sábado, 25 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12634: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (11): Figueira da Foz... ou dois anos inesquecíveis na Princesa do Mondego (Vasco Pires)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72) com data de 19 de Janeiro de 2014:

Caríssimos,

Cordiais saudações.

Depois da "Máfrica" de tantos de nós, veio a EPA em Vendas Novas, menos alunos (cerca de 40), o que trouxe melhor tratamento, depois da Especialidade, mais um estágio de um mês ou pouco mais.

Na EPA havia dois pelotões, um de PCT e outro de IOL, e se não me falha a memória com entre 30 e 40 alunos somados os dois.

O "Jornal da Caserna" informou que quem ficasse nos primeiros lugares duma lista conjunta não iria para África, como era costume.

Depois do estágio, já Aspirantes, o que frustou a comissão de recepção, que esperava Soldados-Cadetes, terceiro ou quarto lugar no Curso, lá fui eu, mais o Conceição, quarto ou quinto lugar, planeando como seriam os nossos dois anos de "guerra" à beira do Atlântico, mas do Atlântico Norte.

RAP 3, vários Alferes e Aspirantes mais velhos, confirmavam a tese de que os primeiros colocados não seriam mobilizados. Normalmente os mais novos dariam instrução até chegar nova turma. Logo nos primeiros dias, no bar, o Coronel Comandante falou que o responsável pela messe não iria continuar, precisava de um voluntário, como ninguém se manifestou, e eu na hora era o único dos novos presente, perguntou:
O nosso Aspirante não quer assumir?

Na hora entendi que era mais que um convite, e falei rapidamente:
- Claro,  meu Comandante!

Afinal não foi tão mau; o cozinheiro tinha trabalhado num restaurante da Mealhada, e tinha uma boa equipa, fazia as compras diárias no mercado, ficando para mim tão somente as compras do atacado. O único contratempo surgiu quando o Comandante me chamou para dar os "parabéns", pois, como ele tinha recebido em casa no almoço uma fruta estragada, era sinal de que todos os oficiais eram tratados igualmente.

Era um Coronel da velha guarda, à beira da reforma, que usava o humor no lugar da "porrada". Baixa temporada, fácil de alugar apartamento com vista para o mar, pois havia farta oferta; lembrem que ainda éramos Portugueses pobres num Portugal pobre, não éramos ainda nem Europeus nem ricos.

Figueira da Foz


Figueira da Foz, perto de casa, e de Coimbra minha segunda casa. Era Inverno, contudo, ainda tinha o Casino aberto diariamente. Melhor impossível!!! Só era preciso fazer o planeamento da "guerra" para os próximos dois anos, à beira do Atlântico Norte.

O alvo agora era outro: bandos de loiríssimas turistas nórdicas, ávidas de sol e agitação. Amigos e família, unanimemente me felicitavam, e diziam, ou pensavam, que era um hmem de sorte ou tinha uma grande "cunha", aceitava com bom humor todas as piadas, pois, tudo estava correndo acima de qualquer espectativa.

Já estava me preparando para fazer admissão noutra Faculdade, assim aproveitaria ainda mais esses tempos de sorte. Lamentavelmente, o acima descrito era apenas um exercício de "wishful tinking", a dura realide começou a emergir quando o oitavo colocado foi mobilizado, e a fantasia desmoronou quando o Conceição, primeiro colocado depois de mim foi chamado.

A Princesa afinal era outra... a PRINCESA DO RIO SAPO!!!

Forte abraço a todos
Vasco Pires
____________

Nota do editor

Último poste da série de 24 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12630: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (10): Coimbra, Porto, Abrantes, com passagem por Santa Margarida (Juvenal Amado)

6 comentários:

Anónimo disse...

Correção:
1 - Onde se lê: ....acima de qualquer espectativa.
Deve ler-se: acima de qualquer expectativa.

2 - Onde se lê:...a dura realide começou a emergir...
Deve ler-se:... a dura realidade começou a emergir...

VP

Anónimo disse...

Correção:
1 - Onde se lê: ....acima de qualquer espectativa.
Deve ler-se: acima de qualquer expectativa.

2 - Onde se lê:...a dura realide começou a emergir...
Deve ler-se:... a dura realidade começou a emergir...

VP

Luís Graça disse...

Vasco:

Obrigado pelas tuas memórias da Figueira, a bela princesa do Mondego, por odne passaste dois meses... e não dois anos, como por lapso vem no título: se fossem 2 anos tínhas-te livrado de ir conhecer a bruxa má, a do Rio Sapo. É um "lapsus linguae", como se diz em latinório...

Pérola mesmo é essa da "Máfrica" (que eu nunca tinha ouvido, e que vem enriquecer o nosso léxico de caserna)...

Na realidade, Mafra foi uma verdadeira fábrica de combatentes no tempo da guerra de África... Ou melhor: uma verdadeiar linha de montagem de oficiais milicianos... Cumnpriu a missão, aí onde a Academia Militar falhou (, retundamente, levando ao fim do "Estado Novo" e do "império colonial")...

Está por estudar o impacto da "Máfrica" na história do Portugal dos anos 60/70...

Anónimo disse...

Caríssimo Luis,
Cordiais saudações.
Obrigado por teu comentário, contudo, não foi um "lapsus lingae".Foi tão somente um tentativa de humor tardio (talvez frustrada), também um ensaio para recriar o clima emocional do momento. Dizia o "Jornal da Caserna" da EPA: quem fica nos primeiros lugares não é mobilizado; esforço concentrado e fiquei em terceiro ou quarto, chegando na Figueira e vendo vários Alferes e Aspirantes antigos, estava "confirmado" os dois anos de "guerra" seriam no Atlântico Norte!!!

É o tal do "wishful tinking"!!!

Mas deu a "Princesa" do Rio Sapo!!!

Quanto à "Máfrica", vamos deixar para o nosso Camarada José Martins.
Forte abraço
Vasco Pires

José Marcelino Martins disse...

Caro Vasco Pires

Há aqui um "desafio" que aceito mas, há que referir que eu nunca estive em Mafra, e penso que o termo se refere a esta localidade.....
faltam-me "dados".

Abraço

Anónimo disse...

Caríssimo Jose Martins,

Cordiais saudações.
Desculpa a ousadia, mas quando o Luis escreveu:
"Está por estudar o impacto da "Máfrica" na história do Portugal dos anos 60/70...", pensei que teria que ser alguém como tu, que não tem medo da "poeira dos arquivos".

Da minha parte, tentarei avaliar o "choque" da disciplina de Mafra numa geração inocente como a nossa, apesar de muitos de nós se julgarem muito politizados.

forte abraço
Vasco Pires