sábado, 15 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24478: Os nossos seres, saberes e lazeres (581): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (111): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Maio de 2023:

Queridos amigos,
Confesso que este dia de itinerância me trouxe imensas recordações, não é impunemente que se percorre esta cidade com uma certa regularidade vai para 4 décadas, se assistiu a inúmeras transformações, se conheceu gente de quem se perdeu o rasto e se guarda as melhores memórias, tudo isso aflora sobretudo nos espaços e lugares públicos, caso do Monte das Artes, como aqui se sublinha. E como se deambula despreocupadamente, dá-se com uma exposição que conta a história de uma galeria onde é muito agradável passear em dias de chuva e frio e onde há uma livraria de referência, a Tropismes. O dia seguinte será dedicado a Malines, é uma situação absurda que não sei descodificar, estou há anos para aqui regressar, a cidade é muito aprazível, oferece muito ao visitante, aqui cheguei sem destino traçado, no turismo deram-me papelada que tudo alterou: o Museu do Holocausto e dos Direitos do Homem, o percurso de 8 igrejas históricas todas visitáveis em passeio pedestre e a exposição Joias Escondidas, Tesouros da arte de Malines ao longo de setecentos anos. Por esta última comecei, e depois lancei-me na rota das igrejas, e irei ter grandes surpresas pelo caminho, como contarei mais tarde.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (111):
Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (2)


