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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25448: Notas de leitura (1685): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (22) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Abril de 2024:

Queridos amigos,
Chegámos ao término do ensaio da responsabilidade do nosso confrade José Matos e Matthew M. Hurley, eles passam em revista as principais situações que ocorreram em 1972 na Guiné. De tanto apelo, Spínola conseguiu armamento e equipamento para a Zona Aérea, mas o sistema defensivo antiaéreo, que tanto o preocupava, não conheceu remodelação. Como observam os autores, Spínola desesperava por retirar iniciativa às forças do PAIGC, por apresentação de uma proposta do major Moura Calheiros, responsável paraquedista, aceitou pôr em marcha a mais movimentada operação depois da Operação Tridente, a Grande Empresa, que os autores aqui apresentam. Provavelmente através dos serviços de informação, o comandante chefe sabia que algo estava em preparação quanto a novos meios do PAIGC, na sua declaração de Ano Novo Amílcar Cabral, sem o dizer explicitamente, refere que vão aparecer novas armas que poderão acelerar a liquidação do colonialismo. Vivia-se, pois, um compasso de espera, Spínola não tinha ilusões de que não iria receber novos e comparativos meios de Lisboa. Resta aguardar o terceiro volume sobre a Zona Aérea da Guiné em 1973 e 1974.

Um abraço do
Mário



O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974
Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (22)


Mário Beja Santos
Deste segundo volume d’O Santuário Perdido, por ora só tem edição inglesa, dá-se a referência a todos os interessados na sua aquisição: Helion & Company Limited, email: info@helion.co.uk; website: www.helion.co.uk; blogue: http://blog.helion.co.uk/.

Contracapa do segundo volume

Índice
Abreviaturas

Capítulo 5: “Tudo estava dependente deles, de uma forma ou outra”

Com o presente texto, conclui-se a súmula do livro de José Matos e Matthew M. Hurley, seguramente que o terceiro volume será dedicado ao inquietante período entre 1973 e 1974. Ao longo de 1972, o Comandante-Chefe foi apelando à aquisição de armamento não só para a Força Aérea como para o sistema defensivo, era notório que nos países ocidentais se fazia obstrução de tais compras. A propaganda do PAIGC alardeava grandes perdas em aeronaves da FAP. Concretamente, falavam que tinham destruído entre 1969 e 1972 dez aviões de asa fixa e oito helicópteros, incluindo seis aeronaves alegadamente destruídas em pistas de aterragem (ver anexo III). O registo documental da FAP e a falta de provas apresentadas pelos guerrilheiros revelam que a Zona Aérea não perdeu uma única aeronave por ação inimiga desde que o Fiat que o Tenente-Coronel Costa Gomes pilotava foi atingido, em 1968. Perderam-se aeronaves em acidentes: dois T-6, dois DO-27 e também dois Alouette III caíram na Guiné, daí resultando 14 mortos (incluindo os seis pilotos). Tais acidentes aumentara o número de aviões e helicópteros da FAP perdidos na Guiné desde 1962 para 23, embora três, no máximo, tenham sido destruídos por fogo hostil.

Apesar de todo este seu furor propagandístico, o PAIGC reconhecia que não tinha uma defesa antiaérea eficaz. Amílcar Cabral viajou para a União Soviética em junho de 1962 à procura de melhores armas defensivas. Os seus esforços acabaram por ser recompensados, mas nesse intervalo de tempo a Zona Aérea conseguia gerir a sua guerra contra o PAIGC sem encontrar sérios obstáculos. Durante 1972, as aeronaves da FAP tiveram um total de 10.643 surtidas em todas as áreas de missão, número que representa uma redução de 6% em relação ao ano anterior. O número de ataque e surtidas de apoio de fogo ultrapassou os 3 mil durante 1972, o que representa menos 15% relativamente a 1971, mas um esforço maior comparativamente a 1969 ou 1970. Os Alouette III transportaram na Zona Aérea mais de 6 mil soldados durante 75 operações helitransportadas, em 1972, comparativamente a 58 missões semelhantes e 1971 e 41 em 1970.

Esta defensiva de operações da Zona Aérea teve a sua ênfase no Sul da Guiné, em parte devido à propaganda do PAIGC alegando ter aqui um elevado número de “áreas libertadas”, especialmente na Península do Cantanhez. Spínola sentia que era imperativo demonstrar que as forças militares poderiam exercer um completo domínio no Cantanhez, dado o facto do fracasso inegável do poder afirmar em qualquer outro lugar do Sul da Guiné. No final do ano, esta sua exigência culminou com a Operação Grande Empresa, foi a mais ambiciosa operação ofensiva desde a Operação Tridente, em fevereiro-março de 1964.

Frustrado nas suas tentativas em ludibriar o PAIGC, neutralizar a República da Guiné ou negociar um acordo através do Senegal, Spínola procurou então o local que lhe desse um sucesso militar capaz de poder recuperar um poder de iniciativa face ao PAIGC. Foi-lhe oferecida a oportunidade pelo Major Moura Calheiros, Comandante das Operações e Informações do BCP 12, que identificou a base mais importante do PAIGC nas chamadas “áreas libertadas” do Cantanhez. Com a sua proposta da Operação Grande Empresa, Calheiros deu a Spínola uma oportunidade para destruir um grande complexo de guerrilha, recuperar a Península e a população sob controlo inimigo, através de obras civis, medidas psicológicas e reordenamentos; foram designadas duas companhias de paraquedistas e um destacamento de fuzileiros para o assalto inicial, competia a essas forças especiais ocupar as aldeias de Caboxanque, Cadique e Cafine, na margem sul do rio Cumbijã, enfrentando e destruindo as forças guerrilheiras que tentassem sobrepor-se. Uma vez alcançados esses objetivos, uma força composta por tropas de cavalaria e infantaria, apoiada por pelotões de artilharia chegariam por lanchas ao local e estabeleceriam uma rede de guarnições na Península, desenvolvendo rapidamente obras de construção e reordenamento.

