
A Pátria não se esqueceu do seu herói, Pansau na Isna (Ilhéu de N' Fanta, 1938 - Nhacra, 1970) (*). O verdadeiro herói da "batalha do Como" não foi 'Nino' Vieira, mas este balanta carismático, camponês, analfabeto, excêntrico.
Morreu cedo, aos 32 anos, em combate. Já não viu estas notas de 50 pesos, emitidas pelo Banco Nacional da Guiné-Bissau em 1976 (mas com data de 24 de setembro de 1975, segundo aniversário da proclamação unilateral da independência), e que circularam enter 1976 e 1997. O Banco Nacional da Guiné-Bissau resultou da nacionalizou do BNU - Banco NacionalUltramarino, e foi o antecessor do Banco Central da Guiné-Bissau, segundo nos relata o australiano Peter Symes, especialiusta em emissões bancárias (**).
Até ao fim do peso, em 1997 (que deu lugar ao franco CFA), circularam as seguintes notas (ao longpo de 3 emissões) (1976, 1983 e 1984): notas de 50 (com a efígie de Pansau Na Isna), 100 pesos (Domingos Ramos) 500 pesos (Amílcar Cabral), 1000 (Amílcar Cabral). 500 (Francisco Mendes) (1983), 5000 (Amílcar Cabral) e 100000 (Amíçcar Cabral).
Lisboa > Forte do Bom Sucesso > 24 de setembro de 2005 > Quase 42 anos depois da Operação Tridente, alguns dos elementos que nela tomaram parte, pertencentes ao Grupo de Comandos, comandao pelo alf mil Maurício Saraiva fotografados durante o convívio dos Grupos de Comandos do CTIG (1964/66).
Da esquerda para a direita, (i) sold João Firmino Martins Correia; (ii) 1º cabo Marcelino da Mata; (iii) 1º cabo Fernando Celestino Raimundo;
Em cima, (iv) fur mil António M. Vassalo Miranda; v) fur Mário F. Roseira Dias; (vi) sold Joaquim Trindade Cavaco. (Os postos, referentes a cada uma, são os que tinham à época dos acontecimentos).
Foto (e legenda): © Mário Dias (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
− Vem cá, meu filho, senta aqui pertinho. Vou te contar a história de um homem muito corajoso, um daqueles que a gente não encontra todo dia. O nome dele era Kpänsau Na Ysna, mas muitos o chamavam de Pansau na Isna.
Kpänsau nasceu lá no ano de 1938 [no Ilhéu de N’fandá], numa família camponesa da etnia B’ráassa [Brassa] , os Balanta, gente trabalhadora e forte. Ele era um homem alto, de pescoço bem firme, e que gostava de deixar o cabelo crescer, porque tinha muito, muito mesmo. Quando o vento soprava, parecia até que o cabelo dele dançava.
Ele vivia no sul da Guiné-Bissau, ajudando a família e aprendendo a vida do campo. Mas, um dia, ele percebeu que o seu povo sofria injustiças do colonialismo português. E, olha, M’bana…, quando Kpänsau via injustiça, o coração dele esquentava como fogo. Ele não gostava de ver ninguém oprimido, não.
Então decidiu entrar para a luta armada, bem jovem ainda. E sabe o que aconteceu? Ah, meu filho… ele logo mostrou que era daqueles que não se escondem. Era valente, corajoso, decidido. Eu estava e lutei lado ao lado numa das batalha, Köm [ilha de Como, Op Tridente, jan-mar 1964] . Quando Kpänsau entrava numa batalha, até os mais medrosos se enchiam de força só de olhar para ele.
A maior prova disso aconteceu na batalha de Köm, a ilha de Como, que ele ajudou a libertar. Naquele tempo ele tinha só 26 anos, imagine! Tão jovem… Mas já era visto como um grande combatente.
Passaram-se alguns anos, e Kpänsau continuou a defender o seu povo com o mesmo coração firme de sempre. Até que, em 1970, quando tinha apenas 32 anos, ele morreu em combate, lá em Nhagkrá-Mores na vila de Bumar [sector de Bissau] . Morreu lutando, como viveu.
E você sabe por que eu te conto essa história? Porque homens como Kpänsau Na Ysna não vão embora de verdade. Eles ficam na memória do povo, ficam no peito da gente. Ele lutou para que hoje vivêssemos num lugar mais livre, mais justo.
Então, sempre que você ouvir alguém falar de coragem, lembre-se de Kpänsau. Ele foi um herói de verdade. E heróis assim… ah, meu filho M’bana, esses nunca são esquecidos.
O Significado do Nome Kpänsau Na Ysna na Língua Brassa
(vi) Questões nacionais: Tem analisado e escrito sobre temas cruciais para a Guiné-Bissau, como a produção agrícola (nomeadamente o arroz) e a necessidade de erguer diques de contenção para erradicar a fome e a pobreza.
M’bana N’tchigna tem utilizado as redes sociais para dizer o que pensa do futuro e d os desafios políticos, económicos e sociais do seu país. Tem pãgina no Facebook.página no Facebook, Mbana Ntchigna (donde reproduzimos esta versão, mais recente, sobre o "herói do Komo", em registo de "conto popular africano") (*****)
(*) Vd. poste de 12 de janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2435: PAIGC - Quem foi quem (6): Pansau Na Isna, herói do Como (1938-1970) (Luís Graça)
(****) Vd. poste de 5 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27497: O nosso livro de visitas (229): M’bana N’tchigna, balanta, da Guiné-Bissau, professor do ensino médio em Vitória, no Brasil, autor do Blogue "Intelectuais Balantas na Diáspora", sobrinho do lendário Pansau Na Isna (1938-1970)
Vd. também Blogue "Intelectuais Balantas na Diáspora" > 20 de janeiro de 2018 > Homenagem a Herói Kpänsau Na Ysna, conhecido como Pansau Na Isna > Artigo do dr. M'bana N'tchiga
(*****) Último poste da série : 12 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23609: (D)o outro lado do combate (68): os "Armazéns do Povo", mito ou realidade ?
Até ao fim do peso, em 1997 (que deu lugar ao franco CFA), circularam as seguintes notas (ao longpo de 3 emissões) (1976, 1983 e 1984): notas de 50 (com a efígie de Pansau Na Isna), 100 pesos (Domingos Ramos) 500 pesos (Amílcar Cabral), 1000 (Amílcar Cabral). 500 (Francisco Mendes) (1983), 5000 (Amílcar Cabral) e 100000 (Amíçcar Cabral).
São relativamente raras as versões, públicas, disponíveis na Net, de antigos combatentes do PAIGC sobre a "luta de libertação". E menos ainda sobre a mítica "batalha do Como"...Não vamos aqui, ,para já, comparar versões dos acontecimentos. Os combatentes de um lado e do outro têm direito a contar e a publicar a sua história, sujeitando-se naturalmente ao contraditório (***)
No nosso blogue temos já cerca de 90 referèncuas sobre a Op Tridente, incluindo o testemunho de quem lá esteve e lutou como os nossos camaradas Mário Dias, Armor Pires Mota, José Álvaro Carvalho, Vassalo Miranda e outros (sem esquecer o J. L. Mendes Gomes, os "bravos do Cachil", da CCAÇ 557, o José Colaço, o Rogério Leitão, o José Augusto Rocha, etc.).
