1. Em 29 de Julho de 2008, em troca de correspondência entre o nosso camarada Santos Oliveira, (ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf.ª, Como, Cufar e Tite, 1964/66) e Joaquim Dias que procurava companheiros de seu pai, constava este convite que passamos a divulgar.
Almoço/Convívio dos BCAÇ 237 e 599, Pelotão Morteiros 912, Pel Caç 955 e Pel AM Daimler 807, a realizar no dia 6 de Setembro de 2008 em S. Martinho de Anta, Espinho.
Espinho, 24 de Julho de 2008
A exemplo dos anos anteriores, mais uma vez iremos realizar o nosso Almoço Convívio, comemorando o 43.º aniversário da nossa chegada da Guiné.
Como até à presente data, ninguém de disponibilizou para o fazer, decidi avançar mais uma vez, para que não se disperse o que custou a juntar. De acordo com algumas informações recolhidas, chegamos à conclusão que a data mais própria seria o primeiro sábado de Setembro pelo que passamos a apresentar o seguinte programa:
Dia 6 de Setembro pelas 10,30h, concentração no Largo do Souto, junto à Igreja Matriz de S. Martinho de Anta, onde estaremos até cerca das 12,30h. De seguida partiremos para o Almoço que será a escassas centenas de metros, nas instalações do Campo de Tiro do Club de Caçadores da Costa Verde e próximo da Nave Desportiva Polivalente.
A ementa será dentro do habitual com uma ligeira alteração que penso para melhor.
O preço será de 30€.
Agradeço a confirmação das presenças até 25/08 para:
- Agostinho Rocha Carneiro
Travessa do Pelourinho, 28
Anta
4500-114 Espinho
Telem 914 421 071
ou
Manuel Paiva
telefones: 938 526 228 e 220 808 693
Se és verdadeiramente caçador e se estás com a pontaria desafinada, traz a arma, não hesites que terás ocasião de a afinar e com esta idade e a pontaria afinada, não há caça que nos escape.
Espero ser merecedor da tua presença, vem, conto contigo cá, estarei para te receber e fazer o possível para que Espinho te entre no coração.
Com um abraço e um até sempre, fica a aguardar as vossas confirmações o companheiro e amigo de armas
Agostinho da Rocha Carneiro
A vida passa depressa
Todos nós bem o sabemos
Lutar para a prolongar
É um dever que todos temos
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 2 de agosto de 2008
Guiné 63/74 - P3106: O Nosso Livro de Visitas (22): Umaro Djau, Jornalista da CNN
1. No dia 13 de Fevereiro de 2007, o nosso Editor Luís Graça, recebia no seu endereço pessoal esta mensagem de um nosso leitor e amigo, natural da Guiné-Bissau:
Com os meus melhores cumprimentos,
Chamo-me Umaro Djau e fiquei deveras surprendido com o seu maravilhoso blog.
Sou guineense e Jornalista. Resido nos EUA há mais de 11 anos.
Trabalho para a cadeia da TV mundial, CNN.
Gostaria de poder corresponder consigo.
Alguns dos meus projectos são:
www.gumbe.com
www.afrowave.com
abraços e até logo.
Umaro Djau
2. No dia 31 de Julho de 2008, foi remetida a este nosso novo amigo a seguinte resposta:
Caro Umaro Djau
Antes de tudo, quero, em nome do editor Luís Graça, apresentar o nosso pedido de desculpas pelo atraso, indesculpável, em dar resposta à sua amável mensagem.
O endereço pessoal do Luís está normalmente sobrecarregado e o melhor será contactar-nos através do endereço do blogue luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com, porque esta caixa de correio está acessível aos três editores, Luís, Briote e Carlos, havendo a possibilidade de qualquer um dar resposta atempada.
Desculpa apresentada e espero que aceite.
Como o Luís foi para merecidas férias, deixou-me a incumbência de o contactar no sentido de o convidar a fazer parte da Tertúlia do nosso Blogue, como amigo da Guiné-Bissau, no caso vertente até como natural deste país nosso irmão.
Se quiser, pode mandar uma fotografia sua, tipo passe, para a nossa fotogaleria, e contar-nos algo mais sobre si. Por exemplo, qual a sua terra natal, a sua idade, onde estudou, etc.
Afinal, coisas que os amigos gostam de saber uns dos outros.
Sabemos que está no EUA há mais de dez anos e que exerce a profissão de Jornalista, trabalhando para a CNN.
Já fui visitar os sites que indicou e verifiquei que eles se prestam a divulgar a música guineense. Vou dar a devida divulgação deles no nosso Blogue.
Ficamos a aguardar as suas notícias e principalmente a confirmação de que não ficou magoado com a demora desta resposta.
Desde já receba cordias cumprimentos dos editores Luís Graça, Virgínio Briote e Carlos Vinhal, assim como de toda a tertúlia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Carlos Vinhal
Co-Editor do Blogue
Guiné 63/74 - P3105: Os funerais dos nossos camaradas Pára-quedistas (1): Artigo do DN (Afonso Sousa)
1. O nosso camarada Afonso Sousa (ex-Fur Mil Trms CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70), em mensagem do dia 27 de Julho de 2008, enviou-nos um artigo escrito pelo Jornalista Francisco Mangas, publicado no DN do dia 26.
Na sua mensagem, o nosso camarada escreveu apenas isto:
Zona da Guiné onde, 4 anos antes, passei meio ano do percurso na guerra. Emociona-me este relato. Uma lágrima não pode ser contida.
Restos mortais dos nossos camaradas Pára-quedistas depositados na Igreja da Força Aérea em Lisboa
Foto: © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.
2. Com a devida vénia apesentamos o referido artigo
Os heróis que ficaram para trás !
Trinta e cinco anos depois de terem caído na Guerra Colonial, no Norte da Guiné, os restos mortais de três pára-quedistas são hoje sepultados, em Vila do Conde, Cantanhede e Castro Verde. As famílias encerram, assim, um longo luto. É uma história de silêncio e esquecimento, de três jovens mortos em combate, inumados na mata, porque os corpos entraram em decomposição e não podiam ser retirados para Bissau, de uma tropa especial que tem por princípio não deixar ninguém para trás. A Liga dos Combatentes teme que esteja a abrir uma caixa "que nunca mais conseguimos fechar".
Num azulejo, sobre a porta de entrada, a aparição de Fátima aos pastorinhos. A bicicleta preta, pedaleira remota , encostada à parede, que termina num canteiro de margaridas e sardinheiras ressentidas do calor de Julho. É a casa de Lurdes Jesus Faim e Avelino Lourenço, na aldeia de Fornos, Cantanhede, um casal de velhos tocado por infinda tristeza. Hoje, pela tarde, sepultam o filho, que perderam na Guerra Colonial, e talvez a dor.
Um filho ou um anjo? "Era um anjo, por isso não me pertencia." Fala a mãe, comovida, a rever o jovem fardado, no preto e branco das fotos. José Jesus Lourenço, soldado pára-quedista, foi morto em combate na tarde de 23 de Maio de 1973, numa emboscada na zona de Guidaje, no Norte da Guiné. Tinha 19 anos e um secreta paixão a arder no coração. Dois outros camaradas tombaram no mesmo ataque.
Acossada pelos guerrilheiros do Partido Africano para a Independência de Guiné e Cabo verde (do PAIGC), que também controlavam o espaço aéreo, a Companhia de Caçadores Pára-quedistas 121 - porque "ninguém fica para trás" - rompeu com os seus mortos até ao aquartelamento de Guidaje, flagelado há meses pelo inimigo. A aviação, temendo os mísseis, fica em terra, longe do perigo. Os corpos "começaram a entrar em decomposição, cheiravam mal". Foram inumados na mata, no dia 25 de Maio, junto à cerca de arame farpado. E aí permaneceram, com uma mortalha de silêncio e ervas daninhas, trinta e cinco longos anos.
No lugar de Fornos, quarta-feira passada, a primeira pessoa que encontrámos, um homem de bicicleta, antes de nos indicar a casa dos pais do pára-quedista Lourenço, contou-nos, sem esconder o orgulho, outra coisa: "Fui ao juramento de bandeira dele, a Tancos." É da família? "Não, ele era um rapaz bom." Retoma a viagem, a pedalar lentamente como se desse modo iludisse o sol do meio-dia, canto das cigarras e alguma tristeza.
Na base dos pára-quedistas, em Tancos, soubemos depois, desaguou em festa uma pequena multidão, gente de Fornos e de aldeias vizinhas, a testemunhar o gesto de amor à pátria do jovem José Jesus Lourenço. Foi um autocarro cheio. "Parámos em Fátima, dormimos em Tomar e no dia seguinte, pela manhã, estávamos em Tancos". Ele "era o rapaz mais bonito do lugar", lembra Lurdes Faim, a mãe.
Cedo começa a "ganhar a vida", logo após terminar a instrução primária. "A trabalhar no duro", recorda Avelino Lourenço, o pai. Completa, em breve, 81 anos, mas continua a ir a Cantanhede (a 10 km de Fornos) receber a reforma, na pedaleira preta que vimos encostada à parede, junto das margaridas e sardinheiras. "As minhas pernas são a bicicleta." Avelino foi lavrador, "tinha gado" e assim tocava a vida.
José, o seu segundo filho, " cozia cal, enfornava os fornos". Trabalho duro, não há dúvida, para um adolescente. José apaixonou-se por Maria ("um namorico", diz a mãe), mas no horizonte irrompia a tropa, o trágico ir à guerra que tolheu, atormentou, roubou a alegria aos jovens portugueses nos anos sessenta do século passado. O enfornador de cal alista-se como voluntário nos pára-quedistas: tem pressa de ir para voltar depressa e cumprir a paixão.
No dia da partida rumo à distante Guiné, veio muita gente despedir-se do militar à casa dos pais. "Ele levava a mãe no coração, quando saiu à porta pressenti que era o funeral, estava-me a despedir dele para sempre." Lurdes Faim contém as lágrimas, trinta e cinco anos de luto incompleto dá-lhe essa derradeira força.
Hoje, sábado, 26 de Julho de 2008, os pais, as três irmãs e o irmão, sobrinhos e muitos amigos voltam a encher um autocarro. Vão a Lisboa, e voltam com os restos mortais do José."A vinda dele dá-me paz", confidencia a mãe. "Tenho dito às pessoas: cantem e batam palmas quando o meu filhinho chegar à nossa terra. Por favor, não me abracem, não chorem nem me dêem os sentimentos."
A dor, o choque mais duro, conta Lurdes Faim, 77 anos, sentiu-a faz muito tempo. E, por certo, jamais esquecerá esse "28 de Maio" de 1973: pároco de Fornos a entrar-lhe em casa, também destroçado, com a notícia. Foi um choque para a família e para o povo da terra e aldeia vizinha: morria o destemido herói, tão novo ainda. "Era um anjo, não podia ser meu", insiste a mãe, a sublimar a perda.
"Nunca se viu uma coisa tão triste." Agora é Avelino, que se manteve em comovido silêncio a ouvir a mulher, a "recordar a dor". Maria, a namorada vestiu o luto, e todas as raparigas da aldeia, num sentido gesto solidário, "botaram lenço preto" durante largos dias.
No dia 25 de Junho de 1973, Lurdes e Avelino são informados de que o filho já estava inumado, algures na densa mata guineense, e só passado sete anos "poderiam mandar os restos mortais". Mentiram. Afinal, deixaram para trás ("ninguém fica para trás" é o lema pára-quedistas), em terra estranha, José e os outros dois camaradas da companhia mortos na emboscada de 23 de Maio: Manuel da Silva Peixoto, 22 anos, de Gião, Vila do Conde, e António Neves Vitoriano, 21 anos, natural de Castro Verde.