Mário Beja Santos

Retomo contacto com o leitor no Monte das Artes, pretendo ser sincero, mais do que saudades sem conto deste lugar, não houve manhã ou entardecer, desde que o tempo permitisse, que não passasse por aqui rumo às instituições europeias ou reuniões com outras associações ou grupos com escritórios nas ruas transversais, bem acima. Sempre me deu comprazimento olhar para uma parte do centro histórico da cidade do alto do Monte das Artes, à esquerda está a Biblioteca Real Alberto I, aqui bati muitas vezes à porta para ver exposições de gabarito ou conhecer o seu acervo, enorme, exposto em diferentes salas, acervo permanentemente reatualizado. Ao fundo, à direita, funcionava o pavilhão dos congressos, conheci-o cheio de vida e depois, anos a fio, de portas fechadas, cercado de ervas daninhas. E um pouco acima, na rua Ravenstein funcionava o Conselho Económico e Social Europeu, aqui vim a algumas reuniões e até a uma celebração do dia mundial dos direitos do consumidor, hoje evento reduzido a uma conferência formal, a cidadania praticamente ausente. São muitas, muitas as recordações, peço a benevolência do leitor em estar sempre a falar da magia que esta cidade me provoca, mas é na verdade feitiço inextinguível
Ao descer as escadarias em direção aos jardins, chamou-me à atenção esta lápida, já a tinha esquecido, mas é sempre bom recordar estas homenagens a quem socorreu os judeus perseguidos durante a ocupação nazi, e tenho mais obrigação na medida em que no meu romance “Rua do Eclipse” Annette Cantinaux, a mulher muitíssimo amada de Paulo Guilherme, é filha de judeus entregue à guarda de uma família católica em Marolles, isto passou-se em 1944, uns bons meses antes do ocupante se ter retirado. Quem salva uma vida é um farol do mundo.
Uma nova surpresa, se é verdade que a cidade se tem embelezado com desenhos de grande apuro, acho que quem fez esta obra na face externa da Biblioteca Real Alberto I tem fulgor imaginativo, esta conjugação de braços numa figura intermédia entre o sobrenatural e o surreal é obra de arte a quem desejo longa vida.
Desci até à praça, cercada de estabelecimentos de cozinha rápida, venho sempre afagar a mão do burgomestre Charles Buls, deixou obra e a cidade fez-lhe reconhecimento com esta fonte que faz frente para as Galerias Saint-Hubert, que acolhem estabelecimentos comerciais luxuosos, sala de teatro, de cinema e uma livraria lendária, a Tropismes, de que em itinerâncias anteriores já dei notícia. À entrada da porta principal anuncia-se uma exposição alusiva à história da galeria, não hesito um só segundo, entro por um corredor ao lado do cinema e vou bisbilhotar, está na cave do edifício, por ali deambulam dezenas de visitantes a ver imagens e a ler as legendas.
Em 20 de junho de 1847, Bruxelas descobre que tem galerias equivalentes às existentes nas grandes cidades europeias. Quem concebeu as Galerias Saint-Hubert foi Jean-Pierre Cluysenaar que introduzira alterações ao modelo da passagem parisiense, insuflando-lhe uma dimensão nova: duas galerias totalizando 210 metros de comprimento com uma largura de 8 metros, tendo a 19 metros do solo um texto envidraçado, não só com a função protetora, mas de procurar oferecer o máximo de luminosidade. Encheu-se de boutiques, restaurantes, cafés e salas de espetáculo e criou uma imagem de um espaço de atividade comercial, cultural e intelectual. Tem vindo a conhecer sucessivas reactualizações, é um dos lugares mais procurados de Bruxelas, por aqui passam todos os anos cerca de 6 milhões de visitantes. Um dado curioso é de que foram construídas entre 1820 e 1880 sete galerias comerciais na cidade, só subsistem três, Saint-Hubert não perdeu nada da sua magnificência, o mesmo não se pode dizer das outras duas restantes, as Galerias Bortier e Passagem do Norte, estas não podem esconder a decadência
A Galeria Bortier tal como eu a conheci nos anos 1970, bem arrependido estou hoje de não ter comprado publicações que inseriam trabalhos de René Magritte, vendiam-se a preços abordáveis, agora… Este belo espaço está praticamente às moscas.
A Galeria Passage du Nord tem conhecido renovações, hoje é uma reminiscência de outros tempos, lá ao fundo está a famosa rue Neuve, tem tudo como a botica, desde o comércio mais sofisticado a estabelecimentos tipo Primark, nem mesmo as lendárias perfumarias aguentaram a presença das lojas de perfume barato.
Imagem que mostra a renovação do teto atual das Galerias Saint-Hubert
As galerias em dia de festa, manda o marketing, a publicidade e as relações públicas que se dê espaço a acontecimentos de grande popularidade, é o modo mais barato destas galerias com mais de 170 anos passarem nos televisores em nossas casas.
A exposição faz referências a grandes eventos, vemos aqui uma imagem de algo que se terá passado nos anos 1950 no teatro, estiveram ali dois monstros sagrados do teatro francês, Madelaine Renaud e Jean-Louis Barrault, era o topo de gama do teatro francês.
Já perto do final da exposição não resisti de ver ao pormenor esta peça de terra-couta intitulada “A comédia humana”, toda ela carregada de símbolos, há um público como no teatro ou no cinema, vida e viventes parecem estar a ver vida e viventes no palco, assombrou-me esta obra engenhosa, saí regalado da exposição.
Quero informar o leitor que já estou em Malines, na Flandres, fica entre Bruxelas e Antuérpia. Naqueles anos 1970 e 1980 em que não me era possível medir com alguma segurança as distâncias, um dia, no final de uma reunião em que vinha em conversa animada com um colega belga, ele desafiou-me a vir jantar a casa, disse-me simplesmente que vivia na Flandres, que eu não me preocupasse com o regresso, havia comboios de 30 em 30 minutos, da terra dele, Malines (Mechelen, em flamengo). Ao princípio temi que me ia deitar a desoras, puro engano, eram 19 horas e já estava à mesa, não passava das 21h e este meu colega despachava-me de comboio para Bruxelas, onde cheguei antes das 22h. Foi assim que fui perdendo o medo às distâncias e me habituei a vários convites para estes inesperados fins de tarde.
É uma cidade rica, mesmo entre estas adaptações que metem estabelecimentos tipo Zara e Mango, encontram-se edifícios como este, extremamente cuidados.
Um dos propósitos da visita era visitar a exposição “Joias Escondidas, sete séculos de obras-primas de Malines” patentes no Museu Hof van Busleyden. Um bom número destas joias escondidas provem de museus e coleções privadas e são mostradas ao público pela primeira vez. Uma exposição constituída por 100 obras de arte de diferentes épocas e de diferentes disciplinas, tais como a pintura, a ourivesaria, a escultura e a arte gráfica.

Menino Jesus a abençoar, peça do Museu Hof van Busleyden, século XVI
Autorretatro de Rik Wouters (1914), Museu das Belas Artes de Antuérpia

Há um belo quadro na exposição de Rik Wouters, a fotografia saiu-me falhada. Dias depois, ao visitar o Museu das Belas Artes de Antuérpia encontrei este belíssimo quadro dele, substitui lindamente a imagem que eu estraguei.
Estou agora na Grand Place, fascina-me toda esta beleza amarela dos canteiros, tenho pela frente duas empreitadas: uma, seguramente a mais importante, é percorrer 8 igrejas históricas, de acordo com o programa que me entregaram no turismo; a segunda é visitar outra exposição, esta sobre o Holocausto que está no Museu do Holocausto e dos Direitos do Homem, aqui se encerra a história da perseguição e da deportação na Bélgica, as exclusões, as violações do direito do Homem; e recordar que neste espaço, de 1942 a 1944, esta caserna foi utilizada pelos alemães como espaço para juntar cerca de 26 mil judeus e ciganos que foram deportados para Auschwitz-Birkenau, apenas 5% deles sobreviveram.
Pois bem, vamos às igrejas e depois ao Museu do Holocausto.

Fachada do Hotel de Ville, Malines

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24460: Os nossos seres, saberes e lazeres (580): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (110): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24477: Facebook...ando (30): Por onde pára a rapaziada da farda amarela da CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65)?



Francisco da Amendoeira (ou "Chico Tonho")




Imagens da página do Facebook da CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65). (Com a devida vénia...)

1. Só temos, na Tabanca Grande, um representante da CCAÇ 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65),  António Medina (de seu nome completo, António Cândido da Silva Medina; nasceu em 26 de setembro de 1939, na ilha de Santo Antão, Cabo Verde; estudou no liceu Gil Eanes (Mindelo); vive desde 1980 nos EUA, em Medford, no estado de Massachusetts; em Bissau, e até à independência, foi funcionário do BNU (Banco Nacional Ultramarino), depois de passar à disponibilidade; tem página no Facebook (último poste: 30 de outubro de 2022); é primo do antigo comandante do PAIGC, Agnelo Dantas).

Há uma página no Facebook, criada por ocasião do 20.º convívio anual do pessoal, que se realizou em 25 de maio de 2019, na Marinha Grande... Publicaram-se apenas duas ou três postagens. E duas ou três fotos do camarada Francisco da Amendoeira, cujo endereço desconhecemos. Este ano reuniram-se a 27 de maio, mas deconhecemos onde. Aqui fica um apelo: por onde páram vocês, rapazes da farda amarela?
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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24420: Facebook...ando (29): A 38ª CCmds. integrada no BCmds da Guiné (1972/74), não só partilhou rações de combate como fez, com os camaradas comandos africanos, grandes operações como a "Galáxia Vermelha", no Cantanhez, que nos uniu até à medula (Amílcar Mendes)

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24476: Notas de leitura (1597): Histórias dos “Boinas Negras”, por Jorge Martins Barbosa; Fronteira do Caos Editores, 2018 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Julho de 2023:

Queridos amigos,
É o itinerário do costume, cerca de meio século depois um alferes recebe a incumbência de juntar os elementos soltos, os testemunhos de outros participantes daquela guerra, não fica esquecido o jornal "O Boina Negra", um mensário, pasme-se, ficamos com uma ideia clara de como evoluiu a guerra nesta área do Quínara, Jabadá, Enxudé, Tite, Fulacunda, Nova Sintra, ali participou e teve o seu maior desastre um grupo de combate da 15.ª companhia de Comandos, fez-se obra, conta-se a verdade, olhando para aquele mapa e na sequência das operações, a população afeta ao PAIGC produzia alimento e os guerrilheiros não estavam inativos. Motivo maior de satisfação terá sido o regresso voluntário de população dispersa no setor. Coube a Jorge Martins Barbosa dar forma de livro, ele que tivera tanta responsabilidade no jornal, foi cuidadoso dirigindo-se primeiro a leigos e depois mais diretamente aos "Boinas Negras". Iniciativa tão tocante que teve sequência noutra obra que em breve iremos falar.

