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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26466: Efemérides (449): Aos 47 mortos da Op Mabecos Bravios (Cheche, 6 de fevereiro de 1969): a minha homenagem (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)



Guiné > Região de Gabu > Carta de Jábia (1961) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Ché Ché, na margem esquerda do Rio Corubal.


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)



Virgílio Teixeira
1. Homenagem do Virgílio Teixeira, aos militares mortos na travessia em jangada do Rio Corubal, no aquartelanmento de Cheche, na sequência da retirada de Madina do Boé (Op Mabecos Bravios, comandada pelo cor inf Hélio Felgas, cmdt do Cmd Agrup 2957, Bafatá).

 Porque faz hoje 56 anos dessa trágica ocorrência (*), não posso esquecer os valorosos militares da CCAÇ 1790/ BCAÇ 1933, bem como da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852, além de um guia nativo, perfazendo um total de 47 vítimas. 

Chamaram acidente! Porque não mortos em combate ?!

A verdade morreu na praia, nunca ninguém foi acusado e deve haver alguém muito culpado. Não éramos uma tropa amadora.

 Esta mensagem singela  é só para lembrar este nefasto acontecimento. Onde quer que vocês estejam, camaradas, saibam que aqui na terra dos vivos há sempre akguém que vos não esquece.
 
Obrigado pela vossa dedicação a esta causa perdidas nas entranhas da política.

Eu vivi algum tempo com os quadros da CCAÇ 1790 do meu BCAÇ 1933,

Viva Portuugal

6 de fevereiro de 2025

Virgílio Teixeira,

 ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933 (1967/69) (*)

2. Nota do editor LG:

É importante lembrar esta trágica efeméride, e as suas vítimas inocentes. Infelizmente, não há dados novos para aprofundar o nosso conhecimento deste dossiê da nossa guerra, que continua por fechar... 

A culpa morreu solteira, como noutros "desastres" de guerra... "Desastre" é sempre um eufemismo. A verdade é que estes nossos camarada não morreram por ação direta do inimigo, pelo que sabemos das "crónicas" da época e dos testemunhos dos sobreviventes, como por exemplo o nosso grão-tabanqueiro Rui Felício, ex-alf mil, cmdt do 3º Gr Comb, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Dulombi, 1968/70).

Virgílio, fizeste bem em lembrar esta efeméride. Foram 47 camaradas que morreram pela Pátria, mas não estão na lista dos heróis... Quem se lembra deles, 56 anos depois  ? Nós e os seus familiares e amigos... A vida continua, a Pátria continua... E alguém sabe lá onde era esse sítio de cambança do Rio Corubal, que uns chamavam Cheche, outros Ché-Ché... (não "cheché"). (Na carta de Jábia, o cartógrafo grafou "Ché-Ché" e a gente devida seguir a carta...).

Sobre  a Op Mabecos Bravios, e mais especificamente sobre o desastre do Cheche, temos algumas dezenas de referências:


____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 23 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26415: Efemérides (448): o ataque a Tite, em 23 de janeiro de 1963, há 62 anos, na versão do Arafan Mané (1945-2004), um "cabra-macho" de 17 anos que, com outros ainda mais novos (Malan Sanhá, 1947-1978), deu o primeiro tiro simbólico de um guerra estúpida e inútil (Luís Graça / José Teixeira)
 
(**) Vd, também poste de 6 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22974: In Memoriam (426): Paz para a alma de todos os nossos camaradas que morreram no desastre de Cheche, faz hoje 53 anos...Foram 47 vidas ceifadas na flor da idade... Estupidamente!... (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26436: A extinção dos Conselhos Administrativos dos batalhões de reforço no CTIG (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, Chefe do CA, BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - II (e última) Parte



Foto nº 3 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos Guiné > 22 de fevereiro de 1969 > Local e cena de ‘fuga’. Pista de São Domingos.  Pista, cobertura de passageiros, torre de controlo, avião Dornier dos TAGP, o jipe  que me transportou, o jipe do Comandante, o jipe  do administrador de Posto, outras viaturas, e personagens do filme.


Foto nº 4 >  Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 22 de fevereiro de 1969 > A avioneta DO – Dornier dos TAGP, levanta voo em ‘fuga’, a caminho de Bissau... Local, pista de São Domingos...


Foto nº 5 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 22 de fevereiro de 1969 > Uma vista aérea do aquartelamento. Pode ver-se a pista, as instalações do Comando e CCS, as instalações da CART 1744, a última vista geral que eu foquei, ambígua, nostálgica, com muito stress.



Foto nº 6> 
Guiné > Bissalanca > 28 de fevereiro de 1969 > Local e cena da ‘fuga’: aeroportoo de  Bissalanca. Na placa da pist, à esquerrda,  pode ver-se um avião da TAP, Boeing 707, e  à direita a sala de embarque.



Foto nº 7 > O Avião TAP B707, algures ao largo do Senegal, nos céus de África, em 28 de fevereiro de 1969. Pode ver-se a Asa do Avião, o Mar azul a terra de areia branca, talvez, costa do Senegal.


Foto nº 8 > Lisboa > Aeroporto da Portela > 29 de junho de 1968 > A minha chegada (no primeiro período de férias).  A minha família. Eu levo uma grande mala, ao lado a minha mãe com um saco de documentos da TAP, atrás a minha irmã Filomena com uma mala branca, e no final de tudo a minha namorada Manuela.
 



Foto nº 12 > Porto > Ponte da Arrábida > 17 de junho de 2019, 17h35 >  A subida às entranhas da Ponte da Arrábida - 65 metros, 162 escadas, 18 andares


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


A EXTINÇÃO DOS CONSELHOS ADMINISTRATIVOS (CA)  DOS BATALHÕES DE REFORÇO (BR) 
NO CTIG - II (e última) Parte (*)

por Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933 
(Nova Lamego e São Domingos, set 67 / ago 69)



Virgílio Teixeira, Vila do Conde, 
ex-alf mil SAM, Chefe do CA,
 BCAÇ 1933 
(Nova Lamego e São Domingos,
 set 67 / ago 69)
 



IV – A MINHA FUGA DE SÃO DOMINGOS


... Tenho de ir de férias antes do encerramento das contas! 

Começo logo a pensar que tenho de arranjar forma de ir de férias ainda no 1º trimestre de 1969. Não posso ficar ali e não sei quando e como vou encerrar tudo, começo a imaginar coisas e a o filme começa a desenhar-se.

Fui preparando tudo sem dar nas vistas, em janeiro ainda fui a Bissau entregar as contas na Chefia
Chefia de Serviço de Contabilidade e Administração   de Contabilidade, e ainda deu para mais uns passeios a Safim, Nhacra, mergulhos na piscina e saborear uns petiscos até arranjar boleia num Dakota.




Foto nº 2 -Bilhete de avião, emitido pelos TAGP - Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa, com data de 22/2/1969. Viagem São Domingos-Bissau, em Dornier. Valor: 224$00.