"Esperámos e desesperámos, a coisa estava de modos a apagar-se", refere Avelino Lourenço. Há dois anos, perdeu a esperança de dar sepultura ao filho, que passou apenas três meses na guerra. José seguia na frente da coluna, atrás de Manuel Peixoto, o primeiro a tombar, atingido por várias balas. Pouco depois de regressar da ex-colónia portuguesa, um camarada veio a Fornos contar à família o que se passou na emboscada, preparada pelas forças de libertação da Guiné. Peixoto resistiu e pediu socorro: "Acode-me, Lourenço!" Este rompeu, porque ninguém pode fica para trás, e é flagelado pelo fogo inimigo. "Morreu para salvar o outro", diz a Lurdes Faim. E lembra as últimas palavras do filho, que o companheiro lhe trouxe, da longínqua mata africana, como se fosse um tesouro: "Ai a minha mãe! Ai a minha namorada!".
A família de Manuel Peixoto, que não resistiu aos ferimentos, também não contava com o regresso das ossadas desta pára-quedista. Gostava de boxe, aprendiz de carpinteiro antes de partir para a Guiné. A mãe não assistirá hoje o funeral, no cemitério de Gião, Vila do Conde, no mesmo dia da romaria da terra, com Marco Paulo como cabeça de cartaz. A mãe de Peixoto morreu em 1996; o pai emigrou para o Brasil, tinha o filho poucos meses, não mais voltou.
Resta um irmão, uma irmã e alguns sobrinhos, que esperam hoje à tarde os restos mortais do militar. "Logicamente, o corpo devia ter vindo logo na hora", refere António Peixoto, que soube da morte do irmão em França, onde está emigrado há quase três décadas. A família não irá a Lisboa para, depois, acompanhar os restos mortais até Vila do Conde.
Maria Alice Carvalho é a guardiã das memórias de Manuel Peixoto, seu cunhado. A memória repartida por dezenas de fotografias . No verso de uma das fotos, que mostra vários companheiros no interior de uma aeronave, o pára-quedista escreveu o seguinte: "Dentro do avião quando íamos para o quartel do exército que está perto da fronteira. Uns riem-se e outros pensam no que podia acontecer perante as operações, mas correu muito bem só tivemos um morto. Pelo contrários, os turras."
A legenda termina assim, sem se saber o número de "turras" mortos nesse combates. A baixa de um militar do lado dos pára-quedistas, segundo soldado Peixoto, nem era assim tão mau. Isto prova o sufoco que as tropas portuguesas sofreram na zona de Guidaje, junto à fronteira do Senegal, nos últimos anos da Guerra Colonial. Peixoto, Lourenço e Vitoriano morrem na operação das forças especiais portuguesas destinada a furar o cerco que os guerrilheiros do PAIGC faziam ao aquartelamento de Guidaje.
Anacleto Costa pertenceu à companhia de Peixoto, não esteve, no entanto, envolvido na missão que vitimou os seus três camaradas. Participou, contudo, noutras situações de conflito ao lado do jovem vilacondense. "Era um homem destemido, uma verdadeira máquina de guerra: eu ouvia um tiro e escondia atrás das árvores, ele não, ele rompia para o inimigo". O irmão confirma, "já aqui era valente, faz parte da família".
Conhecida a notícia da morte, os familiares escreveram algumas cartas ao general António de Spínola - na altura comandante das forças portuguesas na colónia da Guiné -, sem resposta. O silêncio, sempre o silêncio a cobrir os jovens pára-quedistas, sepultados à pressa, num cemitério improvisado.
"Companheiros meus", lembra Anacleto Costa, "queriam ir buscar os seus mortos" a Guidaje. "Os graduados não admitiram, o Spínola também não autorizou." Um anos depois do falecimento, por altura do 25 de Abril, a família recebeu um convite para ir a Lisboa "receber uma medalha de honra" pelos serviços de soldado Peixoto prestados à Pátria.
Saíram bem cedo, regressam de madrugada com as mãos vazias. "Esperámos até à uma da manhã e não recebemos medalha nenhuma. A cerimónia transformou-se num grande comício, viemos embora sem nada", recorda Maria Alice Carvalho.
Os três pára-quedistas da Companhia 121 regressam hoje às suas terras, onde serão sepultados com dignidade, trinta e cinco anos depois de tombarem aos serviço de Portugal. As famílias, que foram ouvidas e autorizaram a exumação e trasladação das ossadas, podem agora, enfim, encerrar o luto. "Agora já posso partir, o regresso do meu filho dá-me serenidade." Diz Avelino Lourenço, a despedir-se de nós à porta da sua casa, na aldeia de Fornos, Cantanhede. Na fachada, o azulejo com a aparição de Fátima; no interior da habitação,vimos mais imagens de Nossa Senhora e os retratos dos filhos, netos e bisnetos.
As cigarras, indiferentes à melancolia do velho, cantam, cantam por dentro da tarde quente.
Na sua mensagem, o nosso camarada escreveu apenas isto:
Zona da Guiné onde, 4 anos antes, passei meio ano do percurso na guerra. Emociona-me este relato. Uma lágrima não pode ser contida.
Restos mortais dos nossos camaradas Pára-quedistas depositados na Igreja da Força Aérea em Lisboa
Foto: © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.
2. Com a devida vénia apesentamos o referido artigo
Os heróis que ficaram para trás !
Trinta e cinco anos depois de terem caído na Guerra Colonial, no Norte da Guiné, os restos mortais de três pára-quedistas são hoje sepultados, em Vila do Conde, Cantanhede e Castro Verde. As famílias encerram, assim, um longo luto. É uma história de silêncio e esquecimento, de três jovens mortos em combate, inumados na mata, porque os corpos entraram em decomposição e não podiam ser retirados para Bissau, de uma tropa especial que tem por princípio não deixar ninguém para trás. A Liga dos Combatentes teme que esteja a abrir uma caixa "que nunca mais conseguimos fechar".
Num azulejo, sobre a porta de entrada, a aparição de Fátima aos pastorinhos. A bicicleta preta, pedaleira remota , encostada à parede, que termina num canteiro de margaridas e sardinheiras ressentidas do calor de Julho. É a casa de Lurdes Jesus Faim e Avelino Lourenço, na aldeia de Fornos, Cantanhede, um casal de velhos tocado por infinda tristeza. Hoje, pela tarde, sepultam o filho, que perderam na Guerra Colonial, e talvez a dor.
Um filho ou um anjo? "Era um anjo, por isso não me pertencia." Fala a mãe, comovida, a rever o jovem fardado, no preto e branco das fotos. José Jesus Lourenço, soldado pára-quedista, foi morto em combate na tarde de 23 de Maio de 1973, numa emboscada na zona de Guidaje, no Norte da Guiné. Tinha 19 anos e um secreta paixão a arder no coração. Dois outros camaradas tombaram no mesmo ataque.
Acossada pelos guerrilheiros do Partido Africano para a Independência de Guiné e Cabo verde (do PAIGC), que também controlavam o espaço aéreo, a Companhia de Caçadores Pára-quedistas 121 - porque "ninguém fica para trás" - rompeu com os seus mortos até ao aquartelamento de Guidaje, flagelado há meses pelo inimigo. A aviação, temendo os mísseis, fica em terra, longe do perigo. Os corpos "começaram a entrar em decomposição, cheiravam mal". Foram inumados na mata, no dia 25 de Maio, junto à cerca de arame farpado. E aí permaneceram, com uma mortalha de silêncio e ervas daninhas, trinta e cinco longos anos.
No lugar de Fornos, quarta-feira passada, a primeira pessoa que encontrámos, um homem de bicicleta, antes de nos indicar a casa dos pais do pára-quedista Lourenço, contou-nos, sem esconder o orgulho, outra coisa: "Fui ao juramento de bandeira dele, a Tancos." É da família? "Não, ele era um rapaz bom." Retoma a viagem, a pedalar lentamente como se desse modo iludisse o sol do meio-dia, canto das cigarras e alguma tristeza.
Na base dos pára-quedistas, em Tancos, soubemos depois, desaguou em festa uma pequena multidão, gente de Fornos e de aldeias vizinhas, a testemunhar o gesto de amor à pátria do jovem José Jesus Lourenço. Foi um autocarro cheio. "Parámos em Fátima, dormimos em Tomar e no dia seguinte, pela manhã, estávamos em Tancos". Ele "era o rapaz mais bonito do lugar", lembra Lurdes Faim, a mãe.
Cedo começa a "ganhar a vida", logo após terminar a instrução primária. "A trabalhar no duro", recorda Avelino Lourenço, o pai. Completa, em breve, 81 anos, mas continua a ir a Cantanhede (a 10 km de Fornos) receber a reforma, na pedaleira preta que vimos encostada à parede, junto das margaridas e sardinheiras. "As minhas pernas são a bicicleta." Avelino foi lavrador, "tinha gado" e assim tocava a vida.
José, o seu segundo filho, " cozia cal, enfornava os fornos". Trabalho duro, não há dúvida, para um adolescente. José apaixonou-se por Maria ("um namorico", diz a mãe), mas no horizonte irrompia a tropa, o trágico ir à guerra que tolheu, atormentou, roubou a alegria aos jovens portugueses nos anos sessenta do século passado. O enfornador de cal alista-se como voluntário nos pára-quedistas: tem pressa de ir para voltar depressa e cumprir a paixão.
No dia da partida rumo à distante Guiné, veio muita gente despedir-se do militar à casa dos pais. "Ele levava a mãe no coração, quando saiu à porta pressenti que era o funeral, estava-me a despedir dele para sempre." Lurdes Faim contém as lágrimas, trinta e cinco anos de luto incompleto dá-lhe essa derradeira força.
Hoje, sábado, 26 de Julho de 2008, os pais, as três irmãs e o irmão, sobrinhos e muitos amigos voltam a encher um autocarro. Vão a Lisboa, e voltam com os restos mortais do José."A vinda dele dá-me paz", confidencia a mãe. "Tenho dito às pessoas: cantem e batam palmas quando o meu filhinho chegar à nossa terra. Por favor, não me abracem, não chorem nem me dêem os sentimentos."
A dor, o choque mais duro, conta Lurdes Faim, 77 anos, sentiu-a faz muito tempo. E, por certo, jamais esquecerá esse "28 de Maio" de 1973: pároco de Fornos a entrar-lhe em casa, também destroçado, com a notícia. Foi um choque para a família e para o povo da terra e aldeia vizinha: morria o destemido herói, tão novo ainda. "Era um anjo, não podia ser meu", insiste a mãe, a sublimar a perda.
"Nunca se viu uma coisa tão triste." Agora é Avelino, que se manteve em comovido silêncio a ouvir a mulher, a "recordar a dor". Maria, a namorada vestiu o luto, e todas as raparigas da aldeia, num sentido gesto solidário, "botaram lenço preto" durante largos dias.
No dia 25 de Junho de 1973, Lurdes e Avelino são informados de que o filho já estava inumado, algures na densa mata guineense, e só passado sete anos "poderiam mandar os restos mortais". Mentiram. Afinal, deixaram para trás ("ninguém fica para trás" é o lema pára-quedistas), em terra estranha, José e os outros dois camaradas da companhia mortos na emboscada de 23 de Maio: Manuel da Silva Peixoto, 22 anos, de Gião, Vila do Conde, e António Neves Vitoriano, 21 anos, natural de Castro Verde.
"Esperámos e desesperámos, a coisa estava de modos a apagar-se", refere Avelino Lourenço. Há dois anos, perdeu a esperança de dar sepultura ao filho, que passou apenas três meses na guerra. José seguia na frente da coluna, atrás de Manuel Peixoto, o primeiro a tombar, atingido por várias balas. Pouco depois de regressar da ex-colónia portuguesa, um camarada veio a Fornos contar à família o que se passou na emboscada, preparada pelas forças de libertação da Guiné. Peixoto resistiu e pediu socorro: "Acode-me, Lourenço!" Este rompeu, porque ninguém pode fica para trás, e é flagelado pelo fogo inimigo. "Morreu para salvar o outro", diz a Lurdes Faim. E lembra as últimas palavras do filho, que o companheiro lhe trouxe, da longínqua mata africana, como se fosse um tesouro: "Ai a minha mãe! Ai a minha namorada!".
A família de Manuel Peixoto, que não resistiu aos ferimentos, também não contava com o regresso das ossadas desta pára-quedista. Gostava de boxe, aprendiz de carpinteiro antes de partir para a Guiné. A mãe não assistirá hoje o funeral, no cemitério de Gião, Vila do Conde, no mesmo dia da romaria da terra, com Marco Paulo como cabeça de cartaz. A mãe de Peixoto morreu em 1996; o pai emigrou para o Brasil, tinha o filho poucos meses, não mais voltou.
Resta um irmão, uma irmã e alguns sobrinhos, que esperam hoje à tarde os restos mortais do militar. "Logicamente, o corpo devia ter vindo logo na hora", refere António Peixoto, que soube da morte do irmão em França, onde está emigrado há quase três décadas. A família não irá a Lisboa para, depois, acompanhar os restos mortais até Vila do Conde.
Maria Alice Carvalho é a guardiã das memórias de Manuel Peixoto, seu cunhado. A memória repartida por dezenas de fotografias . No verso de uma das fotos, que mostra vários companheiros no interior de uma aeronave, o pára-quedista escreveu o seguinte: "Dentro do avião quando íamos para o quartel do exército que está perto da fronteira. Uns riem-se e outros pensam no que podia acontecer perante as operações, mas correu muito bem só tivemos um morto. Pelo contrários, os turras."
A legenda termina assim, sem se saber o número de "turras" mortos nesse combates. A baixa de um militar do lado dos pára-quedistas, segundo soldado Peixoto, nem era assim tão mau. Isto prova o sufoco que as tropas portuguesas sofreram na zona de Guidaje, junto à fronteira do Senegal, nos últimos anos da Guerra Colonial. Peixoto, Lourenço e Vitoriano morrem na operação das forças especiais portuguesas destinada a furar o cerco que os guerrilheiros do PAIGC faziam ao aquartelamento de Guidaje.
Anacleto Costa pertenceu à companhia de Peixoto, não esteve, no entanto, envolvido na missão que vitimou os seus três camaradas. Participou, contudo, noutras situações de conflito ao lado do jovem vilacondense. "Era um homem destemido, uma verdadeira máquina de guerra: eu ouvia um tiro e escondia atrás das árvores, ele não, ele rompia para o inimigo". O irmão confirma, "já aqui era valente, faz parte da família".
Conhecida a notícia da morte, os familiares escreveram algumas cartas ao general António de Spínola - na altura comandante das forças portuguesas na colónia da Guiné -, sem resposta. O silêncio, sempre o silêncio a cobrir os jovens pára-quedistas, sepultados à pressa, num cemitério improvisado.
"Companheiros meus", lembra Anacleto Costa, "queriam ir buscar os seus mortos" a Guidaje. "Os graduados não admitiram, o Spínola também não autorizou." Um anos depois do falecimento, por altura do 25 de Abril, a família recebeu um convite para ir a Lisboa "receber uma medalha de honra" pelos serviços de soldado Peixoto prestados à Pátria.
Saíram bem cedo, regressam de madrugada com as mãos vazias. "Esperámos até à uma da manhã e não recebemos medalha nenhuma. A cerimónia transformou-se num grande comício, viemos embora sem nada", recorda Maria Alice Carvalho.
Os três pára-quedistas da Companhia 121 regressam hoje às suas terras, onde serão sepultados com dignidade, trinta e cinco anos depois de tombarem aos serviço de Portugal. As famílias, que foram ouvidas e autorizaram a exumação e trasladação das ossadas, podem agora, enfim, encerrar o luto. "Agora já posso partir, o regresso do meu filho dá-me serenidade." Diz Avelino Lourenço, a despedir-se de nós à porta da sua casa, na aldeia de Fornos, Cantanhede. Na fachada, o azulejo com a aparição de Fátima; no interior da habitação,vimos mais imagens de Nossa Senhora e os retratos dos filhos, netos e bisnetos.
As cigarras, indiferentes à melancolia do velho, cantam, cantam por dentro da tarde quente.
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Guiné 63/74 - P3104: Álbum fotográfico do Joaquim Guimarães (2): Saltinho
Joaquim Guimarães
Ex-Soldado
CCAÇ 3490/BCAÇ 3872
Saltinho
1971/74
1. Vamos dar continuidade ao álbum fotográfico do nosso camarada Joaquim Guimarães, que nos enviou algumas fotografias do Saltinho (1).
Foto 1 > Vista do Saltinho
Foto 2 > Ponte Nova do Saltinho
Foto 3 > Cansamba > 1974 > O Augusto e eu
Foto 4 > Jardim da Escola
Foto 5 > Entrada do Saltinho
Foto 6 > Entrada Principal
Foto 7 > Cozinha do Saltinho
Foto 8 > Comando
Foto 9 > As caminhadas do Saltinho
Fotos (e legendas): © Joaquim Guimarães (2008). Direitos reservados.
OBS: - Peço desculpa ao nosso camarada Joaquim Guimarães por ter transformado algumas das suas fotos a cores em preto e branco, mas a qualidade das mesmas não permitia uma boa edição.
(Continua)
____________
Nota de CV
(1) - Vd. poste de 28 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3097: Álbum fotográfico do Joaquim Guimarães (1): Saltinho
Guiné 63/74 - P3103: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (3): Canyoning (Paulo Santiago)
1. Dando seguimento à nova série Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (1), trazemos mais uma surpresa do nosso camarada Paulo Santiago que sabíamos ser um praticante de raguebi e cicloturismo. Desta vez a modalidade é mais perigosa, embora feita com toda a segurança, quando devidamente acompanhada.
2. Mensagem do nosso camarada Paulo Santiago (*), do dia 27 de Julho de 2008
Camaradas
Como sabem ainda estou no activo, com muito stress em alguns momentos. Para aliviar a mona tenho algumas actividades, algumas já conhecidas dos camaradas, outras de que nunca falei, penso.
Antes de continuar, lembro uma notícia dada hoje na TV, onde um jovem de 75 anos voava de pára-pente nos céus de Linhares da Beira.
Vamos então a uma actividade óptima para estes dias de Verão. Chama-se Canyoning, e consiste em descer o leito de um rio selvagem caminhando, nadando, saltando e fazendo rappel. Pode ser feito por qualquer pessoa, com uma condição física normal e sabendo nadar.
Eu fiz um mini-curso de manobras com cordas, mas não é necessário para fazer um canyoning, possuir esses conhecimentos, estes só são necessários aos monitores da descida. Mas as fotos juntas explicam a actividade e a beleza dos rios onde se pratica, situando-se os melhores leitos na zona do Gerês.
Após um canyoning não há stress que resista.
Na 2.ª quinzena de Agosto estou de férias, se houver tertulianos interessados em experimentar, arranja-se um rio soft para a experiência.
Abraço para todos
Paulo Santiago
(*) - Ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho , 1970/72.
Foto 1 > Preparados para iniciar o canyoning. Utilizam-se fatos isotérmicos. Neste dia predominavam as senhoras
Foto 2 > Descendo a encosta até ao leito do rio.
Foto 3 > Entrando na água nas calmas para ambientar o corpo à temperatura
Foto 4 > Reparar na limpidez da água. Rio Arado no Gerês.
Foto 5 > A segurança está a ser feita pelo monitor que se encontra em baixo.
Foto 6 > Caminhando pelo leito pedregoso do rio
Foto 7 > Local onde a progressão se faz saltando para a água
Foto 8 > Rappel
Foto 9 > Inicio de rappel. Notar que apenas a mão direita, junto à nádega, segura a corda, sendo esta a técnica correcta.
Fotos e legendas: © Paulo Santiago (2008). Direitos reservados.
__________________
Nota de CV
(1) - Vd. último poste da série de 27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3096: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (2): Pirogravuras, de Mário Fitas
2. Mensagem do nosso camarada Paulo Santiago (*), do dia 27 de Julho de 2008
Camaradas
Como sabem ainda estou no activo, com muito stress em alguns momentos. Para aliviar a mona tenho algumas actividades, algumas já conhecidas dos camaradas, outras de que nunca falei, penso.
Antes de continuar, lembro uma notícia dada hoje na TV, onde um jovem de 75 anos voava de pára-pente nos céus de Linhares da Beira.
Vamos então a uma actividade óptima para estes dias de Verão. Chama-se Canyoning, e consiste em descer o leito de um rio selvagem caminhando, nadando, saltando e fazendo rappel. Pode ser feito por qualquer pessoa, com uma condição física normal e sabendo nadar.
Eu fiz um mini-curso de manobras com cordas, mas não é necessário para fazer um canyoning, possuir esses conhecimentos, estes só são necessários aos monitores da descida. Mas as fotos juntas explicam a actividade e a beleza dos rios onde se pratica, situando-se os melhores leitos na zona do Gerês.
Após um canyoning não há stress que resista.
Na 2.ª quinzena de Agosto estou de férias, se houver tertulianos interessados em experimentar, arranja-se um rio soft para a experiência.
Abraço para todos
Paulo Santiago
(*) - Ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho , 1970/72.
Foto 1 > Preparados para iniciar o canyoning. Utilizam-se fatos isotérmicos. Neste dia predominavam as senhoras
Foto 2 > Descendo a encosta até ao leito do rio.
Foto 3 > Entrando na água nas calmas para ambientar o corpo à temperatura
Foto 4 > Reparar na limpidez da água. Rio Arado no Gerês.
Foto 5 > A segurança está a ser feita pelo monitor que se encontra em baixo.
Foto 6 > Caminhando pelo leito pedregoso do rio
Foto 7 > Local onde a progressão se faz saltando para a água
Foto 8 > Rappel
Foto 9 > Inicio de rappel. Notar que apenas a mão direita, junto à nádega, segura a corda, sendo esta a técnica correcta.
Fotos e legendas: © Paulo Santiago (2008). Direitos reservados.
__________________
Nota de CV
(1) - Vd. último poste da série de 27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3096: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (2): Pirogravuras, de Mário Fitas
Guiné 63/74 - P3102: Memória dos lugares (13): De Guileje a Gadamael, velhos caminhos esquecidos... (Amaro Samúdio / Nuno Rubim)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Estrada Gadamael-Guileje > Cruzamento de Guileje > 15 de Fevereiro de 2008 (e não 1 de Março de 2008, como sugere o Nuno, já que o meu companheiro de viagem ao sul, nesse dia, envergava uma T-shirt castanha) > O Nuno Rubim, que foi para a Guiné-Bissau, um mês antes da realização do Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008), junto a actuais moradores da tabanca que aqui nasceu, no cruzamento para Guileje (que era, no tempo da guerra, o coração do corredor de Guileje)... Na região e na época de o Nuno Rubim era conhecido (e foi saudado em 2008) como o "capitão fula"...