Um abraço do
Mário



Histórias dos “Boinas Negras”, a CCAV 2482, 1969-70

Mário Beja Santos

Compete a Jorge Martins Barbosa, alferes do 4.º pelotão da CCAV 2482 explicar ao leitor o essencial do percurso dos “Boinas Negras”, entre fevereiro de 1969 e dezembro de 1970, nessa altura ainda o autor não sabia a repercussão que a obra ia ter junto da rapaziada de outras companhias, isto para alertar que temos outras histórias para vos noticiar. Estas são da autoria de Jorge Martins Barbosa, Fronteira do Caos Editores, 2018. Teve a preocupação de explicar a leigos a localização, dimensão e ambiente da Guiné-Bissau onde os “Boinas Negras” combateram, dá-nos conta da mobilização e a preparação da companhia, integrada no BCAV 2867 (lema: Somos Como Somos – Audácia, Coragem, Decisão, Firmeza); dá conta de pormenores dessa mesma mobilização e sua partida para a Guiné em 23 de fevereiro de 1969. O comandante de companhia (hoje coronel reformado) era o Capitão Henrique de Carvalho Morais.

Ficamos a saber que o batalhão tinha um jornal, o “Boina Negra”, e dá-se a seguinte informação: “Quando – a partir de 31 de julho de 1961 – o Exército Português começou a utilizar a boina como parte do seu fardamento, a mesma era de cor preta, por bastantes em stock. Todavia, ao fim de algum tempo a boina negra foi reservada para a Arma de Cavalaria, assim como a verde para Paraquedistas, a vermelha para Comandos, etc. Visando uma maior uniformização, e procurando evitar eventuais rivalidades entre as diferentes Armas, cedo foi obrigatória a utilização exclusiva da boina castanha para todas as unidades do Exército português". Por despacho do General Spínola, de 28 de maio de 1970, os “Boinas Negras” foram autorizados a utilizar a boina negra no teatro de operações da Guiné. A sede do batalhão era Tite e as unidades espalhavam-se por Fulacunda, Nova Sintra e Jabadá. Os “Boinas Negras” embarcam em 4 de março rumo ao porto de Enxudé. Na manhã de 8 ocorre a primeira calamidade. Pedro Graça, padeiro na vida civil, de Abitureiras, Santarém, apresentado como homem são de eterno sorriso, pisa uma mina antipessoal na carreira de tiro de Tite, a perna direita fica reduzida a um coto. O PAIGC irá praxá-los com flagelações. Começa a vida dos operacionais a visitar as tabancas vizinhas do aquartelamento.

A primeira operação a nível do batalhão irá levá-los até Bissássema, passam por tabancas abandonadas, contornam bolanhas e lalas, Spínola aparecerá na manhã seguinte. Aqui e acolá Jorge Martins Barbosa socorre-se de trabalhos de Rogado Quintino para nos apresentar os povos da Guiné. Já estamos em abril, prosseguem os patrulhamentos e emboscadas, há recontos com o PAIGC, nova mina antipessoal estropiou um pé ao 1.º Cabo Agripino Cascalho. Em finais de abril, o Comando-Chefe impõe nova operação, envolve tropas do batalhão, meios navais e aéreos, vão em direção à região de Gampará, dão com campos agrícolas cultivados, há flagelações, dia e noite. Na manhã seguinte está toda a tropa junta, a operação demorara 5 dias, regressam com as fardas sujas e rasgadas, foi descoberto e capturado muito arroz e fardamento.

Martins Barbosa vai apresentando as etnias guineenses e eis que chegou a ordem da companhia partir para Fulacunda, houvera uma curta estadia na região do Gabu, em Canjadude, faz-se uma larga descrição do apoio ali dado. Voltam para Fulacunda, prossegue a vida operacional e dá-nos o relato do pior desaire da 15.ª Companhia de Comandos que sofreu 7 mortos, quando iam a caminho do porto, para reembarcar para Bissau. Haverá depoimento de Luciano Garcia Lopes, que era o Comandante de Companhia, e é hoje Major-General reformado (foi meu instrutor em Mafra, em 1967), é um relato merecedor de leitura para nos apercebermos das vicissitudes a que pode estar sujeita mesmo um contingente militar que tem o apelativo de tropa de elite. Se aquele mês de agosto de 1969 não correra bem, setembro começou mal, António Cardoso pisa uma mina antipessoal. Sucedem-se os patrulhamentos, as operações a nível do batalhão, caso da operação “Sexto Desforço” na região de Gã Formoso. Os “Boinas Negras” recebem o reforço de dois obuses. Em novembro, quando um pelotão “Boina Negra” seguiu para Nova Sintra, uma Mercedes acionou uma mina anticarro provocando mortes e feridos graves. Em janeiro, o jornal “O Boina Negra” publica o seu n.º 6, Spínola agradece o exemplar recebido.

