sábado, 6 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13580: Bom ou mau tempo na bolanha (65): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (5) (Tony Borié)

Sexagésimo quarto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.





Resumo do quinto dia de viagem


Já lá vai quase meio século, uns dias depois de regressar à nossa aldeia natal, vindos do que se dizia na altura “cumprimento do dever nacional, na então província da Guiné”, num qualquer momento em que a “menina Teresa”, nos deixava livres, fomos lá cima à montanha, à serra do Caramulo, visitar um companheiro que infelizmente regressou mais cedo, estava lá esperando os seus últimos dias, em tratamento, num daqueles Sanatórios que naquele tempo por lá havia, pois devido “aos bons tratamentos” que recebeu durante a sua estadia em cenário de guerra, contraiu a doença da tuberculose, que naquela altura matava como qualquer bala disparada por uma qualquer arma inimiga. Já há algum tempo vos contei a sua triste história, que em muitos momentos me vem ao pensamento e me vai acompanhar também pelo resto dos meus dias.

Nesses verdes anos éramos jovens, toda aquela paisagem de montanha nos parecia bonita, e hoje, passado tantos anos, faz-nos lembrar o cenário que neste dia presenciámos. Era parecido, mas em muito menores proporções, da montanha alguma neve, rebanhos de animais, floresta e um grande lago entre pedras de granito.


Pois nós, depois de sairmos da cidade de Conrad, onde dormimos, já perto do Canadá, fizemos um desvio seguindo pela estrada número 2, depois pela estrada número 89, estávamos no “Glacier National Park”, que se situa no estado de Montana, ao longo da fronteira com as províncias canadianas de Alberta e British Columbia.

Neste parque podem encontrar-se duas cadeias montanhosas, mais de 130 lagos, mais de mil espécies de plantas e centenas de espécies de animais. Trata-se de uma zona de ecossistema praticamente virgem que se estende por 4101 km². Faz fronteira com o Parque Nacional Lagos Waterton e os dois parques constituem o “Parque Internacional da Paz Waterton-Glacier”, o primeiro parque internacional criado em 1932. Ambos os parques foram designados reservas da biosfera em 1976 e foram considerados Património da Humanidade no ano de 1995. Dizem que alguns glaciares foram formados há 170 milhões de anos e, por volta de 1910, muitos hotéis e chalés foram construídos em alguns lugares estratégicos do interior do parque, assim com algumas estradas, proporcionando acesso a veículos automóveis, o que podemos comprovar com muitos animais, ainda um pouco selvagens a esconderem-se nas matas quando circulávamos pelas estradas do interior, tais como, cabras de montanha, ursos pretos ou castanhos, veados, lobos e algumas manadas de bisons, estes atravessando a estrada, na maior das calmas.



Pela tarde atravessámos a fronteira para o Canadá, onde se acredita que a origem do nome Canadá venha da palavra iroquesa kanata, que significa aldeia ou povoado. Por volta do ano de 1535, nativos americanos vivendo na região, utilizaram a palavra para explicar ao explorador francês Jacques Cartier, o caminho para a aldeia de Stadacona, local onde se pensa que se encontra atualmente a cidade de Quebec. Cartier utilizou a palavra não somente em referência a Stadacona, mas como a toda região sujeita ao domínio de Donnacona, então cacique de Stadacona. Por volta de 1547, mapas europeus passaram a nomear esta região, acrescida das áreas que a cercavam, pelo nome Canada. A partir do século XVII, aquela parte da Nova França, situada ao longo do rio São Lourenço e das margens norte dos Grandes Lagos, era conhecida como Canadá. A colonização europeia começou efetivamente no século XVI, quando os britânicos, e principalmente os franceses, se estabeleceram pelo Canadá. Os britânicos não tiveram uma forte presença no antigo Canadá, instalando-se originalmente na Terra de Rupert, uma gigantesca área que posteriormente daria origem aos territórios do Noroeste, Manitoba, Saskatchewan e Alberta, província esta por onde nós atravessámos a fronteira, sendo recebidos com muita atenção e gentileza. Todavia, a região que actualmente compõe as atuais províncias de Nova Escócia e Nova Brunswick, estavam todas nas mãos dos franceses. A Nova França (Nouvelle-France) continuava a expandir-se, mas essa expansão não foi bem aceite pelos britânicos e muitos colonos, desencadeando uma série de batalhas que culminou, em 1763, no Tratado de Paris, no qual os franceses cederam seus territórios da Nova França e outras áreas aos britânicos.



Com o “Canada Act”, de 1982, o nome oficial do país passou a ser simplesmente Canadá, assim escrito nos dois idiomas oficiais do país, o inglês e o francês, o que podemos comprovar, pois todos os letreiros oficiais ao longo das estradas são escritos nas duas línguas.

Já chega de história, continuando, entrámos pela província de Alberta, seguindo por algum tempo para norte, sempre encostados à cordilheira de montanhas que vêm do estado de Montana, nos USA, desviando-nos para a cidade de Calgary, onde parámos para ver o Parque Olimpico, entre outras coisas, continuando rumo ao norte, agora na auto estrada número 2, que nos haveria de levar à cidade hospitaleira de Red Deer, onde dormimos.

Neste dia percorremos 525 milhas, com o preço da gasolina entre $1,17 e $1,52 (dólar canadiano) o litro.

Também gostávamos de vos dizer que no Canadá, a velocidade se mede, tal como em Portugal, em quilómetros e a gasolina se vende em litros.

Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13549: Bom ou mau tempo na bolanha (63): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (4)

5 comentários:

Abílio Duarte disse...

Gosto imenso de ler as suas reportagens.Ainda não perdi a esperança, de depois de conhecer as bolanhas da Guiné. Visitar os Estados Unidos da América. Em particular New York,e as cataratas de Niagara, pois não haverá dinheiro para mais.

JD disse...

Caro Tony,
Também gosto das tuas crónicas. Sobretudo das características naturais das longas distâncias percorridas. Em rapaz cheguei a ter uma interessante colecção de slides sobre a parte ocidental, de Alberta e Calgary para o Pacífico, pois tive uma tia a viver em Vancouver, era uma cidade acolhedora, lonje da enorme urbe da actualidade, e fazia viagens por montanhas fantásticas, parava junto de rios lindíssimos onde havia pescadores, assistia a rodeos, etc. Não me calhou ir para essas paragens, mas já tive um projecto para atravessar os EEUU de costa a costa, com particular interesse pela natureza e modos de vida tradicionais. Como dizia o outro, não se pode ter tudo. Não me queixo, e agora estou submerso na crise.
Desejo-te muito boas viagens.
JD

José Botelho Colaço disse...

Como diz o JD submerso na crise não alimento sonhos de visitar a EUA, vou-me recriando com as tuas reportagens.

Um abraço e óptimas viagens por essa (Diáspora)
Colaço.

Anónimo disse...

Caro Tony,
Foi bom teres escrito sobre a história, fauna e flora do Canadá. É uma forma simples de conseguires a nossa companhia nesta tua viagem de sonho.
Que eu também gostaria de fazer um dia.
Cumprimentos.
José Câmara

imigrante reformado disse...

Olá companheiros.
Muito agradecido, pelos vossos simpáticos comentários!.
Tenho andado, um pouco "atarefado", com "coisitas" à volta da casa, pois andei na "vadiagem", mais de um mês!.
Esta "aventura", já andava a ser planeada, há mais de um ano, tinha o plano "A" e o plano "B", tirava apontamentos, que agora me vão ajudando a "escrevinhar"!.
O meu computador está desactualizado, não consigo mandar as fotografias ao Carlos, com muito boa qualidade e, por mais que se escreva, contando pormenores, nunca consigo descrever o que os nossos olhos viram!
Oxalá que todos vocês, pudessem admirar estes cenários, que em alguns lugares, parava, colocava duas cadeiras de lona e, sentados, por ali ficava-mos, por horas, não querendo deixar o lugar, sabendo que nunca mais na vida, poderia-mos usufruir de semelhante cenário!.
Bem hajam, companheiros.
Um abraço, Tony Borie.