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Estrada Gadamael-Guileje > Cruzamento de Guileje > 15 de Fevereiro de 2008 > O Nuno Rubim posando junto célebre poilão do Corredor de Guileje, ponto de referência tanto para as NT como para os guerrilheiros do PAIGC... Foi batizado
Fotos : © Nuno Rubim (2008). Direitos reservados.
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Simpósio Internacional de Guiledje > 1 de Março de 2008 > Visita ao antigo aquartelamento de Guileje, em ambiente festivo e emocionante: na foto, três oficiais portugueses cujas vidas e memórias ainda hoje estão profundamente ligadas a este lugar: o Nuno Rubim, o capitão fula dos primórdios de Guileje (em primeiro plano, à direita); o Abílio Delgado, ex- Cap Mil dos Gringos de Guileje, a CCAÇ 3477 (à esquerda); e o Coutinho e Lima, em segundo plano, major e comandante do COP 5 na altura da retirada do aquartelamento e tabanca, em 22 de Maio de 1993...
Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
Região de Tombali > Guileje > Estrada de Gadamael, para norte, cruzamento de Guileje, coluna de Gadamael [CART 2410], transporte do obus 11.4, em 19 de Março de 1969. A(s) foto(s) da polémica...
Fotos: © Luis Guerreiro / Nuno Rubim ( (2008). Direitos reservados.
1. Mensagem de 29 de Julho, do Amaro Samudio (*)
Caro Luís:
Era outra a estrada que ligava Gadamael Porto a Guileje. Se a memória não me atraiçoar na estrada que eu conheci de Guileje a Gadamael e o inverso, nomeadamente naquilo que era chamado o cruzamento. Para a esquerda, corredor da morte; para a direita, Bendugo. Estrada lisa e clareiras não existiam até ao cruzamento, era mata cerrada e buracos para picar. É certamente de outra "estrada", de que falam.
Um Abraço
2. Resposta de Nuno Rubim, na mesma data:
Deve haver confusão sua, caro camarada Amaro Samúdio. A nossa carta militar esclarece perfeitamente a questão (estrada a vermelho, vd. mapa acima ).
Houve outra "ligação" que marquei na carta: o trilho da retirada da CCav 8350 e da população de Guileje no fatídico dia 22 de Maio de 1973 (a azul, trajecto aproximado, porque há uma versão de que, na última parte do deslocamento, viaturas de Gadamael foram ajudar, o que só poderia ter sido pela estrada, daí a linha tracejada ).
Um abraço
Nuno Rubim
3. Resposta do A. Samúdio para o Nuno Rubim, com data de 29 de Julho:
Caro Camarada Nuno Rubim
Não deixo passar em claro a chamada de atenção do nosso amigo Luís relativamente a um 1º cabo enfermeiro (*). Hoje era certamente major enfermeiro mas a tropa marca-nos como nas ganadarias marcam cavalos e...
Quem melhor poderá conhecer todos os pormenores daquela zona, e não só, do que o Nuno Rubim? Para mim, ninguém.
Eu andei muitas vezes e posso, se a paciência não me interromper, dizer exactamente quantas. Por onde saiu a CCAÇ 8350 foi pelo trilho ao fundo da pista de aterragem das DO.
Admito perfeitamente erros de memória mas a estrada onde fazíamos as colunas Gadamael /Guilele/Gadamael era mato cerrado e com muitas covas e não estrada lisa como eu vi. Engano meu. Possívelmente.
Um Abraço
A. Samúdio
Soldado depois da despromoção
4. Resposta do Nuno Rubim, de 30 de Julho:
Caro Camarada:
De facto fui duas vezes a Gadamael em coluna, mas muitos pormenores do trajecto de então já se perderam... Os anos não perdoam ...
Mas. repare que este assunto decorreu da foto enviada pelo nosso camarada Luis Guerreiro que afirma taxativamente que foi tirada já perto do cruzamento
e até fornece a data precisa. Não tenho motivos para pôr em causa esta
asserção dele.
A CCav 8850 saiu realmente pela pista de aviação.
Hoje, no cruzamento, existe uma grande tabanca e o pessoal recebeu-nos de braços abertos, quer a população, quer ex-milícias que combateram connosco, quer antigos guerrilheiros ... Foi realmente impressionante ! (**)
Até à próxima ...
Um abraço
Nuno Rubim
___________
Notas de L.G.:
(*) Eu tinha dito ao Nuno que o Samúdio era 1º Cabo Enfermeiro dos Gringos de Guileje... Não era ? Eu sempre o tratei como tal, no nosso blogue... Se me enganei, se o (des)promovi, peço desculpa...
A nossa base de dados está sempre a incorporar novos inputs... e os editores a levar, de vez em quando, no toutiço... Embora neste blogue cultivemos o rigor factual, tambném não damos excessiva importância a postos e patentes... Hoje, paisanos, somos todos iguais, somos pares, tratamo-nos por tu e por camaradas... Para mim (e para o Nuno Rubim), o mais importante foi o Samúdio ter tido a proeza de, ao fim de 33 anos, conseguir reunir os Gringos de Guileje... Se não fosse só por isso, eu promovi-o a general de cinco estrelas!
O Amaro Munhoz Samúdio, que vive em Matosinhos (e que ue já tive o grato prazer de conhecer pessoalmente na Casa Teresa, num dos célebres almoços de 4ª feira, da tertúlia de Matosinhos), chegou à nossa Tabanca Grande em Outubro de 2006, pela mão nosso querido amigo e camarada de Guigões, Matosinhos, o Albano Costa (que esteve em Guidaje, na fronteira norte). Para ambos vai daqui um grande Alfa Bravo (abraço).
Vd. postes de e sobre o Samúdio:
28 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1894: Louvores e punições (2): CCAÇ 3477, Os Gringos de Guileje (Amaro Samúdio)
22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1869: Convívios (19): Os Gringos de Guileje, a açoriana CCAÇ 3477, encontram-se ao fim de 33 anos! (Amaro Samúdio)
27 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1466: Mário Bravo, médico de Guileje (Amaro Munhoz Samúdio)
3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1334: Guileje: espectacular foto aérea de 1972 (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1293: Guileje: do chimpanzé-bébé aos abrigos à prova do 122 mm (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)
10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1162: Guileje: CCAÇ 3477, os Gringos Açorianos (Amaro Munhoz Samúdio)
22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1869: Convívios (19): Os Gringos de Guileje, a açoriana CCAÇ 3477, encontram-se ao fim de 33 anos! (Amaro Samúdio).
11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P864: Unidades aquarteladas em Guileje até 1973 (Nuno Rubim / Pepito)
11 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1750: Com os Gringos de Guileje... em Nhacra (Herlander Simões)
6 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2815: Tabanca Grande (67): Os Gringos de Guileje: Abílio Delgado, Zé Carioca e Sérgio Sousa (CCAÇ 3477, Nov 1971/ Dez 1972)
(**) Vd. postes de:
16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2650: Uma semana involvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (6): No coração do mítico corredor de Guiledje
17 de Março de 2008 > Guine 63/74 - P2655: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (7): No corredor de Guiledje, com o Dauda Cassamá (I)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Estrada Gadamael-Guileje > Cruzamento de Guileje > 15 de Fevereiro de 2008 > O Nuno Rubim posando junto célebre poilão do Corredor de Guileje, ponto de referência tanto para as NT como para os guerrilheiros do PAIGC... Foi batizado
Fotos : © Nuno Rubim (2008). Direitos reservados.
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Simpósio Internacional de Guiledje > 1 de Março de 2008 > Visita ao antigo aquartelamento de Guileje, em ambiente festivo e emocionante: na foto, três oficiais portugueses cujas vidas e memórias ainda hoje estão profundamente ligadas a este lugar: o Nuno Rubim, o capitão fula dos primórdios de Guileje (em primeiro plano, à direita); o Abílio Delgado, ex- Cap Mil dos Gringos de Guileje, a CCAÇ 3477 (à esquerda); e o Coutinho e Lima, em segundo plano, major e comandante do COP 5 na altura da retirada do aquartelamento e tabanca, em 22 de Maio de 1993...
Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
Guiné > Pormenor das cartas de Guileje e Iacoca (Gadamael)... A azul, o trilho seguido pelo pessoal da CCAV 8350, na retirada de Guileje, em 22 de Março de 1973; e a vermelho, a estrada Guileje-Cruzamento de Guileje - Gadamael...
Imagem : © Nuno Rubim (2008). Direitos reservados.
Imagem : © Nuno Rubim (2008). Direitos reservados.
Região de Tombali > Guileje > Estrada de Gadamael, para norte, cruzamento de Guileje, coluna de Gadamael [CART 2410], transporte do obus 11.4, em 19 de Março de 1969. A(s) foto(s) da polémica...
Fotos: © Luis Guerreiro / Nuno Rubim ( (2008). Direitos reservados.
1. Mensagem de 29 de Julho, do Amaro Samudio (*)
Caro Luís:
Era outra a estrada que ligava Gadamael Porto a Guileje. Se a memória não me atraiçoar na estrada que eu conheci de Guileje a Gadamael e o inverso, nomeadamente naquilo que era chamado o cruzamento. Para a esquerda, corredor da morte; para a direita, Bendugo. Estrada lisa e clareiras não existiam até ao cruzamento, era mata cerrada e buracos para picar. É certamente de outra "estrada", de que falam.
Um Abraço
2. Resposta de Nuno Rubim, na mesma data:
Deve haver confusão sua, caro camarada Amaro Samúdio. A nossa carta militar esclarece perfeitamente a questão (estrada a vermelho, vd. mapa acima ).
Houve outra "ligação" que marquei na carta: o trilho da retirada da CCav 8350 e da população de Guileje no fatídico dia 22 de Maio de 1973 (a azul, trajecto aproximado, porque há uma versão de que, na última parte do deslocamento, viaturas de Gadamael foram ajudar, o que só poderia ter sido pela estrada, daí a linha tracejada ).
Um abraço
Nuno Rubim
3. Resposta do A. Samúdio para o Nuno Rubim, com data de 29 de Julho:
Caro Camarada Nuno Rubim
Não deixo passar em claro a chamada de atenção do nosso amigo Luís relativamente a um 1º cabo enfermeiro (*). Hoje era certamente major enfermeiro mas a tropa marca-nos como nas ganadarias marcam cavalos e...
Quem melhor poderá conhecer todos os pormenores daquela zona, e não só, do que o Nuno Rubim? Para mim, ninguém.
Eu andei muitas vezes e posso, se a paciência não me interromper, dizer exactamente quantas. Por onde saiu a CCAÇ 8350 foi pelo trilho ao fundo da pista de aterragem das DO.
Admito perfeitamente erros de memória mas a estrada onde fazíamos as colunas Gadamael /Guilele/Gadamael era mato cerrado e com muitas covas e não estrada lisa como eu vi. Engano meu. Possívelmente.
Um Abraço
A. Samúdio
Soldado depois da despromoção
4. Resposta do Nuno Rubim, de 30 de Julho:
Caro Camarada:
De facto fui duas vezes a Gadamael em coluna, mas muitos pormenores do trajecto de então já se perderam... Os anos não perdoam ...
Mas. repare que este assunto decorreu da foto enviada pelo nosso camarada Luis Guerreiro que afirma taxativamente que foi tirada já perto do cruzamento
e até fornece a data precisa. Não tenho motivos para pôr em causa esta
asserção dele.
A CCav 8850 saiu realmente pela pista de aviação.
Hoje, no cruzamento, existe uma grande tabanca e o pessoal recebeu-nos de braços abertos, quer a população, quer ex-milícias que combateram connosco, quer antigos guerrilheiros ... Foi realmente impressionante ! (**)
Até à próxima ...
