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terça-feira, 17 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24763: Ser solidário (262): Fundação João XXIII - Casa do Oeste, Ribamar, Lourinhã: parafraseando Friedrich Schiller, "não temos em nossas mãos a solução de todos os problemas da Guiné-Bissau, mas perante os seus problemas temos as nossas mãos" - Fotogaleria (2014) - II (e última) Parte: agricultura, saúde e educação, três áreas-chave











 

Facebook da Fundação João XXIII - Casa do Oeste > Fotogaleria > 2014 > II (e última) Parte > A pacata vida em Ondame (a sudoeste de Quinhamel, capital da região do Biombo),  onde se situa a Clínica Bom Samaritano - Centro materno-infantil de Ondame e  a Biblioteca de Ondame  (dois projetos apoiados pela Fundação),  contrasta com a vida mais agitada de Bissau (de que se publicam as três últimas fotos acima).





Très projetos emblemáticos em que a Fundação João XXIII está (ou esteva, em 2014, à data desta documentalái fotográfica) empenhada.

(Seleção e edição de fotos / legendagem,  para efeitos de publicação deste poste: LG) (Com a devida vénia...)



Guiné > Região de Biombo > Carta de Quinhamel (1952) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Quinhamel, Ondame e rio Mansoa

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)
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Caro leitor: Para apoiar os projectos com a Guiné-Bissau pode depositar  uma pequena oferta  na conta da Fundação João XXIII - Casa do Oeste.

NIB:0033.0000.45308228096.05

IBAN: PT50.0033.0000.45308228096.05 

SWIFT/BIC: BCOMPTPL


Nota: Os donativos terão recibo e serão considerados no IRS
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Nota do editor:

Último poste da série >  16 de outubro de 2023 >
Guiné 61/74 - P24760: Ser solidário (261): Fundação João XXIII - Casa do Oeste, Ribamar, Lourinhã: parafraseando Friedrich Schiller, "não temos em nossas mãos a solução de todos os problemas da Guiné-Bissau, mas perante os seus problemas temos as nossas mãos" - Fotogaleria (2014) - Parte I

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24380: (In)citações (247): Já comíamos ostras em Empada, em junho de 1969: abertas em chapa quente com o lume por baixo e passando depois pelo picante e limão... (José Manuel Samouco, ex-fur mil, CCAÇ 2381, 1968/70)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3

Guiné : Região de Quínara > Empada > Junho de 1969 > CCAÇ 2381, "Os Maiorais" (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70) >  Já então se comiam ostras em Empada, em Buba... Os militares da foto nº 3 estão a extrair as ostras em conglemarados ou cachos agarrados aos "paus" do tarrafe...

Fotos (e legenda): © José Manuel Samouco (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Manuel Samouco [ex-fur mil, CCAÇ 2381, "Os Maiorais" (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada , 1968/70); vive em Torres Vedras; é membro da nossa Tabanca Grande desde 4 de abril de 2006]

Data - 8 jun 2023 16:24 
 
Assunto . Ainda as ostras (*)

Boa tarde,  Luís

Quando se fala de ostras até parece que sou dependente!

Resolvi escrever um pequeno texto, recordando coisas boas da Guiné.

Como é normal só publicam se entenderem, o mesmo com as fotos de Empada.

Um abraço, 
J. M. Samouco


Ainda as Ostras ! Empada, Junho de 1969 (**)

Finalmente os “Maiorais” reunem-se depois de praticamente 12 meses espalhados por onde havia guerra.. Não que em Empada não houvesse guerra. Mas agora com a Companhia reunida,  tinhamos a sensação de estar ainda mais fortes.

Alguém, entretanto regressado falou em ostras e como se devem comer e como as arranjar. Em Bissau são abertas em água quente como se fosse berbigão. e ficavam muito bem. Mas, boas, boas,  são abertas em chapas quentes com o lume por baixo e passando depois pelo picante e limão.

Foi como uma novidade que veio para ficar. Praticamente todas as semanas começaram a chegar em doses tais, que nem entravam na messe dos Sargentos. Numa das fotos que envio até o chefe de posto de Empada  (foto nº 1) veio sentar-se junto de nós.

Em 2015 voltei à Guiné, agora Guiné-Bissau, com camaradas da Tabanca de Matosinhos e até parece que as ostras estavam à minha espera. Foi um matar de saudades das ostras e ver calmamente a Guiné por onde tinhamos andado de G3.

Em 2017 voltei às ostras. Quinhamel esperava por mim.. Que maravilha.. A factura não engana. 4 pessoas :

7 minis, 3 sumos e 4 doses de ostras = 284,000 CFA (0,432 euros)

1 euro = 657,26 Franco CFA (BCEAO) em 14 março de 2017.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - 24376: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (36): As ostras do nosso (des)contentamento (Hélder Sousa / Luís Graça / José João Domingos / Valdemar Queiroz)

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Guiné 61/74 - 24376: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (36): As ostras do nosso (des)contentamento (Hélder Sousa / Luís Graça / José João Domingos / Valdemar Queiroz)


Guiné > Bissau > "O Arauto, 27 de Julho de 1967", o único jornal diário da província no nosso tempo> Anúncios de duas casas especializadas em ostras, em Bissau : Casa Afonso, no Chão de Papel; e o Miramar, que vendia uma travessa gigante de ostras (da rocha ou da pedra, em conglomerado) por 20 pesos... Dois anos depois ainda eram ao mesmo preço, quando por lá passei... E o Hélder Sousa também pagava 20 pesos, quatro anos depois, em 1971



Croqui da parte oriental da Bissau Velha, entre a Avenida da República (hoje, Av Amílcar Cabral) e a fortaleza da Amura. No 15 ficava o Hotel Miramar / Cais Bar... A antiga Rua Olivera Salazar é hoje a Rua Mendes Guerra. O Miramar ficava em frente à Casa Pintosinho (2, no croqui). Era aqui, ao lonmgo da década de 1960 e 1970, comíamos ostras, a 20 pesos cada travessa, quando vínhamos a Bissau... (*)

Infogravuras: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



Lourinhã > Porto das Barcas > Tabanca do Atira-te ao Mar (... e Não Tenhas Medo!) > Agosto de 2020  >  Ostras ao natural, anti-Covid 19... Não, são de Có, Quinhamel ou do Saltinho... São da Lagoa de Óbidos (**)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Há coisas engraçadas, mas que parecem não ter explicação: os portugueses têm nas suas rias, lagoas, estuários... bancos de ostras das melhores do mundo (dizem os entendidos, e dizem os franceses que lhes chamam "les portugaises"... sem qualquer discriminação ou  conotação sexual)... 