Em 11 de dezembro, um dia antes do ataque, sete Noratlas transportaram 191 paraquedistas da Base Aérea 12 para a sua plataforma avançada, a Base em Cufar. Na manhã seguinte, seis Fiat levaram a efeito um bom bombardeamento preparatório às posições do PAIGC, enquanto dez Alouette III que transportavam 50 paraquedistas os largaram em zonas previamente escolhidas. Uma forte resistência obrigou a trazer mais 50 paraquedistas, mas no final do dia as forças portuguesas esmagaram a resistência e ocuparam as aldeias de Caboxanque, Cadique e Cafine.

Começou então o processo, que se previa de longa duração, de pôr em prática de atrair e reintegrar populações civis, isto enquanto se procurava capturar ou aniquilar as forças importantes do PAIGC. O contingente das tropas do Exército construiu novas aldeias, estradas, cercas para guardar animais, fabricaram-se postos médicos, encetaram-se conversações com as autoridades tradicionais para procurar suprir as necessidades imediatas. Este conjunto de iniciativas teve algum sucesso, já que a maioria dos habitantes do Cantanhez revelou tolerância com os esforços portugueses, e muitos deles ajudaram a uma quase erradicação da liderança regional e das infraestruturas do PAIGC.

Ao longo dos noves meses da Operação Grande Empresa, a FAP forneceu reconhecimento contínuo, transporte aéreo, evacuação dos sinistrados e apoio de fogo às unidades de superfície participantes; mas, ato contínuo, as forças especiais de Spínola foram obrigadas e responder a questões mais urgentes que surgiram noutros locais. Os paraquedistas e algumas unidades do Exército foram transferidas em meados do verão, a posição das forças de superfície no Cantanhez iria ficar enfraquecida. Contudo, no final de 1972, as forças portuguesas podiam estar satisfeitas, tinham reocupado o Cantanhez, mas Spínola manteve-se pessimista, conforme relatou no início de 1973 devido ao aumento crescente da atividade e potencial do inimigo, anunciou que era de prever um agravamento militar da situação, perspetivou uma súbita deterioração, provavelmente na forma de destruição convencional em grande escala. Spínola avisou os seus superiores que se avançava para um novo patamar da guerra e temia que Portugal tivesse dificuldade em prevalecer.

Os líderes do PAIGC, por outro lado, começaram 1973 numa atmosfera de otimismo, o PAIGC recebera uma delegação da ONU através das suas zonas ditas libertadas e anunciou publicamente a sua intenção de declarar unilateralmente a independência, nos próximos tempos. Na sua comunicação de Ano Novo, Amílcar Cabral também elogiou as “grandes derrotas e perdas muito importantes” infligidas às forças portuguesas durante 1972. Mas admitiu que o inimigo tinha mais aviões e helicópteros fornecidos pelos aliados na NATO e tinha intensificado os bombardeamentos e ataques contra as regiões libertadas.

“Só a aviação permitiu a Portugal criar situações difíceis para nós.” Nessa mesma alocução Cabral instava as forças do PAIGC a desferir golpes mais duros contra o inimigo colonialista e prometia armas e outros meios de guerra ainda mais poderosos, alertando que o PAIGC iria utilizar de forma mais eficaz os meios existentes e a chegar, suscetíveis de ferir golpes decisivos nos colonialistas.

Para os militares da Força Aérea na Guiné, estas palavras seriam proféticas.

Operações portuguesas helitransportadas em 1972 (por Matthew M. Hurley, baseado em documentação portuguesa)
Área de atividades no decurso da Operação Grande Empresa (Matthew M. Hurley)

Anexo I – Aeronaves atribuídas à Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné

Anexo II – Surtidas na Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné
Surtidas por tipo de aeronave, 1968-1972
Surtidas por categoria de missão, 1968-1972

Anexo III – Perdas da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné e Reivindicações Propagandísticas do PAIGC, 1962-1972
Perdas confirmadas pela FAP, 1962-1972
Números indicando o lugar dos acontecimentos descritos no quadro acima (mapa elaborado por Matthew M. Hurley)
Reivindicações propagandísticas do PAIGC comparadas com as perdas apresentadas pela FAP
____________

Nota do editor:

Vd. posts anteriores de:


9 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25153: Notas de leitura (1665): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (11) (Mário Beja Santos)

16 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25176: Notas de leitura (1667): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (12) (Mário Beja Santos)

23 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25204: Notas de leitura (1669): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (13) (Mário Beja Santos)

1 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25229: Notas de leitura (1671): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (14) (Mário Beja Santos)

9 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25254: Notas de leitura (1674): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (15) (Mário Beja Santos)

15 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25276: Notas de leitura (1676): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (16) (Mário Beja Santos)

22 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25296: Notas de leitura (1677): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (17) (Mário Beja Santos)

29 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25316: Notas de leitura (1679): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (18) (Mário Beja Santos)

5 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25342: Notas de leitura (1680): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (19) (Mário Beja Santos)

12 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25377: Notas de leitura (1682): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (20) (Mário Beja Santos)
e
19 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25411: Notas de leitura (1684): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (21) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25370: Blogues da nossa blogosfera (193): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte VI: a arte e o engenho das mulheres do Cantanhez


Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana >  Título da foto: A imaginação na Luta pela Independência | Data de Publicação: 1 de Junho de 2008 | Palavras-chave: História

Legenda:


Fatumata Camará explica aos participantes do Simpósio Internacional de Guiledje como é que nos acampamentos de guerrilheiros do PAIGC em Cantanhez, as mulheres procediam para descascar o arroz sem que se ouvisse barulho e, desta forma, não fossem detectadas.

O pilão era quase totalmente enterrado, pelo que as vibrações e ruído eram absorvidos pelo solo que impedia a sua propagação. Para a preparação das refeições também aperfeiçoaram um sistema que impedia que o fumo subisse para além da copa das árvores e assim a sua presença não era percebida.

Se ontem a inteligência e capacidade das mulheres ajudou a encontrar soluções inovadoras e imaginativas para os problemas com que se foram deparando, também hoje elas procuram novos caminhos para resolver as dificuldades dos seus trabalhos agrícolas.

Fonte: Internet Archive > ADBissau  (com a devida vénia...)


2. Comentário do editor LG:

Temos andado à procura das "fotos da semana" que o nosso saudoso  amigo guineense, o Pepito (Bissau, 1949 - Lisboa, 2014), membro da nossa Tabanca Grande, foi publicando no sítio da ONGD AD - Acção para o Desenvolvmento, de que ele foi cofundador (em 1991) e  diretor executio (até à data da sua morte, prematura, em 18 de fevereiro de 2014).

Algumas foram publicadas no nosso blogue. Outras, perderam-se irremediavelmente. Através do Arquivo.pt e do Internet Archive é possível recuperar algumas, nomeadamente do período que vai de 2005 a 2011.

antiga página da AD - Acção Para o Desenvolvimento (http://www.adbissau.org/ )   foi reformulada e descontinuada (por  volta de  2020/2021). 

Com sorte e paciência, lá vamos recuperando alguma "foto da semana", como esta que reproduzimos acima, tirada nas matas do Cantanhez, por altura do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de março de 2008).

A maior parte das fotos da série eram da autoria do Pepito, que incansavelmente percorria a Guiné onde quer  que estivessem em curso,  ou em estudo,   projetos da AD...  Cada foto tinha um título, uma data, uma palavra-chave ou "descritor", e uma legenda, resumo analítico ou sinopse.

A ONG AD - Ação para o Desenvolvimento passou, a partir de maio de 2011, a ter outro endereço, mas  a URL é ligeiramente diferente da do sítio antigo.  Estranhamente, não tem sido capturada pelo Arquivo.pt: https://ad-bissau.org/ . Já sugerimos que o façam.

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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série:

10 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25363: Blogues da nossa blogosfera (192): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte V, foto da semana, 11 de maio de 2009: lutando contra a fome, em Bolol, chão felupe



8 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25355: Blogues da nossa blogosfera (189): recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte II: foto da semana, 16 de janeiro de 2011 (Tambores de Bolol na festa do fanado felupe)

8 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25354: Blogues da nossa blogosfera (188): recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte I: foto da semana, 5 de julho de 2009 (Produção de Flor-de -Sal)

domingo, 3 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25233: In Memoriam (500): Eduardo Cesário Rodrigues, mais conhecido por "Salazar" (1941-2024), ex-alf mil, CCAÇ 1420 (Fulacunda) e CCAÇ 6 (Bedanda) (1967 / 69) (Joaquim Pinto Cavalho)



Eduardo Cesário Rodrigues, "Salazar" (1941-2024), ex-alf mil CCAÇ 1420 / BBCAÇ 1857 (Fulacunda) (jan-abr 67), e CCAÇ 6 (Bedanda) (mai67 - jun68)


Guiné > s/l > s/ d> O "Salazar" à esquerda



Guiné > Região de Tombali > Bedadanda > CCAÇ 6 > c. 1967/68> O "Salazar", do lado esquerdo, sentado, com boina,  a “tocar” no instrumento de que não sei o nome.



Portugal > Mealhada > 29 de junho de 2013 > 3.º Encontro dos Bedandenses, organizado pelo António Teixeira, "Tony" (1948-2018), ex-alf mil CCAÇ 3459/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 6, Bedanda (1971/73). 

Fotos (e legendas) : © Joaquim Pinto Carvalho (2024). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaraada da Guiné.]


1. Mais uma notícia triste que nos chega por telemóvel e depois por email de 26 do passado mês de fevereiro, por parte do Joaquim Pinto Carvalho 

tem 64 referências no nosso blogue; é membro nº 633 da Tabanca Grande; foi alf mil da CCAÇ 3398 (Buba) e CCAÇ 6 (Bedanda) (1971/73); natural do Cadaval, é advogado, poeta e régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Atalaia, Lourinhã; é autor de uma brochura com a história da unidade, a CCAÇ 3398, distribuída no respetivo XXV Convívio, realizado no Cadaval, em 18/9/2021; vai voltar no dia 9 à Guiné, passando por Bossau, Buba e Bedanda, com um grupo de graduados da ua CCAÇ 3398)]


Data - 2 de março de 2023, 20h21:

Olá, Luís!

Seguem breves elementos informativos sobre o "Salazar", que morreu no  passado dia 26 (*),   e algumas fotos em anexo ...

Nome: Eduardo Cesário Rodrigues, conhecido por  "Salazar". (O "nickname" Salazar nasceu no seio da família e era assim conhecido entre os amigos e até na tropa)

Data nascimento: 18/07/1941

Data do óbito: 26/02/2024

Incorporação: 03/05/1965

Disponibilidade; 28/02/1969

Embarque em Lisboa a 11/01/1967 a bordo N/M "Rita Maria" | Desembarque na Guiné no dia 19/01/1967

Patente: Alferes miliciano

Subunidades e locais: 

CCAÇ 1420 (BCAÇ 1857) – Fulacunda

CCAÇ 6 – Bedanda, 4º Pelotão,  de 01/05/1967 a 01/06/1968.

27/08/1968 – evacuado para o Hospital Militar Principal  (HMP), em Lisboa por doença em serviço.

Foi ferido na operação “Salto",  na zona de Caboxanque (Cantanhez), em data que não
 conseguimos precisar.

É o que tenho por agora. Pode ser que venha a obter mais dados. A foto ao pé do estandarte foi tirada num almoço convívio na Mealhada, organizado pelo Toni...

Ao dispor

Um abraço

Pinto Carvalho 
 

Guião da CCAÇ 6 (Bedana, 1967/74) , "Onças Negras", cuja lema era, de acordo com o guião acima reproduzido,  "Aut vincere aut morire" [Vencer ou morrer]. A antiga 4ª CCAÇ foi extinta a partir de 1abr67, passandP a designar-se por CCaç 6,

Foto: © Amaral Bernardo (2011). Todos os direitos reservados.[ Edição e legendagem: Blogue luís HGraça & Camaradas da Guiné]



Peniche >  28 de setembro de 2013 > Convívio dos bedandenses da CCAÇ 6 e outras subunidades > Tasca secreta do Belmiro >  A chegada do Eduardo Cesário Rodrigues (de alcunha, Salazar), vendo-se o seu filho, de costas.


Peniche >  28 de setembro de 2013 > Convívio dos bedandenses da CCAÇ 6 e outras subunidades > Tasca secreta do Belmiro > Foto nº 8 > O "Salazar", o filho e a afilhada


Peniche >  28 de setembro de 2013 > Convívio dos bedandenses da CCAÇ 6 e outras subunidades > Tasca secreta do Belmiro > O Hugo Moutra Ferreira,  o "Salazar", o João Carapau, o Gualdino (sempre convenientemente acompanhado) e o Lassana

Fotos (e legendas) : © Hugo Moura Ferreira (2013). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaraada da Guiné.]


Neste convívio de Peniche, organizado pelo Bemiro da Silva Pereira (1946-2022), houve 34 presenças... A recordar:

Aníbal Magalhães Marques (1972/74 ?), mais 3 familiares (n=4)

Belarmino Sardinha ((ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74), Cadaval) +  esposa (n=2)

Belmiro Silva Pereira (alf mil, 1968/69, Peniche,), mais  a esposa e filho (n=3)

Eduardo Cesário Rodrigues (Salazar) (alf mil, 1967/68), mais o filho e a afilhada (n=3)

Fernando de Jesus Sousa (fur mil, 1971/73) +  esposa (n=2)

Gualdino José da Silva (fur mil 1967/69, Algarve) mais 1 casal amigo (n=3)

Hugo Moura Ferreira (alf mil, 1967/68, Lisboa) + esposa, Lorena (n=2)

Joaquim Pinto Carvalho (alf mil, 1972/73, Cadaval) +  espoa, Maria do Céu (n=2)

João António Carapau (alf mil médeico, 1967/68, Portela, Loures) (n=1)

João José L. Alves Martins (alf mil art, BAC 1, 1968/69, Lisboa) n=1)

José P. B. Guerra (1º Cabo, 1971/73) (n=1)

Lassana Djaló (, o mais bedandense de todos os bendandenses, Lisboa) (n=1)

Luís Graça (fur mil, CCAÇ 12, 1969/71, Alfragide/Amadora) mais Alice (n=2)

Luís Nicolau (o homem do SPM, 1972/73, Benedita, Alcobaça) (n=1)

Renato Vieira de Sousa (cap inf, 1967/68, hoje cor ref, Lisboa) (n=1)

Rui [Gonçalves dos}  Santos (o mais vellhinho dos bedandenses, 1962/64, Lisboa) (n=1

Victor Luz (fur mil, 1967/68), mais esposa e 1 casal amigo (n=4)

Não compareceram mas estavam pré-inscritos (n=6)

Amadeu M. Rodrigues Pinho (alf mil, 1967/68)

António Rodrigues (O Capitão do Estandarte: o último Alferes / Capitão, fiel depositário do estandarte e da Cruz de Guerra)

Carlos Nuno Carronda Rodrigues (alf mil , hoje cor ref)

José Caetano

José Vermelho [ex-fur mil, CCAÇ 3520, Cacine; CCAÇ 6, Bedanda; e CIM, Bolama, 1972/74,]

Toni [António,] Teixeira [, ex-alf mil,  CCAÇ 3459/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto; e  CCAÇ 6,  Bedanda,  1971/73;  Espinho)
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2. Comentário do editor LG:

Joaquim, apanhaste-me de "baixa"...Lamento muito a morte de mais um dos nossos camaradas que passaram pelas "africanas"... O "Salazar", como era carinhosamente  tratado pelos "bedandenses", não é do meu tempo nem do teu, mas convivvemos com ele, tu muito mais do que eu. (Eu esporadicamente, em 2013, nos convívios da Amadora e em Peniche).

Não chegou a perfazer os 83 anos, este nosso veterano. Aqui fica a tua homenagem, e a de todos nós. Ele  não será inumado na "vala comun do esquecimento", mesmo que a interação com o nosso blogue tenha sido muito diminuta. Fica aqui, neste cantinho do ciberespaço, o registo de quem se lembrou na vida e na morte.

Transmite às "Onças Negras" e demais "bedandenses"  as nossas  condolências, bem como à sua família natural, esposa, filho, afilhada. 

Juntei  mais umas fotos dos nossos convívios.  Se, nesta viagem de saudade, que vais empreender à Guiné-Bissau, com início no dia 9, conseguires chegar a Bedanda, tira algumas fotos das vossas comuns geografias emocionais. E partilha depois com todos nós. Boa viagem, melhor regresso. 

Amadora > Venda Nova > Restaurante "O Gomes", às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 > "O Eduardo Cesário Rodrigues, mais conhecido por "Salazar". Este nome que lhe é dado desde os anos 50, faz quase parte do nome dele. Eu costumo colocar no final do nome dele Salazar entre aspas. Como se fosse um título!". (**)

Foto (e legenda): © Hugo Moura Ferreira (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaraada da Guiné.]

Amadora > Venda Nova > Restaurante "O Gomes", às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 > Da esquerda para a direita, Gualdino da Silva, o lugar (vazio) deixado em memória do Tony, e o Joaquim Pinto Carvalho 

Foto: © Manuel Lema Santos (2013). Todos os direitos reservados. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaraada da Guiné.]

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Notas do editor:



quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25080: Historiografia da presença portuguesa em África (404): Um documento assombroso: "Viagem à Guiné Portugueza", por Costa Oliveira (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Junho de 2023:

Queridos amigos,
O Tenente da Armada Real que está à frente da comissão delimitadora das fronteiras luso-francesas é um homem culto, aberto a sentir-se surpreendido pelas belezas africanas, profundamente magoado com as velhacarias perpetradas pelos franceses, foram hábeis a barrar-nos o caminho para o Futa-Djalon, continuando a beneficiar de poderem comerciar no Forreá. Descreve tudo quanto observa, nem vai faltar um ataque de abelhas, já estiveram no Cantanhez, apercebe-se que Dandum não oferece qualquer saída para chegar ao Futa, continuam em território francês onde igualmente se observam devastações a cargo dos Biafadas contra Fulas, ali o ódio não tem fronteiras entre território português ou francês. A missão prossegue, um dos delegados franceses já foi a Bissau fazer partir o material e os abastecimentos que têm a povoação de Geba como destino.

Um abraço do
Mário



Um documento assombroso: "Viagem à Guiné Portugueza", por Costa Oliveira (2)

Mário Beja Santos

O Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, 8.ª série, números 11 e 12, 1888-1889, acolhem um documento de grande valor histórico intitulado “Viagem à Guiné Portugueza”, o seu autor é E. J. da Costa Oliveira, Oficial da Armada Real, Comissário do Governo para a delimitação das possessões franco-portuguesas da costa ocidental de África. Fez-se a viagem de Bolama até ao Sul, o Tenente Costa Oliveira não esconde o seu deslumbramento com tanta beleza natural e vai perseguir com as suas ricas observações que permitem ao leitor de hoje perceber o que era a vida no Sul não só da Guiné portuguesa como da Guiné francesa.

Logo um dado sobre a hospitalidade: “Na Guiné, como todos sabem, a nenhum estranho é permitida a entradas nas tabancas ou praças sem prévia autorização dos chefes; por isso, quando o régulo Sayon soube da nossa chegada aos seus domínios, enviou uma enorme embaixada para nos cumprimentar e introduzir na povoação, onde nos esperava com a sua corte.” Descreve a receção que se pautou pela pompa e circunstância, fala-se do Cantanhez que o oficial da armada irá visitar e apresenta-se o rio Cacine: “É como o rio Grande de Bolola, um enorme esteiro ou braço de mar aonde vão desaguar numerosos ribeiros. A borracha é principalmente o produto indígena que ali se permuta por bertanjil (pano azul de algodão), armas de fogo, etc.”

Chegou a hora de fazer um comentário bastante crítico ao comportamento dos negociadores franceses que nos quisera vedar as saídas para o Futa-Djalon:
“Cortada a Guiné portuguesa na fronteira Este do Futa-Djalon pelo meridiano dos 16º O de Paris, cercada pelos outros dois lados pelos franceses ou tribo da sua proteção, e cumprindo-se o Tratado de 1881 com almami do Futa, a quem Mudi-Yaiá obedece, devemos ter a certeza que o comércio em grande escala deriva para todo o território francês, se não fizermos imediatamente um esforço inaudito para obstar à corrente apenas começada.”

E não deixa de comentar que Mamadu Paté obedece a Mudi-Yaiá. Partiu a expedição para Kandiafará. Foram acompanhados o primeiro-ministro do rei Talibé, o bom Ciré e pelo marabu Abakari abalaram de Amadu-Bubu no dia 24 ao amanhecer e depois de uma penosa marcha devido a inúmeros esteiros e pequenos regatos que tiveram de vadear, de vaza mole e por povoados de crocodilos, alcançaram Kakondo e ali pernoitaram. Observa que saindo do Kakondo o país começa a elevar-se suavemente para Este, a vegetação é mais robusta e variada, anuncia a feracidade do solo, os campos estão trabalhados pela mão do homem e veem-se grandes pilhas de maçaroca de milho miúdo defendidas do cacimbe da noite por coberturas de palha, e não deixa de comentar que esta abundância e bem-estar pode ser alterada a qualquer momento pelas correrias dos Biafadas que não deixam os Fulas em descanso.

Veja-se agora esta descrição de Costa Oliveira:
“Anseio inexcedível, principalmente em Kandembel – a povoação mais bonita que atravessámos – a originalidade dos vestuários das raparigas Fulas, abundância de magnífica água, gado vacum e outros animais domésticos, campos imensos cobertos de lindíssimas flores, centenares de rolas e outras aves de penas brilhantes e de variadas cores, voando de árvore para árvore em bandos enormes, um céu azul puríssimo, iluminado por um sol de fogo e uma brisa fresca e embalsamada, tornam esta região a mais formosa que percorremos em toda a nossa viagem no sertão. Embevecidos nesta paisagem ridente e encantadora, caminhámos até ao pôr do sol e, descendo uma ladeira bastante íngreme, avistámos de repente e a pouca distância as primeiras cubatas de Simbely.
Simbely está situada em território francês e na margem esquerda de um ribeiro que vai desaguar ao Cogon, perto de Kandiafará. Fulas e Biafadas tinham reunido os seus homens de guerra para mutuamente se desagravarem de ofensas por eles reputadas graves, mas realmente sem nenhuma importância. Era o ódio de raça, a mira no roubo e nada mais que impelia Mamadu Paté, rei do Forreá, e Mamadu Jolá, chefe dos Biafadas, a marchar à frente dos seus exércitos, a caminho de Buba, aonde se havia de decidir o pleito, que aparentemente tanto os magoava.”


Refere que pernoitaram em Simbely, o acolhimento foi corretíssimo. Nada mais consta desta viagem até Kandiafará que demorou 14 dias, foram respeitados pelos chefes das povoações por onde transitaram; encontram os membros da comissão francesa antes de entrar em Kandiafará que ele descreverá deste modo:
“Kandiafará, situada na margem direita do Cogon ou Compony, deve ser um lugar insalubre por causa dos pântanos que o rodeiam. Todos, à exceção de M. Galibert, sofriam de febres paludosas, a ponto de M. Noury ter de se recolher à cama com uma espécie de perniciosa. Foi carinhosamente assistido por todos e pelo nosso enfermeiro que recebeu ordem de pôr à sua disposição a nossa ambulância.” Depois de apresentar Dandum, hoje povoação portuguesa, volta a criticar o comportamento dos franceses que guardaram para si apenas a estrada de Kadé, mais uma outra forma de impedir o acesso dos portugueses ao Futa-Djalon e tece o seguinte comentário: “Eis aqui os estupendos resultados de se fazerem tratados de delimitação sem o conhecimento prévio do que se pretende delimitar!” E aproveita a circunstância para também denunciar o comportamento dos régulos do Futa-Djalon que estabeleceram acordos de exclusividade com os franceses, para efeitos comerciais. E volta a tecer as suas críticas: “Que diferença de procedimentos! Uns, os franceses, estabelecem que é proibido a qualquer súbdito de outros países o viajar e comerciar livremente no território Futa; nós, abrimos o Forreá a todo o comércio e garantimos até a segurança dos agentes e suas mercadorias!”

Os membros da comissão francesa continuavam doentes, resolveu-se partir numa pequena caravana.

A 1 de março de 1888 as duas comissões delimitadoras partiram de Kandiafará para o interior a fim de determinarem o curso médio dos rios Cogon e Kolibá, M. Galibert partiu para Bissau para fazer conduzir a Geba a carga de mantimentos pertencentes à expedição francesa.

Inevitavelmente iria aparecer um ataque de abelhas: “As abelhas tinham atacado a caravana, e era forçoso ceder-lhes o acampamento, que elas disputavam com pertinácia! De repente desapareceram e julgando eu o incidente acabado atravesso a ponte. Ainda não tinha chegado perto de M. Brosselard e já as abelhas voltavam a atacar-nos com mais fúria e em enxames mais numerosos! O burro, completamente coberto daqueles terríveis himenópteros, saltava, corria, deitava-se no chão, espojava-se, levantava-se para se tornar a deitar, coitado, parecia doido! Nós todos corríamos em diversas direções, fugindo para longe.” Lá se fizeram algumas fogueiras e o fumo afugentou as abelhas. Após o almoço, Costa Oliveira e M. Brosselard foram visitar o rio Cogon que distava do acampamento cerca de 2 km: “É um formoso rio, o Cogon! As suas margens altas de mais de 3 metros são tapadas por densa vegetação e árvores seculares. Deve ter, neste lugar, uns 200 metros de largo e ser bastante profundo, pois mesmo na margem não teria menos de 2 a 3 metros.”

Levantaram acampamento e abalaram para Kumataly, uma importante povoação fortificada.

Carta da Guiné Portuguesa, século XIX, Arquivo Histórico-Ultramarino
Carta da província da Guiné, 1912
Carta da colónia da Guiné, 1933

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25054: Historiografia da presença portuguesa em África (403): Um documento assombroso: "Viagem à Guiné Portugueza", por Costa Oliveira (1) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25038: Notas de leitura (1655): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (6) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Dezembro de 2023:

Queridos amigos,
Os autores observam a evolução da situação político-militar entre 1966 e 1967, do lado português renascera a motivação com a chegada do helicanhão e do Alouette III, para suporte das operações de superfície, do lado do PAIGC remodelaram a estratégia introduzindo sistemas antiaéreos, nomeadamente na península do Quitafine; a propaganda do PAIGC brandia nos areópagos internacionais de ter autoridade em metade do território, um hábil mantra propagandístico, de muito difícil contestação, quer forças especiais quer as forças em quadrícula quando atingiam um objetivo podiam destruir os meios existentes mas tinham rapidamente que retirar, a guerrilha montava dispositivos que iam de emboscadas ao uso de morteiros. Para o Comando-Chefe e para a Força Aérea havia problemas delicados como os que foram postos pela Operação Estoque, bombardear horas a fio os tais lugares que dispunham de sistemas de defesa antiaérea punham problemas humanitários, o bombardeamento podia-se saldar numa autêntica carnificina da população civil, daí terem-se lançado panfletos a pedir a esta população que se deslocasse do local. Evidentemente que o fator surpresa ficou comprometido.

Um abraço do
Mário



O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974
Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (6)


Mário Beja Santos

Deste segundo volume d’O Santuário Perdido, por ora só tem edição inglesa, dá-se a referência a todos os interessados na sua aquisição: Helion & Company Limited, email: info@helion.co.uk; website: www.helion.co.uk; blogue: http://blog.helion.co.uk/.

Capítulo 2: Eles não conseguiram parar a nossa luta


Recapitulando a evolução dos acontecimentos de 1966 para 1967, observam os autores que do lado português se ganhara confiança com a chegada do Alouette III, do Fiat e da possibilidade de utilizar na atividade operacional o helicanhão. Do lado do PAIGC, e após o tremendo susto provocado pela entrada em cena do helicanhão, Amílcar Cabral readaptou a estratégia do PAIGC, a guerra expandiu-se, apareceu na propaganda do PAIGC um conjunto de territórios tratados como zonas libertadas, onde o partido nacionalista alegadamente dominava e governava através de políticas rudimentares abarcando a economia, a saúde, a educação, apareceram mesmo os chamados armazéns do povo. Já em 1966, o PAIGC reivindicava a libertação de mais de metade do território, uma estatística veementemente contestada pelas autoridades portuguesas, mas de difícil refutação, as próprias forças portuguesas sabiam perfeitamente que mesmo quando desalojavam ou destruíam instalações precárias dos guerrilheiros, milícias e populações, mal abandonavam os locais esses mesmo guerrilheiros, milícias e populações regressavam, alterando o seu posicionamento, procurando assim também enganar os meios aéreos e não serem atingidos por bombardeamentos.

Seja como for, estas zonas ditas libertadas representavam uma componente essencial do PAIGC na sua estratégia mais ampla, divulgada como o progresso militar e a capacidade administrativa política que legitimava o movimento de libertação. Amílcar Cabral afirmava: “Nas nossas regiões libertadas temos agora os ingredientes de um Estado. O nosso povo tem uma personalidade política e vida económica e cultural, é o povo que governa o povo.” A natureza desta mensagem dava confiança a quem estava sob a égide do PAIGC, começaram a surgir filmes e reportagens que se publicavam e mostravam em diferentes países, e toda esta dinâmica encorajava o apoio de benfeitores estrangeiros, foi a alavanca para o sucesso do PAIGC a longo prazo.

A única forma de Portugal refutar ou procurar contrariar a propaganda do PAIGC quanto a reivindicações de domínio territorial tinha de se exprimir através da ocupação militar, criando destacamentos de diferentes dimensões e intervindo militarmente, na tentativa de desmantelar as posições do PAIGC. Em 1966, as forças portuguesas tinham adotado uma estratégia predominantemente “posicional”, fortificando as guarnições não só nas principais povoações como criando ou reforçando destacamentos e povoações em autodefesa, procurando intimidar a guerrilha por meio de emboscadas ou minas, ou contrariando emboscadas e minas por parte do PAIGC. Como explicou o Chefe de Estado-Maior do Exército, General Câmara Pina, durante uma visita em Abril à Guiné: “Para nós, é fundamental neste momento garantir a segurança das populações; é por isso que empregamos as nossas forças em missões mais estáticas, independentemente da utilização operacional das forças especiais.”

Um jornalista britânico que visitou na época a Guiné teve uma leitura menos positiva da situação, escrevendo que as forças terrestres portuguesas estavam acantonadas e sitiadas em 60 vilas, povoações e quartéis fortificados, só a reagir às ações do PAIGC, deixando à Força Aérea a iniciativa para projetar rapidamente a presença portuguesa em áreas dominadas pelos rebeldes.

Surgiu, entretanto, uma capacidade antiaérea do PAIGC, particularmente nas chamadas zonas libertadas do Sul. Cabral e outros líderes partidários tinham prometido defender e alargar estas áreas libertadas a todo o custo, e uma vez que os portugueses optaram por atacá-los principalmente pelo ar, os guerrilheiros do PAIGC teriam de lhes resistir. E, para esse efeito, concentraram os seus meios e atividade de defesa antiaérea em certos pontos do Sul, onde o PAIGC estava mais entrincheirado. De 1963 a 1965, quase dois terços de todos os incidentes antiaéreos relatados ocorreram no Setor Sul. Houve uma ofensiva aérea de três dias para neutralizar posições antiaéreas na região do Cantanhez (Operação Resgate, de 17 a 20 de dezembro de 1965), esta operação foi a primeira centrada em procurar neutralizar as defesas antiaéreas do PAIGC, o sucesso foi relativo, não foi destruído o poder dos guerrilheiros. Ao longo da primeira metade de 1966, os insurgentes continuaram a expandir e consolidar a sua presença nas penínsulas do Cantanhez e do Quitafine. O Quitafine teve grande importância para a guerrilha, assegurava transporte costeiro e fluvial, área influente para corredores de ligação à República da Guiné, por isso estava no topo das prioridades para a defesa antiaérea do PAIGC.

O Coronel Abecasis observou que os militantes de Cabral começavam a desafiar a FAP com arrogante ousadia, a Operação Resgate provocara danos a várias aeronaves portuguesas que sobrevoavam a região. As posições antiaéreas do PAIGC também ameaçavam as operações aéreas portuguesas de apoio às guarnições de Cacine e Cacoca. No total, os disparos antiaéreos relatados pela FAP aumentaram de 103, durante 1965, para 110, em 1966, e novamente dois terços ocorreram na zona Sul da Guiné. Ao mesmo tempo que acelerava o ritmo da atividade antiaérea, o PAIGC melhorava o seu arsenal. Inicialmente, havia guerrilheiros com armas ligeiras, em meados de 1964 os insurgentes estavam equipados com metralhadoras antiaéreas (AAMGs) de 7,6 mm e 12,7 mm, depois o Bloco Comunista nos anos seguintes fez a entrega de canhões antiaéreos de 14,5 mm da série ZPU, de design soviético: o ZPU-1, de cano único, e o ZPU-2, de cano duplo, e o ZPU-4, de quatro canos, o que veio ampliar significativamente o alcance da defesa aérea do PAIGC.

Este sistema da defesa antiaérea funcionava sobre rodados, limitava-se em grande parte para operações bem-definidas, usavam-se estradas ou trilhos no Sul. A ameaça antiaérea aumentou em termos de alcance e sofisticação com um aumento correspondente de risco para as aeronaves da FAP (ver o quadro n.º 4 e o gráfico dos incidentes relatados).

A Zona Aérea lançou uma série de operações para mitigar a ameaça no Sul da Guiné, começando com a Operação Estoque, em agosto de 1966, destinada a destruir ou desmantelar a organização do PAIGC na península do Quitafine. A operação foi concebida como um ataque de 12 horas em duas fases. Na primeira fase, que durou das 19 até à meia-noite de 9 de agosto, C-47 modificados com bombardeiros noturnos tentaram neutralizar as posições antiaéreas do PAIGC, a iniciativa era considerada essencial para uma segunda etapa, como a que consistiu principalmente numa operação de reconhecimento na superfície e missões de intermissão nos corredores de abastecimento e infiltração a partir da República da Guiné. Participaram também na operação da Força Aérea, além dos C-47 e dos T-6, os recém-chegados Fiat. O Quitafine era uma área que albergava significativa população civil e tanto Schulz como Abecasis reconheceram que bombardeamentos indiscriminados podiam resultar em inaceitáveis carnificinas, dando aos sobreviventes uma razão convincente para apoiar a guerrilha. Estoque foi precedida, tal como ocorrera em 1964 na Operação Tridente, do lançamento de folhetos no dia 7 de agosto, aconselhando os não combatentes a desocupar aquela área. Como observou mais tarde Abecasis, o principio da surpresa foi sacrificado por razões humanitárias.

Distribuição e atividade das forças do PAIGC entre maio de 1966 e fevereiro de 1967 (Matthew M. Hurley)
Atividade militar do PAIGC/FAP entre 1963 e 1966 (ataques de morteiro e bazuca, emboscadas, minas e ações defensivas), segundo Matthew M. Hurley
Os sinistrados portugueses em 1966 (mortos e feridos) totalizaram 1266, incluindo ações em combate e acidentes (Coleção José Matos)
Uma escola do PAIGC em zonas libertadas na região norte (Coleção Roel Coutinho)
Tabela com o sistema antiaéreo do PAIGC entre 1963 e 1970
Família na zona libertada de Cubucaré a segurar vestígios de uma bomba de napalm lançadas pela Força Aérea Portuguesa (Coleção Mikko Pyhälä)
Fogo antiaéreo do PAIGC referindo incidentes entre 1963 e 1967 (Matthew M. Hurley)

(continua)
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Notas do editor:

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Último post da série de 1 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25027: Notas de leitura (1654): Notas do diário de um franciscano no pós-Independência da Guiné-Bissau (2) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24970: O que é feito de ti, camarada ? (19): Manuel Maia, o "bardo do Cantanhez", ex-fur mil, 2ª C/BCAÇ 4610/72 (Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74)


Guné > Região de Tombali > Vista panorâmica de Cafal Balanta: em primeiro plano,  o nosso camarada Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610.




Guiné  > Região de Tombali > Cantanhez > Cafal Balanta > O "resort" do Manuel Maia,  o poeta  que irá cantar, em sextilhas, tanto  o "seu" Portugal como a "sua" Guiné). (O Manuel Oliveira Maia é  autor de: (i) História de Portugal em Sextilhas, 2009; e (ii)  "Guiné que aprendemos a amar", 2013)

Fotos (e legendas): © Manuel Maia (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem com'plementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]







Manuel Maia



1. O Manuel Maia (o nosso bardo do Cantanhez, Manuel de Oliveira Maia, ex-fur mil da 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), entrou para a Tabanca Grande em 13/2/2009; tem 123 referências no nosso blogue.

Já há uns largos anos que deixámos de o ter no nosso radar... embora continuássemos, até 2020, a dar-lhe os parabéns pelo seu aniversário natalício (que é a 30 de de junho).

A última mensagem que recebemos dele (uma mensagem algo apocalíptica, junqueiriana, misteriosa, estranha, perturbadora, amarga) foi  sob a forma de um comentário ao poste P13346 (*), a agradecer a amizade e a camaradagem que lhe votávamos na Tabanca Grande: 

(...) Camarigos,

Há um ditado português antigo que diz que quem tiver amigos não morre na cadeia... A vossa amizade provou-o.

Sei que, se por qualquer contingência do destino, agora que o país caminha para a desagregação total depois da perda de identidade motivada pelo cataclismo bem pior que o terramoto do séc. XVIII, ocorrido à porta da entrada no último quartel do passado século, também conhecido por golpada e perpetrado por uns quantos traidores, depois disso diria,o pequeno passo para o abismo da perda da independência está a perder centímetros de tal forma que deixará de ser passo engolido pelos acontecimentos tenebrosos do dia a dia...

Não consigo calar o que sinto, tenho o coração muito perto da boca e da mesma forma que zurzo em tudo aquilo que me parece errado, reafirmo que a vossa amizade é um bem inquebrantável e de que não abdico.

O meu mais profundo reconhecimento a todos.

Que Deus vos proteja e vos dê saúde para que no dia em que me levarem de castigo para uma cela correcional por ter o coração demasiado perto da boca, me possais aparecer a levar os cigarros que não fumo e os abraços que sei serem verdadeiros. Abraço-vos a todos | 1 de julho de 2014 às 14:54



2.     O Manuel Maia costumava frequentar os convívios da Tabanca do Centro:  o último terá sido o 53º encontro, em maio de 2016, conforme o atesta o poste P797, de 31 de maio desse ano, do blogue da Tabanca do Centro.

 A partir desta data os amigos e camaradas que lhe eram mais próximos deixaram de ter notícias dele. Não compareceu, por exemplo, â sessão de apresentação do livro escrito em parceria por ele e pelo JERO (José Eduardo Oliveira) (1940.2021) (Foto da capa, à direita.)

 No poste P1123. de 11 de abril de 2019, do blogue da Tabanca do Centro, pode ler-se:

(...) "Mau grado os esforços do JERO para encontrar o Manuel Maia, que terá deixado Portugal em 2016, não há a certeza que o apreciado poeta, autor da “História de Portugal em Sextilhas” e da “GUINÉTerra que aprendemos a amar” venha a estar presente em Alcobaça." (...).

Para além desta versão, também já ouvi, mais recentemente,  a de que estaria internado num lar por razões de saúde. A informação foi-me dada há escassas sermanas pelo José Ferreira da Silva, escritor, membro do Bando do Café Progresso, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689 / BART 1913 (Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), subunidade que era comandada pelo cap art Manuel de Azevedo Moreira Maia, também  falecido há pouco, no posto de tenente-general na reforma.

Também era membro do Bando do Café Progresso. (Os escassos comentários que encontrámos dele são de 2011.)

Se alguém souber do paradeiro do nosso camarada Manuel Maia,  o bardo do Cantanhez, que nos  dê notícia (***).

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Notas do editor;