Em fevereiro de 1969 estou a planear as minhas férias. Marquei junto da secretaria que depois ia a despacho do comandante. Veio assinada a autorização, agora sei que ele nem sabia o que estava a assinar.

Marquei a viagem na TAP, era a 26 de fevereiro, depois nos TAGB, comprei o bilhete, tudo isto passava pelo nosso Sargento e representante do batalhão em Bissau. Já tenho os bilhetes e está tudo pago (Foto 2).

E vou realmente de férias, mas as cenas que se seguem fazem lembrar o ambiente de tensão no filme "Casablanca" entre Bogart e Ingrid Bergman (10).


V – UMA SEMANA À ESPERA DA SAIDA

Foi uma semana de ansiedade, como se compreende, dado se tratar de um "fugitivo", mesmo que legalizado, andei várias vezes a consultar o QG – Pessoal, para saber se estava tudo bem.

Eu não me lembro exatamente de tudo por razões que são evidentes, estava sempre à espera que fossem ter comigo à messe de Santa Luzia, para me apresentar no QG.

Hoje sei o que isso é, sofrer por antecipação, por isso tentei distrair-me após ir prestar as contas do mês findo na Chefia do Serviço de  Contabilidade, e por lá andei, tinha lá vários colegas do Porto, e se houvesse alguma coisa eles diziam.

No dia do embarque, ou no dia anterior, entregam-me a Guia de Marcha ou de autorização de saída, não sei bem como era.

Este pesadelo durou até à hora de fecharem as portas do avião da TAP. Finalmente estou no céu e mais ninguém me pode impedir de gozar as minhas férias (Foto 6)

A viagem corre normalmente. Já estou na costa de África, bonitas paisagens que já antes tinha visto mas não as apreciei como agora (Foto 7).

Mais à frente sobrevoamos a Costa da Mauritânea, areia e mar sm fim, lugar especial para uma grande idade e um resort de luxo.  E estamos em Portugal, já vi tudo desde o Algarve até Lisboa, os contornos do Sul até Lisboa, já antes vistos e não apreciados. 

Hoje ironicamente lembro-me, embora sem justificação, daquele colega de bordo no UIGE, que o vieram buscar na hora da partida.

E assim cheguei a Lisboa, lá estava a minha namorada com a minha irmã casada e o meu cunhado, que acompanharam a minha Manuela, porque a sua mãe não deixava a menina ir sozinha. Tenho uma foto, mas não sei delas, andam por aí perdidas (Foto nº 8) (a minha primeira licença de férias, em 29 de junho de 1968).

E com surpresa vejo que está tudo diferente, o ambiente pesado. Durante o voo aconteceu um tremor de terra, que não senti no avião, como é natural, era o dia 28fev69. Falou-se muito mas eu estava noutra onda.



Eu e a Manela, Porto,
Praia da Foz, julho de 
1968

VI – AS MINHAS FÉRIAS DE LICENÇA MILITAR


As férias passam rápido, não tendo tempo a perder, tenho de aproveitar os tempos livres.

A minha namorada estava a trabalhar, não tinha férias nessa época, aproveitei para tirar partido máximo dos 35 dias que tinha pela frente.

Não sendo este um assunto importante para tratar aqui, resta-me lembrar que no dia 18 de março de 1969, pedi a minha namorada em casamento, e ofereci-lhe um anel com a inscrição da data, ficamos portante noivos...e até hoje.

E no dia 4 de abril regressei à minha guerra, com saudades, mas passou rápido, tinha uma tarefa muito importante pela frente.

VII – O FECHO DE CONTAS DO MEU BATALHÃO

Quando regressei ao CTIG, i no dia 5 de abril de 1969, fui apresentar-me ao QG, e logo me informaram 
que devia seguir para o ‘600’ ( era um quartel onde estacionavam as companhias que faziam a segurança do QG).  Nessa altura estava lá a fechar as contas também o meu amigo do Porto, o alferes Ruas, do BCAÇ 1911. Passou-me o testemunho com uma guia de entrega de material, uma burocracia totalmente inútil, deviam pensar que ia trazer as mesas de trabalho para casa (Foto 9).


Foto nº 9 > Guia de entrega de material do BCAÇ 1911 à comissão liquidatária do BCAÇ 1933: uma mesa,  5 cadeiras (!)...


Durante as minhas férias todos o arquivo e material deixado em S. Domingos, encontrava-se lá num pequeno cubículo que me destinaram. Estava lá a aguardar-me apenas um furriel amanuense, e um cabo escriturário do CA.

Não deixo de registar que todos os meus bens pessoais não foram devolvidos para a minha nova sede, ficou tudo, incluindo uma motorizada Honda que nunca mais a vi. Também tinha outra em Bissau na nossa arrecadação, e também lá ficou sem ser entregue a minha arma G3 e cartucheiras, bem como muita farda militar e civil. 

Ainda pensei que um dia me vinham acusar de ter desviado o material de guerra, e ainda hoje continuo a pensar o que teria sido feita à minha G3, só pode ter sido entregue por alguém no depósito de armas.

Ficaram, pelo menos à guarda de um elemento do CA, os meus três caixões carregados de bebidas que fui juntando ao longo da comissão, um espólio de se tirar o chapéu. Viria a recebê-lo no RAL 1 de V.N. de Gaia, uns meses depois. Intacto.

Agora estava mais perto da Chefia de Contabilidade para eventuais dúvidas, que parece não tive, nem foram precisas. Não levou muito tempo, trabalhei arduamente no meu trabalho e funções e acabei tudo ainda em 10 de maio de 1969. E tudo aprovado.

No dia 9 de maio, porque sobrou das contas apenas $50 centavos (!), tive de o ir depositar no Banco Nacional Ultramarino em Bissau, em nome da Comissão Liquidatária do BCAÇ1933, com sede no SPM 4568 (Foto 10).



Foto nº 10 > Comprovativo do depósito de 50 centavos (!), no BNU, em Bissau, em nome da comissão liquidatária do BCAÇ 1933. com data de 9 de maio de 1969.


E finalmente a 10 de maio de 1969 faço a entrega formal de toda a documentação, livros, arquivos e demais papelada na Chefia de Contabilidade, dentro dos caixotes fechados e lacrados, sendo tudo aprovado e finda a minha função no CTIG. Entregue com a Guia dessa data, em duas folhas, numeradas 
(Foto 11)(Vd. Nota 10).







Foto nº 11 > Lista da documentação entregue pela comissão liquidatária do BCAQÇ 1933 â Chefia do Serviço de Contabilidade e Administração do QGCTIG, Santa Luzia

E assim fiquei "desempregado", estava livre para regressar, mas o Comando do Batalhão entendeu que devia de regressar junto com os restantes. Colocaram-me nos Adidos para gerir não sei quê, talvez o sector da alimentação que nada sabia sobre isso.

Depois meti baixa ao Hospital Militar 241, fui para a Psiquiatria, estive internado cerca de 15 dias, no mês de maio de 1969, e depois passei à medicina internma.  

Acabei por ter alta, colocaram-me no CA dos Adidos em Brá, como adjunto do CC do CA, e por aí fiquei até ao dia do meu embaque.

