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quarta-feira, 21 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26826: S(C)em Comentários (68): Fome, camaradas ?!.... Não, em Nova Lamego, São Domingos, Bissau (Virgílio Teixeira ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, 1967/69): sim, "aos poucos de cada vez" na Ponta do Inglês, Xime (Manuel Vieira Moreira, 1945-2014, ex-1º cabo mec auto, CART 1746, 1967/69)


Guiné > Zona Leste > Regão de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 4º trimestre de 1967 > Mais um jantar-convívio com o pessoal – condutores auto – nas suas instalações, bar ou dormitórios, não sei bem identificar. A ementa deve ser de frango, como habitual. E a cerveja que se bebia era a Cristal, em formato "bazuca" (0,6 l).O Virgílio Teixeira, ex-afl mil SAM, era o primeiro da direita.

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933 (1967/69) ao Poste P26816 (*):


A FOME NA GUERRA

por Virgílio Teixeira


Este tema é controverso, cada um sabe da sua história e vivência.

Eu não me posso enquadrar em muitos dos relatos aqui apresentados ao longo dos anos. Acho que apesar de tudo fui um privilegiados.

A minha guerra passou-se praticamente junto do comando do batalhão e da CCS.
Em locais não tão graves como outros, mas também com as suas deficiências.
Nós tínhamos sempre quer em Nova Lamego quer em São Domingos a nossa messe de oficiais, havia a messe de sargentos e a cantina das praças. Era assim, não sei porquê, nem interessa agora.

Sempre me fiz acompanhar pelo grupo dos condutores e outras praças, que estavam ligadas de alguma maneira aos comes & bebes, porque apanhavam muitos animais que depois cozinhávamos para alguns.

Frequentava mais a messe de sargentos, para os copos, do que a de oficiais, que era um casino fora de horas.

Fiz muitos serviços de oficial de dia, e tinha que supervisionar o rancho geral, o que fazia sempre, depois havia as provas – como o demonstram as fotos que já estão publicadas – e aproveitava muitas vezes comer no refeitório do rancho geral e da sua comida, igual à dos outros. Nada a lamentar, quer do lado das praças, quer da minha parte. Reconheço que nunca vi outros a fazerem o mesmo, são formas de estar.

Por isso ganhei um lugar à parte na classe das praças, e sempre que havia petisco novo fora das messes e rancho, lá estava eu convidado, e tenho dezenas de fotos que o demonstram. 

Porquê? A malta gostava da minha maneira e nada de superioridades, sempre respeitei todos e eles a mim. O comandante é obvio que não gostava mas nunca me disse nada.

 
Por isso, fome não. Carências de vária ordem sim, também quando não havia nada, comia-se sopa de estrelinhas acompanhadas de casqueiro.

Mas, nas tantas vezes de convívio com os praças, nunca existia fome. Surpreende-me agora saber do que se passava na grande generalidade dos casos. Mas havia também muita malta de todos os escalões que levavam boa vida estomacal.

Por causa disso, fiz muitas colunas de reabastecimento, e entrei naquelas duas loucuras de viagem de Sintex entre S. Domingos e Susana, para ir trazer umas batatas, bananas e se possivel um animal vivo. Da última vez correu mal e perdemo-nos e safei-me. Não me lembro de fome, mas talvez de sede.

Nada disto é comparável às ações de combate e patrulhas de dias, com rações de combate, que não eram o meu forte.

Depois tinha a grande vantagem de todos os meses poder ir a Bissau e matar a barriga de misérias, a verdade seja dita.

Nos últimos meses em S. Domingos, a Companhia de intervenção, a CART 1744, por intermédio do sargento e um cabo da secretaria, com o aval do Capitão, construíram um tipo de restaurante ambulante, com frangos assados criados ali na horta e tantos legumes frescos como nunca tínhamos visto. Foi um fartar, mas pagava-se!

Diga-se em abono da verdade, que estas situações que conto, não eram normais, só alguns participavam nelas, eu quase sempre, um ou outro furriel ou sargento, e ocasionalmente um alferes que se juntava, não sei os critérios porque não era da minha organização.

Agora que havia uma segregação entre tropa branca, segundo os escalões, é verdade, mas só constato isso agora por estarmos a falar, senão para mim seria o normal, porque não vi nunca outra postura de solidariedade, para todos.

Quando o Luis diz que não se sentou junto dos seus soldados no refeitório ou outro local , acredito, mas para mim isso foi uma normalidade.

Os meus cumprimentos e abraços
Virgilio Teixeira


2025 M05 21, Wed 00:15:54 GMT+1




2. Excerto do poste P1009 (*)


Manuel Vieira Moreira  (1945-2014) (ex-1.º cabo mecânico auto, CART 1746, Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69; natural de Águeda; ppoeta popular e letrista de fados, entrou paraa Tabanca Grande em 27/11/2008; tem 33 referências no blogue).

O destacamento da Ponta do Inglês, na foz do Rio Corubal, subsetor do Xime, setor L1 (Bambadinca), era um dos sítios mais desgraçados da Guiné.  Foi dos aquartelament0s abandonados pelas NT logo no início do "consulado" de Spínola.

 

CANÇÃO DA FOME

por Manuel Vieira Moreira (1945-2014)


Estamos num destacamento,
A favor de sol e vento,
Na Ponta do Inglês,
Não julguem que é enorme
Mas passamos muita fome,
Aos poucos de cada vez.

A melhor refeição
Que nos aquece o coração,
É de manhã o café;
Pão nunca comi pior
Nem café com mau sabor
Na Província da Guiné.

Ao almoço atum a rir
E um pouco de piri-piri,
Misturado com bianda,
E sardinha p´ró jantar
E uma pinga acompanhar
Sempre com a velha manga.

Falando agora na luz
Que de noite nos conduz
As vistas par' ó capim:
Se o gasóleo não vem depressa,
Temos Turras à cabeça,
Não sei que será de mim.

Quando o nosso coração bole,
Passamos tardes ao sol
Junto ao rio, a esperar
De cerveja p'ra beber
E batatas p'ra comer
Que na lancha hão-de chegar.

A fome que aqui se passa
Não é bem p'ra nossa raça,
Isto não é brincadeira
E com isto eu termino
E desde já me assino:
Manuel Vieira Moreira.

Xime, Ponta do Inglês, 28/01/1968


______________

Notas de L.G.

(*) Vd, poste de 20 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26821: S(C)em Comentários (67): P*rra, dou agora conta, 50 e tal anos depois, que nunca me sentei no rancho geral, para partilhar uma refeição com os meus cabos, que eram metropolitanos, e que tinham uma barriga igual à minha... Em Bambadinca, existia o "apartheid", nobreza, clero e povo, devidamente segregados, em termos sociais e espaciais (Luís Graça)


Vd. também poste de 19 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26816: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (40): Quem não arrisca, não petisca

(**) Vd. poste de 31 de julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1009: Cancioneiro do Xime (1): A canção da fome (Manuel Moreira, CART 1746)

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26667: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte I



Foto nº 6



Foto nº 3



Foto nº 2 


Foto nº 5


Foto nº 1


Foto nº 4


Foto mº 7

Fotos (e legenda): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



Virgílio Teixeira
Fot0s do álbum do Virgílio Teixeira: membro da Tabanca Grande desde 19/12/2017. Tem cerca de 200 referências no nosso blogue. Natural do Porto, vive em Vila do Conde. É economista e gestor reformado.