Um abraço
Nuno Rubim
___________
Notas de L.G.:
(*) Eu tinha dito ao Nuno que o Samúdio era 1º Cabo Enfermeiro dos Gringos de Guileje... Não era ? Eu sempre o tratei como tal, no nosso blogue... Se me enganei, se o (des)promovi, peço desculpa...
A nossa base de dados está sempre a incorporar novos inputs... e os editores a levar, de vez em quando, no toutiço... Embora neste blogue cultivemos o rigor factual, tambném não damos excessiva importância a postos e patentes... Hoje, paisanos, somos todos iguais, somos pares, tratamo-nos por tu e por camaradas... Para mim (e para o Nuno Rubim), o mais importante foi o Samúdio ter tido a proeza de, ao fim de 33 anos, conseguir reunir os Gringos de Guileje... Se não fosse só por isso, eu promovi-o a general de cinco estrelas!
O Amaro Munhoz Samúdio, que vive em Matosinhos (e que ue já tive o grato prazer de conhecer pessoalmente na Casa Teresa, num dos célebres almoços de 4ª feira, da tertúlia de Matosinhos), chegou à nossa Tabanca Grande em Outubro de 2006, pela mão nosso querido amigo e camarada de Guigões, Matosinhos, o Albano Costa (que esteve em Guidaje, na fronteira norte). Para ambos vai daqui um grande Alfa Bravo (abraço).
Vd. postes de e sobre o Samúdio:
28 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1894: Louvores e punições (2): CCAÇ 3477, Os Gringos de Guileje (Amaro Samúdio)
22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1869: Convívios (19): Os Gringos de Guileje, a açoriana CCAÇ 3477, encontram-se ao fim de 33 anos! (Amaro Samúdio)
27 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1466: Mário Bravo, médico de Guileje (Amaro Munhoz Samúdio)
3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1334: Guileje: espectacular foto aérea de 1972 (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1293: Guileje: do chimpanzé-bébé aos abrigos à prova do 122 mm (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)
10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1162: Guileje: CCAÇ 3477, os Gringos Açorianos (Amaro Munhoz Samúdio)
22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1869: Convívios (19): Os Gringos de Guileje, a açoriana CCAÇ 3477, encontram-se ao fim de 33 anos! (Amaro Samúdio).
11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P864: Unidades aquarteladas em Guileje até 1973 (Nuno Rubim / Pepito)
11 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1750: Com os Gringos de Guileje... em Nhacra (Herlander Simões)
6 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2815: Tabanca Grande (67): Os Gringos de Guileje: Abílio Delgado, Zé Carioca e Sérgio Sousa (CCAÇ 3477, Nov 1971/ Dez 1972)
(**) Vd. postes de:
16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2650: Uma semana involvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (6): No coração do mítico corredor de Guiledje
17 de Março de 2008 > Guine 63/74 - P2655: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (7): No corredor de Guiledje, com o Dauda Cassamá (I)
quinta-feira, 31 de julho de 2008
Guiné 63/74 - P3101: História de vida (12): Desistir é perder, recomeçar é vencer (Carlos Schwarz, 'Pepito', para os amigos)
Alfragide > 31 de Julho de 2008 > Tive a honra de receber em minha casa o Carlos Schwarz da Silva e a esposa Isabel Levy Ribeiro, aproveitando a circunstância de estarem de férias em Portugal, ainda um pouco combalidos da crise palúdica que costumam ter quando chegam a Portugal, nesta altura do ano...
A Alice preparou os petiscos, e os nossos filhos João e a Joana associaram-se ao nosso convívio. À 1 da noite tivemos de dar por interrompida a conversa, a retomar um dia destes em São Martinho do Porto, onde os nossos amigos têm casa de verão (herança do pai Artur Augusto Silva, que fez advocacia por aquelas bandas estremenhas, em Alcobça e Porto de Mós, nos anos 40)...
Não foi um ponto final, mas apenas três pontos de reticências, numa conversa que não só foi longa, íntima, bem diposta como nos permitiu conhecer um pouco melhor a fantástica história de vida deste homem e desta mulher que, em 1975, decidiram voltar a casa (o Pepito) ou escolher uma segunda pátria (a Isabel, que é portuguesa).
Nenhum deles esconde, bem pelo contrário, o facto de terem estudado e de se terem conhecido em Portugal, enquanto estudantes do ISA - Instituto Superior de Agronomia, de terem vivido com alegria e esperança o 25 de Abril e de terem uma ascendêdncia hebraica: A Isabel, sefardita, o Carlos, asquenaze, sendo o avô materno do Pepito um engenheiro de minas que veio, no princípio do Séc XX, da Polónia para Portugal trabalhar nas minas de volfrâmio, na Panasqueira (***) ...
Pelo que percebi, os Schwarz seriam originários de Odessa, hoje Ucrânia. Parte da família morreu em no gueto de Varsóvia e em Auschwitz... A mãe do nosso amigo Pepito é uma grande senhora, com invejável saúde, cultura e idade: tem 93 anos, vive em Paço de Arcos, ainda com autonomia, fala russo, toca violino, lê, consulta com regularidade o nosso blogue, de que é fã, segundo me diz o filho, babado... Para surpresa e emoção dos nossos convidados, o João tocou, no seu violino, uma das obras-primas da música klezmer, o Odessa Bulgar, e ofereceu um exemplarar autografado do EP do seu grupo, os Melech Mechaya...
Já hoje recebi o mail da Isabel e do Pepito que reproduzo a seguir. Deles direi apenas que são pessoas que não conhecem a palavra desistir... (E na Guiné-Bissau, é muito importante a resiliência...).
Eles são uma fantástica lição de vida. Foi um privilégio tê-los em nossa casa. Com o mail vinha o texto que a seguir também se publica. A Isabel e o Pepito não me levarão a mal se eu partilhar, com a nossa blogosfera, esta história de vida. Eles e a sua família (onde se incluem os seus ascendentes), são um grande exemplo para todos nós... Decididamete, o Pepito e a Isabel (que, de resto, está a fazer o seu doutoramento na área, a pedagogia escolar, em que trabalha) honram a nossa Tabanca Grande, e os nossos dois países, os nossos dois povos, Portugal e a Guiné, sem esquecer Cabo Verde, de onde era originário o Dr. Artur Augusto Silva (1912-1983).
Neste texto, faz-se também uma lúcida e corajosa análise retrospectiva das três últimas décadas da história recente da República da Guiné-Bissau, de que os nossos amigos foram/são actores e testemunhas privilegiadas.
Alice e Luís
Alice e Luís: Um grande obrigado pela excelente noite que passámos juntos. Parabéns pelos filhos formidáveis que vocês têm. Sente-se neles a herança de um profundo humanismo que vocês lhes transmitiram.
Descupa, Luís, termos prolongado demais o nosso encontro e afectado com isso o teu trabalho de hoje. Não temos muitos remorsos, pois a culpa é vossa. Com uma conversa tão boa, nem demos conta das horas passarem.
Até S. Martinho
isabel e pepito
PS - Para nos conhecerem melhor segue o texto prometido
Fotos e legenda: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
A SOMBRA DO PAU TORTO
por Carlos Schwarz
JULHO 2008
Aos meus Pais,
Clara Schwarz e Artur Augusto (*),
que me transmitiram
a necessidade de recomeçar sempre,
ensinando-me a aprender
com a História da nossa Família.
1. A EUFORIA DOS PRIMEIROS ANOS
Às 2 horas da tarde daquele dia 26 de Maio de 1975, aterrávamos em Bissau. A Isabel e eu, pais da nossa ainda única filha, Cristina (**), aproveitávamos a boleia do último avião militar português que se deslocava ao jovem país independente para transportar, de regresso à ex-metrópole colonial, o resto de quase 500 anos de presença portuguesa na costa da Guiné.
A alegria de voltar a pisar solo africano fez esquecer o calor tórrido e húmido desta época do ano. A Guiné-Bissau declarara em Setembro de 1973 a sua independência, ainda em plena luta de guerrilha, e agora, menos de 2 anos depois era o País de todas as esperanças.
De um amontoado de casernas militares espalhadas por todo o lado, havia que construir um país de paz e progresso, com a mesma coragem com que um reduzido grupo de 5 homens havia iniciado e liderado, 20 anos antes, uma epopeia libertadora do colonialismo, em que poucos na altura acreditavam.
Como agrónomos entrámos no Ministério da Agricultura, na altura designado por Comissariado. Passámos os primeiros dias sentados num gabinete à espera que a direcção do Ministério decidisse onde iríamos ser “colocados” e o que iríamos fazer. Com o início da campanha agrícola, começou a distribuição de sementes de arroz e mancarra aos agricultores que tinham regressado ao país depois da guerra, vindos dos países vizinhos, e que precisavam delas para a produção alimentar.
Ofereci-me para essa missão e é assim que após uma primeira paragem em Bafatá para distribuir sementes de arroz, carrego 20 toneladas de mancarra com destino a Catió, sul da Guiné-Bissau. Ao chegar a Bambadinca, o condutor do camião redobra de cuidados e atenções. É que, na mesma estrada que ligava a Xitole e depois a Saltinho, tinham “saltado” poucos dias antes, 2 camiões dos “Armazéns do Povo” que se desviaram ligeiramente das bermas da estrada e pisado uma mina.
De olhos esbugalhados, não era só o condutor a dirigir o camião. Também eu o conduzia, sem pestanejar, mas sem pedal nem volante. Era o meu baptismo de “fogo” nas estradas da Guiné-Bissau que continuaram durante alguns anos a ameaçar todos os que a utilizavam, sem que isso impedisse os técnicos de abdicarem das suas missões patrióticas.
Nessa altura fazíamos tudo e ainda nos sobrava tempo. À noite dava aulas de Geografia no Liceu Nacional Kwame N’Kruma para os trabalhadores, enquanto de manhã participava na campanha de protecção da cultura do arroz invadida por uma praga de brocas que estava a pôr a produção alimentar em causa, para voltar à noite a integrar as numerosas equipas de jovens que procuravam neutralizar a invasão de grilos.
É nessa altura que conheço Djibril Aw, agrónomo maliano e especialista de arroz na ADRAO, que marcou decisivamente a minha concepção e atitude profissional. Com um profundo conhecimento da orizicultura africana, uma argumentação técnica clara e convicta, um notável sentido organizativo e uma prática baseada na percepção que os agricultores tinham da sua actividade e das condições em que trabalhavam, não centrada nos “gabinetes de trabalho” [onde], afirmava, se devia passar apenas o mínimo tempo necessário.
Foi ele que me conduziu à paixão pela orizicultura e seus sistemas de cultura, pela história do arroz africano, pela pesquisa e experimentação varietal, pelo estudo e compreensão do conhecimento ancestral dos povos guineenses que o praticam. Ensinou-me a exigência de nós, técnicos, sermos pragmáticos e concretos nas propostas que fazemos aos agricultores. Fez-me ver a importância e necessidade de conhecer as experiências e avanços dos países da zona, como forma de evitar perdas de tempo e meios, sobretudo para um país tão carente como a Guiné-Bissau. Visitei e conheci o Ghana, Mali, Guiné-Conakry, Nigéria, Burkina Faso, Senegal, Costa do Marfim, Libéria, Serra Leoa.
Levou-me a perceber que nas nossas circunstâncias, o essencial não é inventar, mas que a obra do artista se vê através da capacidade que ele tem em adaptar no seu país, as ideias e soluções que outros encontraram ou estão a desenvolver. O que aprendi com Djibril Aw foi determinante para a criação do primeiro departamento técnico do então Comissariado, o DEPA.
