Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 12 de novembro de 2024
Guiné 61/74 - P26144: Facebook...ando (66): Sessão de apresentação do livro de poesia "NA PENUMBRA DA MEMÓRIA, VIVÊNCIAS NA GUERRA COLONIAL", da autoria de José Luís Loureiro, levada a efeito no passado dia 9 de Novembro de 2024, no Casino da Figueira da Foz (Antero Santos, ex-Fur Mil Inf)
Obras sobre a Guerra do Ultramar
NA PENUMBRA DA MEMÓRIA, VIVÊNCIAS NA GUERRA COLONIAL
Poesia
Autor - José Luís Loureiro
Ontem, num dos salões do Casino da Figueira da Foz, decorreu a sessão de apresentação do livro de poesia do Combatente José Luís Loureiro, "NA PENUMBRA DA MEMÓRIA, VIVÊNCIAS NA GUERRA COLONIAL".
Foi uma cerimónia que contou com a presença na mesa da Sra. D. Isabel Tavares, escritora, poetisa e declamadora, além de ser Deputada Municipal na Assembleia Municipal da Figueira da Foz; de Antero Santos, autor do prefácio; de Vitor Carriço da Silva, autor do texto da badana e também do autor da obra, José Loureiro, que foram Combatentes na Guiné, em Moçambique e em Angola, respectivamente.
Na assistência estavam o Dr. Fernando Matos, administrador do Casino e esposa, o Dr. Jorge Lê, vários Combatentes de entre os quais destaco o Dr. Vasco Gama, residente em Buarcos, que foi comandante da CCAV 8351, Os Tigres do Cumbijã - 1972/74.
Abriu a sessão a D. Isabel Tavares. Depois dos convidados terem feito as suas considerações sobre a obra e de a D. Isabel Tavares ter declamado vários poemas, foi a vez do autor falar da mesma e dos seus estados de alma. Então a D. Isabel Tavares propôs um espaço de perguntas e respostas e aconteceu uma tertúlia entre todos os presentes sobre várias facetas da guerra no Teatro de Operações, sobre a forma como os Combatentes continuam a ser "destratados" pelos sucessivos governos e também sobre a regalia que foi decretada em 2021 sobre direito ao uso da bandeira nacional no velório e funeral dos Combatentes e que, tristemente, não é respeitada pela maioria das autarquias a quem compete a execução da medida. Foi muito positiva esta pequena tertúlia.
Quase a terminar, o José Loureiro agradeceu a presença de todos. Agradeceu também à Administração e Direcção do Casino, nas pessoas do Dr. Fernando Matos e Dr. Jorge Lê
Para finalizar a cerimónia, a administração do Casino presenteou-nos com um Porto de Honra e foi tempo de um animado convívio.
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Fotos: José António Silva Teixeira
Fixação do texto e edição das fotos: Carlos Vinhal
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Nota do editor
Último post da série de 11 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26033: Facebook...ando (65): Valter Santos, em Cucujães, relembrando coisas e gente do seu tempo, em Bissau, no HM 241 (1969/71)
quinta-feira, 30 de novembro de 2023
Guiné 61/74 - P24900: Os nossos seres, saberes e lazeres (602): Abandono do Património Histórico (Victor Costa, ex-Fur Mil At Inf)
Amigos e camaradas da Guiné,
Os Salgados da Guérande, Noirmoutier e a ilha de Ré no Norte de França são muito antigos e começaram a degradar-se após a 2.ª Guerra Mundial. O Governo Central, assumindo que estas salinas eram uma parte da História de França, decidiu proceder à sua recuperação.
Foi aprovado um plano de longo prazo, assumiram que competia às Comunas a construção dos acessos, rede viária, limpeza, manutenção e iniciaram parcerias com o sector privado para apoiar a recuperação das Salinas.
O resultado foi a recuperação do património histórico, recuperou as profissões ancestrais da produção de sal artesanal e Flor de sal, valorizou a indústria turística e teve o retorno económico de volta.
O sucesso francês reside na sua forma de organização política. Este plano de longo prazo, contou também com o envolvimento dos Presidentes das Comunas e dos seus antecessores que apesar de perderem as eleições continuam a participar e a serem ouvidos.
