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quarta-feira, 9 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P26997: Facebook...ando (87): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte V: Os poilões da Amura e a cabaceira de Quinhamel


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Guiné-Bissau > Bissau > Amura  > Maio de 2025 >  Fotos nºs 1, 2 e 3 > Poilões

Guiné-Bissau > Quinhamel > Maio de 2025 > Foto nº 4 > Cabaceirta

Fotos do álbum do Facebook (João Reis Melo); (com a devida autorização do autor e vénia do editor LG...)

Fotos (e legendas): © João de Melo (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





1. Par além do seu grande amor à Guiné e à sua gente, o João Melo é um excelente fotógrafo, a sua técnica tem vindo a ser apurada e melhorada com as viagens que tem feito desde 2017... (Referimo-nos a fotos e vídeos.) 

Nem sempre  trazem legendas as imagens que ele nos disponibiliza na sua página do Facebook, mas o leitor reconhece que são um regalo para a vista e um bálsamo para as nossas saudades.

As quatro que publicamos hoje, são uma homenagem às grandes, centenárias árvores que resistem, de pé, naquela terra que continua a ser verde-rubra (sem qualquer conotação político-ideológica). 

Os poilões da Amura (fotos nºs 1, 2 e 3) , por exemplo, se falassem, podiam contar os últimos 300 anos da história da Guiné-Bissau... São árvores de porte altivo, majestoso, protetor e hospitaleiro: não é por acaso que se erguem no centro de qualquer tabanca do interior da Guiné (tratando-se de tabancas antigas, que resistiram às guerras),  dão sombra, acolhendo as gentes e convidando ao convívio.  

Mais: ficou tristemente célebre o poilão de Brá, perto da estrada do aeroporto, por ocasião da guerra civil 1998–99, quando foram avistadas viaturas militares junto à sua base (mas, mesmo assim,  sobreviveu à guerra e manteve‑se firme como árvore sagrada). Outros como o de Maqué, no Óio, são locais centrais de cerimónias tradicionais e julgamentos comunitários. Em Bambadinca, depois da guerra, também desgraçadamente serviram como  local de fuzilamento dos "cáes dos colonialistas"...

Além de árvores sagradas, são verdadeiros monumentos vivos.

 Temos cerca de 3 dezenas de referências ao descritor "poilão" (. O nome científico da árvore é Ceiba pentandra.)

O mesmo se passa com a cabaceira (Adansonia digitata), mais pobre em ramagem   mas que dá fruto, muito apreciado, rico em vitamina C e com uso medicinal. O termo designa tanto a árvore como o fruto (em português, diz-se embondeiro; também é conhecido como baobá).

 A foto nº 4 parece-nos ser uma cabaceira. É  também centenária, podendo em certos casos  chegar aos mil anos! Mais longeva, portanto,  que o "poilão".

Tanto o "poilão" como a "cabaceira", além de árvores de grande porte,  são entidades sagradas, pontos de encontro social, marcos espirituais, testemunhas da História da Guiné‑Bissau. Não é, por acaso, que a nossa "Tabanca Grande" tem também o seu "poilão", com os seus bons irãs, a quem pedimos proteção...


2. Comparação entre o "poilão" e a "cabaceira (ou "baobá", no Senegal, embondeiro, em Angola) (Fonte: Chatpgt / Gemini IA / LG)


CaracterísticaPoilão (Ceiba pentandra)Cabaceira (Adansonia digitata)
Família botânicaMalvaceaeMalvaceae
AlturaMuito alto (pode atingir 60-70 metros)Mais baixo (até 25 metros)
TroncoCilíndrico e ereto com raízes tabularesGrosso e irregular, com forma de garrafa
FolhagemCaduca, folhas compostas palmadasCaduca, folhas também palmadas
FrutoVagens cheias de paina (fibra leve)Cápsulas com polpa comestível e sementes
Usos tradicionaisMadeira leve, usada em construção e artesanato; paina usada em almofadasPolpa rica em vitamina C, sementes com óleo, usos medicinais
LongevidadeCentenária (até 500 anos)Milenária (até 2 mil anos)
DistribuiçãoÁfrica tropical e América do SulÁfrica Subsariana, especialmente regiões áridas
Simbolismo culturalEspiritual e sagrado (ex: Poilão de Buba, Maqué, Brá, Mansoa)Símbolo da resiliência e da vida nos países de clima semiárido


Resumindo. estas duas árvores pertencem à mesma família botànica, as Malvaceae (têm, portanto,uma ancestralidade comum e algumas características morfológicas compartilhadas: as folhas palmadas e as flores com estames fundidos num tubo). São decíduas (perdem suas folhas durante a estação seca, uma adaptação importante para sobreviver em ambientes com períodos de seca). 