Percebendo que se ficasse à espera de directivas dos dirigentes, nunca sairia do ciclo de actividades avulsas e ocasionais prevalecentes, decidi iniciar em Dezembro de 1975, um programa de ensaios de arroz, a partir de 15 variedades fornecidas pela ADRAO. Negociei com a Central Eléctrica de Bissau, a título de empréstimo, um pequeno terreno e água desperdiçada. Era a primeira vez na minha vida que semeava qualquer coisa. Como técnico recém-formado estava em pânico, oscilando entre a falta de confiança no resultado e a expectativa de vir a ser um sucesso.
Já com a totalidade das variedades em plena floração, convido o Sub-Comissário para visitar o campo de ensaios.
À entrada do campo uma tabuleta dizia DEPA. Ele não olhou para o ensaio, fixou-se na tabuleta.
- O que é isto? - perguntou.
- É o Departamento de Experimentação e Produção de Arroz que criámos - respondi eu.
- E quem é que deu autorização para este nome?
- Escolha então você um outro - concluí eu.
Foi a partir daí que me comecei a aperceber do crime que havia sido cometido com a formação de quadros nos países do bloco soviético. Não do ponto de vista técnico, mas da cultura de passividade que “inculcava” ou “impunha” aos seus formandos. Saía-se de lá com o espírito de obediência passiva aos chefes, esperando sempre “directivas” vindas do alto sem nunca se estimular a capacidade criadora e inventiva dos técnicos, sob pena da mesma poder ser considerada um atentado à autoridade dos chefes e no interesse em substituí-los.
Os primeiros anos foram vividos neste clima, tendo mesmo um grupo destes técnicos, acabado por escrever um opúsculo intitulado “Os bem e os mal servidos do Ministério da Agricultura”. Aqui os técnicos eram divididos entre “socialistas”, os que estudaram nos países de Leste, e “capitalistas”, os que vinham de Lisboa.
Sucede que logo a seguir ao DEPA outros departamentos foram sendo criados, todos eles por técnicos que estudaram em Portugal e que traziam consigo a prática do “desenrascanso”, isto é, de não ficarem à espera que lhes dessem condições, mas serem eles próprios a criá-las. Esta postura havia sido adquirida nos movimentos estudantis e nas associações de estudantes geridas por recursos engendrados e inventados pela capacidade criadora dos líderes associativos para contrabalançar as perseguições políticas e o não-apoio do governo fascista português. Isto poderá ajudar a explicar a razão pela qual, apesar de ter havido tantos quadros técnicos superiores e médios, à quase totalidade vinda do Leste não tivesse correspondido um avanço dos programas de desenvolvimento agrícola.
É assim que, sem consultar nenhum dirigente superior do Ministério, não por querer pôr em causa a sua autoridade, mas apenas para evitar os bloqueios burocráticos que certamente seriam colocados, o DEPA cria em Janeiro de 1977 o Centro Nacional de Experimentação e Multiplicação de Arroz de Contuboel, junto ao rio Geba no Leste do País, e a Estação Orizícola de Caboxanque, em Maio de 1977, no Sul.
Era a primeira vez na história da Guiné-Bissau que se criavam dois centros de pesquisa vocacionados, numa primeira fase para a cultura de arroz e numa segunda para as outras espécies alimentares (feijão, mandioca, milho, sorgo, milheto, etc.).
Com base no que a equipa inicial do DEPA, o Alcalá Barbosa, o Malam Sadjo, o Joaquim Dias N’Djai e o Manlafi Mané, viu em Richard-Toll, no delta do rio Senegal, deu-se início pela primeira vez no país, em Janeiro de 77, à cultura do arroz na época seca. Das 300 famílias de agricultores que se inscreveram, apenas 12 iniciaram a preparação do terreno, a lavoura e a sementeira em viveiro. Todos os dias levantavam-se cedo e iam para os campos trabalhar. Atravessavam o centro da vila de Contuboel, ouvindo bocas de outros agricultores que não acreditavam que “o arroz se pudesse desenvolver sem receber água de cima”, isto é, sem ser das chuvas. Foram postas à prova as suas convicções ao ouvirem dizer diariamente que “estavam a trabalhar para nada” e “cansavam-se para acabar com o cérebro feito em pó”; era um teste às suas convicções e resistência.
Em Maio inicia-se a colheita. Uma excelente produção. Muito arroz num momento em que ninguém já tinha reservas de arroz em casa. Então os agricultores das 12 famílias passaram a sentar-se no mercado central, silenciosos, com os balaios (cestas) de arroz novo à frente, a ver os anteriormente descrentes, a correrem aflitos para as lojas a tentar comprar este cereal, base da sua alimentação. O olhar irónico e feliz dos que haviam sido postos à prova era uma verdadeira vitória que contagiou todos em especial nas tabancas à volta. Em 1990 eram já 12.500 pessoas envolvidas na dupla produção de arroz ao longo da bacia do rio Geba.
2 A POLÍTICA DA DESILUSÃO
Amílcar Cabral, a nossa maior referência política, parecia adivinhar os efeitos que Bissau iria provocar nas convicções dos dirigentes políticos do Partido que havia liderado a luta pela independência, o PAIGC. Analisou como ninguém as falsas partidas das independências concedidas pelas potências colonizadoras europeias às suas colónias, nos anos 60. Seguiu e apercebeu-se em directo das atribulações de Sekou Turé na construção de um país que resvalou rapidamente para o autoritarismo, a repressão popular e as divisões étnicas.
Porque conhecia de avanço os perigos e escolhas com que a Guiné-Bissau se iria confrontar depois da libertação total do país e porque sentia que a guerra estava militarmente ganha, Amílcar Cabral dedicou os seus últimos anos de vida à procura de um modelo de organização de Estado que minimizasse os perigos que decorreriam de um sistema organizativo baseado no modelo autoritário, fosse ele colonial ou pós-independente.
Percebeu, antes de todos os outros, que Bissau poderia ser o princípio do fim dos valores de dedicação à causa popular, à solidariedade ideológica e a uma postura de vida baseada em princípios de dignidade e respeito. Chegou a equacionar a possibilidade de cada Ministério ser colocado em cada uma das oito capitais de região, como forma de promover um desenvolvimento descentralizado.
Não teve tempo para desenvolver este conceito. Foi assassinado em 1973 a mando de Spínola, com a conivência expressa ou por omissão de muitos outros sectores, entre os quais militantes do PAIGC e políticos da Guiné-Conakry que não toleravam a sua independência de pensamento e acção. O que é certo é que, ao entrar em Bissau, os líderes e quadros do PAIGC decidiram-se pelo repouso do guerreiro, não resistindo ao charme fatal de uma forma de vida cantada pelas sereias do tempo perdido.
Quando chego a Bissau em 1975, trazia comigo uma carta de apresentação de militante do PAIGC da célula de Lisboa, assinada pelo seu responsável, o caboverdiano Santana. Guardei-a sempre comigo. Apenas via nela um certificado da minha militância e não um atestado para ascender às instâncias superiores do Partido. Perdi-a em 1998 no conflito político-militar.
Assim comecei a militar na Juventude do Partido, a JAAC, onde conheci o melhor dirigente político que alguma vez me dirigiu: João da Costa. Homem de uma cultura fora do vulgar, sempre adoptou uma postura analítica e crítica em relação ao seu próprio partido, à acção dos combatentes da liberdade da pátria, à interpretação da História.
Com virtudes humanas excepcionais e grande capacidade de liderança, com ele aprendi muito do que sei sobre a criação de equipas de trabalho, a sua motivação, a democracia de ser sempre o último a falar e a tomar posições permitindo a cada um colocar as suas perguntas e exprimir as suas ideias. Intransigente na salvaguarda da dignidade e na disciplina, cultivava um relacionamento humano em que a amizade assumia sempre um lugar de primazia.
Recusando-se sempre a “vender a alma ao diabo”, é perseguido sistematicamente nos anos 80 e 90, com falsas acusações de tentativa de golpes de estado, defendido por um advogado vendido ao poder, acaba por morrer durante o conflito político militar de 1998-99. Continua a servir-me de referência de postura e coerência política.
A minha maior desilusão partidária acontece com o Golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980. Aos 30 anos de idade, da ideia que fazia do PAIGC, não cabia a resolução interna de problemas políticos de forma violenta. O debate devia sempre prevalecer. Neste caso, era o Primeiro Ministro [, João Bernardo 'Nino' Vieira, ] que dava um golpe ao Presidente [ Luís Cabral,] que o havia escolhido, sem nunca o contestar abertamente ou nas instâncias do Partido.
Acabei por perceber mais tarde que, na realidade, o que estava em causa não eram divergências políticas, mas o assalto ao poder de uma ala retrógrada que havia perdido essa mesma batalha, sete anos antes, no assassinato de Amílcar Cabral. Incapaz de aceitar estes processos, dois meses mais tarde peço a demissão de dirigente da Juventude do Partido e abandono a vida partidária para me concentrar unicamente na luta política.
Outro momento duro de “engolir” veio alguns anos depois quando o Comandante Paulo Correia, combatente da luta pela independência é por duas vezes seguidas falsamente acusado de tentativa de golpe de estado, acabando miseravelmente assassinado por quem foi seu companheiro de armas durante longos anos.
Conheci Paulo Correia quando ele, depois de ter sido acusado pela 1ª vez de tentativa de golpe de estado, é retirado de Ministro da Defesa e passa a Ministro da Agricultura.
Um dia, estando a passar férias em Lisboa, sou informado por um técnico do DEPA que um director do Ministério tinha desencadeado um ataque em força contra o DEPA, acusando-o de ser um “Estado dentro do Estado”, de não obedecer a ninguém e que tinha chegado a hora de pôr tudo na ordem. Regresso a Bissau e profundamente exaltado entro no gabinete do Ministro Paulo Correia a quem exponho de um só fôlego o meu protesto e revolta. Ouviu-me com atenção e toda a calma deste mundo.
Deixou-me acabar e não respondeu. Falou-me então durante uma hora, com todos os detalhes, sobre a forma como falsamente o envolveram na inventona de golpe de estado de que fora acusado. No fim olha para mim e diz: “já notaste que, depois disto tudo, estou aqui calmo e tranquilo?”. Acabara de me dar a resposta à minha revolta. Na realidade qual era a gravidade do meu caso, quando comparado com o dele, esse sim uma monstruosidade pelas consequências que viria a ter.
Saí com ele em visitas ao estrangeiro e habituei-me a apreciá-lo muito. Sempre o considerei como o melhor Ministro da Agricultura que tive, curiosamente o único que, por não ser agrónomo, fazia questão de ouvir todos antes de tirar as suas conclusões. Acabou por sair dali directamente para as masmorras da polícia onde foi assassinado conjuntamente com alguns outros combatentes pela independência.
Com o Golpe de 14 de Novembro de 1980 reintroduziu-se na história da Guiné a divisão étnica: no início a divisão era entre caboverdianos, apelidados de cavaleiros, e guineenses, chamados de cavalos. Esquecendo-se os seus promotores que. uma vez estabelecida a primeira divisão étnica, outras se lhe seguiriam, surge a estigmatização dos balantas, tanto mística com o fenómeno iang-iang, como política com o caso Paulo Correia, prosseguindo com a divisão entre muçulmanos e animistas, e mais recentemente entre os naturais da cidade e os da tabanca. Tudo isto em função da conveniência e interesse da estratégia do líder político da ocasião.
Kumba Ialá, que viria a ser mais tarde Presidente, revelou-se neste domínio o maior, indo buscar algumas das carecterísticas menos ricas da idiossincrasia balanta, unificou-os à volta de conceitos demagógicos e populistas, em contraponto aos tempos idos de 'Nino' Vieira em que os membros do governo pouco variavam, limitando-se os seus titulares a mudarem de cadeira. Nessa ocasião, lembro-me de um Ministro que, com três pastas num só ano, bateu o recorde olímpico nacional.
Já o antigo animista Kumba Ialá, travestido agora de muçulmano com a designação de Mohamed Ialá Embaló, introduziu pela primeira vez o conceito de acesso universal ao governo, isto é, passou a promover a entrada para o governo de todos os cidadãos que se julgassem capazes e predispostos a serem ministros. Analfabetos houve que aproveitaram a ocasião… A partir dos anos 2000 assistiu-se à mais louca gestão de um Estado, de que há memória. No fundo até durou pouco tempo… porque, entretanto, o Estado desapareceu!
Foi nesse período em que tudo valia, que um dia, deixaram “cair” perto do meu local de trabalho um bilhete anónimo que dizia: ”neste fim de semana vais sofrer um atentado para te matarem”. Entendi isso apenas como uma tentativa de intimidação. Todavia, às 3 horas da madrugada desse dia, três ninjas (polícia especial armada), acorrentavam o velho guarda da casa e iniciam a tentativa de demolição das janelas. Só a intervenção determinante do nosso vizinho, Nelson Dias, nos salvou, a mim e à Isabel, perante o completo desinteresse da polícia que se escusara a prestar socorro. Os assaltantes, esses, nunca foram punidos, embora saiba que a polícia os identificou.
3. O DESENVOLVIMENTO NO SEU LABIRINTO
Em 1991, incluído num grupo de guineenses do qual faziam parte José Filipe Fonseca, Nelson Dias, Isabel Miranda, Roberto Quessangue e Rui Miranda, entre outros, criámos uma organização não-governamental, a Acção para o Desenvolvimento (AD), que pretendia promover uma ética de desenvolvimento local centrada no homem e não no crescimento económico. A AD surgia assim para dar continuidade e potenciar de forma mais aberta as actividades de vulgarização do DEPA.
Num país de cerca de um milhão e meio de almas, onde coabitam 32 etnias, cada uma delas com as suas próprias culturas, organização social e sistemas de produção específicos, é entusiasmante ir descobrindo as suas diferentes lógicas de desenvolvimento e ao mesmo tempo participar com elas na procura de novos caminhos para o seu progresso.
Ao longo do trabalho nas zonas rurais fui-me apercebendo do quão errados e inadaptados são os métodos de concepção de desenvolvimento baseados na introdução dos chamados pacotes tecnológicos ou da visão estanque da promoção por culturas sem a compreensão dos sistemas de produção. A fraca capacidade dos pequenos agricultores impede-os de aderir à série de medidas propostas pelo pacote, o qual exige muito maiores recursos financeiros do que dispõem, ao uso de novas tecnologias que ultrapassam os meios humanos sobretudo familiares, e à mudança radical nos sistemas de cultura e produção, que vêm subverter profundamente os métodos tradicionais, impedindo o pequeno agricultor de controlar e gerir o seu próprio sistema de produção.
Mais difícil e eficaz é aliar uma boa capacidade de observação dos problemas com que os agricultores se debatem, aos diálogos informais com eles e usando o feelling que os agentes de desenvolvimento devem cultivar. Isto ajuda a compreensão do problema prioritário que se coloca e a procura de uma solução técnica ou tecnológica que se adapta ao seu modo de vida e trabalho.
Ouvi a muitos, sobretudo vindos de fora, que o nosso papel, enquanto agrónomos, é o de satisfazer as solicitações dos agricultores, elevando estes à categoria de semi-deuses, que tudo sabem e a quem tudo deve ser concedido. Creio que nada de mais errado existe. A postura mais realista e consequente é aquela em que o relacionamento entre agricultor e técnico se faz com os olhos situados ao mesmo nível, reconhecendo ambos que só da valorização dos dois tipos de conhecimentos, os tradicionais e os mais modernos, poderá haver avanço e progresso, construindo uma parceria baseada no respeito e complementaridade.
Alguns diletantes das questões do desenvolvimento partem do pressuposto que os agricultores tudo sabem e que as tabancas são um mar calmo sem conflitos e contradições internas, que os técnicos vêm subverter e perturbar com modernices. Em 1963, meu pai, Artur Augusto da Silva, no seu texto Pequena viagem através de África, já se referia a este tipo de pessoas que, com uma visão falsa e deformada, mal aportam à Guiné-Bissau ou a África em geral, começam logo a perorar e a fazer afirmações definitivas de quem já tudo aprendeu e tudo sabe.
Contava ele que “… ainda há poucos anos corriam na África Ocidental Francesa, umas notas de mil francos onde se via, em atitude de herói cinematográfico, um europeu, de largo chapeleirão colonial, camisa folgada, calções curtos e umas imponentes botas altas, empunhando uma arma e, arrogantemente, pisando um leão morto. Podemos dizer: a verdade da imagem correspondia ao exíguo valor da nota”.
Assim tenho visto passar pela Guiné-Bissau autênticas romarias de especialistas, pomposa designação que alguns se dão a si próprios ou que certas organizações internacionais atribuem a estes turistas do desenvolvimento. Lembro-me de um, do Banco Mundial, que feliz como uma criança dizia: “Aqui na Guiné-Bissau, sinto-me como o Pai Natal a distribuir presentes, dou dinheiro aqui, mais alí…”. Outros arranjam subsídios vitalícios para “turistarem” pela Guiné fora, recolherem duas ou três declarações avulsas, incluírem seis ou sete da sua autoria que muito ajudam a sustentarem e comprovarem as suas teses de partida que de forma cientificamente desonesta nunca ousam pôr em causa. À segunda publicação são já considerados especialistas, o que lhes permite frequentar e pavonear-se em colóquios e conferências internacionais afirmando a sua pesporrência científica.
No domínio do desenvolvimento rural, perfilhei desde o início a escola francesa, baseada numa visão global do território de desenvolvimento, da inclusão camponesa na pesquisa rural e na procura e seguimento do agricultor “fora-do-tipo”, como inovador de uma solução para um problema técnico, económico ou social que atinge uma comunidade. O facto deste último utilizar um sistema diferente pode significar que ele esteja a procurar a solução para o problema da falta de água, ou da diminuição da mão-de-obra familiar disponível, ou da falta de recursos financeiros para manter a sua unidade agrícola.
Como exemplo de um caso destes, recordo-me de um agricultor que redescobriu um processo de rega gota-a-gota, usando para isso uma grande cabaça de um fruto silvestre, por baixo da qual fez dois pequenos furos por onde escoava lenta e regularmente um fio de água que regava as suas bananeiras. Tinha encontrado, sozinho, uma forma de economizar a pouca água de que dispunha e respondido à reduzida quantidade de mão-de-obra familiar que não tinha na sua exploração.
Já de sentido inverso, a introdução nas tabancas de pequenas unidades de descasque de arroz e que representaram uma autêntica revolução para as mulheres, resultou exclusivamente da capacidade dos técnicos em identificar uma tecnologia localmente desconhecida que viesse aligeirar o seu penoso esforço físico de pilar o arroz, ganhar cerca de duas a três horas diárias de tempo que as mulheres passaram a utilizar noutras actividades sociais e produtivas, e a promover o associativismo de tipo mais moderno a nível das comunidades. Com estas descascadoras, as mulheres passaram a assumir-se como pessoas livres, afirmando-se que agora também elas se tinham libertado do seu colonialista: o pilão.
Uma das maiores dificuldades com que nos deparamos actualmente nos processos de desenvolvimento, é a da tentativa dos financiadores do Norte em padronizar, à sua imagem e semelhança, consideradas como modelos exemplares e de reprodução local necessária, métodos de programação, de intervenção, de organização e de avaliação, como se o progresso da humanidade se fizesse com roupagem pronto-a-vestir, informatizada ou robotorizada, e não com abordagens específicas caso a caso. A mudança de atitude de algumas organizações parceiras parecem querer abandonar a antiga cumplicidade existente na defesa de políticas progressistas de luta pelas populações mais excluídas e no combate político por uma sociedade mais justa, progressiva e solidária, para se deixarem deslumbrar e seduzir pelos modelos de organização e prioridades administrativo-financeiras de tipo neoliberal.
Tem-se a ideia de que certas ONG do norte se perderam no caminho, deixaram de crer nas suas vocações e se docilizaram perante as suas fontes de financiamento, assumindo um mero papel de executores, bons e baratos, das suas políticas governamentais. Para digerir o purgante, algumas passam anos a reestruturarem-se em termos de finalidades e formas organizativas, alimentando o espírito com supostos desafios novos, e acabamos por ter a sensação que, para essas organizações o essencial é que nós funcionemos administrativamente bem, em vez da obtenção de resultados que melhorem as condições de vida das comunidades locais.
Já a nível interno, do próprio país, certas elites políticas e intelectuais persistem numa cultura de recusa da discussão das grandes opções de desenvolvimento, da melhor forma de acabar com a pobreza e dos novos caminhos a trilhar, para se concentrarem nas formas de atingir um poder que sabem efémero e para o qual utilizam todos os meios, mesmo que violentos.
Esta situação assume proporções dramáticas quando se avalia o seu impacto junto das comunidades locais que apreendem rapidamente os sinais dessa cultura de confronto e intolerância e dela se começam a apropriar, introduzindo nas suas práticas as lógicas e os vícios que elas consigo transportam, traduzidos no recurso frequente à violência no seio das famílias e das tabancas como forma de resolver os problemas e contradições ou o obscurantismo da caça a pessoas normais acusadas de bruxaria. Surgem então as tendências tribalistas, de violência gratuita e ignorância.
Pratica-se hoje uma “amnistia sem rosto” para encobrir crimes que se foram cometendo ao longo destes anos, sem identificar e julgar os seus autores, erigindo a impunidade como objectivo político e valor cultural. Como ninguém foi condenado ou se assume como culpado, esta amnistia acaba por cobrir todos e ninguém, tanto os crimes políticos como os de sangue. Os que amanhã vierem a cometer quaisquer actos ilícitos, reclamarão os mesmos direitos que os seus antecessores tiveram, porque “para crime igual, impunidade igual”.
Quando em 1991, o ministro da agricultura de serviço resolveu impunemente aboletar-se com património do Estado e transferir o meio de transporte da coordenadora da pesquisa agrária do DEPA para o seu filho menor poder deslocar-se à escola, isto perante a completa passividade do governo, decidi abandonar a administração pública. Revoltado, expliquei a todos os agricultores e comunidades rurais com quem trabalhava, os contornos da arbitrariedade e a irreversibilidade da minha atitude. É então em Quebo que um velho Homem Grande e amigo me escuta com toda a atenção e perante a minha exaltação diz: “Nota que criaste demasiadas expectativas em relação a quem era e sempre foi medíocre. Julgaste ver o que não existia. Não te esqueças que a sombra de um pau torto nunca pode ser uma linha direita.”
Começava aí para mim, mais uma vez, uma nova vida, onde continuei a procurar viver os desafios do meu tempo. Depois do combate ao fascismo e colonialismo em Portugal, a luta pela instauração da democracia na Guiné-Bissau, a procura de caminhos alternativos ao neoliberalismo para um desenvolvimento justo e solidário e a participação no combate internacional à globalização enquanto expressão de desigualdades, exclusão e pobreza.
