Pesquisar neste blogue

Mostrar mensagens com a etiqueta Raul Castanha. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Raul Castanha. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26535: As nossas geografias emocionais (48): Bissau, Cupelon / Pilão: histórias pícaras - Parte II (Raul Castanha, ex-alf mil cav, CPM 3335, 1971/73; Albano Costa, Ernesto Duarte e outros)


1.  O Pilão, em Bissau, nos anos 60/70, tal como o Bairro Alto e o oCais do Sodré, em Lisboa, até aos anos 5'0/60, presta-se a comentários e histórias pícaras. 

Mas quem provavelmente conheceu melhor o Pilão (ou Cupelon, ou Cupelum, hoje) foram os nossos camaradas da Polícia Militar. Como é o  caso do Raul Castanha, ex-alf mil cav,  CPM 3335(Bissau, jan 1971/jan 1973), nosso grão-tabanqueiro n´813 (*). 

Já o desafiámos, pode ser que ele abra o livro. Dele e doutros camaradas fica uma seleção de comentários à postagem do Facebook da Tabanca Grande, 23/2/2025, 18:22)

(...) Dizer que o Pilão era um gigantesco bordel é um insulto para os seus habitantes da época... E para as NT. E que se cortavam cabeças de "tugas", era outra enormidade... Que havia alguma animação noturna por aqueles lados, havia, e às vezes alguns distúrbios: não vale a pena negar, escamotear, branquear a realidade de uma prostituição, tolerada, a começar pelas autoridades militares e civis...e pelo próprio PAIGC (viviam lá simpatizantes e militantes, dizia-se)...

Nunca houve cabeças cortadas no Pilão, e a própia prostituição fazia parte da economia de guerra...Como em todos os teatros de guerra... Infelizmemnte não há estudos sobre esta realidade dita marginal... e eu até agora ainda estou â espera de descobrir a letra (já não digo a música) do Fado do Pilão, à semelhança do Fado do Bairro Alto. (...) (Postagem do Facebook da Tabanca Grande, 23/2/2025, 18:22)


 
(i) Raul Castanha

Muito bem. Não tenho nenhuma dúvida do que era o Pilão nos anos de 71 a 73. Um enorme e desorganizado bairro onde viviam centenas de pessoas sem qualquer tipo de condições.

A grande curiosidade era a a diversidade das suas gentes, Ao lado da morança de um religioso, podia existir uma venda de todo o tipo de bujigangas. As moranças onde em especial cabo-verdianas se dedicavam á prostituição também tinham as suas áreas particulares.

Eram,  de facto, para além de uma necessidade para a tropa uma fonte de rendimento e também uma central de informações muito valiosas para o PAIGC e acredito que em alguns casos também para as NT.

Aliás, algumas rusgas efectuadas no local provaram que elementos desse movimento circulavam livremente por lá recolhendo informações e visitando familiares.

O célebre bar do Djacir, que era cozinheiro na messe da PM na Amura, era das mais influentes fontes de informação local.

(ii) Albano Costa

Eu fui ao Pilão quando cheguei à Guiné "todo branquinho e tenro piriquito" com um "velhinho" da nossa tropa. Depois fui para o mato e só voltei a Bissau já no fim.

Ainda em Guidage um amigo africano natural do Pilão me disse: "Costa se fores ao Pilão e tiveres problemas, diz que estiveste em Guidage e és meu amigo".

E veio a dar jeito eu dizer que era amigo do Papo Seco.

 
(iii) Ernesto Pacheco Duarte Duarte

Eu gosto assim ! O pilão era um pedacito diferente de aquele Bissau !
Com muita gente boa ! Talvez também gente má !

As cervejas eram grandes ! Encontrei lá pessoas que não encontrei noutros lugares !
Para mim o pior era o tamanho das cervejas e a água de Lisboa !

Se calhar muita gente que lá não foi, fala ! Há muita gente que nunca foi ao mato e fala !


(iv) Fernando Pinto

22 meses em BISSAU , Pilão sempre controlado por chulos cabo-verdiano e tropas especiais!
 
(v) Jorge Pedro

Passei no Pilão várias vezes. A primeira vez no dia que cheguei à Guiné e possivelmente por ser um puro periquito, fui lá na “maior”. A verdade é que não conhecia a realidade do bairro. 

Depois em maio do ano seguinte em 1973, voltei lá e como todos os que lá iam, íamos à procura de “alguma coisa”. Nunca encontrei o que procurava porque também não me esforcei e precisava dos “pesos” para matar a barriga de misérias. A “coisa” que todos procuravam ficava para segundo plano. 

