sábado, 21 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20478: Os nossos seres, saberes e lazeres (369): Elogio do Penedo do Granada, do Zêzere e do Cabril (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Junho de 2019:

Queridos amigos,
Não se esconde o propósito de aliciar quem quer que seja a vir até ao Cabril do Zêzere, um local que não prescinde da sua carga mítica, com lendas e até artistas como Alfredo Keil e Luigi Manini que aqui se inspiraram para a trama e cenários de óperas. Diz-se mesmo que aqui houve fonte de inspiração para a Portuguesa, nada está confirmado mas é bom que tudo assim continue.
Este desfiladeiro assombroso, como não há outro em Portugal, só por pura ignorância não foi requisitado pelos produtores da Guerra dos Tronos, são fragas, córregos, penedias, tudo em tamanho gigante, as barragens disciplinaram o caudal do Zêzere, é habitualmente manso e o viandante assegura que não há mais silêncio tão profundo à solta como aquele que se desfruta do Moinho das Freiras a contemplar o rio rumorejante a caminho de Constância.
E como o Cabril é de encantos mil, qualquer dia voltamos ao assunto.

Um abraço do
Mário


Elogio do Penedo do Granada, do Zêzere e do Cabril (2)

Beja Santos

Não há em Portugal um desfiladeiro como este, o Cabril do Zêzere, bem perto da Barragem do Cabril, a funcionar depois de 1954, em pleno percurso médio do rio Zêzere. Aires Henriques e Nuno Soares no livro “Pedrógão Grande e o Cabril de Encantos Mil”, 2018, fazem alaude conveniente, registam o deslumbramento destas muralhas de quartzito silúrico ou de xistos muito duros, ninguém que por aqui passeie pode ficar insensível a estes penhascos gigantescos, nem na guerra dos tronos é tão intensa a força destas penedias. Ali perto da casa do viandante é a Foz de Pera, daí o privilégio que ele sente com aquela cumeada onde porventura, num dado assento, meditava um dos grandes vultos da oratória do seu tempo, Frei Luís de Granada, em frente temos outro maciço granítico, o dos Corutos. Vamos caminhar diretamente para a corrente do Zêzere, lá vai mansamente a caminho de Constância.


O viandante sai de casa, encaminha-se para o Moinho das Freiras, deixa para trás a Albufeira do Cabril, não o traz aqui nenhuma pescaria nem recriação náutica, nem achigã nem carpa nem caiaque, o que ele quer é mesmo passear, fazer este trajeto dramático até à Ponte do Cabril, a chamada Ponte Filipina. Estes caminhos de rocha granítica a declivar sobre o majestoso Zêzere têm odores oferecidos por arbustos, ervas e até terrenos cultivados, há urze, rosmaninho, trovisco, carqueja e muito mais; o viandante é assumidamente ignaro quanto às ervas, sabe que há o trevo, mas jamais reconhecerá a margaça, o saramago, o morrião ou a dedaleira. Aliás, quando percorre o Jardim da Devesa, aí sente-se bem, distingue tílias de criptomérias e loureiros. Quando faz com outros passeios em torno da Ribeira de Pera, está atento ao medronheiro, a salva, o lentisco, o pilriteiro, mas tem de ser ajudado, muito menos é capaz de saber o que é uma planta medicinal ou venenosa. Adiante.



Entrou-se no túnel a saltitar entre poças de lama, escorre água do teto e de várias fendas, há mesmo um gotejo de pequenas cascatas, e entra-se imediatamente nesse espetáculo das imponentes muralhas graníticas. Quem por aqui andou a viajar e a escrever fartou-se de encómios: Pinho Leal recordou o Cabril como “a mais formosa joia da Beira Baixa”, Raúl Proença considerou-o “um dos trechos mais arrogantes de toda a Europa, no seu género” e Guerra Maio, perante este cenário ofereceu-se dizer que era “tão áspero e abrupto como as margens do Coa e do Tua”. Este é o desfiladeiro de deslumbramento, pedras com líquen, tons de amarelo-torrado, por aqui se passeia e por vezes sem a consciência de que este rio não é fronteira nenhuma, serve igualmente os dois Pedrógãos, é um puro acidente da Natureza, os pedroguenses usufruem de toda esta beleza como terra sua, a despeito de um estar no distrito de Leiria e outro no de Castelo Branco. E assim caminhamos em direção à Ponte Filipina, entre tanta pedra abrupta onde desponta a vegetação resistente a frios álgidos e calores de fornalha.





