Sexagésimo quarto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.
Resumo do quinto dia de viagem
Já lá vai quase meio século, uns dias depois de regressar
à nossa aldeia natal, vindos do que se dizia na altura
“cumprimento do dever nacional, na então província da
Guiné”, num qualquer momento em que a “menina
Teresa”, nos deixava livres, fomos lá cima à montanha, à
serra do
Caramulo,
visitar um
companheiro
que
infelizmente
regressou
mais cedo,
estava lá
esperando os
seus últimos
dias, em
tratamento,
num
daqueles Sanatórios que naquele tempo por lá havia,
pois devido “aos bons tratamentos” que recebeu
durante a sua estadia em cenário de guerra, contraiu a
doença da tuberculose, que naquela altura matava como
qualquer bala disparada por uma qualquer arma inimiga. Já há algum
tempo vos
contei a sua
triste história,
que em
muitos
momentos
me vem ao
pensamento
e me vai
acompanhar
também pelo
resto dos
meus dias.
Nesses verdes anos éramos jovens, toda aquela
paisagem de montanha nos parecia bonita, e hoje,
passado tantos anos, faz-nos lembrar o cenário que
neste dia presenciámos. Era parecido, mas em muito
menores proporções, da montanha alguma neve,
rebanhos de animais, floresta e um grande lago entre
pedras de granito.
Pois nós, depois de sairmos da cidade de Conrad, onde
dormimos, já perto do Canadá, fizemos um desvio
seguindo pela estrada número 2, depois pela estrada
número 89, estávamos no “Glacier National Park”, que se
situa no estado de Montana, ao longo da fronteira com as
províncias canadianas de Alberta e British Columbia.
Neste parque podem encontrar-se duas cadeias
montanhosas, mais de 130 lagos, mais de mil espécies de
plantas e centenas de espécies de animais. Trata-se de
uma zona de ecossistema praticamente virgem que se
estende por 4101 km². Faz fronteira com o Parque
Nacional Lagos Waterton e os dois parques constituem o
“Parque Internacional da Paz Waterton-Glacier”, o
primeiro parque internacional criado em 1932. Ambos os
parques foram designados reservas da biosfera em 1976
e foram considerados Património da Humanidade no ano
de 1995. Dizem que alguns glaciares foram formados há
170 milhões de anos e, por volta de 1910, muitos hotéis e
chalés foram construídos em alguns lugares
estratégicos do interior do parque, assim com algumas
estradas, proporcionando acesso a veículos automóveis,
o que podemos comprovar com muitos animais, ainda um
pouco selvagens a esconderem-se nas matas quando
circulávamos pelas estradas do interior, tais como, cabras
de montanha, ursos pretos ou castanhos, veados, lobos
e algumas manadas de bisons, estes atravessando a
estrada, na maior das calmas.
Pela tarde atravessámos a fronteira para o Canadá, onde
se acredita que a origem do nome Canadá venha da
palavra iroquesa kanata, que significa aldeia ou povoado.
Por volta do ano de 1535, nativos americanos vivendo na
região, utilizaram a palavra para explicar ao explorador
francês Jacques Cartier, o caminho para a aldeia de
Stadacona, local onde se pensa que se encontra
atualmente a cidade de Quebec. Cartier utilizou a palavra
não somente em referência a Stadacona, mas como a
toda região sujeita ao domínio de Donnacona, então
cacique de Stadacona. Por volta de 1547, mapas
europeus passaram a nomear esta região, acrescida das
áreas que a cercavam, pelo nome Canada. A partir do
século XVII, aquela parte da Nova França, situada ao
longo do rio São Lourenço e das margens norte dos
Grandes Lagos, era conhecida como Canadá. A
colonização europeia começou efetivamente no século
XVI, quando os britânicos, e principalmente os franceses,
se estabeleceram pelo Canadá. Os britânicos não tiveram
uma forte presença no antigo Canadá, instalando-se
originalmente na Terra de Rupert, uma gigantesca área
que posteriormente daria origem aos territórios do
Noroeste, Manitoba, Saskatchewan e Alberta, província
esta por onde nós atravessámos a fronteira, sendo
recebidos com muita atenção e gentileza. Todavia, a região
que actualmente compõe as atuais províncias de Nova
Escócia e Nova Brunswick, estavam todas nas mãos dos
franceses. A Nova França (Nouvelle-France) continuava
a expandir-se, mas essa expansão não foi bem aceite
pelos britânicos e muitos colonos, desencadeando uma
série de batalhas que culminou, em 1763, no Tratado de
Paris, no qual os franceses cederam seus territórios da
Nova França e outras áreas aos britânicos.
Com o “Canada Act”, de 1982, o nome oficial do país
passou a ser simplesmente Canadá, assim escrito nos
dois idiomas oficiais do país, o inglês e o francês, o que
podemos comprovar, pois todos os letreiros oficiais ao
longo das estradas são escritos nas duas línguas.
Já chega de história, continuando, entrámos pela
província de Alberta, seguindo por algum tempo para
norte, sempre encostados à cordilheira de montanhas
que vêm do estado de Montana, nos USA, desviando-nos
para a cidade de Calgary, onde parámos para ver o
Parque Olimpico, entre outras coisas, continuando rumo
ao norte, agora na auto estrada número 2, que nos
haveria de levar à cidade hospitaleira de Red Deer, onde
dormimos.
Neste dia percorremos 525 milhas, com o preço da
gasolina entre $1,17 e $1,52 (dólar canadiano) o litro.
Também gostávamos de vos dizer que no Canadá, a
velocidade se mede, tal como em Portugal, em
quilómetros e a gasolina se vende em litros.
Tony Borie, Agosto de 2014
____________
Nota do editor
Último poste da série de 30 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13549: Bom ou mau tempo na bolanha (63): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (4)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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5 comentários:
Gosto imenso de ler as suas reportagens.Ainda não perdi a esperança, de depois de conhecer as bolanhas da Guiné. Visitar os Estados Unidos da América. Em particular New York,e as cataratas de Niagara, pois não haverá dinheiro para mais.
Caro Tony,
Também gosto das tuas crónicas. Sobretudo das características naturais das longas distâncias percorridas. Em rapaz cheguei a ter uma interessante colecção de slides sobre a parte ocidental, de Alberta e Calgary para o Pacífico, pois tive uma tia a viver em Vancouver, era uma cidade acolhedora, lonje da enorme urbe da actualidade, e fazia viagens por montanhas fantásticas, parava junto de rios lindíssimos onde havia pescadores, assistia a rodeos, etc. Não me calhou ir para essas paragens, mas já tive um projecto para atravessar os EEUU de costa a costa, com particular interesse pela natureza e modos de vida tradicionais. Como dizia o outro, não se pode ter tudo. Não me queixo, e agora estou submerso na crise.
Desejo-te muito boas viagens.
JD
Como diz o JD submerso na crise não alimento sonhos de visitar a EUA, vou-me recriando com as tuas reportagens.
Um abraço e óptimas viagens por essa (Diáspora)
Colaço.
Caro Tony,
Foi bom teres escrito sobre a história, fauna e flora do Canadá. É uma forma simples de conseguires a nossa companhia nesta tua viagem de sonho.
Que eu também gostaria de fazer um dia.
Cumprimentos.
José Câmara
Olá companheiros.
Muito agradecido, pelos vossos simpáticos comentários!.
Tenho andado, um pouco "atarefado", com "coisitas" à volta da casa, pois andei na "vadiagem", mais de um mês!.
Esta "aventura", já andava a ser planeada, há mais de um ano, tinha o plano "A" e o plano "B", tirava apontamentos, que agora me vão ajudando a "escrevinhar"!.
O meu computador está desactualizado, não consigo mandar as fotografias ao Carlos, com muito boa qualidade e, por mais que se escreva, contando pormenores, nunca consigo descrever o que os nossos olhos viram!
Oxalá que todos vocês, pudessem admirar estes cenários, que em alguns lugares, parava, colocava duas cadeiras de lona e, sentados, por ali ficava-mos, por horas, não querendo deixar o lugar, sabendo que nunca mais na vida, poderia-mos usufruir de semelhante cenário!.
Bem hajam, companheiros.
Um abraço, Tony Borie.
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