A Bissau do meu tempo (Virgílio Teixeira,ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) 

-  Parte I




1. Nota de introdução.

Isto não são fotos de guerra, são de... passatempos, tempos de lazer.

Nunca tive objetivo nenhum com estas minhas fotos. Apenas instantâneos, momentos, fragmentos... para agora relembrar. Faltam muitas outras que desapareceram em acidente doméstico, Só com as fotos posso falar dos cenários e das centenas de cartas que desapareceram queimadas.

A pedido do nosso editor, aqui vou começar a publicar, ordenadamente, parte do meu Álbum, agora dedicado a Bissau: "A Bissau do Meu Tempo".

Seguem depois mais, e relacionadas com outros temas iu subtemas:

  • Café Bento, 
  • Paradas militares, 
  • Clube de Oficiais do QG, 
  • Amura, 
  • Brá, 
  • Bissalanca, 
  • Bandim, 
  • Pilão, 
  • Safim, Nhacra e outros lugares na ilha de Bissau

Relembro que se trata de álbum resguardado, por fazer parte daquilo a que chamei "As minhas loucuras na Guiné", "As minhas férias na Guiné*

Os temas poderão não ser bem do agrado de todos, mas pode ajudar um pouco aos muitos milhares que estiveram na Guiné, e nunca tiveram a oportunidade e o privilégio de conhecer a cidade de Bissau, os seus encantos e mistérios:

  • uma ida ao Pilão, 
  • o mercado de Bandim, 
  • ir comer ou comprar ostras a Quinhamel, acabadas de chegar, 
  • comer marisco a Safim,
  • ir à piscina a Nhacra, 
  • visitar o Porto Barcaça de Landim, no Rio Mansoa,
  • conhecer bem toda a estrutura do aeroporto, da Base Aérea (BA 12), em Bissalanca, 
  • do Quartel dos Adidos
  • Brá, e demais aquartelamentos na estrada de Bissau a Bissalanca, incluindo o HM241 (que só o conheceram os infortunados que por lá passaram ou quem lá esteve internado).

E duma forma geral toda a cidade, quer a Bissau Velha, mas também a Nova já com vivendas tipo Ocidental, que era pouco concorrida no tempo que por lá andei (de 21set67 a 4Ago69).

A minha função )presidente do Conselho Administrativo do meu batalhão) obrigava-me  a ir todos os meses a Bissau, onde poderia chegar a estar uma semana ou menos. Estive com o meu BCAÇ 1933 em Brá desde 26 de março a finais de abril de 1968.

Depois no final da minha comissão e da minha função no Conselho Administrativo, a partir de abril até 4 de agosto de 1969, sempre em Bissau, noutras funções, a aguardar embarque.

Daí que não tendo sido colocado sempre em Bissau, conheci no âmbito das inúmeras deslocações que fiz, e para isso utilizando o meu transporte independente, a minha motoreta, sem ninguém a mandar em mim.

Vila do Conde, 27 de março de 2025.

2. Fotos e legendas:

Foto1

Jantar no restaurante Nazareno, antes do Natal de 1967. Lado esquerdo o Furriel Riquito, amanuense do meu BCac 1933 ; do lado direito, o alf mil SAM, meu homólogo do BCac  1932, de Farim.

Vinho Casal Aveleda, garrafa tipo garrafão. Restaurante na Bissau Nova, que pertencia a alguém ligado à Casa Pintosinho (sem confirmação),  que eu frequentava assiduamente.

Foto 2

Na varanda do Nazareno à sombra, nota se ser uma zona mais nobre. Foi neste espaço que uma noite num jantar tinha levado a minha Konica Auto S2, mais o tripé e flash para fazer as tais tipo selfies.

O empregado tropeçou no fio de disparo à distância, mandou com tudo ao chão, e a lente partiu.

Fiquei sem máquina. Fui à casa onde a comprei para arranjar. Teve de ir para o Japão e levou meses a chegar. Como já não prescindia daquele aparelho, comprei nova câmara igual. Acho que custou 2500 escudos.

Quando veio a outra fiquei com duas. Uma passou a ser de fotografia a preto e a cores, e a  nova só com rolos de slides, diapositivos,  tudo a cores. Tirei mais de meio milhar delas e como só foram reveladas quando vinha de férias, eram ainda reveladas em França, nunca ninguém as viu, de todos os meus companheiros de fotos.

Foto 3

 Selfie. Penso que é junto aos armazéns de pescado, perto do Porto de Pijiguiti. Um amigo está a bater a chapa para mim e eu para ele, ambas com a minhas câmeras Konica

Bissau em Dezembro de 1967.

Foto 4

Uma noite no Pub-Bar"A Meta".

Junto de alguns amigos e outros apenas militares como eu. Da esquerda para a direita: os 3 primeiros são conhecidos do meu batalhão, mas não me lembro dos nomes. Depois, todos do meu CA, o 4º o cbo escriturário Horta, a seguir sou eu, ex-alf mil Teixeira, Chefe do CA do BCAÇ 1933;  e o último da direita o fur mil Riquito, amanuense.

Bissau Março de 1968, no mês em que estivemos em Bissau em Brá.

Curiosidade que não passa despercebida, todos de meia branca! Hoje teriam de ouvir umas bocas se aparecerem em público. Eu ainda usei meia branca, pelo menos até ao casamento.

Foto 5

Vista exterior do Restaurante "O Nazareno", na zona nova de Bissau.

Possivelmente já em Maio de 1969 a esperar embarque. Eu e a minha Bikla, com calça civil, sapato preto e meia branca.

Foto 6  

 Junto à estação dos CTT em Bissau

Na Avenida da República, chegou um novo aparelho. As balanças automáticas, uma novidade que arrastava a população para ver aquele estranho objeto, do qual saía uma senha com o peso e não sei se altura! 

Estou eu a pesar-me, uns 47-50 kg se tanto, e o meu homólogo do CA do BCaç 1932,  alf mil Soutinho Verde, Bissau entre março ou abril de 1968.

Foto 7

Na Pensão Dona Berta.

Era um Ícone da cidade de Bissau e da Guiné. A Dona Berta era uma pessoa muito afável e a sua pensão mesmo em cima da avenida principal era um local de convívio, mais para casais, e tinha nas redondezas, o Bento, a Gelataria, o Stand de automóveis e gás, acima a bomba de gasolina da Sacor. Em frente a Casa Gouveia ("Armazéns do Povo", depois da independência).

Mais para baixo,  para o rio (o estuário do Geba), situa-se a Catedral de Bissau.

Foi captada entre muitas outras em dezembro de 1967, cerca de 3 meses, depois de ter desembarcado.

Ali me encontrei com um amigo de café,  do Café Cenáculo do Vale Formoso, Porto.

O homem da Cheret que,  antes de embarcar, casou pelo civil com a sua namorada, sem a família de ambos saber, e depois fez a viagem na TAP e foi passar a Lua de Mel à Pensão Dona Berta, onde o encontrei.

Remetendo para as conversas de caserna, no final, esta é uma  incrível história real. 

(Continua)
 

quarta-feira, 5 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26554: Ainda o desastre do Cheche (Virgínio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, Nova Lamego e Sáo Domingos, 1967/69)



Foto nº 1 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Rio Corubal > CART 1742 > c. set 1967 / c. abr 1968 > A jangada com estrado assente em três canoas... O Abel Santos diz que a a foto é de janeiro de 1968, ou seja, um ano antes da Op Mabeco Bravios.


Foto (e legenda): © Abel Santos (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Texto enviado pelo Virgílio Teixeira (ex-mil SAM, BCAÇ 1933, Nova Lamego e Sáo Domingos, 19567/69), comj data de 10 de fevereiro passado, 16:27: "Caro Luis, estive a desfolhar o meu imenso arquivo a que chamo "CTIG 67/69". E enciontro tantas coisas...  Vi este tema do Cheche, que já saiu, embora diferente há uns anos. Se vires interesse em repescar mais alguma coisa, podes dispor. Fiz uns pequenos aumentos, que na época deixei passar. Um abraço. VT."


CHECHE - AINDA ALGUNS CONTRIBUTOS PARA A TEORIA DO ACIDENTE

por Virgílio Teixeira



O DESASTRE DO CHE-CHE - PARTE I

Alguns contributos para a tentativa de, senão esclarecer, pelo menos contextualizar, no tempo e no espaço, aquele terrível acidente, que por muito tempo que ainda andemos por cá, nunca será esclarecido, é um daqueles mistérios, que ninguém quer ver revelados, é a minha opinião, sem qualquer intenção de julgar, até porque nada sei mais do que os outros.

O Abel Santos, que não tenho o prazer de conhecer pessoalmente, e
steve em Nova Lamego e Buruntuma (julho 1967/ junho 1969). É mais antigo que eu, gostava de lhe poder perguntar se esteve lá no mesmo período que eu, em Nova Lamego (NL): 21-09-67 até 26-02-68. 


A CART 1742 fazia parte de um grupo de 17 subunidades que estiveram naquele período sob o comando do meu BCAÇ 1933. Mas e
u não conhecia bem as instalações da chamada Companhia de Baixo, em Nova Lamego.

A CART 1742, ao contrário em São Domingos, com a CART 1744, que conhecia e bem e confraternizávamos, pois, aquilo era mais pequeno. Sei que, no setor de Nova Lamego, ficou na dependência do BCav 1915, depois do meu  BCaç 1933 e ainda do BCaç 2835. 

Tomou parte em operações realizadas nas regiões de Ganguiró, Canjadude, Cabuca e Sinchã Jobel, entre outras e ainda em operações conduzidas em outros sectores da zona Leste, bem como em escoltas a Béli e Ché-Ché. Em meados de abril de 1968, foi transferida, para Buruntuma, a fim de render a CCaç 1588... Portanto, já estava no setor L5 quando se realizou a Op Mabecos Bravios e se deu o desastre de Cheche, em 6 de fevereiro de 1969. (Regressaria à metrópole em junho de 1969.)
 
Estive a ler a História da Unidade (BCAÇ 1933), todos os acontecimentos no período de Nova Lamego, e não encontro referência a muita coisa, não sei qual o critério que seguia  essa brochura.

Contudo vejo que a CART 1742 estava sediada em NL, apenas o 3º pelotão estava em Camabajá. O Abel não sei de que pelotão era.

Ele diz que a foto nº 1  é de janeiro de 1968 (*), estava eu lá, em Nova Lamego, e notava-se sempre grande burburinho com as famosas colunas para Madina e Béli, tudo se agitava à volta deste tipo de acontecimentos, eu tenho reportagens feitas de madrugada a quando da saída das colunas.

Na história da Unidade (HU) não consta por exemplo a emboscada que provocou a morte do alferes Gamboa e outros, perto de Piche, da CCAV 1662, e que foi no 4º trimestre de 67.

Como também não refere aqui um caso que muito chocou a malta em NL, a emboscada de uma coluna vinda de NL, após rebentamento de minas perto do Cheche, e na sequência da qual foi morto com uma bazuca o major Ruas, entre outros. Este acontecimento causou grande consternação, em especial à mulher e família que estavam em Bissau. Os pormenores foram-me contados por um dos meus amigos, um soldado condutor, que estava lá presente, e que eu encontro com frequência em Vila do Conde, é um empresário da Têxtil em Guimarães, que me tem muito em consideração, e que eu retribuo.

Este oficial, major Ruas, que eu conheci na messe, pertencia ao Batalhão de Engenharia, e vinha com frequência a NL, pois era o responsável pela operacionalidade da jangada da morte.

Nunca me ocorreu, mas agora pergunto: essa foto nº 1 seria já de uma nova jangada com as 3 pirogas mandada construir pelo major Ruas? Não sei mais nada.

Mas a HU que não sei quem a supervisionava, era escrita pelo tenente Albertino Godinho, mas seguia as instruções do Comando, penso eu, mas nada sei.

Falhou muita coisa que eu vi e seria objecto de uma nota, nem que fosse pequena. Constava por exemplo coisas de nenhum interesse, passo a citar:
 
  • No dia X o comandante do batalhão deslocou-se a Piche;
  • No dia Y o comandante do batalhão deslocou-se em coluna a Pirada, acompanhado pela esposa do nosso Médico, vestida a rigor de camuflado...

Esqueceram-se de mencionar, por exemplo, um facto inédito:

  • No dia Z um alferes miliciano do CA, deslocou-se a Susana, comandando um grupo de 5 homens, num barco da Engenharia denominado de Sintex, para ir levantar alguns mantimentos que não existiam em S. Domingos, sede do Batalhão. Depois de 3 ou 4 dias, regressou no mesmo barco, carregado de vários mantimentos, entre eles um saco de batatas da Manutenção militar.
  • Só que o piloto do mesmo barco, com grande experiência dos imensos rios e riachos, acabou por se perder sem se saber onde fomos parar, a uma pequena povoação de Felupes.
  • Não tendo Rádio para transmissões, o piloto fez várias tentativas por rios que nunca acabavam, até que acabou mesmo foi a gasolina dos dois motores. Sem rações de combate, sem bebidas por ali esperamos que fosse avistado um meio aéreo, que naturalmente teria sido pedido uma vez que a data de saída de Susana foi transmitida ao comando do BCAÇ 1933, mas a chegada nunca aconteceu no tempo certo.
  • Após dois dias de calor, fome e sede, lá vimos uma avioneta a rondar o nosso frágil meio de transporte e depois deu-se a evacuação, já nem me lembro como foi.
  • Sendo eu o "comandante" daquela força expedicionária, não sabia o que fazer, muito menos os outros, e passei o tempo, ou parte dele, a dormir na banheira em cima do saco de batatas.
  • Por ignorância e coisas da idade, nunca me preocupei, pois pensei sempre que nos vinham buscar, antes se possível, de sermos levados como reféns para Conacri!