Já se avista a Ponte Filipina, outrora teve uma grande importância estratégica em termos viários, como recordam os dois autores a que aqui se faz referência, está classificada como monumento nacional. Foi mandada edificar no período filipino (entre 1607 e 1610), serviu de esteio à rota dos peregrinos que, vindos do Sul e da raia com Espanha, buscavam Santiago da Guarda (no concelho de Ansião) e o eixo que melhor os podia conduzir à Galiza, até ao santuário de Santiago de Compostela. A ponte é toda construída em granito, mede 72 metros de comprimento, 26 metros de altura e apresenta três arcos. Até meados de 1954, data da inauguração da barragem do Cabril, foi o único ponto de passagem por léguas em redor, entre as terras ricas a Ocidente e as da raia com Espanha. Custou uma fortuna, 30 mil reis, o dinheiro veio escoltado por uma força militar, havia que acautelar aquele basto dinheiro da surpresa dos ladrões. Do lado de Pedrógão Grande, subindo o caminho, podemos ir à Senhora dos Milagres e do lado de Pedrógão Pequeno temos lá em cima a Senhora da Confiança, em ambos os pontos obtemos admiráveis panoramas sobre o Zêzere e grande parte da Beira, até à Serra da Estrela.




Mais tarde aqui se discorrerá sobre as lendas da região, como este território foi oferecido por D. Afonso Henriques, e daí os traços medievais que se podem encontrar no centro histórico de Pedrógão Grande, a partir do século XII aqui houve povoamento, igreja, explorações agrícolas, não faltam sinais da História antiga. Deixa-se para mais tarde a contemplação que o viandante faz da paisagem próxima que desfruta para a outra margem do Zêzere, já em Pedrógão Grande, o Mingacho, quando aqui chegou estava tudo carbonizado pela devastação de 2003, felizmente que a arborização regressou. Durante séculos aqui se viveu da agricultura, da floresta e da resina, inexoravelmente a partir da década de 1950, as gentes muito pobres, indiferentes às panorâmicas e miradouros, à imponência desses rochedos graníticos, quis virar costas à miséria, preparou a desertificação, hoje uma constante do Interior. Despedimo-nos do leitor mostrando as plantas extremosas que o cercam lá no alto do Bairro do Cabril, em Pedrógão Pequeno, e promete-se voltar ao convívio porque do Cabril os encantos são mil.






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Nota do editor

Último poste da série de 14 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20452: Os nossos seres, saberes e lazeres (368): Elogio do Penedo do Granada, do Zêzere e do Cabril (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20477: Memória dos lugares (403): Cutia, ao tempo do Jorge Picado, cmdt da CCAÇ 2589 / BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71)


Guiné > Região do Oio > Mansoa > Cutia > Destacamento de Cutia > c. 1970 > Foto enviada  pelo César Vieira Dias, ex-fur mil sapador, CCS / BCAÇ 2885, um batalhão que esteve em Mansoa e Mansabá desde maio de 1969 a março de 1971, e a que pertencia a CCAÇ 2589, de que o Jorge Picado foi um dos comandantes, de  24/2/1970 a 15/2/1971(*)

Foto: © César Dias (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 2 >  Guiné > Região do  Óio > Mansoa > Cutia > O Domingos Robalo, em primeiro plano. A estrada alcatroada Mansoa-Mansabá atravessava a tabanca e destacamento de Cutia. (***)

  
Foto nº 3 >  Guiné > Região do Oio  > Mansoa > Cutia > Obus 14... A "mata do Morés" começava logo a seguir (, ao fundo, na foto)... Tratou.se de ação sobre a mata do Morés, levada a efeito a partir do destacamento de  Cutia, a nordeste de Mansoa,  entre os dias 17 e 27 de julho de 1970. Nessa altura visitava a Guiné um grupo de deputados da  Assembleia Nacional, da chamada Ala Liberal, entre eles o seu chefe de fila, Pinto Leite.


Foto nº 4 >  Guiné > Região do Oio > Mansoa > Cutia > Acomodações: o "Matador", veículo pesada que rebocava o obus 14: eram precisos uns caixotes de munições para se poder ao 1º andar... Ao fundo, do lado esquerdo um dos "bunkers" do "resort turístico" que era o destacamento de Cutia...


 Foto nº 5 >  Guiné > Região do Oio > Mansoa > Cutia > Rancho... Era aqui a "cozinha" da CCAÇ 2589, na berma da estrada, onde também se situava a "messe", sob os poilões.


 Foto nº 6>  Guiné > Região do Oio > Mansoa > Cutia > Churrasco


Foto nº 7 >  Guiné > Região do Oio  > Mansoa > Cutia >  Relaxando... Sentado,  numa "chaise longue",  o alf mil Francisco Dias Corado Assude,  da CCaç 2589, alentejano de Campo Maior.


Foto nº 8 >  Guiné > Região do Oio > Mansoa > Cutia > Confraternização dos artilheiros do GA 7, ali temporariamente destacados (de 17 a 27 de julho de 1970)


Foto nº 9 >  Guiné > Região do Oio > Mansoa > Cutia > O alferes de óculos é o sobrinho do Sá Viana Rebelo, que esteve, também, com o Domingos Robalo  na operação Mabecos em fevereiro de 1971... Ambos eram do GA 7... À direita,em segundo plano, sentado, o alf mil Francisco Dias Corado Assude,  da CCaç 2589, destacado em Cutia com o Gr Comb.


Foto nº 1 > Guiné > Região do Biombo > Estuário do Rio Mansoa >  Recuperação dos restos do Heli AL III, caído por acidente na foz do rio Baboquem, afluente do rio Mansoa, em 25 de julho de 1970, e que transportava quatro deputados da Assembleia Nacional, em visita à província (além da tripulação) (***)


Fotos (e legenda): © Domingos Robalo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário (**) do Jorge Picado, ilhavense, membro sénior da nossa Tabanca Grande, veterano dos nossos encontros nacionais, tendo cerca de 110  referências no nosso blogue; engenheiro agrónomo reformado; ex-cap mil, CCAÇ 2589 / BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá, e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72; 

 

1.1. Boas fotografias da "Pousada de Cutia", excelente para "acalmar os nervos"!

Na foto no 2, o Domingos Robalo em plena estrada alcatroada que atravessava o destacamento de Cutia. 

Na foto nº 3,  pode-se ver como pano de fundo aquela "barreira cerrada" do início da grande "Mata do Morés", bem pertinho da "Pousada" [Cutia].

Pode-se ver, pela traseira da cabeça do Domingos, um a estacada 1.ª vedação de arame farpado onde existiam penduradas as célebres garrafas vazias de cerveja. Seguia-se a zona armadilhada e minada até uma 2.ª vedação. 

Na foto nº 4, junto dos poilões que ladeavam a estrada, observando-se um pouco as proximidades do abrigo subterrâneo. 

Na foto nº 5, a "cozinha", na berma da estrada, onde também se situava a "messe", sob os poilões. 

Na  foto nº 7, à esquerda,  sentado numa "chaise longue",  o alf mil Francisco Dias Corado Assude,  da CCaç 2589, alentejano de Campo Maior,  e Engº Téc. Agr. na vida civil, dos antigos Serviços Agrícolas. 

Na foto nº 9, à direita,  o mesmo Alferes. 

Com essas flagelações nocturnas, "tão silenciosas" o pessoal devia repousar bastante! Vá lá, que depois de todo "o festival", os "vizinhos do Morés" foram compreensívos e continuaram amigos de Cutia. 

Ainda bem, para mim, que esse episódio me apanhou de férias na Praia da Barra, onde nessa época tínhamos aí vivenda. 

1.2. A viagem fatídica para os malogrados deputados e tripulantes do héli [, foto nº 1], não foi Mansoa-Bissau, mas sim Teixeira Pinto-Bissau (****). Aliás recordo-me de ler uma boa descrição feita por um dos jornalistas que seguia num dos hélis que conseguiram pousar numa bolanha da margem direita do Rio Mansoa e assim escapar à tempestade. Julgo que foi numa das revistas da A25A. 

Fiz algumas vezes esse trajecto, Teixeira Pinto-Bissau, de héli, que de facto na época das chuvas rapidamente poderia apanhar com grandes alterações atmosféricas e recordo de numa delas ter apanhado um valente susto, quando vi uma "muralha preta" aproximar-se rapidamente pela frente. Só que dessa vez o piloto transmitiu-nos que já não nos apanhava no ar, pois a BA estava bem pertinho. 

De facto, pouco depois de pousarmos e, já no resguardo das instalações, desabou passou aquela barreira de chuva e vento que todos conhecemos, por várias vezes. 

1.3. Luís, creio que esta acção, em si, não teve nome. No BCaç 2885, houve sim nesses dias algumas operações, para as forças que fizeram:

(i) escolta e segurança descontínua entre Nhacra e Cutia à coluna com material de Artilharia, no dia 17 (Op Filarmónica);

(ii) patrulha na região do Cubonge ao sul da "grande área do Morés", no dia 18 (Op Fígado);

(iii) contra-penetração do eixo In Morés/Sara com contacto no dia 22 (Op Farelo);

(iv) Op Fechadura no dia 24, para fornecer a segurança à deslocação do grupo de Deputados, entre Nhacra e Mansabá, em que se empenharam 3 Gr Comb da CCAÇ 2588, 2 Gr Comb da CCAÇ 2589, 4 Gr Comb da CCaç 15 (Balantas), 4 Gr Comb da 2732, 3 Pel Mil e 1 Pel Auto Panhard de reforço ao BCaç;

(iv) em 25 e 26 ainda patrulhas na região do Cubonge (Op Frenezim e Op Fazenda). 

Nunca percebi como "nasciam" os nomes das operações. 

São as achegas que posso dar sobre este episódio, que felizmente não vivi, e só mais tarde conheci. 