E assim se passam uns meses, em março, quando a companhia já completara um ano sobre a data da sua chegada à Guiné, o ativo operacional merecia distinção. Mas o PAIGC também não dava descanso, flagelações sob o quartel e a tabanca. Nesse mesmo mês, os “Boinas Negras” vão até à região de Cufada (operação “Cabeça Negra”), trarão no regresso população e gado. Haverá obras de beneficiação em Fulacunda, novo fontanário, construção de uma escola, funcionará uma classe de ginástica. Em agosto, as chuvas aumentaram de intensidade, mesmo assim os “Boinas Negras” montaram emboscadas e efetuaram patrulhamentos. O autor observa que o PAIGC aumentou de atividade, flagelando mais vezes o aquartelamento do setor e conseguindo que as populações dessem menos informações às nossas tropas. No mês de setembro sai do 19.º jornal “O Boina Negra”, terá ainda um 20.º com a publicação das fotografias de todos os “Boinas Negras”. Há informações que se encontrava em Injassane, a leste de Fulacunda um grupo de foguetões, mas o mês decorreu sem foguetório. A comissão caminha para o fim, regressam no Uíge em 22 de dezembro de 1970, no Cais da Rocha do Conde de Óbidos aguardam-nos os familiares e o Pedro Graça, vítima de uma mina antipessoal em 8 de março de 1969.

A obra inclui depoimentos, como o do Major-General Luciano Garcia Lopes, o testemunho do Alferes Miliciano Médico Rustom Framrose Bilimória, do Alferes Ilídio Vaz Saleiro Maranhão, dos Furriéis Carlos de Jesus Gouveia Rodrigues, Daniel Resende de Oliveira, Domingos Robalo, do 1.º Cabo Júlio Gago de Almeida, do Soldado Patrício Manuel dos Santos, Fernando Agostinho de Sousa Duarte, Jorge Ferreira Damásio dos Santos, Carlos Alcântara da Conceição Domingues, do 1.º Cabo António dos Santos Craveiro e Susana Duque, filha do Furriel José Alberto Sequeira Duque. Segue-se um álbum de imagens da comissão e a lista completa dos “Boinas Negras”.

A obra permite estudar a evolução da guerra nesta região do Quínara entre 1969 e 1970.


No interior da capela do quartel de Tite, imagem pertencente a Nicolau da Silva Esteves, ex-1º cabo radiotelegrafista do BCAÇ 1860, com a devida vénia
Bolanhas de Tite a caminho de Enxudé. Foto de José da Câmara, ex-furriel militar da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56
A placa afixada na parede pode ler-se, “Administração de Fulacunda”. Notar o traje do “antes da guerra”. (fotografado circa 1960). Adaptação de foto, cortesia do Instituto de Investigação Científica Tropical, Arquivo Histórico Ultramarino.
Imagem parcial do quartel de Fulacunda. Foto gentilmente enviada por, Carlos Silva, ex-furriel militar do BCAÇ 2879 / CCAÇ 2548; originária de Paulo Bastos, Pel Caç Ind 953
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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24468: Notas de leitura (1596): "O Capitão Nemo e Eu, Crónica das Horas Aparentes", por Álvaro Guerra; Editorial Estampa, 1973 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24475: (In)citações (254): Por favor, não sigam o alce-cherne, que é animal híbrido que não existe no bestiário da minha Lapónia (José Belo)




Fotos enviadas pelo Joseph Belo (2023): os alces que rondam a minha porta...


 1. Mensagem do José Belo, o nosso correspondente no círculo polar ártico:

Data - 25/06/2023, 20:22
Assunto - O alce, o cherno... e o alce-cherno

O quadro jurídico de muitas nações e a declaração universal dos direitos humanos contempla o direito de resposta.

Com o reconhecimento deste direito é possível defender a honra, a dignidade e a integridade do indivíduo. Mais não é que um mecanismo legal para combater a difusão de informações falsas.