Lisboa > Forte do Bom Sucesso > 24 de setembro de 2005 > Quase 42 anos depois da Operação Tridente, alguns dos elementos que nela tomaram parte, pertencentes ao Grupo de Comandos, comandao pelo alf mil Maurício Saraiva fotografados durante o convívio dos Grupos de Comandos do CTIG (1964/66).
Da esquerda para a direita, (i) sold João Firmino Martins Correia; (ii) 1º cabo Marcelino da Mata; (iii) 1º cabo Fernando Celestino Raimundo;
Em cima, (iv) fur mil António M. Vassalo Miranda; v) fur Mário F. Roseira Dias; (vi) sold Joaquim Trindade Cavaco. (Os postos, referentes a cada uma, são os que tinham à época dos acontecimentos).
Foto (e legenda): © Mário Dias (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
A História de Kpänsau Na Ysna: Como combatente N’tchaagň Conta a Uma Criança
por M’bana N’tchigna
− Vem cá, meu filho, senta aqui pertinho. Vou te contar a história de um homem muito corajoso, um daqueles que a gente não encontra todo dia. O nome dele era Kpänsau Na Ysna, mas muitos o chamavam de Pansau na Isna.
Kpänsau nasceu lá no ano de 1938 [no Ilhéu de N’fandá], numa família camponesa da etnia B’ráassa [Brassa] , os Balanta, gente trabalhadora e forte. Ele era um homem alto, de pescoço bem firme, e que gostava de deixar o cabelo crescer, porque tinha muito, muito mesmo. Quando o vento soprava, parecia até que o cabelo dele dançava.
Ele vivia no sul da Guiné-Bissau, ajudando a família e aprendendo a vida do campo. Mas, um dia, ele percebeu que o seu povo sofria injustiças do colonialismo português. E, olha, M’bana…, quando Kpänsau via injustiça, o coração dele esquentava como fogo. Ele não gostava de ver ninguém oprimido, não.
Então decidiu entrar para a luta armada, bem jovem ainda. E sabe o que aconteceu? Ah, meu filho… ele logo mostrou que era daqueles que não se escondem. Era valente, corajoso, decidido. Eu estava e lutei lado ao lado numa das batalha, Köm [ilha de Como, Op Tridente, jan-mar 1964] . Quando Kpänsau entrava numa batalha, até os mais medrosos se enchiam de força só de olhar para ele.
A maior prova disso aconteceu na batalha de Köm, a ilha de Como, que ele ajudou a libertar. Naquele tempo ele tinha só 26 anos, imagine! Tão jovem… Mas já era visto como um grande combatente.
Passaram-se alguns anos, e Kpänsau continuou a defender o seu povo com o mesmo coração firme de sempre. Até que, em 1970, quando tinha apenas 32 anos, ele morreu em combate, lá em Nhagkrá-Mores na vila de Bumar [sector de Bissau] . Morreu lutando, como viveu.
E você sabe por que eu te conto essa história? Porque homens como Kpänsau Na Ysna não vão embora de verdade. Eles ficam na memória do povo, ficam no peito da gente. Ele lutou para que hoje vivêssemos num lugar mais livre, mais justo.
Então, sempre que você ouvir alguém falar de coragem, lembre-se de Kpänsau. Ele foi um herói de verdade. E heróis assim… ah, meu filho M’bana, esses nunca são esquecidos.
O Significado do Nome Kpänsau Na Ysna na Língua Brassa
Mas afinal, qual é o significado do nome Kpänsau Na Ysna na língua B’ráassa?
Como quase todos os nomes B’ráassa, Kpänsau carrega em si um sentido profundo. Ao pé da letra, significa “Morança acabou” ou “Desmoronou”, e pode ser estendido para expressões como: “a geração acabou”, “minha gente acabou”, “meus parentes acabaram”.
É um nome que evoca o desaparecimento, a perda e, ao mesmo tempo, a força de quem resiste diante da morte ou da destruição.
A preposição “Na” tem papel especial na língua de B’ráassa. Ela equivale às preposições portuguesas “de”, “da” ou “do”, e serve para apontar o clã a que o indivíduo pertence.
Entre os B’ráassa de Ñakrá, raramente se usa o nome do pai junto ao próprio nome; o filho é do clã, e não do pai. Essa escolha revela a horizontalidade e o espírito de democracia e de harmonia de nosso povo.
Um exemplo disso é Dába Na Walna, uma das grandes referências intelectuais da Guiné-Bissau, embora ele próprio não se vê como tal. [É hoje brigadeiro-general.]
Eu nunca conheci o nome do pai biológico dele, e, que eu saiba, “Na Walna” não se refere ao pai. A preposição indica o clã, a morança ou a tabanca à qual a pessoa pertence. O mesmo se aplica ao meu sobrenome, “Na Tchigna”, e a muitos. outros.
Assim, o nome Kpänsau Na Ysna não é apenas um conjunto de palavras: é história, memória e identidade. Ele lembra a coragem, a luta e a resistência de um povo que enfrentou a opressão e o perigo com coração firme.
Faço questão de homenageá-lo neste mês de janeiro de 2018, quando a libertação de Köm completa 54 anos. Foi nesse mês, em 1964, que Köm viu seu valente filho defendê-la como terra indivisível entre guineenses e colonialistas.
E eu o homenageio não apenas porque seu nome batiza uma avenida de Bissau, onde hoje se situa o Hospital Simão Mendes, mas porque sua vida e sua memória merecem ser celebradas, lembradas e honradas para sempre.
Quando criança, sempre fui um menino curioso e amante de histórias. Mas não de qualquer história: gostava de ouvir fatos verídicos, aqueles que carregam sangue, suor e coragem.
Foi assim que, ainda pequeno, fui contado sobre a batalha de Köm, quando Kpänsau Na Ysna, em vida, era comandante de Baraka Garandi [barraca grande.] , o quartel-general daquela ilha.
Eu tinha apenas 10 anos, em 1980, quando ouvi, hipnotizado, meu tio N’tchaagň, um dos guerrilheiros e testemunha ocular da batalha, relatar-me os acontecimentos de Köm. Minha pergunta foi simples, mas carregava a curiosidade de uma criança:
− N’tchaagn, abala a ba hër a Köm? (“N’tchaagň, como foi a guerra de Köm?”)
Depois de um jantar simples, numa cabana, com arroz e peixe, ele tomou seu vinho de cíbi [cibe, palma] , feito artesanalmente pelos anciões B’ráassa, e retrucou-me com voz firme:
− M’bana Bláthë, Köm key won nhunthë! (“Bláthë, não deve lembrar-se de Köm.”)
Olhou para o espaço, como se carregasse toda a fúria e a dor da memória. Ficou alguns segundos em silêncio, pensativo, e então começou o conto.
Com seu sotaque Brassa, disse:
− Köm... Köm e Kation...[Como e Catió]
Percebia que precisava de explicação: ele continuou, com paciência:
− Como você ainda não sabe, Köm é um dos setores de Kation. Ou seja, Catió. Do porto de Köm até aos nossos esconderijos distam apenas 7 km.
Durante os combates, alguns portugueses descreveram Köm como uma ilha maldita; para outros, uma ilha que fazia os cabelos de qualquer um ficarem em pé, disse tio N’tchaagň, com olhar distante, lembrando-se dos horrores e da coragem vivida.
− De Kation até a ilha, eu não sei ao certo. Mas imagino que seja uma distância de 15, 20, no máximo 30 km. E… como os portugueses estavam aquartelados em Catió, não podiam tolerar a presença de ‘terroristas’ — como nos chamavam, nós do PAIGC, naquela época pelos portugueses − prosseguiu o tio N’tchaagň.
Era uma afronta para o exército português conviver lado a lado com um inimigo indesejável. Além disso, Brandão [Manuel de Pinho Brandão] , um comerciante português, tinha um comércio florescente, quase sem concorrência, ao contrário dos comerciantes libaneses que dominavam boa parte da Guiné-Portuguesa. Portanto, era interesse dos portugueses nos expulsar de Köm definitivamente, para assegurar sua hegemonia.
Tio N’tchaagň deu uma pausa, tomou um gole do seu vinho de cíbi, e se calou. Eu, criança curiosa, olhava para ele ansioso, esperando que continuasse o conto. Ele percebeu meu olhar e, com um leve suspiro, retomou:
− E, o comandante Kpänsau Na Ysna sabia disso. Além dos informantes que nos alertavam sobre os movimentos e intenções dos tugas na ilha, ele próprio era um homem inteligente, estrategista de guerra, guerreiro nato, corajoso como poucos que já conheci e intransigente quando se tratava de defender nossa posição. Não gostava de perder.
Eu, N’tchaagňs, nunca conheci igual. Cada um dos nossos comandantes tinha seu jeito de comandar, mas Kpänsau permanece uma lenda em minha mente até hoje − disse, com a voz sufocada, tentando disfarçar as lágrimas que brilhavam entre suas pálpebras avermelhadas de emoção.
Eu, sensível como sempre, ao vê-lo tomado pela emoção, senti minhas próprias lágrimas brotarem.
− Bláthë! — chamou-me carinhosamente pelo codinome e prosseguiu:
− Kpänsau não estava dentro de Köm no pré-anúncio da batalha. Estava em missão fora da ilha. Pelo que sei, não muito claro, ele se encontrava próximo a M’brüi (Caboxanque), Tchüm-Kpáss (Cadique) ou Yembrém [Jemberém].
De lá, sabendo que Köm seria atacada pelo exército português, apressou-se a voltar, andando na maioria das vezes à noite, atravessando Tchüm-Kpáss (Cadique), Flágck-N’ñandy (Ilhéu de N’fandá), Kybíl, Katün e, ainda, pântanos e bolanhas — os campos agrícolas — até chegar dentro de Köm.
Quando Kpänsau finalmente chegou, M’bana, a guerra já havia começado, no dia 14 de janeiro, uma terça-feira. Comandante N’Dìnè Na Abarrna já foi atingido e morto. Mas comandante Guádn Na Ndamy e Biohctá Na M’bátcha, asseguraram as rédeas da guerra como líderes de grupos que já estavam na ilha.
Mas, misteriosamente, Kpänsau caiu enfermo. Suas pernas incharam, e ele não conseguiu andar por duas semanas. Para não criar alarde ou pânico entre os soldados — e muito menos entre os inimigos — ninguém sabia da sua doença. Apenas Biohctá Na M’bátcha e alguns outros líderes conheciam o segredo do lendário comandante.
Perguntaram a ele se seria melhor evacuá-lo de Köm, mas ele esbravejou com voz determinante:
− N’keia yânta. Bitën luza. Bbürtikìz tën luza. Köm ka wínbu. (“Não saio daqui. Quem tem que ir embora são os portugueses. Köm é nosso.”)
Pouco depois de duas semanas, recuperou-se do inchaço e estava pronto, invicto, para uma missão que parecia quase impossível de realizar.
Não podemos dizer que Kpänsau fez tudo sozinho, M’bana. Reconhecemos três nomes que foram fundamentais: o próprio Kpänsau, Guádn Na Ndamy e Biohctá Na M’bátcha — bravos colegas que sempre estiveram por perto, obedecendo ou questionando quando necessário. Contudo, as decisões partiam dele, como comandante em chefe.
Ao entardecer, quando o crepúsculo começava, chamava Biohctá Na M’bátcha para tomar vinho de palma, aliviar a tensão do dia trabalhoso, analisar as ações já desencadeadas e preparar-se para o dia seguinte.
Tio N’tchaagn parou e me pediu que levasse vinho de cíbi ao seu primo, na varanda da casa ao lado. Fui e voltei rápido. Já tinham se passado 16 anos desde que a batalha havia ocorrido, mas o homem combatente, N’tchaagň, como contador nato de histórias, lembrava com detalhes cada episódio dirigido por Kpänsau Na Ysna.
Continuou, com a voz firme:
− O exército português batizou a guerra contra Köm de ‘Operação Tridente’. Nas suas imaginações, queriam recuperar não só Köm, mas também Katugn, Cayar — onde ficava o batalhão da força portuguesa, fornecendo reforços a qualquer pelotão — e até se instalaram em Kônghan.
Estrategicamente, posicionaram-se no porto de Köm, Katchil, N’komny, Kônghan — onde se instalou o general português que dirigia a operação. Mas nada disso intimidou o lendário, pois os portugueses desconheciam, e ainda subestimavam, o poderio e o grau de organização de Kpänsau Na Ysna com seus homens, já bem posicionados, sobretudo na tática móvel, que ele dominava como poucos.
Tio N’tchaagň já estava cansado. Passavam das 23 horas, e, tomado pela embriaguez, pediu para interromper o relato. Parou, e eu fui dormir. Empurrei a porta e minha mãe perguntou:
− Você ainda não dormiu, M’bana?
Não respondi, com medo de levar um açoite, e passei silencioso para o quarto. Minha mente ruminava todas as palavras, percorrendo a história inteira, até que o sono me venceu.
Dois dias depois, tio N’tchaagň pediu que eu relatasse novamente tudo o que havia ouvido sobre Kpänsau. Repiti tudo. Ele aprovou e disse:
− Ótimo, bom menino. Guarde bem, para que ninguém te conte outra história que não seja esta.
Prosseguiu:
− Kpänsau organizou seus homens em dois grupos diferentes.
O primeiro grupo era armado de guerrilha e fixo em áreas territoriais específicas. Esse grupo defendia o espaço aéreo de Köm, instalava a defesa antiaérea e improvisava um hospital subterrâneo. Possuíam armamentos sofisticados que os tugas não imaginavam que tivéssemos.
Ao todo, éramos 300 guerrilheiros contra mais de 800 homens da força portuguesa. Uma desigualdade evidente, claro, com vantagem para os tugas. Além de números superiores, eles tinham armas de maior quantidade e qualidade, aviões, navios e pequenas embarcações para se deslocarem à vontade — facilidades que nós não possuíamos.
− Nós tínhamos armas que começavam a se igualar a algumas deles. Mas a distância entre nós e as armas, que ficavam na fronteira de Conakry, era enorme. Transportá-las até nós era uma dificuldade enorme. O único transporte disponível eram pessoas dispostas — ou obrigadas — a ir a pé buscar armas e munições na fronteira com a Guiné-Conakry.
A viagem para buscar munições durava quatro a cinco dias, se o grupo não encontrasse tugas no caminho. O percurso saía de Köm e passava por: Wedë-Kaya ou Kantônaz, Ndin-Welgglè, Kandjóla, Kan, Kangnha-Ley, Katché, Kambíl, N’gháfu, N’thâne, Banta-Silla, N’dala-Yèll, Sambassa, Linga-Yèll, N’tchintchedaré, Yeng — até a fronteira de Conakry.
Essa distância em linha reta é de aproximadamente 160 a 200 km, mas, como os viajantes precisavam contornar rios, pântanos e territórios hostis, acredito que percorram 200 a 230 km.
Imagina, M’bana, percorrer essa distância carregando munições pesadas na cabeça… às vezes com fome, apenas bebendo açúcar cubano dissolvido em água? Não posso deixar de mencionar Kidèlé Na Arítchgň, herói desta história. Devo contar um pouco sobre ele, nessa situação das munições.
Quando as munições chegavam ao porto, introduzi-las na ilha era ainda mais difícil do que a própria luta. Os tugas vigiavam toda a volta de Köm, dia e noite, atentos a qualquer tentativa de reforço. Literalmente, ninguém se atrevia a atravessar o mar para a ilha.
Foi aí que surgiu Kidèlé Na Arítchgň. Ele carregava as munições numa B’sahë Në Brassa — a canoa tradicional Brassa/Balanta — e remava atravessando um mar perigoso, vigiado incessantemente pelas tropas inimigas.
Kidèlé conseguiu atravessar o mar várias vezes, sem jamais ser flagrado pelos tugas. A pergunta que não se cala até hoje é: “Como nunca encontrou tugas?” Será milagre? Coincidência? Talvez. Não é à toa que seus pais o chamaram de Kidèlé, que em Brassa significa literalmente 'Milagre'. E, de fato, um verdadeiro milagre aconteceu no abastecimento da guerra da ilha, graças a ele.
Kpänsau sabia da força do inimigo. Admitia a inferioridade numérica e material antes de encarar a batalha, mas soube provocar os tugas, desgastando-os física e materialmente. Até mesmo simples silhuetas de soldados falsos, colocadas na escuridão da noite, faziam os tugas gastarem munições desnecessárias.”
− Conseguiu colocar muitos combatentes inimigos fora de combate com apenas dois ou três guerrilheiros. Seduzia e deslocava a marinha portuguesa para desembarcar de um lado, quando, na verdade, nós, homens de Kpänsau, estávamos posicionados do outro.
No tabuleiro de guerra, procurava sempre deixar as peças do adversário vulneráveis, para obter vantagem. Por exemplo, fazia com que os fuzileiros tugas desembarcassem ilusoriamente em pântanos enlodados, que dificultavam sua movimentação, ou em caminhos estreitos de mata densa, através de alarmes falsos. Quando os tugas caíam nessas armadilhas, era hora de nós, homens de Kpänsau, tirarmos vantagem, derrotando e danificando o maior número possível de inimigos ou de seu armamento. Daí surgiu a expressão: “tuga ka pudi anda na lama” — os tugas não sabem andar no lodo.
Kpänsau conhecia todos os espaços favoráveis a nós. Por isso, não admitia que a marinha portuguesa se aproximasse ou controlasse esses locais. Sempre atraímos os tugas para o lado do lodo, mangue, traves fechadas e clareiras seguidas de mato denso, onde os homens de Kpänsau estavam fortemente armados.
Sua firme postura na luta de Köm encorajou até as mulheres a dispararem contra embarcações portuguesas que ousassem avançar pelos rios da floresta adentro.
O céu da ilha estava coberto de fumaça, resultado dos disparos de canhões a partir de Kayar, Kônghan e Kambontõ contra nós em Köm. E por terra, homens, mulheres, jovens, crianças e, claro, 300 guerrilheiros liderados pelo lendário Kpänsau Na Ysna, não arredavam pé de onde estavam.
A população de Köm sofreu. Mães com crianças de colo amamentavam enquanto tentavam sobreviver. Quando os bebês choravam, a força portuguesa respondia sem piedade, metralhando ou lançando morteiros e bombas napalm contra o local, matando civis indiscriminadamente.
O povo de Köm viveu situação desumana por 75 dias. Djigân (bicho de pé) e lêndeas de piolhos infestaram pés e cabelos das pessoas. Muitos abandonaram a ilha, desacreditados, chamando Kpänsau de “Balanta teimoso”, acreditando que não venceria a guerra contra os brancos.
Chegaram relatos dizendo que Amílcar Cabral pediu que Kpänsau e os guerrilheiros em Köm abandonassem a luta, para poupar a população civil do massacre que as tropas coloniais praticavam. Mas Kpänsau, intransigente, meneou a cabeça e dizia: “Wisaguë Kanã” (não acredito nisso). Ignorou a ordem e prosseguiu seu trabalho, certo de que a vitória estava próxima.
Como se não bastasse, M’bana, um dos nossos soldados recebeu informação triste no dia 19 de fevereiro, quarta-feira de 1964: os tugas queimavam deliberadamente o arroz do Brassa, para impedir a persistência dos guerrilheiros do PAIGC. Sabiam que nós, Balanta, éramos mais de 90% da guerrilha, e produtores de arroz de excelência, essenciais para alimentar os combatentes.
− O que eu, N’tchaagň ?!− esbravejei com lamento.
− ‘Hack N’ghala, biotë bìg impanpan ni Bifilá, Biafadá kinë a binalú… bë thëd malu ni Brassa tida! Hack, Bëbábm match bu! Weñan miin yá ki Brassa a bi ka hera.’ ("Meu Deus! Ignoraram impanpan de Fulas, Biafadas de Quinára e de Tombaly… só queimam arroz dos Brassa! Então, os tugas nos detestam! Já está claro que declararam guerra a nós, Brassa!") [Impampan ou pampan, em crioulo, arroz de sequeiro] − dizia N’tchaagň, horrorizado, lembrando daquele episódio.
No dia 20 de março, sexta-feira de 1964, quatro dias antes de terminar a guerra, recebemos mais uma informação: os tugas estavam matando bois e vacas em Katün, a tiro, deliberadamente, sem levar a carne. Era destruição clara, com a intenção de causar prejuízo ao nosso povo.
Sempre, durante a guerra, as vacas e os bois dos Brassa serviam de alimento para eles. Sempre que invadiam terras Brassa, pilhavam, saqueavam, matavam, mas escolhiam os melhores animais para consumo em seus quartéis. Agora, ao perderem a guerra, matavam sem levar nada. N’tchaagň se horrorizava contando isso para mim.
Nunca foram aos povoados de outros grupos étnicos para cometer tal destruição, pois representavam pouco valor para o abastecimento dos guerrilheiros do PAIGC.
Como quase todos os nomes B’ráassa, Kpänsau carrega em si um sentido profundo. Ao pé da letra, significa “Morança acabou” ou “Desmoronou”, e pode ser estendido para expressões como: “a geração acabou”, “minha gente acabou”, “meus parentes acabaram”.
É um nome que evoca o desaparecimento, a perda e, ao mesmo tempo, a força de quem resiste diante da morte ou da destruição.
A preposição “Na” tem papel especial na língua de B’ráassa. Ela equivale às preposições portuguesas “de”, “da” ou “do”, e serve para apontar o clã a que o indivíduo pertence.
Entre os B’ráassa de Ñakrá, raramente se usa o nome do pai junto ao próprio nome; o filho é do clã, e não do pai. Essa escolha revela a horizontalidade e o espírito de democracia e de harmonia de nosso povo.
Um exemplo disso é Dába Na Walna, uma das grandes referências intelectuais da Guiné-Bissau, embora ele próprio não se vê como tal. [É hoje brigadeiro-general.]
Eu nunca conheci o nome do pai biológico dele, e, que eu saiba, “Na Walna” não se refere ao pai. A preposição indica o clã, a morança ou a tabanca à qual a pessoa pertence. O mesmo se aplica ao meu sobrenome, “Na Tchigna”, e a muitos. outros.
Assim, o nome Kpänsau Na Ysna não é apenas um conjunto de palavras: é história, memória e identidade. Ele lembra a coragem, a luta e a resistência de um povo que enfrentou a opressão e o perigo com coração firme.
Faço questão de homenageá-lo neste mês de janeiro de 2018, quando a libertação de Köm completa 54 anos. Foi nesse mês, em 1964, que Köm viu seu valente filho defendê-la como terra indivisível entre guineenses e colonialistas.
E eu o homenageio não apenas porque seu nome batiza uma avenida de Bissau, onde hoje se situa o Hospital Simão Mendes, mas porque sua vida e sua memória merecem ser celebradas, lembradas e honradas para sempre.
Quando criança, sempre fui um menino curioso e amante de histórias. Mas não de qualquer história: gostava de ouvir fatos verídicos, aqueles que carregam sangue, suor e coragem.
Foi assim que, ainda pequeno, fui contado sobre a batalha de Köm, quando Kpänsau Na Ysna, em vida, era comandante de Baraka Garandi [barraca grande.] , o quartel-general daquela ilha.
Eu tinha apenas 10 anos, em 1980, quando ouvi, hipnotizado, meu tio N’tchaagň, um dos guerrilheiros e testemunha ocular da batalha, relatar-me os acontecimentos de Köm. Minha pergunta foi simples, mas carregava a curiosidade de uma criança:
− N’tchaagn, abala a ba hër a Köm? (“N’tchaagň, como foi a guerra de Köm?”)
Depois de um jantar simples, numa cabana, com arroz e peixe, ele tomou seu vinho de cíbi [cibe, palma] , feito artesanalmente pelos anciões B’ráassa, e retrucou-me com voz firme:
− M’bana Bláthë, Köm key won nhunthë! (“Bláthë, não deve lembrar-se de Köm.”)
Olhou para o espaço, como se carregasse toda a fúria e a dor da memória. Ficou alguns segundos em silêncio, pensativo, e então começou o conto.
Com seu sotaque Brassa, disse:
− Köm... Köm e Kation...[Como e Catió]
Percebia que precisava de explicação: ele continuou, com paciência:
− Como você ainda não sabe, Köm é um dos setores de Kation. Ou seja, Catió. Do porto de Köm até aos nossos esconderijos distam apenas 7 km.
Durante os combates, alguns portugueses descreveram Köm como uma ilha maldita; para outros, uma ilha que fazia os cabelos de qualquer um ficarem em pé, disse tio N’tchaagň, com olhar distante, lembrando-se dos horrores e da coragem vivida.
− De Kation até a ilha, eu não sei ao certo. Mas imagino que seja uma distância de 15, 20, no máximo 30 km. E… como os portugueses estavam aquartelados em Catió, não podiam tolerar a presença de ‘terroristas’ — como nos chamavam, nós do PAIGC, naquela época pelos portugueses − prosseguiu o tio N’tchaagň.
Era uma afronta para o exército português conviver lado a lado com um inimigo indesejável. Além disso, Brandão [Manuel de Pinho Brandão] , um comerciante português, tinha um comércio florescente, quase sem concorrência, ao contrário dos comerciantes libaneses que dominavam boa parte da Guiné-Portuguesa. Portanto, era interesse dos portugueses nos expulsar de Köm definitivamente, para assegurar sua hegemonia.
Tio N’tchaagň deu uma pausa, tomou um gole do seu vinho de cíbi, e se calou. Eu, criança curiosa, olhava para ele ansioso, esperando que continuasse o conto. Ele percebeu meu olhar e, com um leve suspiro, retomou:
− E, o comandante Kpänsau Na Ysna sabia disso. Além dos informantes que nos alertavam sobre os movimentos e intenções dos tugas na ilha, ele próprio era um homem inteligente, estrategista de guerra, guerreiro nato, corajoso como poucos que já conheci e intransigente quando se tratava de defender nossa posição. Não gostava de perder.
Eu, N’tchaagňs, nunca conheci igual. Cada um dos nossos comandantes tinha seu jeito de comandar, mas Kpänsau permanece uma lenda em minha mente até hoje − disse, com a voz sufocada, tentando disfarçar as lágrimas que brilhavam entre suas pálpebras avermelhadas de emoção.
Eu, sensível como sempre, ao vê-lo tomado pela emoção, senti minhas próprias lágrimas brotarem.
− Bláthë! — chamou-me carinhosamente pelo codinome e prosseguiu:
− Kpänsau não estava dentro de Köm no pré-anúncio da batalha. Estava em missão fora da ilha. Pelo que sei, não muito claro, ele se encontrava próximo a M’brüi (Caboxanque), Tchüm-Kpáss (Cadique) ou Yembrém [Jemberém].
De lá, sabendo que Köm seria atacada pelo exército português, apressou-se a voltar, andando na maioria das vezes à noite, atravessando Tchüm-Kpáss (Cadique), Flágck-N’ñandy (Ilhéu de N’fandá), Kybíl, Katün e, ainda, pântanos e bolanhas — os campos agrícolas — até chegar dentro de Köm.
Quando Kpänsau finalmente chegou, M’bana, a guerra já havia começado, no dia 14 de janeiro, uma terça-feira. Comandante N’Dìnè Na Abarrna já foi atingido e morto. Mas comandante Guádn Na Ndamy e Biohctá Na M’bátcha, asseguraram as rédeas da guerra como líderes de grupos que já estavam na ilha.
Mas, misteriosamente, Kpänsau caiu enfermo. Suas pernas incharam, e ele não conseguiu andar por duas semanas. Para não criar alarde ou pânico entre os soldados — e muito menos entre os inimigos — ninguém sabia da sua doença. Apenas Biohctá Na M’bátcha e alguns outros líderes conheciam o segredo do lendário comandante.
Perguntaram a ele se seria melhor evacuá-lo de Köm, mas ele esbravejou com voz determinante:
− N’keia yânta. Bitën luza. Bbürtikìz tën luza. Köm ka wínbu. (“Não saio daqui. Quem tem que ir embora são os portugueses. Köm é nosso.”)
Pouco depois de duas semanas, recuperou-se do inchaço e estava pronto, invicto, para uma missão que parecia quase impossível de realizar.
Não podemos dizer que Kpänsau fez tudo sozinho, M’bana. Reconhecemos três nomes que foram fundamentais: o próprio Kpänsau, Guádn Na Ndamy e Biohctá Na M’bátcha — bravos colegas que sempre estiveram por perto, obedecendo ou questionando quando necessário. Contudo, as decisões partiam dele, como comandante em chefe.
Ao entardecer, quando o crepúsculo começava, chamava Biohctá Na M’bátcha para tomar vinho de palma, aliviar a tensão do dia trabalhoso, analisar as ações já desencadeadas e preparar-se para o dia seguinte.
Tio N’tchaagn parou e me pediu que levasse vinho de cíbi ao seu primo, na varanda da casa ao lado. Fui e voltei rápido. Já tinham se passado 16 anos desde que a batalha havia ocorrido, mas o homem combatente, N’tchaagň, como contador nato de histórias, lembrava com detalhes cada episódio dirigido por Kpänsau Na Ysna.