A razão desta falta (referência na HU), penso eu, ainda hoje, deve-se à ocultação do facto por ter sido um oficial dos SAM a comandar aquela força militar por sítios que nunca conheci, e não tinha formação militar para isso, foi um abuso de poder do major de operações, na falta do nosso original comandante, evacuado por ferimentos em combate.

Há um cabo das transmissões que mantinha informações permanentes com a BA12 e sabia do que se passava e foi com a sua insistência que acabaram por nos encontrar, isso deu muito que falar, mas poucos sabem do que realmente se passou.

E assim os Felupes não tiveram o gosto de comer carne humana, num churrasco num sítio que só podia ter sido no cu de judas (estiy a reinar, sei que eles só praticavam o necrogafia, cortando para isso a cabeça dos inimigos). E gostava de saber em que povoação fomos parar. 

Então a HU não conta tudo, só o que for relevante para as operações militares e não só.

Isto bem contado com os pormenores que não sei, até dava uma série televisiva (...).

No dia 17 de janeiro de 1968, dá-se a operação Lince, nome dado à operação de retirada da CCaç 1589 de Madina, e substituída pela CCAÇ 1790 do meu Batalhão e do capitão José Aparício.

Esta operação de 5 dias mobilizou enormes meios humanos e materiais, e lembro-me de ter assistido à chegada dos homens daquela companhia a NL completamente pirados, com o devido respeito, tinham passado um ano naquela fogueira, isolados do mundo.

O Abel, caso tenha participado nesta operação deve saber muito mais, e pelo menos sabe mais do que eu mesmo que não tivesse estado nessa operação.

Fica aqui o meu pequeno contributo, para a história deste caso, macabro.


O DESASTRE DO CHE-CHE  > PARTE II - PASSAGEM DE TESTEMUNHO

Acerca das dúvidas aqui levantadas, o porquê de irem primeiro alguns membros das companhias e batalhões, posso esclarecer com o meu caso.

O BCAÇ 1933 tinha feito o IAO em Santa Margarida, onde estive, quando vem uma Nota para seguirem à frente alguns oficiais e sargentos, com o objectivo de passar o testemunho, era assim que se dizia. Ou seja, tomar conta do espólio deixado pelas unidades que iam ser substituídas por outras e tomar conta dos acontecimentos mais relevantes:

Assim, consta na HU que o meu BCAÇ1933, tinha a CCS, as CCAÇ 1790, 1791 e 1792. Embarcaram para a Província da Guiné gvia Aérea, num velho DC6, do tempo da 2ª guerra mundial e com carga diversa, os seguintes oficiais e sargentos:

OFICIAIS DO COMANDO E CCS:

Tenente Coronel de Infantaria, Armando Vasco de Campos Saraiva, Comandante;
Major de Infantaria, Graciano Antunes Henriques, Oficial de operações;
Alferes Mil do SAM, Virgílio Oscar Machado Teixeira, Conselho Administrativo

COMPANHIA DE CAÇADORES 1790:

Alferes Mil de Infantaria, Evélio F. S. Amorim, Comandante de Pelotão
2º Sargento de Infantaria, Carlos de Oliveira, Comandante de Secção

COMPANHIA DE CAÇADORES 1791:

Alferes Mil de Infantaria, Antero T. Igreja, Comandante de Pelotão
2º Sargento de Infantaria, José Carlos A. Canas, Comandante de Secção

O restante pessoal do batalhão, o grosso dele, seguiu em 27 de setembro de 1967, no navio T/T Timor, chegando a Bissau em 03out67.

A CCAÇ 1792, não veio neste transporte, seguiu no Uíje um mês depois, juntamente com o BCAÇ 1932, e nunca mais esta Companhia esteve junto ao seu Batalhão orgânico.

A razão de ser desta força militar ir à frente, tem a ver com a tal passagem de testemunho, e pelo que toca aos Alferes das 2 companhias, eles são talvez dos mais antigos.

O NIM (Nº de Identificação Mecanográgico) acaba em 66 para o Eurélio, é, portanto, da inspecção de 65, nascido em 45, incorporado em 1965. Os outros são terminados também em 66 ou 65. O NIM do Igreja acaba em 65, inspecção de 64, nascido em 44, e possivelmente incorporado em 1964. Os outros são terminados em 65.

Para o meu caso, que nada tem a ver com estes, o NIM acaba em 64, inspecção de 63, nascido em 29-01-1943, e devido a adiamentos incorporado em Mafra, EPI, em 03-01-1967.

Quanto aos Sargentos, também me parece que é pela antiguidade, uma vez que os Furriéis são todos mais novos, e os 1º Sargentos eram da Secretaria, e não faziam parte destas contas.

Curiosamente, eu fui substituir o meu homólogo do BCAV 1915, do qual herdei imensos problemas, que tiveram de ser resolvidos por mim, e que ele nunca me agradeceu.

Por outro lado, o meu homólogo do BCAÇ 1932, seguiu junto das restantes tropas e não sei se os comandos foram também à frente de avião. Sei que regressou comigo, por isso fez menos um mês de comissão do que eu.

Salvo alguns lapsos, acho que dei conta da nossa situação, que era generalizada para todas as Unidades.


O DESASTRE DO CHE-CHE >  PARTE III

Cumprimento o Abel Santos, pelo desempenho e pormenor dos seus comentários, e fica claro que não quero falar em nome de ninguém e casos que não conheço no terreno.(**)

Infelizmente, nunca tive a oportunidade de viver no terreno, as experiências terríveis de combates, minas, emboscadas, apenas levei com bombardeamentos no quartel, e chegou.

Começo por dizer que não estamos aqui a julgar ninguém, nem nada, eu apenas me limitei e fazer eco daquilo que se dizia, mas nunca vi nada, porque não tinha de estar lá nem ver.

Muito menos quero fazer da minha intervenção casuística, um caso de justiça ou investigação.

O Abel não confirmou, mas pelas datas da sua estadia em Nova Lamego, estivemos lá na mesma época, sem dúvida. Como a vila era relativamente grandinha, não dava para se ver ou encontrar tanta gente que lá fazia o seu serviço militar.

Vou fazer um reparo, que pode confirmar-se ser engano, ou troca de números, pois, segundo diz, a sua CART 1742, foi substituir em 14set67 a CCAV 1963 (ou 1693?). Erro gráfico.

(i) Caso alferes Gamboa: Como disse estive com ele, conforme foto já divulgada nos postes, pouco antes da sua morte. Fiz várias vezes, colunas, entre NL-Piche - NL, e nunca aconteceu nada de especial, graças a Deus. Tive conhecimento da trágica morte deste amigo, uns dias depois, e cada um conta à sua maneira, como aliás tantas vezes aqui se contradizem uns aos outros.

E já agora, acho que não vi isso aqui escrito, mas falou-se que os terroristas, lhe arrancaram o coração, e no seu lugar colocaram os galões de tenente que ele trazia consigo, pois estava à espera da sua promoção para breve, o que nunca chegou a acontecer, infelizmente.

(ii) Caso major Pedras: conheci-o na messe de oficiais, embora diga-se que não sabia na altura qual era a sua função, o que se confirma agora, pois já falei com as minhas fontes. Este soldado condutor, que fazia parte de um grupo restrito dos petiscos, fez várias colunas para o Cheche, Medina e Beli, conduzindo a sua GMC. 