Neste Salgado o escoamento da produção de sal era feito através do Braço Sul e Norte do Rio Mondego para os armazéns do Porto de Lavos e para o "trapiche"! do Porto da Figueira da Foz, cada barco de sal transportava 10 Ton, mas devido aos custos do seu transporte a actividade tornou-se inviável a partir do final dos anos 60.
Coube à Organização de produtores FozSal e à sua Direção alterar a forma de escoamento da produção de sal.
Como mostra a escritura de aforamento de 1765 que junto em anexo, desde o tempo da construção das salinas que existiam caminhos, para a deslocação de gentes e gados no Salgado da Figueira. A FozSal aproveitou parte desses caminhos para construir a atual rede viária existente.
Coube também à FozSal a manutenção dos caminhos e isso permitiu travar o abandono das salinas e manter activo o Salgado, mas como todos usam, estes tornaram-se públicos.
Hoje estes caminhos são mantidos à custa dos produtores e depois de mais de 20 anos na Direção da FozSal os velhos como eu cansaram-se e deram o lugar aos novos, mas a tendência de abandono mantém-se. Hoje em Portugal "importamos" o que há de pior no mundo, mas os bons exemplos como o francês acima citado, que vi com os meus olhos em 2005 quando integrei a delegação do Salgado da Figueira da Foz na minha deslocação aqueles Salgados do Norte de França não são aplicados.
Em nome da Democracia e da Descentralização compete às Autarquias construir e manter os caminhos rurais, mas a jurisdição do DPM pertence à APA e como esta depende do Poder Central e nada faz, continua o público a usar recaindo sobre os privados a construção e a manutenção dos caminhos.
Conclusão:
Todos usam os caminhos do Salgado e querem manter os seus direitos, gostam de ver os "escravos" perdão quis dizer as salinas a funcionar, mas no que toca a deveres, ninguém tem nada a ver com isso e muito menos o Poder Central.
Esta nova geração também é mais "fina", já não trabalha por amor à camisola, não respeita a História e as actividades dos nossos antepassados, é egoísta e pensa que só tem direitos e não tem deveres para com a sociedade.
Esta é uma pequena parte da História do Salgado da Figueira da Foz.
Segue a história da salina das Craveiras ou de D. Dulce, e o aforamento da Tapada do Sul por Fernando Gomes de Quadros.
Doc. 1- Aforamento feito pela Rainha D. Dulce (D. Sancho I) de uma marinha no termo da vila de Lavos, feita no mês de Janeiro. Era 1255 (1217).
Ao longo dos tempos a superfície de evaporação e cristalização desta marinha, foi sendo partilhada por vários produtores, mas no essencial manteve o seu traçado original até que um dos proprietários decidiu provocar algumas modificações em 1988.
Doc. 2 - Localização geográfica de parte da salina acima citada na Planta do Cap. de Fragata Francisco M. P. da Silva de 1862.
Tal como no Salgado de Castro Marim, o Salgado de Lavos está muito ligado à Ordem dos Templários, mas com a decisão de D. Dinis de os mandar de "férias" durante quatro anos lá para baixo, ficaram a pertencer à Ordem de Cristo.
"Lavos Nove Séculos de História" foi apenas uma pequena parte, mas haverá sempre alguém numa "Torre" ou num Arquivo qualquer que virá acrescentar algo.
Escrever sobre o Salgado exige investigação, nas Craveiras foi o Capitão Mano e na Tapada do Sul foi o ex-Fur Mil Victor Costa mas quando nos agarramos a uma narrativa escrevemos apenas para alguns e perdemos a credibilidade.
Um abraço,
Victor Costa
Ex-Fur Mil At Inf da CCaç 4541/72
Nota: Clicar nas imagens para ampliar
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Notas do editor:
Vd. poste de 31 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24181: Os nossos seres, saberes e lazeres (565): Diferenças entre o Estado de Direito e o Estado de Direito democrático (Victor Costa, ex-Fur Mil At Inf)
Último poste da série de 25 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24886: Os nossos seres, saberes e lazeres (601): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (130): Querubim Lapa, mago da cerâmica azulejar, mas irrefutável pintor e desenhador neorrealista (1) (Mário Beja Santos)
sexta-feira, 31 de março de 2023
Guiné 61/74 - P24181: Os nossos seres, saberes e lazeres (565): Diferenças entre o Estado de Direito e o Estado de Direito democrático (Victor Costa, ex-Fur Mil At Inf)
Amigos e camaradas da Guiné,
Antes de iniciar este assunto quero dar este pequeno contributo sobre a formação da cidade da Figueira da Foz.
