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quarta-feira, 30 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27070: Humor de caserna (208): As duas gloriosas malucas das máquinas voadoras, a Zulmira e a Maria Arminda, enfermeiras pqdt a quem o "Pombinho" meteu na cabeça que haveriam de aprender a pilotar o Dornier DO-27


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Pista de Bambadinca... Ao fundo, o muro do cemitério... Uma DO-27 na pista... 

Era uma aeronave que  adorávamos  quando nos trazia de Bissau os frescos e a mala do correio ou, no regresso, nos dava boleia até Bissau, para apanharmos o avião da TAP e ir de férias... 

Era uma aeronave preciosa nas evacuações (dos nossos feridos ou doentes, militares e  civis)... 

Era um "pássaro" lindo a voar nos céus da Guiné, quando ainda não havia o Strela...

Em contrapartida, tínhamos-lhe, nós, os "infantes",  a "tropa-macaca", um "ódio de morte" (sic) quando se transformava em PCV (posto de comando volante) e o tenente-coronel, comandante do batalhão, ou o segundo comandante,  ou o major de operações,  ia ao lado do piloto, a "policiar" a nossa progressão no mato... e a denunciar a nossa posição no terreno!

Quando nos "apanhavam" e ficavam à nossa vertical, era ver os infantes (incluindo os nossos "queridos nharros") a falar, grosso, à moda do Norte, com expressões que eram capazes de fazer corar a Maria Turra:

"Cabr*es..., filhos da p*ta..., vão lá gozar pró car*lho..., daqui a um bocado estamos a embrulhar e a levar nos c*rnos!...".

Também os nossos comandantes operacionais (capitães QP ou milicianos) não gostavam nada do "abelhudo" do PCV, em operações no mato...

Foto do álbum de Arlindo T. Roda, ex-fur mil da CCAÇ 12 (1969/71).

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > s/l > c. 1972/74 > O comandante Pombo aos comandos de um Cessna dos  TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa) (era uma aeronave muito melhor, equipada com instrumentos de navegação,  do que a DO-27)

Foto (e legenda): © Álvaro Basto (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1º srgt Pombo, piloto de F-86-F Sabre,
BA 5, Monte Real, 1961.
Cortesia de José Cabeleira (2011)
1. É uma história, mal conhecdia, mas bem humorada (*). Deve-se ter passado na primeira comissão da Maria Arminda, em 1962/63, no TO da Guiné: ela passou primeiro por Angola (1961/62), depois Guiné (1962/63) e novamente na Guiné (1965/66)... E nesse intervalo terá estado em Tancos a formar novas enfermeiras paraquedistas. (Pelo telefone, confirmou que a história passa-se em 1963; pedi-lhe desculpa, estava ela a fazer fisioterapia...)

Por sua vez, o outro interveniente nesta hstória, é o saudoso cap pil José Luís Pombo Rodrigues (1934-2017),  o  Comandante Pombo dos TAGP do meu tempo (1969),  é um orgulhoso sobrevivente da “Operação Atlas”, a primeira (e única) travessia Monte Real – Bissalanca, feita pela Esquadra 51/201 (BA 5), constituída por aviões F-86F “Sabre”, realizada em agosto de 1961… 

Era ele então um jovem 1º sargento
piloto... O "Pombinho", como lhe chamavam 
a Zulmira e a Maria Arminda. Terá feito 4 comissões na Guiné. Esteve na FAP, e nos TAGP, acabando por ser piloto particular, ao serviço de Luís Cabral e depois do 'Nino' Vieira, até partir para outras paragens (Congo ex-Belga, Brasil...). Regressou a Pátria para morrer...

O Comandante Pombo tem 25 referências no nosso blogue. Conheci-o pessoalmente num  dos nossos convívios da Magnífica Tabanca da Linha. Entrou para a Tabanca Grande, a título póstumo, em 5 de setembro de 2017.


As duas gloriosas malucas das máquinas voadoras,   a Zulmira e a Maria Arminha, enfermeiras pqdt,  a quem  o "Pombinho"   meteu na cabeça que haveriam de aprender a pilotar o Dornier  DO-27

por Maria Arminda

(...) Em nenhum dos muitos locais onde trabalhei (incluindo hospitais), senti um ambiente de tão forte coesão e solidariedade entre todos os que me rodeavam, e em que a palavra "amizade" tivesse uma expressão tão forte e fosse tão marcante para a vida, como o ambiente em que vivi na Guiné. 

(...) Quando os nossos camaradas homens nos viam "em baixo", inventavam processos para nos animar e fazer esquecer as agruras "daquela vida". E nós assim íamos sobrevivendo e cumprimdo as nossas missões 

Naqueles nossos momentos "baixos", eles inventavam as mais diversas formas de nos levantar o "astral"... Como, por exemplo, ensinarem -nos a pilotar!



Maria Zulmira André Pereira
(1931-2010)
Naquele tempo, na Base Aérea nº 12, havia um piloto de jatos, que eu penso ainda eram os F-86, de sua graça Pombo Rodrigues, a quem nós chamávamos de Pombinho. 

Ele era como um irmão, muito nosso amigo,  e então meteu na cabeça que a Zu (como tratávamos a Zulmira) e eu, iríamos aprender a pilotar o avião Dornier DO-27., que ele tão bem pilotava, e em que nós fazíamos as evacuações.

Combinou connosco que, sempre que ele estivesse de alerta ao transporte de feridos e saísse com uma de nós as duas, começaria a dar-nos a instrução, mesmo nos DO-27 só com  um só manche, caso não estivesse operacional o que lá havia com dois comandos, que ele procurava sempre utilizar nesses dias da nossa "instrução.

Se bem o pensou, melhor o fez, e a nossa aprendizagem começou com algumas aulas teóricas, primeiro no bar dos pilotos, depois no interior do avião, mas no solo, e depois já no ar, em aulas práticas, nas idas aos locais para onde éramos chamadas, e apenas nas idas, porque no regresso, como se  depreende, a nossa ocupação já era outra.

"A juventude é ousada e por vezes louca", por isso as aulas continuaram por muito tempo, e penso que só os três é que sabíamos destes factos. 

Eu cheguei a levar o avião da Base até à pista de Farim, no DO que tinha os dois manches, e ele disse-me que tinha sido eu a tocar com as rodas no chão, o que não acreditei.

No entanto, ele punha tanta força e empenhamento na nossa "instrução", que me fez ter confiança e esperança de poder vir um dia a saber pilotar aquele avião. Pena foi que daí a algum tempo, eu tivesse sido mandada paar Tancos, a fim de acompanhar um curso para formação de novas enfermeiras "páras".

As minhas lições de pilotagem foram aí, entáo, interrompidas e, infelizmente, para sempre. (...)

Fonte: Excertos de "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pp. 374-376.

(Seleção, revisão / fixação de texto, título: LG)
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2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Para a Maria Arminda, que fez recentemente uma artoplastia total da anca, desejo boa e rápida recuperação. Um abraço fraterno do Luís Graça.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

E mais um recado: Maria Arminda, nunca é tarde para aprender...Ainda tens o "exame de condução" da DO-27 por fazer... Vocês, enfermeiras paraquedistas, sabem, como ninguém, que nunca se deixam as coisas a meio... Bj, Luís.