Mas a generaliddade dos portugueses prefere  outros moluscos: a ameijoa, 0 berbigão, a navalha ou lingueirão, o percebe, o mexilhão, para não falar do "tremoço"... Há um preconceito atávico em relação à ostra (nome científico: Crassostrea Angulata)  (talvez devido ao  aparentemente repulsivo aspeto do seu interior...).  

Quem foi  à Guiné, pelo contrário, passou a ser fã da ostra, seja da ria Formosa, dos estuários do Sado e do Tejo ou até da lagoa de Óbidos... Amarga foi, porém, a ostra que deu nome a um infeliz operação, em que as NT sofreram uma emboscada com dois mortos, em 18 de outibro de 1969, no sector de Bula,  testemunhada  e filmada por jornalistas franceses.

Mas falemos das ostras do nosso contentamento, que se apanhavam em Có, balaios e balaios delas, e  que depois eram vendidas e comidas em Bissau... Registamos aqui alguns comentários ao poste P24372 (***)


(i) Luís Graça:

Viva o esparguete, que foi o fiel amigo do combatente ao longo da guerra... Mais as cavalas de conserva... Já poucos se lembram disto...

Chamar-lhe, ao esparguete, "atacadores da PM" (os atacadores brancos das botas da Polícia Militar...) é que é um achado humorístico...

7 de junho de 2023 às 06:32 

 Tem piada, o português não gosta de ostras, um excelente alimento... As nossas ostras, das melhores do mundo, vão para França. É como a história do porco preto espanhol que vem engordar nos nossos soutos... Não sabemos fazer presunto...

7 de junho de 2023 às 11:17

(ii) Hélder Sousa:
 
(...) Quanto a essa coisa de "o português não gostar de ostras", claro que só pode ser uma generalização pois os portugueses que estiveram na Guiné apreciavam (e apreciam) bastante essa iguaria. Não esquecer também a "sopa de ostras", que faz parte do roteiro gastronómico da Guiné-Bissau.

Tanto assim é que em muitas das "viagens do turismo de saudade" não faltam as idas a Quinhamel para comer ostras. E eram bem boas, as muitas que comi em Bissau. Boas e relativamente baratas.

No entanto devo confessar que também eu tinha um preconceito quantos "às ostras". Lembrava-me sempre as expressões "populares" que acompanhavam a expulsão de escarretas, daquelas bem cheias de muco e ranho com "lá vai ostra" e daí associar as situações à visão da ostra.

Depois, a luta com as faquinhas para chegar à ostra naqueles pedaços de "ostra da pedra", bem quentinhas, o molho de limão com piri-piri, o convívio, a visão das enormes travessas bem cheias, as "bazucas" a acompanhar, tudo isso ainda hoje é inesquecível.

Por cá havia viveiros naturais de ostras no Tejo e no Sado.

Quando regressei da Guiné e ainda antes vir para Setúbal, apanhando o "balanço" das experiências guineenses e o facto de o meu camarada TSF ser daqui de Setúbal e o pai trabalhar num despachante oficial que tratava dos despachos para França, onde são muito apreciadas, sempre voltei a comer essas iguarias.

Depois disso, com a entrada em funcionamento dos estaleiros navais da então Setenave, as ostras do Sado foram desaparecendo, dado que são muito sensíveis a elementos poluentes, embora agora se estejam a regenerar alguns bancos de ostras e que depois são tratadas em estação de depuramento.

Mas concedo que, na generalidade, os portugueses "não gostam de ostras"...

7 de junho de 2023 às 11:51  

(iii) Luís Graça

Também há ostras aqui perto da Lourinhã,  na Lagoa de Óbidos e, felizmente, cá em casa todos gostamos. Sou eu que as preparo.(**)

Confesso que também foi na Guiné, em Bissau, que comecei a apreciá-las. Depois quando ia à Galiza, passava por  Vigo, não perdendo a oportunidade de as voltar a saborear... As deliciosas ostras das "rias bajas".

Acho que temos de fazer mais pela divulgação da nossa ostra, que é um excelente alimento e é rica em cálcio... Vou publicar o teu comentário... E mais algum que apareça sobre as ostras de Có, ou de Quinhamel, ou do Saltinho (parece que também as há no Corubal)...

No meu tempo em Bambadinca tínhamos o camarão ou o lagostim do rio Geba... Nunca apanhei uma diarreia por causa  do marisco... Em África é sempre problemático comer marisco. 

7 de junho de 2023 às 12:54

2. Já agora vai aqui um destaque para um texto do José João Braga Domingos sobre "as outras de Bissau" (****):

(...) Instalados no Ilondé, desde outubro de 1973, passamos a usufruir de vez em quando do consumo de ostras em Bissau.

Vários estabelecimentos de Bissau vendiam ostras mas, não sei porquê, frequentava sempre um estabelecimento que ficava no passeio do Pelicano, mais ou menos ao meio da rua, quase em frente ao Mussá, e tinha uma pequena esplanada.

Pedíamos travessas de ostras, que eram enormes, e, munidos de uma pequena faca, lá íamos abrindo as ostras que mergulhávamos no molho de limão bem picante e acompanhávamos com cerveja que, na altura, já era fabricada na Guiné. As cascas eram depositadas numa enorme caixa de cartão.

Mas, para além do petisco, a casa apresentava outra atração consubstanciada no jovem guineense que servia os clientes, de seu nome Joãozinho, que por acaso já tinha estado em Lisboa.

Dava gosto ouvir as suas histórias das quais me lembro de duas.

A primeira: Joãozinho não acreditava que a ponte sobre o Tejo, em Lisboa, tivesse sido feita com intervenção humana, antes tinha brotado espontâneamente do mar e ninguém o convencia do contrário.

A segunda: na sua estada em Lisboa, Joãozinho foi visitar o Jardim de "Orloge", como ele dizia, e, durante a visita aos répteis, saiu disparado (“no goss”) do recinto com medo “dos cobra”.

Perante a amostra é fácil perceber porque nunca mudei de fornecedor de ostras.
 
3. E, como as ostras são como as cerejas (o mal é começar), finalizamos com um comentário do Valdemar Queiroz ao poste P20388 (*),que vem enriqucer esta nossa série "No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande" (*****)

(...) Pois, estarei a fazer confusão. Estava convencido que seria na esplanada da 'Ultramarina', então seria na 'Miramar', na rua em frente do 'Pintosinho'... Já lá vai meio século.

E quanto a ostras, já as tinha comido e de grandes barrigadas. Nos anos 1961-62-63-64 era hábito o campismo selvagem em Troia, e eu mais três amigalhaços da Estefânia (Lisboa) íamos pra lá acampar no Verão.

Naquele tempo, Troia tinha o cais dos barcos, umas casas da colónia da GNR, no lado do rio, o resto era deserto, uns pequenos palheiros, uns poços abertos na areia e centenas de tendas de campismo.

Andava-se para os lados da Comporta e, antes de chegar à Carrasqueira, havia uma zona com um grande 'filão' de ameijoa branca e ostras, aos milhares. Era encher grandes sacadas à pressa, por causa da subida da maré, e depois nas tendas grandes barrigadas: ameijoas e ostras abertas numa panela, com um pouco de água no fundo e apenas temperadas com sal, só faltava a cervejola. 

Bons tempos, agora tudo aquilo faz parte do 'calote do BES'

28 de novembro de 2019 às 00:32 
___________

Notas do editor:



(...) Confesso:
aprendi a comer ostras em Bissau,
à beira do Geba,
no intervalo da guerra...
Ao natural, as ostras,
apenas com lima e piripiri.
Passei por Tavira
mas não me lembro das ostras que lá comi.
Se é que havia ostras, no último trimestre de 68,
na ria Formosa que servia de campo de tiro.
E, se as comi, eram amargas.
 
Se calhar, a maior parte de nós,
dos ex-combatentes,
aprendeu a comer ostras em Bissau...
Calhaus de ostras!...
Conglomerados!...
Com molho de lima e piripiri...
Passava-se um tarde
a matar a fome e a sede, 
à volta de uma travessa de ostras,
longe do Vietname,
que começava logo ali a partir de Nhacra.
A 20 pesos a travessa.
Não havia exercício mais anti-stressante
do que esse, de abrir e comer ostras,
nas esplanadas de Bissau,
à beira rio, com o cheiro a tarrafe,
e saudades do Tejo ou do Douro,
cada um tinha o seu rio de estimação. (...)

(***) Vd. poste de 6 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24372: História da CCAÇ 2402 (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70) (Coordenação: Raul Albino, 1945-2020) - Textos avulsos - Parte II: A imaginação que era preciso ter para se comer "atacadores da PM com estilhaços"!... Trocando carne do restaurante "Solar dos 10", em Bissau, por produtos locais de Có (camarão, ostras, tomate...) (Mário Vargas Cardoso, 1935-2023)

(****) Vd. poste de 16 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21907: Memórias de José João Braga Domingos, ex-Fur Mil Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516/73 (8): "As colunas para Farim e Guidaje", "Os engraxadores" e "As ostras de Bissau"

(*****) Último poste da série >  12 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24310: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (35): chegou a primavera (mesmo sem "abril, águas mil"), que vai bem com (diz a 'Chef' Alice): (i) favas com casca, suadas, à moda alentejana; (ii) carapauzinhos fritos com arroz de tomate; e (iii) favas suadas à moda da Maria da Graça... Sem esquecer: (iv) o festival literário "Livros a Oeste (11ª edição, Lourinhã, 9-13 mai 2023); e ainda (v) a 14ª quinzena gastronómica do polvo (Lourinhã, 17-31 mai 2023)...

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23705: Convívios (945): Almoço comemorativo dos 50 anos do regresso da Guiné dos combatentes da CCAÇ 2796 (Gadamael e Quinhámel, 1970/72), levado a efeito no passado dia 5 de Outubro em Abrantes (Morais da Silva, Cor Art Ref)


1. Mensagem com data de hoje, 13 de Outubro de 2022, do nosso camarada, Coronel Art Ref, António Carlos Morais da Silva (ex-Instrutor da 1.ª CCmds Africanos em Fá Mandinga; Adjunto do COP 6 em Mansabá e Comandante da CCAÇ 2796 em Gadamael, entre 1970 e 1972):

Caro camarada Vinhal
No passado 5 de Outubro os “Gaviões” de Gadamael e familiares reuniram para comemorar a chegada da Guiné no mesmo dia de 1972.
Volvidos 50 anos, novamente juntos, aportaram à unidade mobilizadora em Abrantes onde, na Eucaristia, rezaram pelos camaradas que já partiram.
Terminada esta, assistiram à cerimónia militar de homenagem aos Militares Mortos ao Serviço da Pátria e, de seguida, recordaram e saudaram os seus Mortos em Combate perpetuados no Memorial da Unidade.



Uma vez mais os homens da CCaçInd 2796 ficaram devedores e agradecidos aos militares que prestam serviço no RAME- Abrantes, na pessoa do seu actual comandante Coronel de Infantaria Joaquim José Estevão da Silva a quem convidaram para o almoço de confraternização onde o reencontro avivou memórias e matou saudades do tempo da juventude.
Terminado o encontro anual, ficou a promessa de tocar a reunir em 2023.
Se entender útil, agradeço que este reencontro seja noticiado no nosso blog.