Mais (e coisa que eu não sabia de todo!):  as flores de ambas as espécies geralmente abrem à noite e são polinizadas por morcegos (tipo de polinização chamado quiropterofilia). As flores são grandes e muitas vezes perfumadas para atrair os seus polinizadores.

Têm, além disso, uma grande importância ecológica, económica, social e cultural (para além da produção de fibras e madeiras, tem diversas aplicações medicinais e alimentares, são veneradas pelos humanos, etc.). 

Cada uma com a sua estratégia evolutiva, adaptarm-se muito bem a climas tropicais e subtropicais: o poilão preferindo ambientes húmidos, a cabaceira a savana seca (o seu tronco bulboso pode armezanar grandes quantidades de água!)

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26140: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (40): No porto-cais de Quinhamel, comendo umas ostras de tarrafe (entrada) e uma bentana grelhada (prato de peixe) no restaurante do Ti Aníbal, ao som da música dos "catchus" e na companhia de um camarada "jadudi"...


Foto n º 1 > Guiné-Bissau  > Região de Biombo > Quinhamel > Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal >    O meu almoço: entrada,  uma travessa de ostras de tarrafe




Fotos nº 1A  e 1B> Guiné-Bissau  > Região de Biombo > Quinhamel >  Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal >  As belas ostras de tarrafe.. Grelhadas.



Fotos nº 2 e 2A> Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel >Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal > Prato principal: "Bentana" grelhada


Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel > Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal > Camarada convidado, um jagudi


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel > Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal >





Foto nº 5 e 5A> Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel >Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal > Música, e cantares dos donos do lugar, os "catchus". Que também já foram em outro tempos servidos à mesa.


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel > 10 de novembro de 2024 > Estrada, para o restaurante e porto cais. Talvez não a encontrem no GPS




Fotos n º 7 e 7A> Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel >Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal > A água e lama que se vê na foto é doce...por este motivo é que alguém ...mandou construir o porto cais neste local...não é facil encontar água doce a correr para o mar todo o ano como aqui.


Foto n º 8 > Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel > Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal > Os mangueiros, muitos dos antigos combatentes já os conheceram são os mesmos. O tarrafe e o protector de toda a fauna maritima, esta região do Biombo, tem muita área de tarrafe, nas tabancas as mulheres com as suas redes apanham os camarões que vão vender...


Foto n º 9 > Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel > Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal > A piscina privada, que a meio da tarde mandei encher, estavam 36 graus ...A água e a lama fazem bem à pele, depois das chuvas que terminaram há 2 semanas.

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. São fotos devidamente legendadas, acabadas de chegar hoje entre a meia noite e meia e as duas,,, Como a Net é mais lenta na Guiné-Bissau, são mandadas por e-mail, uma a uma... É preciso paciência de santo. Uma operação, como esta, pode levar meia-hora a uma hora...(O Patrício deitou-se às duas da matina.)

Este fim de semana o "nosso embaixador em Bissau" foi almoçar a Quinhamel, a um sítio secreto (de que ele não quis divulgar as coordenadas)... 

O resturante do Ti Aníbal não vem no GSP nem no Google Earth...nem muito menos no TripAdvisor...Quando lá voltarmos, tem que ser à boleia, no jipe do Patrício...  Ele é o melhor guia da Guiné-Bissau...

Quinhamel, a capital da região do Biombo (a nmenos de 30 km de Bissau), tem meia-centena de referências no blogue. 

O Patrício tem já vai perto de 170 referências. É autor da série "Bom dia desde Bissau" (iniciada em 3 de abril de 2017).  Mas ele já está atabancado, aqui connosco,  desde 1 de junho de 2006 (!)...É um dos "dinossauros" da Tabanca Grande.

Obrigado, Patrício. Não acredito que tenhas comido esses "calhaus" todos... Vais pôr a malta toda a salivar...No meu tempo comiam-se as ostras (cruas) à fartazana em Bissau, a 20 paus uma travessa... Com muita "lima" e cerveja... Comecei a adorar ostras em Bissau... Agora parece que temos de as ir comer a Quinhamel. Por causa da poluição do Rio Geba... E não há depuradoras para os bivalves na Guiné-Bissau... (Fazem muito bem à saúde... mas cuidado com as ostras cruas, para mais em ambiente tropical, há sempre o risco de complicações relacionadas com gastroenteristes e ingestão de metais pesados.)

terça-feira, 17 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24763: Ser solidário (262): Fundação João XXIII - Casa do Oeste, Ribamar, Lourinhã: parafraseando Friedrich Schiller, "não temos em nossas mãos a solução de todos os problemas da Guiné-Bissau, mas perante os seus problemas temos as nossas mãos" - Fotogaleria (2014) - II (e última) Parte: agricultura, saúde e educação, três áreas-chave











 

Facebook da Fundação João XXIII - Casa do Oeste > Fotogaleria > 2014 > II (e última) Parte > A pacata vida em Ondame (a sudoeste de Quinhamel, capital da região do Biombo),  onde se situa a Clínica Bom Samaritano - Centro materno-infantil de Ondame e  a Biblioteca de Ondame  (dois projetos apoiados pela Fundação),  contrasta com a vida mais agitada de Bissau (de que se publicam as três últimas fotos acima).





Très projetos emblemáticos em que a Fundação João XXIII está (ou esteva, em 2014, à data desta documentalái fotográfica) empenhada.

(Seleção e edição de fotos / legendagem,  para efeitos de publicação deste poste: LG) (Com a devida vénia...)



Guiné > Região de Biombo > Carta de Quinhamel (1952) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Quinhamel, Ondame e rio Mansoa

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)
______________

Caro leitor: Para apoiar os projectos com a Guiné-Bissau pode depositar  uma pequena oferta  na conta da Fundação João XXIII - Casa do Oeste.

NIB:0033.0000.45308228096.05

IBAN: PT50.0033.0000.45308228096.05 

SWIFT/BIC: BCOMPTPL


Nota: Os donativos terão recibo e serão considerados no IRS
___________

Nota do editor:

Último poste da série >  16 de outubro de 2023 >
Guiné 61/74 - P24760: Ser solidário (261): Fundação João XXIII - Casa do Oeste, Ribamar, Lourinhã: parafraseando Friedrich Schiller, "não temos em nossas mãos a solução de todos os problemas da Guiné-Bissau, mas perante os seus problemas temos as nossas mãos" - Fotogaleria (2014) - Parte I

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24380: (In)citações (247): Já comíamos ostras em Empada, em junho de 1969: abertas em chapa quente com o lume por baixo e passando depois pelo picante e limão... (José Manuel Samouco, ex-fur mil, CCAÇ 2381, 1968/70)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3

Guiné : Região de Quínara > Empada > Junho de 1969 > CCAÇ 2381, "Os Maiorais" (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70) >  Já então se comiam ostras em Empada, em Buba... Os militares da foto nº 3 estão a extrair as ostras em conglemarados ou cachos agarrados aos "paus" do tarrafe...

Fotos (e legenda): © José Manuel Samouco (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Manuel Samouco [ex-fur mil, CCAÇ 2381, "Os Maiorais" (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada , 1968/70); vive em Torres Vedras; é membro da nossa Tabanca Grande desde 4 de abril de 2006]

Data - 8 jun 2023 16:24 
 
Assunto . Ainda as ostras (*)

Boa tarde,  Luís

Quando se fala de ostras até parece que sou dependente!

Resolvi escrever um pequeno texto, recordando coisas boas da Guiné.

Como é normal só publicam se entenderem, o mesmo com as fotos de Empada.

Um abraço, 
J. M. Samouco


Ainda as Ostras ! Empada, Junho de 1969 (**)

Finalmente os “Maiorais” reunem-se depois de praticamente 12 meses espalhados por onde havia guerra.. Não que em Empada não houvesse guerra. Mas agora com a Companhia reunida,  tinhamos a sensação de estar ainda mais fortes.

Alguém, entretanto regressado falou em ostras e como se devem comer e como as arranjar. Em Bissau são abertas em água quente como se fosse berbigão. e ficavam muito bem. Mas, boas, boas,  são abertas em chapas quentes com o lume por baixo e passando depois pelo picante e limão.

Foi como uma novidade que veio para ficar. Praticamente todas as semanas começaram a chegar em doses tais, que nem entravam na messe dos Sargentos. Numa das fotos que envio até o chefe de posto de Empada  (foto nº 1) veio sentar-se junto de nós.