O período de transição do lugar da Figueira para as Praças de Buarcos e Figueira e depois Figueira da Foz.
José Joaquim dos Santos Pinheiro foi Juiz Ordinário do Couto de Tavarede e Cavaleiro da Ordem de Cristo.
Na escritura de aforamento consta cito - Saibam quantos este público instrumento de aforamento fateusim perpétuo(...) que sendo no ano do nascimento de nosso senhor jesus Cristo de mil setecentos e cinquenta e três anos em os quatro dias do mês de Abril do dito ano no lugar da Figueira (...) e o dito sal seria posto e medido pelo alqueire do concelho deste couto de Tavarede à custa deles foreiros e posto à sua custa no porto do rio Mondego deste lugar (...) Carlos José Pinto Carvalho, tabelião do público, judicial e notas, escrivão da Câmara e Almotaçaria neste Couto de Lavos, bem e fielmente aqui o trasladei (...). (Doc.1).
No livro de registo de baptismos de S. Julião (1602 a 1767) consta - Aos vinte e dois dias do mês de Agosto de mil setecentos e cinquenta e sete baptizei na capela do Paço que está nesta freguesia por despacho do Ex.mo e R.mo Bispo Conde a João filho legítimo e do primeiro matrimónio de Joseph Pacheco de Albuquerque e de Melo fidalgo da Casa Real governador das Praças de Buarcos e Figueira (...) foram padrinhos o Ex.mo Sebastião José de Carvalho e Melo do conselho de Sua Magestade e Secretário de Estado dos Negócios do Reino (...). (Doc.2).
No livro de registo de batismos de S.Julião (1602 a 1767) consta - Aos vinte e nove dias do mês de Maio de mil setecentos e sessenta e dois nesta igreja de S.Julião da Figueira da Foz baptizei e pus os sacramentos a José filho de José Joaquim dos Santos Pinheiro Cavaleiro da Ordem de Cristo (...). (Doc.3).
Vamos agora ao Estado de Direito. Em política a confiança entre governantes e eleitores é uma coisa que, depois de se perder raramente volta a ser recuperada.
José Sócrates, 1.º Ministro de Portugal, fez publicar na Assembleia da República em 15 de Novembro a Lei 54/2005. Esta nova Lei sobre a titularidade dos recursos hídricos, nomeadamente o artigo 15.º da dita Lei e a norma revogatória do artigo 29.º tinham como objectivo principal o confisco de propriedades particulares inseridas no espaço considerado de Domínio Público Marítimo.
A entrada em vigor da Lei 54/2005 de 15 de Nov. (Lei Sócrates), conduziu a uma corrida aos Arquivos por parte dos particulares que só iria abrandar com a Lei 34/2014 de 19 de Junho, que revogou a dita Lei. De facto o artigo 2.º do decreto de 31 de Dezembro de 1864 decretou a dominialidade daqueles terrenos, mas para mim foi também uma oportunidade para conhecer a História de Portugal e conhecer o Código Civil de 1867 (Código de Seabra) que clarificou as regras a observar nomeadamente o parágrafo 4.º do artigo 380.º.
O Código Civil de 1966 em vigor, nomeadamente o seu artigo 4.º e 12.º permitiram defender-me, mas foi necessário aprender a ler a real História de Portugal no Arquivo da Universidade de Coimbra para poder exercer os meus direitos no Tribunal. Não contente por ser considerado ladrão de terrenos do Estado, comecei a vasculhar no Arquivo para conhecer quem tinham sido de facto os "ladrões", se é que haviam ou vendedores e compradores das propriedades e pelo meio fui encontrando os antepassados de ministros e deputados que nos têm governado nestes anos.
Tudo começou numa reunião em 2006 entre representantes de produtores e a DGRM, INAG e DGV, numa sala do Ministério da Agricultura no Terreiro do Paço, em Lisboa. No lado oposto da mesa ouvi a intervenção da Engª Fernanda Ambrósio do Instituto Nacional da Água dizer que as regras tinham mudado, agora havia que cumprir com o disposto na Lei 54/2005 de 15 de Novembro.