___________

Nota final:

Isto é o resumo desta actividade, desta minha missão no CTIG.

Espero ter contribuido de algum forma para um cabal esclarecimento desta guerra que poucos conhecem, mas agora poderão perceber um pouco mais. Assim desejo, pois este trabalho levou-me um mês de pesquisa de tanta coisa de que já nem eu me lembrava.

Notas de rodapé que anexei, poderão ser extensos, mas são esclarecedores quer para os leitores quer para mim.

Foi um trabalho que nunca tinha feito sobre nenhum tema em particular. Obrigado por tudo

©  Virgílio Teixeira (2025)

(Revisão / fixação de texto: LG)


21 de janeiro de 2025
_______________


 Notas do autor:


(10) A adrenalina sobe, e nesse período ainda faço a viagem louca de Sintex para Susana e Varela, já aqui transcrita, tudo para não me encontrar com o Coronel Renato Xavier,   o novo comandante do meu batalhão.

Chega o dia 22 de fevereiro, da minha viagem na DO dos TAGB.

O coração bate apressado, e penso lá comigo:

– E se o comandante não assina a Guia de Marcha?

Faz-me lembrar o outro que vieram buscar ao Uíge na hora da partida . Não tinha nada a recear, estava tudo legal do meu ponto de vista.

Manhã cedo vou ao gabinete do comandante, digo para o que vou ali, e levo a Guia de Marcha que o tenente Godinho da Secretaria me deu. Acho que nem leu e assinou de cruz. Eram umas 8 horas da manhã.

Tenho o saco com algumas coisas, deixo tudo, exceto uma das minhas camaras Konica.

A outra fica entregue a uma das pessoas do meu CA, para tirarem umas fotos da minha saída e quando já fosse no ar na avioneta DO.

Passado uns tempos, não sei quanto tempo, mas pareceu-me uma eternidade, ouço a avioneta a fazer-se à pista, e como eu todos ouvem, incluindo o comando.

Apanho um jipe e chego a tempo de fotografar a chegada da DO, bonita, parecia um pássaro às cores. Era a minha imaginação. A DO está no seu ponto de paragem, o piloto não desliga os motores, descarregam os sacos de correio e pouco mais. Despeço-me de alguns companheiros e estou pronto para entrar na DO (foto 3)

Cumprimento o piloto, um profissional da aviação civil, já conhece tudo pois faz muitas viagens destas, uma vez pelo menos estive na pista com ele, noutra situação. Estou eufórico e preocupado e com razão!

Vejo a chegar a alta velocidade e no meio do pó que deixava para trás, um jipe que trava com todas as ganas junto à DO. Era o comandante Xavier!

A seguir há um diálogo de loucos que ainda hoje me lembro tantas vezes. Dirige-se a mim, e pergunta logo:

– Para onde vai? 

O piloto já se apercebeu que não me vai levar para Bissau. Respondo que vou para Bissau e depois para a Metrópole, gozar as férias a que tenho direito. 

– Não pode ir !!! – diz ele com os olhos esbugalhados.

– Eu tenho a Guia de Marcha que o meu comandante assinou há pouco.

– Não interessa, é preciso fechar e encerrar as contas, conforme Nota do QG.

– Mas agora já tenho aqui a avioneta dos TAGB para me levar já paguei e também já paguei o transporte na TAP.

– Não interessa, não pode sair daqui!

Isto é uma eternidade em 5 minutos, palavra puxa palavra e eu disse que tenho de ir. Meto um pé dentro do habitáculo, ele agarra-me o braço, já não sei bem o que mais se passou.

O piloto manda um aviso com os motores a trabalhar e a poeirada no ar.

– Tenho de levantar voo agora  
– e vira-se para mim como a dar-me um sinal, "ou sai ou entra". 

A atitude que tomo é a normal, o Xavier agarra mais o braço, a seguir eu dou-lhe um empurrão e ele larga o braço. Entro. As portas fecham. O piloto dá meia volta e faz-se à pista. E num espaço pequeno arranca e levanta, já estou no ar (Foto 4).

Bato uma chapa lá de cima – a ultima visão de São Domingos   
–, não se vê a cara do Xavier. Vou a caminho e começa novo pesadelo (Foto 5).

– E se depois de chegar a Bissau, quando me for apresentar no QG e têm lá um rádio a pedir a minha suspensão de embarque e até uma detenção?

Afinal era um "fugitivo legal", e assim acaba esta estória "cabraliana", aquilo a que chamei de "A minha fuga de S.Domingos".

Isto mais parece um filme da fuga dos 6 presos de Alcochete! Ou as fugas do Papillon naquele livro e filme inolvidável. Ambos verdadeiros.


(11)  Neste período ainda fui muito útil a dois colegas meus da mesma função.

O já falado Ruas,  do BART 1911, que não conseguia fechar as suas contas por ter dinheiro em excesso, e pediu-me se podia dar uma ajuda:  o saldo foi transferido para o meu CA que foi colmatar eventuais faltas. 

O problema eram as verbas de pensões que sobravam, dos militares
que morrem, dos feridos e evacuados e tudo se perde na confusão, não há informática, é tudo à mão, o que torna tudo mais difícil. O fecho de contas não pode ser aceite, com saldos em aberto que não se sabe a quem pertence. Ele lá resolveu tudo e embarcaram ainda em maio.

Também acontece o mesmo com o meu homónimo do BCAV 1915, o tal que fomos render em Nova Lamego, era o alferes Fragateiro, que nunca nos relacionámos bem, talvez por causa da passagem de testemunho em outubro de 1967. Apesar disso vejo algumas fotografias em Bissau na 5ª REP, juntamente com outros, mas nunca fomos amigos.

Apesar disso também o safei no 600, ele soube do Ruas que tinha resolvido comigo os seus problemas, e ele vem ao meu encontro pedir o mesmo. Feito tudo da mesma forma e ele sem sequer me agradeceu,  embarcou também em maio, e assim o meu Batalhão ficou a ser o mais antigo no CTIG. 

Para terminar esta saga, não deixo de lamentar que,. passados tantos anos depois de chegar, venho a encontrá-lo nos Centros de Saúde à porta das salas do médico, ele era, portanto, delegado de propaganda médico, no Porto, e quase não falávamos, aliás nunca falámos da Guiné. Mal-agradecido. 

Também soube pelo meu adjunto, e amigo do Instituto Comercial do Porto, o furriel Pinto Rebolo, já falecido, que ele não ia à bola comigo, não sei ainda quais são os seus motivos, mas julgo que ficou mal na fotografia e só veio embora com o seu batalhão devido à minha ajuda, ou entáo por não ter seguido estudos superiores (complexos...).

O Pinto Rebolo estava na mesma atividade que o Fragateiro, delegado de propaganda médica, e encontravam-se sempre nos mesmos locais. Mais tarde o Pinto formou-se em Direito, foi advogado e tinha escritório próprio na Rua de Camões onde o visitei várias vezes, mas também o encontrava em Vila do Conde. 