Em 2015 voltei à Guiné, agora Guiné-Bissau, com camaradas da Tabanca de Matosinhos e até parece que as ostras estavam à minha espera. Foi um matar de saudades das ostras e ver calmamente a Guiné por onde tinhamos andado de G3.

Em 2017 voltei às ostras. Quinhamel esperava por mim.. Que maravilha.. A factura não engana. 4 pessoas :

7 minis, 3 sumos e 4 doses de ostras = 284,000 CFA (0,432 euros)

1 euro = 657,26 Franco CFA (BCEAO) em 14 março de 2017.
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - 24376: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (36): As ostras do nosso (des)contentamento (Hélder Sousa / Luís Graça / José João Domingos / Valdemar Queiroz)

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Guiné 61/74 - 24376: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (36): As ostras do nosso (des)contentamento (Hélder Sousa / Luís Graça / José João Domingos / Valdemar Queiroz)


Guiné > Bissau > "O Arauto, 27 de Julho de 1967", o único jornal diário da província no nosso tempo> Anúncios de duas casas especializadas em ostras, em Bissau : Casa Afonso, no Chão de Papel; e o Miramar, que vendia uma travessa gigante de ostras (da rocha ou da pedra, em conglomerado) por 20 pesos... Dois anos depois ainda eram ao mesmo preço, quando por lá passei... E o Hélder Sousa também pagava 20 pesos, quatro anos depois, em 1971



Croqui da parte oriental da Bissau Velha, entre a Avenida da República (hoje, Av Amílcar Cabral) e a fortaleza da Amura. No 15 ficava o Hotel Miramar / Cais Bar... A antiga Rua Olivera Salazar é hoje a Rua Mendes Guerra. O Miramar ficava em frente à Casa Pintosinho (2, no croqui). Era aqui, ao lonmgo da década de 1960 e 1970, comíamos ostras, a 20 pesos cada travessa, quando vínhamos a Bissau... (*)

Infogravuras: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



Lourinhã > Porto das Barcas > Tabanca do Atira-te ao Mar (... e Não Tenhas Medo!) > Agosto de 2020  >  Ostras ao natural, anti-Covid 19... Não, são de Có, Quinhamel ou do Saltinho... São da Lagoa de Óbidos (**)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Há coisas engraçadas, mas que parecem não ter explicação: os portugueses têm nas suas rias, lagoas, estuários... bancos de ostras das melhores do mundo (dizem os entendidos, e dizem os franceses que lhes chamam "les portugaises"... sem qualquer discriminação ou  conotação sexual)... 

Mas a generaliddade dos portugueses prefere  outros moluscos: a ameijoa, 0 berbigão, a navalha ou lingueirão, o percebe, o mexilhão, para não falar do "tremoço"... Há um preconceito atávico em relação à ostra (nome científico: Crassostrea Angulata)  (talvez devido ao  aparentemente repulsivo aspeto do seu interior...).  

Quem foi  à Guiné, pelo contrário, passou a ser fã da ostra, seja da ria Formosa, dos estuários do Sado e do Tejo ou até da lagoa de Óbidos... Amarga foi, porém, a ostra que deu nome a um infeliz operação, em que as NT sofreram uma emboscada com dois mortos, em 18 de outibro de 1969, no sector de Bula,  testemunhada  e filmada por jornalistas franceses.

Mas falemos das ostras do nosso contentamento, que se apanhavam em Có, balaios e balaios delas, e  que depois eram vendidas e comidas em Bissau... Registamos aqui alguns comentários ao poste P24372 (***)


(i) Luís Graça:

Viva o esparguete, que foi o fiel amigo do combatente ao longo da guerra... Mais as cavalas de conserva... Já poucos se lembram disto...

Chamar-lhe, ao esparguete, "atacadores da PM" (os atacadores brancos das botas da Polícia Militar...) é que é um achado humorístico...

7 de junho de 2023 às 06:32 

 Tem piada, o português não gosta de ostras, um excelente alimento... As nossas ostras, das melhores do mundo, vão para França. É como a história do porco preto espanhol que vem engordar nos nossos soutos... Não sabemos fazer presunto...

7 de junho de 2023 às 11:17

(ii) Hélder Sousa:
 
(...) Quanto a essa coisa de "o português não gostar de ostras", claro que só pode ser uma generalização pois os portugueses que estiveram na Guiné apreciavam (e apreciam) bastante essa iguaria. Não esquecer também a "sopa de ostras", que faz parte do roteiro gastronómico da Guiné-Bissau.

Tanto assim é que em muitas das "viagens do turismo de saudade" não faltam as idas a Quinhamel para comer ostras. E eram bem boas, as muitas que comi em Bissau. Boas e relativamente baratas.

No entanto devo confessar que também eu tinha um preconceito quantos "às ostras". Lembrava-me sempre as expressões "populares" que acompanhavam a expulsão de escarretas, daquelas bem cheias de muco e ranho com "lá vai ostra" e daí associar as situações à visão da ostra.

Depois, a luta com as faquinhas para chegar à ostra naqueles pedaços de "ostra da pedra", bem quentinhas, o molho de limão com piri-piri, o convívio, a visão das enormes travessas bem cheias, as "bazucas" a acompanhar, tudo isso ainda hoje é inesquecível.

Por cá havia viveiros naturais de ostras no Tejo e no Sado.

Quando regressei da Guiné e ainda antes vir para Setúbal, apanhando o "balanço" das experiências guineenses e o facto de o meu camarada TSF ser daqui de Setúbal e o pai trabalhar num despachante oficial que tratava dos despachos para França, onde são muito apreciadas, sempre voltei a comer essas iguarias.

Depois disso, com a entrada em funcionamento dos estaleiros navais da então Setenave, as ostras do Sado foram desaparecendo, dado que são muito sensíveis a elementos poluentes, embora agora se estejam a regenerar alguns bancos de ostras e que depois são tratadas em estação de depuramento.

Mas concedo que, na generalidade, os portugueses "não gostam de ostras"...

7 de junho de 2023 às 11:51  

(iii) Luís Graça

Também há ostras aqui perto da Lourinhã,  na Lagoa de Óbidos e, felizmente, cá em casa todos gostamos. Sou eu que as preparo.(**)

Confesso que também foi na Guiné, em Bissau, que comecei a apreciá-las. Depois quando ia à Galiza, passava por  Vigo, não perdendo a oportunidade de as voltar a saborear... As deliciosas ostras das "rias bajas".

Acho que temos de fazer mais pela divulgação da nossa ostra, que é um excelente alimento e é rica em cálcio... Vou publicar o teu comentário... E mais algum que apareça sobre as ostras de Có, ou de Quinhamel, ou do Saltinho (parece que também as há no Corubal)...

No meu tempo em Bambadinca tínhamos o camarão ou o lagostim do rio Geba... Nunca apanhei uma diarreia por causa  do marisco... Em África é sempre problemático comer marisco. 

7 de junho de 2023 às 12:54

2. Já agora vai aqui um destaque para um texto do José João Braga Domingos sobre "as outras de Bissau" (****):

(...) Instalados no Ilondé, desde outubro de 1973, passamos a usufruir de vez em quando do consumo de ostras em Bissau.

Vários estabelecimentos de Bissau vendiam ostras mas, não sei porquê, frequentava sempre um estabelecimento que ficava no passeio do Pelicano, mais ou menos ao meio da rua, quase em frente ao Mussá, e tinha uma pequena esplanada.

Pedíamos travessas de ostras, que eram enormes, e, munidos de uma pequena faca, lá íamos abrindo as ostras que mergulhávamos no molho de limão bem picante e acompanhávamos com cerveja que, na altura, já era fabricada na Guiné. As cascas eram depositadas numa enorme caixa de cartão.

Mas, para além do petisco, a casa apresentava outra atração consubstanciada no jovem guineense que servia os clientes, de seu nome Joãozinho, que por acaso já tinha estado em Lisboa.

Dava gosto ouvir as suas histórias das quais me lembro de duas.

A primeira: Joãozinho não acreditava que a ponte sobre o Tejo, em Lisboa, tivesse sido feita com intervenção humana, antes tinha brotado espontâneamente do mar e ninguém o convencia do contrário.

A segunda: na sua estada em Lisboa, Joãozinho foi visitar o Jardim de "Orloge", como ele dizia, e, durante a visita aos répteis, saiu disparado (“no goss”) do recinto com medo “dos cobra”.

Perante a amostra é fácil perceber porque nunca mudei de fornecedor de ostras.
 
3. E, como as ostras são como as cerejas (o mal é começar), finalizamos com um comentário do Valdemar Queiroz ao poste P20388 (*),que vem enriqucer esta nossa série "No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande" (*****)

(...) Pois, estarei a fazer confusão. Estava convencido que seria na esplanada da 'Ultramarina', então seria na 'Miramar', na rua em frente do 'Pintosinho'... Já lá vai meio século.

E quanto a ostras, já as tinha comido e de grandes barrigadas. Nos anos 1961-62-63-64 era hábito o campismo selvagem em Troia, e eu mais três amigalhaços da Estefânia (Lisboa) íamos pra lá acampar no Verão.

Naquele tempo, Troia tinha o cais dos barcos, umas casas da colónia da GNR, no lado do rio, o resto era deserto, uns pequenos palheiros, uns poços abertos na areia e centenas de tendas de campismo.

Andava-se para os lados da Comporta e, antes de chegar à Carrasqueira, havia uma zona com um grande 'filão' de ameijoa branca e ostras, aos milhares. Era encher grandes sacadas à pressa, por causa da subida da maré, e depois nas tendas grandes barrigadas: ameijoas e ostras abertas numa panela, com um pouco de água no fundo e apenas temperadas com sal, só faltava a cervejola. 

Bons tempos, agora tudo aquilo faz parte do 'calote do BES'

28 de novembro de 2019 às 00:32 
___________

Notas do editor:



(...) Confesso:
aprendi a comer ostras em Bissau,
à beira do Geba,
no intervalo da guerra...
Ao natural, as ostras,
apenas com lima e piripiri.
Passei por Tavira
mas não me lembro das ostras que lá comi.
Se é que havia ostras, no último trimestre de 68,
na ria Formosa que servia de campo de tiro.
E, se as comi, eram amargas.
 
Se calhar, a maior parte de nós,
dos ex-combatentes,
aprendeu a comer ostras em Bissau...
Calhaus de ostras!...
Conglomerados!...
Com molho de lima e piripiri...
Passava-se um tarde
a matar a fome e a sede, 
à volta de uma travessa de ostras,
longe do Vietname,
que começava logo ali a partir de Nhacra.
A 20 pesos a travessa.
Não havia exercício mais anti-stressante
do que esse, de abrir e comer ostras,
nas esplanadas de Bissau,
à beira rio, com o cheiro a tarrafe,
e saudades do Tejo ou do Douro,
cada um tinha o seu rio de estimação. (...)

(***) Vd. poste de 6 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24372: História da CCAÇ 2402 (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70) (Coordenação: Raul Albino, 1945-2020) - Textos avulsos - Parte II: A imaginação que era preciso ter para se comer "atacadores da PM com estilhaços"!... Trocando carne do restaurante "Solar dos 10", em Bissau, por produtos locais de Có (camarão, ostras, tomate...) (Mário Vargas Cardoso, 1935-2023)

(****) Vd. poste de 16 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21907: Memórias de José João Braga Domingos, ex-Fur Mil Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516/73 (8): "As colunas para Farim e Guidaje", "Os engraxadores" e "As ostras de Bissau"

(*****) Último poste da série >  12 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24310: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (35): chegou a primavera (mesmo sem "abril, águas mil"), que vai bem com (diz a 'Chef' Alice): (i) favas com casca, suadas, à moda alentejana; (ii) carapauzinhos fritos com arroz de tomate; e (iii) favas suadas à moda da Maria da Graça... Sem esquecer: (iv) o festival literário "Livros a Oeste (11ª edição, Lourinhã, 9-13 mai 2023); e ainda (v) a 14ª quinzena gastronómica do polvo (Lourinhã, 17-31 mai 2023)...

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23705: Convívios (945): Almoço comemorativo dos 50 anos do regresso da Guiné dos combatentes da CCAÇ 2796 (Gadamael e Quinhámel, 1970/72), levado a efeito no passado dia 5 de Outubro em Abrantes (Morais da Silva, Cor Art Ref)


1. Mensagem com data de hoje, 13 de Outubro de 2022, do nosso camarada, Coronel Art Ref, António Carlos Morais da Silva (ex-Instrutor da 1.ª CCmds Africanos em Fá Mandinga; Adjunto do COP 6 em Mansabá e Comandante da CCAÇ 2796 em Gadamael, entre 1970 e 1972):

Caro camarada Vinhal
No passado 5 de Outubro os “Gaviões” de Gadamael e familiares reuniram para comemorar a chegada da Guiné no mesmo dia de 1972.
Volvidos 50 anos, novamente juntos, aportaram à unidade mobilizadora em Abrantes onde, na Eucaristia, rezaram pelos camaradas que já partiram.
Terminada esta, assistiram à cerimónia militar de homenagem aos Militares Mortos ao Serviço da Pátria e, de seguida, recordaram e saudaram os seus Mortos em Combate perpetuados no Memorial da Unidade.



Uma vez mais os homens da CCaçInd 2796 ficaram devedores e agradecidos aos militares que prestam serviço no RAME- Abrantes, na pessoa do seu actual comandante Coronel de Infantaria Joaquim José Estevão da Silva a quem convidaram para o almoço de confraternização onde o reencontro avivou memórias e matou saudades do tempo da juventude.
Terminado o encontro anual, ficou a promessa de tocar a reunir em 2023.
Se entender útil, agradeço que este reencontro seja noticiado no nosso blog.

Abraço e muita saúde
Morais Silva

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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23697: Convívios (944): Rescaldo do XXVII almoço/convívio dos Antigos Combatentes da Vila de Guifões, Matosinhos, levado a efeito no passado dia 5 de Outubro em Santa Marinha do Zêzere, Baião (Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf)

segunda-feira, 21 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23098: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (22): Lugares da Guiné

Carta Geral da Província da Guiné
© Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Em mensagem do dia 18 de Março de 2022, o nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71), lembra os locais da Guiné por onde peregrinou.


RECORDAÇÕES DA CART 2520

22 - LUGARES DA GUINÉ

A CART 2520 enquanto sediada no Xime exerceu uma grande actividade fora do arame farpado, tanto a nível de Companhia ou de pelotão e conjuntamente com a CCAÇ 12 e os Pelotões de Caçadores Nativos 52 e 54, originando para os operacionais um enorme trabalho e também um grande desgaste físico e psicológico. O 3.º pelotão a que pertenci, percorreu praticamente todos os cantos, trilhos e picadas da zona operacional. Por mero acaso fui tomando alguns apontamentos numa pequena pasta onde guardava a minha correspondência e que actualmente a conservo quase religiosamente.

A partir destes curiosos apontamentos, da minha memória e com recurso à carta do Xime e de outros locais, elaborei uma lista que vou partilhar com os camaradas da nossa Grande Tabanca, ou melhor, da Tabanca Grande, dos lugares da Guiné por onde andei, incluindo também os lugares da segunda fase da nossa passagem pelo Ultramar quando a nossa Companhia assentou arraiais em Quinhamel:

Bissau - Início da comissão em 30 de Maio de 1969, alguns dias. Em Junho e Julho de 1970 várias vezes e em Março de 1971
Brá - Primeiras dormidas na Guiné antes da partida para o Xime
Xime - Base da CART 2520 durante o 1.º ano, Junho de 1969 a Junho de 1970
Bambadinca - Um sem número de deslocações com a finalidade de alguns reabastecimentos, ir buscar e levar correio e outros serviços
Mansambo - Primeiras 3 semanas para o treino operacional com o 3.º pelotão
Bafatá - Várias idas com a finalidade do Vaguemestre comprar vacas para nossa alimentação
Ponte Rio Udunduma - Por inúmeras vezes como mini destacamento e de passagem para Bambadinca
Enxalé - Mais de dois meses como destacamento e para segurança da população
Finete - Patrulhamento até ao Enxalé
Mato de Cão - Patrulhamento a partir de Finete até ao Enxalé
Mato Madeira - No percurso entre Finete e Enxalé
Malandim - Zona do Enxalé, patrulhamento
Gambana - Nas proximidades do Enxalé, patrulhamento
Madina Colhido - Inúmeros patrulhamentos e montagem de emboscadas e de seguranças aos barcos que passavam no rio Geba
Ponta Varela - Em operações
Ponta do Inglês - Três passagens em Operações
Foz do Corubal - Uma passagem em Operação
Ponta Coli - Dezenas de seguranças para a passagem de colunas da nossa Companhia e de outros militares
Ponta Luís Dias - Passagem durante Operação
Mouricanhe - Em Operação
Chacali - Em patrulhamento
Chicamiel - Em Operação
Poidon - Em patrulhamentos
Háfio - Em operações
Darsalame/Baio - Em Operações
Buruntoni - Em Operações
Colicumbel - Em patrulhamentos
Lantar - Proximidades do Xime em patrulhamentos
S. Belchior - Em operações
Malafo - Patrulhamento
Bissilão - Em Operações
Gundagué Beafada -Em operações
Amedalai - Ponto de passagem obrigatório para colunas a Bambadinca
Samba Silate - Em patrulhamento, passando por Amedalai
Taibatá - Colunas de apoio à população
Demba Taco - Colunas de apoio à população
Quinhamel - Base da CART 2520, tendo divergido para Safim, João Landim e posteriormente para o Biombo
Safim - Base do 3.º pelotão - Junho, Julho e parte de Agosto de 1970
João Landim - Permanência de dois meses com uma secção
Nhacra - Breve passagem
Biombo/Ondame - Entre Setembro de 1970 e Março de 1971 como destacamento
Blom - Tabanca nas proximidades do Biombo
Blimblim - Tabanca nas proximidades do Biombo
Dorce - Tabanca nas proximidades do Biombo
Ponta Biombo - Patrulhamentos e momentos de descontração
Ilondé - De passagem
São Vicente da Mata - De passagem
Cais de Pigiguidi - Chegada a Bissau e "Adeus Guiné"

José Nascimento

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22311: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (21): Martins, o caçador de rolas

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22311: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (21): Martins, o caçador de rolas

Enxalé 1972 – Entrada da Tabanca
Foto: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Em mensagem do dia 17 de Junho de 2021, o nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71), lembra a aventura do Martins, o caçador de rolas.


RECORDAÇÕES DA CART 2520

21 - MARTINS, O CAÇADOR DE ROLAS

Os recursos alimentares no Enxalé não eram os melhores, dependíamos totalmente do Xime e eram muitas as dificuldades em transportar os escassos artigos alimentares de uma margem para outra do rio Geba, mas lá nos íamos desenrascando com o que nos chegava da Companhia, às vezes também conseguíamos um frango que comprávamos na tabanca e que o nosso "Espanhol" o assava não à moda da Guia, mas sim à moda de Barrancos de onde era natural. O local também era propício para que alguns dos nossos atiradores fazendo jus da sua pontaria, se dedicassem à caça das rolas com a melhor amiga, a G3. Foi o caso do Martins que de quando em vez lá ia arranjando uns petiscos.

Normalmente as caçadas eram efectuadas junto à bolanha virada para o lado do Geba e com poucos riscos de segurança associados. O Martins porém resolveu arriscar mais e entendeu ir à caça das rolas para a mata densa oposta à bolanha e que ficava numa zona mais perigosa e apesar dos meus avisos para que tivesse cuidado e não fosse para aquele lado do matagal, continuou a fazê-lo, mas não foi necessário ir para aquelas bandas muitas vezes para que os meus pressentimentos acontecessem.

Estava eu na área da cozinha à conversa com alguns dos nossos militares quando de repente se ouve o rebentamento de uma granada seguido de algumas rajadas de tiros. Inicialmente pareceu-me uma flagelação vinda daquela zona da mata e até pensei mandar para aquela área uma bazookada ou duas, quando alguém grita: "O Martins está no mato". Fiquei para não ter vida, lá levaram o Martins pensei. De imediato peço para 7 ou 8 elementos me acompanharem numa tentativa de localizar o Martins e possivelmente resgatá-lo. Havíamos percorrido umas duas centenas de metros, na nossa rectaguarda um elemento do nosso pelotão faz um disparo para nos alertar e grita que o Martins está no quartel.

Foi um alívio para mim, mas não acalmou logo a minha ira, nem sequer quis ouvir qualquer justificação do referido militar, só passados dois ou três dias fiquei a saber do que aconteceu. Depois de ter feito um disparo e quando se preparava para recolher uma ave abatida, o Martins ouve algumas vozes e apercebe-se que são alguns guerrilheiros, que possivelmente se preparavam para o agarrar. O Martins não perdeu a calma e instintivamente saca de uma granada de mão que tinha pendurada à cintura e atira-a na direcção de onde havia avistado os seus presumíveis captores e de imediato corre à procura de abrigo no quartel, estes fazem-lhe umas rajadas mas sem lhe acertar e assim o Martins salva-se de ser caçado e de eventualmente fazer um passeio até à Guiné-Conacri, ou de vir numa caixa de pinho até a Metrópole.

Um grande abraço para o pessoal da nossa Tabanca Grande.
José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE AGOSTO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21269: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (20): O sargento da milícia de Amedalai