Ou seja, tinha de intentar uma acção judicial contra o Estado até 31 de Dezembro de 2013 para provar ser o titular daquilo que eu dizia ser a minha propriedade fazendo o trato sucessivo até data anterior a 31 de Dezembro de 1864, sob pena desta reverter para o Estado a título gratuito.
Será que tinha ouvido bem, é que antes de entrar para a dita reunião tinha passado pelo corredor, onde tinha visto exposta a fotografia do Eng. Duarte Silva, Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz e ex-Ministro da Agricultura e Pescas, com quem tinha uma boa relação, precisamente devido ao facto da sua família ter possuído no passado durante mais de cem anos esta propriedade.
Vai começar a guerra, pensei eu... E começou.
O citado Eng. Duarte Silva descendia de uma família de armadores da Praça do Porto, pessoas de bem cuja ligação à Figueira se deu no final do século XVIII resultante do casamento de Dona Rosa Ricarda e Silva com o Dr. Ricardo José Gomes, Presidente da Mesa Grande da Alfândega da Figueira. Aquele início do século XIX, tinha sido terrível, devido a problemas de saúde desta família, apenas sobreviveu e durante pouco tempo a sua filha mais nova, Maria Emilia da Silva Gomes que acabou por ir viver com o seu tio Joaquim José Duarte Silva na rua do Carmo n.º 6 em Lisboa. (Doc.4).
Joaquim José Duarte Silva, quando morreu em 1849, deixou a seu filho António José Duarte Silva algum património, mas também deixou muitas dívidas resultantes da venda de sal e outros bens de consumo que enquanto negociante na Baía tinha vendido para o Brasil e não tinha recebido.
"Que final feliz para a Nau dos Quintos"... E ainda dizem passados 200 anos, que temos de pagar o ouro que roubámos do Brasil e ouvir desaforos como "Almada Colonial". É caso para dizer, raios partam os negócios ruinosos que o Estado fez e continua a fazer, sem proteger minimamente o seu povo e deixando problemas para os vindouros resolverem, porque eu quando fui a Mafra para receber a minha parte do Bolo, apenas encontrei pedras e ostentação.
Estas e outras escrituras integram o meu processo, foram reconhecidas pelo Tribunal e deram origem ao reconhecimento de propriedade privada e ao meu Titulo de Autorização de recursos hídricos particulares emitido pela DGRM.
(Clicar nas imagens para leitura mais cómoda)
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Nota do editor
Último poste da série de25 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24169: Os nossos seres, saberes e lazeres (564): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (95): Da bela Tavira a uma exposição sobre a Ordem de Cristo em Castro Marim, com José Cutileiro em pano de fundo (2) (Mário Beja Santos)
quarta-feira, 10 de março de 2021
Guiné 61/74 - P21991: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (22): minas, terríveis minas...
Guiné > Região de Quínara > São João > CCAÇ 423 (1963/65) > Os efeitos devastadores das primeiras minas e fornilhos A/C no CTIG, na estrada Nova Sintra-Fulacunda.
Foto (e legenda): © Gonçalo Inocentes (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
(i) ex-fur mil, 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), "Os Mais de Nova Sintra", os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974;
O soldado Sousa, da 2ª CART / Bart 6520, de Nova Sintra –Ramiro de Silva Sousa, natural de Quiaios, Figueira da Foz – estava no destacamento à espera do correio que vinha numa avioneta, DO-27, e, nesse dia, não tinha recebido correspondência, o que o entristeceu, um sentimento semelhante ao de todos nós, quando não recebíamos correio.
Estava junto à sua caserna e um seu amigo encontrava-se a ler um jornal da sua região onde noticiava que tinha havido um acidente na zona Quiaios, terra do Sousa, e, por infelicidade, esse acidente foi grave e trágico... Tratava-se de familiares do soldado Sousa que, compreensivelmente, ficou num estado psicológico desesperado.
Pela tardinha, furtivamente, o Sousa desertou do destacamento de Nova Sintra e foi ao aquartelamento de S. João, onde se encontrava o seu amigo Alferes Garcia, do qual esperava um apoio para a sua situação .
O Alferes Garcia (já falecido) era um grande amigo dos militares, homem simples, colaborador, alegre, simpático e com um elevado sentido de humor e quando se juntava ao alferes Figueira, e aos furriéis Elias e Mendonça, era um ambiente de alegria transbordante e grandes “palhaçadas” no bom sentido do termo.
O soldado Sousa seguiu pelo caminho ou trilho em direção a S. João e pisou uma mina anti-pessoal e deu-se a tragédia! Essa mina tinha sido colocada pelos sapadores de S. João, como “armadilha” de defesa do destacamento.
Um milícia, chamado Atilo, que andava à caça, ouviu essa explosão e aproximou-se do local onde tinha deflagrado a mina e encontrou o Sousa, o “Meio Quilo”, estendido no solo poeirento e com ferimentos extremamente graves.
O milícia Atilo foi, de imediato, avisar o alferes Garcia, comandante do destacamento que mandou uma Berliet buscar o ferido, sendo, posteriormente, evacuado de helicóptero, pela tardinha, de S. João para o Hospital Militar de Bissau.
O Sousa recuperou, regressou à Metrópole, casou e constituiu família e foi a todos os Encontros – Convívios Anuais organizados pelos “Os Mais de Nova Sintra”. Como um dos organizadores, desses convívios, eu posso afirmar e justificar que o Sousa esteve presente com a sua esposa, pelo menos, nos últimos 41 anos consecutivos.
Infelizmente, há 4 anos faleceu, deixando-nos imensas saudades.
Fisicamente perdemos o Sousa mas, espiritualmente, está sempre presente entre nós.
Testemunho do ex-furriel Barros, 2ª Cart / BART 6520, sendo apoiado neste testemunho, pelo amigo Joaquim Manuel Rodrigues Cunha (que estava em São João).
Carlos Manuel de Lima Barros,
Nota do editor:
Último poste da série > 7 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21979: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (21): O "velhinho, fanfarrão" que levou uma abada de 2-12, do "pira" que era bom no jogo das damas e tinha "fair play"
domingo, 26 de janeiro de 2014
Guiné 63/74 - P12639: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (12): Lisboa e Figueira da Foz (António Eduardo Ferreira)
Amigo Carlos
Por que a saúde está acima de tudo, que a tua te não falte para poderes continuar com o trabalho tão importante que vens desenvolvendo para satisfação de quantos pisaram o chão da Guiné.
Um abraço
Hoje vou falar da minha tropa por cá, não propriamente das cidades por onde passei, foram poucas e, algumas por pouco tempo.
A 25 de Janeiro de 71 assentei praça no GCTA, em Lisboa. Passados alguns dias, apareceu por lá um veículo com pessoal da área da saúde tendo em vista saber como estavam os nossos pulmões, a mim foi- me dito que alguma coisa parecia não estar bem.
Mandaram-me para o HMDIC, hospital de infecto-contagiosas onde estive quase um mês e onde fui sujeito a vários exames.
Confesso que cheguei a desejar que se confirmasse estar doente porque talvez me mandassem para casa, mas não, chegaram à conclusão que tinha sido falso alarme.
Lá voltei de novo para continuar a recruta e a especialidade, as duas eram uma só. A poucos dias de jurar bandeira, depois de quase um mês no hospital e mais uns dias de férias, pensava ter perdido a recruta, mas os responsáveis pelo pelotão a que eu pertencia entenderam que não merecia a pena andar por ali mais tempo.
Jurei bandeira com o resto do pessoal.
A recruta e especialidade no mesmo local foram boas, éramos cento e vinte naquele turno, todos com carta de condução civil o que tornava as coisas mais fáceis, já que nossa especialidade ia ser condutor.
A outra atividade não relacionada com a condução era desenvolvida na parada do quartel, onde naquela altura era colocado um grande colchão para dar cambalhota em frente, não deviam ser muitos os quartéis onde isso acontecia.
Certa noite saímos para o campo, ao chegarmos ao local, estava a chover e não saímos das viaturas.
Também por lá se comiam bifes com batatas fritas, coisa rara na maioria dos quartéis.
Passavam por lá certos recrutas que não dava muito jeito que se lesionassem, eram os vários futebolistas que ali assentavam praça.
Naquele tempo estavam lá três, de turnos anteriores ao meu: o guarda- redes do Sporting Vítor Damas, Raul Águas do Benfica e o Ruas, guarda- redes do Belenenses, andava também por lá o cantor Fernando Tordo, e talvez outros que não cheguei a conhecer dado o pouco tempo que lá estive.
Depois seguiu-se a Figueira da Foz a 2 de Maio.