Continuou, com a voz firme:
− O exército português batizou a guerra contra Köm de ‘Operação Tridente’. Nas suas imaginações, queriam recuperar não só Köm, mas também Katugn, Cayar — onde ficava o batalhão da força portuguesa, fornecendo reforços a qualquer pelotão — e até se instalaram em Kônghan.
Estrategicamente, posicionaram-se no porto de Köm, Katchil, N’komny, Kônghan — onde se instalou o general português que dirigia a operação. Mas nada disso intimidou o lendário, pois os portugueses desconheciam, e ainda subestimavam, o poderio e o grau de organização de Kpänsau Na Ysna com seus homens, já bem posicionados, sobretudo na tática móvel, que ele dominava como poucos.
Tio N’tchaagň já estava cansado. Passavam das 23 horas, e, tomado pela embriaguez, pediu para interromper o relato. Parou, e eu fui dormir. Empurrei a porta e minha mãe perguntou:
− Você ainda não dormiu, M’bana?
Não respondi, com medo de levar um açoite, e passei silencioso para o quarto. Minha mente ruminava todas as palavras, percorrendo a história inteira, até que o sono me venceu.
Dois dias depois, tio N’tchaagň pediu que eu relatasse novamente tudo o que havia ouvido sobre Kpänsau. Repiti tudo. Ele aprovou e disse:
− Ótimo, bom menino. Guarde bem, para que ninguém te conte outra história que não seja esta.
Prosseguiu:
− Kpänsau organizou seus homens em dois grupos diferentes.
O primeiro grupo era armado de guerrilha e fixo em áreas territoriais específicas. Esse grupo defendia o espaço aéreo de Köm, instalava a defesa antiaérea e improvisava um hospital subterrâneo. Possuíam armamentos sofisticados que os tugas não imaginavam que tivéssemos.
Ao todo, éramos 300 guerrilheiros contra mais de 800 homens da força portuguesa. Uma desigualdade evidente, claro, com vantagem para os tugas. Além de números superiores, eles tinham armas de maior quantidade e qualidade, aviões, navios e pequenas embarcações para se deslocarem à vontade — facilidades que nós não possuíamos.
− Nós tínhamos armas que começavam a se igualar a algumas deles. Mas a distância entre nós e as armas, que ficavam na fronteira de Conakry, era enorme. Transportá-las até nós era uma dificuldade enorme. O único transporte disponível eram pessoas dispostas — ou obrigadas — a ir a pé buscar armas e munições na fronteira com a Guiné-Conakry.
A viagem para buscar munições durava quatro a cinco dias, se o grupo não encontrasse tugas no caminho. O percurso saía de Köm e passava por: Wedë-Kaya ou Kantônaz, Ndin-Welgglè, Kandjóla, Kan, Kangnha-Ley, Katché, Kambíl, N’gháfu, N’thâne, Banta-Silla, N’dala-Yèll, Sambassa, Linga-Yèll, N’tchintchedaré, Yeng — até a fronteira de Conakry.
Essa distância em linha reta é de aproximadamente 160 a 200 km, mas, como os viajantes precisavam contornar rios, pântanos e territórios hostis, acredito que percorram 200 a 230 km.
Imagina, M’bana, percorrer essa distância carregando munições pesadas na cabeça… às vezes com fome, apenas bebendo açúcar cubano dissolvido em água? Não posso deixar de mencionar Kidèlé Na Arítchgň, herói desta história. Devo contar um pouco sobre ele, nessa situação das munições.
Quando as munições chegavam ao porto, introduzi-las na ilha era ainda mais difícil do que a própria luta. Os tugas vigiavam toda a volta de Köm, dia e noite, atentos a qualquer tentativa de reforço. Literalmente, ninguém se atrevia a atravessar o mar para a ilha.
Foi aí que surgiu Kidèlé Na Arítchgň. Ele carregava as munições numa B’sahë Në Brassa — a canoa tradicional Brassa/Balanta — e remava atravessando um mar perigoso, vigiado incessantemente pelas tropas inimigas.
Kidèlé conseguiu atravessar o mar várias vezes, sem jamais ser flagrado pelos tugas. A pergunta que não se cala até hoje é: “Como nunca encontrou tugas?” Será milagre? Coincidência? Talvez. Não é à toa que seus pais o chamaram de Kidèlé, que em Brassa significa literalmente 'Milagre'. E, de fato, um verdadeiro milagre aconteceu no abastecimento da guerra da ilha, graças a ele.
Kpänsau sabia da força do inimigo. Admitia a inferioridade numérica e material antes de encarar a batalha, mas soube provocar os tugas, desgastando-os física e materialmente. Até mesmo simples silhuetas de soldados falsos, colocadas na escuridão da noite, faziam os tugas gastarem munições desnecessárias.”
− Conseguiu colocar muitos combatentes inimigos fora de combate com apenas dois ou três guerrilheiros. Seduzia e deslocava a marinha portuguesa para desembarcar de um lado, quando, na verdade, nós, homens de Kpänsau, estávamos posicionados do outro.
No tabuleiro de guerra, procurava sempre deixar as peças do adversário vulneráveis, para obter vantagem. Por exemplo, fazia com que os fuzileiros tugas desembarcassem ilusoriamente em pântanos enlodados, que dificultavam sua movimentação, ou em caminhos estreitos de mata densa, através de alarmes falsos. Quando os tugas caíam nessas armadilhas, era hora de nós, homens de Kpänsau, tirarmos vantagem, derrotando e danificando o maior número possível de inimigos ou de seu armamento. Daí surgiu a expressão: “tuga ka pudi anda na lama” — os tugas não sabem andar no lodo.
Kpänsau conhecia todos os espaços favoráveis a nós. Por isso, não admitia que a marinha portuguesa se aproximasse ou controlasse esses locais. Sempre atraímos os tugas para o lado do lodo, mangue, traves fechadas e clareiras seguidas de mato denso, onde os homens de Kpänsau estavam fortemente armados.
Sua firme postura na luta de Köm encorajou até as mulheres a dispararem contra embarcações portuguesas que ousassem avançar pelos rios da floresta adentro.
O céu da ilha estava coberto de fumaça, resultado dos disparos de canhões a partir de Kayar, Kônghan e Kambontõ contra nós em Köm. E por terra, homens, mulheres, jovens, crianças e, claro, 300 guerrilheiros liderados pelo lendário Kpänsau Na Ysna, não arredavam pé de onde estavam.
A população de Köm sofreu. Mães com crianças de colo amamentavam enquanto tentavam sobreviver. Quando os bebês choravam, a força portuguesa respondia sem piedade, metralhando ou lançando morteiros e bombas napalm contra o local, matando civis indiscriminadamente.
O povo de Köm viveu situação desumana por 75 dias. Djigân (bicho de pé) e lêndeas de piolhos infestaram pés e cabelos das pessoas. Muitos abandonaram a ilha, desacreditados, chamando Kpänsau de “Balanta teimoso”, acreditando que não venceria a guerra contra os brancos.
Chegaram relatos dizendo que Amílcar Cabral pediu que Kpänsau e os guerrilheiros em Köm abandonassem a luta, para poupar a população civil do massacre que as tropas coloniais praticavam. Mas Kpänsau, intransigente, meneou a cabeça e dizia: “Wisaguë Kanã” (não acredito nisso). Ignorou a ordem e prosseguiu seu trabalho, certo de que a vitória estava próxima.
Como se não bastasse, M’bana, um dos nossos soldados recebeu informação triste no dia 19 de fevereiro, quarta-feira de 1964: os tugas queimavam deliberadamente o arroz do Brassa, para impedir a persistência dos guerrilheiros do PAIGC. Sabiam que nós, Balanta, éramos mais de 90% da guerrilha, e produtores de arroz de excelência, essenciais para alimentar os combatentes.
− O que eu, N’tchaagň ?!− esbravejei com lamento.
− ‘Hack N’ghala, biotë bìg impanpan ni Bifilá, Biafadá kinë a binalú… bë thëd malu ni Brassa tida! Hack, Bëbábm match bu! Weñan miin yá ki Brassa a bi ka hera.’ ("Meu Deus! Ignoraram impanpan de Fulas, Biafadas de Quinára e de Tombaly… só queimam arroz dos Brassa! Então, os tugas nos detestam! Já está claro que declararam guerra a nós, Brassa!") [Impampan ou pampan, em crioulo, arroz de sequeiro] − dizia N’tchaagň, horrorizado, lembrando daquele episódio.
No dia 20 de março, sexta-feira de 1964, quatro dias antes de terminar a guerra, recebemos mais uma informação: os tugas estavam matando bois e vacas em Katün, a tiro, deliberadamente, sem levar a carne. Era destruição clara, com a intenção de causar prejuízo ao nosso povo.
Sempre, durante a guerra, as vacas e os bois dos Brassa serviam de alimento para eles. Sempre que invadiam terras Brassa, pilhavam, saqueavam, matavam, mas escolhiam os melhores animais para consumo em seus quartéis. Agora, ao perderem a guerra, matavam sem levar nada. N’tchaagň se horrorizava contando isso para mim.
Nunca foram aos povoados de outros grupos étnicos para cometer tal destruição, pois representavam pouco valor para o abastecimento dos guerrilheiros do PAIGC.
Mas, num só dia, M’bana, antes mesmo de você nascer, o exército português queimou arroz nas tabankas de: Kablôn, M’brüi, N’ñaaé Thúe/Tchuguê, Kátche, Kângha-lei, Kibumbän, Kambyl, N’thäny, Saráck-Djaty, Saráck-Cull, Sambassa, Botche-Thãnthä, N’dala-Yièll e até o arroz do pai de Kpänsau em Banta-Sillá.
Ou seja, 14 aldeias dos Brassa sofreram perdas enormes, por serem tabancas que abrigavam armazéns e produzam arroz em larga escala para abastecer os guerrilheiros.
Isso chegou aos ouvidos de Kpänsau, que permaneceu em silêncio por um instante antes de responder ao informante:
−Wìì biotte Bin hera ki bo? Wil wólo kei bo tchóhg-na sifá kë sif-bu. Be mada thedá, bë kite thët, wetè kher ka herë kantë be-fida buidn ya bitën lusa ka botchi-bu. ("Por que não vêm nos combater? Nada vai nos fazer desistir do nosso trabalho. Que queimem arroz da nossa população, mas a guerra vai prosseguir até que entendam que têm que sair da nossa terra.")
O abuso que as tropas coloniais cometiam ao matar civis doía profundamente em Kpänsau. Mas ele sabia que era guerra psicológica, pregada pelos homens de Salazar, para intimidá-lo e fazê-lo abandonar as armas.
Kpänsau não se abateu e manteve firme seu propósito de libertar o povo. Circulava pessoalmente pela linha de frente, observando cada detalhe da batalha. Não era um comandante que apenas dava ordens do quartel-general. Ao chegar à linha de frente, via alguns combatentes famintos, que não comiam há dias, misturando apenas açúcar cubano com água para continuar entrincheirados.
Encorajava-os com palavras de coragem:
− ‘Herá, botche-bo win! ("Lutemos, a terra é nossa!")
O dia de Kpänsau começava entre 5h e 6h da manhã, quando toda movimentação para mais um dia sangrento se iniciava. Instalado na Baranka Garandi — quartel-general do PAIGC — elaborava planos e decretava ordens para missões quase impossíveis.
No plano espiritual, Kpänsau era animista. Reuniu anciãos, anciãs, sacerdotes e sacerdotisas na Baraka Garandi, buscando proteção e vitória. No centro de adoração (Baloba, guardião da ilha de Köm), os sacerdotes faziam sacrifícios e consultavam o Baloba, enquanto as sacerdotisas, ladeadas por seu povo, murmuravam palavras inaudíveis, pedindo proteção para Kpänsau e seus guerrilheiros, que combatiam os tugas ferozmente.
As árvores, M’bana, testemunharam durante 75 dias tudo o que hoje te conto. Assim foram os dias de 14 de janeiro (terça-feira) a 24 de março (terça-feira) de 1964, na ilha de Köm.
Antes de terminar, [eu, M’bana N’tchigna] faço um pequeno esclarecimento.
Vamos escrever a nossa história como ela realmente aconteceu. Já ouvi muitas pessoas tentando associar a vitória de Köm ao ex-presidente Nino Vieira. Uma coisa é verdadeira: general Nino Vieira foi comandante de frente Sul, sim, por um período.
Mas, de acordo com relatos de vários combatentes, Nino não lutou na batalha de Köm. Estava em Conakry. Perguntei a N’tchaagň, que confirmou: realmente não viu Comandante Nino Vieira em Köm durante os 75 dias de combates, e não soube precisar o que Nino estava fazendo em Conakry, afirmando apenas que ouviu dizer que ele estava internado por motivo de doença.
Com todo respeito aos meus leitores: não sou dono da verdade absoluta. Se alguém tiver outra versão sobre Köm, em que Nino realmente participou e dirigiu a luta, entre em contato comigo. Eu, M’bana N’tchigna, transferirei essa homenagem a ele, pois o justo é justo.
Conclusão:
Enquanto isso, só posso concluir, em breves linhas, que render homenagem a Kpänsau Na Ysna é mais do que homenagem. É devolver louros a quem realmente merece. E é, sobretudo, um olhar profundo em direção ao resgate da nossa história.
M’bana N’tchigna, Mestre em Políticas Públicas.
Fonte: página pessoal de M’bana N’tchigna, no Facebook.
Ou seja, 14 aldeias dos Brassa sofreram perdas enormes, por serem tabancas que abrigavam armazéns e produzam arroz em larga escala para abastecer os guerrilheiros.
Isso chegou aos ouvidos de Kpänsau, que permaneceu em silêncio por um instante antes de responder ao informante:
−Wìì biotte Bin hera ki bo? Wil wólo kei bo tchóhg-na sifá kë sif-bu. Be mada thedá, bë kite thët, wetè kher ka herë kantë be-fida buidn ya bitën lusa ka botchi-bu. ("Por que não vêm nos combater? Nada vai nos fazer desistir do nosso trabalho. Que queimem arroz da nossa população, mas a guerra vai prosseguir até que entendam que têm que sair da nossa terra.")
O abuso que as tropas coloniais cometiam ao matar civis doía profundamente em Kpänsau. Mas ele sabia que era guerra psicológica, pregada pelos homens de Salazar, para intimidá-lo e fazê-lo abandonar as armas.
Kpänsau não se abateu e manteve firme seu propósito de libertar o povo. Circulava pessoalmente pela linha de frente, observando cada detalhe da batalha. Não era um comandante que apenas dava ordens do quartel-general. Ao chegar à linha de frente, via alguns combatentes famintos, que não comiam há dias, misturando apenas açúcar cubano com água para continuar entrincheirados.
Encorajava-os com palavras de coragem:
− ‘Herá, botche-bo win! ("Lutemos, a terra é nossa!")
O dia de Kpänsau começava entre 5h e 6h da manhã, quando toda movimentação para mais um dia sangrento se iniciava. Instalado na Baranka Garandi — quartel-general do PAIGC — elaborava planos e decretava ordens para missões quase impossíveis.
No plano espiritual, Kpänsau era animista. Reuniu anciãos, anciãs, sacerdotes e sacerdotisas na Baraka Garandi, buscando proteção e vitória. No centro de adoração (Baloba, guardião da ilha de Köm), os sacerdotes faziam sacrifícios e consultavam o Baloba, enquanto as sacerdotisas, ladeadas por seu povo, murmuravam palavras inaudíveis, pedindo proteção para Kpänsau e seus guerrilheiros, que combatiam os tugas ferozmente.
As árvores, M’bana, testemunharam durante 75 dias tudo o que hoje te conto. Assim foram os dias de 14 de janeiro (terça-feira) a 24 de março (terça-feira) de 1964, na ilha de Köm.
Antes de terminar, [eu, M’bana N’tchigna] faço um pequeno esclarecimento.
Vamos escrever a nossa história como ela realmente aconteceu. Já ouvi muitas pessoas tentando associar a vitória de Köm ao ex-presidente Nino Vieira. Uma coisa é verdadeira: general Nino Vieira foi comandante de frente Sul, sim, por um período.
Mas, de acordo com relatos de vários combatentes, Nino não lutou na batalha de Köm. Estava em Conakry. Perguntei a N’tchaagň, que confirmou: realmente não viu Comandante Nino Vieira em Köm durante os 75 dias de combates, e não soube precisar o que Nino estava fazendo em Conakry, afirmando apenas que ouviu dizer que ele estava internado por motivo de doença.
Com todo respeito aos meus leitores: não sou dono da verdade absoluta. Se alguém tiver outra versão sobre Köm, em que Nino realmente participou e dirigiu a luta, entre em contato comigo. Eu, M’bana N’tchigna, transferirei essa homenagem a ele, pois o justo é justo.
Conclusão:
Enquanto isso, só posso concluir, em breves linhas, que render homenagem a Kpänsau Na Ysna é mais do que homenagem. É devolver louros a quem realmente merece. E é, sobretudo, um olhar profundo em direção ao resgate da nossa história.
M’bana N’tchigna, Mestre em Políticas Públicas.
Fonte: página pessoal de M’bana N’tchigna, no Facebook.
(Revisão / fixação de texto, links, parênteses retos: LG)
2. Comentário do editor LG:
M'bana N'tchigna é um "intelectual balanta da diáspora", que estudou e vive no Brasil.
(i) Perfil académico e profissional: Formação: possui licenciatura em Filosofia, bacharelado em Teologia e mestrado em Políticas Públicas (Dissertação de 2017: A educação no processo de libertação da Guiné-Bissau: a percepção de Amílcar Lopes Cabral);
(ii) Atividade Principal: é professor do Ensino Médio, onde leciona a disciplna de Filosofia;
(iii) Residência: Vive em Vitória, Brasil.
(iv) Temas de interesse: Etnia Balanta: é um notável representante da etnia Balanta na diáspora, sendo autor do blogue "Intelectuais Balantas na Diáspora"; tem escrito sobre o tribalismo, a cultura,a história, e as questões sociopolíticas que afetam os Balantas e a Guiné-Bissau.
(v) História e memória: M'bana N'tchigna procurado preseravr em preservar a história e as histórias, não escritas, do seu povo,como esta, sobre Kpänsau Na Ysna oi Pansau Na Isna (1938-1970), um dos heróis da liberdade da Pátria" cujos restos mortais repousam no panteão nacional, na Fortaleza da Amura. (A sua principal fonte de informação sobre neste caso foi o seu tio N'tcháagnň, que lutou ao ao lado de Pansau na Isna, na ilha do Como, falecei em 2006).
2. Comentário do editor LG:
M'bana N'tchigna é um "intelectual balanta da diáspora", que estudou e vive no Brasil.
(i) Perfil académico e profissional: Formação: possui licenciatura em Filosofia, bacharelado em Teologia e mestrado em Políticas Públicas (Dissertação de 2017: A educação no processo de libertação da Guiné-Bissau: a percepção de Amílcar Lopes Cabral);
(ii) Atividade Principal: é professor do Ensino Médio, onde leciona a disciplna de Filosofia;
(iii) Residência: Vive em Vitória, Brasil.
(iv) Temas de interesse: Etnia Balanta: é um notável representante da etnia Balanta na diáspora, sendo autor do blogue "Intelectuais Balantas na Diáspora"; tem escrito sobre o tribalismo, a cultura,a história, e as questões sociopolíticas que afetam os Balantas e a Guiné-Bissau.
(v) História e memória: M'bana N'tchigna procurado preseravr em preservar a história e as histórias, não escritas, do seu povo,como esta, sobre Kpänsau Na Ysna oi Pansau Na Isna (1938-1970), um dos heróis da liberdade da Pátria" cujos restos mortais repousam no panteão nacional, na Fortaleza da Amura. (A sua principal fonte de informação sobre neste caso foi o seu tio N'tcháagnň, que lutou ao ao lado de Pansau na Isna, na ilha do Como, falecei em 2006).
(vi) Questões nacionais: Tem analisado e escrito sobre temas cruciais para a Guiné-Bissau, como a produção agrícola (nomeadamente o arroz) e a necessidade de erguer diques de contenção para erradicar a fome e a pobreza.
M’bana N’tchigna tem utilizado as redes sociais para dizer o que pensa do futuro e d os desafios políticos, económicos e sociais do seu país. Tem pãgina no Facebook.página no Facebook, Mbana Ntchigna (donde reproduzimos esta versão, mais recente, sobre o "herói do Komo", em registo de "conto popular africano") (*****)
_________________
Notas do editor LG:
(*) Vd. poste de 12 de janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2435: PAIGC - Quem foi quem (6): Pansau Na Isna, herói do Como (1938-1970) (Luís Graça)
Vd. também Wikipedia > Pansau Na Isdna
(**) Vd. Symes, Peter (2000). «The Bank Notes of Guinea-Bissau») (ogionalmente publicado nio International Bank Note Society Journal, .Volume 39, No.1, 2000). (Revisto e atualizado em novembro de 2000).
(***) Vd. poste de 25 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23736: Casos: a verdade sobre... (31): Pansau Na Isna, o "herói do Como" (1938 - 1970), entre o mito e a realidade - Parte II: Visto do lado de lá
Vd. também poste de 20 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23723: Casos: a verdade sobre... (30): Pansau Na Isna, o "herói do Como" (1938 - 1970), entre o mito e a realidade - Parte I: Visto do lado de cá
Vd. também poste de 20 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23723: Casos: a verdade sobre... (30): Pansau Na Isna, o "herói do Como" (1938 - 1970), entre o mito e a realidade - Parte I: Visto do lado de cá




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