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quarta-feira, 25 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10192: Fauna & Flora (30): Cobra de papo, de veneno altamente tóxico, hemorrágico, comparável ao da cascavel da América..


Cobra-de-papo - Dispholidus typus Smith (Família Colubridae - Opisthoglypha)


Imagem à direita: Aguarela do pintor português Silva Lino (1911-1984)

Mais uma serpente que existia na Guiné, no nosso tempo, e que foi descrita pelo naturalista português  Fernando Frade e a sua equipa (*):



(i) Serpente robusta e alongada (comprimento: até 175 cm), coberta de escamas carenadas, com a cabeça relativamente curta e a cauda comprida;

(ii) Olhos grandes, com pupila redonda; coloração variando desde o verde ao castanho e ao negro, por cima, e do cinzento ao amarelo, por baixo, com as escamas rebordadas de preto;

(iii) Por vezes confundível com outra serpente verde, também arborícola mas inofensiva: Philothamnus irregularis.[, que também existe na Guiné]: 


(iv) Dentadura opistogllfodonte, constituída por dentes sulcados, situados na parte anterior do maxilar e precedidos de dentes normais;

(v) Sinais da mordedura: três pares de perfurações dilatadas, inoculadoras, precedidas de perfurações menores, o conjunto envolvendo duas séries de picadas finas que correspondem aos dentes palatino-pterlgóldes;

(vi) Veneno altamente tóxico, hemorrágico, comparável ao das «cobras cascavel» da América;

(vii) Costumes: Espécie arborícola, muito ágil e tímida; quando excitada insufla de ar os brônquios e os pulmões, aumentando consideràvelmente de volume, por vezes, em forma de papo, a parte anterior do corpo, reacção que deve servir de aviso, antes da agressão;

(viii) Reprodução de Outubro a Dezembro, por oviparidade (uma a duas dúzias de ovos).

(ix) Alimento: Principalmente camaleões, outros sáurios, aves e ovos, e mesmo indivíduos da sua própria espécie;

(x) Distribuição geográfica: África Tropical e Meridional; na África lusófona,  tem sido encontrada na Guiné, em Angola e Moçambique.

Fonte: Adapt. do portal Triplov > Serpentes do ultramar português

Referência bibliográfica: FRADE, Fernando - Serpentes do Ultramar Português. Garcia de Orta. Lisboa; 1955; III (4), pp. 547-553. Em colab. com Sara Manaças. Legendas e notas de aguarelas de Silva Lino.

[Reproduzido com a devida vénia]

 Vd. Google > Imagens > Dispholidus typus Smith (em inglês, também conhecida como "boomslang"; 

não parece ser uma espécie ameaçada)

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Nota do editor:

Ver poste anterior da série > 18 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10166: Fauna & Flora (28): A Mamba-verde, particulamente temida pelos recolectores de chabéu ...



domingo, 22 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10179: Historiografia da presença portuguesa em África (43): Missão zoológica na Guiné, 1944/46, chefiada pelo naturalista Fernando Frade (1898-1983) (Parte II)










Fonte: Cortesia do sítio Triplov > Missão Zoológica na Guiné: Fernando Frade, Amélia Bacelar e Bernardo Gonçalves

(Continuação do poste sobre a Missão Zoológica na Guiné - II e última parte) (*)



3. Publicações de Fernando Frade relacionadas com o ultramar português, em geral, e a Guiné, em particular (seleção de L.G.)

Em 1968, o prof Fernando Frade (1898-1983) fez 70 anos e foi jubilado. Em 1973, foi-lhe feita uma homenagem pública e é publicada a lista (impressionante) dos seus trabalhos. Repare-se que este homem e este português publicou ininterruptamente desde 1922 a 1980, três anos antes de morrer... À boa maneira do seu tempo, era um naturalista que se interessava por tudo, tendo estudado desde os peixes (o atum algarvio, por exemplo) aos grandes mamíferos, como os elefantes de Angola e de Moçambique... O seu último artigo, de 1980, foi justamente sobre os mamíferos da Guiné. É, por um lado, um naturalista já com preocupações ecológicas, "avant la lettre". Não se limita a estudar a fauna, tem preocupações conservacionistas e ambientais. Julgo que o seu nome deve ser conhecido pelos camaradas e amigos da Guiné. Além disso, a sua missão zoológica andou por muitos sítios nossos conhecidos. Apesar da sua fraca qualidade, reproduzimos aqui mais algumas fotos do relatório da missão (1946), tendo como fonte o portal Triplov, a quem agradecemos a gentileza.

 (i) Lista de  trabalhos  sobre a fauna da  Guiné:


FRADE, F. (1945) - Ofídeos da Guiné. In: F. Azevedo, F.Cambournac e Manuel Pinto: Observações sobre ofídeos, etc.. An. Inst. Medic. Tropical, II, Lisboa.
FRADE, F. (1945) - A doença do sono na Guiné em 1944 e observações sobre ofídios, culicídeos e Phlebotomus por J. Fraga de Azevedo, F.J.C. Cambournac e Manuel R. Pinto. Ann. Inst. Medicina Tropical, II: 7-47. Insecta. Medicina.
FRADE, Fernando (1946) - Aves. In: Nomes de Vertebrados da Guiné Portuguesa. Anais da Junta de Investigações Coloniais, I, Lisboa.
FRADE, Fernando (1946) - Esboço ecológico da fauna da Guiné Portuguesa. Anais da Junta de Investigações Coloniais, I, Lisboa. Com Amélia Bacelar e B. Gonçalves. 
FRADE, Fernando (1946) - A fauna da Colónia da Guiné Portuguesa e a Convenção Internacional de Protecção à Fauna. Anais da Junta de Investigações Coloniais, I, Lisboa. Protecção.
FRADE, Fernando (1946) - Mamíferos. In: Nomes de Vertebrados da Guiné Portuguesa. Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa.
FRADE, F. (1946) - Batráquios e Répteis in Nome de Vertebrados da Guiné Portuguesa. Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. I. Lisboa, 1946
FRADE, F. Amélia Bacelar & Bernardo Gonçalves (1946) - Relatório da missão zoológica e contribuições para o conhecimento da fauna da Guiné Portuguesa. Separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. I. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné (1-5): 259-416. Fernando Frade. Guiné-Bissau. Zoologia.
FRADE, F. Amélia Bacelar & Bernardo Gonçalves (1947) - Pescarias da Guiné Portuguesa. Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. I. Lisboa, 1946 (1947). Pescas.
FRADE, F. (1947) - Peixes in Nome de Vertebrados da Guiné Portuguesa. Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. I. Lisboa, 1946 (1947).
FRADE, Fernando (1948) - Escorpiões, Solífugos e Pedipalpos da Guiné Portuguesa. Separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. III, Tomo IV. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné (10): 5-18. Fernando Frade. Guiné-Bissau. Zoologia. Scorpiones. Solifuga. F. Newton. Leonardo Fea. Ananteroides feae Borelli - Caconda junto do rio Cacine, localidade de Leonardo Fea. Não coligida por Frade. Coligida por Monard em Madina do Boé. Resumo em Conf. Int. Afr. Ocident. (CIAO), Bissau, 1947. III, 2ª parte, 1951.
FRADE, Fernando (1949) - Considerações acerca da distribuição da fauna na Guiné Portuguesa. Separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. IV, Tomo IV. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné (13): 9-16. Fernando Frade. Guiné-Bissau. Zoologia. Fauna.
FRADE, Fernando (1949) - Algumas novidades para a fauna da Guiné Portuguesa. Separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. IV, Tomo IV. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné (22): 165-208, estampas I-VI. Fernando Frade. Guiné-Bissau. Zoologia. Fauna. Aves. Mammalia.
FRADE, Fernando (1950) - A propósito da Fauna da Guiné. Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, 20: 563-581. Bissau.
FRADE, Fernando (1950) - Notas de zoogeografia e de história das explorações faunísticas da Guiné Portuguesa. Estudos, Ensaios e Documentos, VIII. Junta de Investigações Coloniais, Lisboa. Refere José de Anchieta como colector na Guiné-Bissau.
FRADE, Fernando (1950) - Estudos de pescarias do Ultramar Português. Os atuns. Colóquios Junta Inv. Coloniais, Lisboa. 1950. Pisces.
FRADE, Fernando (1950) - Notas de zoogeografia e de história das explorações faunísticas da Guiné Portuguesa. Junta de Investigações Coloniais, Lisboa. Estudos, Ensaios e Documentos, 8: 32 pp., fotos. Guiné-Bissau. F. Newton (1898). Leonardo Fea (1899-1900).
FRADE, Fernando (1951) - Escorpiões, Solífugos e Pedipalpos da Guiné Portuguesa. Separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. III, Tomo IV. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné (10): 5-18, 1948. Resumo em Conf. Int. Afr. Ocident. (CIAO), Bissau, 1947. III, 2ª parte, 1951.
FRADE, F. (1954) - Investigação para o melhoramento da pesca indígena nas águas interiores da Guiné Portuguesa. Bol. Cult. da Guiné Port., 36, 1954. Em colab. com F. Correia da Costa e J. Gonçalves Sanches. Pescas.
FRADE, F. (1954) - Possibilidades de melhoramento da pesca indígena nas águas interiores da Guiné Portuguesa. Resumo do anterior. Anais da Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa.
FRADE, F. (1954) - Aves do Ultramar Português, I. Aguarelas de Silva Lino. Anais da Junta de Investigações do Ultramar, II (3), Lisboa.
FRADE, F. (1954) - Aves do Ultramar Português, II. Aguarelas de Silva Lino. Anais da Junta de Investigações do Ultramar, II (3), Lisboa.
FRADE, F. (1954) - A propósito de prospecções piscatórias nos mares de cabo Verde e da Guiné. Garcia de Orta, Junta Invest. Ultr., Lisboa.
FRADE, F. & BACELAR, Am. (1955) - Catálogo das aves da Guiné Portuguesa. I - Non Passeres. Lisboa. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné e do Centro de Zoologia, 44, Lisboa, 1957 .
FRADE, F., & BACELAR, Amélia (1955) - Catálogo das aves da Guiné Portuguesa. Junta das Missões Geográficas e de Investigação Coloniais, Lisboa. Anais, Vol. X, Tomo IV, fasc. II. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné e do Centro de Zoologia (44): 7-194, fotos. Guiné-Bissau. Ornitologia. Fernando Frade e Amélia Bacelar. Leonardo Fea: Farim, Bolama, Cacine em 1899-1900. Francisco Newton e José de Anchieta.
FRADE, F., F. Correia da Costa & J. Gonçalves Sanches (1955) - Possibilidades de melhoramento da pesca indígena nas águas interiores da Guiné Portuguesa. Junta das Missões Geográficas e de Investigação Coloniais, Lisboa. Anais, Vol. X, Tomo IV, fasc. I. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné e do Centro de Zoologia (41): 165-178, fotos. Guiné-Bissau. Pesca.
FRADE, F. (1955) - A propósito de prospecções piscatórias nos mares de Cabo Verde e da Guiné. Junta das Missões Geográficas e de Investigação Coloniais, Lisboa. Anais, Vol. X, Tomo IV, fasc. I. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné e do Centro de Zoologia (42): 179-183. Guiné-Bissau. Pesca.
FRADE, F., & BACELAR, Amélia (1959) - Catálogo das aves da Guiné Portuguesa. II - Passeres. Junta das Missões Geográficas e de Investigação Coloniais, Lisboa. Memórias da Junta de Investigações do Ultramar, 7. Guiné-Bissau. Ornitologia. Fernando Frade e Amélia Bacelar.
FRADE, Fernando (1980) - Mamíferos da Guiné (colecção do Centro de Zoologia).  Garcia de Orta, Sér. Zoologia., 9 (1-2): 1-12.

(ii) Há outros, inúmeros, trabalhos sobre a fauna dos territórios do ultramar português, incluindo a Guiné, que seria fastidioso listar aqui..

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Nota do editor:

Vd. poste anterior da série > 20 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10175: Historiografia da presença portuguesa em África (42): Missão zoológica na Guiné, 1944/46, chefiada pelo naturalista Fernando Frade (1898-1983) (Parte I)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10175: Historiografia da presença portuguesa em África (42): Missão zoológica na Guiné, 1944/46, chefiada pelo naturalista Fernando Frade (1898-1983) (Parte I)





1.  Chefiada por Fernando Frade, a Missão Zoológica da Guiné decorre entre dezembro de 1944 e maio de 1946. Nesse período a que corresponderam cerca de 300 dias de trabalho de campo, a equipa deu um importante contributo para o conhecimento da fauna terrestre e marítimo-fluvial da província. Andou por sítios que muitos de nós conhecemos como a ilha de Bissau, Enxalé, Cuor, Bambadinca, Bafatá, Contuboel, Xitole,  Buba, Catió, Cacine, Piche, Madina do Boé... 

Um primeiro relatório, com 5 partes, é logo publicado em 1946, como separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais. Não tivemos ainda acesso a essa publicação, os excertos (texto e fotos) que aqui publicamos são possíveis graças à divulgação (e à cortesia) da página lusófona Triplov (leia-se: Triplo Vê), superiormente dirigida e animada por Maria Estela Guedes.


Escritora e crítica literária, Maria Estela Guedes (n. 1947), também bebeu, como nós, a "água do Geba": viveu na Guiné entre 1955 e 1966, para onde foi com os pais, emigrantes ( e sobre esse tempo, de que guarda uma viva e apaixonada memória, escreveu um livrinho de poesia, Chão de Papel, Lisboa: Apenas Livros Editora, 2009, 48 pp.)...


É também investigadora no Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL). O sítio (ou portal)  é dedicado a Ernesto de Sousa e é uma verdadeira caixa de surpresas, merecendo amiudadas e prolongadas visitas, já que os interesses científicos, estéticos e culturais de Maria Estela Guedes são tão vastos como o mundo e tão profundos como a vida, as artes, as ciências, o esoterismo. É diretora da revista digital TriploV de Artes, Religiões e Ciências.








FRADE, F. Amélia Bacelar, e Bernardo Gonçalves (1946) - Relatório da missão zoológica e contribuições para o conhecimento da fauna da Guiné Portuguesa. Separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. I. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné (1-5): 259-416. Fernando Frade. Guiné-Bissau. Zoologia.











A equipa era constituída por: (i) Fernando Frade (professor extraordinário da Faculdade de Ciências de Lisboa), (ii) Amélia Bacelar (naturalista do Museu Bocage) e (iii)  Bernardo Gonçalves (assistente investigador da JIC - Junta de Investigações Coloniais.

  






Fonte: Cortesia do sítio Triplov > Missão Zoológica na Guiné: Fernando Frade, Amélia Bacelar e Bernardo Gonçalves


2. Alguns notas biográficas sobre Fernando Frade Viegas da Costa (1898-1983), recolhidas por L.G.:



(i) Nasceu em Lisboa, em São Mamede, em 27 de abril, e morreu, também em Lisboa, em 15 de abril., à beira de completar os 85 anos;



(ii) Era casado com Amélia Vaz Duarte Bacelar (n. 1890), também sua companheira da aventura científica (integrou, por exemplo, a missão zoológica na Guiné);

(iii) Em 1924, por concurso, Fernando Frade é nomeado naturalista do Museu Bocage; nessa qualidade organizou os catálogos sistemáticos das Aves e dos Mamíferos existentes no Jardim Zoológico de Lisboa.



(iv) Em 1938  é eleito Vereador da Câmara Municipal de Lisboa, ao tempo do presidente Eduardo Rodrigues Carvalho (1930-44) que veio substituir o Duarte Pacheco (, nomeado ministro das Obras Públicas e Comunicações), e o nome ficará para sempre ligado  ao parque florestal de Monsanto.

(v) Chefiou várias missões científicas ao ultramar português;



(vi) Entre 1922 e 1980 publicou publicou centenas de artigos científicos ou de divulgação científica, capítulos de livros e livros, muitas vezes em colaboração  com a sua esposa, Amélia Bacelar;


(vii) Era um cientista da natureza, e sobretudo um zoológo, no sentido amplo em que a revista Garcia de Orta entende a Zoologia, abrangendo os seus diferentes ramos (Mamalogia, Ornitologia, Herpectologia, Ictiologia, Entomologia, Planctonologia, Helmintologia, etc.);


(viii) Foi muito importante o seu contributo para o conhecimento científico da fauna das antigas províncias ultramarinas portuguesas, com destaque para a Guiné, Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe.


(Continua)


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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de março de 2011 > Guiné 63/74 - P7925: Historiografia da presença portuguesa em África (41): A Carta de Chamada (A. Rosinha / A. Branquinho / C. Cordeiro / M. Joaquim / J. Amado / A. Guerreiro)

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10166: Fauna & Flora (28): A Mamba-verde, particulamente temida pelos recolectores de chabéu ...

Mamba-verde - Dendroaspis viridis Hallowvell  (Família Elapidae - Proteroglypha).


[Imagem à esquerda: Aguarela do pintor Silva Lino (1911-1984)]


Principais caraterísticas desta espécie de serpente (*):

(i) Serpente longa (comprimento: até 210 cm) e relativamente delgada, com a cabeça estreita, pescoço pouco distinto e cauda comprida, atilada;


(ii) Olhos pequenos, com pupila redonda; coloração verde-olivácea, por cima, e amarelada ou esverdeada na face ventral, com escamas e placas finamente debruadas de negro;

(iii) Dentes: dentadura proteroglifodonte: dentes inoculadores sulcados, erécteis mas não retrovertíveis, na parte anterior do maxilar, sem precedência de outros dentes;


(iv) Sinais da mordedura: três pares de perfurações dilatadas, inoculadoras, ladeando o extremo anterior de duas linhas de perfurações, mais finas, dos dentes normais palatino-pterigóides; 

(v) Veneno:  mortal, neurotóxico;

(vi) Costumes:  espécie arborícola, frequentando plantações de palmeiras, bananeiras, etc., muito agressiva, especialmente na época da reprodução, e, por isso, temida pelos nativos, que chegam a ser perseguidos;

(vii) Reprodução por oviparidade;

(viii) Alimento: aves e pequenos roedores;

(ix) Distribuição geográfica: desde o Senegal até à Costa do Marfim; encontra[va]-se com relativa frequência na [antiga] Guiné Portuguesa, hoje Guiné-Bissau; em São Tomé foi coligida por A. Moller (1885), mas não tornou a ser assinalada, nem encontrada durante as pesquisas recentes da Missão Científica; em Angola, encontram-se as espécies D. jamesoni e D.angusticeps, ao passo que em Moçambique existe apenas esta última. 



Fonte: Cortesia do sítio Triplov > Serpentes do ultramar português

Referência bibliográfica: FRADE, Fernando - Serpentes do Ultramar Português. Garcia de Orta. Lisboa; 1955; III (4), pp. 547-553. Em colab. com Sara Manaças. Legendas e notas de aguarelas de Silva Lino.

Vd. tambEm em Google >Imagens >Dendroaspis viridis Hallowvell [Nome comum em inglês:  Western Green Mamba]



2. Comentário de L.G.:

Ainda há dias, falando com um amigo e conterrâneo meu, L.R., antigo alf mil pil Al III, no TO da Guiné (1970/72), parece que era relativamente frequente o pedido de helievacuações para civis que faziam a recolha do chabéu, trepando às palmeiras, e se atiravam, instintivamente, para o chão, muitos metros abaixo, quando eram surpreendidos por uma mamba verde (n

ão confundir com a vulgar cobra verde, em inglês a smooth green snake, norteamericana, não venenosa)... 

De acordo com as observações da missão científica que estudou, em meados dos anos  40 do séc. XX, a fauna da Guiné (chefiada por essa grande figura de naturalista que foi o prof Fernando Frade, cuja vida e obra merece ser melhor conhecida pelos nossos leitores ), esta espécie - a mamba verde - abundava nos palmeirais e nas plantações de bananeiras, e era particularmente temida pelos "nativos" da Guiné, recolectores de chabéu [vd. imagem em baixo; cortesia do sítio Novas da Guiné-Bissau]...