Abraço e muita saúde
Morais Silva

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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23697: Convívios (944): Rescaldo do XXVII almoço/convívio dos Antigos Combatentes da Vila de Guifões, Matosinhos, levado a efeito no passado dia 5 de Outubro em Santa Marinha do Zêzere, Baião (Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf)

segunda-feira, 21 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23098: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (22): Lugares da Guiné

Carta Geral da Província da Guiné
© Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Em mensagem do dia 18 de Março de 2022, o nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71), lembra os locais da Guiné por onde peregrinou.


RECORDAÇÕES DA CART 2520

22 - LUGARES DA GUINÉ

A CART 2520 enquanto sediada no Xime exerceu uma grande actividade fora do arame farpado, tanto a nível de Companhia ou de pelotão e conjuntamente com a CCAÇ 12 e os Pelotões de Caçadores Nativos 52 e 54, originando para os operacionais um enorme trabalho e também um grande desgaste físico e psicológico. O 3.º pelotão a que pertenci, percorreu praticamente todos os cantos, trilhos e picadas da zona operacional. Por mero acaso fui tomando alguns apontamentos numa pequena pasta onde guardava a minha correspondência e que actualmente a conservo quase religiosamente.

A partir destes curiosos apontamentos, da minha memória e com recurso à carta do Xime e de outros locais, elaborei uma lista que vou partilhar com os camaradas da nossa Grande Tabanca, ou melhor, da Tabanca Grande, dos lugares da Guiné por onde andei, incluindo também os lugares da segunda fase da nossa passagem pelo Ultramar quando a nossa Companhia assentou arraiais em Quinhamel:

Bissau - Início da comissão em 30 de Maio de 1969, alguns dias. Em Junho e Julho de 1970 várias vezes e em Março de 1971
Brá - Primeiras dormidas na Guiné antes da partida para o Xime
Xime - Base da CART 2520 durante o 1.º ano, Junho de 1969 a Junho de 1970
Bambadinca - Um sem número de deslocações com a finalidade de alguns reabastecimentos, ir buscar e levar correio e outros serviços
Mansambo - Primeiras 3 semanas para o treino operacional com o 3.º pelotão
Bafatá - Várias idas com a finalidade do Vaguemestre comprar vacas para nossa alimentação
Ponte Rio Udunduma - Por inúmeras vezes como mini destacamento e de passagem para Bambadinca
Enxalé - Mais de dois meses como destacamento e para segurança da população
Finete - Patrulhamento até ao Enxalé
Mato de Cão - Patrulhamento a partir de Finete até ao Enxalé
Mato Madeira - No percurso entre Finete e Enxalé
Malandim - Zona do Enxalé, patrulhamento
Gambana - Nas proximidades do Enxalé, patrulhamento
Madina Colhido - Inúmeros patrulhamentos e montagem de emboscadas e de seguranças aos barcos que passavam no rio Geba
Ponta Varela - Em operações
Ponta do Inglês - Três passagens em Operações
Foz do Corubal - Uma passagem em Operação
Ponta Coli - Dezenas de seguranças para a passagem de colunas da nossa Companhia e de outros militares
Ponta Luís Dias - Passagem durante Operação
Mouricanhe - Em Operação
Chacali - Em patrulhamento
Chicamiel - Em Operação
Poidon - Em patrulhamentos
Háfio - Em operações
Darsalame/Baio - Em Operações
Buruntoni - Em Operações
Colicumbel - Em patrulhamentos
Lantar - Proximidades do Xime em patrulhamentos
S. Belchior - Em operações
Malafo - Patrulhamento
Bissilão - Em Operações
Gundagué Beafada -Em operações
Amedalai - Ponto de passagem obrigatório para colunas a Bambadinca
Samba Silate - Em patrulhamento, passando por Amedalai
Taibatá - Colunas de apoio à população
Demba Taco - Colunas de apoio à população
Quinhamel - Base da CART 2520, tendo divergido para Safim, João Landim e posteriormente para o Biombo
Safim - Base do 3.º pelotão - Junho, Julho e parte de Agosto de 1970
João Landim - Permanência de dois meses com uma secção
Nhacra - Breve passagem
Biombo/Ondame - Entre Setembro de 1970 e Março de 1971 como destacamento
Blom - Tabanca nas proximidades do Biombo
Blimblim - Tabanca nas proximidades do Biombo
Dorce - Tabanca nas proximidades do Biombo
Ponta Biombo - Patrulhamentos e momentos de descontração
Ilondé - De passagem
São Vicente da Mata - De passagem
Cais de Pigiguidi - Chegada a Bissau e "Adeus Guiné"

José Nascimento

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22311: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (21): Martins, o caçador de rolas

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22311: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (21): Martins, o caçador de rolas

Enxalé 1972 – Entrada da Tabanca
Foto: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Em mensagem do dia 17 de Junho de 2021, o nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71), lembra a aventura do Martins, o caçador de rolas.


RECORDAÇÕES DA CART 2520

21 - MARTINS, O CAÇADOR DE ROLAS

Os recursos alimentares no Enxalé não eram os melhores, dependíamos totalmente do Xime e eram muitas as dificuldades em transportar os escassos artigos alimentares de uma margem para outra do rio Geba, mas lá nos íamos desenrascando com o que nos chegava da Companhia, às vezes também conseguíamos um frango que comprávamos na tabanca e que o nosso "Espanhol" o assava não à moda da Guia, mas sim à moda de Barrancos de onde era natural. O local também era propício para que alguns dos nossos atiradores fazendo jus da sua pontaria, se dedicassem à caça das rolas com a melhor amiga, a G3. Foi o caso do Martins que de quando em vez lá ia arranjando uns petiscos.

Normalmente as caçadas eram efectuadas junto à bolanha virada para o lado do Geba e com poucos riscos de segurança associados. O Martins porém resolveu arriscar mais e entendeu ir à caça das rolas para a mata densa oposta à bolanha e que ficava numa zona mais perigosa e apesar dos meus avisos para que tivesse cuidado e não fosse para aquele lado do matagal, continuou a fazê-lo, mas não foi necessário ir para aquelas bandas muitas vezes para que os meus pressentimentos acontecessem.

Estava eu na área da cozinha à conversa com alguns dos nossos militares quando de repente se ouve o rebentamento de uma granada seguido de algumas rajadas de tiros. Inicialmente pareceu-me uma flagelação vinda daquela zona da mata e até pensei mandar para aquela área uma bazookada ou duas, quando alguém grita: "O Martins está no mato". Fiquei para não ter vida, lá levaram o Martins pensei. De imediato peço para 7 ou 8 elementos me acompanharem numa tentativa de localizar o Martins e possivelmente resgatá-lo. Havíamos percorrido umas duas centenas de metros, na nossa rectaguarda um elemento do nosso pelotão faz um disparo para nos alertar e grita que o Martins está no quartel.

Foi um alívio para mim, mas não acalmou logo a minha ira, nem sequer quis ouvir qualquer justificação do referido militar, só passados dois ou três dias fiquei a saber do que aconteceu. Depois de ter feito um disparo e quando se preparava para recolher uma ave abatida, o Martins ouve algumas vozes e apercebe-se que são alguns guerrilheiros, que possivelmente se preparavam para o agarrar. O Martins não perdeu a calma e instintivamente saca de uma granada de mão que tinha pendurada à cintura e atira-a na direcção de onde havia avistado os seus presumíveis captores e de imediato corre à procura de abrigo no quartel, estes fazem-lhe umas rajadas mas sem lhe acertar e assim o Martins salva-se de ser caçado e de eventualmente fazer um passeio até à Guiné-Conacri, ou de vir numa caixa de pinho até a Metrópole.

Um grande abraço para o pessoal da nossa Tabanca Grande.
José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE AGOSTO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21269: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (20): O sargento da milícia de Amedalai

sábado, 13 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21894: Memórias de José João Braga Domingos, ex-Fur Mil Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516/73 (7): "O Alberto", "O Sipaio" e "O expresso de Ilondé"


1. Continuação da publicação das memórias, em curtas estórias, do nosso camarada José João Domingos (ex-Fur Mil At Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516 (Colibuía, Ilondé e Canquelifá, 1973/74):



19 - O ALBERTO

Logo no início da nossa estadia no Ilondé começou diariamente a aparecer à entrada da nossa tenda o Alberto, um guineense de 12 ou 13 anos, humilde e educado, filho de uma das lavadeiras, residente naquela localidade, que sabia ler e escrever, o que lhe dava algum estatuto junto do pessoal pois funcionava como tradutor de crioulo que também nos ia ensinando.

A nossa tenda tinha 8 habitantes e todos gostavam do Alberto. O seu trabalho era reduzido, assentando na varredura diária do chão da tenda e um qualquer recado, a troco de um ou outro peso que lhe íamos dando e, por vezes, de algumas guloseimas que recebíamos de casa.

A esta distância tenho ideia que a nenhum de nós passou pela cabeça que o Alberto estaria feito com o inimigo. Contudo, hoje, acho estranho o seu relacionamento connosco tendo em conta que na localidade moravam dezenas de jovens da mesma idade de cuja existência apenas nos apercebíamos quando havia cinema no quartel. Assim ou assado, estimávamos o Alberto e procuramos sempre ajudá-lo, nomeadamente, fornecendo-lhe com a maior rapidez possível os resultados de cada jornada do campeonato nacional de futebol, disputado na Metrópole, que ele seguia religiosamente através de um caderninho onde apontava os jogos e os respetivos resultados.

Dada a abundância de roupa que não me servia para nada resolvi, um dia, dar umas calças ao Alberto. Ora, na época, os africanos eram muito vaidosos e extravagantes com o vestuário e a roupa tinha que ficar bem justa. Ao vestir as calças o Alberto disse logo que não as queria por serem demasiado largas. Agarrei no Alberto e nas calças e fui a Bissauzinho onde havia alfaiates de rua que logo ali ajustaram as calças ao gosto do cliente. Custou a brincadeira setenta pesos, tanto como pagava mensalmente à lavadeira, mas valeu a pena ver a alegria do Alberto.

Enfim, as coisas mudaram e nunca mais soube do Alberto. Oxalá a vida lhe tenha sorrido.


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20 - O SIPAIO

Era frequente sair a porta de armas, que ficava junto à estrada para Bissalanga ou Quinhamel, e fumar um cigarro debaixo de uma árvore onde alguns elementos da população se juntavam em amena cavaqueira, em crioulo, da qual pouco ou nada entendia.

Gostava daquela gente, que tinha tão pouco e vivia aparentemente feliz. Por razões culturais, que transcendiam o meu entendimento, a riqueza dos homens media-se pela quantidade de mulheres e de animais que possuíam. As mulheres eram consideradas como animais, avaliadas em cotejo com estes, e eram elas que angariavam os meios de sustento da família através do seu trabalho, fosse como lavadeiras fosse como domésticas.

Naquele dia, estava um grupo mais numeroso que o habitual e, entre eles, um sujeito vestido com uma farda que não conhecia e que, pensei, ser uma qualquer autoridade local que designei de sipaio (ou cipaio).

A certa altura, no decorrer da conversa, o tal sipaio afastou-se alguns metros e ajoelhou-se. Tal movimento despertou-me a atenção e pensei que o sujeito ia rezar, mesmo sem tapete. Um minuto depois vejo-o a remexer na terra, levantar-se, sacudir as calças, aproximar-se de novo do grupo e retomar a conversa. Afinal tinha estado a urinar.

Recordei então que, de facto, pelos caminhos da Guiné por onde tinha andado, nunca me apercebi da presença de dejetos humanos produzidos por esta gente e, testemunhando aquela atitude, percebi porquê.


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21 - O EXPRESSO DO ILONDÉ

Diariamente, uma pequena camioneta de passageiros que fazia a ligação Ilondé – Bissau estacionava na estrada, quase em frente à porta de armas.

Uma hora antes da partida, com um calor quase insuportável, já muitos passageiros estavam instalados nos respetivos lugares.

A carga mais volumosa ia no tejadilho a que se acedia por uma escada existente na traseira da camioneta.

Porém, o mais engraçado era o transporte dos animais, principalmente cabras, galinhas e porcos, que iam normalmente do lado da janela ao colo dos seus proprietários, sendo que as cabras se instalavam paulatinamente com o focinho de fora aguardando o arranque da viatura.

Pouco mais tarde, aparecia uma carrinha Toyota, de caixa aberta, que arrebanhava o resto do pessoal que não tivesse tido lugar na carreira normal e, uns em pé, junto à cabine, outros sentados, no chão da caixa, com os respetivos tarecos, lá partiam para Bissau.

Estou em crer que esta carrinha desempenhava a função de desdobramento.

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Nota do editor

Último poste da série de11 de Fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21886: Memórias de José João Braga Domingos, ex-Fur Mil Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516/73 (6): "A reunião", Os incêndios" e "O prostíbulo"

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21872: Memórias de José João Braga Domingos, ex-Fur Mil Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516/73 (5): "A carreira para Brá"; "Ilondé" e "Desenrascanço"


1. Continuação da publicação das memórias, em curtas estórias, do nosso camarada José João Domingos (ex-Fur Mil At Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516 (Colibuía, Ilondé e Canquelifá, 1973/74):


13 - A CARREIRA PARA BRÁ

Enquanto estivemos nos Adidos, a aguardar colocação, deslocávamo-nos com alguma frequência ao centro de Bissau, fosse para ir telefonar ao Correio, comer ostras frente ao Mussá, na rua da Polícia, beber um café no Bento, no Império ou na Ronda, tomar ao fim da tarde um gin tónico na esplanada do Pelicano ou jantar no Solar dos Dez.

Havia transporte do Exército mas, por conveniência, de vez em quando fazíamos a viagem de autocarro, com a população local, e, para mim, era uma viagem deliciosa não obstante os odores e a gritaria que tinha de suportar.

Um belo dia, durante o trajeto, o autocarro, com portas automáticas, apinhado, parou para entradas e saídas. Empurrão daqui, empurrão dali, o pessoal lá se foi ajustando no espaço disponível. Contudo, no arranque, um guineense ficou com o corpo de fora e as pernas para dentro da porta traseira do autocarro o que gerou alarme imediato com a pronta imobilização da viatura. Tornou a tentar entrar no autocarro e, quando ia a subir, a porta fechou-se novamente e, no arranque, logo abortado, ficou com a cabeça dentro do autocarro e as pernas de fora. Finalmente lá conseguiu entrar totalmente dentro do autocarro e, com toda a gente a rir incluindo o próprio, lá seguimos viagem.

Uma situação que, na Metrópole, daria ensejo a forte discussão foi ali um momento de boa disposição.

Adidos: momento de descontração

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14 - ILONDÉ

Após alguns dias passados nos Adidos fomos para o Ilondé, aquartelamento situado entre Bissalanca e Quinhamel, que apenas possuía dois edifícios que serviam para a instalação do comando do Batalhão e das Companhias, secretarias, depósito de géneros e de armamento e um pequeno bar que servia à porta. Aliás, naquele local ia ser construído um novo aquartelamento cuja obra teve início mas duvido que tenha sido terminada.

O pessoal ficou instalado em tendas de campanha. Não havia latrinas nem banho. Para obviar ao problema foram cavados alguns metros de trincheira para onde a rapaziada defecava diretamente. A questão dos banhos era solucionada no rio que passava próximo, com grande dificuldade para os que não queriam tomar banho diretamente no rio, pois era preciso esperar que o latão enterrado na margem enchesse e, depois, com meia cabaça proceder à molha, ensaboamento e retirada do sabonete (Lifebuoy), situação semelhante à vivida em Colibuia só que agora com mais gente. As nativas que lavavam a roupa em local próximo passavam o tempo do nosso banho na risota, fazendo entre si comentários em crioulo que não percebíamos mas facilmente adivinhávamos.

Mas, o pior sucedeu após alguns dias naquela situação pelo facto de, com o vento, o papel higiénico utilizado andar a voar por todo o acampamento, situação que deu lugar à formação na parada das forças acampadas perante as quais foi feito um discurso tardio sobre a forma de resolver o problema, que passava pela utilização de uma pá de areia de cada vez que se usava a latrina improvisada. Não sei se saiu à ordem qualquer orientação sobre o assunto mas, se saiu, gostaria de saber os termos em que foi feita.
Ilondé: a minha tabanca (e de mais 7). O Caetano e eu (em pé)

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15 - DESENRASCANÇO

Com o pessoal instalado em tendas de campanha começou, logo no primeiro dia, a procura por melhores condições de vida dentro das circunstâncias que incluiam a inexistência de latrinas e banhos.

As tendas foram sendo abertas na parte de tràs, junto ao arame, e com ajuda da vegetação existente formava-se um acrescento significativo (atrasado) da tenda que servia de sala de estar e de comer (não havia refeitório).

Com madeira aproveitada faziam-se mesas e pequenos armários para guardar os utensílios de necessidade constante.

O pessoal mais apto para a área comercial construiu uma pequena estrutura coberta com capim, onde era servido café instantâneo e se lia o jornal com alguns dias de atraso.

Alguns dias passados, apareceu um jogo de matraquilhos, instalado ao ar livre, que constituia receita da Companhia e cujo montante foi progressivamente minguando, embora o pessoal jogasse mais ou menos o mesmo.

Entretanto, com a resolução do problema das latrinas e dos banhos, o pessoal partiu para um estádio superior de conforto tendo-se dedicado afanosamente a melhorar as suas condições de vida das formas mais diversas.

Porém, a cereja no topo do bolo era a cadeira de baloiço feita de um barril de vinho.

Ilondé: a minha tabanca (e de mais 7), a mesa exterior e as cadeiras de baloiço. Da esquerda para a direita: o Pinto, o Chaves, o Caetano, o Mendes e o Domingos (à civil)
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21858: Memórias de José João Braga Domingos, ex-Fur Mil Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516/73 (4): "O Machado"; "O Tiago e a pena" e "Viagem para Bissau"

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20321: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (15): Mudança para Quinhamel

1. Em mensagem do dia 24 de Julho de 2019, o nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) fala-nos do "Reguila", o 1.º Cabo Cordeiro do 3. Pelotão da 2520.


RECORDAÇÕES DA CART 2520

MUDANÇA PARA QUINHAMEL

Doze meses são passados sobre a permanência da CART 2520 no Xime. É chegada a hora da abalada para Quinhamel.

Enquanto a CART 2520 esteve sediada no Xime, houve dois pelotões que estiveram fora da zona operacional da Companhia; o 3.º pelotão fez o treino operacional em Mansambo e o 4.º pelotão actuou em Galomaro por cerca de quatro meses.

O destacamento da Ponte do Udunduma, localizado entre o Xime e Bambadinca também esteve à guarda da CART 2520, bem como o destacamento do Enxalé, situado na margem direita do Geba a cerca de dois quilómetros do Xime. As tabancas de Amedalai, Taibatá e Dembataco que estavam em auto-defesa também tiveram a protecção da CART 2520.

Foi um ano de grande actividade operacional para CART 2520 com um sem número de operações militares no mato, de montagem de emboscadas e de patrulhamentos ao longo dos diversos trilhos e picadas existentes na zona. Foram montadas dezenas de seguranças aos barcos que navegavam pelo rio Geba e um elevado número de colunas do Xime a Bambadinca e também algumas deslocações a Bafatá para a compra de mantimentos, nomeadamente algum gado vacum. Estas deslocações a Bafatá também serviam para descontrair e aliviar algumas tensões acumuladas. A estrada entre Bambadinca a Bafatá já era alcatroada.

Assim que souberam que a mudança ia acontecer, os "músicos" da Companhia fizeram uma canção dedicada a Quinhamel baseada numa música do Duo Ouro Negro e que versava ou rimava mais ou menos assim:

Dizem que vou pra Quinhamel
Uma praia bonita pra me banhar
Pra Quinhamel pra Quinhamel
Pra Quinhamel eu vou lá ficar

Pra Quinhamel pra Quinhamel
Pra Quinhamel eu vou lá ficar
E à noitinha quando o sol se pôr
Do Pelicano ou do Grande Hotel eu vou voltar

 Preparando a recepção aos periquitos

Rio Geba - Adeus Xime

Mas, quando chegados a Quinhamel os operacionais foram apanhados por algumas surpresas. Os pelotões seriam dispersos por vários destacamentos; Biombo, Ilondé, Ome e Safim. Só um pelotão e mais alguns atiradores é que tiveram o privilégio de permanecer o tempo restante da comissão em Quinhamel, além dos elementos da chamada Formação, condutores, mecânicos e outras especialidades.

Safim coube ao 3.º pelotão e lá vamos nós, nem tivemos tempo de saborear o belo clima e a praia de Quinhamel. Chegados a Safim ainda havia outra surpresa, um pequeno destacamento que dava pelo nome de João Landim situado na margem esquerda do rio Mansoa. O comando deste sub-destacamento era feito por um furriel, a nível de secção.
Mal tínhamos postos os pés em Safim e sabendo da necessidade de avançar com uma secção para outro destino, o alferes Marques diz-me:
- Nascimento, vais tu - depositando em mim a sua confiança.
- Só vou com voluntários - respondi-lhe.

De seguida perguntei quem queria ir comigo para o desconhecido. Avançaram os elementos necessários, pouco depois estávamos a caminho.

E assim eis-nos chegados a João Landim à beira do Rio Mansoa plantado.

 João Landim depois de uma tempestade - Junho/Julho de 1970

 João Landim - Jangada no Rio Mansoa - Foto obtida em plena noite com o flash de um relâmpago

João Landim - Junho/Julho de 1970 - Visto do Rio Mansoa

Era composto por um barracão onde nós militares do 3.º pelotão da CART 2520 havíamos de permanecer e por um outro barracão onde "moravam" os militares da Engenharia e da Marinha, responsáveis pela manobra e cambança das duas jangadas que operavam entre margens do Mansoa, para o transporte de viaturas militares e civis, bem como de população.

Aqui permaneci nos meses de Junho e Julho de 1970. Ao escurecer era posto a funcionar um pequeno gerador que nos iluminava durante a noite, mas o seu barulho era de tal forma infernal, que passado quase meio século, parece que ainda ouço o seu roncar dentro da minha cabeça.
A casa de banho era composta por uma estrutura de madeira, com um ou dois bidons no seu cimo, que diariamente os elementos vindos de Safim os abasteciam de água potável, também nos traziam as nossas refeições, que para não variar quase sempre chegavam fora do horário que seria normal para o almoço ou para o jantar. Para as necessidades fisiológicas, existia uma pequena estrutura de madeira já meio apodrecida. Quando a maré do Mansoa subia, as águas do rio exerciam as funções de estação de tratamentos. Curiosamente, a algumas dezenas de quilómetros da foz, a água aqui era salgada, que quando a maré enchia, quase nos entrava pelo barracão adentro.

Apesar das enormes dificuldades foi um aliviar de tensões e uma fuga ao perigo constante que representou a nossa estada no Xime. A noite é que era passada com alguma apreensão devido às precárias condições e ao reduzido número de militares para fazermos a nossa própria segurança.
Durante o dia controlávamos as viaturas, tanto civis como militares, que atravessavam de uma margem para outra do rio, fazendo o registo em folhas de papel próprias.
A permanência em João Landim também permitiu que algumas vezes embarcasse no "machimbombo" que vinha de Teixeira Pinto ou de Bula com destino a Bissau. Aproveitava para ter um almoço diferente do que era habitual (bianda com bianda) e para fazer umas compras de pequenas recordações que traria até à Metrópole quando em Agosto de 1970 vim abraçar os meus familiares. Terminava a minha pequena aventura em João Landim, para lá não voltaria mais.

Em João Landim recordo um pequeno episódio, quando o militar que estava de controle chegou ao pé de mim e me disse que havia um nativo que ia para Bissau e não tinha documento de transporte de alguns produtos hortícolas que levava para venda e me perguntou o que havia de fazer. Eu respondi-lhe para o deixar seguir. Passados alguns minutos, para surpresa minha apareceu-me o militar com um ananás como gratidão, oferecido pelo nativo. Soube a pouco.

Para todos os camaradas da Tabanca Grande aqui vai um grande abraço.
José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20020: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (14): "O Reguila"

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19279: (Ex)citações (347): Os problemas do PAIGC na logística de saúde em 1965, na frente norte, tempo em que a CCAÇ 675 ali se encontrava em quadrícula (José Eduardo Oliveira)

1. Em mensagem do dia 8 de Dezembro de 2018, o nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO) (ex-Fur Mil Enf.º da CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), enviou-nos uma mensagem a propósito dos "Problemas do PAIGC na logística de saúde em 1965", altura em que a CCAÇ 675 se encontrava em quadrícula na frente norte da Guiné.


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE

OS PROBLEMAS DO PAIGC NA LOGÍSTICA DE SAÚDE EM 1965 (P19224)

ENTRE A LUCIDEZ E O DESESPERO DE LOURENÇO GOMES, RESPONSÁVEL PELA ÁREA DA SAÚDE NA FRENTE NORTE

O tema é de facto do meu tempo e da “frente” Norte da Guiné - a “minha” CCAÇ 675 esteve, entre Maio de 1964 e Abril de 1966, numa “quadrícula” com sede em Binta (a 20 kms. da sede do Batalhão em Farim).

E como Furriel Enfermeiro passei por muita coisa. Na guerra do “mato” e na paz do quartel.

Começo pelo meu conhecimento directo com a população nativa que vivia em Binta e em Guidage, que também pertencia à “minha” quadrícula.
Na nossa enfermaria de Binta tratámos alguns doentes com lepra, elefantíase, matacanha, malária, etc.
Refiro-me a “clientes” da população nativa porque no que respeita a militares o que mais tivemos foram casos de paludismo.

E apanhámos uma terrível epidemia de sarampo que matou dezenas de crianças da população civil em apenas um mês.
Também havia algum “folclore” nativo de doentes habituais da nossa enfermaria que se queixavam de “toco-toco”, para engolirem umas saborosas colheres de xarope para a tosse.

Os casos que atrás refiro dizem respeito a Binta.

Também me calharam algumas “estadias” em Guidage e confesso que as longas filas vindas de “pessoal” do Senegal ainda me estão na memória pelo sofrimento e desesperança daquela gente, que procurava junto da tropa alguma ajuda para as suas enfermidades. Lembro-me especialmente das mulheres, sempre carregadas de crianças famintas e esqueléticas!
A nossa vitória foi no segundo ano de comissão em que conseguimos recuperar população e “fazer” uma aldeia modelo, que chegou a ter mil habitantes.
Essa memória consta do meu livro “GOLPES DE MÃO´s”, editado em Abril de 2009.

E é tempo de referir os problemas do PAIGC na logística de saúde em 1965 entre a lucidez e o desespero de Lourenço Gomes, responsável pela área da saúde na frente Norte.

Obviamente que os desconhecia à época mas deviam ser tremendos para “efectivos” que viviam na “clandestinidade”.
Se em estudos recentes a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que há menos de cinco médicos para cada grupo de 100 000 habitantes no país …as percentagens para os tempos de Lourenço Gomes deveriam ser negativas, para não dizer que seriam “abaixo de zero” !!!!

Os casos de malária afectam cerca de 9% da população.
A esperança de vida ao nascer vem crescendo desde 1990, mas continua a ser baixa. De acordo com a OMS, a esperança de vida para uma criança nascida em 2008 era de 49 anos. Apesar da redução de casos em países vizinhos, taxas de cólera foram notificadas em novembro de 2012, com 1500 casos apresentados e 9 mortes. Uma epidemia de cólera em 2008 na Guiné-Bissau afetou 14.222 pessoas e matou outras 225.

Em junho de 2011, o Fundo de População das Nações Unidas divulgou um relatório sobre o estado da obstetrícia do mundo, contendo dados sobre a força de trabalho e as políticas relacionadas com a mortalidade neonatal e materna em 58 países. Neste relatório foi apresentado que, em 2010, a taxa de mortalidade materna a cada 100.000 nascidos é de 1000 na Guiné-Bissau.

Por maior que fosse a lucidez de Lourenço Gomes em relação aos problemas do PAIGC na logística de saúde em 1965 o seu desespero deveria andar próximo dos 100% !

Grande abraço e até uma próxima.
José Eduardo Reis de Oliveira
JERO

PS. Natal Feliz e Haja Saúde.
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19273: (Ex)citações (346): Frases politicamente (in)corretas de um dos bravos dos céus do CTIG, o ex-ten pilav António Martins de Matos (BA 12, Bissalanca, 1972-74) - Parte II -Tenho saudades do meu Caco Baldé

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19011: Álbum fotográfico de Adolfo Cruz, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796 (Gadamael e Quinhamel, 1970/72) - Parte IV




1. Parte IV, e última, da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Adolfo Cruz (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796, Gadamael e Quinhamel, 1970-1972) com as fotos enviadas em mensagem do dia 21 de Julho de 2018, que retratam alguns dos momentos mais significativos da sua passagem por terras da Guiné.





Foto 25

Foto 26

Foto 27

Foto 28

Foto 29

Foto 30

Foto 31

Foto 32

Foto 33

Foto 34

Fotos 25 a 34 - População local, especialmente balantas


Em Setembro de 1972 deixámos os destacamentos, rumo a Bissau – COMBIS, para aguardarmos o prometido voo da TAP, rumo a Lisboa, o que aconteceu, apenas, em 5 de Outubro de 1972.
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Nota do editor

Vd. postes de:

30 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18964: Álbum fotográfico de Adolfo Cruz, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796 (Gadamael e Quinhamel, 1970/72) - Parte I

6 DE SETEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18991: Álbum fotográfico de Adolfo Cruz, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796 (Gadamael e Quinhamel, 1970/72) - Parte II
e
11 DE SETEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P19005: Álbum fotográfico de Adolfo Cruz, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796 (Gadamael e Quinhamel, 1970/72) - Parte III