Bem e aproveito para desejar um Bom Natal e um Muito Feliz 2020 para toda ESTA GRANDE FAMÍLIA DOS CAMARADAS DA GUINÉ e SEUS FAMILIARES. Jorge Picado


Guiné > Mapa geral da província (1961) > Escala 1/500 mil > Região do Oio > Detalhe: posição relativa de Cutia no triângulo Bissorã- Mansabá- Mansoa. Ficava  a meio, na estrada Mansoa-Mansabá. (***)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)
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12 de julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3051: Estórias de Jorge Picado (4): Como cheguei a Comandante da CART 2732 (Jorge Picado)

Guiné 61/74 - P20476: Em bom português nos entendemos (24): o crescimento do ensino da língua portuguesa em Macau, 20 anos depois da transferência da administração do território para a China


República Popular da China > Região Administrativa Especial de Macau > Centro Histórico, Património Mundial da UNESCO > O famoso Largo do Senado. Foto: cortesia de www.macauheritage.net. Ver aqui sítio em português: http://www.wh.mo/pt/site/ :

"O Largo do Senado desde sempre se assumiu como o centro urbano de Macau ao longo dos séculos e é, ainda hoje, o local mais popular para eventos públicos e festejos. Situado próximo do edifício do antigo Senado, Sam Kai Vui Kun (Templo de Kuan Tai) recorda também o papel activo da comunidade chinesa local nos assuntos cívicos, sendo um exemplo claro da dimensão multicultural da comunidade de Macau. O Largo está rodeado de edifícios neoclássicos pintados em tons de pastel, criando uma ambiência geral de grande harmonia."

1. Com  devida transcreve-se um excerto do artigo, de 16 do corrente, do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, justamente sobre Macau e a Língua Portuguesa.

Recorde-se  que passaram 20 anos, ontem, do acordo entre Portugal e a China para a transferência de Macau (assinado em 13 de abril de 1987 e concretizado no dia 20 de dezembro de 1999).(Para saber mais, ver aqui o portal do governo de Macau, em português: https://www.gov.mo/pt/ ; para quem quiser visitar Macau, sugerem-se aqui alguns itinerários de viagem na história: 
https://www.macaotourism.gov.mo/pt/suggested-tours/crossroads-of-china-and-portugal )


Macau (*) e a língua portuguesa (**): 20 anos depois da transferência para a administração chinesa

 (...) 20 anos depois da transferência da administração de Portugal, de Macau, para a soberania da República Popular da China (...) , como convive  hoje  a língua portuguesa com os idiomas  mais falados no território: do patoá – também chamado "chinês das amas, língua de Macau ou língua macaísta" (...)  – ao mandarim e ao cantonês,  além do inglês?

Em Macau, são línguas oficiais o mandarim, que partilha com o restante território chinês, e o português, mas, na realidade, os macaenses falam o cantonês, idioma que é também o de Hong Kong. É o cantonês que prevalece em placas de informação, nos comunicados oficiais e na comunicação social, a par da língua portuguesa. Para contrariar esta situação, o Governo tem fomentado o ensino e a aprendizagem do mandarim, que, pese a sua dissemelhança com o cantonês, a maioria da população julga dominar. 

Há ainda uma pequena percentagem da macaenses que falam patoá, que é um crioulo outrora usado como linguagem familiar e na comunicação diária entre chineses e macaenses e também pelos escravos africanos e asiáticos. Este crioulo conserva em si vocabulário de origem portuguesa (...).

Não obstante os 20 anos de administração chinesa, o português continua a ter importância no território. Se, nos primeiros dez anos, se assistiu a uma diminuição na procura da aprendizagem desta língua, o fenómeno tem-se invertido mais recentemente, pois o ensino do português cresceu não só no ensino superior, onde a procura é mais significativa – em 1999/2000 havia cerca de 300 cursos lecionados em português, e atualmente são cerca de 1500 –, mas também nos ensinos primário e secundário, onde duplicaram as escolas com oferta de português – em 1999/2000 eram cerca de 28, e atualmente são 51. 

Paralelamente, o número de docentes que lecionam em língua portuguesa também registou crescimento significativo. Além disso, intensificou-se o intercâmbio de estudantes que partem para Portugal, maioritariamente, para aperfeiçoar a língua. 

Apesar de a dinâmica de aprendizagem do português ser mais visível no território de Macau, o fenómeno estendeu-se a toda a China, que tem cada vez mais universidades com oferta formativa de língua portuguesa e incentivos para a deslocação de estudantes a Portugal. Esta procura crescente, embora devida à herança cultural de Portugal, prende-se fundamentalmente com fatores profissionais e económicas, dado o português impulsionar a entrada no mercado de trabalho em diversas áreas, nomeadamente nos serviços administrativos da região de Macau. (...)

in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/atualidades/noticias/macau-e-a-lingua-portuguesa/3388 [consultado em 20-12-2019] (com a devida vénia...)

