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quinta-feira, 21 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10057: Patronos e Padroeiros (José Martins) (27): Bartholomeu Costa, Patrono do Serviço de Material




1. Em mensagem do dia 16 de Junho de 2012, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos mais um trabalho para a série Patronos e Padroeiros.






Patronos e Padroeiros XXVII

Patrono do Serviço de Material

Bartholomeu da Costa


Figura pouco conhecida da nossa história, nasceu em Lisboa no dia 1 de Novembro de 1731, e aos 17 anos, como era hábito na época, iniciou a sua carreira militar, como artilheiro e andou embarcado, na Armada da Guarda Costeira, durante quatro anos.

Em 1758, ao ser promovido a Condestável-Mor de Artilharia da Guarnição da Corte, passa ao serviço de terra, e desenvolve a sua actividade no Arsenal do Exército, no aperfeiçoamento da técnica, aperfeiçoamento de máquinas e de novos procedimentos tecnológicos, que muitos úteis se tornaram em Portugal.

A sua carreira foi considerada extraordinária. Aos 27 anos era Condestável-Mor de Artilharia; Ajudante de Artilharia em Janeiro de 1762 (31 anos) e a Julho desse ano, Capitão de companhia de Bombeiros; é promovido a Sargento-Mor de Artilharia, em Maio de 1764 (33 anos); e em Dezembro de 1774, com 43anos, ascende a Tenente-coronel de Infantaria, mas continuando a prestar serviço em Artilharia.

Aos 58 anos, Maio de 1789, é promovido a Marechal de Campo e com 67 anos a Tenente-General (Dezembro de 1796).

Da sua actividade industrial, realçaremos que em 1762, toma a iniciativa de orientar a fundição de 12 peças de artilharia ligeira, para suprir atrasos verificados na encomenda que havia sido feita a Inglaterra. Para tal utilizou as instalações de uma antiga fundidora de sinos. Construiu dois obuses e aumentou o número de oficinas de duas para vinte no Arsenal, aumentando a autonomia do exército, evitando, desta forma, a recorrer a fornecedores particulares. A duração das peças de artilharia, devido a uma nova liga que criou, passaram a ter o dobro de tempo de duração, assim como inventou uma máquina para brocar, perpendicularmente, as peças de artilharia de vários calibres.

Inventou máquinas para tornear munhões, peças para canhões, e máquinas de tornear morteiros.

Fez história na arte de fundir, um feito sem precedentes, ao fundir, de um só jacto, a estátua equestre de D. José I, assim como a máquina que haveria de retirar da “cova de fundição” a peça inteira e o seu transporte, assim como providenciou um carro, para o transporte das colunas para o Convento do Santíssimo Coração de Jesus da Estrela, mandada erigir por D. Maria I.

Inventou um granador e um peneiro cilindrado, para separar vários tipos de pólvora, assim como iniciou a manufactura de espingardas, com fechos idênticos, permitindo, assim, não só a produção das mesmas em série, mas também a possibilidade de trocas de peças avariadas mais facilmente.

Exerceu, ainda, outras actividades como o desenvolvimento de um novo tipo de porcelana, melhoria da fundição de ferro, em Paço de Arcos, recuperação da mina de carvão natural no Cabo Mondego, melhorou o método de fabrico de alcatrão, recuperação do pinhal de Leiria, etc.

Propôs que o Arsenal da Marinha fosse transferido para a margem sul, facto que só se veio a concretizar dezenas de anos mais tarde.

Uma das suas últimas obras foi a construção e direcção da doca seca da Ribeira das Naus que permitiu, em pouco mais de dois anos – Dezembro de 1792 a Março de 1795 – a reparação de cinco naus.

Foi Cavaleiro da Ordem de Cristo, Fidalgo da Casa de Sua Majestade, sócio da Academia Real das Ciências, entre outras.

Foi um insigne militar e técnico industrial, pelo que foi eleito como Patrono do Serviço de Material.

Vindo a falecer em Calhariz, com 70 anos de idade, no dia 7 de Junho de 1801, tendo-lhe sido dado sepultura na Igreja do Mosteiro de Belém.