Na AD, a luta de uma organização que quer ser “ela própria” e não uma agência de execução de projectos ou de promoção de modas e clichés, sejam eles o ambiente, o género, a luta contra a pobreza, os desafios do milénio, etc.. Colocarmo-nos lado a lado com as organizações progressistas do mundo, que se assumem com desafios de mudança, de procura de justiça social e de solidariedade entre as pessoas, povos e nações, integrando estas acções num ambicioso processo político de envolvimento dos actores locais na procura de respostas democráticas aos desafios do seu próprio desenvolvimento, na identificação de novas formas de organização do Estado que substitua o esclerosado e anacrónico aparelho herdado do colonialismo e retomado por um centralismo democrático, em tudo semelhantes.
O desenvolvimento implica ousar trilhar caminhos novos porque, no dizer do poeta, ao andar-se por caminhos já abertos e conhecidos não se perde nenhuma guerra, mas também não se ganha nada. É gratificante ter-se sido contemporâneo de um grupo de excelentes quadros que contribuíram para o surgimento e sucesso das primeiras vinte e cinco rádios e três televisões comunitárias da Guiné-Bissau que representam hoje a vanguarda neste domínio nos países africanos de expressão portuguesa; para a criação de escolas de tipo novo, designadas de verificação ambiental (EVA) em que é introduzido o princípio da prestação de serviços da escola à comunidade, a capacitação dos professores em ecopedagogia e a sua apropriação pelas populações rurais; o surgimento das primeiras associação de moradores dos bairros populares de Bissau.
Provavelmente um dos segredos do sucesso reside na capacidade de vivermos no coração das comunidades locais, tendo com elas o nosso único compromisso, sabendo identificar os seus problemas e anseios e, com eles, criar dinâmicas de apropriação de processos em que vão crescendo e amadurecendo. Este êxito decorre muito da postura de respeito, simplicidade de procedimentos e forte espírito de missão cultivado de forma natural pelos técnicos.
Outro segredo, poderá ser o facto de a imagem de eficácia resultar da não hipoteca dos resultados a discussões infindáveis e estéreis sobre procedimentos, tão do agrado dos que estão habituados a fazer o desenvolvimento a partir de manuais e computadores, menosprezando a capacidade das comunidades locais em elaborar e conceber elas próprias os seus procedimentos de análise e decisão.
4. RENASCER SEMPRE
Em 1948, um ano antes de eu nascer o meu pai regressava à Guiné-Bissau, onde vivera em Farim a sua infância e, onde tal como os meus avós que lá haviam aportado no final do século XIX, se prendeu pelos encantos e tranquilidade destas paragens. Pressionado pela perseguição política da Ditadura de Salazar e desiludido com a derrota do Movimento de Unidade Democrática [MUD], procura em África aquela paz de consciência que o mundo europeu não lhe podia dar.
Com a minha mãe Clara e meus irmãos Henrique e João volta a nascer, entusiasmado com esta terra e suas gentes, tal como a família dos meus avós maternos renasceram do Gueto de Varsóvia e dos campos de concentração nazis. Saem da Polónia para Portugal para tudo começar de novo.
Já em 1966, a polícia política de Salazar prende-o no aeroporto de Lisboa acusando-o de ser membro do Partido que lutava pela independência da Guiné e Cabo verde, o PAIGC. Liberta-o cinco meses depois, impedindo-o de regressar a Bissau e obrigando-o a recomeçar uma nova vida.
No dia 24 de Setembro de 1973, em casa dos nossos camaradas caboverdianos Manuela e Sabino somos acometidos por uma alegria enorme ao ouvir na rádio BBC a notícia da declaração da Independência da Guiné-Bissau. Meio ano depois, no final da tarde do dia 25 de Abril de 1974, a Isabel e eu estávamos no cerco ao Quartel do Carmo, testemunhando a queda de 48 anos de fascismo e de quase 500 de colonialismo.
Um ano depois estamos, entusiasmados, em Bissau a começar a nossa vida. Primeiro com a Cristina, a nossa primeira filha e logo a seguir com o Ivan nascido em 1975 e a Catarina em 1980. Muitos anos depois, mais exactamente 18, o país é abalado por um violento conflito politico-militar. Os senegaleses, invasores, ocupam, pilham e destroem a nossa casa no bairro de Quelele. Somos obrigados a refugiarmo-nos em Lisboa. Quando 11 meses depois regressamos, não existe pedra sobre pedra das nossas memórias: fotografias, filmes, livros, recordações de toda a vida, haviam desaparecido.
Recomeçámos tudo mais uma vez, menos por convicção, mais por tradição. Hoje as nossas duas netas, Sara e Clara, sabem que desistir é perder e recomeçar é vencer.
__________
Notas do Pepito
AD - Acção para o Desenvolvimento, ONG guineense
ADRAO - Associação para o Desenvolvimento da Orizicultura na África Ocidental
DEPA - Departamento de Experimentação e Pesquisa Agrícola
Homem Grande - Sábio
Iang-iang- Movimento místico-religioso protagonizado por balantas
JAAC - Juventude Africana Amílcar Cabral
Mancarra - Amendoim
PAIGC - Partido Africano da Independência de Guiné e Cabo Verde
Tabanca - Aldeia
___________
Nota de L.G.:
(*) Artur Augusto Silva (1912-1983), jurista e escritor:
(i) Nasceu a 14 de Outubro de 1912, em Cabo Verde, na Ilha da Brava, "a ilha dos poetas, das flores e das mulheres bonitas", a ilha que foi também po berço do poeta Eugénio Tavares (1867-1930);
(ii) Ainda estudante, foi Director da revista Momento, que pretendia ser uma espécie de réplica, lisboeta, da Presença, de Coimbra, e onde se propunha abrir uma Tribuna Livre com outros jovens escritores e intelectuais, "em que livremente se discutisse e todos pudessem falar";
(iii) Na Metrópole, "publicou vários artigos, fez reportagens, dirigiu saraus literários, organizou exposições de arte moderna, promoveu conferências culturais na Casa da Imprensa, na Sociedade Nacional de Belas Artes e em vários outros locais de Portugal";
(iv) Licenciou-se em Direito em 1938, pela Universidade de Lisboa;
(v) Em 1939, partiu para Angola onde trabalhou como Secretário do Governador Geral;
(vi) De 1941 a 1949 exerceu advocacia em Lisboa, em Alcobaça e em Porto de Mós, na região da Estremadura (dessa experiência, humana e profissional, colheu o autor matéria-prima para alguns dos seus contos, publicados em O Cativeiro dos Bicheiros);
(vii) Em 1949, partiu para a Guiné onde foi advogado, notário e substituto do Delegado do Procurador da República;
(viii) Foi também Membro do Centro de Estudos da Guiné, juntamente com Amilcar Cabral de quem era grande amigo e com quem viajou várias vezes;
(ix) Participou, em 1949, na criação do Colégio-Liceu de Bissau;
(x) Visitou vários países africanos, recolhendo elementos que mais tarde lhe serviriam para escrever, entre outros livros, Os Usos e Costumes Jurídicos dos Fulas, tendo-se tornado um grande especialista em direito consuetudinário;
(xi) Cidadão empenhado, africano nacionalista, jurista corajoso, fez questão de defender presos políticos guineenses, muitos deles seus amigos "ou que passaram a sê-lo, acusados de sedição pela potência colonial"; mais concretamente, "foi defensor em 61 julgamentos, um deles com 23 réus, tendo tido apenas duas condenações";
(xii) Em 1966, "já em plena luta de libertação da Guiné", foi preso pela Pide, no aeroporto de Lisboa, situção violenta e arbitrária que ele recorda "com dor e revolta"; na cadeia de Caxias, escreveu boa parte dos contos de O Cativeiro dos Bichos;
(xiii) "Meses mais tarde, por intervenção de Marcelo Caetano e de outros responsáveis políticos que, embora discordassem das suas ideias políticas, o admiravam como homem de carácter, foi libertado, mas proibiram-lhe que regressasse à Guiné, sendo-lhe fixada residência em Lisboa"; começou a ter problemas de saúde, na sequência da sua prisão em Caxias;
(xiv) Em 1967, recebe um convite de Marcelo Caetano para ir trabalhar como advogado na Companhia de Seguros Bonança. Também Adriano Moreira o convida para leccionar no Instituto de Ciências Sociais e Política Ultramarina (ISCPU), o que ele recusou, fazendo ver ao portador do convite a incoerência de o terem prendido pelas suas ideias sobre o colonialismo português e depois o convidarem para leccionar matérias relacionadas com Africa...
(xv) Em 1976, de visita à nova República da Guiné-Bissau, foi convidado pelo então Presidente Luís Cabral para trabalhar como juiz no Supremo Tribunal de Justiça;
(xvi) Foi professor de Direito Consuetudinário, na Escola de Direito de Bissau;
(xvii) Faleceu em Bissau, a 11 de Julho de 1983, com 70 anos.
(xviii) Casado com Clara Schwarz, teve três filhos: Henrique, João e Carlos Schwarz.
Vd poste de 20 Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Antologia (38): O cativeiro dos bichos (Artur Augusto Silva)
(**) Cristina Ribeiro Schwarz da Silva (Pepas, para os amigos e familiares), é a filha mais mais velha de Carlos Schwarz da Silva, guineense, e Isabel Levy Ribeiro, portuguesa.
Tem 35, é licenciada em biologia marinha, casada, com um professor português. Têm uma filha, que foi a primeira neta do Pepito e da Isabel. Trabalha no IBAP - Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau. É Coordenadora para o Seguimento das Espécies. Aprecia o nosso blogue e é de grande utilidade, para o seu trabalho, as nossas velhas cartas militares... Prometi mandar-lhe, através do pai, um CD com as cartas que faltam (Beli, Cassumba, ilhas, etc.) e que, por razõesa de falta de tempo ainda não estão em linha..,
(***) As minas da Panasqueira, na Serra do Açor, concelho da Covilhã, laboram há cerca de 100 anos, e são consideradasa as maiores minas sunterrâneas do mundo, com cerca 12 mil quilómetros de túneis subterrâneos, escavados pelo homem...
terça-feira, 29 de julho de 2008
Guiné 63/74 - P3100: Bibliografia de uma guerra (29): Romance de Armor Pires Mota: A Cubana que dançava flamenco (Virgínio Briote)
A Cubana que dançava flamenco
Armor Pires Mota
Imagens & Letras
Maio de 2008
€11.99
A nova obra de Armor Pires Mota conta a história de um alferes que, com três meses de comissão, é apanhado pela guerrilha na zona de Bissorã. Preso e acorrentado, vive os primeiros tempos no acampamento de um tal Mamadú Indjai, sob a ameaça constante de fuzilamento. Assiste à chegada dos primeiros combatentes cubanos [, facto que ocorre, historicamente, em meados de 1966]. Com o tempo ganha a confiança de mulheres guerrilheiras e acaba por participar na guerra, primeiro como carregador e municiador e mais tarde com uma Ak-47 nas mãos. Um desentendimento na guerrilha leva-o de novo a Mansoa, já no final da comissão.
Armor Pires Mota, natural de Oiã, Oliveira do Bairro, foi mobilizado em 1963 para a Guiné. Incorporado no BCav 490, como alferes miliciano, esteve primeiro na intervenção na zona do Oio, no arquipélago do Como e posteriormente em Jumbembem, quando o Batalhão estacionou em quadrícula na zona de Farim.
Tem várias obras publicadas, algumas sobre a Guerra na Guiné: Tarrafo, Guiné Sol e Sangue, Cabo Donato e Estranha Noiva de Guerra.
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Nota de vb:
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