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Nota do editor:

(*) Vd. alguns postes com referências a  Macau (no nosso blogue são cerca de 40);

20 de abril de2019 > Guiné 61/74 - P19701: Os nossos seres, saberes e lazeres (319): Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu) - Parte III: Pequim e Macau, out / nov 1982

15 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17974: Historiografia da presença portuguesa em África (99): António Estácio: O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense - Parte I: (i) preâmbulo e (ii) generalidades

16 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12302: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (78): Notícias de Macau, do futuro grã-tabanqueiro Virgílio Valente, ex-alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74)

4 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10115: Agenda Cultural (209): Lançamento dos livros "Filhos da Terra - A Comunidade Macaense Ontem e Hoje" e "O Livro de Receitas da Minha Tia/Mãe Albertina", Instituto Internacional de Macau, Lisboa, 11 de julho, 4ª feira, 18h.

18 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5673: Blogpoesia (63): Poemas de Macau e Hong Kong - Parte I (António Graça de Abreu)

14 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5465: Blogpoesia (60): Memórias da Escola Prática de Infantaria, Mafra e Macau (António Graça de Abreu)

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20475: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (8): Virgílio Valente, régulo da Tabanca de Macau, ex-alf mil, CCAÇ 4142, "Os Herdeiros de Gampará" (Gampará, 1972/74)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > Mapa de Fulacunda (1956) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Gampará e da Ponta do Inglês na foz do Rio Corubal

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)




BOM NATAL e FELIZ ANO NOVO

聖誕快樂,新年進步

Merry Christmas and Happy New Year


1. Mensagem de Virgílio Valente, terça, 17/12, 09:41


O nosso camarada da Tabanca da Diáspora Lusófona, Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], vive e trabalha há mais de 2 décadas, em Macau, região autónoma da China. F oi alf mil, CCAÇ 4142, "Os Herdeiros de Gampará" (Gampará, 1972/74). É   o nosso grã-tabanqueiro nº 709, desde 18 de dezembro de 2015. E doravante passa  a ser o régulo da Tabanca de Macau.

Recorde-se que Macau passou para a soberania da República Popular da China, justamente há 20 anos, em 20 de dezembro de 1999. É, a par de Hong Kong, uma das duas regiões administrativas especiais da República Popular da China.

A todos os meus amigos,
親愛的大家,
Dear All,

Desejo -vos
Bom Natal e um Feliz Ano Novo!
我希望你
聖誕快樂,新年進步
Wish You
Merry X'mas and Happy New Year

Virgílio Valente
韋子倫

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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20465: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (7): Paulo Salgado (ex-alf mil op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72)

Guiné 61/74 - P20474: Notas de leitura (1248): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (37) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Julho de 2019:

Queridos amigos,
Deixei para hoje uma questão referente à investigação da Guerra da Guiné que reputo do maior relevo. Na ausência de uma investigação sobre a guerra que abarque os seus antecedentes, à exceção do nacionalismo, o aparecimento de declarações a pedir a independência da Guiné, o mundo fervente de Dacar e Conacri onde proliferavam múltiplos grupos e onde paulatinamente o PAIGC passou a ter o papel de exclusivo representante na luta pela independência da colónia portuguesa, a atuação de Peixoto Correia e dos seus comandos militares, o desencadear das hostilidades no segundo semestre de 1962, as diretivas e instruções para ir travando os movimentos de guerrilha, o horror e o terror que se viveu no Sul, ainda antes de janeiro de 1963, o desnorteamento dos Comandos militares até à chegada de Louro de Sousa que, como agora se pode estudar, procurou ser lúcido na análise do terreno, incutindo uma mentalidade ofensiva para obstaculizar a progressão da guerrilha... É toda uma desarticulação que leva ao separar das águas, mas tudo ineficaz, como a História comprovou.
Acontece é que quem faz investigação mastiga em matéria mastigada, não vai aos Arquivos e dá como comprovado que tudo azedou devido às inépcias dos dois primeiros oficiais-generais...
Daí a importância que se atribui ao homem providencial, António de Spínola, veio tentar introduzir uma estratégia político-militar que colapsasse o PAIGC. É neste puro engano ou baile trapalhão na confeção de papéis que tem andado enfronhado o universo investigacional. Nem se reconhece validade à Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África e muito menos sequer arregaçar as mangas e ir até aos arquivos para confirmar o comportamento estratégico de Louro de Sousa e Arnaldo Schulz.
A História da Guerra da Guiné demorará muitos anos a fazer.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (37)

Beja Santos

“Com coragem lutando
nesta mesma ocasião
da 489 em Fevereiro
distinguiu-se uma Secção.

O Pelotão de Morteiros a alinhar
no dia 31 de Dezembro
só agora é que me lembro
que não escrevi esse azar.
Em Jumbembem foram pernoitar
poucas horas descansando.
À meia-noite tudo abalando,
andaram no mato perdidos,
foram de encontro aos bandidos,
com coragem lutando.

O Vitorino Gomes Pereira
no corpo foi atingido.
E ficando também ferido
o Gonçalves à sua beira,
o Sineiro da mesma maneira
foi ferido nesta operação.
Ordenou o Comandante do Pelotão
para ser tudo evacuado.
E dos Fulas morreu um soldado,
nesta mesma ocasião.

Uma emboscada armámos
entre Cuntima e Sitató,
matando 4 bandidos só
equipamento lhe tirámos,
duas armas apanhámos
ao grupo bandoleiro.
O nosso Comandante Cavaleiro
deu um louvor à rapaziada,
porque os terroristas levaram porrada
da 489 em Fevereiro.

O Alferes Carvalho a comandar
quis tirar bom resultado.
A Secção do Furriel Quadrado
viu os bandidos aproximar,
atirou-lhes a matar,
tombando alguns para o chão.
Barrozinho e Damas com a reacção
mostraram sua personalidade,
e lutando com heroicidade,
distinguiu-se uma Secção.”

********************

Tem sido nosso intuito enquadrar a zona de ação do BCAV 490 com a perceção da evolução da guerra, esta eclodiu formalmente em janeiro de 1963. Um dos paradoxos do estado atual de investigação da guerra da Guiné passa pela proliferação de elementos do consulado de António de Spínola e a míngua de interpretações quanto às estratégias seguidas pelos dois comandantes anteriores, Louro de Sousa e Arnaldo Schulz, isto a despeito dos diferentes volumes alusivos à Guiné da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África não terem minimamente ignorado as diretivas e instruções destes oficiais-generais, comprovadamente cientes da situação, dispondo as unidades militares em consonância com o agravamento da guerra, não só possuímos elementos sobre as ordens de batalha, como o dispositivo, o movimento e manobra, é muito o que se sabe sobre o processo operacional, o sistema de informações, a ação psicológica, e outros dados pertinentes. Contudo, a investigação não adianta um quadro clarificador: não possuímos uma sequência cronológica de toda a resposta militar. Como se exemplifica.

A tese de doutoramento de Josep Sánchez Cervelló intitulou-se “A Revolução Portuguesa e a sua influência na transição espanhola (1961-1976) ”, a tradução surgiu em Portugal na Assírio & Alvim em 1993. Uma investigação altamente sistematizada, onde se disseca o processo colonial, em todos os seus teatros de operações.

É útil ler o que ele escreve sobre este período na guerra da Guiné:  

“As dificuldades portuguesas nos primeiros dezassete meses de conflito ficam suficientemente demonstradas pelo facto de ter sido necessário substituir quatro vezes o máximo representante militar, até à chegada do General Schulz em Maio de 1974. Os problemas militares em breve convenceram certos sectores reformistas do regime de que seria mais cómodo abandonar a Guiné, devido ao elevado custo moral e humano exigido e pela falta de recursos do território. Em contrapartida, os mais ortodoxos entenderam que se abandonassem a Guiné não havia justificação para continuarem nos outros territórios.
Perante a degradação da situação militar, o Governo de Lisboa mandou para Bissau o então Brigadeiro Arnaldo Schulz. Quando ali chegou, o Exército tinha muitas dificuldades”.

E Sánchez Cervelló transcreve o que Schulz lhe disse numa entrevista com data de 1985:  

“Durante muitíssimos anos, o objectivo de uma guerra tinha sido sempre o de conquistar uma área do terreno, destruir o inimigo ou tirar-lhe a força de combater. Mas na guerra subversiva não há nenhum destes objectivos. O que há a fazer é ganhar simpatias, mas a instituição militar desse tempo ainda era a outra, a dos objectivos, em lugar da de conquistar vontades. De forma que a nossa actuação não se ajustava ao que pretendíamos”.

E o autor diz mais adiante:~

“Schulz tentou controlar o Sul e o Centro Oeste da colónia, perdidos desde o início da guerra, com acções de envergadura que foram um fracasso. A situação militar foi-se degradando progressivamente, apesar do incessante aumento de tropas, que passaram de menos de mil homens em 1960, para cerca de 25 mil em 1967, sendo a situação dramática nos primeiros meses de 1965”.

E noutro ponto do seu trabalho acrescenta:

“A situação militar que Spínola encontrou à sua chegada era a seguinte: o Sul estava nas mãos do PAIGC, quase desde o início das hostilidades; o Oeste era controlado pela guerrilha, à excepção dos Manjacos que se encontravam em fase pré-insurrecional; e só o Leste, habitado pelos Fulas, tradicionalmente aliados dos portugueses, se mantinha fiel ao poder colonial”.