José Marcelino Martins
16 de Junho de 2012
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10050: Patronos e Padroeiros (José Martins) (26): Patrono do RI 14 (Viseu) e Curso da Escola do Exército - 1951/1954

sábado, 19 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2453: O que fazia um militar da ferrugem como eu ? (Victor Condeço, ex- Fur Mil Mec Armamento, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69)

Guiné > Região de Tombali > Cufar > CART 1687 (1967/1969) > 21 de Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 10 > "O Fur Mil Victor Condeço numa das suas inspecções ao armamento, verificando uma G3 no aquartelamento de Cufar em Setembro de 1967, veja-se a improvisação da mesa com o tampo feito de um cunhete de munições 7,62 e os pés feitos de aduelas de barril".


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS/ BART Álbum fotográfico de Victor Condeço > F05 > 1 de Agosto de 1967 > GMC reconstruída em Catió a partir de duas outras que estavam na sucata e abatidas. Repare-se na falta da matrícula que oficialmente e por motivos óbvios não podia existir.

Com tanto pessoal civil e militar na pista, algo de importante se deveria passar... não recordo o quê. Recordo no entanto alguns dos aqui presentes, em cima da esquerda para a direita o Fur Mil Arménio, ?, o Sold Poupinha, o Fur Mil Pires; ao volante o madeirense Fur Mil Freitas, a seu lado o condutor auto ?, e em baixo o Fur Mil Cabrita.

Fotos e legendas: © Victor Condeço (2008). Direitos reservados.

1. Texto do Victor Condeço (1), com data de 13 de Janeiro

Meu caro Luis,

Saúde e boa disposição.

Não querendo tomar muito do teu precioso tempo, venho apenas dizer-te que li o post P2431, fiquei admirado pela publicação do mesmo, pois que não era esse o propósito ao tentar dar uma ajuda ao Nuno Rubim.

Gentileza tua aproveitar uma coisa sem importância, mas já que entendeste assim, obrigado pelo que escreveste, gostei da tua prosa sobre o pessoal da ferrugem.

É verdade! O pessoal do Serviço de Material era tido como uns sortudos e olhados com algum sobranceirismo, por estarem dispensados de actividades operacionais e até fora de algumas escalas de serviços, por isso também ouvíamos umas bocas.

Mas havia excepções, dependendo dos comandantes das unidades onde estávamos inseridos, isso motivou a Nota-Circular 10347/A de 16JUN67 da 1º REP do QG do CTIG, com recomendações para o escrupuloso cumprimento das disposições constantes de O.E. nº 6, 3ª Série de 28FEV58 e da Circular nº7994 de 14ABR65 da Rep. Of. /DSP.

No meu caso particular, fiz de tudo um pouco, só nunca alinhei no mato.

O tempo que me sobrava não era muito, pois tínhamos por todo o sector mais de um milhar de armas ligeiras e pesadas para dar assistência.

Só em Catió chegámos a ter além da CCS, duas Companhias de Intervenção, uma Companhia e mais dois Pelotões de Milícia e ainda 4 pelotões (Morteiros, Canhões S/R, Rec Daimler e Artilharia).

No sector existiam ainda mais 4 Companhias, em Cachil, Cufar, Bedanda e Cabedu, respectivamente, com uns quantos pelotões de Milícia, Morteiros e Canhões S/R...

Para além das funções próprias da especialidade e em que era coadjuvado pelos 1º Cabos Neves e Camarinha, fui encarregado de tratar de toda a papelada relacionada com o armamento da CCS, folhas de carga, notas e requisições, autos de ruína prematura, de extravio e de incapacidade.

Como se isso não fosse suficiente fui nomeado escrivão da Secção de Justiça e mais tarde por falta de pessoal fui integrado na secção de Reabastecimentos e Pessoal, cujo chefe era também um homem da ferrugem, o Alferes Garcia do Pelotão de Manutenção do S.M., onde fiquei com a missão de elaborar os SITMUN, os SITARM, etc. e receber os meios aéreos na pista de aviação.

Para culminar acabei por ser integrado na escala de Sarg Dia.

Valeram-me as normas que acima citei, para nunca ter participado em acções operacionais, embora vontade não faltasse ao Capitão Botelho, que era dos tais comandantes que achavam que os especialistas do S.M. deviam estar disponíveis para tudo.

Aqui para nós acho que até estávamos, pelo menos aqueles com quem convivi naqueles quase 22 meses de comissão.

Embora estivesse instituído um horário de trabalho para as diversas secções, era comum encontrar pessoas a trabalhar noite adentro: no meu caso ultimando papelada que deveria seguir no avião da manhã seguinte, o Pires, Fur Mil Radiomontador, que na sua tabanca com o seu adjunto labutava de volta dos rádios que deveriam estar operacionais para a próxima saída, que poderia ser nessa madrugada.

Também o Sargento Dias Mecânico Auto e o seu pessoal merecem aqui ser referidos, pois apesar de todas a dificuldades na obtenção de sobressalentes para as viaturas, conseguiram com arte, engenho e dedicação, recuperar e manter operacional um parque de viaturas que estavam inoperacionais aquando da nossa chegada, a maioria já abatidas e consideradas sucata.

Naquela guerra todos demos o nosso contributo, uns lutando de arma na mão e arriscando a vida no mato, outros nos quartéis cuidando dos meios e das condições para que aquela luta fosse menos arriscada e bem sucedida para todos nós.

Acabei por me alongar, mas como diz o provérbio “no comer e no falar a demora é no começar”, desculpa.

Luís, um dia chegará que nos havemos de conhecer pessoalmente e dar um abraço de quebra costelas...

Enquanto esse dia não chega, vai mais um abraço virtual muito forte.

Victor Condeço
______________

Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1335: Um mecânico de armamento para a nossa companhia (Victor Condeço, CCS/BART 1913, Catió)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2432: Diorama de Guileje (1): Geradores: Grupos Diesel Lister ou Frapil: fotos ou manuais, precisa-se (Nuno Rubim / Victor Condeço)


Um gerador de marca Lister, parecido com o que deveria existir em Guileje. Imgem retirada da Net: Nuno Rubim (2007). 

  
1. Mais um pedido, urgentíssimo, do Nuno Rubim com data de 3 do corrente, e que já circulou pela Tabanca Grande. Devido ao ruído de fundo, o pessoal da caserna não ligou patavina ao nosso coronel... No tempo da outra senhora, na Metrópole, isto piava mais fino... Houve uma honrosa excepção, que eu saiba: o Victor Condeço , ex-Fur Mil Mecânico de Armamento, CCS / BART 1913 ( Catió, 1967/69)... 

Desta, como da outra vez , quando pediu informações sobre as cores dos bidões de combustíveis e lubrificantes (*)... Bem hajas, Victor! 

 Pessoal da ferrugem, pessoal do serviço de material, camaradas: como nos bons velhos tempos, na Guiné, na nossa Tabanca Grande, vamos lá desenrascar o nosso homem... É por uma boa causa: O diorama de Guiledje... 

 Hoje, se eu voltasse à guerra, à nossa guerra (cruzes canhoto!), eu se calhar daria muito mais importância, mais valor, aos gajos da ferrugem, aos mecânicos auto, aos tipos do serviço de material, das nossas unidades, etc. que eram vistos pelos operacionais, com alguma condescendência ou até sobranceiria... Afinal, tanto na guerra como na paz todos somos úteis e importantes!... 

Nunca imaginei que (ou nunca me perguntei se) o gerador, em Bambadinca, podia bifar; nem nunca me preocupei se havia gasolina, gasóleo ou petróleo nos bidões (a não ser quando andava no mato, ou nas tabancas em auto-defesa, e sonhava com o meu uisquinho com 2 pedrinhas de gelo e água de Perrier)... Ou se tínhamos viaturas, em bom estado de conservação e de segurança, para fazermos, com sucesso, as nossas colunas logísticas e levar a bianda aos nossos camaradas de Mansambo, Xitole, Saltinho... 

 Hoje sei que, enquanto uns faziam a guerra, havia outros que se preocupavam com a logística, o material e até com o nosso bem-estar e conforto... Ontem como hoje... Confesso que o único mecânico de armamento que conheci na tropa foi... o nosso Victor Condeço. Ainda por cima, conhecimento virtual, já que ainda não fizémos o teste do quebra-costelas, como diria o nosso Paulo Raposo, o Almansor de Montemor-O-Novo, de quem já tenho saudades... (LG) 

 Caro Luís:

  Quando oportuno mais uma pergunta aos Camaradas do blogue. De uma relação existente em Guileje apurei a existência de : 

- Atrelado 1 Ton (Estação de serviço móvel ); 
- Motor diesel marca Lister com alternador Frapil 20 KVA;
- Motor diesel marca Lister com alternador Brush 1375 KVA ;

 Julgo que este tipo de material estaria distribuído a outras unidades da Guiné (aliás lembro-me de haver em Mansabá um gerador de um destes dois tipos, 1965). O que eu precisava: fotos ou eventualmente instruções ou manuais ilustrados destes equipamentos. 

 Obrigado.  Um abraço,   Nuno Rubim 

2. Resposta do Victor Condeço, no dia 5 de Janeiro: 

 Meu caro camarada Nuno, 

 Depois de várias pesquisas na Net e consulta ao meu camarada Alf Mil do Serviço de Material, que era responsável pela manutenção dos geradores de Catió (1967/1969), consegui pouco, apenas o que a seguir transcrevo da resposta recebida e de onde se depreende que o Grupo de 1375 KVA dificilmente terá existido no Guileje (terá havido confusão com os de 7,5 KVA ou com os de 47,5 KVA): 

"Infelizmente não posso ajudar grande coisa, pois não disponho de fotos nem de manuais, na minha posse. 

 "Em Catió, no quartel tínhamos 2 excelentes Grupos Diesel LISTER, refrigerados a ar, de 47,5 KVA – isto é seguro. Tenho quase a certeza de que os alternadores eram FRAPIL, mas a minha lembrança aqui já é menos segura. 

 "Estes Grupos de 47,5 KVA eram usados principalmente em sedes de batalhão, de certa forma pela sua potência e excelente qualidade eram ao tempo um luxo, e ainda para mais com reserva de 100%. 

 "Nas companhias mais pobrezinhas (Cachil, Ganjola) , fundamentalmente para fazer a iluminação da vedação, usavam-se uns Grupos de fabrico nacional – EFI, com alternador FRAPIL, penso que com uma potência de 7,5 KVA. 

 "Nas companhias mais importantes (Cufar, Bedanda), usavam-se os Grupos LISTER/FRAPIL de 20 KVA. 

 "Os Grupos referidos de 1375 KVA, ou seja 1 MW, isso já é outra fruta. É equipamento pesado de potência suficiente para alimentar uma pequena cidadela africana. Penso que seria equipamento para uma central civil de uma cidadela de alguma importância. 

 "Sendo a LISTER uma marca de referência no campo dos Grupos Diesel, e, estando estes tão difundidos em África, será que não conseguem arranjar localmente um manual?! O aspecto externo destes equipamentos não mudou muito."

Nuno, das minhas pesquisas na Net encontrei este site, EAGLE POWER LTD - Used and New Diesel Generators: as fotos aqui mostradas são o que de mais parecido encontrei, assemelham-se muito com os grupos existentes em Catió, embora o gerador fosse menor e a cor original era um verde, ligeiramente mais claro. Desculpa se não ajudei e te fiz perder tempo. 

 Um abraço e bom trabalho Victor Condeço 

3. Resposta do Nuno Rubim: 

 Caro Camarada Condeço: Perder tempo ???... Ganhar é que foi, pois estamos sempre a aprender qualquer coisa ! A ajuda foi importante pois, a partir da informação do seu camarada do Serviço de Material (a quem peço que agradeça em meu nome), encontrei na Net uma foto de um grupo que me parece muito semelhante ao que havia em Guileje (vd. foto acima) e que já me vai permitir fazer uma miniatura. 

 O que me envia, parece ser coisa mais moderna, mas muito obrigado pela sua colaboração. 

 Um abraço Nuno Rubim

 ____________ 

 Nota dos editores: 

 (*) Vd. postes de: