Um exemplar do aerograma amarelo, gratuito para os militares. O aerograma azul era vendido a familiares e madrinhas de guerra, ao preço unitário de 20 centavos (até 1971), e depois 30 centavos (a partir de 1971) (a preços de hoje, e na moeda em vigor, seriam 9 e 8 cêntimos, respetivamente).
"Este Aerograma foi-me devolvido tal como está, traçado de balas ou estilhaços na emboscada de 26/10/1971, efectuada à coluna Piche-Nova Lamego, em que faleceram o Alf Mil Soares, o 1º. Cabo Cruz, o Sold Cond Ferreira e o Sold Manuel Pereira, todos da CART 3332. Guardo-o religiosamente comigo..." (Carlos Carvalho).
Documento que nos foi enviado pelo nosso grã-tabanqueiro Carlos [Alberto Rodrigues] Carvalho, ex-fur mil da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche e Ponte Caium, 1970/72, irmão da nossa amiga Júlia Neto e, portanto, cunhado do nosso saudoso capitão Zé Neto. Muito provavelmente o aerograma ia no saco do correio... Pelo que se depreende, o destinatário do aerograma era um seu familiar, possivelmente a sua mãe (Rosa Maria Silva Simão Melo Rodrigues de Carvalho), que vivia em Lamego. Não temos tido notícias deste camarada. Página no facebook: Carlos Alberto Carvalho. (*)
1. Mensagem, com data de sexta, 25/03/2022, 21h51, de Sílvia Espírito-Santo, investigadora, que tem estudado o Movimento Nacional Feminino, autora de “Cecília Supico Pinto: o rosto do movimento nacional feminino” (Lisboa: A Esfera do Livro, 2008, 222 pp.):
Caro Luís Graça,
Não me esqueci que tinha ficado de enviar um texto sobre os aerogramas. Aqui vai agora. Não sei se terá interesse para o vosso blog, o Luís dirá! São apenas algumas linhas de um artigo mais vasto sobre o MNF que, espero, talvez venha a ser publicado lá para o fim do ano!
Agradeço a informação sobre a cançonetista Isabel Amora (que não conhecia) nos espectáculos para militares. Até agora, nas minhas pesquisas sobre o MNF ainda não vi qualquer referência a este nome, mas vou estar atenta.
Um cordial abraço
Sílvia
2. Movimento Nacional Feminino (MNF): Área de apoio material: secção de aerogramas
A secção dos aerogramas foi a primeira iniciativa do MNF e foi das que alcançou maior notoriedade dado que os «bate-estradas», assim designados na gíria militar, constituíram sempre o principal elo de ligação entre militares e famílias (1).
Documento que nos foi enviado pelo nosso grã-tabanqueiro Carlos [Alberto Rodrigues] Carvalho, ex-fur mil da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche e Ponte Caium, 1970/72, irmão da nossa amiga Júlia Neto e, portanto, cunhado do nosso saudoso capitão Zé Neto. Muito provavelmente o aerograma ia no saco do correio... Pelo que se depreende, o destinatário do aerograma era um seu familiar, possivelmente a sua mãe (Rosa Maria Silva Simão Melo Rodrigues de Carvalho), que vivia em Lamego. Não temos tido notícias deste camarada. Página no facebook: Carlos Alberto Carvalho. (*)
1. Mensagem, com data de sexta, 25/03/2022, 21h51, de Sílvia Espírito-Santo, investigadora, que tem estudado o Movimento Nacional Feminino, autora de “Cecília Supico Pinto: o rosto do movimento nacional feminino” (Lisboa: A Esfera do Livro, 2008, 222 pp.):
Caro Luís Graça,
Espero que esteja tudo bem consigo. Peço desculpa pelo meu longo silêncio.
Não me esqueci que tinha ficado de enviar um texto sobre os aerogramas. Aqui vai agora. Não sei se terá interesse para o vosso blog, o Luís dirá! São apenas algumas linhas de um artigo mais vasto sobre o MNF que, espero, talvez venha a ser publicado lá para o fim do ano!
Agradeço a informação sobre a cançonetista Isabel Amora (que não conhecia) nos espectáculos para militares. Até agora, nas minhas pesquisas sobre o MNF ainda não vi qualquer referência a este nome, mas vou estar atenta.
Um cordial abraço
Sílvia
2. Movimento Nacional Feminino (MNF): Área de apoio material: secção de aerogramas
por Sílvia Espírito-Santos (excerto de artigo em preparação, cortesia da autora) (**)
A secção dos aerogramas foi a primeira iniciativa do MNF e foi das que alcançou maior notoriedade dado que os «bate-estradas», assim designados na gíria militar, constituíram sempre o principal elo de ligação entre militares e famílias (1).
Uma secção cuja dimensão e complexidade, levaram, a partir dos últimos anos da década de 60, à colaboração do Major Pinto Enes, um militar cuja trabalho e «dedicação» seriam reconhecidos pelo MNF como de grande importância para «um controlo perfeito deste serviço e uma administração equilibrada»(2).
Com pouco mais de um mês de existência, o MNF já tinha percebido a importância que um serviço postal gratuito podia ter para os militares, pelo que solicita ao governo a isenção de franquia postal para a correspondência entre estes e seus familiares; a resposta seria dada pela Portaria nº18 545 de 23 de Junho de 1961 – e revista pela de 513/71 – que atribuía à comissão central do MNF a exclusividade na edição de impressos próprios para esse fim.
Surgem por esta via dois tipos de aerogramas:
Com pouco mais de um mês de existência, o MNF já tinha percebido a importância que um serviço postal gratuito podia ter para os militares, pelo que solicita ao governo a isenção de franquia postal para a correspondência entre estes e seus familiares; a resposta seria dada pela Portaria nº18 545 de 23 de Junho de 1961 – e revista pela de 513/71 – que atribuía à comissão central do MNF a exclusividade na edição de impressos próprios para esse fim.
Surgem por esta via dois tipos de aerogramas:
(i) os amarelos, gratuitos para militares;
(ii) e os azuis vendidos a familiares e madrinhas de guerra pelo preço unitário de $20 (vinte centavos).
Determinava ainda a Portaria que a entrega destes devia ser feita em mão nos CTT a fim de garantir a sua utilização apenas pelos autorizados.
Até 1971, o MNF editou 200 milhões de aerogramas (até 1974 o número ascenderia aos 376 milhões), sendo distribuídos, nesse ano, 26 058 010 amarelos e vendidos apenas 15 900 145 azuis – apesar da Portaria 513/71 ter feito cessar as restrições estabelecidas à aquisição apenas por familiares e madrinhas de guerra –, num total de 41 958 155; números que decrescem em relação ao ano anterior, registando-se uma quebra de 1 700 000 na venda dos azuis, embora a distribuição dos amarelos tivesse aumentado para 5 800 00 (3),
[7] MNF, Memorial 1973, Arquivo de Ministério da Defesa Nacional, Forte de São Julião da Barra, ofício 1275, processo 2.15.1, 2, caixa 2495.2.
Até 1971, o MNF editou 200 milhões de aerogramas (até 1974 o número ascenderia aos 376 milhões), sendo distribuídos, nesse ano, 26 058 010 amarelos e vendidos apenas 15 900 145 azuis – apesar da Portaria 513/71 ter feito cessar as restrições estabelecidas à aquisição apenas por familiares e madrinhas de guerra –, num total de 41 958 155; números que decrescem em relação ao ano anterior, registando-se uma quebra de 1 700 000 na venda dos azuis, embora a distribuição dos amarelos tivesse aumentado para 5 800 00 (3),
A circunstância é justificada com o uso dos amarelos «na correspondência da Metrópole para o Ultramar […] enviados pelos militares às suas famílias […] ou usados pelos próprios militares quando regressam […] chegando mesmo a vendê-los» visto terem sido aumentadas as «dotações de todas as Províncias para os quantitativos usados para Angola (12 aerogramas/homem/mês) (4); mas também, como atestam as reclamações chegadas ao MNF e os protestos publicados na imprensa nacional e regional, pelo descontentamento da população com a obrigatoriedade da sua entrega em mão nos postos dos CTT e não em marcos ou caixas de correio como era pretendido (5).
Embora a despesa de emissão dos aerogramas gratuitos fosse coberta pelo aumento do preço dos azuis para $30, para tentar sanar os protestos que chegavam à organização e aos jornais, a presidente do MNF solicita ao ministro da Defesa Nacional, general Horácio Sá Viana Rebelo (1910-1995), e ao ministro das Comunicações, Engenheiro Rui Sanches (1919-2009) a alteração desta disposição (6). Solicitação que foi recusada já que, segundo o ministro Horácio Sá Viana Rebelo, continuava a prevalecer a necessidade de «fiscalização sobre essas correspondências, quer quanto à qualidade dos seus destinatários, quer quanto à inclusão nos aerogramas (única forma de correspondência adoptada) de papéis ou objectos, o que, na prática, não raras vezes se verifica[va]» (7).
Por outras palavras, se por um lado a disposição ministerial tentava evitar que os aerogramas fossem utilizados por quem não tinha direito a eles ou transportassem, o que não era raro, notas, medalhas e fios de ouro ou prata, por outro, e mais plausível dado o clima de crescente contestação à guerra, o seu aproveitamento como meio de transporte de «propaganda subversiva» para o Ultramar.
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Notas da autora:
[1] Sobre aerogramas: Eduardo Barreiros e Luís Barreiros, História do serviço postal (Lisboa: Edição dos autores, 2004).
[2] MNF, Memorial 1971, Arquivo de Ministério da Defesa Nacional, Forte de São Julião da Barra, caixa 2726.2.
[3] Relatório da Comissão Executiva do MNF período de 30-1 a 31-12 de 1971, Arquivo Cecília Supico Pinto…
[1] Sobre aerogramas: Eduardo Barreiros e Luís Barreiros, História do serviço postal (Lisboa: Edição dos autores, 2004).
[2] MNF, Memorial 1971, Arquivo de Ministério da Defesa Nacional, Forte de São Julião da Barra, caixa 2726.2.
[3] Relatório da Comissão Executiva do MNF período de 30-1 a 31-12 de 1971, Arquivo Cecília Supico Pinto…
[4] MNF, Memorial 1971, Arquivo de Ministério da Defesa Nacional, Forte de S. Julião da Barra, caixa 2495.2.
[5] MNF, Parecer 1973, Arquivo de Ministério da Defesa Nacional, Forte de São Julião da Barra, caixa 2459.3.
[6] MNF, Memorial 1971, Arquivo de Ministério da Defesa Nacional, Forte de São Julião da Barra, caixa 2495.2.
[5] MNF, Parecer 1973, Arquivo de Ministério da Defesa Nacional, Forte de São Julião da Barra, caixa 2459.3.
[6] MNF, Memorial 1971, Arquivo de Ministério da Defesa Nacional, Forte de São Julião da Barra, caixa 2495.2.
[7] MNF, Memorial 1973, Arquivo de Ministério da Defesa Nacional, Forte de São Julião da Barra, ofício 1275, processo 2.15.1, 2, caixa 2495.2.
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Notas do editor:
(**) Último poste da série > 25 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23112: Bibliografia (49): Marcelino da Mata, o operacional valoroso, entre o mito e as investigações às três pancadas no livro "O Fenómeno Marcelino da Mata - O Herói, O Vilão e A História", de Nuno Gonçalves Poças; Casa das Letras, 2022 (Mário Beja Santos)