quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5176: FAP (35): O trágico acidente aéreo de 25 de Julho de 1970, no Rio Mansoa (Carlos Coelho / Jorge Félix / Jorge Narciso)




Fotos do Jorge Coelho (ex-Alf Mil Pil) e do Carlos Coelho, Fritz (Fur Mil Pil), de 2008 (a primeira,de cima para baixo) e de 1969 (a segunda).

Fotos: © Jorge Félix (2009). Direitos reservados


1. Comentário do Carlos Coelho, com data de 26 do corrente (*)

Por hoje só quero esclarecer um pequeno detalhe, o terceiro helicóptero era pilotado pelo Furriel Mil Pil Av Coelho - Carlos Coelho - mais conhecido por Fritz. Dentro em breve voltarei à vossa presença para tentar dar algumas respostas às perguntas que pairam sobre o que se passou naquela tarde. Carlos Coelho - Fritz.

2. Mensagem de L.G. enviada ao Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Av Heli Al III:

Jorge: Como vai essa bizarria ? Essa saúde ? Este estado de alma ? O Fritz é do teu tempo... Infelizmente náo mandou o endereço de e-mail...Dou conhecimento também ao Jorge Caiano, que está no Canadá, e que também foi protagonista dos acontecimentos [ o acidente de heli, no Rio Mansoa, de 25/10/70]... Abraço. Luís


3. Mensagens do Jorge Félix:

(i) Caro Luís: Junto um email que contem as fotos do encontro, o último, e de uma vivência que tive com o Coelho. Segue também o endereço do Fritz. Jorge Félix.


(ii) Caríssimo: Não vale a pena chorar sobre a minha saúde.... é o que se pode arrumar.

O Fritz , grande amigo, foi largado por mim na Guiné. Muita água da Bolanha, congelada, foi bebida a empurrar o whisky, aturando cada qual, a lenga lenga do outro. Ele, Furriel Coelho, Comandante da TAP, era, naquele acidente, que é o que neste momento interressa, o terceiro daquela formação. Terceiro mas talvez o mais avisado daqueles aviadores. Sei o que aconteceu, contado pela pessoa do Coelho, mas, visto que ele prometeu voltar, esperemos pela sua narrativa.

O Manso, foi o Camarada que me rendeu. O Jorge Caiano julgo ser o que foi substituir o Pinto. Não convivi com eles tempo que me dê qualquer lembrança.

Tenho fotos do Coelho e do Cubas... Depois das notas do Coelho, se for caso que valha a pena, junto as fotos.

Desculpa a trapalhada das palavras, a química cerebral tem destas coisas. Um abraço para toda a família guineense.

Jorge Félix

4. Mensagem do Jorge Narciso, enviada ao Carlos Coelho, através de comentário ao Poste P3292 (*):

Olá, Coelho (Fritz)

Eu sou o Jorge Narciso, era mecânico nos helis e coabitámos neles na Guiné. Não sei se te lembras de mim, mas folgo reencontrar-te.Também eu emiti um comentário (ao poste da Sofia Bull) acerca do acidente que ficará a léguas do que poderás dizer enquanto interveniente directo no que aconteceu. Fico à espera. Recebe um abraço. Jorge Narciso.

5. Comentário do Jorge Narciso ao
Poste P5162 :

Olá, Luís e Sofia:

Apresentando-me: Jorge Narciso, ex-Cabo Especialista MMA (Mecânico de Avião), colocado na linha da frente dos helis (Alouette III), na BA12 - Guiné, entre Abr 69 e Dez 70.

Tinha um comentário sobre este assunto completamente pronto para editar, quando a linha caiu e com ela o alinhamento de ideias que acabava de digitar.

Fiquei desapontado quando tentava ajudar a perceber à Sofia (filha do meu companheiro Bull, que há uns anos não vejo e muito gostaria reencontrar) as causas que impediram que viesse a conhecer o seu avô paterno [ James Pinto Bull].

Assim e para obviar uma nova e eventual quebra, vou tentar sintetizar as ideias com o risco naturalmente de passar por cima de alguns pormenores.

Assim:

(i) Confirmo que o acidente se registou num domingo, dia em que o movimento de voos era muito reduzido e no caso se resumiu a esta missão. E confirmo-o por 2 factos,

a) Porque estava escalado para esse voo, tendo inclusive estado e pronto a partir, no helicóptero acidentado (já com os rotores a funcionar e portas fechadas) só não seguindo porque chegou entretanto à placa o malogrado Capitão do Exército para integrar a visita e que face à lotação completa que se registava nos helis, tomou o meu lugar por determinação do comandante de Esquadra, seguindo a missão com o suporte técnico do Mecânico Electricista (Caiano) (**) já antes sediado no Heli 1.

b) Tendo ficado de alerta à linha, coube-me aguardar o resto do dia pelo regresso dos helis para os receber e arrumar.

(ii) Confirmo também que os helis eram pilotados por:

- Heli 1 (Comandante) Cap Cubas
- Heli 2 (acidentado) Alf Manso
- Heli 3 - Fur Coelho

(iii) Para mais de meia tarde e quando já estranhava o atraso no retorno da missão, foi-me solicitado o aprontamento de um hali, no qual, pilotado pelo Ten Pereira (penso que já falecido) e pelo Fur Galinho (que no caminho me informou sucintamente do que se passava), participei na 1ª ida ao local do acidente.

(iv) As condições atmosféricas que atravessamos eram, apesar de normais nessa época do ano, particularmente más (das piores que registei no mais de ano e meio de voos sobre toda a Guiné), com vento e chuva muito fortes e tendo que no caminho ir fazendo desvios para contornar aglomerados de nuvens de forte borrasca.

(v) Na, apesar de tudo, rápida chegada ao local e apesar da fraca visibilidade distinguiram-se apenas dois (dos três) helis aterrados (julgo que um em cada margem do rio) junto aos quais aterrámos sucessivamente procurando perceber a ajuda necessária , sendo evidente nos dois casos a estupefacção e o choque de todos os ocupantes.

Referiram os pilotos que foram envolvidos por uma súbita borrasca (tornado?) com drástica perda de visibilidade e obrigando a aterragens mais que forçadas e, penso que no 3º heli, referida a visão dum clarão (embate do outro aparelho na água ?)

(vi) Face à manutenção das condições climatéricas e aproximação da noite, e feitas ainda algumas passagens sobre o a área envolvente, na busca de algum sinal do 3º heli, o que se mostrou infrutífero.

Finalmente encetou-se o regresso à base, acompanhando e guiando os 2 helis sobreviventes.

(vii) No dia seguinte e logo que a luz o permitiu iniciaram-se as buscas, com os mais diversos meios envolvidos, no meu caso integrando a equipa de um heli com guincho, pilotado inicialmente pelo Cap Cubas, com outro mecânico (Caroto) e acompanhados pelo Bull, que assim também participou nessas buscas , para ele em condições particularmente difíceis pelos motivos óbvios.

Tais buscas mantiveram-se até que a Marinha conseguiu localizar o que restava do aparelho no fundo do rio.

Sendo eventualmente redundante em relação a outros relatos (apesar da efectiva factualidade deste), espero desta forma contribuir para que de vez cessem especulações e outras teorias quanto às causas do acidente.

Apresento saudações ao blogue na pessoa do Luís e à Sofia (que vou tentar contactar através do possível do endereço de Face book sugerido, até como forma de eventualmente chegar ao Bull) (***).

_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 10 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3292: Controvérsias (3): O acidente de helicóptero que vitimou Pinto Leite (J. Martins / J. Félix / C. Vinhal / C. Dias)

(**) Vd. poste de 10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3866: FAP (7): Troca de lugar no ALL III salvou-me a vida, em 25 de Julho de 1970 (Jorge Caiano, mecânico do Alf Pilav Manso)

(***) Último poste da série FAP > 22 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4991: FAP (34): A heli-evacuação do malogrado Cap Cav Luís Rei Vilar em 18/2/1970 (Jorge Félix)

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