Para quem ia à praia, era maravilhosa a Figueira, agora para um militar com a especialidade de monitor auto, ir dar instrução no RAP-3 onde as viaturas eram normais, tinham apenas um volante, era treino de adaptação, o que por vezes nos defendia de males maiores era o travão de mão que não raramente tive de utilizar. Foram demasiados sustos para quem não gostava de tropa.
Uma pequena estória nada agradável que me aconteceu no fim da segunda semana de lá estar.
Um dos circuitos que fazíamos saía da Figueira passava por Vila Verde, Alto da Brenha e vinha de novo à Figueira. Em condições normais era repetido duas vezes mas naquela tarde já íamos na terceira, Num dos altos que fazíamos, um monitor dos velhos disse: agora levo eu a viatura, e eu, maçarico, fiz o mesmo. Cerca de duzentos metros à frente cruzamo-nos com o Comandante da Bateria que nos disse: vão lá para o quartel que já falamos.
O que ele depois nos disse, foi:
- Vocês vão ter trinta dias de dispensas cortadas e fazer reforços aos fins-de- semana.
O primeiro que fiz calhou no dia em que fazia vinte e um anos. Para tornar esse dia ainda mais aborrecido fiz confusão com a senha que nos foi distribuída para respondermos quando passava a ronda. A senha era pesca, mas quando o oficial de ronda se aproximou em vez de pesca, eu disse peixe. O oficial era o aspirante Marques, que me disse: você vai apanhar uma porrada, eu não disse nada, mas pensei: então ainda não cumpri uma já vou levar outra?… Mas não, ele não fez caso da minha confusão.
Depois, também o comandante da bateria, alferes Pereira, viu que eu nem era mau diabo… disse-me naquele que era para ser o último fim-de-semana de reforço de castigo, que já não o fazia, podia meter passaporte para ir a casa.
Passados alguns meses deixei de dar instrução, passei a fazer serviço no parque, tirar e recolher as viaturas que andavam na instrução, aí o serviço era melhor.
Entretanto o fim do ano aproximava-se, um dia pela manhã fui entregar o passaporte para gozar onze dias de férias de Natal, assim estava combinado na bateria a que pertencia.
Ao fim da tarde recebi ordens para meter novo passaporte, mas agora não com onze, mas sim dez dias, ao mesmo tempo era informado que tinha sido mobilizado para a província da Guiné.
Passados os dez dias voltei ao RAP-3 e nessa mesma noite mandaram-me para o RAP-2 de Vila Nova de Gaia.
Não conhecia nada a norte da Figueira, fui de comboio até Alfarelos, aí esperei mais três horas que outro comboio chegasse para seguir rumo a Vila Nova de Gaia, não mais esqueci as três horas de frio que lá passei, não estava congelado mas quase.
Supunha ir encontrar a Companhia para onde tinha sido mobilizado, mas não, tinham lá estado mas já tinham ido embora. Cheguei lá pela manhã e ao fim da tarde voltei para casa, com nova data para me apresentar na semana seguinte.
Mais uma viagem até Alfarelos, nova mudança de comboio agora até ao Valado dos Frades, depois mais quinze quilómetros de táxi para chegar aos Molianos.
Na segunda vez fui à boleia com um vizinho camionista, também ele tinha estado na Guiné, em Guilege. Uma vez mais à tardinha fui mandado para casa, agora com ordem e data para me apresentar nos Adidos, em Lisboa, a fim de embarcar de avião para a Guiné.
Antes dessa data recebi nova informação, vinda de Lisboa, que a viagem tinha sido adiada, tinha ficado para o dia 24 de Janeiro, como veio a acontecer.
Depois de tantas alterações e do desgaste a que fui sujeito naqueles dias, aconteceu-me uma coisa boa que eu já não esperava que acontecesse.
Na madrugada do dia vinte e dois, fui levar a minha esposa à maternidade e à tarde fui ver o meu filho acabado de nascer. No dia seguinte parti para Lisboa, onde embarquei para a Guiné.
Os dias em que estive em Lisboa, não deram para grandes saídas, só lá fiquei um fim-de-semana, porque estava de serviço.
A Figueira da Foz era uma terra que não conhecia (conhecia tão pouco) mas que fiquei a gostar.
Já lá tenho ido algumas vezes, não para recordar o tempo de tropa, mas porque me sinto bem lá.
De Vila Nova de Gaia, nada fiquei a conhecer, só mais tarde lá voltei, a última vez foi há cerca de três anos participar no almoço da nossa companhia.
Na Guiné: um mês nos Adidos, depois Mansambo, uma semana de “férias” em Fá Mandinga, a seguir a terrível Cobumba, de novo Bissau e, a 2 de abril de 1974, o regresso à Metrópole.
Como dizia o meu saudoso avô António, não dê Deus ao corpo o que ele não aguenta…
António Eduardo Ferreira
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Nota do editor
Último poste da série de 25 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12634: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (11): Figueira da Foz... ou dois anos inesquecíveis na Princesa do Mondego (Vasco Pires)
sábado, 25 de janeiro de 2014
Guiné 63/74 - P12634: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (11): Figueira da Foz... ou dois anos inesquecíveis na Princesa do Mondego (Vasco Pires)
Caríssimos,
Cordiais saudações.
Depois da "Máfrica" de tantos de nós, veio a EPA em Vendas Novas, menos alunos (cerca de 40), o que trouxe melhor tratamento, depois da Especialidade, mais um estágio de um mês ou pouco mais.
Na EPA havia dois pelotões, um de PCT e outro de IOL, e se não me falha a memória com entre 30 e 40 alunos somados os dois.
O "Jornal da Caserna" informou que quem ficasse nos primeiros lugares duma lista conjunta não iria para África, como era costume.
Depois do estágio, já Aspirantes, o que frustou a comissão de recepção, que esperava Soldados-Cadetes, terceiro ou quarto lugar no Curso, lá fui eu, mais o Conceição, quarto ou quinto lugar, planeando como seriam os nossos dois anos de "guerra" à beira do Atlântico, mas do Atlântico Norte.
RAP 3, vários Alferes e Aspirantes mais velhos, confirmavam a tese de que os primeiros colocados não seriam mobilizados. Normalmente os mais novos dariam instrução até chegar nova turma. Logo nos primeiros dias, no bar, o Coronel Comandante falou que o responsável pela messe não iria continuar, precisava de um voluntário, como ninguém se manifestou, e eu na hora era o único dos novos presente, perguntou:
Na hora entendi que era mais que um convite, e falei rapidamente:
- Claro, meu Comandante!
Afinal não foi tão mau; o cozinheiro tinha trabalhado num restaurante da Mealhada, e tinha uma boa equipa, fazia as compras diárias no mercado, ficando para mim tão somente as compras do atacado. O único contratempo surgiu quando o Comandante me chamou para dar os "parabéns", pois, como ele tinha recebido em casa no almoço uma fruta estragada, era sinal de que todos os oficiais eram tratados igualmente.
Era um Coronel da velha guarda, à beira da reforma, que usava o humor no lugar da "porrada". Baixa temporada, fácil de alugar apartamento com vista para o mar, pois havia farta oferta; lembrem que ainda éramos Portugueses pobres num Portugal pobre, não éramos ainda nem Europeus nem ricos.
Figueira da Foz, perto de casa, e de Coimbra minha segunda casa. Era Inverno, contudo, ainda tinha o Casino aberto diariamente. Melhor impossível!!! Só era preciso fazer o planeamento da "guerra" para os próximos dois anos, à beira do Atlântico Norte.
O alvo agora era outro: bandos de loiríssimas turistas nórdicas, ávidas de sol e agitação. Amigos e família, unanimemente me felicitavam, e diziam, ou pensavam, que era um hmem de sorte ou tinha uma grande "cunha", aceitava com bom humor todas as piadas, pois, tudo estava correndo acima de qualquer espectativa.
Já estava me preparando para fazer admissão noutra Faculdade, assim aproveitaria ainda mais esses tempos de sorte. Lamentavelmente, o acima descrito era apenas um exercício de "wishful tinking", a dura realide começou a emergir quando o oitavo colocado foi mobilizado, e a fantasia desmoronou quando o Conceição, primeiro colocado depois de mim foi chamado.
A Princesa afinal era outra... a PRINCESA DO RIO SAPO!!!
Forte abraço a todos
Vasco Pires
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Nota do editor
Último poste da série de 24 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12630: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (10): Coimbra, Porto, Abrantes, com passagem por Santa Margarida (Juvenal Amado)