Depois como a advocacia não dava o que ele queria, deixou de exercer e continuou na propaganda médica até se reformar. Morava no Porto, mesmo perto da minha casa, de solteiro, ao redor do Regimento de Engenharia 2, do Vale Formoso, vindo a falecer por graves problemas devido ao seu excesso de peso que sempre teve. Era conhecido na vida académica do Porto, como o Pinto Rebola (e bola).

(12) Neste periodo andei primeiro perdido por Bissau, eu já não tinha o meu poder, senti-me abandonado e sem motivações para continuar a trabalhar.

Todo o pessoal, quer do meu CA quer de outros Batalhões, foram colocados noutros serviços fixos do CTIG.

A minha primeira tarefa foi nos Adidos, foi um tempo terrivel, ali passavam todos os militares, marados, apanhados do clima, doentes do Hospital, os que chegavam de férias e os que partiam, os que chegavam em rendição individual, tudo ia parar àquele chamado "Depósito",

O primeiro dia que me calhou de Oficial de Dia, era um mundo de cerca de 1000 militares que entravam e saiam, assisti como era normal ao primeiro rancho do almoço.

Quando dou por ela, estava tudo aos gritos, protestando contra o rancho. Atiram-se para cima das mesas e pontapeteiam tudo, estava a acontecer aquilo a que se chamava um levantamento de rancho, não num quartel da metrópole mas no ambiente de loucos na Guiné.

Fico sem saber o que fazer, não estava preparado para isso, mas não desanimo, embora estivesse  como o burro no meio da ponte. Com a ajuda de alguém menos protestativo, lancei o grito do Ipiranga, e pedi a todos que não me arranjassem problemas, pois não tinha solução para os seus legitimos protestos.

Não faço ideia do que era a comida nem as razões do protesto, penso hoje que naturalmente era um modo de os militares vindos do mato de fazerem chegar o seu grito de revolta sobre tudo e todos. Mas eu não tinha nada a ver com isso, estava ali chegado e caído de paraquedas.

As hostes acalmaram e correu tudo bem até final, mas o inevitável "susto" ficou... E  ainda teria outro no terceiro ou quarto dia de viagem no Uíge a caminho da liberdade perdida .

Foi assim que arranjei forma de juntar alguns outros problemas de saúde (oftalmologia, estomtologia...),.  acabando por dar baixa na Psiquiatria, com base numa "cura de sono". 

E era verdade, não conseguia dormir, não por medo, mas devido aos milhões de baratas que pululavam por aquelas barracas de madeira cheias de fendas e aqueles repugnantes bichos passearem por cima de nós. Ficou marcada esta passagem, eu não tinha instalações adequadas à minha situação, ficava nas barracas comuns. Por isso algumas vezes ficava em Santa Luzia no Biafra, sempre era tudo mais seleccionado. E outras vezes ia para o Grande Hotel de Bissau, para junto do Spinola e afins.

Quando tive alta, fui parar como adjunto no CA do Quartel dos Adidos, função que me recusei aceitar quando fico nomeado para CC do CA dos Adidos, que pela fama era um caso bicudo, pois a maioria dos que ali exerceram esta função nunca regressava dentro dos prazos, pois as suas contas eram complicadas com os movimentos de entradas e saidas e processamento das verbas de alimentação em particular. Pois como todos os que passaram por alí sabem que uma percentagem razoável não tinha as refeiçóes nos Adidos pois comiam em restaurantes de
Bissau, e estas refeiçoes que não se faziam, eram na mesma debitadas.

Alguém de dizia que era um bom lugar para ganhar muito dinheiro, é natural, mas eu queria era regressar à minha parvónia.

No CA dos Adidos ajudei alguma coisa o CC, mas não era responsável pelo todo, e por ali fiquei até final da comissão.

Mas permanecia sempre como um Oficial do BC1933, a única unidade que tive no CTIG, a titulo de emprestado.

Regressei em 10 agosto 1969, recebi o titulo de passagem à disponibilidade, assinado pelo Comandante do RI15, com data de 1 de Setembro de 69, dizendo que... "passa à disponibilidade a partir de 2 amanhã (dia 2 de setembro)".

Ainda usei o meu cartão em diversos actos miitares até ao dia da sua extinção.

Pronto, eu por cá ando... Aproveito para explicar que mandei uma foto,  a última (nº 12), que apanhei por aí, diz respeito a uma aventura que fiz ainda nos anos da pandemia e antes do problema oncológico.

É uma subida na Ponte da Arrábida, por baixo do tabuleiro, no Arco que liga o Porto a Gaia. É um negócio turístico, e eu passei por lá e aproveitei.

Foi uma aventura para mim, já tinha 78 anos pelo menos, vinha de uma rota de fotografias que fui fazer ao Bairro do Aleixo, no Porto - o maior bairro de consumo e tráfego de droga que existia. (...) Depois saí para a marginal do Douro, percorrendo quilómetros a pé, e dei com aquela subida do arco e não resisti. Estava demasiado cansado mas a adrenalina não me abandonou. Foi um espetáculo impressionante. Não tenho fotos lá de cima, deixei os operadores cá em baixo com a camara para me fotografarem.

É tudo muito seguro, a probabilidade de cair cá abaixo é quase nula. Coisas da vida que não voltam a acontecer mais.

Neste periodo andei meses a fotografar o Porto e as suas entranhas, que nunca tinha visto. Fiz mais de 10 mil fotos.

PS - O meu pedido de desculpas pela extensão do depoimento...

©  Virgílio Teixeira (2025)

(Revisão / fixação de texto: LG)

____________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 27 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26434: A extinção dos Conselhos Administrativos dos batalhões de reforço no CTIG (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, Chefe do CA, BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte I

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26434: A extinção dos Conselhos Administrativos dos batalhões de reforço no CTIG (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, Chefe do CA, BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte I

 


Virgílio Teixeira ex-alf mil SAM, Chefe do CA, BCAÇ 1933
 (Nova Lamego e São Domingos, set 67 / ago 69); tem 190 referèncias no nosso blogue;
membro da Tabanca Grande desde 19/12/2017



A EXTINÇÃO DOS CONSELHOS ADMINISTRATIVOS (CA)  DOS BATALHÕES DE REFORÇO (BR) 
NO CTIG

por Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933 
(Nova Lamego e São Domingos, set 67 / ago 69)


I – Introdução

Este tema tem em vista explicar qual foi esta especialidade administrativa militar, que é pouco conhecida da maioria dos nossos militares que estiveram nas guerras de África desde 1961/68

Foi sugerido pelo editor Luis Graça a propósito de um Poste para ser editado nos anos 2017 ou 2018, o qual eu tinha denominado de “A minha fuga de São Domingos” (*) e as peripécias que isto acarretou, e que não gosto de me lembrar, mas nunca as esqueço (1).


II – O que são os CA (Conselhos Administrativos) num Batalhão de Reforço

O CA é formado por uma estrutura Administrativa e Financeira, e é composto por 3 elementos:

Tomamos o caso do CA do BCAÇ 1933 a que pertenci:

  • O Presidente do CA, que é o segundo comandante (no nosso caso o major Américo Correia);
  • O Tesoureiro do CA, com a missão de movimentar os dinheiros, em Cash  (no nosso caso o alf mil inf Joaquim Custódio de Araujo Carneiro) (2);
  • O Chefe de Contabilidade (título que faz parte da estrutura do CA), cujo responsável era o alf mil SAM, Virgilio Teixeira (3),

Como nota explicativa, podemos  fazer um paralelo entre:

  • Os conselhos administrtivos das Unidades Militares (CAM);
  • Os Conselhos de Administração das Empresas (CAE).

As empresas privadas, de um modo geral, as médias e grandes empresas, são sociedades anónimas, que funcionam com uma estrutura, como todos sabem, os chamados os Conselhos de Administração, compostas no minimo com 3 elementos:

  • Um presidente, confundido atualmente com o CEO ("Chief Executive Officer");
  • Um vogal com funções multidisciplinares e que serve para desempatar em caso de litigios;
  • Um Administrador financeiro.

Sem me referir a nenhuma empresa em particular, existem muitas delas, em Portugal, nomeadamente, com unidades do mesmo grupo espalhadas por diversos pontos, e que tudo somado formam a empresa ou Grupo X, as quais devem apresentar as suas contas do exercicio à sua Holding , após devidamente aprovadas por orgãos independentes, normalmente os chamados "Auditores".

Compete ao CAE reunir, e apresentar o relatório e contas   em reunião formal aos Accionistas da Empresa, os quais aprovam ou não.

A grande parte deste trabalho é organizado pelo Administrador Financeiro.

O paralelo entre os CAM e os CAE é muito parecido, conquanto que os CAE são , mais unidades, sejam outras companhias operacionais espalhadas pelo sector que comandam, sejam pelotões independentes – Pel Rec Daimler, Pel Canhões sem Recuo, Pel  de Morteiros, Esquadrões de cavalaria, companhias de milicias, e outras mais subunidades... Tudo podendo perfazer no total mais de 3000 miitares, sob o comando do Comandante do Batalhão e sob a esfera administrativa do CAM .

No caso presente,  em Nova Lamego o meu BCAÇ 1933 tinha anexadas 17 subunidades independentes com um total de mais de 3000 militares para gerir,  o que era uma grande carga e trabalho e organização incompativel para um local de trabalho distante cerca de 300 quilometros da capital e sede da sua Chefia de Contabilidade (os "Auditores" ),

São grandes empresas privadas de até 4000 colaboradores que o aqui narrador teve a oportunidade de gerir na vida civil. Mas quero chamar a atenção que nunca fui Presidente de nada na minha vida toda.

Aliás, e melhorando a ideia, fui nomeado uma vez há muitos anos, para presidente da mesa numa assembleia de condóminos do meu empreendimento. Começaram a chamar-me "Senhor Presidente tem a palavra", meteu-me tanto asco por estas etiquetas que ao fim de uma hora terminou e jamais passei por essa cena vergonhosa.

Voltando ao cargo de CC do CA do BCAÇ 1933:

O paralelo está mais ou menos feito, mas claro que não são todas iguais. O CA do BCAÇ 1933, tinha a seu cargo múltiplas responsabilidades a saber:

  • A gestão do Fundo do Tesouro;
  • A gestão do Fundo Privativo;
  • A gestão dos Fundos Privados ("saco azul");
  • Os Fundos Confidenciais, a cargo do Comandanta do Batalhão (4);
  • A supervisão e acompanhamento dos pagamentos dos vencimentos a todo o pessoal, quer a parte que ficava na Metropole, quer a que recebia no CTIG;
  • Controlar e supervisionar as verbas de alimentação, a cargo dos Vagomestres, mas com prestação de contas ao CA (5);
  • Conferir, e reunir com todas as partes, e decidir de aprovar ou não, os famosos "Autos de Destruição", apresentados pelas Companhias e outras subunidades independentes, e que no fundo era listar e contabilizar os danos sofridos em flagelações do IN aos aquartelamentos, o que era dificil porque era tudo uma grande mentira do tamanho de todo o Sector (6);
  • Os gastos com despesas diversas, sejam de material corrente, sejam de materiais comprados no  comércio local para a protecção das tropas e pessoal civil (arame farpado, cimento, blocos, etc.);
  • As compras de alguns equipamentos de uso especifico, frigorificos, arcas, rádios, ventoinhas, e tanto outro material, as BIC e a Papelada !

Isto significa que não se podia gastar um Peso, sem a autorização formal do CC do CA, embora todos os restantes membros tinham de assinar os documentos de despesas.

O CC do CA também não poderia nunca fazer tudo isto sozinho, nem os outros, havia 3 assinaturas que não podiam faltar.

A prestação da contas, mensalmente, era feita junto da Chefia do Serviço de Contabilidade e Administração no QG em Bissau – pelos CC dos CA.

Este trio do CA era assim responsabilizado, cada um na sua função, pelo bom andamento das contas, e no todo, que teriam de ser aprovadas mensalmente na Chefia de Contabilidade (7).





Foto nº 1 > CTIG > QG > Chefia de Serviço de Contabilidade e Administração > Circular nº 51/68 > Bissau, 16nov68 >  Enviada para todos os Batalhões de Reforço, transcrevendo uma diretiva do Ministério do Exército, que determinava a extinção dos CA dos BR no CTIG, devendo a respectiva liquidação estar terminada em 31 de dezembro de 1968. 


Virgílio Teixeira ex-alf mil SAM, Chefe do CA, BCAÇ 1933
 (Nova Lamego e São Domingos, set 67 / ago 69) 


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


III - O fim  dos CA na Guiné

Feita esta explicação perliminar, vamos resumir como tudo acabou.

Não sei ainda se esta determinação da extinção dos CA dos Batalhões de reforço (BR), era dirigida apenas para a Guiné ou se era geral para todos teatros de operações.

  • No dia 16 nov  68 a Chefia do Serviço de Contabilidade e Administração- Secção do Orçamento, emite uma Circular para todos os Batalhões, trancrevendo uma diretiva do Ministério do Exército, Circular nº 51/68, determinando a extinção dos CA dos BR no CTIG, devendo a respectiva Liquidação estar terminada em 31 de dezembro de 1968. (Foto 1);
  • E as subunidades passariam a ser independentes para efeitos administrativos a partir de 1 janeiro de 1969;
  • E que brevemente seriam emitidas as normas para as subunidades.

E nada foi feito no nosso caso, porque no dia 20 desse mês de novembro o nosso comandante é ferido em combate e evacuado para o HMP na Estrela, e nunca mais apareceu.

Por causa disso, o Presidente do CA , 2º Comandante passa a ocupar interinamente o Comando do Batalhão, e o Oficial de operações major Graciano Henriques ocupa também interinamente a Presidência do CA, ou seja passa a ser o meu Chefe direto, o diabo caiu do Céu, pois este senhor era e sempre foi o meu maior inimigo no CTIG (8).

E assim, após uma fase atribulada com este Senhor, continuãmos no ritmo normal.

Chegamos ao final de 1968, e em janeiro de 1969, chega o novo reforço – O coronel Renato Xavier – a quem o pessoal deu o seu nome original – o "Papaias" (em alegoria ao seu principal modo de vida, a agricultura intensiva no nosso aquartelamento, uma vez que os terrenos eram escassos, e a tropa precisava de frutas e produtos frescos, e ele vendendo para as messes, cantinas e refeitórios, ganhava algum dinheiro extra, era o que diziam, pois já não é do meu tempo).

Na minha apresentação ao novo Comandante, acho que ele me viu com indiferença, mas não me lembro desse episódio, e eu com mais indiferença para ele.

Penso que o meu ‘amigo’ o major Graciano, que voltou para a sua função normal nas operações, deve ter-lhe enchido os ouvidos e olhos.

Daí por diante começa, um período negro nas relações pessoais, já nada era como antes (9).

O encerramento das contas, não foi obviamente feito no prazo, devido a estas contingências, e em 31/12/68 continuávamos com tudo igual.

Começo a perceber que as coisas vão demorar, não há diretivas internas como proceder.

(Continua)

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do autor;

(1) Já foi postado há anos, mas escaparam outros contornos que agora já poderei contar.

Este Poste que o editor alterou o titulo, porque segundo ele explicou, um Militar nunca foge!

É verdade, mas não foi uma fuga à guerra, mas sim aos novos comandos do meu batalhão, face à evacuação do nosso comandante ten cor inf, Armando Vasco de Campos Saraiva, devido a ferimentos graves em combate, no dia 20 de novembro de 1968, a curta distância do fim da pista em S.Domingos.

(2) Nunca percebi porque esta função foi cometida a um militar de infantaria, quando devia ser alguém oriundo da Escola Prática de Administração Militar (EPAM) . Esta Escola Prática de Serviços funcionava na zona de Alvalade e Lumiar. Há poucos anos ainda perguntei a este membro porquê ele foi desviado de infantaria para o CA? Sempre se desviou da conversa, mas julgo que foi uma cunha de alguém, porque já era casado e tinha um filho de 2 anos! 

(3) Esta função em qualquer CA quer seja de Batalhões de Reforço, ou de unidades militares fixas, como seja o caso dos Comandos, Paraquedistas, Adidos, Bases da Força Aérea, Bases dos Fuzileiros, do Quartel General e outros é da responsabilidade máxima da Administração Militar, que no fundo gere os fundos dde todas as subunidades operacionais.

Vou relevar aqui as relações entre eu o CC do CA e o meu comandante de batalhão, por achar dever ser do conhecimento de todos os interessados.

O comandante é o primeiro responsável pelas contas certas do batalhão. Mas essa função é cometida ao segundo comandante, por lei, como presidente do CA. Ele só pode regressar após a  aprovação das contas do seu batalhão.

Ele pode,  se assim entender, ordenar os gastos da sua unidade como quiser, ficando como o seu responsável final,  caso as verbas sejam desviadas para outros fins.

Quando o BCAÇ 1933 se formou em Tomar, no RI 15, julgo que começou por volta de junho 67, ele ficou à espera do seu chefe do CA para tomar decisões quanto às compras de várias coisas, sejam administrativas ou de lazer e conforto.

Já todo o CA estava formado e pronto, no inicio de agosto de 67, mas o CC do CA não aparecia em Santa Margarida onde se encontravam as tropas a fazer o IAO. Quem foi nomeado para esta função fui eu – o alferes Teixeira  , que me encontrava então à espera de alguém no BC 10 de Chaves para fazer o estágio no CA daquela unidade. 

Mas era fim de julho e depois agosto, e como não havia ninguém no CA para dar a tal formação, estava tudo de férias, e com aquele calor sofucante, eu simplesmente deixei de aparecer durante duas semanas, isto é, tecnicamente era um desertor.

Nunca falei com ninguém no BC 10, apenas me apresentei lá ao Comandante no dia em que cheguei e nunca mais falámos. Aluguei uma cama numa vivenda no centro, de uma senhora que vivia sozinha, onde eu dormia no hall de entrada, e tomava banho, tudo o resto era cá fora. 

Tinha o tempo todo livre para poder visitar e estar com umas amigas de Chaves, a minha segunda terra, até hoje continua a ser. Havia muitas ligações, ia com o meu irmão nos camiões militares quando ele ia fazer serviços de Rádio no interior de Trás- os -Montes, as muitas vezes que fomos para festas e aniversários, com um colega do meu irmão que também esteve como ele, prisioneiro no Estado Português da India, e outro amigo também de Chaves, a ligação com as minhas amigas também de Chaves. Nunca passei tanto frio e calor como em Chaves.

Nas ruas nada se via, os meses de verão eram também de férias escolares, e os cafés e outros espaços, não tinham ninguém, exceto a classe idosa que tomava os seus copos nos cafés e tascas, as quais eu também frequentava. E só nos fins de semana havia algum movimento, mas eu estava no Porto, com a namorada. 

Eu tinha um amigo do meu pai, o capitão Gamelas, que às segundas feiras de manhã cedo me apanhava no jardim da Arca de Água, e no seu carocha preto me levava para Chaves por aquelas estradas sinuosas com o rio lá a umas dezenas de metros no fundo, a estrada sem qualquer protecção, e era sempre a abrir, eu aproveitava também para passar pelas brasas e ao fim de umas 3 horas chegávamos ao quartel depois de percorrer uns 180 /200 quilómetros de estrada empedrada e perigosissima.

E às 9 horas estávamos ao serviço.

Na sexta à tarde faziamos a viagem de regresso, sempre com calor abrasador, e com o melhor ar condicionado que havia na altura, as janelas abertas. E assim fizemos umas 4 semanas, e não pagava nada. O capitão Gamelas estava a formar uma companhia com destino à Guiné, onde acabei por me encontrar com ele nos anos 67 ou 68.

Eu pedi para ele dar uma olhada se alguém me procurava no BC10, ou se o meu instrutor já teria chegado. Mas nunca obti nenhuma informação, e ao meu pai disse apenas que estava de licença.

No dia 9 de agosto aparece um telefonema que o meu pai atendeu. Era o comandante do BC10, um coronel que não me lembro do nome. Quando chego a casa ao fim da tarde, depois de ir à praia do Castelo do Queijo, na Foz, o meu pai dá-me logo "uma guia de marcha" para Chaves, imediata. Vou logo para a estação de Campanhã e apanho o comboio da noite e estou no quartel de manhã bem cedo e apresento-me ao comandante.

Ele só não me bateu por consideração, mas deu-me uma daquelas ‘broncas à militar’ que me arrepiou, e lembro apenas do que me disse e fixei:

- Não leva uma porrada por consideração ao seu pai... E também não lhe dou qualquer castigo, porque já tem um bom castigo para cumprir, vai para a Guiné, o pior sitio que lhe podia calhar.

Era o dia 10 de agosto de 1967, a data da minha mobilização oficial, embora já tinha sido no início do mês mas não estava presente. Nesse dia e com a Guia de Marcha oficial, mandam-me apresentar de imediato em Santa Margarida para me juntar ao meu batalhão que se formou e já tinha o número de 1933.

Quando chego a Santa Margarida, e me apresento ao comandante, vejo logo os olhos que me deita. A conversa não me lembra, pois o segundo comandante recebeu-me bem, pois precisava de mim para umas saídas para Bissau, e fizemos um pacto que eu não vejo necessidade de aqui o reproduzir, pois ele há muito que já faleceu, a esposa também, mas tem os filhos ainda vivos.

O comandante desesperado pois queria fazer as compras antes do embarque, foi dizendo que precisava disto e daquilo para conforto das NT, especialmente para a Messe de Oficiais.

Eu nada sabia como fazer isso, e respondi "não" a tudo! Arranjei logo o primeiro inimigo.

Mas eu não sabia mesmo, nem tinha o orçamento dos fundos do tesouro, fui apanhado a zeros, por causa de me baldar no curso e de não fazer estágios nem na EPAM nem depois no BC 10. A culpa não era minha, mas sim deles que me mandaram para a frente do touro sem ter as armas para me defender.

Muitas décadas depois o nosso Tesoureiro, que eu encontrava muitas vezes na Póvoa de Varzim, onde ele tinha segunda casa de férias, veio a contar-me coisas que eu não sabia.

Logo o comandante em Santa Margarida terá dito ao seu confidente, o Tesoureiro, carne e osso , que não sabia como mandaram um rapazito para uma função tão melindrosa. Veio depois a saber que não era assim, quando viu os resultados do meu trabalho. Abeirou-se um dia, um ano depois de lá estarmos no CTIG, e confidenciou ao Tesoureiro: "Afinal temos aqui um militar de administração muito competente, e por isso vou preparar um Louvor para ele".

 Naturalmenteque o nosso tenente coronel Saraiva já teria tido outra comissão e sabia o quanto dificil era esta função naquelas condições longe das chefias.

Não teve tempo, pois entretanto teve a mina e emboscada que o mandou evacuado para o Hospital e nunca mais o vi, apenas 15 anos depois num almoço do batalhão em Tomar, andava ele com umas pernas postiças, e tive muita pena dele, apesar de tudo.

E para não deixar outro pormenor para trás, contou-me um dia também o condutor Boubon, impedido do 2º comandante e seu confidente, que tinha muito apreço por mim e ia dar-me um Louvor. Não chegou a dar, porque com o fim dos CA não voltei a S. Domingos e fiquei adido a outros serviços em Bissau. O nosso major presidente do CA não voltou com o seu batalhão no mesmo barco, porque teria de assinar as contas das novas companhias independentes, e por lá ficou.

Disse ao Burbon na despedida, que ele ia voltar para casa, mas o major não, e depois iria novamente para outra comissão. Disse-lhe que lamentava não se despedir de mim, e que ficou em divida comigo e com os louvores. O Burbon, um bem sucedido industrial têxtil de Guimarães, vinha passar férias em Vila do Conde e encontrámo-nos imensas vezes, e por ele vim a saber tanta coisa que me passou ao lado, porque não fazia parte do tal Casino de S. Domingos.

(4) Recebia mensalmente a quantia de 12500$ para despesas com informadores, presentes para os Homens Grandes das tabancas, e outras que nem eu sei. Não tinha de prestar contas.

Quem acompanhava este cofre, era o nosso Tesoureiro, e diz ele que o comandante de uma seriedade sem fim, pouco gastava e o saldo passava de mês para mês chegando a acumular muito dinheiro. Parte desse dinheiro era também entregue aos Comandantes das companhias, e outras subunidades independentes. Mas nada sei em concreto do uso deste fundo.

(5) Falava-se de muita coisa, pois havia sempre uma percentagem de pessoal que não aparecia nas refeições, mas no mapa constava sempre a totalidade, e as refeições eram feitas com menos quantidade, menos gastos, e compensada com outras faturas/papéis de compras locais, que bastava o dedo para a assinatura

(6) Uma companhia no Boé  (a CCAÇ1589),  por exemplo, que tinha mais de 300 ataques e flagelações por ano, todas tinham ‘materias e bens destruidos´que depois teriam de ser substituidos por outros , comprados no mercado local, com assinatura por dedo, e os dinheiros não sei que destino levaram.

Ou, os bens destruidos, alimentares, gasolinas, e afins, podiam ser substituidos por novas remessas da Manutenção Militar e,  como não eram precisos, vendia-se às populações locais cuja receita era revertida para a Unidade, para o seu Fundo Privativo, vulgarmente conhecido pelo famoso nome de ‘saco azul’ ( ninguém quer aceitar e confirmar a sua existência).

Isto não é invenção minha, não só porque se via claramente a sua ilegitimidade, como acabou por ser denunciado pelos próprios beneficiários do esquema.

Não valia a pena levantar a lebre, pois quem ficava mal era o CC e tudo se passava com a maior normalidade. No final faziam parte das contas do Estado e os Fundos do Tesouro.

(7) Isto quer dizer que, no fim da comissão, o CA nomeadamente o CC nunca poderia ter Guia de Marcha para a Metrópole, sem as contas aprovadas, o que era também extensivel ao Presidente do CA e também ao próprio Comandante.

Daí que sendo o CC o responsável final na aprovação das contas, era tratado com cuidado e respeitado por todos. Os comandantes tinham sempre muito medo de no final não poderem embarcar por falta de aprovação das contas.

Mas também, o CC era o único que trabalhava a tempo inteiro, mesmo a dormir e a pensar como resolver muitas situações que não percebia, no meu caso, porque não liguei grande coisa à minha formação, situação que me causou sempre muitos problemas.

Foi a minha experiência anterior de 12 anos que me ajudou imenso.

O Presidente que sempre nutri por ele grande respeito, desde o dia 10 de agosto de 1967, em Santa Margarida, quando me apresentei na minha nova unidade, ele, o major Américo Correia levou-me a Tomar, ao RI 15, para tomar contacto com este Regimento, e acabei por conhecer a mulher e filhos. Acho que aí percebi que tinhamos de fazer um pacto a dois. E assim foi.

Nunca se meteu em nada do serviço do CC, passava por lá bem cedo, nem sempre eu estava presente, muito menos o Tesoureiro, tratava com os nossos amanuenses, furriel Pinto e furriel Riquito, bem como os escriturários cabo Horta e cabo Seixas. Assinava todos os papeis que se encontravam nas mesas, a maioria não era nada, e ia-se embora e dormir mais um bocado.

O Tesoureiro do BCAÇ 1933, não tendo grande trabalho, passava no CA uma hora se tanto, depois ia para o quarto ‘Estudar para os exames’ que fazia nas férias do Curso de História, ou a dormir, porque à noite após o jantar juntavam-se quase todos os oficiais, comandante e 2º comandante incluidos, no chamado ‘Casino’ que funcionava na própria messe, e prolongava-se até madrugada, a jogar não sei quê porque não sei nem sabia jogar a nada.

Jogavam duro segundo o que me contava o Tesoureiro, que dizia que ganhava sempre, e ainda hoje, é incrivel que sempre que falamos conta a mesma coisa que o major Henriques, o nosso Oficial de Operações, lhe ficou a dever 400 escudos que nunca lhe pagou...

(8) Na minha apresentação acho que ele me viu com indiferença, mas não me lembro desse episódio, e eu com mais indiferença.

Penso que o meu ‘amigo’ o major Graciano, que voltou para a sua função normal nas operações, deve ter-lhe enchido os olhos.

Começo logo a ser nomeado para diversas acções que não eram da minha função, nomeadamente a comandar patrulhas à volta do aquartelamento – as rondas -, levando comigo operacionais, e sendo uma secção ia um furriel, que julgo que seriam da companhia de cima,  a CART 1744, do Capitão Serrão, e alferes Gatinho e muitos furriéis que conhecia da messe onde eu passava então as noites nos copos, já que na messe de oficiais estavam todos a jogar.

Comecei a perceber que isto das rondas ao fim do dia, não era para se fazer, pois, uns quilómetros à frente lá haviam os tais abrigos, onde a tropa se acoitava, e depois regressava ao quartel evitando-se prováveis contactos com o IN.

Aqui criei algumas amizades, que ainda hoje são lembradas como tempos inolvidáveis.

Então além disto e outras mais, era frequentemente nomeado para os serviços de oficial de dia, devendo estar presente em todas as etapas do dia, em especial as rondas aos abrigos e postos de vigia, onde se passaram algumas cenas hilariantes.

(9) E nestas nomeações aparece um dia em que vou a comandar uma pequena força, e de Sintex (**) fomos para a companhia de Susana, a CCAÇ 1684, nessa data, para carregar alguns mantimentos pois havia falta de muita coisa , devido não só às chuvas e ciclones que levaram pelo ar os telhados de zinco dos armazéns e ficou tudo estragado, mas também a uma flagelação do IN à noite e que acabou por destruir outros armazéns.

Nesta saída a Susana em inícios de 1969, era a segunda, acabamos por ir mais uma vez a Varela ver aquelas praias excelentes e de Burrito, fardados e armados,  lá fomos pela areia fora até ao Cabo Roxo – fim de linha do nosso território – e fronteira com o Senegal.

Deparamo-nos com um espetáculo impensável, as caravanas vindas de Zinguinchor e Dakar com o pessoal branco, franceses e em especial belas francesas em bikini, que iam apanhar o Ferry para as praias ao largo. As mulheres ficaram um misto de atarantadas como surpresas, verem tanto homem jovem fardado e armado, nem sei se sabiam que existia uma guerra ali aolado. Ficámos a xuxar no dedo e a acariciar as nossas G3.

Isto pode parecer um filme, mas é verdade, e só não sei ainda hoje, porque não tirei umas fotos, pois tenho muitas fotos, antes na praia e depois no regresso. Talvez tive algum tipo de receio. Se as tivesse faziam furor hoje e antes.

Quando após 2 ou 3 dias regressámos no mesmo Sintex, conduzidos pelo piloto que era de Engenharia, e conhecia tudo aquilo como a palma das mãos, apoiado com um soldado da Companhia de Caçadores Nativos, sei bem quem era, mas não me lembro do nome, que empunhava uma arma M6 ou Drise, com fita de carregadores a tiracolo, e uma caixa de madeira cheia de munições, mais dois soldados com G3 e cartucheiras, e eu também armado de G3 e cartucheiras, a comandar aquilo tudo, não sabendo o que fazer em caso de ataque terrorista, ou outra qualquer eventualidade. Hoje penso que, com a nossa mania do desenrascanço, alguma coisa deveria fazer. Mas nada aconteceu.

Comunicações nada, gasóleo pouco, dois motores fora de borda de 50 CV e a "banheira" cheia de sacos de batatas, da MM, bananas e outra coisas que não me lembro, pois, um dos homens devia ser da alimentação, a mando do vagomestre.

Voltámos ao rio, é comunicada a hora da nossa saída, dentro de duas horas deveríamos chegar, mas só chegámos passados dois dias. São muitos rios, pequenos e engolfados que se misturam em enormes tentáculos de polvo, e não andámos muito até que o piloto já não sabia bem por onde ia, parece tudo igual, mas afinal muito desigual. 

Ficámos então perdidos após horas de tentar encontrar a saída, e assim se esgotava o combustível. Não havia modo de comunicação, os comeres e beberes iam faltar. E, dada a minha forma de ser não me atrapalhei, e dei confiança ao resto do pessoal. Não sei o que falámos, talvez nada.

Esperávamos que fosse dado o alerta pela hora, e eu pelo menos deitei-me por cima dos sacos de batatas, e fui dormitando, e ainda bebi uma cervejola, quente, mas útil face às condições.

Acabámos por ir parar a um sítio, esse mesmo no cu de judas, pois ainda hoje não sei a que aldeia aportámos. Ao longe fomos avistando um sitio inacreditável, e fui tirando fotos. Quando já estamos a chegar vemos um "pelotão" de Felupes, quase nus e armados até aos dentes,  com arco e flexa do tempo dos índios americanos.

O cais de desembarque não havia, era tipo "Normandia em África", e qundo a pata sai do barco e enterra-se num lamaçal lodoso, ficámos com as botas cheias de tarrafo ou porcaria.

A população amiga recebe-nos com sorrisos mas nada percebemos, estes eram mesmo naturais da "Felupelândia". Umas fotografias para o Álbum, e lá estou eu no meio de crianças dos seus 5 anos até homens com 2 metros de altura, eu ficava abaixo do ombro deles.

E fomos esperando (sentados !) dentro do barco, mas não desesperando. Passados dois dias, vemos um Heli lá em cima, depois aparece uma avioneta e somos encaminhados pelos rios com o pouco combustível que restava, com certeza foi alguém a nadar e a puxar o barco, e assim chegámos ao Rio São Domingos, que faz parte do Grande Rio Cacheu já nosso conhecido. Acho que eles perceberam isso, e foram embora, também não havia sítio para aterrar aeronaves.

Nunca se falou no assunto, não veio na ordem de serviço nem na História da Unidade. Muito pouca gente veio a saber desta aventura.

Muitos anos depois venho a ter conhecimento, por um ex-1º cabo telegrafista, que num almoço de batalhão me veio contar como ele me safou a mim e aos outros "perdidos",  não deixando de contactar sempre a Força Aérea que assim nos encontrou. 

E fica a pergunta: e se não nos encontravam, o que seria feito dos 5 aventureiros perdidos no cu de Judas?

Boa pergunta sem resposta!

©  Virgílio Teixeira (2025)


(Revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor:

(*) Tema T008 – A minha fuga de Sáo Domingos ao estilo do Papillon (que não chegou publicado ns série  "Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)".

6 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18180: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte VII: Perdidos no rio Cacheu, em maio de 1968 (2)