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quinta-feira, 27 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26621: Timor-Leste: passado e presente (31): demografia da primeira metade do séc. XX


 
Timor > c. 1936/40 > Álbum Fontoura, foto nº 17099 > Bacau ou "Vila Salazar > O governador maj inf Álvaro Fontoura  (set 1936 - mai 1940) é conhecido pela sua "ação civilizadora e colonizadora", a par do "culto da personalidade de Salazar".

Álbum Fontoura : Fotos do Arquivo de História Social > Álbum Fontoura. Imagem do domínio público.


1. Às voltas com a historiografia da presença portuguesa em Timor-Leste (*), recolhemos alguns dados sobre a demografia da primeira metade do séc. XX.


Em 1940, por exemplo, o território teria 463 996 habitantes (245 338 homens, e 218 658 mulheres) assim distribuidos: 

  • Brancos >  359
  • Mistos >  689
  • Negros, indianos e amarelos > 2844
  • Indígenas negros e malaios  > 460 104
Total= 1 463 996

As categorias de classificação usadas eram as da época...O conceito de "raça" (humana) hoje foi posto de parte.

Os "brancos" eram os funcionários,  civis e militares (metropolitanos, indianos, macaenses e africanos).

Em 1927 havia 80 deportados que se integraram na vida da ilha, exercendo os mais diversos ofícios. 

Em 1931 havia a distinção entre deportados "sociais" e "politicos". Os primeiros eram "criminosos de delito comum", os segundos eram responsáveis de ações violentas contra a República e, depois do 28 de maio de 1927, contra a "ditadura militar" Parte destes deportados  eram acusados de pertencer a controversa  "Legião Vermelha" (1919-1925).

A política do governador Teófilo Duarte, por volta de 1928, foi os do "integrar" na comunidade local.

Entre os deportados "sociais" havia também um pequeno grupo de chineses de Macau.

Em 1927 um levantamento demográfico apontava para 431 604 o número total de  habitantes, dos quais 389 eram "brancos". 

Em 1930, os "brancos" seriam apenas 368 num total de 472 221 habitantes  (249 257 homens e 222 963 mulheres). 

Convira referir que estes dados não são seguros. Há mudanças nas categorias de classificação comparações.   Em 1911 os timorenses eram considerados "mestiços". A população, em 1911, seria a seguinte:

  • Brancos > 230
  • Pretos >  297
  • Mestiços > 376 380
  • Amarelos > 806
  • Asiáticos > 102
Total = 377 815


Em 1920 os "timorenses" já eram "malaios": 392 518. Os  "brancos" não passavam dos 250. Total= 394 518.

Há uma quebra demográfica nos anos 30. Razões apontadas:
  • Surto de gripe (1932);
  • Grandes temporais (1938);
  • Outros factores  (incluindo deficiente recolha de dados) (Figueiredo, 2003, pág. 555).

Nesta época ficou sem efeito a tentativa de fixar pelo menos 500 famílias, de origem metropolitano (com "direito a médico, professor e missionário", mais isenções fiscais durante 10 anos).

Durante a República não havia, em teoria, na lei, trabalho forçado... Na prática, as coisas eram em diferentes.

 E destacar, entre os governadores desta época, além do ten Teófilo Duarte (1898-1958) (no período de set 1926 a dez 1928) , o major inf Álvaro Fontoura (1891-1075), no período de set1937 a mai 1940.

Fonte: Fernando Figueiredo, "Timor (1910-1955), in: "História dos Portugueses no Extremo Oriente", 4º volume: Macau e Timor no Período Republicano", dir. A. H. de Oliveira Marques, Lisboa: Fundação Oriente, 2003, pp. 521-575.

2. Depois da II Guerra Mundial, depois da invasão e ocupação japonesas do território,entre fevereiro de 1942 e setembro de 1945, em que terão morrido 40 mil a 70 mil timorenses (por todas as causas),  a população terá regredido para os 416,7 mil (em 1951).  

Segundo o censo de 2010, a população do novo país da CPLP ultrapassava já então o milhão de habitantes.

A maioria da população é de origem malaio-polinésia e papua, havendo minorias de chineses, árabes e europeus.Mais de 90% diz-se católica.

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Nota do editor LG:

segunda-feira, 24 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26611: Notas de leitura (1783): "Futuros Criativos"; edição da Associação para a Cooperação Entre os Povos, Fundação Portugal-África e Instituto Camões, 2019 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Dezembro de 2023:

Queridos amigos,
Aconteceu andar a passear pelo Campo dos Mártires da Pátria e resolvi entrar no Goethe-Institut, aqui se promove a língua e cultura alemãs, tem permanentemente livros em saldo, dirigi-me em primeiro lugar à biblioteca, se tinha vindo alguma coisa sobre a Guiné-Bissau, que não, mas lembrava-se que havia ali uns expositores de livros em segunda-mão qualquer coisa que falava da Guiné-Bissau. Matei a barriga de misérias, encontrei um cd com os concertos de flauta de Georg Philipp Telemann, interpretações prodigiosas, livros de fotografia e, cá está, este Futuros Criativos que me encheram a alma, naquele dia em que vinham notícias tão sombrias de uma terra que tanto amo, e aqui fica esta minha homenagem àquele povo que não desfalece com sucessivos piratas em lideranças políticas, são a estes futuros criativos que mando o meu abraço e votos de resiliência, haverá um dia em que este povo amável encontrará lideranças justas.

Um abraço do
Mário



Futuros Criativos da Guiné-Bissau (1)

Mário Beja Santos

Futuros Criativos tem a ver com economia e criatividade em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, e Timor-Leste, acolhe um conjunto de atividades desenvolvidas pela ACEP – Associação para a Cooperação Entre os Povos, edição da ACEP, Fundação Portugal-África e Instituto Camões, 2019. Aqui são repertoriadas atividades em parceria com organizações e pessoas destes países de língua portuguesa ao longo dos últimos quatro anos, com o objetivo de conhecer e valorizar a inovação e a criatividade como fatores de desenvolvimento.

A criatividade e inovação estão cada vez mais na base da valorização de recursos endógenos e até identitários, de descoberta de novas soluções para uma multiplicidade de desafios, assistimos à criação de oportunidades para jovens, uma maior igualdade na inserção das mulheres no trabalho e nas comunidades, inclusão de populações rurais envelhecidas, uma gestão de recursos de forma sustentada, valorização de culturas nacionais, com o recurso a inovações da ciência e da técnica. A economia criativa é um conceito baseado nos recursos criativos que potencialmente geram crescimento e desenvolvimento económico. Aqui se passam em revista experiências em território da Guiné-Bissau que abarcam diferentes áreas, mas que certificam que a economia criativa permite o desenvolvimento de atividades económicas suportadas pelo capital cultural, criativo e artístico, transversal aos contextos culturais, artísticos, sociais e económicos e que conferem um caráter único aos bens e serviços gerados.