Fui testemunha de um caso desses, numa ponta, em Contuboel, por volta de junho/julho de 1969... Na Guiné, chamávamos-lhe simplesmente a cobra verde ou cobra verde das palmeiras...

Claro que "os desgraçados chegavam todos partidos ao hospital de Bissau", acrescentava o L.R., o meu amigo e conterrâneo, piloto da FAP...
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Nota do editor:

 Último poste de 10 de julho de 2012 > Guiné-Bissau - P10138: Fauna & Flora (27): A cobra cuspideira (de seu nome científico Naja nigricollis Reinhardt)

terça-feira, 10 de julho de 2012

Guiné-Bissau - P10138: Fauna & Flora (27): A cobra cuspideira (de seu nome científico Naja nigricollis Reinhardt)

 



A cobra cuspideira, aguarela do pintor português, naturalista, [António] Silva Lino (1911-1984), autor de "Serpentes do Ultramar Português". In: Garcia da Orta - Vol.III, nº 4 (1955), pp. 547-553.


1. Em complemento do poste P10135, da autoria do nosso camarada Augusto S. Santos, 9 de julho de 2012... E para exorcizar a nossa, dos primatas, em geral, e dos hominídeos, em particular, tradicional ofiofobia (medo patológico de serpentes)...

Aqui vão algumas características da cobra cuspideira (nome científico Naja nigricollis Reinhardt, 1843):

(i) Serpente muito robusta, alongada (comprimento: até 220 cm), de cauda comprida;  


(ii) podendo alargar o pescoço, em «capelo», sob a ação das costelas cervicais;

(iii) coloração geral variável: por cima negra, castanha ou olivácea e, por baixo, negra com ou sem faixas transversais amareladas ou róseas;

(iv) dentadura proteroglifodonte: dentes inoculadores sulcados, erécteis, mas não retroversáteis e situando-se na parte anterior do maxilar, sem outros dentes neste osso; 

(v) sinais da mordedura: dois pares de perfurações dilatadas, inoculadoras, ladeando duas filas de picadas, mais finas, dos dentes normais palatino-pterigóides;

(vi) a configuração do sulco dentário e a sua abertura permitem o lançamento do veneno a distância considerável;

(vii) veneno mortal, altamente neurotóxico; quando projetado e atingindo os olhos, produz ulcerações graves;

(viii) habita as regiões de savana,  de preferência às de floresta, manifestando maior atividade noturna;

(ix) é muito perigosa pela sua agressividade, a qual se manifesta, primeiro, pelo erguer da cabeça e parte anterior do corpo, com expansão do «capelo», seguido ou não de lançamento do veneno à distância de alguns metros e, depois, pela perseguição e ataque violento;


(x) reprodução por oviparidade.

(xi) alimentação: principalmente, batráquios.

(xii) distribuição geográfiva: África Intertropical, desde a Mauritânia ao Natal; encontra-se na Guiné-Bissau, em Angola e em Moçambique, donde foi descrita a var. mossambica.


Fonte: Cortesia do sítio Triplov > Serpentes do ultramar português: reprodução de aguarelas do pintor Silva Lino; anotações de Fernando Frade e Sara Manaças. "Garcia da Orta", Lisboa, vol.III, nº 4 (1955), pp. 547-553.  

Triplov é também o sítio da revista (digital) TriploV de Artes, Religiões e Ciências, dirigida por Maria Estela Guedes (n. 1947, Britiande, Lamego), que viveu na Guiné entre 1955 e 1966, poeta, escritora e ensaísta, sendo investigadora no Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa.









Capa da separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais [JIC], Vol 1, Lisboa, 1946, contendo o "Relatório da missão zoológica e contribuições para o conhecimento da fauna da Guiné Portuguesa", por Fernando Frade (professor extraordinário da Faculdade de Ciências de Lisboa), com a colaboração de Amélia Bacelar (naturalista do Museu Bocage) e Bernardo Gonçalves (assistente investigador da JIC). Cortesia de Tripov > Fernando Frade > Missão zoológica da Guiné.

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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4786: Fauna & Flora (26): Make Love, Not War, ou as cobras que morreram na guerra a fazer amor (Rui Silva)