Depois em agosto de 1974, voltei lá e aí, já com outra consciência e conhecimento da cultura guineense, apercebi-me e verifiquei “in loco” as verdadeiras condições daquele povo que ali habitava

Guardo uma enorme simpatia e alguma gratidão, pois entrei vivo, sai vivo e não vi sinais de sevícias corporais levada a efeito pelo genuíno e simples habitantes do Pilão.

 É um lugar iconico do nosso imaginário. Quem esteve na Guiné sabe que haviam dois lugares que tínhamos de conhecer: o Pilão e o café Bento. Fiquem bem com as nossas memórias.


(vi) António Soares

Andei muitas vezes à noite e sozinho no Pilão, nessa altura não tinha medo, hoje tenho receio de certo bairros seja dia ou noites, Zambujal e afins

(vii) Tabanca Grande Luís Graça


Obrigado, Raul, sabes do que falas,  foste oficial da PM, emn Bissau, em 1971/73... Mas gostava de ler mais depoimentos.

(viii) Henrique Teles Claudino

Estava em Bissau, p'raí em 1970, numa gelataria na avenida, quando começaram a explodir granadas no pilão. E viam-se as chamas das moranças incendiadas . Foi um incidente com os fuzileiros e os naturais.

(ix) Juvenal Sacadura Amado

O Pilão conheci superficialmente quando participei num piquete. As coisas estavam assanhas e vi pouco e não via jeito de sair dali para fora... Novembro de 72?

(x) Nicolau Esteves

Também fui lá umas duas vezes não tenho certeza se 65 ou 66.

Não posso reclamar fui muito bem atendido. A moça era muito legal e a situação estava apertada por isso foi muito bom.

Boa noite.Saudações Paulistas


(xi)  Tabanca Grande Luís Graça


Camaradas: vamos lá por tirar dúvidas.... Cupilon, Cupilom, Cupelon, Cupelum ou Pilão ?

No meu tempo (1969/71), a malta dizia Pilão... Na planta da cidade de Bissau, capital da Guiné-Bissau, de 1981 (portanto, já pós-independência) , vem Cupelon (de Cima e de Baixo),na parte setentrional, ladeada à direita pela nossa conhecida Estrada de Santa Luzia... 

Cupelon era, então, o terno correto, em crioulo... Cupilão é um aportuguesamento... Pilão é uma corruptela... Mas era o termo mais frequente usado pelas NT... Mais recentemente vo o topónimo Cupulum ... Há o Cupelum Futebol Clube que disputa a 1ª divisão (e que foi fundado em 2002, é o clube do bairro)...

Em suma, só os "tugas" usavam o termo "Pilão" (não confundir com o aluno do Instituto dos Pupilos do Exército)... De qualquer modo, os nossos lexicógrafos estão-se cag*ndo (é o termo) para o "linguajar" dos antigos combatentes...

(xii) António Soares

Hoje ė mais perigoso andar de noite em Lisboa do que as noites no Pilão com as bajudas e tudo apenas a claridade da noite... Gente boa , sincera e podíamos voltar as costas sem medo , hoje nem armado de G3 eu me aventuro com esta gentalha, feia, porca e falsa,

 
(xiii) Abilio Duarte

Eu e uns camaradas da minha  CART 11, fomos uma vez ao Pilão, desafiados por um velho combatente, que conhecia lá um bailarico. Quando entrámos lá , ainda era dia. Pois, quando foi para sair, já bastante tarde, e o destino era a estrada que ia para o Aeroporto, foi um caso muito sério. Escuridão total, e sem luzes publicas, estavávos em 1969, quando fomos a Bissau, jurar bandeira com os Fulas.

 (xiv) Libério Lopes

Dos 24 meses de Guiné o último foi passado em Bissau, abril de 1965. Tocou-me passar uma noite de ronda no Pilão.

Nunca vivi um silêncio tão pesado como o daquela noite. Demos várias voltas pelo bairro e nem uma pessoa vimos. Algumas luzes dentro das casas desapareciam com o aproximar das viaturas.

Sabia da fama do bairro e íamos preparados para tudo mas, felizmente, nada aconteceu
 
(xv) Fernando Pereira

Por vezes, as confusões que por lá ocorriam eram provocadas pelos nossos militares.

(xvi) Tabanca Grande Luís Graça

Raul, mais histórias do Pilão serão bem vindas.

(Seleção, fixação / revisão de texto, negritos: LG)

 _________________

Notas do editor LG:

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21166: Tabanca Grande (499): Raul Castanha, ex-alf mil PM, CPM 3335 (Bissau, jan 1971 / jan 1973): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 813


 Raul Castanha, ex-afl mil PM, CPM 3335 (Bissau, 1971/73)



Raul Castanho (2017)
1. Mensagem do nosso leitor e camarada Raul Castanha:

Data .quarta, 8/07, 09:45
Assuntio - Blog

Muito bom dia.

Sigo e consulto com frequência o seu blog e gostaria de saber como é possível enviar eventualmente comentários sobre alguns temas.

Também fui militar na Guiné Bussau e tenho algum conhecimento sobre eventos desse tempo.

Os meus agradecimentos.

Raul J.L. Castanha

2. Resposta do nosso editor na volta do correio

Caro Raul:

Temos muito gosto em que colabore, com a sua experiência, militar e humana da guerra da Guiné (1961/74), nesta comunidade virtual de antigos combatentes... Tratando-se de um blogue, a edição de textos, fotos e outros documentos tem de ser feita através da "mediação dos editores"... Pode usar o meu mail profissional: luis.graca.prof@gmail.com

A inserção de comentários é totalmente livre e instantânea; veja, na coluna (estática) do lado esquerdo do blogue como é que se pode comentar e qual é a nossa "política editorial"...

Mas o mais simples é o camarada "dar a cara" e juntar-se aos 810 [, à data de hoje, 812,] membros da nossa Tabanca Grande (tertúlia): para o efeito, basta mandar 2 fotos pessoais, uma antiga e outra atual, com duas linhas de apresentação (nome, posto, arma, unidade, locais por onde passou no CTIG, duração da comissão de serviço, etc.).

Nestes 810 [, hoje 812,]  membros (10 % dos quais infelizmente já morreram) há camaradas das 3 armas, e incluem-se nesta lista tanto antigos milicianos e militares do recrutamento local, como sargentos e oficiais do quadro.

Com 16 anos, e mais de 12 milhões de visualizações, 21 mil postes, mais de 100 mil comentários, e um espólio documental notável (mais de 100 mil imagens...), o nosso blogue é também uma valiosa fonte de informação e conhecimento. A sua missão principal é partilhar memórias...Também procuramos construir "pontes lusófonas".

Mantenhas. Um alfabravo, Luís Graça.

3. Resposta do Raul Castanham com data de 9 do corrente:

Aqui vai a informação solicitada:

(I) Nome: Raul José Lima Castanha

(ii) Posto; Alferes Miliciano PM

(iii) Arma: Cavalaria

(iv) Unidade: RL2, Lisboa e CPM 3335, Guiné

(v) Esteve em Bissau com esporádicas deslocações a Mansoa e Bula

(vi) Comissão:  desde Jan71 a Jan73

Espero que seja conforme. Saudações.
Raul Castanha

4. Comentário do editor LG:

Caro Raul, como antigos camaradas que fomos, no CTIG, tratamo-nos por tu, de acordo aliás com os usos e costumes da Tabanca Grande: Ès bem vindo à nossa tertúlia. Vais ficar sentado à sombra do poilão (mágico, simbólico, fraterno, protetor...), no lugar nº 813.

És o primeiro representante da tua CPM 3335 a integrar, formalmente, a Tabanca Grande.  De resto, a única referência que temos, no nosso blogue, a um companhia de polícia militar é a CPM 2537, cujo pessoal embarcou, comigo e os meus camaradas da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), no T/T Niassa, em 24 de maio de 1969.

E se a memória não me atraiçoa,  creio mesmo que és  primeiro oficial (miliciano) de uma companhia de polícia militar a integrar a nossa Tabanca Grande, ao fim destes anos todos.

Vejo que a CPM 3335 tem página de grupo no Facebook. criada por ti em 2013, e que estamos a seguir. Tens também página pessoal no Facebook desde 2014...

E fico a saber, a teu respeito, porque é público, que:

(i) és da colheita de 1949 (18 de maio);

(ii) és "alfacinha";

(iii) foste analista (informático) num grande banco;

(iv) tiraste gestão estratégica no ISLA - Instituto Superior de Línguas e Administração;

(v) passaste pelo Colégio Militar (Curso de 1959/66);

e, (vi) na tropa, pela EPC - Escola Prática de Cavalaria, Santarém (2º turno / 1970).

Ficas miminamente apresentado aos amgos e camaradas da Guiné. Temos muita malta do teu tempo, no CTIG. A tua comissão correspondeu a um período muito rico de acontecimentos, sendo então governador-geral e comandante-chefe o general António Spínola (1968.1973). Por certo que te cruzaste  por ele mais vezes do que eu, que sou de 1969/71, e que estava do interior do território.

Espero que te sintas bem,  entre antigos camaradas dos três ramos das Forças Armadas que passaram pelo TO da Guiné (1961/74). E que possas partilhar algunas das tuas histórias e memórias desse tempo e dos lugares que melhor conheceste (Bissau, Mansoa, Bula).

_____________

Nota do editor:

Último poste da série >  13 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21164: Tabanca Grande (498): Manuel Rei Vilar, líder do projeto Kasumai, irmão do saudoso cap cav Luís Rei Vilar (Cascais, 1941 - Suzana, 1970)...Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 812