Se pegarmos a frio nesta leitura interpretativa, manda o rigor que se façam perguntas sobre os buracos negros da falta da sequência cronológica e do quadro sinóptico da intervenção da guerrilha. De uma forma genérica, Salazar está bem informado de que há uma atmosfera tensional após a independência das Repúblicas da Guiné e do Senegal, manda mitigadamente efetivos, em 1958 aparece em Bissau um pequeno núcleo da PIDE, como foi afirmado acima, há menos de mil homens em 1960. Os Comandos em Bissau aguardam manifestações insurrecionais nas fronteiras, o que vai acontecer a partir do segundo semestre de 1962, no Sul, deixa-os desorientados e expetantes, a guerrilha é incipiente, mal municiada, mas faz altíssimos estragos na região Sul; a partir de 1963, atravessa o Corubal, instala-se nas matas do Morés. Ouve-se repetidamente que o Leste ainda estava pacificado, será por pouco tempo, uma coisa é a região do Gabú, outra o Boé, a partir de 1965 começa a tormenta que culminará com a retirada de fevereiro de 1969. Encurtando razões, a degradação é contínua desde o segundo semestre de 1962, quem lê os comentários destes autores pode ter a perceção de que Louro de Sousa ou Schulz não deram resposta, não procuraram adequadamente travar a evolução da guerrilha. Acresce que muitos destes comentários focam-se no posicionamento das forças portuguesas e não põem em paralelo o que se vai passando nos meios do PAIGC.

Resultado, fica-se com a ilusão de que aqueles comandantes eram incompetentes, não sabiam travar a guerrilha. Raramente se fala do armamento português e do armamento utilizado pelos efetivos do PAIGC, estes iam melhorando substancialmente, de ano para ano. A partir de 1973, quando a situação militar se turvou, os Altos Comandos Portugueses já temiam um quadro de guerra convencional e a utilização de meios aéreos por parte dos rebeldes guineenses, o que nunca aconteceu.

Para sermos sinceros, se é verdade que o consulado de António de Spínola está profusamente documentado, há livros de memórias, biografias, testemunhos, actas de reuniões relevantes, as suas instruções, as suas intervenções nos Congressos do Povo, etc., para Louro de Sousa e Schulz há um recatado silêncio, não se vai aos Arquivos dos Ministérios da Defesa e Ultramar, é aí que se podem provar se houve incúria, se, independentemente das suas instruções e diretivas, omitiram aos governantes de Salazar como se estava a processar a guerrilha e o que os seus Comandos procuravam ripostar, acolhendo as populações, melhorando o seu nível de vida, que pedidos em concreto fizeram para ter melhor armamento, como estabeleceram o dispositivo militar, e o mais que se sabe.

Com data de dezembro de 2018, o Instituto Universitário Militar deu à estampa a obra “A Campanha Militar Terrestre no Teatro de Operações da Guiné-Bissau (1963-1974), Estudo da Aplicação da Força por Funções de Combate”.

O trabalho inclui umas ditas investigações sobre o teatro de operações da Guiné-Bissau, o enquadramento estratégico-militar e operacional, o comando missão, o movimento e manobra, entre outras temáticas.

O último capítulo, como não podia deixar de ser, debruça-se sobre a atuação de Spínola na Guiné, os anteriores comandantes não arriscam. Folheia-se as ditas investigações, é mais do mesmo: a geografia, a população, a economia, as infraestruturas, a onda da descolonização, o que mudou na instrução das Forças Armadas a partir de então, a organização do sistema militar a partir de 1963, com as modificações de 1964 e 1966; a ofensiva político-diplomática do PAIGC, as etnias da Guiné-Bissau, quais os movimentos insurgentes desde a primeira hora, e quando se chega ao comando missão, inevitavelmente são referidos os comandantes-chefes. O Governo de Lisboa nomeia, após a saída em finais de 1962, Vasco Rodrigues para Governador e Louro de Sousa para Comandante-Chefe. Terão surgido desentendimentos gravosos quanto à sua esfera de competências. O que se passou efetivamente ficamos sem saber. É citado um autor que escreveu que “esta incompatibilidade, e ao mesmo tempo, um certo vazio estratégico, uma falta de capacidade de reacção, foram os principais factores para o avanço militar do PAIGC, em 1963”.

E é com esta conversa sofismada, sem provas documentais, com doutos palpites, que se diz fazer investigação. O que é curioso é que o PAIGC começou a agir e a subverter ainda no tempo de Peixoto Correia, a incompatibilidade entre o governador e o comandante-chefe é apresentada como a causa dominante da falta de resposta adequada… E sobre Schulz diz-se o que vem em todos os outros papéis:

“A sua acção caracterizou-se por uma manobra muito convencional de ocupação do território com unidades de quadrícula, tendo por base o batalhão, tendo sido conduzida uma guerra defensiva, cujo pilar está assente na manutenção das posições no terreno”.

Isto diz-se e ninguém contesta, como se fosse verdade axiomática, esquece-se tudo quanto se passou em 1964, o comportamento das forças especiais, o início da africanização da guerra, os bombardeamentos intensivos. São leituras alegadamente críticas, quase sempre de uma grande vacuidade, nunca se sopesam as forças do PAIGC, a sua maleabilidade, a impreparação dada nas recrutas e na especialidade, os cursos de minas e armadilhas de duas horas, a natural dificuldade de responder em cima do acontecimento ao fragor da pressão da guerrilha, exigindo apoios, sequestrando, incendiando, assassinando quem não lhe dava credo. E tudo isto se escreve com as mesmas referências bibliográficas, ir aos arquivos dá muito trabalho, há um completo desprezo na consulta dos arquivos, como se aqueles governadores e comandantes-chefes não se correspondessem com membros do Governo, de quem dependiam. Mastiga-se, volta-se a ruminar e dá-se uma cobertura nova ao que continuadamente foi escrito nas últimas décadas.

E assim estamos, publicando uns escritos que em nada contribuem para a elaboração da História da Guerra da Guiné.

(continua)
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Notas do editor:

Poste anterior de 13 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20448: Notas de leitura (1245): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (36) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 18 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20468: Notas de leitura (1247): "A Medicina na Voz do Povo", 3ª edição, de Carlos Barreira da Costa, médico otorrino, do Porto

Guiné 61/74 - P20473: (In)citações (141): Morreu a G3, viva a G3 (, substituída agora pela SCAR) (fotos de Jacinto Cristina, e versos de Albino Silva)








Fotos do álbum  de Jacinto Cristina (Sold At Inf, CCAÇ 3546, 1972/74), membro da nossa Tabanca Grande, vive em Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo,  Foi um sem-abrigo, viveu um ano e tal em cima de um tabuleiro da Ponte de Caium, com a G3 a seu lado... Tal como muitos  de nós, de resto, no TO da Guiné (*).














Versos (, sob a forma de quadras populares,) do Albino Silva, o "Bino", poeta   (ex-soldado maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70) (**)


1. Comentário do editor LG:  Morreu a G3, viva a G3...

A propósito do oportuno e sobretudo belíssimo, ternurento,  texto do Juvenal Amado, a fazer uma declaração de despedida à sua (mal) amada G3 (***), fomos respescar fotos e um texto poético relacionados com aquilo a que podemos chamar  a "erotização" da G3, "inseparável companheira" do combatente do exército português durante a guerra do ultramar / guerra colonial.

As fotos que acima (re)publicamos, de verdadeira declaração de amor à G3 e demais acessórios de qualquer atirador de infantaria (cinturão com 4 cartucheiras, com 20 munições cada, de calibre 7,62; baioneta; cantil; faca de mato; granada ofensiva e defensiva...), não são únicas, haverá centenas ou milhares de cópias em álbuns de camaradas nossos que passaram pelo TO da Guiné... Felizmente estas consegui-as "sacar" do álbum do camarada Jacinto Cristina, o famoso padeiro da Ponte Caium.

De facto, devem-se ter vendido milhares de fotos destas. Nunca tive álbum fotográfico, nem mandei, para a metrópole, nenhuma foto destas... Nem sei se a malta mandava fotos destas, pelo correio, às namoradas, madrinhas de guerra, irmãs, mães, amigas...não fossem elas ficar com ciúmes desta "bajuda".

Aqui a G3 aparece como um verdadeiro fetiche, um obecto que provoca excitação sexual, um talismã, um escudo protector, uma companheira inseparável... A mensagem é simples mas de um tremenda eficácia simbólica: "andámos juntos, fomos unha com carne na Guiné, amei-te muito, devo-te a vida, jamais te esquecerei!...

Em termos físicos, simbólicos, psicológicos e até culturais, a G3 era, antes de mais uma figura feminina, uma arma de defesa; foi uma "amante", mas também uma "mãe": não sei se a interpretação... algo freudiana, é abusiva; para outros combatentes, poderia ser vista também sob uma perspectiva mais falocrática: uma extensão do nosso corpo, a nossa "canhota", o nosso "pénis mortífero."

De qualquer modo, G3 morreu, já aí vem a SCAR, uma "gaja" belga, da FN - Fabrique Nationale, considerada a melhor arma automática de assalto do mundo... SCAR é o acrónimo, em inglês, da expressão "Special Operations Forces Combat Assault Rifle"...  Ao lado desta "flausina", a G3 parece uma "mastronço", dizem os entendidos... Ainda não a vi ao vivo, a FN_SCAR-L, a não ser aqui na Net... ou no "site" do fabricante... (LG)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20470: Blogpoesia (651): A G3 e a ingratidão (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR do BCAÇ 3872)