Escrevo este texto numa ocasião uma vez mais tão dolorosa para o povo da Guiné-Bissau, o que aqui mostro, retirado deste esplêndido livro, é a minha rendida homenagem a um povo que tanto amo, tem a sorte madrasta de ser dirigido por classes políticas cúpidas, dominadas pela agiotagem, expedientes de corrupção, tenebrosos compadrios de negócios, incluindo os da droga. Um povo que nos deslumbra pela capacidade de superara adversidade e de usar a inovação e o criativo como recursos ilimitados.


Os Netos de Bandim: amigos das crianças e das artes

São crianças e jovens entre os 4 a 30 anos de idade e todos têm uma paixão pelas artes culturais e tradicionais dos diferentes grupos étnicos que representam a cultura guineense. Surgem da iniciativa da organização não-governamental guineense Amigos das Crianças, em 2000, com o objetivo de sensibilizar para a maior promoção da cultura guineense, recolhendo e divulgando elementos de expressão dos diversos grupos étnicos do país. Rapidamente se transformou também em instrumento de sensibilização através da dança, música e teatro, reunindo cerca de 120 associados jovens, do bairro de Bandim, em Bissau. As receitas provenientes das atuações revertem para a educação dos seus associados e para o apoio em despesas de saúde. Os Netos de Bandim são uma presença assídua no Carnaval e já representaram o país na maior manifestação de Carnaval do mundo – o Carnaval do Brasil.
Imagens dos Netos de Bandim

Irmão Unidos, pelo sangue e pelas artes plásticas

Começaram por pintar cabaças, no início dos anos 2000. Criaram então o grupo “Irmãos Unidos”. A pintura foi-se tornando uma forma de contribuir para a dinamização da cultura guineense. Neste sentido envolveram-se na Associação de Artistas Plásticos, onde Lemos Djata tem exercido funções como presidente. Já apresentaram o seu trabalho em exposições individuais e coletivas na Guiné-Bissau, Cabo Verde, Senegal e Egipto, Portugal, França, Bélgica e Espanha. Foram galardoados como os melhores pintores do ano em Bissau, em 2005, tendo recebido prémios e distinções por organizações da Polónia, de Portugal e da diáspora guineense. Sentido que as artes plásticas têm ainda pouco espaço na Guiné-Bissau, procuram divulgar o seu trabalho num espaço de exposição coletiva em Bissau, onde apresentam o seu trabalho, com outros artistas plásticos nacionais.
Os Irmãos Unidos, Ismael e Lemos Djata
Imagem de um dos seus trabalhos

A deslumbrante panaria que sai dos panos de pente

Fundada em 2004, a Artissal é uma associação guineense que trabalha na recuperação e valorização da panaria guineense. Os panos de pinti (de pente, o tipo de tear utilizado) são tradicionalmente utilizados nas mais importantes cerimónias das pessoas e comunidades, principalmente das etnias Papel e Manjaca, e a sua produção é habitualmente realizada por homens, a partir de conhecimentos e técnicas ancestrais, transmitidos entre gerações. A associação tem desenvolvido um trabalho de pesquisa e recuperação de materiais e padrões antigos, de práticas de tecelagem e de modelos de teares, introduzindo elementos de melhoria, quer na qualidade das matérias-primas quer na qualidade dos processos de trabalho. Tem igualmente dinamizado grupos de mulheres tecelãs, de etnia Papel, que participam de grupos de formação com artesãos, abrindo assim esta atividade às mulheres. Com o propósito de melhorar a dinâmica de produção e a geração de rendimento para os artesãos e artesãs, estes estão organizados em cooperativas e numa federação: a Cooperativa Bontche, em São Paulo, Bissau, a Cooperativa Djaguimobilar, em S. Domingos, e a Federação Sitna Bissif, em Cacheu. A Artissal procura integrar estes grupos em redes nacionais e internacionais de comercialização solidária, contribuindo para a divulgação da panaria tradicional guineense e para a comercialização dos produtos por um preço justo. A qualidade desta panaria tem sido alvo de reconhecimento que permite a continuidade do projeto, pelos apoios que estimulam a continuidade.
Artissal, os maravilhosos panos de pente

B&F, a engenheira que se dedica à moda

Nérida Fonseca é uma jovem engenheira informática que trabalha para uma grande empresa internacional de telecomunicações. Em 2014, decide criar a sua própria empresa, a Batista & Fonseca, que se dedica à produção e comercialização de acessórios de moda e decoração a partir de elementos tradicionais da cultura guineense – o pano de pinti. Este artigo, tradicionalmente associado às cerimónias fúnebres e matrimoniais das etnias Papel e Manjaca, adquire novas formas e funções nas criações de Nérida. O que é que faz correr esta engenheira informática? A paixão pela moda e pelo seu país, a que se aduz a sua capacidade enquanto autodidata, o que lhe permitiu aliar o design contemporâneo ao saber tradicional pano de pinti. Inicialmente, tudo o que confecionava era ou para uso exclusivo na própria casa ou para dar presentes aos amigos e conhecidos. A receção que as diferentes peças tiveram no mercado foi determinante para a formação da dimensão comercial. E o aeroporto de Bissau tem sido a sua rampa de lançamento.
B&F, acessórios de moda e decoração a partir de elementos da cultura guineense

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 21 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26603: Notas de leitura (1782): Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné: Negros e brancos na Guiné Portuguesa (1915-1935) (4) – 3 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26609: VI Viagem a Timor Leste: 2025 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte II: de 6 a 20 de março: um país onde se respeita o katuas (velhote), mais do que o malae (branco) e o amu (padre)


Timor Leste > Liquicá > Manatti > Boebau > Escola São Francisco de Assiz (ESFA) > O 7º aniversário foi celebrado este sábado, dia 22 de março...  Houve muita alegria e uma grande surpresa que o João Crisóstomo já partilhou connosco. Mas deixemos a  feliz notícia para a próxima crónica do Rui ... O Rui merece, a ASTIL merece, os meninos de Manatti Boebau merecem...

Portugueses e timorenses de Liquiçá construiram uma escola, esperam agora, ao fim de 7 anos, que o Estado timoerense pague ao menos os professores...Mas quem quer ir trabalhar para a Manatti/Boebau na montanha, a 5/6 horas de Dilí na monção ?


Foto (e legendagem):  © Rui Chamusco (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. O Rui  Chamusco é membro da nossa Tabanca Grande desde 10 de maio de 2024. Natural da Malcata, Sabugal, vive na Lourinhã onde durante cerca de 4 décadas foi professor de música no ensino secundário. É um dos cofundadores e dirigentes da ASTIL (Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste), criada em 2015, com sede em Coimbra, com outros amigos, o luso-timorense Gaspar Sobral e a  malcatense  Glória Sobral.

É uma grande história de amizade e  solidariedade. Em Timor (onde, com esta, já foi seis vezes, desde 2016), o Rui continua a  dedicar-se de alma e coração aos projetos que a ASTIL tem lá desenvolvido, nas montanhas de Liquiçá, onde estão as raízes da  família Sobral, e nomeadamente a Escola de São Francisco de Assis (ESFA), em Manati / Boebau, município de Liquiçá, que no dia 19 de março de 2025 celebrou o seu 7º aniversário. (Em rigor, foi anteontem, sábado, dia 22.)

Em Dili ele costuma ficar em Ailok Laran, bairro dos arredores, na casa do Eustáquio (alcunha do João Moniz) , irmão (mais novo) do Gaspar Sobral. É tratado como tio ou pai. Ou malae (branco) e agora, mais recentemente, por katuas (velhote), à medida que os 80 anos começam a pesar. Mas, claro, ninguém lhos dá... em Portugal. Em Timor, um país extremamente jovem, quem vai para os  80 é um katuas (velhote, mas respeitado). 


VI Viagem a Timor Leste: 2025 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte II: de 6 a  20 de março: um país onde se respeita o katuas (velhote), mais do que o malae (branco) e o amu (padre)


06.03. 2025,  quinta – Reminicências…


Ontem à tarde vi crianças, a Adobe e a Felismina apanhando flores aqui, no quintal do Eustáquio. Curioso, imediatamente perguntei à Adobe: 
Para que são as flores?” E a Adobe respondeu-me: “Pra levar à missa de amanhã, que será também por intenção da mãe”. 

Recordo que a mãe Aurora faleceu inesperadamente vai a fazer dois anos em 19 de Julho. E depois perguntou: 

– O pai Rui também quer ir?

–  Sim, eu também vou. Quero ver…

 – Então, amanhã às 6 horas vamos, por que a missa é às 6.30h. 

E pronto. Toca a levantar cedo para não falhar. A Adobe, a Felismina e eu, katuas (velhote) lá vamos andando, a pé, durante 15 minutos rumo à igreja do seminário, onde vai ser celebrada a missa. Reconheço que se eu não fora, o caminho teria sido feito em menos tempo, pois estas duas moçoilas são duas autênticas gazelas. Aquelas horas, já com tanta gente a circular, aqui é assim, o malai (branco) era o alvo das atenções. Algumas pessoas perguntavam à Adobe se eu era amu (padre). E
faziam cumprimentos de reverência. Já na capela repleta de participantes, sendo mais de metade seminaristas e a outra parte familiares das pessoas de quem foram nomeadas as intenções, rezavam-se as laudes em português, enquanto, suponho que um seminarista, recolhia as cestas com as flores e os envelopes com o nome e a esmola do defunto. 

Então foi uma celebração “sui generis”: laudes em português, ritual da missa em inglês, homilia em tétum, e cânticos em tétum e em português. E pronto.

 Mais uma vivência que me traz reminiscências dos tempos passados em seminário, e um embarramento com a vida desta gente, com os seus valores, com o seu modo de ser. 

De regresso a casa, repetem-se as reverências, as saudações, talvez porque com diz a Adobe, muitos pensam que eu sou amu.

08.03.2025, sábado – Sobe a montanha, e verás…

Conforme a nossa promessa, aqui vamos nós buscar as irmãs R.J.M. que vivem em Casait, para lhes irmos mostrar a ESFA (Escola São Francisco de Assis) e o povo de Boebau/Manati. 

Esta viagem é sempre uma aventura, devido às dificuldades do caminho e à imprevisibilidade da chuva. Por isso, quem se disponibiliza para tal tem de contar com imprevistos e alguns sustos, dos quais só fica livre quando chega a casa. 

Mas como o condutor nos merece toda a confiança (eu direi que conhece todos os buracos do caminho), com certeza que havemos de chegar a bom porto. E passo a passo, quilómetro a quilómetro, lá se fez o caminho. 

Como diria a professora Cristina Castilho a primeira vez que visitou Boebau, “tudo vale a pena quando a paisagem que avistamos nos enche a alma!”

Depois de dar-mos a conhecer a escola e a residência dos professores às irmãs visitantes, seguiu-se uma eucaristia celebrada pelo frei Luen, um capuchinho que todos os fins de semana percorre na sua mota aqueles montes e vales para garantir a estes povos (abandonados) alguma assistência religiosa. Houve logo uma grande empatia devido a ideal comum (franciscanos capuchinhos), assim como com todo o povo que participava. 

Regressamos logo que possível com receio da chuva, sentindo que os objetivos da visita foram cumpridos. Agora, ficamos à espera da decisão favorável ao nosso pedido, na certeza de que “quem espera sempre alcança”.

09.03.2025, domingo – A caminho do “calvário”…

Se há estradas (caminhos) esburacadas, mal tratadas, enlameadas, apertadas, sobrelotadas e quantas outras coisas mais, o caminho para Ailok Laran, onde eu passo grande parte do tempo das minhas estadias em Timor Leste. Brada aos céus. 

A partir do mercado de Perunas é uma desgraça, e é assim desde a minha primeira estadia em 2016. Como é possível que, mesmo às portas de Dili a capital, haja um cartaz de visitas como este? 

Tanta circulação de pessoas, motores (motorizadas), carros, carretas, microletes, camionetas, vendedores num caos impressionante, onde é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que sair ileso desta enorme confusão. 

E nós que fazemos este caminho algumas vezes por dia, chegamos a casa desenculatrados, com o corpo feito num molho. Em dias de chuva, os veículos a motor mais parecem saltimbancos que, em dias de chuva se transformam em barcos navegando ao sabor das ondas. Sim, isto mais parece o “cabo das tormentas”. 

Até quando estas ruas, estes becos, estas gentes terão de esperar por melhores condições de circulação? O que é mais incompreensível é que por aqui até circula gente importante, com responsabilidades no governo da nação. Até parece que estão contentes com a situação. Nem sei que diga. Eu…Não!

12.03.2025, quarta 
– Atividade musical na escola CAFE de Liquiçá

Já estava combinado com a professora Teresa Costa, que é a coordenadora do CAFE  (Centro de Aprendizagem e Formação Escolar) de Liquiçá. Apesar de já estar aposentado há 16 anos, o bichinho da docência, de ensinar e de aprender com os alunos continua a mexer cá dentro.

E como tenho alguma aptidão para o ensino da música, então é fácil encontrar campo de trabalho seja aonde for. Não foi esta a primeira atividade musical no CAFE de Liquiçá. Já em anos anteriores me ofereci e concretizei atividades musicais nesta escola. 

Claro que a professora Teresa, à semelhança dos coordenadores anteriores, aproveitou logo, e muito bem, a minha disponibilidade, partindo de imediato para o agendamento do dia, horas e grupo. 

Mais a mais, há um grupo de alunos que tiveram durante dois anos aulas de Educação Musical, mas que já não tem porque nenhum professor(a) foi aqui colocado este ano pelo ministério de educação de Portugal. Por isso faz todo o sentido aproveitar os recursos já existentes para desenvolver um pouquinho mais as capacidades musicais destes alunos.

Durante mais ou menos duas horas, interpretamos, com a voz, guitarras, lautas e acordeão canções escolhidas pelos participantes e por mim que foram envolvendo alunos e alguns professores de uma forma lúdica e agradável. Não foi necessário utilizar o “pau de chuva “ para fazer os ritmos porque o som da chuva que caía, às vezes abundantemente, serviu de base rítmica perfeitamente. 

Os participantes pediram mais, e querem que eu volte lá. Assim
farei, certamente.

13.03.2025, quinta  – O Eustáquio é chamado “à atenção”

Quando esta tarde demos entrada no palácio do governo, O Eustáquio foi chamado pelo guarda (segurança) que nos viu em caminho para lhe dar uma repreensão. 

 – Tens de dar a mão ao senhor katuas (que sou eu) e ajudá-lo a
caminhar. 

É que eu, devido a dores que me têm atormentado sobretudo o pé
esquerdo, vinha coxeando e andando com muita dificuldade. 

É isto que às vezes me comove. Esta gente tem um respeito impressionante pelas pessoas de idade. E eu, deste cliché, já não me livro. Os quase 80 anos não enganam ninguém, e por isso vou usufruindo destas atitudes carinhosas. É bom ser velho/velhinho – Katuas em Timor Leste.


13.03 – Palácio do Governo: encontro com o vice- primeiro ministro

Com a preciosa ajuda dos amigos Professora Cristina Castilho e do Senhor Rui Pacheco, foi marcada para hoje uma audiência com o vice primeiro ministro, sr. Dr. Mariano Assanami Sabino. 

De manhã, em reunião informal no café Aroma, o sr. Rui Pacheco, eu (que também sou Rui), o Eustáquio e o senhor Nuno Almeida (TUTU) que é assessor do vice-primeiro ministro estivemos preparando este encontro que, na melhor das hipóteses seria de 15 a 20 minutos, acabou por ser uma amena conversa de quase duas horas, onde foram apresentados os projetos de solidariedade da Astil em Timor Leste, e em particular a Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem” e os problemas que atualmente enfrentamos.

 Das três hipóteses apresentadas pelo senhor vice primeiro ministro com possível apoio do Estado, ressalto a que mais nos convém nos convém: uma parceria com o Estado, em que a gestão da escola seja da responsabilidade da AstilMB  (Manatti / Boebau) e os salários dos professores pagos por um dos organismos do Estado (ministério da educação ou ministério dos assuntos sociais). 

A ver vamos, pois ainda há muito caminho a fazer. Mas temos a esperança de que o problema vai ser resolvido. Encontramos muito boa vontade nesta equipa deste ministério. 

Para além do bom acolhimento que nos proporcionaram, demonstraram que eram bem conhecedores da situação, com sensibilidade e vontade de nos ajudarem. Reconhecem e agradecem a nossa solidariedade e tudo o que temos feito por Timor, particularmente os benefícios que temos proporcionado às crianças esquecidas das montanhas de Boebau e Manati. 

Saímos deste encontro muito bem impressionados, e fazemos votos para que esta relação continue…


(...) 14.03,2025, sexta – “Ai, costa,  custa!...”

O Eustáquio já me tinha chamado a atenção: 

–  Tiu, é preciso mudar o filtro e o óleo do carro (pick up). Pode?... 

Pois, tem que poder. E vai daí lá se foi comprar o óleo e o filtro. Mas, devido ao estado dos pneus já desgastados, e que na última viagem que fizemos a Boebau deram alguns sustos, achamos que seria logo melhor substituir os sapatos (pneus). Depois de saber lá dos preços nas lojas  da especialidade, fez-se a compra e a substituição. 

Agora está em condições de subir e descer as montanhas, de nos servir com alegria. Mais uma conta a suportar mas, com maior segurança, é mais fácil fazer o caminho.

17.03.2025, segunda– Afinal, quem manda aqui?...

Estou a falar dos galináceos, que todos os dias convivem connosco, aqui em Ailoik Laran. Já tinha verificado que em todos os rituais destas criaturas, há sempre alguém que comanda, seja de manhã seja à tarde.

Como norma há sempre uma árvore que faz de poleiro, e a subida e a descida da mesma respeita sempre a ordem do rei da capoeira: primeiro os mais pequenos e os mais débeis, seguindo-se depois os voos ascendentes ou descendentes, alguns com mais de cinco metros, de toda a tribo. O capataz, é um galo bonito e altaneiro, muito parecido com o Xico (o galo que há dois anos o sr. Francisco me ofereceu) e que o Eustáquio diz que “parece” ser o filho do galo do Tiu Rui.

Pois, o outro que já foi para os anjinhos, que cantava tão bem (creio que
morreu de tanto cantar). Se assim é, ainda bem, “porque quem sai aos seus não degenera”. O Xico filho também canta que nem um desalmado. Tem uma posse interessante: antes de cantar bate as asas, põe-se firme, estica bem o pescoço, e aí vai o seu canto potente que se faz ouvir por toda a redondeza. Às vezes há outros galos que lhe respondem, mas eu penso que ele pensa ser sempre o maior solista que por aqui anda, até ao dia que, tal como o pai galo, morra a cantar ou que alguém se lembre de lhe “fazer a folha”.

18.03. 2025, terça – Há males que vêm por bem…

Desde há oito dias que me queixo do pé esquerdo. Tentei erradicar a dor, que quando ando me atormenta e me faz coxear, mas a automedicação que tenho tomado não tem conseguido debelar o problema. A quem por nós passa. Hoje tive que ir ao médico(a) da MDC (Medical Dili Center), que depois de verificar a situação, chegou à conclusão (não definitiva) que será o ácido úrico, receitando-me medicamentos para o combater. Com uma recomendação: 

– Se isso não passar volte cá.

Esta é a parte mais chata. O malae katuas(velhote) a coxear devido às dores, a causar pena e dó(compaixão) a quem por nós passa. Por outro lado, é impressionante como toda a gente quer ajudar. Só falta levarem-me ao colo, quais samaritanos.

19.03. 2023, quarta – A Escola São francisco de Assis “Paz e Bem” em Boebau / Manati

Faz hoje 7 anos que a ESFA foi inaugurada, com pompa e circunstância. E desde então para cá , contamos sete anos de vida, de caminho, de luta e de trabalho para que a escola seja um centro de educação e de aprendizagem, ao serviço das pessoas desta região, mas sobretudo das centenas de crianças que por aqui vivem. 

Quantas alegrias, penas, dores e cansaço nos têm acompanhado.  

Quantas esperanças e desilusões, quantas vitórias e derrotas, quantos sóis, quantas luas, quantos quimeras… 

Quantas entidades, quantas pessoas, quantos amigos e amigas já a visitaram, e alguns(umas) já ofereceram o seu trabalho voluntário. 

Obrigado,  sobretudo à ASTIL de Portugal que tudo tem feito para o funcionamento da ESFA, e a todos os que têm contribuído para a concretização deste projeto de solidariedade. 

Vamos continuar a lutar para que os nossos desejos se concretizem, nomeadamente a colocação e o pagamento de salários aos professores que lecionam nesta escola. Sem isso, não há continuidade possível. E nós todos queremos que a escola não encerre, por respeito às crianças e aos habitantes destes povos. 

Mais até, queremos que a Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem” seja um centro ou um polo de desenvolvimento que desenvolve a escolaridade, a cultura e o saber destas gentes através de ateliês cursos que vão de encontro às suas necessidades. O povo do interior de Timor, como o de qualquer outra nação do mundo, é esquecido dos poderes centrais. E tem de haver alguém, pessoas ou instituições, que lhe dê a mão, que o valorize e que o dê a conhecer.

Por conveniência e porque hoje é quarta feira, a festa do 7º aniversário terá lugar no próximo sábado, dia 22, sábado.

20.03.2025, quinta – Guerra aos mosquitos!

Estas criaturas de Deus parece que só existem para nos chatear. E então, estes mosquitos timorenses quando lhes “cheira” a malae, toca a atacar. Uns são quase invisíveis, e pouco ou nada há a fazer, quando nos apercebemos já têm o trabalho feito. Pouco importa que nós, cheios de raiva, disparemos uma palmada no sítio onde eles estiverem (ou não porque já voaram). 

Outros um pouco maiores como as melgas, avisam através de som irritante (ultrassom) que vão aterrar. De sobre aviso lá nos preparamos até que ele poise, para de seguida contra atacarmos. Quase sempre as nossas armas são as mãos, que disparamos com toda a força. Algumas vezes acertamos no bicho inimigo, que literalmente fica esborrachado, e exibimos aos outros o troféu. 

Outras vezes acontece o insólito: não acertamos no alvo, ficando o bicho a rir-se da nossa aselhice. Por essas e por outras razões é que, já por três vezes, ia ficando sem os meus óculos. 

A primeira vez foi uma criança de dois anos, filho da Assun e do Abe, que não sei o que viu na minha cara, me manda um chapada que as cangalhas voaram logo para o chão. Toma que já levas!... A segunda vez foi o Eustáquio, que me mandou ficar quieto, para de seguida me enfiar uma palmada na testa. Vitória! O Eustáquio matou o bicho melga, e fazendo prova do mesmo exibiu o esqueleto e o sangue de que ele se alimentou. A terceira vez, fui eu próprio que dei uma chapada em mim mesmo sem nada conseguir, pois os óculos e o mosquito voaram para onde quiseram. 

Tenho que pedir ajuda a Don Quixote e a Sancho Pança para me ajudarem a vencer esta guerra…

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26570: VI Viagem a Tmor Leste: 2025 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte I: de 22 de fevereiro a 4 de março: a importância ainda de ser "amu" (padre), na terra do sol nascente

segunda-feira, 10 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26570: VI Viagem a Timor Leste: 2025 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte I: de 22 de fevereiro a 4 de março: a importância ainda de ser "amu" (padre), na terra do sol nascente


Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >   A dedicatória do Xanana no oseu livro "Meu Mar,. Meu Timor" (em português):  "Para Rui Chamusco:Muito agradecido
pela escola que construiu em Timor Leste!... 
Muita amizade. Xanana, NY, 23 setembro 2024"


Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >  João Crisóstomo com Xanana Gusmão:
 "a expressão de surpresa por ver a Escola em páginas dum blogue sobre a Guiné" (*)…

Fotos (e legendas): © João Crisóstomo  (2024). Todos os direitos reservados 
[Edição e lendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1 Mensagem do Rui Chamusco


Data - 04/03/2025, 06:58

Assunto - Crónicas de Timor Leste

Estimados amigos.

Cumprindo a promessa que vos fiz, aqui estou a enviar-vos o primeiro bloco de crónicas, a fim de que estejam a par das nossas "démarches" por estas terras e, sobretudo se divirtam com a descrição de coisas insignificantes. (**)
Com um abraço para todos, o enviado especial Rui Chamusco.


 

O "malaio" (estrangeiro)
Rui Chamusco.

Fonte: LG (2017)

2. O Rui é membro da nossa Tabanca Grande desde 10 de maio de 2024. Natural da Malcata, Sabugal, vive na Lourinhã onde durante cerca de 4 décadas foi professor de música no ensino secundário. 

Em Timor (onde já foi cinco vezes, desde 2016, e com esta é a sexta), o Rui continua a  dedicar-se de alma e coração aos projetos que a ASTI (Associação  tem lá desenvolvido, nas montanhas de Liquiçá, e nomeadamente a Escola de São Francisco de Assis (ESFA), em Manati / Boebau, no município de Liquiçá.

Em Dili ele costuma ficar em Ailok Laran, bairro dos arredores, na casa do Eustáquio (alcunha do João Moniz) , irmão (mais novo) do Gaspar Sobral. Tem uma filha que quer ser médica, a Adobe, e que tem grande talento para a música. É afilhada do Rui. (*)

 

VI estadia em Timor Leste (2025) - Parte I:  de 22 de fevereiro a 4 de março: a importância ainda de ser "amu" (padre), na terra do sol nascente

por Rui Chamusco 


Nunca sabemos quando será a próxima vez. Pelo que nos custa a despedida, e porque morremos de saudade ainda sem partir à medida que se aproximam os últimos dias, dizemos sempre: é a última vez que aqui venho.

Assim tem acontecido comigo em relação a Timor Leste. Há sempre alguma coisa que nos faz voltar. Os assuntos relacionados com a escola do projeto de solidariedade da 
ASTIL “obrigam-me(nos) a regressar aqui mais uma vez.

E, pronto. Há que marcar os dias das viagens (ida e volta), há que fazer a mala e, o mais penível para pessoas idosas como eu (já perto dos 80), há que fazer a viagem de mais ou menos 20 horas de voo. O corpo é que paga. E, quando chegamos ao destino, é um alívio inexplicável. Chegar a casa, ainda que do outro lado do mundo, sabe-nos bem, tranquiliza-nos. Agora, há que adaptar-se ao ritmo de vida daqui, com mudanças radicais dos usos e costumes destas gentes (fuso horário, higiene, comida, idioma, novos cheiros, novos ares, etc… etc…

De novo em Ailok Laran, nos arredores de Díli, na casa de família do grande irmão e amigo Eustáquio, o nosso suporte na concretização do projeto de solidariedade da ASTIL em terras do sol nascente. “Vamos descansar para que mañana podamos trabajar”. Que esta canção espanhola seja a inspiração para o trabalho que nos espera.

22.02.2025,  sábado – É de manhã que se começa o dia.

Logo após a informação que postei no Facebook, surgiram respostas de pessoas
importantes a quererem ajudar na resolução dos problemas, nomeadamente o
problema da colocação de professores na Escola São Francisco de Assis, em Boebau/Manati, nas montanhas de Liquiçá. 

Destaco a resposta pronta do Dr. Dionísio Babo Soares, embaixador de Timor Leste na ONU, um timorense muito estimado (já foi ministro do governo várias vezes) e que me tem contactado via whatsapp por influência do amigo comum João Crisóstomo, e a quem estou muito agradecido. Vou seguir os seus conselhos, as suas indicações. 

Quero também salientar a resposta da Dra Milena Pires , ex-candidata à presidência da república nas últimas eleições que, despois de cinco anos de nos termos encontrado em New York, me contactou para fornecer contactos importantes dentro do ministério da educação e mostrou a sua disponibilidade em nos ajudar. Obrigado Dra. Milene!

Obrigado também Dr. Pedro Sarmento por estar tão solícito em relação ao assunto
que tanto nos preocupa, procurando sempre abrir caminhos que nos tragam uma
solução.

Amanhã, começam as primeiras diligências, o primeiro encontro daqueles que estão previstos.


22.02 – Encontros e desencontros


É sempre assim. Quando se é portador de encomendas, a entrega aos destinatários nem sempre é fácil. Por email, contactei o João da Megatours que me informou que sábado também trabalhava. Combinamos então ir este sábado fazer a entrega. E lá vamos nós (eu e o Eustáquio) ao começo da tarde a caminho da megatours. Surpresa!

As portas estavam fechadas, sem sinal algum de qualquer presença. Sem o seu número de contacto, imaginem o nosso estado de alma. Posteriormente fui informado de que ele não foi preciso com a informação, uma vez que só trabalhavam no sábado de manhã. Pior para ele, que só recebeu a encomenda dois dias depois. Pois! Com correios e estafetas não se brinca…


23.02.2025, domingo – À mesa também se fala

O amigo Pedro Sarmento mal soube da minha chegada quis dar-me as boas vindas e oferecer os seus serviços para que esta minha estadia decorra o melhor possível.

Muito solícito connosco, para com a ASTIL, tentando encontrar uma solução para o problema da falta de professores na Escola São Francisco de Assis em Boebau, telefonou várias vezes para marcarmos encontro e falarmos sobre o assunto.

Marcamos um almoço de família para o dia seguinte e, à mesa, definimos os passos a seguir: pessoas com quem falar, instituições a contactar, marcação de audiências, etc…

Amanhã será já o primeiro encontro no Paço Episcopal, com o Vigário Geral e com o senhor cardeal de Dili D. Virgílio. Sinto alguma espectativa e esperança. Que assim seja.

23.02 – Chuva a cântaros

Quase todos os dias chove por aqui. Hoje, em Dili, choveu a cântaros. Logo, as ruas e as estradas se tornaram um pantanal, carros, carretas e motores a darem provas da sua resistência que, em muitos casos, vão dando espetáculo. A juntar a tudo isto as pessoas. Umas por curiosidade, outras por necessidade irrompem de todos os lados, pondo à prova a facilidade com que encaram estas situações. Às vezes corre mal, e há pessoas e veículos que são arrastadas por estas cheias. Como se costuma dizer, brincam com o perigo. 

Com medo estava eu que, ao lado do Eustáquio, viajávamos para casa e lhe dizia: “ Tu vês alguma coisa?” Mas ele, intrepidamente, superava os obstáculos, galgando os buracos dos caminhos que, devido à chuva, mais pareciam planos e com bom piso. Entretanto as crianças divertiam-se, surgindo das poças de águas como se fossem piscinas, todas encharcadas de água e lama. Se a chuva é graça de Deus, então aqui estamos a ser muito abençoados.

23.02 – Se não é ("amu"), parece…



Já por diversas vezes que assim sou visto, sobretudo quando frequentamos serviços públicos. Hoje foi no BNU de Dili, ao tirar a senha para um levantamento. 

O polícia que controlava a máquina das senhas pergunta ao Eustáquio qual o serviço, e tira uma senha com o número 112 que lhe entrega, e pergunta de imediato sobre a minha pessoa: “Amu (Padre)!” E o Eustáquio, que é muito sabedor destas coisas, responde afirmativamente com um abano de cabeça. De imediato, o polícia tira nova senha com o número 14 de outro balcão de atendimento, cujo chamamento veio logo a seguir.

Aqui, em Timor, ainda há um respeito muito grande pela figura do “Amu”. Sendo ou não sendo ("to be or not to be"), às vezes dá um jeito enorme, sobretudo quando há uma sala de espera cheia de gente à nossa frente.


24.02.2025, segunda  – Mais uma retificação do bilhete

Desta vez, não por culpa dos outros, tivemos de fazer alterações nos bilhetes de ida e volta. Então não é que só tardiamente me dei conta de que a viagem de regresso a Portugal estava com partida e chegada no mesmo dia. Era bom que assim fosse. Todos os que viajam de Dili para Lisboa sabem bem do tempo que se demora. Dias!... E pronto. Vai daí, toca a fazer a alteração e a sofrer as consequências. “Quando a cabeça não tem juízo o corpo(a carteira) é que paga…”

24.02 – Carta a Kay Rala Xanana Gusmão

A ideia de pedir uma audiência a Kay Rala Xanana Gusmão partiu do amigo João Crisóstomo que, aquando do seu encontro com Xanana em New York no lançamento do livro “Hai nia Tassi. Hai nia Timor” em setembro de 2024, aproveitou a ocasião para falar da situação da Escola São Francisco de Assis ao primeiro ministro de Timor Leste.

 Xanana ouviu com atenção e manifestou o desejo de visitar a escola. E cá ando eu, como enviado, nesta missão de contactar e de convidar Sua Excelência a fazer-nos a visita, se puder ser no dia do aniversário da ESFA, que este ano será no dia 22 de Março.

Carta escrita, carta pronta para entrega, e lá vamos nós a caminho do palácio presidencial. Primeira peripécia: de como ir vestido. Diz-me o Eustáquio de que é regra levar camisa com gola, e eu estava de tishirt. Mesmo assim, lá vamos nós. Segunda peripécia: chegados à receção do gabinete do primeiro ministro, a carta foi aberta pelo funcionário para ver se estava tudo conforme. OK! Tudo bem, exceto o cabeçalho.

Soubemos então que o senhor primeiro ministro não quer ser tratado pelo seu nome de batismo (José Alexandre Xanana Gusmão) mas pelo seu nome de guerra Kay Rala Xanana Gusmão. Voltamos para casa a fazer as modificações e, de tarde, o Eustáquio voltou com a missiva. Azar dos azares, não serviu pois eu em vez de escrever Kay Rala escrevi Ray Rala. Modificações feitas, e lá vai de novo o Eustáquio de volta ao palácio.

À terceira foi de vez. Tanta peripécia para levar a carta a Garcia!... Agora há que
esperar para ver se nos respondem e se somos chamados para a audiência solicitada.


25.02 – Até Liquiçá

A decisão foi rápida. O Eustáquio recebeu ontem à noite uma chamada para transportar as professoras da ESFA Delfina e Fátima de Dili a Liquiçá a fim de frequentarem um curso sobre cuidados de saúde. E eu, que estava ao lado a ouvir, quis de imediato inteirar-me do assunto. Depois da explicação, o Eustáquio perguntou logo:

“ Ó Tiu,  quer ir também?” E no dia seguinte pelas 7 horas da manhã, lá vamos nós a caminho de Liquiçá. Depois do desembarque da Fátima e da Delfina, passamos pela Escola CAFÉ de Liquiçá visitar a professora Teresa, que já nos esperava.

 Nas escolas CAFÉ a maioria dos professores são portugueses, pelo que há sempre grande empatia com eles sempre que nos encontramos tão longe do nosso país. E, claro está. A professora Teresa que é a coordenadora da escola, aproveitou-se logo da minha presença por cá para me pôr a trabalhar: ensinar algumas músicas a um grupo de alunos, que este ano não têm professor(a) de música. Não pude recusar, e qualquer dia aí vamos nós animar essa gente. Que tudo seja por bem.

25.02. 2025, terça– Telefonema do ministério da educação

Ainda na escola CAFÉ de Liquiçá, recebo uma chamada do Dr. Filipe Rodrigues da parte do ministério da educação para saber se poderia estar às 10 horas para uma reunião sobre o assunto da nossa escola em Boebau. Por minha culpa, foi impossível de estar, uma vez que foi enviada uma mensagem no dia anterior que eu não li. Desculpaspedidas, foi então agendada esta reunião para amanhã às mesmas horas, à qual não podemos faltar pois estamos ansiosos por saber qual a opinião da equipa de inspeção sobre a visita que fez à Escola São Francisco de Assis. E voltamos a Dili rumo ao palácio do governo, a fim de entregar uma carta dirigida ao primeiro ministro Xanana Gusmão.

26.02.2025, quarta  – O senhor galo

Hoje, enquanto tomávamos o “mata-bicho”, ouviram-se uma pancadas de quem à porta bate. Imediatamente eu comentei: “alguém bate à porta”. E logo o Eustáquio se levantou e disse: É o galo.” 

Foi buscar uma mão cheia de milho e foi abrir a porta. Eu, incrédulo, fui atrás dele para verificar se um galo é assim que bate à porta. Fiquei pasmado. Um pouco abaixo dos degraus da entrada, lá estava o senhor galo mais umas quantas galinhas esperando a dose diária do seu manjar. O anfitrião explicou que ele faz isso todas as manhãs. Com o bico bate à porta algumas vezes, e espera que a porta se abra e alguém espalhe as deliciosas sementes. Bem acompanhado pelas suas almas gémeas avançam em ordem para o repasto. 

Ainda perguntei ao Eustáquio: “Estas galinhas são todas tuas?” –“Não. Algumas são dos vizinhos”. Aqui é assim: onde come um comem nove ou dez. Um galo capataz, que se preocupa em que os outros comam também. Linda lição, senhor galo!..


26.02 – Encontro no ministério da educação

Este era um encontro muito desejado da nossa parte, depois da visita que a equipa de inspetores (3) fez há tempos à Escola São Francisco de Assis. De porta em porta, lá fomos andando até nos apresentarem o Dr. Filipe Rodrigues, a pessoa encarregue pelo ministério para estabelecer a ligação com a nossa escola. 

Depois fomos encaminhados para a sala de reuniões, onde uma equipa de cinco pessoas do ministério estava à nossa espera. Não correu nada bem esta reunião. Logo após a nossa apresentação, veio a pronúncia dos senhores inspetores: para que o ministério da educação coloque professores na ESFA, a escola tem de ser entregue ao ministério para funcionar como escola pública.

Alto aí!... Isso não podemos(devemos) fazer, por respeito aos sócios e amigos da Astil de Portugal e da Astilmb de Timor Leste. A ESFA, assim como outros bens (casa dos professores, picup) é património da ASTILMB e só os seus sócios poderão tomar essa decisão. 

Depois, é o licenciamento da escola. Muitas exigências a que vamos tentar responder, com destaque para a obrigação de termos três professores com o bacharelato. E mais… e mais… e mais! E, benefícios poucos ou nenhuns. “Quem não tem cão caça com gato”, dizemos nós em Portugal. E é isso mesmo que vamos fazer, até que encontremos outra alternativa, na certeza porém de que os alunos da Escola São Francisco de Assis fazem o 4º ano a saber ler, escrever e fazer contas enquanto que os alunos da escola pública mais próxima fazem o 4º ano sem saberem ler, escrever ou fazer contas.

Diz-se que “ quando nos fecham uma janela Deus abre-nos uma porta”. E é isso que vai acontecer. Vamos par o Plano B, que para nós é bem melhor
.

28.02.2025, sexta  – O Toquê e o Téque

Nas crónicas anteriores por diversas vezes aparecem descrições dobre estes dois répteis que, se não são irmãos são primos, e que, em Timor, estão associados à sua cultura. Também aqui, em Ailok Laran, marcam presença e sobretudo à noite. 

O Toquê (lagarto) é maior e mais visível e sobretudo audível no seu som característico “toquê!... toquê!... E de árvore em árvore, de local em local vai percorrendo o território. O Téque (osga) é mais pequeno e portanto mais silencioso, especialista na caça aos insetos que em ação se tornam um espetáculo. 

Mas também estas criaturas de Deus são cada vez menos, talvez devido ao avanço das tecnologias sobre a natureza. A noite passa tive o privilégio de escutar ambos, que em diálogo respondia um ao outro em conversa interessante “toquê!... - téque.” Um bom embalo antes de ir dormir.

01.03.2025, sábado – Novo rumo – novos contactos


Uma luzinha verde ao fundo do túnel. A conselho do vigário geral da diocese de Dili, “amu” Graciano, e por diligências do amigo Pedro Sarmento, fomos ao encontro das “irmãs indianas” do Instituto R.J.M (Religiosas de Jesus e Maria) em Casait, a fim de expormos a situação da Escola São Francisco de Assis e de solicitarmos a presença de uma pequena comunidade (3 ir mãs) que aceitem ensinar na ESFA. Fomos muito bem acolhidos, e o pedido apresentado vai ser exposto à madre provincial durante a sua visita a Timor, que acontecerá de 10 a 20 de março. A irmã Selma, que é a madre superiora da comunidade de Casait, pediu para visitar a escola para que depois possa transmitir as informações necessárias à madre provincial e possam tomar em devido tempo a decisão sobre o assunto. 

Assim sendo, no próximo sábado, dia 8, iremos então até Boebau para dar a conhecer a ESFA e a localidade de Boebau/Manati. Seria uma bênção vinda do céu podermos contar com esta opção, sendo esta luz ao fundo do túnel a garantia da continuação e da sustentabilidade desta escola. Vamos por isso confiar e esperar neste plano, que será sem dúvida o que melhor nos convém e melhor se adapta às características da Escola São Francisco “Paz e Bem”.

04.03.2025, terça – Música no coração

Já nas crónicas de outros anos descrevi a musicalidade desta gente, que em qualquer situação se vale dos meios que tem, mas sobretudo da voz, para a torto e a direito espalhar as sua cantorias. Então, nesta família Sobral reina a música por todos os lados. Desde que a Adobe esteja acordada não há ouvidos que resistam indiferentes às melodias que a sua voz projeta. Esta moça é mesmo musical. Mais a mais, agora está a participar num concurso onde já
passou a primeira eliminatória. Por isso temos que a ouvir, queiramos ou não.

Com a música no coração, não há quem a pare. Oxalá chegue longe. Eu cá estarei para a apoiar…

(Revisão / fixação de texto, título: LG)

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Notas do editor:

(**) Vd. poste de  24 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26072: (In)citações (266): Será que é desta ?... Se Xanana Gusmão não vai à nossa Escola nas montanhas de Liquiçá, a nossa Escola vai ter com ele em... Nova Iorque (João Crisóstomo)


(**) Vd. a última crónica da V viagem > 27 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25565: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5.ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - VI (e última) Parte

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26507: Timor-Leste: passado e presente (30): Elementos para a compreensão da revolta de Manufai, ao tempo da República (1911/12)


Timor Leste > Parque Dom Boaventura. Comemoração,  dos 20 anos do referendo sobre a independência da Indonésia (1999-2019). 

A estátua de Dom Boaventura foi inaugurada em 23 de novembro de 2012, por ocasião comemoração do 37° Aniversário da Proclamação da Independência (28 de Novembro de 1975 – 28 de Novembro de 2012) e do centenário da Revolta de Manufai, liderada por Dom Boaventura (1912 – 2012).


Foto: cortesia de Wikimedia Commons (editada pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2024)



1. No tempo da República, Timor era, como as restantes colónias portuguesas, parte integrante de Portugal (segundo o artº 2º da Constituição de 1911). 

A desastrosa, mal planeada e sangrenta participação de Portugal na I Guerra Mundial, foi justificada pelos políticos da República como o  imperioso dever do país face ao imperalismo alemão que olhava, com olhos de rapina, territórios como Angola e Moçambique.  Timor ficava mais longe e podia ter menos interesse para as grandes potências coloniais europeias, com exceção da Holanda (hoje Países Baixos)...

A República (1910-19269)  sempre defendeu, para as colónias, um modelo de descentralização administrativa e financeira, com recurso a um Alto Comissário ou governador. A instabilidade política, militar, social e económica da República não permitiu o aprofundamento e aperfeiçoamento do modelo.

Com a  Ditadura Militar (a partir de 1926) e o Estado Novo (a partir de 1933), há um claro retrocesso na autonomia administrativa e financeira das colónias.  O Acto Colonial (1930) vai ser integrado na Constituição de 1933. É o triunfo da perspetiva imperial na relação metrópole-colónias.

A relação da República com Timor e os timorenses também não será pacífica... Há a  "revolta indígena"  de Manufai (1911/12),  cuja história merece um poste â parte. O triunfo das autoridades portuguesas e seus aliados vai marcar a consolidação da até então precária soberania  em toda a parte oriental da ilha.( A delimitação da fronteira só fica resolvida em 25 de junho de 1914, com a devcisão do tribunal de Haia sobre o diferendo relatibvamente ao enclave de  Oecussi-Ambemo: a demarcação no terreno só vai acabar em abril de 1915.)

Só para se ter uma ideia da pulverização do poder político, o território (do que é hoje Timor Leste) estava  dividido em 71 reinos !... 


Segundo o autor que lemos (Fernando Figueiredo, "Timor (1910-1955), in: "História dos Portugueses no Extremo Oriente", 4º volume: Macau e Timor no Períod0o Republicano", dir. A. H. de Oliveira Marques, Lisboa: Fundação Oriente, 2003, pp. 521-575), haveria alguns causas próximas para explicar a revolta, réplica de resto da iniciada em 1895, sob o governo de Celestino da Silva (desta vez liderada por Dom Boaventura da Costa Sottomayor, filho de Dom Duarte da Costa Sottomayor):

(i) a "troca de bandeiras" , com o fim da monarquia: os timorenses davam (e ainda dão) muita importància a simbolos nacionais como a bandeira:  a sua lealdade ia para o rei e para a bandeira "azul e branca" da monarquia, de repente (em 29 de novembro de 1910) substituída por uma outra, "verde e rubra", a da República, que lhes era totalmente estranha;

(ii) a instabilidade da transição política foi aproveitada pelos holandeses para incitar os timorenreses à revolta contra os "novos senhores" da metrópole, e pôr em causa as fronteiras do território:

(iii) substituição da "finta" pelo "imposto de capitação " (imposto de palhota na Guiné); vem afetar os poderes gentílicos, limitar o poder discriconário dos "régulos" (ou "liurais");

(iv) escassa presença militar portuguesa no território (agravada pela longa distância, por via marítima, entre Lisboa e Díli).

Sobretudo o aumento do imposto de capitação (implicando também o arrolamento de coqueiros e gados, a principal riqueza dos timorenses), a par da proibição do corte de árvores de sândalo (prática sancionada com multas), é uma das razões fortes para a revolta de Manufai (ou a sua segunda edição) que ocorreu, em grande parte,  durante o governo de Filomeno da Câmara Melo Cabral (1911-1917). A partir do reino de Manufai, a revolta conquista grande adesão das populações e levará mais tempo a ser debelada. 

A resposta foi militar, com o envio de tropas  oriundas da metrópole, de Goa, de Macau e sobretudo de Moçambique (os "landins"). A artilharia fez grandes razias. As baixas entre os revoltosos vão reflectir-se mais tarde na demografia do território. Fala-se em 5 mil a 20 mil mortos, números difíceis de confirmar. 

A par disso, e como seria de prever, a forte repressão vai agravar as relações entre colonizados e colonizadores... O Estado anexa terras dos vencidos (caso da futura Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho). O poder dos "liurais" passou a ser mais simbólico, mas mesmo assim o governador Filomeno da Câmara soube depois imprimir uma dinâmica de desenvolvimento e pacificação efetiva do território, política que será prosseguida com algum êxito até à II Guerra Mundial.

A revolta do régulo de Manufai será o último dos grandes levantamentos contra a autoridade colonial. E tende hoje a ser vista como uma "revolta protonacionalista", de cariz anticolonialista, "avant la lettre".

Carlos Bessa ("Timor. Do Domínio Liurai â Pacificação Portuguesa", in Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira, ed. lit - Nova Históriaa Militar de Portugal. Vol. 3. S/l: Círculo de Leitores. 2004. 323-333), tirou deste período trágico da história de Timor a  seguinte conclusão:

(...) A nobreza nativa sairá muito enfraquecida destas campnhas, mas, mesmo assim, a autoridade portuguesa continuou a não pretender ser mais do que superestrutura aglutinadora e arbitral das autoridades nativas dos vários reinos, embora se tornasse marcante factor de identidade e unificação política através da influência de uma cultura luso-timotense e do catolicismo,  contrapostos ao islamismo e à influência calvinista holandesa excercida na restante Indonésia, do que resultou o tão impressionante e conhecido culton dos Timorenses pela bandeira portuguesa" (pág. 333).

PS - Num próximo poste apresentaremos alguns dados sobre a demografia do território antes da II Guerra Mundial.



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Nota do editor: