Sexagésimo quarto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.
Resumo do quinto dia de viagem
Já lá vai quase meio século, uns dias depois de regressar
à nossa aldeia natal, vindos do que se dizia na altura
“cumprimento do dever nacional, na então província da
Guiné”, num qualquer momento em que a “menina
Teresa”, nos deixava livres, fomos lá cima à montanha, à
serra do
Caramulo,
visitar um
companheiro
que
infelizmente
regressou
mais cedo,
estava lá
esperando os
seus últimos
dias, em
tratamento,
num
daqueles Sanatórios que naquele tempo por lá havia,
pois devido “aos bons tratamentos” que recebeu
durante a sua estadia em cenário de guerra, contraiu a
doença da tuberculose, que naquela altura matava como
qualquer bala disparada por uma qualquer arma inimiga. Já há algum
tempo vos
contei a sua
triste história,
que em
muitos
momentos
me vem ao
pensamento
e me vai
acompanhar
também pelo
resto dos
meus dias.
Nesses verdes anos éramos jovens, toda aquela
paisagem de montanha nos parecia bonita, e hoje,
passado tantos anos, faz-nos lembrar o cenário que
neste dia presenciámos. Era parecido, mas em muito
menores proporções, da montanha alguma neve,
rebanhos de animais, floresta e um grande lago entre
pedras de granito.
Pois nós, depois de sairmos da cidade de Conrad, onde
dormimos, já perto do Canadá, fizemos um desvio
seguindo pela estrada número 2, depois pela estrada
número 89, estávamos no “Glacier National Park”, que se
situa no estado de Montana, ao longo da fronteira com as
províncias canadianas de Alberta e British Columbia.
Neste parque podem encontrar-se duas cadeias
montanhosas, mais de 130 lagos, mais de mil espécies de
plantas e centenas de espécies de animais. Trata-se de
uma zona de ecossistema praticamente virgem que se
estende por 4101 km². Faz fronteira com o Parque
Nacional Lagos Waterton e os dois parques constituem o
“Parque Internacional da Paz Waterton-Glacier”, o
primeiro parque internacional criado em 1932. Ambos os
parques foram designados reservas da biosfera em 1976
e foram considerados Património da Humanidade no ano
de 1995. Dizem que alguns glaciares foram formados há
170 milhões de anos e, por volta de 1910, muitos hotéis e
chalés foram construídos em alguns lugares
estratégicos do interior do parque, assim com algumas
estradas, proporcionando acesso a veículos automóveis,
o que podemos comprovar com muitos animais, ainda um
pouco selvagens a esconderem-se nas matas quando
circulávamos pelas estradas do interior, tais como, cabras
de montanha, ursos pretos ou castanhos, veados, lobos
e algumas manadas de bisons, estes atravessando a
estrada, na maior das calmas.
Pela tarde atravessámos a fronteira para o Canadá, onde
se acredita que a origem do nome Canadá venha da
palavra iroquesa kanata, que significa aldeia ou povoado.
Por volta do ano de 1535, nativos americanos vivendo na
região, utilizaram a palavra para explicar ao explorador
francês Jacques Cartier, o caminho para a aldeia de
Stadacona, local onde se pensa que se encontra
atualmente a cidade de Quebec. Cartier utilizou a palavra
não somente em referência a Stadacona, mas como a
toda região sujeita ao domínio de Donnacona, então
cacique de Stadacona. Por volta de 1547, mapas
europeus passaram a nomear esta região, acrescida das
áreas que a cercavam, pelo nome Canada. A partir do
século XVII, aquela parte da Nova França, situada ao
longo do rio São Lourenço e das margens norte dos
Grandes Lagos, era conhecida como Canadá. A
colonização europeia começou efetivamente no século
XVI, quando os britânicos, e principalmente os franceses,
se estabeleceram pelo Canadá. Os britânicos não tiveram
uma forte presença no antigo Canadá, instalando-se
originalmente na Terra de Rupert, uma gigantesca área
que posteriormente daria origem aos territórios do
Noroeste, Manitoba, Saskatchewan e Alberta, província
esta por onde nós atravessámos a fronteira, sendo
recebidos com muita atenção e gentileza. Todavia, a região
que actualmente compõe as atuais províncias de Nova
Escócia e Nova Brunswick, estavam todas nas mãos dos
franceses. A Nova França (Nouvelle-France) continuava
a expandir-se, mas essa expansão não foi bem aceite
pelos britânicos e muitos colonos, desencadeando uma
série de batalhas que culminou, em 1763, no Tratado de
Paris, no qual os franceses cederam seus territórios da
Nova França e outras áreas aos britânicos.
Com o “Canada Act”, de 1982, o nome oficial do país
passou a ser simplesmente Canadá, assim escrito nos
dois idiomas oficiais do país, o inglês e o francês, o que
podemos comprovar, pois todos os letreiros oficiais ao
longo das estradas são escritos nas duas línguas.
Já chega de história, continuando, entrámos pela
província de Alberta, seguindo por algum tempo para
norte, sempre encostados à cordilheira de montanhas
que vêm do estado de Montana, nos USA, desviando-nos
para a cidade de Calgary, onde parámos para ver o
Parque Olimpico, entre outras coisas, continuando rumo
ao norte, agora na auto estrada número 2, que nos
haveria de levar à cidade hospitaleira de Red Deer, onde
dormimos.
Neste dia percorremos 525 milhas, com o preço da
gasolina entre $1,17 e $1,52 (dólar canadiano) o litro.
Também gostávamos de vos dizer que no Canadá, a
velocidade se mede, tal como em Portugal, em
quilómetros e a gasolina se vende em litros.
Tony Borie, Agosto de 2014
____________
Nota do editor
Último poste da série de 30 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13549: Bom ou mau tempo na bolanha (63): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (4)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 6 de setembro de 2014
Guiné 63/74 - P13579: Blogpoesia (390): Poema de um ataque na guerra da Guiné (Armando Fonseca)
1. Mensagem do nosso camarada Armando Fonseca (ex-Soldado Condutor do Pel Rec Fox 42, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64), com data de 2 de Setembro de 2014:
Caros camaradas
Embora visite com frequência o blogue, há muito que não envio nenhuma mensagem mas, como encontrei agora nos meus escritos um pequeno poema escrito no principio do ano e do qual já não me recordava, resolvi enviá-lo para se assim o entenderem ser publicado.
Com os meus cumprimentos para todos os camarigos em especial para os editores que com todo o seu esforço e boa vontade nos vão dando informações.
Com um grande abraço:
Armando Fonseca (O Alenquer)
Esta arma que aqui vedes
Não era dos portugueses
Foi caçada numa noite
A guerrilheiros guineenses
Com esta ficaram outras
Que aqui não estão a aparecer
Estão decerto no Museu
Para o país não esquecer
Foi uma noite infernal
Que ainda não esqueceu
Eles ficaram lá todos
Mas de nós nenhum morreu
Foi numa pequena aldeia
Acabada de ocupar
Eles teceram uma teia
E vieram atacar
Como esta haviam mais duas
Faziam fogo infernal
Nós com armas como as suas
Defendíamos Portugal
Os que foram mais ousados
E do arame se aproximaram
Eram sete mas coitados
Todos eles lá ficaram
A nossa metralhadora
Manobrava o Vitorino
Mas também ele mais tarde
Sofreu o mesmo destino
Ficou-me bem na memória
A ocupação de Sangonhá
Era junto ao Senegal
E a guerra vinha de lá
Passados cinquenta anos
Estes versos estou escrevendo
Estou lembrando sem enganos
Parece que ainda estou vendo
E agora vou terminar
Mas não vou tentar esquecer
É sempre bom recordar
Pois recordar é viver
Armando Fonseca
Janeiro de 2014
(Direitos de Publicação reservados a autorização do autor)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 1 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13557: Blogpoesia (389): Da minha janela... (J. L. Mendes Gomes)
Caros camaradas
Embora visite com frequência o blogue, há muito que não envio nenhuma mensagem mas, como encontrei agora nos meus escritos um pequeno poema escrito no principio do ano e do qual já não me recordava, resolvi enviá-lo para se assim o entenderem ser publicado.
Com os meus cumprimentos para todos os camarigos em especial para os editores que com todo o seu esforço e boa vontade nos vão dando informações.
Com um grande abraço:
Armando Fonseca (O Alenquer)
POEMA DE UM ATAQUE NA GUERRA DA GUINÉ
Esta arma que aqui vedes
Não era dos portugueses
Foi caçada numa noite
A guerrilheiros guineenses
Com esta ficaram outras
Que aqui não estão a aparecer
Estão decerto no Museu
Para o país não esquecer
Foi uma noite infernal
Que ainda não esqueceu
Eles ficaram lá todos
Mas de nós nenhum morreu
Foi numa pequena aldeia
Acabada de ocupar
Eles teceram uma teia
E vieram atacar
Como esta haviam mais duas
Faziam fogo infernal
Nós com armas como as suas
Defendíamos Portugal
Os que foram mais ousados
E do arame se aproximaram
Eram sete mas coitados
Todos eles lá ficaram
A nossa metralhadora
Manobrava o Vitorino
Mas também ele mais tarde
Sofreu o mesmo destino
Ficou-me bem na memória
A ocupação de Sangonhá
Era junto ao Senegal
E a guerra vinha de lá
Passados cinquenta anos
Estes versos estou escrevendo
Estou lembrando sem enganos
Parece que ainda estou vendo
E agora vou terminar
Mas não vou tentar esquecer
É sempre bom recordar
Pois recordar é viver
Armando Fonseca
Janeiro de 2014
(Direitos de Publicação reservados a autorização do autor)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 1 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13557: Blogpoesia (389): Da minha janela... (J. L. Mendes Gomes)
Guiné 63/74 - P13578: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (14): Os Mortos da CART 1659 – “ZORBA”
1. Mensagem do nosso camarada Mário
Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de 29 de Agosto de 2014:
Caros Camaradas e Amigos
Envio um texto de algo que estava já escrito a que acrescentei informações que recolhi entretanto.
Trata-se de uma situação que me tem preocupado, e que vive comigo diariamente. O Vítor José Correia Pestana, que também me influenciou a escrever o meu livro - e não só ele, porque tive em atenção todos que combateram principalmente na Guiné, isto porque foi lá que cumpri a Comissão de Serviço - como dizia o Pestana era um grande amigo, não querendo melindrar ninguém. Mas estive com ele em períodos das nossas vidas em que não tínhamos dinheiro nem para cantar um fado. O que era dele era meu. Com o tempo que tínhamos de serviço militar cheguei a pensar que não éramos mobilizados. Em Penafiel ao darmos a Especialidade ao pessoal da nossa Companhia chegámos a alugar um quarto. Como descrevo no texto pode-se ver os quartéis que percorremos. Nos princípios de 1966 prestámos provas para os Comandos.
Mas Camaradas, foi complicado escrever este texto, e tive o cuidado de colocar os nomes das pessoas. O Major que chamo de "Gordo", porque ele era mesmo gordo acho que apanhou uma "porrada" do Spínola. Se considerarem que não pretendem publicar agradeço que mo devolvam.
Trabalhei muito para o fazer. Parte conhecem já do primeiro texto que enviei para o Blogue, mas desta vez vão os nomes das pessoas. E arrependido estou de não ser mais eu quando escrevi o livro. Desta vez punha "boca no trombone".
A Guerra Colonial para mim não é uma novidade. Estive desde 1994 a 2005 na APOIAR, falei com muitos combatentes, digo combatentes porque nós somos combatentes. Aí o General Chito Rodrigues tem toda a razão.Conheço muita gente, tenho amigos, e foram eles que adquiriram o livro. Que apoios tive? A edição é minha e não tenho nem quero distribuidor. Enviei mais de 200 e-mails, mas foi com o telemóvel que cheguei às pessoas.
No dia 28 de Outubro vou fazer uma Apresentação do Livro na ADFA pelas 15H30. Esta vai publicitar a Apresentação no Jornal ELO; nas Delegações e Núcleos, por Cartazes e a própria ADFA vai enviar mensagens aos Associados que moram perto de Lisboa. Para a Mesa espero somente a presença de 2 convidados meus. Falei com o José Arruda já e pessoalmente e convidei já a Professora que fez a Apresentação no Lançamento. Vou fazer mais uma na Academia de Seniores de Lisboa e fui convidado para fazer uma Apresentação em Alhandra com o apoio da Junta de Freguesia e faço ainda uma outra na APOIAR. Excluindo o de Alhandra penso fazer todas as outras até fins de Novembro.
Se vender todos os livros - que não é muito provável - vou tentar fazer uma outra edição, revista e sem o capítulo da APOIAR. Aí vou poder introduzir novos textos que já escrevi, acrescentar mais umas fotos e entregar a uma Editora. Como já reúno as condições exigidas pela FNAC coloco-o à venda em todo o país. Estou em condições já de pôr a FNAC no assunto, mas o preço do livro é elevado, e tinha de ser vendido por um valor entre 26/27 euros o que é muito.
Aguardo uma resposta sobre este texto. Se vai para o Blogue digam, e se não vai digam na mesma.
A venda do livro em Monte Real prometia, mas às horas que iniciei os autógrafos é impensável. Devia ter começado mais cedo e os livros que levei nem chegavam. Muitos desistiram. A culpa é minha porque escrevi lá autênticos testamentos. E a fila de 20 pessoas transformava-se na venda de 3/4 livros. Na ADFA vou vender os livros antes da Apresentação.
Um abraço do Camarada da Tabanca Grande
Mário Vitorino Gaspar
A questão é que foi mais complicado escrever sobre o meu grande amigo Pestana do que escrever o livro.
Os Mortos da CART 1659 – “ZORBA”
Mário Vitorino Gaspar
A Guerra que Aflige com seus Esquadrões
“Mas a guerra inflige a morte.
E a morte é o desprezo do Universo por nós.
Tendo por consequência a morte, a guerra prova que é falsa.
Sendo falsa, prova que é falso todo o querer alterar.”
Alberto Caeiro, in “Poemas Inconjuntos”
Dia 12/13 de JAN67 na Messe de Sargentos - No topo da mesa, de óculos escuros, o Furriel Miliciano Pestana que morreria a 12 OUT67
Fins de Outubro. Eu e o Furriel Miliciano Manuel Ferreira Jorge íamos de avião rumo a Bissau. As nuvens alvas não se desviavam e multiplicavam-se. Atreviam-se a desafiar o azul mais carregado das águas do mar, lá bem no fundo. Construções de castelos aqui e acolá. Mais à frente, montes enormíssimos de algodão branco sem forma. Umas outras, borradas de cinzento levíssimo, marchavam para o infinito do horizonte. Se não fosse o azul do céu mais límpido que inundava o avião, dir-se-ia ser a imagem de um pisa papéis, onde só destoava o avião. Um daqueles objectos, não só ornamento de escritório, com borboletas, flores, executados pelas mãos do homem. O Belo pincelado de arte poética. Acarinhemos os seus dons.
Deixáramos o aeroporto da Portela há pouco. Os trinta e cinco dias de licença, haviam terminado. Contabilizara-os, segundo a segundo. A guerra e seu espectro estacionavam lá em baixo. Avistava Bissau. Calado. A simetria arquitectónica das ruas e avenidas, davam um ar de arrumação, correspondia à assimetria de tudo o que se passava no meu interior.
Naquela terra morava a guerra. Ela estava lá, sentia-a novamente. A guerra borrou-me a mente e apossou-se de mim. Senti a tristeza inundar-me. Arrepiei-me. Queria chorar. As lágrimas escorriam por dentro. Senti ter os olhos vermelhos de choro engolido, tendo a angústia feito estremecer os pés, as mãos e todo o meu ser.
Fui atingido no coração que palpitava como o trote do cavalo na espera de touros em Vila Franca de Xira, ou como o matraquear da “costureirinha”. Rebentava-me o peito. Era um poço de lágrimas. Sentia ter deixado a vida para ir a caminho da morte.
A força de viver, aquela ânsia de viver jazia derrotada prostrada entre ruínas. Ia até às profundezas do oceano a meus pés, porque ora passava pela cidade ora pelo mar.
Embora estivesse o Jorge ao meu lado, senti-me só. Só. A dor era eu. Senti que se apropriava de mim sem pré-aviso. Comia-me. Mastigava-me e engolia-me. Saboreava-me trincando-me e eu devia ter o sabor de morte.
Bissau magoava-me e jazia a meus pés. Morri. O Boeing aterrou. Pensei, mas mal, que o desassossego ficasse encerrado no avião. Mas não. Transportei-o. O Jorge, ao contrário do que seria de esperar mantinha o silêncio.
Não sei por onde passámos, só recordo o Quartel-General, onde me apresentei, tendo de seguida me dirigido ao Hotel Portugal. Normalmente na esplanada existia sempre pessoal da minha Companhia que havia sido evacuado para o Hospital Militar, ferido ou doente. As mesas estavam cheias, como era hábito. Ouvi alguém em altos berros gritar:
– Meus Furriéis, ó meus furriéis!
Olhei encantado. Havia alguém para dar notícias de Gadamael Porto e Ganturé. Não vislumbrei ninguém, continuando a olhar em todos os sentidos. Olhos de combatente, atentos a tudo.
Vi então de onde partia aquela voz que não sabia de quem era. Era para mim, muito embora só tivesse ouvido “meu furriel”. Havia mais que um militar da minha Companhia.
- O Furriel Pestana e o Soldado Costa morreram! – Escutei da boca de não sei bem quem.
O Pestana era um grande e grande amigo. Um verdadeiro amigo. Partilhámos desde JAN66 o mesmo percurso. Fiquei parado. Estagnei. Hipnotizado. Junto à mesa de cervejas vazias. Senti a boca seca, passando a língua queda e seca pelos lábios. Não sabia o que dizer. Os meus camaradas estavam calados, olhando-me como que compreendendo aquela minha paragem no tempo. As lágrimas não saíam, entravam. Parecia mais um ente sobre a terra fabricado de pedra. Uma estátua de pedra...
Ao verem-me, pensariam decerto não ter sentimentos.
Seria possível. O Costa e o Pestana? - Pensei, olhando-os com ar espavorido. O Costa conhecia-o desde Penafiel, mas o Pestana, já há mais tempo, desde Janeiro de 66 na Escola Prática de Artilharia em Vendas Novas.
Fizera o mesmíssimo percurso militar que eu: Vendas Novas na EPA; RI 14 em Viseu; Rangeres, em Lamego no CIOE; Curso de Explosivos, Minas e Armadilhas na EPE em Tancos; Escola de Quadros no GACA 2, em Torres Novas; RAL 5 em Penafiel e RAC em Oeiras.
Começaram a falar:
– Meu furriel foram mortes estúpidas.
Tínhamos os dois primeiros mortos da Companhia. Os outros dez que haviam tombado, no dia 4 de Julho num rebentamento, todos civis, e que eu assistira.
- Mas como foi? - Perguntei, quebrando o silêncio...
- A malta da Companhia, destacada em Ganturé foi fazer aquela patrulha que é habitual, até à fronteira da Ex-Guiné Francesa, e faz o regresso pelo outro lado. Sabem o percurso. O Furriel Pestana recebeu ordens para armadilhar a zona e montou umas armadilhas. O Alferes Luís Alberto Alves de Gouveia decidiu que o regresso seria pelo mesmo percurso. O croqui foi feito só na ida, e não no sentido contrário. No regresso o furriel Pestana não queria vir por aquele percurso, expondo os seus argumentos, mas o alferes insistiu. O Costa ofereceu-se para acompanhar o nosso Furriel.
- Nunca tal se faz, é um princípio primário em Minas e Armadilhas. - Disse eu.
Senti repulsa. Entendi a amargura que me assaltara no avião. Era como tivesse sido alvejado. Não ia perdoar a asneira do Alferes Gouveia. Uma dor. Era importante que chorasse. Naquele momento era um nada. Uma escumalha repugnante. Um simples ser sem fado.
O Pestana e o Costa deveriam estar vivos.
Escrevi numa carta que bem exemplifica o que sentia: - “Estou farto de estar em Bissau, aqui só se fala em guerra”.
Partimos de imediato numa avioneta fretada porque queria conhecer a verdade. Chegámos a Gadamael Porto. Notava-se uma tristeza naqueles meus camaradas de armas. Mas a vida não parava e as operações não cessavam.
Havíamos de sair dali vivos, nem que para tal tivéssemos que matar. Matar sempre. Aguardei a visita do Alferes Gouveia, depois de me informarem que o Vítor José Correia Pestana e o António Lopes da Costa tinham morrido no dia 12 de Outubro de 1967.
Avistei finalmente o Alferes Gouveia, o único culpado. Estava com um ar triste. Fez-me um sinal com a mão. Olhei-o nos olhos, e sem raiva disse-lhe, sem sequer o cumprimentar:
- Matou o Pestana e o Costa. Você é o culpado da morte deles...
Não me respondeu.
Em 26 de Março de Março de 68 morreu num ataque a Ganturé o Soldado Manuel Ferreira da Silva, sendo atingido com estilhaço na cabeça encontrando-se dentro de um abrigo.
Vim de licença em 1968 – por altura do Carnaval – e fui levar a Abitureiras, Santarém sua terra natal, alguns haveres dele à família. Um dia para esquecer porque toda a família conhecia os laços de amizade que nos unia. Fui por momentos, o filho, primo ou outro ente querido. As suas lágrimas verteram-se sobre o meu rosto. Regressei com urgência depois de ser chamado ao Quartel-General, e fui transportado numa avioneta das NT.
Em Bissau falava-se de uma grande operação na zona de Guileje. Era a Guerra do Raúl Solnado. Quem comandou essa operação foi o Capitão Cadete, que conheci no CISMI em Tavira como Alferes. Esta operação foi “escondida a 7 chaves”.
Inicialmente a CART 1659 – como estava no final da Comissão – foi montar segurança a Mejo, após alguns dias e devido às evacuações e muitas insolações tivemos de avançar. A Artilharia e a Força Aérea estiveram uns dias a bombardear o objectivo. Existia a informação que o PAIGC se tinha reforçado, e segundo me disse o Capitão Cadete tinham 20 canhões sem recuo apontados para a bolanha.
O Exército era a primeira força a avançar, e a minha Secção – também reforçada estaria na frente – Paraquedistas, Comandos e Fuzileiros entrariam no objectivo. Uma avioneta andava sobre as nossas cabeças, e o Capitão Cadete não gostou e informou qual o estado de espírito das NT. O Major gordo (tenho ideias do seu nome mas não arrisco) aterrou com um camuflado acabado de sair do Casão e verificou que não tínhamos comida nem água. Deu ordens para abandonarmos a operação. Segundo dizem o Spínola não gostou.
Entretanto em Gadamael sempre que encontrava o Alferes Gouveia – e era quase diariamente – repetia que ele matara o Pestana e o Costa. Nunca me respondia. Vi que sofria. Falei com todos para saber pormenores sobre o sucedido, e todos se calavam, talvez por saberem que o Pestana era um amigo de peito. Terminada a Comissão tentei saber o que se passara. Pior ainda. Após o 25 de Abril de 74 voltei à carga.
Como a CART 1659 não realiza almoços convívios foi sempre complicado falar com alguém que tenha assistido ao sucedido. Enviei um e-mail a Joaquim Ferreira Alves, mas não obtive resposta e, um dia estava no Hospital dos Lusíadas e falei com ele. Calou-se, mas depois de insistir disse-me que tinha participado nessa patrulha e contou-me com emoção que tinham regressado da fronteira pela mesma via da ida. Nunca tal se fizera. O Pestana após se opor porque o croqui estava feito com referências da ida para a fronteira acabou por avançar. O Costa ofereceu-se para o ajudar a encontrarem as armadilhas.
Tudo isto já eu sabia. Quanto à sua morte, o Pestana quando vê a granada armadilhada já é tarde. Para tentar salvar a vida dos camaradas mais próximos, lança-se sobre a granada. O Costa é atingido e fica sentado – julgo que encostado a uma árvore – e quando todos o julgam vivo, verificam que morrera, sem notarem sinais de ter sido atingido. O Pestana praticamente sem braços e pernas e com um buraco na barriga, não morrera. Pedem evacuação e um Médico que por mero acaso estava na zona ainda o apoiou. O Pestana pedia aos seus camaradas para lhe darem um tiro na cabeça. Morreu com o Costa a 12 de Outubro de 1967, curiosamente no dia que eu fui dado como morto e abatido ao Serviço por falecimento.
Na História da Unidade consta: Morto por Acidente (os dois casos). No Arquivo Histórico-Militar – no Tomo “Mortos em Combate” pode-se ler:
- Causa da Morte: Acidente com arma de fogo
- Observações: Na instalação de uma armadilha.
Isto em ambos os casos. Julgo que escrevem para estúpidos. Foi um Acidente com uma arma de fogo, na instalação de uma armadilha? Como pode ser? O Pestana não instalava uma armadilha, ela estava lá instalada e por ele, e quem manuseia explosivos não está com a arma de fogo.
Depois o Costa que não montava nem desmontava – isto porque na CART 1659 só quem manuseava minas e armadilhas eram os Especialistas – come pela mesma medida.
Na minha opinião Morreram em Combate – e é por tal que luto – e que seja reposta a verdade.
Quanto ao Alferes Miliciano Gouveia a informação que possuo é que se suicidou na Madeira.
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Nota do editor
Último poste da série de 6 de Junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13248: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (13): T/T Uíge: ementa dos sargentos no dia 2 de novembro de 1968, e o filme "Negócio à italiana" com o Alberto Sordi
Caros Camaradas e Amigos
Envio um texto de algo que estava já escrito a que acrescentei informações que recolhi entretanto.
Trata-se de uma situação que me tem preocupado, e que vive comigo diariamente. O Vítor José Correia Pestana, que também me influenciou a escrever o meu livro - e não só ele, porque tive em atenção todos que combateram principalmente na Guiné, isto porque foi lá que cumpri a Comissão de Serviço - como dizia o Pestana era um grande amigo, não querendo melindrar ninguém. Mas estive com ele em períodos das nossas vidas em que não tínhamos dinheiro nem para cantar um fado. O que era dele era meu. Com o tempo que tínhamos de serviço militar cheguei a pensar que não éramos mobilizados. Em Penafiel ao darmos a Especialidade ao pessoal da nossa Companhia chegámos a alugar um quarto. Como descrevo no texto pode-se ver os quartéis que percorremos. Nos princípios de 1966 prestámos provas para os Comandos.
Mas Camaradas, foi complicado escrever este texto, e tive o cuidado de colocar os nomes das pessoas. O Major que chamo de "Gordo", porque ele era mesmo gordo acho que apanhou uma "porrada" do Spínola. Se considerarem que não pretendem publicar agradeço que mo devolvam.
Trabalhei muito para o fazer. Parte conhecem já do primeiro texto que enviei para o Blogue, mas desta vez vão os nomes das pessoas. E arrependido estou de não ser mais eu quando escrevi o livro. Desta vez punha "boca no trombone".
A Guerra Colonial para mim não é uma novidade. Estive desde 1994 a 2005 na APOIAR, falei com muitos combatentes, digo combatentes porque nós somos combatentes. Aí o General Chito Rodrigues tem toda a razão.Conheço muita gente, tenho amigos, e foram eles que adquiriram o livro. Que apoios tive? A edição é minha e não tenho nem quero distribuidor. Enviei mais de 200 e-mails, mas foi com o telemóvel que cheguei às pessoas.
No dia 28 de Outubro vou fazer uma Apresentação do Livro na ADFA pelas 15H30. Esta vai publicitar a Apresentação no Jornal ELO; nas Delegações e Núcleos, por Cartazes e a própria ADFA vai enviar mensagens aos Associados que moram perto de Lisboa. Para a Mesa espero somente a presença de 2 convidados meus. Falei com o José Arruda já e pessoalmente e convidei já a Professora que fez a Apresentação no Lançamento. Vou fazer mais uma na Academia de Seniores de Lisboa e fui convidado para fazer uma Apresentação em Alhandra com o apoio da Junta de Freguesia e faço ainda uma outra na APOIAR. Excluindo o de Alhandra penso fazer todas as outras até fins de Novembro.
Se vender todos os livros - que não é muito provável - vou tentar fazer uma outra edição, revista e sem o capítulo da APOIAR. Aí vou poder introduzir novos textos que já escrevi, acrescentar mais umas fotos e entregar a uma Editora. Como já reúno as condições exigidas pela FNAC coloco-o à venda em todo o país. Estou em condições já de pôr a FNAC no assunto, mas o preço do livro é elevado, e tinha de ser vendido por um valor entre 26/27 euros o que é muito.
Aguardo uma resposta sobre este texto. Se vai para o Blogue digam, e se não vai digam na mesma.
A venda do livro em Monte Real prometia, mas às horas que iniciei os autógrafos é impensável. Devia ter começado mais cedo e os livros que levei nem chegavam. Muitos desistiram. A culpa é minha porque escrevi lá autênticos testamentos. E a fila de 20 pessoas transformava-se na venda de 3/4 livros. Na ADFA vou vender os livros antes da Apresentação.
Um abraço do Camarada da Tabanca Grande
Mário Vitorino Gaspar
A questão é que foi mais complicado escrever sobre o meu grande amigo Pestana do que escrever o livro.
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Os Mortos da CART 1659 – “ZORBA”
Mário Vitorino Gaspar
A Guerra que Aflige com seus Esquadrões
“Mas a guerra inflige a morte.
E a morte é o desprezo do Universo por nós.
Tendo por consequência a morte, a guerra prova que é falsa.
Sendo falsa, prova que é falso todo o querer alterar.”
Alberto Caeiro, in “Poemas Inconjuntos”
Dia 12/13 de JAN67 na Messe de Sargentos - No topo da mesa, de óculos escuros, o Furriel Miliciano Pestana que morreria a 12 OUT67
Fins de Outubro. Eu e o Furriel Miliciano Manuel Ferreira Jorge íamos de avião rumo a Bissau. As nuvens alvas não se desviavam e multiplicavam-se. Atreviam-se a desafiar o azul mais carregado das águas do mar, lá bem no fundo. Construções de castelos aqui e acolá. Mais à frente, montes enormíssimos de algodão branco sem forma. Umas outras, borradas de cinzento levíssimo, marchavam para o infinito do horizonte. Se não fosse o azul do céu mais límpido que inundava o avião, dir-se-ia ser a imagem de um pisa papéis, onde só destoava o avião. Um daqueles objectos, não só ornamento de escritório, com borboletas, flores, executados pelas mãos do homem. O Belo pincelado de arte poética. Acarinhemos os seus dons.
Deixáramos o aeroporto da Portela há pouco. Os trinta e cinco dias de licença, haviam terminado. Contabilizara-os, segundo a segundo. A guerra e seu espectro estacionavam lá em baixo. Avistava Bissau. Calado. A simetria arquitectónica das ruas e avenidas, davam um ar de arrumação, correspondia à assimetria de tudo o que se passava no meu interior.
Naquela terra morava a guerra. Ela estava lá, sentia-a novamente. A guerra borrou-me a mente e apossou-se de mim. Senti a tristeza inundar-me. Arrepiei-me. Queria chorar. As lágrimas escorriam por dentro. Senti ter os olhos vermelhos de choro engolido, tendo a angústia feito estremecer os pés, as mãos e todo o meu ser.
Fui atingido no coração que palpitava como o trote do cavalo na espera de touros em Vila Franca de Xira, ou como o matraquear da “costureirinha”. Rebentava-me o peito. Era um poço de lágrimas. Sentia ter deixado a vida para ir a caminho da morte.
A força de viver, aquela ânsia de viver jazia derrotada prostrada entre ruínas. Ia até às profundezas do oceano a meus pés, porque ora passava pela cidade ora pelo mar.
Embora estivesse o Jorge ao meu lado, senti-me só. Só. A dor era eu. Senti que se apropriava de mim sem pré-aviso. Comia-me. Mastigava-me e engolia-me. Saboreava-me trincando-me e eu devia ter o sabor de morte.
Bissau magoava-me e jazia a meus pés. Morri. O Boeing aterrou. Pensei, mas mal, que o desassossego ficasse encerrado no avião. Mas não. Transportei-o. O Jorge, ao contrário do que seria de esperar mantinha o silêncio.
Não sei por onde passámos, só recordo o Quartel-General, onde me apresentei, tendo de seguida me dirigido ao Hotel Portugal. Normalmente na esplanada existia sempre pessoal da minha Companhia que havia sido evacuado para o Hospital Militar, ferido ou doente. As mesas estavam cheias, como era hábito. Ouvi alguém em altos berros gritar:
– Meus Furriéis, ó meus furriéis!
Olhei encantado. Havia alguém para dar notícias de Gadamael Porto e Ganturé. Não vislumbrei ninguém, continuando a olhar em todos os sentidos. Olhos de combatente, atentos a tudo.
Vi então de onde partia aquela voz que não sabia de quem era. Era para mim, muito embora só tivesse ouvido “meu furriel”. Havia mais que um militar da minha Companhia.
- O Furriel Pestana e o Soldado Costa morreram! – Escutei da boca de não sei bem quem.
O Pestana era um grande e grande amigo. Um verdadeiro amigo. Partilhámos desde JAN66 o mesmo percurso. Fiquei parado. Estagnei. Hipnotizado. Junto à mesa de cervejas vazias. Senti a boca seca, passando a língua queda e seca pelos lábios. Não sabia o que dizer. Os meus camaradas estavam calados, olhando-me como que compreendendo aquela minha paragem no tempo. As lágrimas não saíam, entravam. Parecia mais um ente sobre a terra fabricado de pedra. Uma estátua de pedra...
Morte de Vítor Correia Pestana
12 OUT67
Morte de António Lopes da Costa
12 OUT67
Ao verem-me, pensariam decerto não ter sentimentos.
Seria possível. O Costa e o Pestana? - Pensei, olhando-os com ar espavorido. O Costa conhecia-o desde Penafiel, mas o Pestana, já há mais tempo, desde Janeiro de 66 na Escola Prática de Artilharia em Vendas Novas.
Fizera o mesmíssimo percurso militar que eu: Vendas Novas na EPA; RI 14 em Viseu; Rangeres, em Lamego no CIOE; Curso de Explosivos, Minas e Armadilhas na EPE em Tancos; Escola de Quadros no GACA 2, em Torres Novas; RAL 5 em Penafiel e RAC em Oeiras.
Começaram a falar:
– Meu furriel foram mortes estúpidas.
Tínhamos os dois primeiros mortos da Companhia. Os outros dez que haviam tombado, no dia 4 de Julho num rebentamento, todos civis, e que eu assistira.
- Mas como foi? - Perguntei, quebrando o silêncio...
- A malta da Companhia, destacada em Ganturé foi fazer aquela patrulha que é habitual, até à fronteira da Ex-Guiné Francesa, e faz o regresso pelo outro lado. Sabem o percurso. O Furriel Pestana recebeu ordens para armadilhar a zona e montou umas armadilhas. O Alferes Luís Alberto Alves de Gouveia decidiu que o regresso seria pelo mesmo percurso. O croqui foi feito só na ida, e não no sentido contrário. No regresso o furriel Pestana não queria vir por aquele percurso, expondo os seus argumentos, mas o alferes insistiu. O Costa ofereceu-se para acompanhar o nosso Furriel.
- Nunca tal se faz, é um princípio primário em Minas e Armadilhas. - Disse eu.
Senti repulsa. Entendi a amargura que me assaltara no avião. Era como tivesse sido alvejado. Não ia perdoar a asneira do Alferes Gouveia. Uma dor. Era importante que chorasse. Naquele momento era um nada. Uma escumalha repugnante. Um simples ser sem fado.
O Pestana e o Costa deveriam estar vivos.
Escrevi numa carta que bem exemplifica o que sentia: - “Estou farto de estar em Bissau, aqui só se fala em guerra”.
Partimos de imediato numa avioneta fretada porque queria conhecer a verdade. Chegámos a Gadamael Porto. Notava-se uma tristeza naqueles meus camaradas de armas. Mas a vida não parava e as operações não cessavam.
Havíamos de sair dali vivos, nem que para tal tivéssemos que matar. Matar sempre. Aguardei a visita do Alferes Gouveia, depois de me informarem que o Vítor José Correia Pestana e o António Lopes da Costa tinham morrido no dia 12 de Outubro de 1967.
Avistei finalmente o Alferes Gouveia, o único culpado. Estava com um ar triste. Fez-me um sinal com a mão. Olhei-o nos olhos, e sem raiva disse-lhe, sem sequer o cumprimentar:
- Matou o Pestana e o Costa. Você é o culpado da morte deles...
Não me respondeu.
Morte de Manuel Ferreira da Silvanum ataque a Ganturé
26MAR68
Em 26 de Março de Março de 68 morreu num ataque a Ganturé o Soldado Manuel Ferreira da Silva, sendo atingido com estilhaço na cabeça encontrando-se dentro de um abrigo.
Vim de licença em 1968 – por altura do Carnaval – e fui levar a Abitureiras, Santarém sua terra natal, alguns haveres dele à família. Um dia para esquecer porque toda a família conhecia os laços de amizade que nos unia. Fui por momentos, o filho, primo ou outro ente querido. As suas lágrimas verteram-se sobre o meu rosto. Regressei com urgência depois de ser chamado ao Quartel-General, e fui transportado numa avioneta das NT.
Em Bissau falava-se de uma grande operação na zona de Guileje. Era a Guerra do Raúl Solnado. Quem comandou essa operação foi o Capitão Cadete, que conheci no CISMI em Tavira como Alferes. Esta operação foi “escondida a 7 chaves”.
Inicialmente a CART 1659 – como estava no final da Comissão – foi montar segurança a Mejo, após alguns dias e devido às evacuações e muitas insolações tivemos de avançar. A Artilharia e a Força Aérea estiveram uns dias a bombardear o objectivo. Existia a informação que o PAIGC se tinha reforçado, e segundo me disse o Capitão Cadete tinham 20 canhões sem recuo apontados para a bolanha.
O Exército era a primeira força a avançar, e a minha Secção – também reforçada estaria na frente – Paraquedistas, Comandos e Fuzileiros entrariam no objectivo. Uma avioneta andava sobre as nossas cabeças, e o Capitão Cadete não gostou e informou qual o estado de espírito das NT. O Major gordo (tenho ideias do seu nome mas não arrisco) aterrou com um camuflado acabado de sair do Casão e verificou que não tínhamos comida nem água. Deu ordens para abandonarmos a operação. Segundo dizem o Spínola não gostou.
Entretanto em Gadamael sempre que encontrava o Alferes Gouveia – e era quase diariamente – repetia que ele matara o Pestana e o Costa. Nunca me respondia. Vi que sofria. Falei com todos para saber pormenores sobre o sucedido, e todos se calavam, talvez por saberem que o Pestana era um amigo de peito. Terminada a Comissão tentei saber o que se passara. Pior ainda. Após o 25 de Abril de 74 voltei à carga.
Como a CART 1659 não realiza almoços convívios foi sempre complicado falar com alguém que tenha assistido ao sucedido. Enviei um e-mail a Joaquim Ferreira Alves, mas não obtive resposta e, um dia estava no Hospital dos Lusíadas e falei com ele. Calou-se, mas depois de insistir disse-me que tinha participado nessa patrulha e contou-me com emoção que tinham regressado da fronteira pela mesma via da ida. Nunca tal se fizera. O Pestana após se opor porque o croqui estava feito com referências da ida para a fronteira acabou por avançar. O Costa ofereceu-se para o ajudar a encontrarem as armadilhas.
Tudo isto já eu sabia. Quanto à sua morte, o Pestana quando vê a granada armadilhada já é tarde. Para tentar salvar a vida dos camaradas mais próximos, lança-se sobre a granada. O Costa é atingido e fica sentado – julgo que encostado a uma árvore – e quando todos o julgam vivo, verificam que morrera, sem notarem sinais de ter sido atingido. O Pestana praticamente sem braços e pernas e com um buraco na barriga, não morrera. Pedem evacuação e um Médico que por mero acaso estava na zona ainda o apoiou. O Pestana pedia aos seus camaradas para lhe darem um tiro na cabeça. Morreu com o Costa a 12 de Outubro de 1967, curiosamente no dia que eu fui dado como morto e abatido ao Serviço por falecimento.
Na História da Unidade consta: Morto por Acidente (os dois casos). No Arquivo Histórico-Militar – no Tomo “Mortos em Combate” pode-se ler:
- Causa da Morte: Acidente com arma de fogo
- Observações: Na instalação de uma armadilha.
Isto em ambos os casos. Julgo que escrevem para estúpidos. Foi um Acidente com uma arma de fogo, na instalação de uma armadilha? Como pode ser? O Pestana não instalava uma armadilha, ela estava lá instalada e por ele, e quem manuseia explosivos não está com a arma de fogo.
Depois o Costa que não montava nem desmontava – isto porque na CART 1659 só quem manuseava minas e armadilhas eram os Especialistas – come pela mesma medida.
Na minha opinião Morreram em Combate – e é por tal que luto – e que seja reposta a verdade.
Quanto ao Alferes Miliciano Gouveia a informação que possuo é que se suicidou na Madeira.
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Nota do editor
Último poste da série de 6 de Junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13248: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (13): T/T Uíge: ementa dos sargentos no dia 2 de novembro de 1968, e o filme "Negócio à italiana" com o Alberto Sordi
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
Guiné 63/74 - P13577: Os nossos capelães (3): O capelão do BCAÇ 619 ia, de Catió, ao Cachil dizer missa... Creio que era Pinho de apelido, e tinha a patente de capitão (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)
Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 557 (,Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) > Visita do comandante de batalhão e do capelão.
Fotos: © José Colaço (2014). Todos os direitos reservados.
Um que conheci e que já comentei foi o capelão de Catió que ia rezar a missa ao Cachil. Após a missa era normal ter a visita no posto rádio do padre com os seus argumentos para que eu na próxima missa não faltasse e eu, como sempre, respondia-lhe com as desculpas esfarrapadas de estar em escuta permanente ou catalogar serviço de mensagens urgentes e confidenciais.
Era um homem simpático, para ele não não havia patente militar, eram todos militares e irmãos, admitia até certas controvérsias sobre a religião, tais como a vida para além da morte que defendia convictamente.
A foto que junto, documenta a visita ao ao quartel do Cachil do tenente coronel Narcélio Fernandes
Matias. Este capelão de que falo, creio que com a patente militar de capitão e de nome Pinho, é o primeiro da foto que está com camisa clara, calça camuflada e quico; a seguir de camuflado, quico e óculos escuros, está o tenente coronel Narcélio Fernandes Matias, comandante do BCAÇ 619 de Catió; mais alto de frente e em tronco nu o capitão Ares, comandante da CCAÇ 557... Todos os outros militares em tronco nu (uniforme autorizado no Cachil inclusive barba e cabelo...) eram de certeza elementos da 557.
Matias. Este capelão de que falo, creio que com a patente militar de capitão e de nome Pinho, é o primeiro da foto que está com camisa clara, calça camuflada e quico; a seguir de camuflado, quico e óculos escuros, está o tenente coronel Narcélio Fernandes Matias, comandante do BCAÇ 619 de Catió; mais alto de frente e em tronco nu o capitão Ares, comandante da CCAÇ 557... Todos os outros militares em tronco nu (uniforme autorizado no Cachil inclusive barba e cabelo...) eram de certeza elementos da 557.
Um abraço
Colaço
Colaço
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Nota do editor
(*) Último poste da série de 5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13576: Os nossos capelães (2): Convivi com o ten mil Gama, de alcunha, "pardal espantado"... Muitas vezes era incompreendido, até indesejado por alguns, pois tinha coragem para denunciar os abusos, quando os presenciava (Domingos Gonçalves, ex-allf mil, CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)
Nota do editor
(*) Último poste da série de 5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13576: Os nossos capelães (2): Convivi com o ten mil Gama, de alcunha, "pardal espantado"... Muitas vezes era incompreendido, até indesejado por alguns, pois tinha coragem para denunciar os abusos, quando os presenciava (Domingos Gonçalves, ex-allf mil, CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)
Guiné 63/74 - P13576: Os nossos capelães (2): Convivi com o ten mil Gama, de alcunha, "pardal espantado"... Muitas vezes era incompreendido, até indesejado por alguns, pois tinha coragem para denunciar os abusos, quando os presenciava (Domingos Gonçalves, ex-allf mil, CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)
1. Texto, com data de ontem, de Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)
Era um homem desprendido dos bens materiais, e levava uma vida humilde.
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Nota do editor:
Último poste da série > 5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13575: Os nossos capelães (1): Conheci em Bedanda o ten mil Pacheco Pinho... Ia visitar-nos uma vez por mês para dizer missa... E 'pirava-se' logo que podia (Rui Santos, ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65)
Assunto - Capelães militares
Convivi com o capelão do batalhão de infantaria, a que pertenci, o padre Gama. O primeiro nome já não o recordo. Tinha, na altura, o posto de tenente, o que me leva a pensar que terá pertencido,
Convivi com o capelão do batalhão de infantaria, a que pertenci, o padre Gama. O primeiro nome já não o recordo. Tinha, na altura, o posto de tenente, o que me leva a pensar que terá pertencido,
anteriormente, a outras unidades.
Era um homem bom. Chamavam-lhe pardal espantado. A alcunha vinha-lhe do facto de passar os seu dias a correr de um lado para o outro, de destacamento para destacamento, de companhia para companhia, movido pelo desejo de a todos ajudar um pouco.
Era um homem bom. Chamavam-lhe pardal espantado. A alcunha vinha-lhe do facto de passar os seu dias a correr de um lado para o outro, de destacamento para destacamento, de companhia para companhia, movido pelo desejo de a todos ajudar um pouco.
Muitas vezes era incompreendido, até indesejado por alguns, pois tinha coragem para denunciar
os abusos, quando os presenciava.
Era um homem desprendido dos bens materiais, e levava uma vida humilde.
Um abraço amigo,
Domingos Gonçalves
Nota do editor:
Último poste da série > 5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13575: Os nossos capelães (1): Conheci em Bedanda o ten mil Pacheco Pinho... Ia visitar-nos uma vez por mês para dizer missa... E 'pirava-se' logo que podia (Rui Santos, ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65)
Guiné 63/74 - P13575: Os nossos capelães (1): Conheci em Bedanda o ten mil Pinho... Ia visitar-nos uma vez por mês para dizer missa... E 'pirava-se' logo que podia (Rui Santos, ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65)
1. Texto de Rui Santos, com data de ontem, e em resposta a um pedido dos editores para se evocar aqui as nossas impressões e recordações dos nossos camaradas capelães:
Amigo Luís Graça:
Conheci um, em Bedanda, o padre Pinho, tenente capelão, que cada vez que ía a Bedanda estava sempre pronto a "pirar-se" tal o receio que tinha dos sistemáticos ataques dos nossos vizinhos.
Excelente homem, amigo de todos os fiéis, ficou um pouco zangado comigo porque atrasou a Missa do dia 8 de Dezembro de 1963, por causa de mim, pois eu tinha vindo de uma patrulha donde vinha estafado, depois de percorrer duas dezenas de quilómetros e ter mergulhado num rio para salvar uns "marotos" de uns soldados do meu pelotão de se afogarem e ter recuperado diverso material de guerra que eles deixaram afundar-se.
É claro que, com este dia, a missa, prevista para as 21h00. só foi começada ás 22h00... E mesmo assim penso que ainda adormeci, agarrado a um pilar do varandim onde a celebração litúrgica teve lugar.
Todos nós sem excepção gostávamos do padre Pinho, e até lhe achávamos piada, com a velocidade em ele agarrava a pequena mala dos seus pertences, quando se ouvia o avião...
Não me fez mal a guerra que levei na desportiva, por vezes arriscando mais a vida do que o necessário mas... Eram os meus 22 anos de vida, fui criado numa quinta, e aquilo para mim ... era campo.
Conheci um, em Bedanda, o padre Pinho, tenente capelão, que cada vez que ía a Bedanda estava sempre pronto a "pirar-se" tal o receio que tinha dos sistemáticos ataques dos nossos vizinhos.
Excelente homem, amigo de todos os fiéis, ficou um pouco zangado comigo porque atrasou a Missa do dia 8 de Dezembro de 1963, por causa de mim, pois eu tinha vindo de uma patrulha donde vinha estafado, depois de percorrer duas dezenas de quilómetros e ter mergulhado num rio para salvar uns "marotos" de uns soldados do meu pelotão de se afogarem e ter recuperado diverso material de guerra que eles deixaram afundar-se.
É claro que, com este dia, a missa, prevista para as 21h00. só foi começada ás 22h00... E mesmo assim penso que ainda adormeci, agarrado a um pilar do varandim onde a celebração litúrgica teve lugar.
Todos nós sem excepção gostávamos do padre Pinho, e até lhe achávamos piada, com a velocidade em ele agarrava a pequena mala dos seus pertences, quando se ouvia o avião...
Não me fez mal a guerra que levei na desportiva, por vezes arriscando mais a vida do que o necessário mas... Eram os meus 22 anos de vida, fui criado numa quinta, e aquilo para mim ... era campo.
O nosso padreco Pinho ía-nos visitar uma vez por mês, dava missa ... se possível não dormiria em Bedanda estando sempre de ouvido á escuta a tentar ouvir a chegada do avião.
Já em Bolama, não conheci senão o padre da igreja da cidade, e era um quartel que albergava entre guarnição normal, recrutas e grupos de passagem cerca de 600/700 homens.
Se quiseres mais algo diz, quanto ás outras questões [da sondagem] (*), abstenho-me de dar a minha opinião.
Abraço
Rui G. dos Santos [ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65]
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Nota do editor:
Vd. poste de 3 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13567: Sondagem: A propósito dos capelães militares no CTIG... Resultados preliminares (n=34) quando faltam 2 dias para fechar a votação... A resposta mais frequente: "Guardo boas recordações deles" (n=11)
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Nota do editor:
Vd. poste de 3 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13567: Sondagem: A propósito dos capelães militares no CTIG... Resultados preliminares (n=34) quando faltam 2 dias para fechar a votação... A resposta mais frequente: "Guardo boas recordações deles" (n=11)
Guiné 63/74 - P13574: Notas de leitura (629): "Quebo, Nos confins da Guiné", por Rui Alexandrino Ferreira (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Agosto de 2014:
Queridos amigos,
O confrade Rui Alexandrino Ferreira é um sanguíneo, gosta de emoções fortes, arrebata-se, indigna-se, põe tudo na narrativa em que desorienta o leitor que procura em vão a cronologia da comissão, há sempre interferências, há sempre amigos a ser convocados, uma história a ser contada, de quando em vez há uma pontinha de azedume e não esconde que se considera mal tratado no campo das condecorações.
O livro recai sobre si como uma homenagem, é também uma convocatória de amigos. O general Pezarat Correia que com ele acamaradou em Aldeia Formosa dirá mesmo que o autor “aliava ao seu entusiamo contagiante uma notável dose de bom-senso, o que lhe permitiu aplicar a sua coragem, o seu sentido de disciplina, o seu gosto pela decisão, na medida e no sentido convenientes”.
Um abraço do
Mário
"Quebo, nos confins da Guiné", Rui Alexandrino Ferreira
Beja Santos
"Rumo a Fulacunda", de Rui Alexandrino Ferreira, Palimage 2000, é a história de um alferes miliciano natural de Angola que veio combater no Sul da Guiné e deixou um depoimento por sinal bem controverso, a sua recensão está publicada no nosso blogue(*).
Surge agora "Quebo", também editado pela Palimage, são reflexões e divagações de Rui Alexandrino Ferreira enquanto capitão miliciano, de novo na Guiné, desta feita à frente da CCAÇ 18. A obra inclui diferentes depoimentos e talvez valha a pena fazer recurso do que o general Pezarat Correia escreve sobre a região da Aldeia Formosa ou Quebo. Pezarat Correia vem com o BCAÇ 2892, a partir de Novembro de 1969 é aqui oficial de operações.
Queridos amigos,
O confrade Rui Alexandrino Ferreira é um sanguíneo, gosta de emoções fortes, arrebata-se, indigna-se, põe tudo na narrativa em que desorienta o leitor que procura em vão a cronologia da comissão, há sempre interferências, há sempre amigos a ser convocados, uma história a ser contada, de quando em vez há uma pontinha de azedume e não esconde que se considera mal tratado no campo das condecorações.
O livro recai sobre si como uma homenagem, é também uma convocatória de amigos. O general Pezarat Correia que com ele acamaradou em Aldeia Formosa dirá mesmo que o autor “aliava ao seu entusiamo contagiante uma notável dose de bom-senso, o que lhe permitiu aplicar a sua coragem, o seu sentido de disciplina, o seu gosto pela decisão, na medida e no sentido convenientes”.
Um abraço do
Mário
"Quebo, nos confins da Guiné", Rui Alexandrino Ferreira
Beja Santos
"Rumo a Fulacunda", de Rui Alexandrino Ferreira, Palimage 2000, é a história de um alferes miliciano natural de Angola que veio combater no Sul da Guiné e deixou um depoimento por sinal bem controverso, a sua recensão está publicada no nosso blogue(*).
Surge agora "Quebo", também editado pela Palimage, são reflexões e divagações de Rui Alexandrino Ferreira enquanto capitão miliciano, de novo na Guiné, desta feita à frente da CCAÇ 18. A obra inclui diferentes depoimentos e talvez valha a pena fazer recurso do que o general Pezarat Correia escreve sobre a região da Aldeia Formosa ou Quebo. Pezarat Correia vem com o BCAÇ 2892, a partir de Novembro de 1969 é aqui oficial de operações.
Chama-se o sector S-2, este batalhão que se derrama por Nhala, Aldeia Formosa e Buba, estava reforçado com mais três companhias operacionais no setor sob comando do COP 4, disseminadas por Empada, Mampatá, Chamarra e Pate Embaló. É uma força militar de grande significado, a que se juntam um destacamento de fuzileiros especiais, duas companhias de milícias e um grupo de caçadores furtivos. A tarefa prioritária é a contrapenetração dos efetivos do PAIGC provenientes da República Guiné Conacri, estes efetivos usavam os chamados corredores de Missirã, Guileje e Buba para atingirem os seus santuários no Sul e até à região Centro-Leste, designadamente a área do Xitole.
O general Pezarat Correia sintetiza do seguinte modo:
“No Sul da Guiné as zonas mais férteis para a agricultura estavam todas nas mãos do PAIGC. Os seus grupos circulavam aí com algum à vontade e tinham bases de apoio aos guerrilheiros, tornando muito mais curtos e menos vulneráveis os troços dos corredores de abastecimento suscetíveis de serem intercetados pela contrapenetração”.
Pois é neste ambiente geográfico que em Janeiro de 1971 se integrou a CCAÇ 18 comandada por Rui Alexandrino Ferreira e tece vibrante elogio ao desempenho deste oficial, trata-o como um combatente de eleição, realça o seu relacionamento com oficiais sargentos e praças feito de camaradagem e sem qualquer perda de ascendente para as suas funções de comando.
Rui Alexandrino Ferreira foi comandante de um grupo de combate da CCAÇ 1420 entre 1965 e 1967. Não se ambientou à sua vida numa repartição da fazenda em Sá da Bandeira, aceitou frequentar o curso de oficiais para capitães, temo-lo de novo na Guiné em Agosto de 1970.
Rui Alexandrino Ferreira foi comandante de um grupo de combate da CCAÇ 1420 entre 1965 e 1967. Não se ambientou à sua vida numa repartição da fazenda em Sá da Bandeira, aceitou frequentar o curso de oficiais para capitães, temo-lo de novo na Guiné em Agosto de 1970.
Colocado à chegada na CCAÇ 2586 dela transitou para a CCAÇ 18. Terminará esta segunda comissão em Setembro de 1972. Começou por ir para Pelundo onde fez boas amizades. Feito o IAO em Bolama, rumaram para Buba. Vê-se que é um bom conversador e contador de histórias, é delirante a confrontação entre a mulher de um major e um oficial médico, a senhora resolver ir armada com a pistola do marido para a messe de oficiais intimidando o médico a retirar-se, caso não o fizesse abria fogo.
É pena que o autor tenha entendido dar libre curso aos seus sentimentos relegando para segundo plano o historial da CCAÇ 18 no Quebo, vai divagando e pondo antigos camaradas a depor sobre as suas vivências de tal sorte que se entrecruzam comissões com o 25 de Abril, histórias pessoais com operações, a narrativa de amizades como a que a Rui Alexandrino Ferreira manteve com outro capitão operacional de nome Horácio Malheiro, e assim chegámos a uma noite de atribulada de Natal em que elementos da CCAÇ 18 se envolveram em confronto mortal com militares do BCAÇ 3852.
É pena que o autor tenha entendido dar libre curso aos seus sentimentos relegando para segundo plano o historial da CCAÇ 18 no Quebo, vai divagando e pondo antigos camaradas a depor sobre as suas vivências de tal sorte que se entrecruzam comissões com o 25 de Abril, histórias pessoais com operações, a narrativa de amizades como a que a Rui Alexandrino Ferreira manteve com outro capitão operacional de nome Horácio Malheiro, e assim chegámos a uma noite de atribulada de Natal em que elementos da CCAÇ 18 se envolveram em confronto mortal com militares do BCAÇ 3852.
Segue-se uma nova leva de depoimentos avulsos, todos rendem homenagem ao capitão Rui, há mesmo quem conte a história da sua vida, depois o autor aproveita para contar histórias mais ou menos pícaras que escaparam ao livro anterior, Rumo a Fulacunda, increpa-se contra a guerra colonial, sem deixar de elogiar a adaptação do militar português, como escreve:
“E se tivermos em linha de conta que ao longo de treze anos arrastados e uma guerra penosa e dura lutaram os filhos de um povo desamparado e simples, sozinhos contra tudo e contra todos, batendo-se em manifesta inferioridade técnica de meios, dada a rápida evolução que o armamento da guerrilha vinha sofrendo, deixando com o seu valor, o seu imenso poder de adaptação que o seu sentido de desenrascanço, a sua grandeza de alma, incrédulo e estupefato, o mundo inteiro, naquela que terá sido a maior epopeia em África, da era moderna da história de Portugal, que longe de nos envergonhar nos deve encher de orgulho”.
E ao terminar, um pouco antes de manifestar a sua indignação por não ter sido condecorado com a Torre e Espada, o autor pretende ser esclarecido sobre várias situações e acontecimentos, como enuncia:
Viseu - RI 14 - 21 de Junho de 2014 - Lançamento do livro "Quebo, Nos confins da Guiné", de Rui A. Ferreira. O Major-General Pezarat Correia durante a sua intervenção
E ao terminar, um pouco antes de manifestar a sua indignação por não ter sido condecorado com a Torre e Espada, o autor pretende ser esclarecido sobre várias situações e acontecimentos, como enuncia:
“1 – Estaria a Guiné em condições de se tornar independente? Em caso negativo, porque não se prepararam primeiro os quadros? 2 – Estava a guerra perdida pelos portugueses? 3 – Quem mandou matar Amílcar Cabral? 4 – Foi um êxito ou um desastre a operação Mar Verde? 5 – Quem traiu os majores na chamada “Chacina do chão Manjaco”? 6 – Foi apurado em auto, ou não, a responsabilidade de alguém sobre a tragédia do Corubal onde morreram afogados 47 militares? 7 – Porque não se realizou, relativamente ao abandono de Guileje, o julgamento de Coutinho e Lima? Quais os motivos para uma amnistia tão rápida? Porque não perseguiu o julgamento todo o caminho que lhe faltava? Quem tinha medo que a verdade não correspondesse à sua?”.
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Notas do editor
(*) Vd. poste de 22 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6448: Notas de leitura (111): Rumo a Fulacunda, de Rui Alexandrino Ferreira (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 1 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13556: Notas de leitura (628): A Tricontinental: Quando Amílcar Cabral se tornou num teórico mundial da revolução (2) (Mário Beja Santos)
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Notas do editor
(*) Vd. poste de 22 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6448: Notas de leitura (111): Rumo a Fulacunda, de Rui Alexandrino Ferreira (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 1 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13556: Notas de leitura (628): A Tricontinental: Quando Amílcar Cabral se tornou num teórico mundial da revolução (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P13573: Parabéns a você (784): José Marcelino Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)
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Nota do editor
Último poste da série > 4 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13569: Parabéns a você (783): Armor Pires Mota, ex-Alf Mil da CCAV 488 (Guiné, 1963/65); José Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 (Guiné, 1971/73) e Torcato Mendonça, ex-Alf Mil da CCAÇ 2339 (Guiné, 1968/69)
Nota do editor
Último poste da série > 4 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13569: Parabéns a você (783): Armor Pires Mota, ex-Alf Mil da CCAV 488 (Guiné, 1963/65); José Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 (Guiné, 1971/73) e Torcato Mendonça, ex-Alf Mil da CCAÇ 2339 (Guiné, 1968/69)
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
Guiné 63/74 - P13572: Agenda cultural (334): Noites de Verão no Museu do Chiado, com Kimi Djabaté, o grande artista lusoguineense, oriundo de Tabatô, lídimo representante da tradição da música afromandinga, sexta-feira, 5 de setembro de 2014, 19h30... Entrada livre.
Com a devida vénia ao sítio oficial do Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Lisboa
Local: Noites de Verão no Museu do Chiado
Data: 5 de Setembro
Horário: 19:30
Entrada: LIVRE
MNAC - Museu do Chiado
Sinopse:
“KIMI DJABATÉ
Escritor de canções, vocalista, balafonista, guitarrista e crucial embaixador da cultura mandinga e guineense em Portugal e no mundo, Kimi Djabaté - é pacífico dizê-lo - é hoje um dos grandes artistas de palco a residir no nosso país, que também se tornou o seu, já há mais de uma década.
Trata as suas canções com profunda noção de ofício, trabalhando-as com a precisão e o critério dos sérios e serenos. É filho de uma família secular de músicos, que se filiou na Guiné Bissau há mais de dois séculos, e é seu assunto vivencial, social e cultural tratar na forma de música as questões e resoluções de sempre e de hoje; a observação do mundo através da oralidade da música, algo que não tem como evitar tornar contemporâneo, sempre devidamente enriquecido por tanta tradição de o fazer.
Contos sobre moral, ética, cidadania, honestidade, amor, família e as grandes questões existenciais. E mesmo que as palavras que lhe saiam da boca soem a ouvidos brancos como código, a transparência humana e emocional fala a língua de todos nós. Numa altura em que se dão os últimos toques para a edição do seu próximo álbum, podemos esperar várias canções dos seus anteriores 'Terike' e 'Karam', o último dos quais o seu primeiro álbum com boa distribuição a nível mundial, que lhe rendeu rasgadíssimos elogios da imprensa internacional, e uma constantemente preenchida agenda em palcos na Europa, América e Ásia.
É com enorme prazer que o voltamos a receber no Jardim das Esculturas do MNAC, onde já nos ofereceu uma das grandes atuações que tivemos o privilégio de produzir ao longo dos anos para este ciclo.”
Vd. também Bandcamp -http://kimidjabate.bandcamp.com"
O nosso blogue apoia os artistas guineenses. O Kimi Djabté tem já 9 referências no nosso blogue.
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Nota do editor:
Último psote da série > 18 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13413: Agenda cultural (333); Exposição de pintura de Joana Graça (n. Lisboa, 1978), no "Wine Up Lisboa", bar de vinhos e clube social, Rua do Alecrim, n.º 49, Lisboa... Hoje, às 18h00. Apareçam.
Guiné 63/74 - P13571: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (28): Guileje?!... Outra vez?!... (António Martins de Matos, TGen Pilav )
1. Mensagem do nosso camarada António Martins de Matos, TGen Pilav Ref (ex-Tenente Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74), com data de 2 de Setembro de 2014:
Guileje, outra vez!
Após alguns eventuais estudos de EM, as Altas Chefias tinham chegado à conclusão que a melhor maneira de prepararem os jovens militares acabados de sair da Academia para uma vida de “futuras comissões no Ultramar” era dar-lhes uma primeira “experiência ao vivo” por terras da Guiné.
E qual o melhor local para “sentirem a coisa”? Guileje!!!
Não sei quantos Aspirantes eram, mais de 4 e menos de 8, alguém os terá levado até ao Guileje, visita e pernoita no quartel, devem ter aguentado uma manga de briefings, mosquitos, pius e … blá blá….
Até arrisco a dizer (especulação, alguém pode vir a confirmar ou negar tal pensamento) que terão visto e ouvido uns tiros de obus.
Depois havia que os trazer de novo à civilização, a missão da FAP consistia em ir recolhe-los e transportá-los de novo para Bissau.
20 Junho 72, já tinha um mês de Guiné e 11 horas de DO-27, completado o treino operacional (aterrar em Bula, Binar e Biambe), feito a minha primeira missão e, para além das do treino operacional já conhecia outras duas pistas, Tite e Fulacunda.
Coube-me ser o n.º 2 de uma formação de dois DO-27, o meu era o 3329, o piloto que liderava a operação parece que era daqueles que já tinha barbas, eu ainda era um imberbe periquito, nada de importante, não fazia a mínima ideia onde era o Guileje mas também não era importante, bastava-me seguir o chefe, havia de chegar ao destino.
Como ultimo conselho alguém amigo tinha-me dito para ter atenção à travagem já que a pista acabava na porta do quartel (que era de cimento).
Ao fim da tarde lá descolámos de Bissau rumo Sul, apontados a Guileje, só que….
Época das chuvas, trovoadas, cumulo-nimbos, dilúvios à frente, ao lado, por detrás, nunca tinha visto chover tão grosso e por tanto tempo, lá me fui aguentando sem perder de vista o outro avião, mas com aquela sensação estranha de, em vez de avançarmos para o destino, andarmos às voltas.
Uma hora depois deste bailado vi algo que me fez disparar a adrenalina, um raio passou perto de mim a acertou lá em baixo no capim que, apesar de tanta chuva, logo começou a arder.
Devo ter dito algo pelo radio do tipo “Ó Janeca, olha lá o pingo da solda” de modo que o vetusto chefe da missão resolveu deixar-se de voltas e voltinhas e aterrar na pista mais próxima, esperando que aquele mau tempo acabasse por passar.
Depois de mais umas voltas finalmente lá encontrámos uma pista e aterrámos, só então me apercebi que, apesar de estarmos a voar há mais de uma hora, ainda só estávamos em … Bolama.
Os aviões apenas estacionados na placa, ao olharmos para Sul ia-me dando uma “travadinha”, vimos uma enorme mancha de “borrasca”, ali mesmo ao pé e a avançar para nós.
“Vamos embora JÁ”… e o grande chefe abalou.
Vide Carta da Provícia da Guiné 1:500.000
Sozinho, triste e abandonado, 40 dias de Guiné, lá me tentei desenvencilhar o mais rápido que podia e sabia, uma coisa era certa, tinha de descolar antes daquele mau tempo chegar, se ficasse no chão de certo que o vento me partia o avião.
Procedimentos a correr e muito atabalhoados, o inicio da descolagem acabou por coincidir com a ventania a chegar à pista, durante algum tempo ainda consegui manter o avião direito, depois as rajadas de vento tornaram o controlo da direcção difícil, o avião ficou tipo cata-vento, vi-me apontado a um dos embondeiros que ladeavam a pista.
Abortar a descolagem era má opção, continuei com o motor aos copos, em direcção à árvore.
Aqui um parêntesis, era periquito e com poucas horas no DO-27 mas tinha tido um grande instrutor.
Ao chegar perto do obstáculo… manche à barriga e flaps (todos) , o DO-27 parecia um elevador, logo passei por cima do embondeiro, como os pilotos costumam dizer… “na cagadinha”.
O regresso a Bissau demorou uns 15 minutos, os Aspirantes acabaram por ficar mais uma noite no Guileje, eu conheci mais uma pista (Bolama) e, com a ajuda do “Joãozinho Caminhante” … dormi que nem um justo!
Amigo José Almeida Brito [, foto de jornal, à direita], tenho saudades tuas, obrigado pelos teus ensinamentos, onde estiveres, este texto é para ti.
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Nota do editor
Último poste da série de 19 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13415: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (27): De visita, com o seu neto, ao Museu do Ar, em Sintra, o Vitor Oliveira reencontra o T6, nº 1737, no qual voou no CTIG
Guileje, outra vez!
Após alguns eventuais estudos de EM, as Altas Chefias tinham chegado à conclusão que a melhor maneira de prepararem os jovens militares acabados de sair da Academia para uma vida de “futuras comissões no Ultramar” era dar-lhes uma primeira “experiência ao vivo” por terras da Guiné.
E qual o melhor local para “sentirem a coisa”? Guileje!!!
Não sei quantos Aspirantes eram, mais de 4 e menos de 8, alguém os terá levado até ao Guileje, visita e pernoita no quartel, devem ter aguentado uma manga de briefings, mosquitos, pius e … blá blá….
Até arrisco a dizer (especulação, alguém pode vir a confirmar ou negar tal pensamento) que terão visto e ouvido uns tiros de obus.
Depois havia que os trazer de novo à civilização, a missão da FAP consistia em ir recolhe-los e transportá-los de novo para Bissau.
20 Junho 72, já tinha um mês de Guiné e 11 horas de DO-27, completado o treino operacional (aterrar em Bula, Binar e Biambe), feito a minha primeira missão e, para além das do treino operacional já conhecia outras duas pistas, Tite e Fulacunda.
Coube-me ser o n.º 2 de uma formação de dois DO-27, o meu era o 3329, o piloto que liderava a operação parece que era daqueles que já tinha barbas, eu ainda era um imberbe periquito, nada de importante, não fazia a mínima ideia onde era o Guileje mas também não era importante, bastava-me seguir o chefe, havia de chegar ao destino.
Como ultimo conselho alguém amigo tinha-me dito para ter atenção à travagem já que a pista acabava na porta do quartel (que era de cimento).
Posições relativas de Bula, Binar e Biambe
Posições relativas de Tite e Fulacunda
Ao fim da tarde lá descolámos de Bissau rumo Sul, apontados a Guileje, só que….
Época das chuvas, trovoadas, cumulo-nimbos, dilúvios à frente, ao lado, por detrás, nunca tinha visto chover tão grosso e por tanto tempo, lá me fui aguentando sem perder de vista o outro avião, mas com aquela sensação estranha de, em vez de avançarmos para o destino, andarmos às voltas.
Uma hora depois deste bailado vi algo que me fez disparar a adrenalina, um raio passou perto de mim a acertou lá em baixo no capim que, apesar de tanta chuva, logo começou a arder.
Devo ter dito algo pelo radio do tipo “Ó Janeca, olha lá o pingo da solda” de modo que o vetusto chefe da missão resolveu deixar-se de voltas e voltinhas e aterrar na pista mais próxima, esperando que aquele mau tempo acabasse por passar.
Depois de mais umas voltas finalmente lá encontrámos uma pista e aterrámos, só então me apercebi que, apesar de estarmos a voar há mais de uma hora, ainda só estávamos em … Bolama.
Os aviões apenas estacionados na placa, ao olharmos para Sul ia-me dando uma “travadinha”, vimos uma enorme mancha de “borrasca”, ali mesmo ao pé e a avançar para nós.
“Vamos embora JÁ”… e o grande chefe abalou.
Localização de Bolama
Vide Carta da Provícia da Guiné 1:500.000
Sozinho, triste e abandonado, 40 dias de Guiné, lá me tentei desenvencilhar o mais rápido que podia e sabia, uma coisa era certa, tinha de descolar antes daquele mau tempo chegar, se ficasse no chão de certo que o vento me partia o avião.
Procedimentos a correr e muito atabalhoados, o inicio da descolagem acabou por coincidir com a ventania a chegar à pista, durante algum tempo ainda consegui manter o avião direito, depois as rajadas de vento tornaram o controlo da direcção difícil, o avião ficou tipo cata-vento, vi-me apontado a um dos embondeiros que ladeavam a pista.
Abortar a descolagem era má opção, continuei com o motor aos copos, em direcção à árvore.
Aqui um parêntesis, era periquito e com poucas horas no DO-27 mas tinha tido um grande instrutor.
Ao chegar perto do obstáculo… manche à barriga e flaps (todos) , o DO-27 parecia um elevador, logo passei por cima do embondeiro, como os pilotos costumam dizer… “na cagadinha”.
O regresso a Bissau demorou uns 15 minutos, os Aspirantes acabaram por ficar mais uma noite no Guileje, eu conheci mais uma pista (Bolama) e, com a ajuda do “Joãozinho Caminhante” … dormi que nem um justo!
Amigo José Almeida Brito [, foto de jornal, à direita], tenho saudades tuas, obrigado pelos teus ensinamentos, onde estiveres, este texto é para ti.
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Nota do editor
Último poste da série de 19 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13415: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (27): De visita, com o seu neto, ao Museu do Ar, em Sintra, o Vitor Oliveira reencontra o T6, nº 1737, no qual voou no CTIG
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Guiné 63/74 - P13570: História da CCAÇ 2679 (69): O número 2 de "O Jagudi" (José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679)
HISTÓRIA DA CCAÇ 2679
69 - O NÚMERO 2 DE "O JAGUDI"
1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 25 de Agosto de 2014:
Já antes dei notícia de que em Bajocunda editou-se um jornal de grande repercussão e prestígio junto da população militar ali habitante. Não é que lá faltassem informações, até boatos, mas era uma coisa nossa, feita com o carinho de uma comunidade geralmente amiga, e que tinha a sua própria visão do mundo. Quem quisesse, poderia dedicar-se à escrita de um texto, que submetido à comissão local de censura, se fosse aprovado, veria a luz do dia. Acho que foram todos. E a pomposa comissão local era só eu. Sendo assim, em que medida poderia um qualquer texto ser censurado? Desde logo se dissesse mal de mim, coisa óbvia, ao alcance dos cidadãos simples que se ofereçam para estes trabalhos. O problema, é que eram tão escassas as colaborações, que não tive oportunidade para o exercício desse mister, com a frequência que me daria importância histórica.
De facto, uma ocasião depois do golpe de Abril, para integrar uma comissão para a qual fora eleito, pedi uma declaração sobre uma eventual ficha na "extinta", e a resposta foi de uma pobreza total. É que nem bufo conseguira ser! Falta de aptidão, certamente. Outros, carregadinhos de informações e "desvios", estão agora muito bem na vida, inclusivamente em regime de acumulação de pensões. E não é só a um que me refiro. Nem da mesma fonte.
Regresso ao Jagudi, melhor, O Jagudi. Dava um bocado de trabalho. foi necessário integrar o capitão na vontade de o fazer, apesar dos prejuízos causados no saco azul, mas, em contra-partida, granjeava-lhe imenso fascínio e prestígio junto da população militar, ao mesmo tempo que lhe dispensava um ar de patrocinador diletante e despreocupado, sem necessidade de declarações para as finanças. Por trás dos respectivos óculos de ver melhor, dois sargentos lá alapados, faziam caretas sobre o desenrolar da iniciativa, e deitavam contas à despesa mensal intrínseca. Numa cera batia-se o texto e o arranjo gráfico de cada página, que depois das correcções introduzidas pela aplicação de verniz, sobre as quais se dactilografava o texto correctamente fixado, ia à máquina reprodutora de impressão gráfica. Isto acontecia para cada folha. Finalmente, seleccionavam-se as folhas de diferentes temáticas para cada exemplar, agrafavam-se, e punham-se ao dispor dos simpáticos cidadãos, que se dessem ao trabalho de as ler. E desta presunçosa actividade, nascia o dito cujo, órgão da informação, da cultura, de passatempo, e de outros adjectivos que a imaginação possa inculcar-lhe, de domínio colonialista, para não facilitar a vida aos "reaças". Não era bem assim, no meu entender, mas ao longo das edições, vou já antecipar a confusão.
Desta vez, dou a conhecer três textos do número dois. Um de ordem afecto-psicológica, uma espécie de introspecção sobre o papel de uma mãe ausente na vida de um tropa paisano e mobilizado algures na Guiné. Outra, de outro excelente camarada, reporta-se a uma temática pertinente para o ambiente da guerrilha, e tem a ver com o quotidiano de cada um de nós, no sentido de mantermos alertas, contra as mais dissimuladas e imprevistas actividades do IN. Finalmente, uma narrativa retirada de uma revista internacional, sobre os problemas de uma senhora trintona, da nobreza, que não foi a Bajocunda naquela época. Como teria sido diferente, e proveitosa, uma estadia que tivesse feito junto do pessoal da nossa Companhia. Mas acho que foi tudo produto de fértil imaginação.
Assim, deixo ao vosso cuidado a leitura e a eventual apreciação que possam fazer, não sem que, antes, e lealmente, vos alerte para as regras de boa educação que são timbre do Blogue, e de que eu, por inerência, também sou beneficiário.
Boa leitura.
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13466: História da CCAÇ 2679 (68): Flagelação muito concentrada e certeira (José Manuel Matos Dinis)
Guiné 63/74 - P13569: Parabéns a você (783): Armor Pires Mota, ex-Alf Mil da CCAV 488 (Guiné, 1963/65); José Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 (Guiné, 1971/73) e Torcato Mendonça, ex-Alf Mil da CCAÇ 2339 (Guiné, 1968/69)
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Nota do editor
Último poste da série de 3 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13562: Parabéns a você (782): Luís Gonçalves Vaz, Amigo Grã-Tabanqueiro
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
Guiné 63/74 - P13568: Ser solidário (163): Escola Humberto Braima Sambu, precisa de ajuda
1. O nosso Amigo guineense Humberto Braima Sambu, é Director e fundador de uma escola com o seu nome, cuja fundação data de 15 de Maio de 1992.
Contando actualmente com um total de 425 alunos de ambos os sexos e tem muita aceitação na comunidade, fazendo grande sucesso sobretudo na educação das crianças e adolescentes.
Um dos maiores problemas que enfrenta é a aquisição de materiais didácticos
2. É deste nosso Amigo que recebi a seguinte mensagem:
Caro amigo Magalhães,
Os meus melhores e respeitosos Cumprimentos,
Fiz um micro projecto para solicitação de ajudas materiais. Como lhe tinha explicado conseguimos alguns materiais aí, em Portugal, mas não vejo maneira de os fazer chegar cá, a Bissau.
Desta forma agradecia a todas pessoas de boa vontade, que me possam ajudar a trazer, ou enviar, esses materiais para a Guiné-Bissau.
Esses materiais são destinados aos alunos da escola privada Humberto Braima Sambu, no Bairro Militar, mais concretamente no Plak1.
Em Lisboa, o meu contacto é o Sr. Umaro. Foi ele quem cuidou da recolha dos materiais na sua casa, mas avisou-me de que vai mudar da residência, e, por isso, eu peço encarecidamente a todas pessoas de boa vontade que me ajudarem, pois estamos na eminência de perder esta preciosa e valiosa recolha.
Necessitamos urgentemente de tudo para as crianças e os adultos da nossa pobre comunidade.
Obrigado a todos pela vossa compreensão, amizade e eventual ajuda,
Humbogo Braima Sambu
Caixa Postal 971, Bissau
Guiné Bissau
Telefone 00245 6819285/ 002455880463
3. Resta dizer que a escola Humbogo Braima Sambu, Bairro Plak1, se localiza no fim de curva de Toca-toca, ao lado de escola pública de Plak1
Telm: 00245- 681 92 85/00245-588 04 63
E-mail: sambubraima@gmail.com
Caixa Postal: 791 Bissau
Guiné-Bissau
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
Guiné 63/74 - P13567: Inquérito online: A propósito dos capelães militares no CTIG... Resultados preliminares (n=34) quando faltam 2 dias para fechar a votação... A resposta mais frequente: "Guardo boas recordações deles" (n=11)
Ex-alf mil capelão Augusto Batista (CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã. 1969/70) |
A. INQUÉRITO ONLINE: A PROPÓSITO DOS CAPELÃES MILITARES NO CTIG... (PODES DAR MAIS QUE UMA RESPOSTA)
1. Não conheci nenhum > 11 (32%)
2. Houve momentos em que senti a sua falta > 1 (2%)
3. Guardo boa recordação deles > 11 (32%)
4. Davam algum conforto espiritual aos nossos soldados > 6 (17%)
5. Eram tão importantes como os médicos > 0 (0%)
6. Eram mal compreendidos por todos nós > 2 (5%)
7. A hierarquia a militar não confiava neles > 1 (2%)
8. O Estado Novo e a Igreja abusaram deles > 4 (11%)
9. A malta deixou de praticar (ir à missa, confessar-se, rezar…) > 5 (14%)
19. Não estavam preparados para lidar com a malta > 5 (14%)
11. Nunca senti a sua falta > 6 (17%)
12. A experiência da guerra fez-lhes mal > 1 (2%)
13. Acho que um psicólogo seria mais útil > 2 (5%)
14, Deveria ter havido também capelães muçulmanos > 1 (2%)
15. Não sei, não tenho opinião > 3 (8%)
2. Houve momentos em que senti a sua falta > 1 (2%)
3. Guardo boa recordação deles > 11 (32%)
4. Davam algum conforto espiritual aos nossos soldados > 6 (17%)
5. Eram tão importantes como os médicos > 0 (0%)
6. Eram mal compreendidos por todos nós > 2 (5%)
7. A hierarquia a militar não confiava neles > 1 (2%)
8. O Estado Novo e a Igreja abusaram deles > 4 (11%)
9. A malta deixou de praticar (ir à missa, confessar-se, rezar…) > 5 (14%)
19. Não estavam preparados para lidar com a malta > 5 (14%)
11. Nunca senti a sua falta > 6 (17%)
12. A experiência da guerra fez-lhes mal > 1 (2%)
13. Acho que um psicólogo seria mais útil > 2 (5%)
14, Deveria ter havido também capelães muçulmanos > 1 (2%)
15. Não sei, não tenho opinião > 3 (8%)
Total de votos apurados: 34
B. Não são muitos, os antigos capelães militares que passaram pelo CTIG, e que nos honram com a sua presença, sentados sob o poilão da Tabanca Grande... Recorde-se esses nossos quatro grã-tabanqueiros:
Arsénio Puim (açoriano, da Ilha de Santa Maria, ex-alf mil capelão, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72; foi expulso do Batalhão e do CTIG em Maio de 1971; no final da década de 1970 deixou o sacerdócio, formou-se em enfermagem, casou-se, teve filhos:L vive na Ilha de São Miguel):
[Arsénio Puim, Bambadinca, c. 1970/71]
Horácio Fernandes |
Augusto Batista [, vd. foto acima]: (i) ex-alf mil capelão CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã. 1969/70; (ii) capelão Militar das Tropas Paraquedistas, em S. Jacinto (jul/1978 - nov/1982); (iii) capelão das Tropas Paraquedistas em Tancos (nov/1982 - ago/1988); (iv) capelão addjunto da Chefia do Serviço de Assistência Religiosa da Força Aérea, em Lisboa (ago/1988 - out/1990); (v) capelão do Hospital da Força Aérea no Lumiar, Lisboa (out/1990 - jul/1995): e (vi) capelão chefe da GNR - Guarda Nacional Republicana, em Lisboa (jul/1995 - mar/2000); é hoje ten cor ref. e vive no concelho de Vila Nova de Gaia, tendo sido trazido até nós pela mão do Armando Pires,
Horácio Fernandes (padre franciscano, foi alf mil capelão na CCS/BART 1913, Catió, 1967/69; deixou o sacerdócio em 1972; casou-se e teve filhos; é inspetor da educação, reformado: nasceu em Ribamar, Lourinhã, em 1935; vive no Porto):
Mário de Oliveira (mais conhecido como Padre Mário da Lixa): seguramente o mais mediático dos quatro, devido aos seus problemas com o Exército, a PIDE/DGS, o seu bispo (do Porto), a hierarquia da Igreja... Foi alf mil capelão, CCS/BCAÇ 1912, Mansoa, entre novembro de 1967 e em março 1968; é autor de vasta obra de reflexão espiritual e teológica: vive no concelho de Felgueiras.
[Mário de Oliveira, foto atual à esquerda]
C. Muitos de nós convivemos, minimamente, com um capelão militar, no CTIG. Temos seguramente opinião sobre os nossos capelães: o seu papel, o seu relacionamento com a população e com a tropa; a sua preparação; a sua importância... A sondagem em curso contem 15 hipóteses de resposta, que não são falsas nem verdadeiras...
Caro leitor, dá a tua opinião. Podes escolher duas ou mais respostas. Tem ainda 2 dias... Vota diretamente no blogue, na coluna do lado esquerdo, ao canto superior... Obrigado.
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Mário de Oliveira (Padre),
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Guiné 63/74 - P13566: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte VIII: setembro de 1972: (i) ataque de envergadura ao Xitole; e (ii) as obras de manutenção e conservação nas tabancas em autodefesa "progridem, mas a ritim,o lento, dada a fraca propensão dos seus habitantes ao trabalho, o que sobrecarrega a [nossa] tropa"......
Guiné > Zona leste > Setor L1 > Subsetor de Xitole > Carta de Xitole (1955) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Xitole, na margem direita do mítico Rio Corubal, no sul do setor L1... Ficava na estrada Bambadinca-Saltinho... Mais a sul, e antes do Saltinho, ficavam os as tabancas em autodefesa de Cambesse (ou Cambéssé) e Tangali. O setor L1, além dfo subsetor do Xitole, tinha ainda os subset6ores de Mansambo, Xime e Bambadinca.
Infografia: Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné (2013).
1. Continuação da publicação da história da unidade - BART 3873(Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte.
[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74; foi voluntário para a CCAÇ 12 (em 1973/74); economista, bancário reformado, foto atual à esquerda].
Destaque, no mês de setembro de 1972, ainda na época das chuvas, para : (i) o ataque de grande envcergadura ao Xitole, por uma força IN estimada em 75 elementos; e (ii) trabalhos de manutenção das tabancas de autodefesa, fulas, sem aparente grande entusiasmo por parte dos seus habitantes, a quem o PAIGC tenta aliciar, sem deixar de intimidar. (LG)
Setembro de 1972: e a guerra continua: 29 ações, envolvendo 76 Grupos de combate
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Nota do editor:
Último poste da série > 29 de agosto de 2014 >
Guiné 63/74 - P13544: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte VII: Agosto de 1972: apresentação no Enxalé de 36 elementos pop sob controlo do IN
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