Ele contou, exactamente o que o Abel diz, o major Pedras,  do Serviço de Material, ia na viatura da frente juntamente com o furriel Jorge, da Engenharia, que nunca conheci, julgo eu. Este ex-militar contou-me há cerca de meia dúzia de anos aquilo que ele presenciou, nos termos em que contei e não vou repetir. 

Mas se o Abel estava lá, deve ter a sua versão, que, com bazuca ou com minas e armadilhas e emboscadas, o certo é que ele foi gravemente ferido e evacuado, acabando por falecer no HMP 241. E que tendo o tal soldado condutor ajudado a transportar o corpo para o Heli. Como não conheço estes factos, fico por aqui, e tanto faz para o efeito.

(iii) A jangada: Já foram aqui apresentadas várias versões do acidente mortal da fraca jangada, que nada tem a ver com essa da foto 1. Como eu não estava lá, nunca a vi, ficam as imagens que vão aparecendo nos Postes.

Com isto termino a minha intervenção.

Obrigado pela chamada aos postes desta tragédia que nunca deveria ter acontecido. E aproveito para desejra as melhoras do Abel Santos, que afinal é meu vizinho aqui do Norte.

Virgílio Teixeira
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31 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22053: Casos: a verdade sobre ...(21): a jangada que fazia a travessia do rio Corubal, em Cheche, já era assente em três canoas, no meu tempo, c. set 1967 / c. abr 1968 (Abel Santos, sold at, CART 1742, Nova Lamego e Buruntuma, jul 1967 / jun 1969)

(**) Vd. postes de:


2 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22059: (In)citações (183): A propósito da(s) jangada(s) do Cheche... e lembrando aqui mais mártires do Boé: o major Pedras, da Chefia do Serviço de Material, QG/CTIG, e o fur mil Jorge, do BENG 447 (Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM; CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26466: Efemérides (449): Aos 47 mortos da Op Mabecos Bravios (Cheche, 6 de fevereiro de 1969): a minha homenagem (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)



Guiné > Região de Gabu > Carta de Jábia (1961) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Ché Ché, na margem esquerda do Rio Corubal.


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)



Virgílio Teixeira
1. Homenagem do Virgílio Teixeira, aos militares mortos na travessia em jangada do Rio Corubal, no aquartelanmento de Cheche, na sequência da retirada de Madina do Boé (Op Mabecos Bravios, comandada pelo cor inf Hélio Felgas, cmdt do Cmd Agrup 2957, Bafatá).

 Porque faz hoje 56 anos dessa trágica ocorrência (*), não posso esquecer os valorosos militares da CCAÇ 1790/ BCAÇ 1933, bem como da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852, além de um guia nativo, perfazendo um total de 47 vítimas. 

Chamaram acidente! Porque não mortos em combate ?!

A verdade morreu na praia, nunca ninguém foi acusado e deve haver alguém muito culpado. Não éramos uma tropa amadora.

 Esta mensagem singela  é só para lembrar este nefasto acontecimento. Onde quer que vocês estejam, camaradas, saibam que aqui na terra dos vivos há sempre akguém que vos não esquece.
 
Obrigado pela vossa dedicação a esta causa perdidas nas entranhas da política.

Eu vivi algum tempo com os quadros da CCAÇ 1790 do meu BCAÇ 1933,

Viva Portuugal

6 de fevereiro de 2025

Virgílio Teixeira,

 ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933 (1967/69) (*)

2. Nota do editor LG:

É importante lembrar esta trágica efeméride, e as suas vítimas inocentes. Infelizmente, não há dados novos para aprofundar o nosso conhecimento deste dossiê da nossa guerra, que continua por fechar... 

A culpa morreu solteira, como noutros "desastres" de guerra... "Desastre" é sempre um eufemismo. A verdade é que estes nossos camarada não morreram por ação direta do inimigo, pelo que sabemos das "crónicas" da época e dos testemunhos dos sobreviventes, como por exemplo o nosso grão-tabanqueiro Rui Felício, ex-alf mil, cmdt do 3º Gr Comb, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Dulombi, 1968/70).

Virgílio, fizeste bem em lembrar esta efeméride. Foram 47 camaradas que morreram pela Pátria, mas não estão na lista dos heróis... Quem se lembra deles, 56 anos depois  ? Nós e os seus familiares e amigos... A vida continua, a Pátria continua... E alguém sabe lá onde era esse sítio de cambança do Rio Corubal, que uns chamavam Cheche, outros Ché-Ché... (não "cheché"). (Na carta de Jábia, o cartógrafo grafou "Ché-Ché" e a gente devida seguir a carta...).

Sobre  a Op Mabecos Bravios, e mais especificamente sobre o desastre do Cheche, temos algumas dezenas de referências:


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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 23 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26415: Efemérides (448): o ataque a Tite, em 23 de janeiro de 1963, há 62 anos, na versão do Arafan Mané (1945-2004), um "cabra-macho" de 17 anos que, com outros ainda mais novos (Malan Sanhá, 1947-1978), deu o primeiro tiro simbólico de um guerra estúpida e inútil (Luís Graça / José Teixeira)
 
(**) Vd, também poste de 6 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22974: In Memoriam (426): Paz para a alma de todos os nossos camaradas que morreram no desastre de Cheche, faz hoje 53 anos...Foram 47 vidas ceifadas na flor da idade... Estupidamente!... (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26436: A extinção dos Conselhos Administrativos dos batalhões de reforço no CTIG (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, Chefe do CA, BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - II (e última) Parte



Foto nº 3 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos Guiné > 22 de fevereiro de 1969 > Local e cena de ‘fuga’. Pista de São Domingos.  Pista, cobertura de passageiros, torre de controlo, avião Dornier dos TAGP, o jipe  que me transportou, o jipe do Comandante, o jipe  do administrador de Posto, outras viaturas, e personagens do filme.


Foto nº 4 >  Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 22 de fevereiro de 1969 > A avioneta DO – Dornier dos TAGP, levanta voo em ‘fuga’, a caminho de Bissau... Local, pista de São Domingos...


Foto nº 5 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 22 de fevereiro de 1969 > Uma vista aérea do aquartelamento. Pode ver-se a pista, as instalações do Comando e CCS, as instalações da CART 1744, a última vista geral que eu foquei, ambígua, nostálgica, com muito stress.



Foto nº 6> 
Guiné > Bissalanca > 28 de fevereiro de 1969 > Local e cena da ‘fuga’: aeroportoo de  Bissalanca. Na placa da pist, à esquerrda,  pode ver-se um avião da TAP, Boeing 707, e  à direita a sala de embarque.



Foto nº 7 > O Avião TAP B707, algures ao largo do Senegal, nos céus de África, em 28 de fevereiro de 1969. Pode ver-se a Asa do Avião, o Mar azul a terra de areia branca, talvez, costa do Senegal.


Foto nº 8 > Lisboa > Aeroporto da Portela > 29 de junho de 1968 > A minha chegada (no primeiro período de férias).  A minha família. Eu levo uma grande mala, ao lado a minha mãe com um saco de documentos da TAP, atrás a minha irmã Filomena com uma mala branca, e no final de tudo a minha namorada Manuela.
 



Foto nº 12 > Porto > Ponte da Arrábida > 17 de junho de 2019, 17h35 >  A subida às entranhas da Ponte da Arrábida - 65 metros, 162 escadas, 18 andares


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


A EXTINÇÃO DOS CONSELHOS ADMINISTRATIVOS (CA)  DOS BATALHÕES DE REFORÇO (BR) 
NO CTIG - II (e última) Parte (*)

por Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933 
(Nova Lamego e São Domingos, set 67 / ago 69)



Virgílio Teixeira, Vila do Conde, 
ex-alf mil SAM, Chefe do CA,
 BCAÇ 1933 
(Nova Lamego e São Domingos,
 set 67 / ago 69)
 



IV – A MINHA FUGA DE SÃO DOMINGOS


... Tenho de ir de férias antes do encerramento das contas! 

Começo logo a pensar que tenho de arranjar forma de ir de férias ainda no 1º trimestre de 1969. Não posso ficar ali e não sei quando e como vou encerrar tudo, começo a imaginar coisas e a o filme começa a desenhar-se.

Fui preparando tudo sem dar nas vistas, em janeiro ainda fui a Bissau entregar as contas na Chefia
Chefia de Serviço de Contabilidade e Administração   de Contabilidade, e ainda deu para mais uns passeios a Safim, Nhacra, mergulhos na piscina e saborear uns petiscos até arranjar boleia num Dakota.




Foto nº 2 -Bilhete de avião, emitido pelos TAGP - Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa, com data de 22/2/1969. Viagem São Domingos-Bissau, em Dornier. Valor: 224$00.


Em fevereiro de 1969 estou a planear as minhas férias. Marquei junto da secretaria que depois ia a despacho do comandante. Veio assinada a autorização, agora sei que ele nem sabia o que estava a assinar.

Marquei a viagem na TAP, era a 26 de fevereiro, depois nos TAGB, comprei o bilhete, tudo isto passava pelo nosso Sargento e representante do batalhão em Bissau. Já tenho os bilhetes e está tudo pago (Foto 2).

E vou realmente de férias, mas as cenas que se seguem fazem lembrar o ambiente de tensão no filme "Casablanca" entre Bogart e Ingrid Bergman (10).


V – UMA SEMANA À ESPERA DA SAIDA

Foi uma semana de ansiedade, como se compreende, dado se tratar de um "fugitivo", mesmo que legalizado, andei várias vezes a consultar o QG – Pessoal, para saber se estava tudo bem.

Eu não me lembro exatamente de tudo por razões que são evidentes, estava sempre à espera que fossem ter comigo à messe de Santa Luzia, para me apresentar no QG.

Hoje sei o que isso é, sofrer por antecipação, por isso tentei distrair-me após ir prestar as contas do mês findo na Chefia do Serviço de  Contabilidade, e por lá andei, tinha lá vários colegas do Porto, e se houvesse alguma coisa eles diziam.

No dia do embarque, ou no dia anterior, entregam-me a Guia de Marcha ou de autorização de saída, não sei bem como era.

Este pesadelo durou até à hora de fecharem as portas do avião da TAP. Finalmente estou no céu e mais ninguém me pode impedir de gozar as minhas férias (Foto 6)

A viagem corre normalmente. Já estou na costa de África, bonitas paisagens que já antes tinha visto mas não as apreciei como agora (Foto 7).

Mais à frente sobrevoamos a Costa da Mauritânea, areia e mar sm fim, lugar especial para uma grande idade e um resort de luxo.  E estamos em Portugal, já vi tudo desde o Algarve até Lisboa, os contornos do Sul até Lisboa, já antes vistos e não apreciados. 

Hoje ironicamente lembro-me, embora sem justificação, daquele colega de bordo no UIGE, que o vieram buscar na hora da partida.

E assim cheguei a Lisboa, lá estava a minha namorada com a minha irmã casada e o meu cunhado, que acompanharam a minha Manuela, porque a sua mãe não deixava a menina ir sozinha. Tenho uma foto, mas não sei delas, andam por aí perdidas (Foto nº 8) (a minha primeira licença de férias, em 29 de junho de 1968).

E com surpresa vejo que está tudo diferente, o ambiente pesado. Durante o voo aconteceu um tremor de terra, que não senti no avião, como é natural, era o dia 28fev69. Falou-se muito mas eu estava noutra onda.



Eu e a Manela, Porto,
Praia da Foz, julho de 
1968

VI – AS MINHAS FÉRIAS DE LICENÇA MILITAR


As férias passam rápido, não tendo tempo a perder, tenho de aproveitar os tempos livres.

A minha namorada estava a trabalhar, não tinha férias nessa época, aproveitei para tirar partido máximo dos 35 dias que tinha pela frente.

Não sendo este um assunto importante para tratar aqui, resta-me lembrar que no dia 18 de março de 1969, pedi a minha namorada em casamento, e ofereci-lhe um anel com a inscrição da data, ficamos portante noivos...e até hoje.

E no dia 4 de abril regressei à minha guerra, com saudades, mas passou rápido, tinha uma tarefa muito importante pela frente.

VII – O FECHO DE CONTAS DO MEU BATALHÃO

Quando regressei ao CTIG, i no dia 5 de abril de 1969, fui apresentar-me ao QG, e logo me informaram 
que devia seguir para o ‘600’ ( era um quartel onde estacionavam as companhias que faziam a segurança do QG).  Nessa altura estava lá a fechar as contas também o meu amigo do Porto, o alferes Ruas, do BCAÇ 1911. Passou-me o testemunho com uma guia de entrega de material, uma burocracia totalmente inútil, deviam pensar que ia trazer as mesas de trabalho para casa (Foto 9).


Foto nº 9 > Guia de entrega de material do BCAÇ 1911 à comissão liquidatária do BCAÇ 1933: uma mesa,  5 cadeiras (!)...


Durante as minhas férias todos o arquivo e material deixado em S. Domingos, encontrava-se lá num pequeno cubículo que me destinaram. Estava lá a aguardar-me apenas um furriel amanuense, e um cabo escriturário do CA.

Não deixo de registar que todos os meus bens pessoais não foram devolvidos para a minha nova sede, ficou tudo, incluindo uma motorizada Honda que nunca mais a vi. Também tinha outra em Bissau na nossa arrecadação, e também lá ficou sem ser entregue a minha arma G3 e cartucheiras, bem como muita farda militar e civil. 

Ainda pensei que um dia me vinham acusar de ter desviado o material de guerra, e ainda hoje continuo a pensar o que teria sido feita à minha G3, só pode ter sido entregue por alguém no depósito de armas.

Ficaram, pelo menos à guarda de um elemento do CA, os meus três caixões carregados de bebidas que fui juntando ao longo da comissão, um espólio de se tirar o chapéu. Viria a recebê-lo no RAL 1 de V.N. de Gaia, uns meses depois. Intacto.

Agora estava mais perto da Chefia de Contabilidade para eventuais dúvidas, que parece não tive, nem foram precisas. Não levou muito tempo, trabalhei arduamente no meu trabalho e funções e acabei tudo ainda em 10 de maio de 1969. E tudo aprovado.

No dia 9 de maio, porque sobrou das contas apenas $50 centavos (!), tive de o ir depositar no Banco Nacional Ultramarino em Bissau, em nome da Comissão Liquidatária do BCAÇ1933, com sede no SPM 4568 (Foto 10).



Foto nº 10 > Comprovativo do depósito de 50 centavos (!), no BNU, em Bissau, em nome da comissão liquidatária do BCAÇ 1933. com data de 9 de maio de 1969.


E finalmente a 10 de maio de 1969 faço a entrega formal de toda a documentação, livros, arquivos e demais papelada na Chefia de Contabilidade, dentro dos caixotes fechados e lacrados, sendo tudo aprovado e finda a minha função no CTIG. Entregue com a Guia dessa data, em duas folhas, numeradas 
(Foto 11)(Vd. Nota 10).







Foto nº 11 > Lista da documentação entregue pela comissão liquidatária do BCAQÇ 1933 â Chefia do Serviço de Contabilidade e Administração do QGCTIG, Santa Luzia

E assim fiquei "desempregado", estava livre para regressar, mas o Comando do Batalhão entendeu que devia de regressar junto com os restantes. Colocaram-me nos Adidos para gerir não sei quê, talvez o sector da alimentação que nada sabia sobre isso.

Depois meti baixa ao Hospital Militar 241, fui para a Psiquiatria, estive internado cerca de 15 dias, no mês de maio de 1969, e depois passei à medicina internma.  

Acabei por ter alta, colocaram-me no CA dos Adidos em Brá, como adjunto do CC do CA, e por aí fiquei até ao dia do meu embaque.

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Nota final:

Isto é o resumo desta actividade, desta minha missão no CTIG.

Espero ter contribuido de algum forma para um cabal esclarecimento desta guerra que poucos conhecem, mas agora poderão perceber um pouco mais. Assim desejo, pois este trabalho levou-me um mês de pesquisa de tanta coisa de que já nem eu me lembrava.

Notas de rodapé que anexei, poderão ser extensos, mas são esclarecedores quer para os leitores quer para mim.

Foi um trabalho que nunca tinha feito sobre nenhum tema em particular. Obrigado por tudo

©  Virgílio Teixeira (2025)

(Revisão / fixação de texto: LG)


21 de janeiro de 2025
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 Notas do autor:


(10) A adrenalina sobe, e nesse período ainda faço a viagem louca de Sintex para Susana e Varela, já aqui transcrita, tudo para não me encontrar com o Coronel Renato Xavier,   o novo comandante do meu batalhão.

Chega o dia 22 de fevereiro, da minha viagem na DO dos TAGB.

O coração bate apressado, e penso lá comigo:

– E se o comandante não assina a Guia de Marcha?

Faz-me lembrar o outro que vieram buscar ao Uíge na hora da partida . Não tinha nada a recear, estava tudo legal do meu ponto de vista.

Manhã cedo vou ao gabinete do comandante, digo para o que vou ali, e levo a Guia de Marcha que o tenente Godinho da Secretaria me deu. Acho que nem leu e assinou de cruz. Eram umas 8 horas da manhã.

Tenho o saco com algumas coisas, deixo tudo, exceto uma das minhas camaras Konica.

A outra fica entregue a uma das pessoas do meu CA, para tirarem umas fotos da minha saída e quando já fosse no ar na avioneta DO.

Passado uns tempos, não sei quanto tempo, mas pareceu-me uma eternidade, ouço a avioneta a fazer-se à pista, e como eu todos ouvem, incluindo o comando.

Apanho um jipe e chego a tempo de fotografar a chegada da DO, bonita, parecia um pássaro às cores. Era a minha imaginação. A DO está no seu ponto de paragem, o piloto não desliga os motores, descarregam os sacos de correio e pouco mais. Despeço-me de alguns companheiros e estou pronto para entrar na DO (foto 3)

Cumprimento o piloto, um profissional da aviação civil, já conhece tudo pois faz muitas viagens destas, uma vez pelo menos estive na pista com ele, noutra situação. Estou eufórico e preocupado e com razão!

Vejo a chegar a alta velocidade e no meio do pó que deixava para trás, um jipe que trava com todas as ganas junto à DO. Era o comandante Xavier!

A seguir há um diálogo de loucos que ainda hoje me lembro tantas vezes. Dirige-se a mim, e pergunta logo:

– Para onde vai? 

O piloto já se apercebeu que não me vai levar para Bissau. Respondo que vou para Bissau e depois para a Metrópole, gozar as férias a que tenho direito. 

– Não pode ir !!! – diz ele com os olhos esbugalhados.

– Eu tenho a Guia de Marcha que o meu comandante assinou há pouco.

– Não interessa, é preciso fechar e encerrar as contas, conforme Nota do QG.

– Mas agora já tenho aqui a avioneta dos TAGB para me levar já paguei e também já paguei o transporte na TAP.

– Não interessa, não pode sair daqui!

Isto é uma eternidade em 5 minutos, palavra puxa palavra e eu disse que tenho de ir. Meto um pé dentro do habitáculo, ele agarra-me o braço, já não sei bem o que mais se passou.

O piloto manda um aviso com os motores a trabalhar e a poeirada no ar.

– Tenho de levantar voo agora  
– e vira-se para mim como a dar-me um sinal, "ou sai ou entra". 

A atitude que tomo é a normal, o Xavier agarra mais o braço, a seguir eu dou-lhe um empurrão e ele larga o braço. Entro. As portas fecham. O piloto dá meia volta e faz-se à pista. E num espaço pequeno arranca e levanta, já estou no ar (Foto 4).

Bato uma chapa lá de cima – a ultima visão de São Domingos   
–, não se vê a cara do Xavier. Vou a caminho e começa novo pesadelo (Foto 5).

– E se depois de chegar a Bissau, quando me for apresentar no QG e têm lá um rádio a pedir a minha suspensão de embarque e até uma detenção?

Afinal era um "fugitivo legal", e assim acaba esta estória "cabraliana", aquilo a que chamei de "A minha fuga de S.Domingos".

Isto mais parece um filme da fuga dos 6 presos de Alcochete! Ou as fugas do Papillon naquele livro e filme inolvidável. Ambos verdadeiros.


(11)  Neste período ainda fui muito útil a dois colegas meus da mesma função.

O já falado Ruas,  do BART 1911, que não conseguia fechar as suas contas por ter dinheiro em excesso, e pediu-me se podia dar uma ajuda:  o saldo foi transferido para o meu CA que foi colmatar eventuais faltas. 

O problema eram as verbas de pensões que sobravam, dos militares
que morrem, dos feridos e evacuados e tudo se perde na confusão, não há informática, é tudo à mão, o que torna tudo mais difícil. O fecho de contas não pode ser aceite, com saldos em aberto que não se sabe a quem pertence. Ele lá resolveu tudo e embarcaram ainda em maio.

Também acontece o mesmo com o meu homónimo do BCAV 1915, o tal que fomos render em Nova Lamego, era o alferes Fragateiro, que nunca nos relacionámos bem, talvez por causa da passagem de testemunho em outubro de 1967. Apesar disso vejo algumas fotografias em Bissau na 5ª REP, juntamente com outros, mas nunca fomos amigos.

Apesar disso também o safei no 600, ele soube do Ruas que tinha resolvido comigo os seus problemas, e ele vem ao meu encontro pedir o mesmo. Feito tudo da mesma forma e ele sem sequer me agradeceu,  embarcou também em maio, e assim o meu Batalhão ficou a ser o mais antigo no CTIG. 

Para terminar esta saga, não deixo de lamentar que,. passados tantos anos depois de chegar, venho a encontrá-lo nos Centros de Saúde à porta das salas do médico, ele era, portanto, delegado de propaganda médico, no Porto, e quase não falávamos, aliás nunca falámos da Guiné. Mal-agradecido. 

Também soube pelo meu adjunto, e amigo do Instituto Comercial do Porto, o furriel Pinto Rebolo, já falecido, que ele não ia à bola comigo, não sei ainda quais são os seus motivos, mas julgo que ficou mal na fotografia e só veio embora com o seu batalhão devido à minha ajuda, ou entáo por não ter seguido estudos superiores (complexos...).

O Pinto Rebolo estava na mesma atividade que o Fragateiro, delegado de propaganda médica, e encontravam-se sempre nos mesmos locais. Mais tarde o Pinto formou-se em Direito, foi advogado e tinha escritório próprio na Rua de Camões onde o visitei várias vezes, mas também o encontrava em Vila do Conde. 

Depois como a advocacia não dava o que ele queria, deixou de exercer e continuou na propaganda médica até se reformar. Morava no Porto, mesmo perto da minha casa, de solteiro, ao redor do Regimento de Engenharia 2, do Vale Formoso, vindo a falecer por graves problemas devido ao seu excesso de peso que sempre teve. Era conhecido na vida académica do Porto, como o Pinto Rebola (e bola).

(12) Neste periodo andei primeiro perdido por Bissau, eu já não tinha o meu poder, senti-me abandonado e sem motivações para continuar a trabalhar.

Todo o pessoal, quer do meu CA quer de outros Batalhões, foram colocados noutros serviços fixos do CTIG.

A minha primeira tarefa foi nos Adidos, foi um tempo terrivel, ali passavam todos os militares, marados, apanhados do clima, doentes do Hospital, os que chegavam de férias e os que partiam, os que chegavam em rendição individual, tudo ia parar àquele chamado "Depósito",

O primeiro dia que me calhou de Oficial de Dia, era um mundo de cerca de 1000 militares que entravam e saiam, assisti como era normal ao primeiro rancho do almoço.

Quando dou por ela, estava tudo aos gritos, protestando contra o rancho. Atiram-se para cima das mesas e pontapeteiam tudo, estava a acontecer aquilo a que se chamava um levantamento de rancho, não num quartel da metrópole mas no ambiente de loucos na Guiné.

Fico sem saber o que fazer, não estava preparado para isso, mas não desanimo, embora estivesse  como o burro no meio da ponte. Com a ajuda de alguém menos protestativo, lancei o grito do Ipiranga, e pedi a todos que não me arranjassem problemas, pois não tinha solução para os seus legitimos protestos.

Não faço ideia do que era a comida nem as razões do protesto, penso hoje que naturalmente era um modo de os militares vindos do mato de fazerem chegar o seu grito de revolta sobre tudo e todos. Mas eu não tinha nada a ver com isso, estava ali chegado e caído de paraquedas.

As hostes acalmaram e correu tudo bem até final, mas o inevitável "susto" ficou... E  ainda teria outro no terceiro ou quarto dia de viagem no Uíge a caminho da liberdade perdida .

Foi assim que arranjei forma de juntar alguns outros problemas de saúde (oftalmologia, estomtologia...),.  acabando por dar baixa na Psiquiatria, com base numa "cura de sono". 

E era verdade, não conseguia dormir, não por medo, mas devido aos milhões de baratas que pululavam por aquelas barracas de madeira cheias de fendas e aqueles repugnantes bichos passearem por cima de nós. Ficou marcada esta passagem, eu não tinha instalações adequadas à minha situação, ficava nas barracas comuns. Por isso algumas vezes ficava em Santa Luzia no Biafra, sempre era tudo mais seleccionado. E outras vezes ia para o Grande Hotel de Bissau, para junto do Spinola e afins.

Quando tive alta, fui parar como adjunto no CA do Quartel dos Adidos, função que me recusei aceitar quando fico nomeado para CC do CA dos Adidos, que pela fama era um caso bicudo, pois a maioria dos que ali exerceram esta função nunca regressava dentro dos prazos, pois as suas contas eram complicadas com os movimentos de entradas e saidas e processamento das verbas de alimentação em particular. Pois como todos os que passaram por alí sabem que uma percentagem razoável não tinha as refeiçóes nos Adidos pois comiam em restaurantes de
Bissau, e estas refeiçoes que não se faziam, eram na mesma debitadas.

Alguém de dizia que era um bom lugar para ganhar muito dinheiro, é natural, mas eu queria era regressar à minha parvónia.

No CA dos Adidos ajudei alguma coisa o CC, mas não era responsável pelo todo, e por ali fiquei até final da comissão.

Mas permanecia sempre como um Oficial do BC1933, a única unidade que tive no CTIG, a titulo de emprestado.

Regressei em 10 agosto 1969, recebi o titulo de passagem à disponibilidade, assinado pelo Comandante do RI15, com data de 1 de Setembro de 69, dizendo que... "passa à disponibilidade a partir de 2 amanhã (dia 2 de setembro)".

Ainda usei o meu cartão em diversos actos miitares até ao dia da sua extinção.

Pronto, eu por cá ando... Aproveito para explicar que mandei uma foto,  a última (nº 12), que apanhei por aí, diz respeito a uma aventura que fiz ainda nos anos da pandemia e antes do problema oncológico.

É uma subida na Ponte da Arrábida, por baixo do tabuleiro, no Arco que liga o Porto a Gaia. É um negócio turístico, e eu passei por lá e aproveitei.

Foi uma aventura para mim, já tinha 78 anos pelo menos, vinha de uma rota de fotografias que fui fazer ao Bairro do Aleixo, no Porto - o maior bairro de consumo e tráfego de droga que existia. (...) Depois saí para a marginal do Douro, percorrendo quilómetros a pé, e dei com aquela subida do arco e não resisti. Estava demasiado cansado mas a adrenalina não me abandonou. Foi um espetáculo impressionante. Não tenho fotos lá de cima, deixei os operadores cá em baixo com a camara para me fotografarem.

É tudo muito seguro, a probabilidade de cair cá abaixo é quase nula. Coisas da vida que não voltam a acontecer mais.

Neste periodo andei meses a fotografar o Porto e as suas entranhas, que nunca tinha visto. Fiz mais de 10 mil fotos.

PS - O meu pedido de desculpas pela extensão do depoimento...

©  Virgílio Teixeira (2025)

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 27 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26434: A extinção dos Conselhos Administrativos dos batalhões de reforço no CTIG (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, Chefe do CA, BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte I