares, ao qual estou grato.
O convívio, salutar, foi precedido de missa na Igreja Matriz de Meimoa (construída em 1673 e reconstruída em 1770, em 1905 e em 1917. Apresenta uma planta longitudinal composta por uma nave, uma capela-mor mais estreita e uma sacristia e uma torre sineira adossadas. No exterior, destaque para um cruzeiro construído reaproveitando um antigo silhar romano com inscrição votiva), em que participou na celebração o amigo Pe José Torres Neves.

Aproveitei o ensejo para entregar ao Zé Neves o texto que redigiste (Luís), com elogio mais que merecido, e, pelo qual ele ficou sensibilizado.
Anexo algumas fotografias bem como o discurso do amigo Gen. João Afonso, do evento, para postagem se for esse o vosso entendimento.

Um grande abraço,
Ernestino


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ALMOÇO DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MEIMOA NA GUERRA DO ULTRAMAR

4 DE OUTUBRO DE 2025

VOCATIVOS

A Missa é o momento mais alto e solene dos nossos convívios em que evocamos a memória dos ex-combatentes falecidos.

1 - Quero assim agradecer a disponibilidade do nosso Pároco Rui Manique por ter podido conciliar, dentro dos seus muitos afazeres, a sua realização: Bem-haja, Pe Rui Manique.
Do mesmo jeito, agradeço a pronta aceitação do Pe Zé Torres Neves para concelebrar, ele que foi capelão militar na Guiné (aliás num tempo em que também eu lá estive como capitão, cumprindo a minha 1.ª comissão de serviço no Ultramar): Bem-hajas, Zé Torres


2 - Para além desta importante presença do Clero quero também saudar a presença da JF da Meimoa na pessoa do nosso Presidente que muito tem contribuído para dignificar os nossos encontros, quer aquando da recomposição do Painel tríptico no adro da Igreja, quer oferecendo há 2 anos atrás as T-shirts e também este ano as lembranças distribuídas: Bem-haja, Zé Madeiras

3 - Invocados os poderes religioso e administrativo da nossa terra, permitam-me também referir as gratas presenças de representantes do poder judicial, pois entre os tantos filhos brilhantes que a Meimoa deu ao país, temos hoje entre nós o juiz Desembargador Celestino Bento, meu companheiro da Comissão Organizadora e também o juiz Conselheiro Messias Bento, ambos jubilados.
Bem-hajas Celestino que tiveste a maior parte do trabalho organizativo deste Encontro e Bem-hajas, Messias que muito nos honras com a tua vinda (com a preciosa ajuda, já se vê, do filho Dr. Miguel) que igualmente cumprimento.


4 - Quero ainda referir a presença, pela primeira vez entre nós, do Dr. Ernestino, também ele um ex-combatente na Guiné, que ali conheceu e conviveu com o nosso Pe Zé Torres, nas bandas duma terra chamada Mansoa.

5 - E a TODOS VÓS meu povo, ex-combatentes, familiares, Amigos e COMPANHEIROS (do latim “cum panis”, como aqui está agora mesmo acontecendo), eu saúdo e peço vénia para dizer umas palavras.

Vou então ler uns dizeres, porque acaba por ser mais rápido, mas adianto desde já que as considerações que vou fazer se situam ao nível da rememoração dos Valores Pátrios e da Saga lusa, adiantando a significação deste tipo de Encontros (levados a cabo de Norte a Sul do país) e apresentando algumas citações, à volta do tema, por personagens ilustres. Saliento que está ausente do meu espírito, toda e qualquer conotação partidária, aliás, completamente alheia e, tão pouco, permitida à minha condição castrense, enquanto oficial General do nosso Exército.
Missa
Painel
Aperitivos
Almoço


Almoço-Convívio dos Antigos Combatentes Meimoenses – 4OUT2025

Gostaria de vos fazer uma pergunta retórica: Sabem porque eu estou aqui? Pois bem, responderia: Porque ainda estou vivo e juntamente com outros que andámos na GU, compete-nos contribuir para a preservação da memória e do respeito pela Pátria Lusa…

Neste Verão de 2025, agora findo, completaram-se 80 anos sobre o fim da II Guerra Mundial, em 2SET1945. Uma data, por todo o mundo celebrada, em que se homenageiam todos os que nela morreram. Portugal conseguiu ficar neutro nesse flagelo, mas uns 16 anos mais tarde, em 1961, viu-se envolvido no conflito da GU que teve a duração de 13 anos e ao qual, na sequência da Revolução de 25ABR74, se conseguiu por termo. Já passaram, portanto, 51 anos, mas ainda estamos vivos alguns antigos combatentes desse fatídico evento.

Na GU, de uma maneira ou de outra, todo o povo português esteve envolvido, pois foram cerca de 800.000 homens enviados para defender a Pátria nos vários TO – Teatros de Operações (Guiné, Angola e Moçambique). Tivemos cerca de 9.000 mortos e uma dessas vítimas foi um filho da Meimoa, na pessoa do Alf. Cmd João José Fonseca Nabais, cujo féretro levámos aos ombros, a inumar no nosso cemitério, no Verão de 1974. O fim da GU (com o 25ABR74) foi levado a cabo por militares do meu tempo. Embora, o fim do conflito fosse um bem reclamado por todo o Povo, não se esconde que a forma como tal aconteceu, face à gestão política da Revolução, implicou muitos transtornos para os portugueses residentes nas províncias ultramarinas e que ali tinham a sua vida montada. De facto, acabaram por ser obrigados a regressar de mãos vazias, e vieram a constituir um êxodo que se estima em mais de 600.000 concidadãos, designados de “Retornados”, mas, melhor dito, de autênticos “Refugiados”. Nesse chamado Verão Quente de 1975, estando eu a cumprir uma comissão de serviço, no comando de uma Unidade na capital de Angola, ainda pude prestar algum auxílio, nessa altura precioso, para vários portugueses desesperados ali residentes, alguns dos quais nossos conterrâneos.

É por mor de preservar a memória desses difíceis tempos que aqui nos reunimos anualmente, pelo menos enquanto um de nós, Antigos Combatentes da GU, estiver vivo (e daí, a pergunta-resposta que inicialmente vos dirigi: “Sabem porque estou aqui”?). Quero, no entanto, acreditar que mesmo quando já não restar vivo nenhum dos veteranos do conflito, os seus familiares e amigos haverão de lembrar e, quiçá, prolongar no tempo a memória destes encontros-convívio.

É bom ter em mente que “uma Nação que esquece o seu Passado, não tem Futuro” (já Churchill assim dizia). Nessa ordem de ideias, é com grande tristeza, diria até estupefação, que vejo algumas entidades responsáveis (ou pseudo-responsáveis), posicionadas em altos níveis da política e da cultura, quererem refazer a história em franco e inconcebível desprezo pela saga lusitana de outrora, cujo mérito é, aliás, amplamente reconhecido por inúmeros historiadores (portugueses e estrangeiros) de que vou dar alguns exemplos:
- Ainda recentemente li um artigo intitulado “Portugal esquece os seus soldados” da escritora Isabel Stilwell, uma insigne jornalista e escritora portuguesa, onde, em dada altura, ela dizia (e cito):
“…em Portugal recordamos pouco e temos uma dificuldade enorme em falar dos nossos soldados mortos no Ultramar, ou que ainda hoje sofrem sequelas profundas daqueles combates.
Quando não recordamos e não homenageamos aqueles que deram a vida pelo seu país, roubamos sentido à dor e traímo-los. Os combatentes em África, por força de um volte-face político, não tiveram direito a ser tratados como heróis”.


- No mesmo sentido vêm as palavras publicadas a 01 de Junho de 2013 pelo historiador inglês Jonathan Llewellyn num seu artigo terminando assim:
… “Em resumo, territórios portugueses foram atacados por forças de guerrilha treinadas, financiadas e armadas por países estrangeiros.
Segundo o Direito Internacional, Portugal estava a conduzir uma guerra legítima. E ter combatido em três frentes simultâneas, durante 13 anos, … é um feito que, militarmente falando, é único na História contemporânea.
Então, porque é que os portugueses parecem ter vergonha de se orgulharem do que conseguiram?"


Sou, portanto, levado a concluir que não tem havido a capacidade/lucidez política para distinguir:
- por um lado, a óbvia caracterização de falha de justeza dessa guerra (ou de qualquer outra guerra, porque não há guerras justas);
- e, por outro, a generosidade de quem cumpriu o seu dever.

Corroborando o atrás dito, um país que não é capaz de recordar e honrar a sua memória é, paradoxalmente, um país sem futuro.

Citei exemplos de historiadores nacionais e estrangeiros que enalteceram a História Lusa em contraponto a algumas teses correntes defensoras do politicamente correcto (e do wokismo*), as quais se afadigam a denegrir a epopeia histórica portuguesa. Todavia, felizmente, ainda há e sempre houve vozes que defendem a saga lusa com seus heróis e entre estes os seus valorosos elementos das FA.

Neste particular, posso destacar palavras do ex-PR, Jorge Sampaio, quando em Abril de 2004, deslocando-se ao Mosteiro da Batalha para celebrar o Dia do Combatente, proferiu um discurso, de que cito as seguintes passagens (que, de alguma forma, traduzem o real significado deste nosso Convívio). Dizia o ex-PR:
“Agradeço o convite que a Direcção da Liga dos Combatentes me dirigiu para presidir a esta cerimónia do Dia do Combatente. Faço-o com muito gosto, com a convicção de que cumpro um dever para com Portugal e os portugueses e para com a memória de todos quantos deram a sua vida ao serviço do País. Lembramos hoje todos aqueles que combateram em nome de Portugal. O que somos hoje como Nação e como País depende, em larga medida, do contributo que deram para ultrapassar os momentos mais difíceis da nossa História e garantir a perenidade da nossa identidade nacional. A República não esquece, nem pode esquecer, a dedicação e o sacrifício de todos esses portugueses, e por isso lhes presta esta sentida homenagem… E, mais à frente, conclui:
…Homenageamos assim todos os militares que, ao longo dos séculos, caíram por Portugal, ao serviço da perenidade da Pátria. É esta a forma de os lembrarmos, de os honrarmos, de reiterarmos a confiança no nosso desígnio nacional e de, ao mesmo tempo, motivarmos a juventude portuguesa para servir o País também nas fileiras das suas Forças Armadas de que todos, legitimamente, nos devemos orgulhar…. (fim de citação)

Mas, para terminar num tom menos saudosista e mais motivador, quero acreditar que embora na Europa e por esse mundo fora se estejam vivendo guerras trágicas e muitas situações de conflito, neste cantinho à beira-mar plantado, ainda vamos vivendo uma situação de Paz e, em particular, aqui na nossa santa terrinha estamos hoje convivendo e fruindo um momento de verdadeira Felicidade.

Dentro deste tom, permitam-me concluir com uns poéticos dizeres a que já vos habituei, e a que chamei: “Berço Beirão”

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Nota*: A doutrina woke (ou, à letra "estar acordado") refere-se a uma consciência política e social sobre as injustiças e desigualdades raciais e sociais, originária da comunidade afro-americana e ampliada para incluir o ativismo feminista, LGBT e outras causas identitárias. Enquanto alguns a veem como uma busca por justiça social, outros a criticam, usando o termo de forma pejorativa para descrever o que consideram fanatismo, imposição de ideias progressistas e uma suposta superioridade moral.


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BERÇO BEIRÃO

(À Meimoa, minha terra natal)

Em ti moram meus sonhos de menino,
É forte o chamamento a que me atenho,
Nem fria noite, nem o sol a pino
Abalam o amor que por ti tenho.

A ti sinto agarrado o meu destino
Ligado a um querer em que me empenho;
Um grito de alma, se converte em hino,
Ou simples Graça vinda por engenho.

Percorri teus caminhos e veredas,
Bebi teus cheiros e comi azedas,
Mergulhei no açude da Ribeira…

Sou grato à sorte, ou divina virtude
Por ter vivido a minha juventude
Nesta Princesa da Cova da Beira.


Cumprimentando o povo da Meimoa,
seus ex-combatentes,
familiares e amigos.

João Afonso Bento Soares
Meimoa, aos 4 de Outubro de 2025

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Nota do editor

Último post da série de 10 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27305: Convívios (1042): 62º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, quinta feira, 23/10/2025, Algés; há já 44 inscritos...Camarada, sê mais um "magnífico", junta-te aos "magníficos" (Manuel Resende, régulo)

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27221: De (Caras) (240): O capelão do BCAÇ 2855, José Torres Neves, que eu fui visitar a Mansoa, em 12/10/1969, e que vai celebrar missa no próximo dia 4 de outubro, na nossa terra, Meimoa, Penamacor, em convívio de antigos combatentes meimoenses (João Afonso Bento Soares, maj gen ref)




Foto nº 1A e 1 > Guiné > Região do Oio > Mansoa > 12 de outubro de 1969 >  Dois conterrâneos, o alf graduado capelão, CCS/BCAQÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) e o cap enf trnms, STM / QGCTIG (1968/70). Ambos são de Meimoa, Penamacor.




Foto nº 2 e 2A > Guiné > Região do Oio > Mansoa > 12 de outubro de 1969 >  Da esquerda para a direita,  o fur mil trms STM, o cap eng trms STM João Afonso Bento Soares, a esposa (que segura uma máquina de filmnar de 8 mm), o cap pqdt Albano Figueiredo, do BCP 12, e a esposa.


Fotos (e legendas): © João Afonso Bento Soares (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de João Afonso Bento Soaresex-cap eng trms,  STM/QG/CTIG (1968/70), hoje maj-gen ref:



Data - sábado, 13/09/2025 00:32
Assunto - Ida a Mansoa, em outubro de 1969



José Torres Neves, alf graduado capelão,
CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 7/5/1969 - 3/31971)

 Caros Amigos:

Em resposta ao v/ mail,  muito me congratulo pelo justo elogio que é feito ao ex-capelão em Mansoa, Padre José Torres Neves.(*)

Acontece que ele é meu conterrâneo,  da freguesia de Meimoa,  concelho de Penamacor,  Beira Baixa.

No próximo dia 4 de outubro de 2025, convidei-o para ir à santa terrinha celebrar a missa e estar presente no almoço-convívio que se segue de antigos combatentes meimoenses na Guerra do Ultramar  (de que ele é, aliás, parte integrante, face à sua comissão na Guiné).

Por coincidência a minha primeira comissão no Ultramar foi precisamente na Guiné, no período 1968-70. Eu era capitão e comandava o Destacamento do STM no CTIG / QG em Bissau, pelo que fui lá visitá-lo (à paisana) num fim de semana. 

Nessa altura, tive lá a minha mulher (3 meses, passados os quais ela regressou à metrópole dado o seu estado de gravidez já avançada). Nessa visita a Mansoa, levei comigo um capitão paraquedista e a mulher (ver fotos acima) (**)

Um forte e amigo abraço

Major general João Afonso Bento Soares

PS: -1 ª foto: Eu, capitão e o Zé Torres Neves, cpelão | a 2ª foto (da esquerda para a direita) - Furriel que chefiava o posto de Trms do STM (dependente do Dest STM que eu comandava); cap Bento Soares e mulher grávida;  cap paraquedista, Albano Figueiredo (já falecido) e mulher.

__________________

Notas do editor LG

(*) Vd. poste de 12 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27214: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XXVIII: Mansoa, sector O4


(**) Último  poste da série > 10 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27204: (De)Caras (239): Cabos de Manobras (ou marinheiros CM), heróis esquecidos (José António Viegas, ex-fur mil art, Pel Caç Nat 54, Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole, Bolama, Ilha das Cobras e Ilha das Galinhas, 1966/68)

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23641: Companhias e outras subunidades sem representantes na Tabanca Grande (4): CCAÇ 2637, mobilizada pelo BII 18, Ponta Delgada, Açores (Teixeira Pinto, 1969/71), e a que pertenceu o fur mil enf Fernando Almeida Serrano, natural de Penamacor e futuro novo membro da Tabanca Grande




Guião e crachá da CCAÇ 2637 (Teixeira Pinto, 1969/71). 

Coleção: Carlos Coutinho (com a devida vénia...)


1. Ontem, no 49º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, em Algés, fiquei,  na mesa,  ao lado do camarada Fernando Almeida Serrano. Foi a segnda vez que ele veio a esta tertúlia, onde não conhecia ninguém. Fui eu que o puxei para a minha mesa. E tivémos uma longa, agradável, franca e proveitosa conversa. 

Fiquei a saber que era professor primário, natural de Penamacor,  conterrâneo, amigo, colega e camarada do Libério Lopes (ex-2º srgt mil, CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65). Falámos também da sua terra, e do seu ilustre conterrâneo, o médico cristão novo António Nunes Ribeiro Sanches (Penamacor, 1699 - Paris, 1783), cujas obras  (as principais, em edição moderna da Universidade da Beira Interior, em formato pdf), lhe fiquei de mandar uma cópia em próxima oportunidade. (É um dos grandes pioneiros da saúde pública, e o nosso maior médico do séc. XVIII, especialista em "males de amores", e figura que eu muito admiro; é o único português que tem uma entrada na famosa enciclopédia de Diderot e D'Alambert, Paris, 1751-1772, justamente sobre "venerologia": "Maladie vénérienne inflamatoire chronique", ou seja, "doença venérea inflamatória crónica").

O Fernando reside desde 1972 em Carnaxide, Oeiras onde deu aulas juntamente com a esposa.  Foi furriel mil enfermeiro da "açoriana" CCAÇ 2637 (Teixeira Pinto, 1969/71), de que, como é frequente, com as unidades moblizadas pelo BII 18, Ponta Delgada (e também BII 17 e BII 19), não temos nenhum representante na Tabanca Grande... A emigraçao, nomeadamente transatlântica, levou para longe muitos dos nossos camaradas açorianos e madeirenses. 

O Fernando Almeida Serrano conhece o nosso blogue e manifestou vontade em juntar-se aos 864 membros da Tabanca Grande. Tem uma forte ligação aos seus "irmãos açorianos", se bem que muitos dos antigos militares da CCAÇ 2637, tenham seguido os caminhos da emigração.  A sua casa é a casa deles, qaundo vêm ao Continente, e a casa deles, nos Açores, é a sua casa, quando ele lá vai.   

Tem uma página na Net, que eu ainda não localizei, "Guiné-Recordações" (julgamos que se trata de uma página no Facebook, de um grupo privado, com 5 mil membros, criado há 2 anos). Tem também página pessoal no Facebook. É amigo (e cunhado) do nosso grã-tabanqueiro, ten cor art ref, José Francisco Robalo Borrego (qye foi fur art,  Grupo de Artilharia n.º 7 de Bissau, e 9.º Pel Art, Bajocunda, 1970/72). Aporesentei-o ao António Graça de Abreu, que esteve em Teixeira Pinto, no CAOP1, em 1972, ao tempo do coronel paraqueista Rafael Durão, mas não chegaram a estar juntos, o Fernando e o António, já que a CCAÇ 2673 terminou a sua comissão em agosto de 1971.

Publicamos, para já a ficha da unidade, referente a esta companhia, mobilizada pelo BII 18.


Ficha de Unidade > Companhia de Caçadores nº 2637

Identificação: CCaç 2637

Unidade Mob: BII 18 - Ponta Delgada

Crndt: Cap Inf José Cândido de Oliveira Bessa Meneses

Divisa: "As armas não deixarão enquanto a vida não os deixar"

Partida: Embarque em 220ut69; desembarque em 280ut69 | Regresso: Embarque em OçSet71


Síntese da Actividade Operacional

Em 300ut69, seguiu para Teixeira Pinto, a fim de efectuar o treino operacional sob orientação do BCaç 2845 e substituir a CCaç 2368 no reforço àquele batalhão e depois ao BCaç 2905, como subunidade de intervenção e reserva do sector, a partir de 17Dez69, tendo realizado diversas acções nas regiões de Pechilal, Bajope e Belenguerez, entre outras.

Em 07Jan70, mantendo o comando em Teixeira Pinto, passou a orientar a sua actividade para a realização dos trabalhos dos reordenamentos de Bassarel, Bajope, Chulame, Blequisse e Batucar, este último até 150ut70, e para a promoção socioeconómica das respectivas populações.

Em 28Jun71, com a instalação da CCaç 3327 em Bassarel, transferiu a sua sede, temporariamente, para o reordenamento de Chulame, permanecendo efectivos da subunidade nos reordenamentos de Bajope e Blequisse.

Em 20Ago71, foi substituída nos reordenamentos por efectivos da CCaç 3327 e recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações > Tem História da Unidade (Caixa n.º 86 - 2.ª Div/4ª Sec, do AHM)

Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 384.

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Nota do editor:

sábado, 12 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23073: Os nossos capelães (17): José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71), ainda no ativo como padre das Missões da Consolata


José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71)



José Torres Neves, missionário da Consolata,
 um dos 113 capelães  prestaram serviço no TO da Guine





Fonte: Excerto, adapt de Henrique Pinto Rema - "História das Missões Católicas da Guiné": Editorial Franciscana, Braga, 1982, pp. 709-712 (Vd. a extensa recensão bibliográfica feita pelo nosso camarada e colaborador permanente Mário Beja Santos) (*)



1. Mensagem de nosso camarada e amigo Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, Fev 1970/Dez 1971, hoje médico, a residir em Tomar.

Data - 12 mar 2022 16:39 
Assunto - Capelães

Caros amigos

Sobre o tema os nossos capelães (**), e, aproveitando a sugestão do Luís Graça, venho dar um pequeno contributo com algumas notas. E elas referem-se ao capelão José Neves com quem desenvolvi amizade, que ainda hoje se mantem.

Os nossos contactos têm-se mantido com a regularidade possível, uma vez que faz parte das Missões da Consolata, estando em missão em várias partes do mundo, encontrando-nos sempre que vem de férias (não amiúde). Daí, que só agora espicho estas breves notas, após obtida a sua anuência.

José Torres Neves, ex-alf graduado capelão,  integrou o BCAÇ 2885,  sediado em Mansoa. Prestou serviço de 1969.05.07 a 1971.03.03.

De acordo com a sua informação,  foi o único capelão das Missões da Consolata a prestar serviço na Guiné.

Votos de ótima saúde.
Um abraço,
Ernestino Caniço


Brasão do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71). 
Divisa: "Nós Somos Capazes". 
Subunidades de quadrícula: CCAÇ 2587, 
CCAÇ 2588  e CCAÇ 2589




Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (1969/71) > 1969 >  O alf graduado capelão José Torres Neves com o cap eng trms, STM, Bento Soares, aqui à civil (sendo hoje maj gen ref, nosso grã-tabanqueiro nº 785). Ambos naturais de Meimoa, Penamacor. 

Foto (e legenda): © João Afonso Bento Soares (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20971: 16 anos a blogar (11): Poema de João Afonso Bento Soares, maj gen ref, sobre a sua terra natal: "Meimoa, Princesa da Cova da Beira"


Penamacor > Meimoa > c. 2001 > Ponte Romana sobre o rio Meimoa, afluente do rio Zêzere


Foto (e legenda): © JA Bento Soares  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 


MEIMOA, Princesa da Cova da Beira

Pergunto o que sou e o que fiz

Questiono, da vida, o seu sentido 
Interrogo o que penso e o que quis 
Indago porque aqui terei nascido.

Percebi que há nascer, há primaveras,
Houve mesmo as maleitas estivais;
Colhi outonais frutos, quais quimeras,
Perdido em sonhos que não sonho mais.

Mas ficou, da Meimoa, o chamamento,
Bendigo suas gentes e seu chão
Verdejando ou terreando em seu lamento... 

Deixando-lhe estes versos numa reza
Ergo uma prece, um voto, uma oração
A quem, da Cova da Beira, é Princesa!

Dia da Senhora da Póvoa – 4 de Junho de 2001 –
João Afonso


[João Afonso Bento Soares, ex-capitão eng trms, STM / QG / CTIG (1968/70), hoje maj gen ref, nosso grã-tabanqueiro nº 785; vive em Oeiras, tem sete referências no blogue]


2. Trocando mensagens pascais, já em plena pandemia de COVID-19,  recebi do João Afonso  a seguinte mensagem:

 sábado, 11/04, 17:58



Bem haja, e que tudo vá correndo bem aí para baixo. Eu vivo nos arredores de Lisboa, mas nasci na Beira Baixa, numa aldeia chamada Meimoa (concelho de Penamacor) e a ela (que um irmão meu mais velho baptizou de "Princesa da Cova da Beira") fiz os dizeres em anexo, na qualidade de mui fraco bardo (...)
 
Mais um Abraço

JA Bento Soares
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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de maio de  2020 > Guiné 61/74 - P20928: 16 anos a blogar (10): Independências - Parte II (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18110: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (1): Silvério Dias (ex-1º srgt art, locutor do 'Pifas'. Bissau, QG/CTIG, 1969/74): autor do blogue "Poeta Todos Dias"




1. Mensagem de boas festas do nosso grã-tabanqueiro  Silvério Dias 


[ ex-2º srgt art, CART 1802, Nova Sintra, 1967/69; 
1º srgt art, locutor do PFA, 'Pifas', Bissau QG/CTIG, 1969/74; civil, delegado de propaganda médica, 1974/76, em Bissau; 
hoje, 1º srgt art ref; 
beirão, casado com a "senhora tenente", também do 'Pifas']


No meu tempo... era o presépio!
Com ele vos desejo "Feliz Natal"


Abraço do Silvério


2. Do camarada Silvério Dias, autor do blogue Poeta Todos os Dias, se transcreve, com a devida vénia, os versos de 9 do corrente:

O MADEIRO DE NATAL

Nos meus tempos de menino,
O madeiro que aquecia Jesus,
Tinha um preceito d' ensino
E a ele se fazia continuado jus.

Cortado à força de braços
Por quem iria às "sortes",
Não provocava embaraços,
Os rapazes eram fortes!

Hoje, além, em Penamacor,
O volume é de tal porte
Que só à força de tractor
Se consegue o transporte!

Ao rever tal situação,
Que ainda se mantém,
Estou a recordar a tradição
Para todo o nosso bem!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8852 Recortes de imprensa (50): Medalha de mérito militar chega 43 anos depois... A história do 2º Srgt Mil Libério Candeias Lopes, de Penamacor (CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65)

 1. A prova de que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande, é ir encontrar um camarada de Penamacor, um raiano, no Jumbo de Alfragide, a fazer compras...

Estávamos os dois, lado a lado, na secção do leitinho meio gordo... Foi ele quem me reconheceu... Ou melhor, pusemo-nos a olhar um para o outro, feitos parvos... Demos um abraço e desatámos logo a falar do Xime, de Bambadinca, do blogue, de Penamacor, dos seus médicos, o Martins, o Ribeiro Sanches, e por aí fora... 

Quem haveria de ser ? Não o conhecia pessoalmente, só do blogue... Pois tratava-se do  Libério Lopes, Libério Candeias Lopes, professor do ensino básico reformado, 2º Srgt Mil,
CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65)...  

Faz parte da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2009.  Com 71 anos, está em grande forma... mas não escreve mais coisas, no nosso blogue,  porque não se considera um às em informática...  Numa pesquisa na Net, encontrámos mais alguns elementos informativos sobre este camarada, que tem uma rica história de vida... e a quem eu desejo muita saúde, longa vida, e boa escrita!

O Prof Libério Lopes fez parte, recentemente,  da comissão de homenagem aos Combatentes da Guerra do Ultramar do Concelho de Penamacor (, iniciativa sobre a qual ele, de resto, me prometeu escrever, à despedida). Também conhece pessoalmente o nosso camarada C. Martins.


Guiné > Zona leste > Sub-sector do Bambadinca  >  CCAÇ 526 (1963/65) > Aquartelamento do Xime, onde estava destacado o pelotão do Libério Lopes
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Guiné > Zona leste > Sub-sector do Bambadinca  >  CCAÇ 526 (1963/65) > Aquartelamento do Xime, onde estava destacado o pelotão do Libério Lopes >  "À esquerda a nossa vivenda; á  direira o comércio do libanês Amin" (LCL)



Guiné > Zona leste > Sub-sector do Bambadinca  >  CCAÇ 526 (1963/65) > Aquartelamento do Xime, onde estava destacado o pelotão do Libério Lopes >  Da esquerda para a direita,  Fur Mil Virgílio e Tibério (falecido), Alf Mil Correia Pinto (falecido) e Fur Mil Libério.




  Guiné > Zona leste > Sub-sector do Bambadinca  >  CCAÇ 526 (1963/65) > Saltinho > O Fur Mil Libério Lopes na ponte do Saltinho

Fotos (e legendas): © Libério Candeias Lopes (2009). Todos os direitos reservados.

2. Resumo da actividade operacional da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65):

Recorde-se aqui os passos essenciais da vida do Libério Lopes, no TO da  Guiné, entre 19634 e 1965:

(i) Mobilizada pelo RI 7, a CCAÇ 526 embarcou, a 2 de Maio de 1963, a bordo do paquete «India», juntamente com o Comando dos BCAÇ n.º 506, 507, 599, e 600;

(ii) Comandante da subunidade: Cap Inf Luís Francisco Soares de Albergaria Carreiro da Câmara;
 
(iii) Até 30 de Junho de 1963, a Companhia ficou aquartelada em Brá; ainda neste período, de a 28/6/63, partiu um pelotão para Catió, tendo tomado parte em operações que aí se realizavam;

(iv) A 1/7/63, partiu a Companhia para a Zona Leste ficando a depender do Batalhão de Bafatá;.

(v) Foi-lhe atribuído um sub-sector com a área aproximada de 1.500km2  constituída pelos Regulados de Badora, Xime, Cossé, Cabomba e Corubal (parte Norte);

(vi) O Comando da Companhia ficou instalado em Bambadinca, tendo sido destacado um pelotão para Xime, nesse mesmo dia 1 de Julho;

(vii) A 15/7/63, outro pelotão da Companhia seguiu para o Xitole,  em reforço das tropas ali aquarteladas, donde regressou a 5/8/63;

(viii) Em 26/8/63, assumiu o Comando da Companhia o Capitão Hleder José Franbçois Sarmento;

(ix) No sub-sector, tomou parte nas seguintes operações de conjunto:

«8JUL63 e 12JUL63 na margem direita do Rio CORUBAL»;
«INGLÊS - JAN64»; 
«MARTE - FEV64»;
«BALA - MAR64»;
«VAI À TOCA - NOV64»; 
«BRINCO - DEZ6»;
e «FAROL - JAN65».

(x) Fora do sub-sector, actuou nas seguintes operações:

«OPERAÇÃO VERDE - NOV63»; 
«ESTRADA DO XITOLE - AGOSTO -OUTUBRO - NOV63»;
«MATO MADEIRA-CHICRI - JAN64»; 
«PATON - AGO64».

(xi) No sector à sua responsabilidade, o IN que já actuara a Oeste e Sul de Xime até ao Rio Corubal, levando para os matos uma parte da população e fazendo fugir a restante, tentou expandir a sua acção para Leste para o que atacou tabancas e quartéis, roubou culturas, emboscou as NT e procurou tornar intransitáveis as estradas;

(xii) A Companhia, por uma permanente actividade operacional à base de pequenas acções de combate, emboscadas, constantes patrulhamentos de estradas e caminhos e protecção às populações, permanecendo nas tabancas e locais de trabalho, conseguiu manter em completa normalidade a zona a Leste de Xime e levar a guerrilha a acantonar-se no mato;

(xiii) Durante os 21 meses de permanência no sub-sector, a Companhia teve 108 acções de fogo em contactos com o IN;

(xiv) Em resultado dessas acções, o IN sofreu 48 baixas confirmadas pelas NT, havendo contudo um número muitíssimo superior de mortos e feridos referido por prisioneiros;

(xv) Foram apreendidas 5 espingardas, 5 pistolas-metralhadoras, 1 pistola, grande número de granadas de mão de diversos modelos e vários milhares de cartuchos;

(xvi) Na tentativa de cortar os itinerários, o IN utilizou 15 engenhos A/C e 3 minas A/P. Um fornilho A/C destruiu um jipe  e os restantes 14 engenhos A/C foram detectados e levantados; as 3 minas A/P funcionaram, causando dois feridos: um às NT e outro à população;

(xvii) A Companhia só teve duas baixas por acidente e nove feridos em combate, um dos quais evacuado para a Metrópole. (Para saber mais, clicar aqui).


3. Reproduzido, com a devida vénia, do Jornal do Fundão, edição 'on line' de 29 de Abril de 2009 (Recorde-se que o prestigiado jornal  beirão, onde trabalha a nossa mui querida Ana Mendonça, foi fundado pelo António Palouro em 1946) (**)


Raia (JF Diário)

Medalha de Mérito chegou 43 anos depois  >  Libério Candeias Lopes [, foto a seguir, do nosso blogue,] teve uma surpresa há dias quando o informaram da atribuição de uma medalha de mérito
 
Após regressar da Guiné onde cumpriu serviço militar como sargento miliciano, Libério Candeias Lopes, [ , foto a seguir, crédito fotográfico do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné,] , volta à actividade na vida civil, professor do ensino primário. 

Decorria o ano 1965, tinha então vinte cinco anos. Desempenhou a profissão em diversas escolas do distrito de Castelo Branco, tendo sido posteriormente destacado na Educação de Adultos e Ensino Recorrente, exercendo nas freguesias de Salvador, Aranhas, Penamacor e Benquerença, entre outras do concelho. Foi delegado sindical, criou e dirigiu o Posto da Telescola de Aranhas, proporcionando, então, o acesso ao 2.º ano, aos jovens de Salvador e Aranhas.

As actividades sociopolíticas são no entanto os motivos justificativos do nosso trabalho. É que o professor Libério foi, à data, muito provavelmente, o presidente da Junta de Freguesia mais jovem do país. Tinha vinte e sete anos quando o presidente da Câmara, dr. António Moutinho,  lhe endereçou o convite. Recusado inicialmente, a persistência foi tanta que não lhe restou alternativa. Acabou por encabeçar a única lista concorrente e foi eleito presidente da Junta de Aranhas, sendo sucessivamente reeleito até 1975.

Cargo de difícil manutenção, pois as autarquias não dispunham de qualquer tipo de financiamento, como actualmente dispõem. As receitas provinham de alguns atestados, venda de sepulturas, e do que fosse conseguido junto do presidente da Câmara Municipal. A persistência do jovem presidente era de tal ordem que o presidente da Câmara ao vê-lo comentava: “lá vem o jovem pedinchão”.

Conseguidas algumas centenas de escudos, Libério Lopes pedia ao pároco da freguesia para anunciar uma reunião com o público na sede da Junta. O povo comparecia. Era informado das receitas conseguidas e indicava-lhes dois ou mais caminhos a precisar de arranjo. A população decidia qual o mais necessitado. Como o dinheiro era pouco, o professor “tocava” o coração do povo de modo a que cada família com propriedades servidas pela via a reparar, contribuísse com um dia de trabalho efectivo ou o seu valor monetário. E o caminho era reparado.

 Por este e outros motivos, aquando do 25 de Abril, as Forças Armadas na sua passagem por Penamacor sugeriram a substituição de todos os órgãos autárquicos eleitos antes da revolução, o que aconteceu em diversas localidades. Em Aranhas a população apareceu em massa defendendo a continuidade do professor Libério à frente da Junta de Freguesia. Só mais tarde, a lei o destituiria. Mas no decurso da sua vida mais activa, conquistou um palmarés invejável, no desempenho de várias actividades, tendo dificuldade em definir do que mais gostou de fazer ou que teve pena de não ter feito.
 
“O maior prazer foi a criação da Liga dos Amigos de Aranhas e mais tarde o Centro de Dia. Isto ajudou a resolver inúmeros problemas a nível cultural, recreativo, desportivo e social dos habitantes de Aranhas”, refere.

A construção da ponte sobre a ribeira da Baságueda, no sítio do Freixal, foi uma excelente conquista. O dr. Moutinho opunha-se, mas o jovem através de amizades e conhecimentos levou a sua àvante. Outra coroa de glória prende-se com a reactivação do Rancho Folclórico de Aranhas,  em 1971, tendo para além das deslocações, uma semana no Casino Estoril e outra no Hotel Balaia, no Algarve, conseguindo que o mesmo fosse admitido na Federação Portuguesa de Folclore em 1983. 

Inúmeros episódios dignos de nota fazem parte do seu historial, porém destacaremos os mais significativos. Numas eleições para o qual foi nomeado presidente da mesa de votos, – “após encerrar a mesa peço para contarmos os votos. Os meus colegas de mesa (todos com mais de 60 anos) dizem-me que era hábito descarregar alguns nomes. Eu opus-me. Um deles, polícia reformado, disse-me: o sr. professor é que manda, mas olhe que vai ter chatices. Não liguei. Contámos os votos, 126, e mandei os resultados para a Câmara Municipal. Mal adivinhava a noite que iria passar. Por volta da meia-noite o dr. Moutinho foi a minha casa pedir explicações porque não tinha descarregado os votos. Queria saber se o povo de Aranhas estava descontente e porquê. Passámos a noite a elaborar um relatório, a explicar o porquê de só aparecer aquele número de votantes. No dia seguinte o jornal 'O Século' noticiou que Aranhas teve a percentagem de votantes mais baixa do país. Na verdade no concelho de Penamacor e talvez do país, Aranhas foi o que apresentou a votação real”.

Na última manifestação “espontânea” dos portugueses a Marcelo Caetano, foram colocados autocarros gratuitos para a população se deslocar a Lisboa. Cabia aos presidentes de junta mobilizar o povo. O de Aranhas não fez caso do assunto. Da terra ninguém foi a Lisboa. Entretanto a Junta candidatou-se à atribuição de um televisor para a Delegação da Casa do Povo em Aranhas. Todas as localidades foram contempladas. Menos Aranhas. Quando inquiriu o presidente da Casa do Povo de Penamacor do porquê da sua exclusão, foi-lhe respondido que a delegação de Aranhas não a merecia, pois não mandaram ninguém a Lisboa.

Invulgar e digno de nota, foi a surpresa que Libério Lopes teve há alguns dias. Um amigo, militar no activo, em conversa sobre a guerra colonial informou-o que tinha lido por acaso, a atribuição da Medalha de Mérito Militar de 4.ª classe, com base num louvor, por ter participado em acções de combate, ao furriel miliciano Libério Candeias Lopes. Ora a data da condecoração é de 28 de Fevereiro de 1966. O condecorado soube disso, casualmente 43 anos depois.
Jolon

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Notas do editor:


(**) Do seu sítio institucional, na Net:

(...) "O Jornal do Fundão, fundado em 1946 por António Paulouro, é hoje um marco referencial no panorama da imprensa regional portuguesa. Com uma tiragem semanal de 14.000 exemplares e um universo de audiência que atinge os 53.000 leitores, foi distinguido com a Ordem do Infante D. Henrique e tem no seu historial outros galardões como o Prémio Gazeta, homenagens das Universidades de Salamanca e da Comunidade Portuguesa em França.

"O Jornal do Fundão faz parte da matriz de identificação da Beira Interior e é reconhecidamente um elemento da sua coesão social bem como do desenvolvimento económico e cultural da região.
 

"O Jornal do Fundão tendo vindo a reforçar a sua influência no eixo geográfico que vai desde a região da Guarda, Covilhã, Fundão e Castelo Branco. É líder destacado de audiência da Imprensa Regional no distrito de Castelo Branco e tem ainda expressiva audiência nacional." (...)