Com liberdades poéticas, tão suaves como martelo de pedreira, o  rei das florestas nórdicas é “amortalho” num poema sobre o Cherne (peixe simpático, mas peixe é peixe!)

A intenção do poeta seria a melhor... mas como explicar ao orgulhoso e altivo alce o sentimento poético lusitano que o põe... "já morto, a boiar ao lume de água, nos olhos rasos de água?"

Estas coisas espalham-se como a neblina nas infindáveis florestas nórdicas.

Não será por acaso que, desde a publicação do poste (P24418) o largo rio que corre a 200 metros da minha casa é diariamente visitado por alces fêmeas que, acompanhadas pelos seus vitelos, procuram observar na superfície do rio o tal "alce-cherno" a boiar.

Seria mais do que edificante esta educação compulsiva-geracional dos alces, não fora ela baseada em falsas premísseis lusitanas.

Surge ainda o agravante colateral provocado pelas contínuas visitas destas alimárias com as respectivas crias. Estão a provocar profundas depressões nervosas nos meus cães de guarda,  habituados a ganhar honestamente o seu pão diário afastando lobos e ursos e não familiares chorosos de alces-cherne. (**)

Um grande abraço do JBelo WWW

PS - Em e-mail seguem fotos comprovativas.
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Notas do editor;

(*) Vd. poste de 20 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24418: (In)citações (251): Sigamos o alce, que vem pachorrentamente pastar à porta do Joseph Belo, à hora do jantar...

Vd. também poste de 6 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24454: S(C)em comentários (11): "Na imensidão da Lapónia a Natureza é uma das terapias espirituais" (José Belo)

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24474: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4.ª estadia, 2023): crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos). Parte IV: 3, 5 e 6 de abril de 2023











Timor Leste >  Liquiçá > Manati > Boebau > Março/abril de de 2023 >  Escola São Francisco de Assis (ESFA) > Um país de belas paisagens e um povo gentil que quer continuar a falar português... Seleção de fotos de Rui Chamusca, na sua 4.ª vista à ESFA, um projeto da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste.


Timor Leste >  Liquiçá > Manati > Boebau > 2018  >  Da direita para a esquerda, Rui Chamusco (Sabugal e Lourinhã)  e João Crisóstomo (Nova Iorque) na inauguração da Escola São Francisco de Assis (ESFA) 

Fotos (e legendas): © Rui Chamusco  (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação de alguns excertos das crónicas que o nosso amigo Rui Chamusco (76 anos, professor de educação musical reformado, do Agrupamento de Escolas de Ribamar, Lourinhã, natural de Malcata, concelho de Sabugal, cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste) nos mandou, na sequência da sua 4.ª viagem àquele país lusófono (março - maio de 2023).  

Esteve lá já 4 vezes, em 2016, 2018, 2019 e agora em 2023; é juntamente com a família luso-timorense Sobral um dos grandes pilares deste projeto de solidariedade com o povo timorense. É um exemplo inspirador, de amor à lusofonia e de olidariedade para com o povo de Timor Leste, que merece ser conhecido pelos mossos leitores.

 De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4ª estadia, 2023): crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos) 

Parte I - 3, 5 e 6 de abril de 2023

03.04.2023, segunda feira - Carta ao Diretor da Escola Portuguesa de Dili

Estimado Senhor

Diretor da Escola Portuguesa de Dili

Dr. Manuel Alexandre Marques

 De regresso a Dili, Bairro Pité – Ailok Laran, depois do fim de semana em Boebau / Manati, venho responder a solicitação que nos foi feita, dando a conhecer a lista de material escolar que faz falta à ESFA. 

A lista apresentada revela as muitas carências existentes mas, com certeza, não pretendemos que seja a Escola Portuguesa de Dili a colmatar todas as nossas necessidades. O nosso amigo verá o que é possível doar. Seja o que for, estamos-lhe muito gratos pela simpatia e disponibilidade com que nos tem acolhido. De nossa parte, queremos responder com as mesmas atitudes e, dentro das nossas limitações, estaremos sempre ao vosso dispor.

Também quero informar que, na perspetiva de uma visita a Boebau e à Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem”, o mau estado do caminho exige esforço e coragem para fazer esta viagem. Por isso, estaremos à vossa disposição para combinarmos bem essa visita e podermos ser úteis.

Qualquer contacto pode ser através do 966509086 (whatsapp) ou do nº 76083728

Com elevada estima e consideração

Prof. Rui Chamusco

03.04.2023, segunda feira - Carta ao Diretor da Educação Municipal de Liquiçá


Exmo. Senhor Diretor
Educação Escolar Municipal de Liquiçá
Dr. Carlos Lopes

Os nossos melhores cumprimentos.

A Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem”, ESFA, em Boebau/Manati vem por este meio informar Vossa Excelência da frequência de alunos do 1º ciclo ao longo dos últimos 4 anos.

Assim, em 2020 frequentaram 34 alunos (1.º ano); em 2021 frequentaram 40 alunos (1.º e 2.º anos); em 2022 frequentaram 49 alunos (1.º, 2.º e 3.º anos); em 2023 frequentam 59 alunos (1.º, 2.º, 3.º e 4.º anos).

Informamos também que todos estes alunos não tiveram o apoio da merenda escolar durante todos estes anos, pelo que solicitamos ao Senhor Diretor da Educação se digne proceder às diligências necessárias para que tal aconteça.

Gratos por toda a ajuda e colaboração que nos possa dispensar, subscrevemo-nos, com consideração

Boebau, 01 de Abril de 2023

P’la ESFA
João Moniz de Oliveira Sobral
Rui Manuel Fernandes Chamusco

05.04.2023, quarta feira - E esta, hein?!...


O Eustáquio, quando não tem, inventa. E vem isto a propósito de sabonete que encontrei barrado na parede em tosco na casa de banho, e que me chamou de imediato a atenção. Fui perguntar ao Eustáquio para que era aquilo. E, maravilhem-se com a explicação. “Como não chego atrás para lavar as costas, então colei sabonete na parede e esfrego as costas na parede”. E exemplificava com o corpo como fazia o esfreganço. “Eu inventa... e pronto!”

Tentei convenvê-lo a comprar uma escova de cabo comprido que existem para esse efeito, mas ele prontamente respondeu: “Não precisa...” É isto, gente desenrascada.

E se fôssemos nós a resolver esta necessidade, o que faríamos? Corríamos para o supermercado, escolhíamos a escova mais macia, pagávamos fosse o que fosse e satisfazíamos prazenterosos a coceira que nos afligia. 

Pois é! A necessidade aguça o engenho. No poupar está o ganho. Quem não tem cão caça com gato. Mas, que nos faz pensar duas vezes sobre a satisfação das nossas precisões, lá isso faz.

06.04.2023, quinta feira - Orçamento para a cozinha escolar.

Chegou aqui há momentos o Eustáquio com uma folha aonde consta a previsão de gastos para a construção da cozinha escolar - uma exgência da direção escolar municipal de Liquiçá.

Material

Qt

Preço      Unidade

Total Unidade

Total estimado

  Ferro U

16

9.50

152,00

 

Barras de Derro 8x4cm

    3

         13,00

39,00

 

  Ferro 4x6cm

10

9,00

90,00

 

  Zinco 0.45

6

22,50

135,00

 

  Blocos

400

0,50

200,00

 

  Sacos de cimento

  30

5,50

160,00

 

  Areia

    3

80,00

240,00

 

  Pedras

    3

80,00

240,00

 

  Rede metálica 1x2m

    5

12,00

60,00

 

  Parafusos de Ferro U

    4

6,00

24,00

 

  Parafusos de Zinco

    4

6,00

24,00

 

  Eletrodos

    1

12,00

12,00

 

  Transporte dos materiais

    1

140,00

140,00

 

  Transporte blocos e sacos

    2

140,00

280,00

 

  Mão de obra

.......

......................

.....................

 

                                                          Valor estimativo:

2.790,00

3.000,00


06.04.2023, quinta feira - Votos de Boas Festas

É Primavera com certeza! É Páscoa! É Ressurreição!

Que estes sinais da vida que se renova sejam os meus e os votos da Astil de Boas Festas de Páscoa para todos os sócios e amigos.

Desde Timor Leste, terra do sol nascente (Loro sa’e) um forte abraço.

(Seleção / revisão e fixação de texto / negritos / subtítulos: LG)

(Continua)
___________

Nota do editor: