terça-feira, 3 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25907: Manuel de Pinho Brandão: entre o mito e a realidade - Parte VIII: Nascido por volta de 1893, terá chegado à Guiné depois da I Grande Guerra, tendo-se instalado em Bolama, nos Bijagós e, mais tarde, em Ganjola: em 1960 produzia duas mil toneladas de arroz (Recorte de jornal, enviado pelo Manuel Barros Castro, que o conheceu pessoalmente, e que foi fur mil enf, CCAÇ 414, Catió, 1963/645, e Cabo Verde, 1964/65)



"Manuel de Pinho Brandão quando chegou à Guiné"




Em 1960/1961 tinha 68 anos, e mais de 40 anos de Guiné. Pelas nossas contas, terá nascido por volta de 1892/93, e terá chegado à Guiné depois da I Grande Guerra,  c. 1918/19. São as primeiras fotos que temos do "velho Brandão" de Bolama, de Ganjolá, da ilha do Como, de Catió.



Manuel Barros Castro, ex-fur mil enf,
CCAÇ 414, Catió (1963/64) e Cabo Verde (1964/65);
nascido em 1940, Pica, São Gens, Fafe;
é um dos nossos "veteraníssimos";
integra a nossa Tabanca Grande desde 4/7/2019;
tem 18 referências no blogue


1. Mensagem do nosso camarada Manuel Barros Castro:

Data - domingo, 1/09/2024, 16:57
Assuntio - Manuel Brandão

Caro Camarada Carlos Vinhal,

Ao entrar no blogue deparou-se-me a notícia de uma reclamação apresentada pelo sr. Manuel de Pinho Brandão, em 1935.

O meu camarada Manuel Silva emprestou-me o n.º 95 da revista ilustrada “Portugal d`aquém e d`além mar”, do ano XXIV, da qual extraí as digitalizações aqui anexas sobre o sr Brandão, que conheci pessoalmente em Ganjola.

Junto, também a capa da revista.

Com grande abraço,

Manuel Castro (tabanqueiro 793).

2. Excertos da revista ilustrada "Portugal d'Aquém e d'Além Mar",  ano XXIV, nº 95, março  de 1961, pp. 38-39.  O "diretor, proprietário e editor" desta revista, muito ao gosto da época, de divulgação e propaganda das várias parcelas do território ultramarino, está de "visita" à Guiné, em data que não podemos precisar, mas tudo indica que seria no tempo seco, no início do ano de 1961, "na hora conturbada que (o país) atravessa" (referência õbvia aos acontecimentos em Angola).  Faz questão de ir a Ganjola, a 300 km de Bissau, para conhecer os vastos "domínios" do Manuel de Pinho Brandão que havia conhecido há 5 anos atrás (c. 1955/56) e que ele descreve como um lídimo representante dos portugueses de antanho. 

Ficamos a saber algo mais sobre a história (até então de sucesso)  deste "beirão",   de "espírito industrioso e coração magnânimo",  que  vivia em Ganjola, "como um rei, nos seus vastos domínios, em cuja coroa está gravado o honrado brasão do trabalho" (...), "feliz, entre os seus leais súbditos,preocupado apenas com o bom governo do seu reino", e raramente "transpo(ndo) as suas fronteiras". 

O Santos Guerra vai visitá-lo "de surpresa", encontrando-o em plena atividade, no campo,  "em cima do camião carregado  de sacos e de pretos, de peito e barriga à vela" (sic). 

Não há qualquer referência aos seus primórdios na Guiné, e às razões que o levaram até lá... Nem à sua família.  

Estabeleceu-se primeiro em Bolama e nos Bijagós (apanhou a guerra de Canhabaque, em 1936), para se tornar mais tarde  um grande agricultor, instalando-se em Tombali...  Produzia erntão mais de 2 mil toneladas de arroz... Tinha meia centena de trabalhadores permanentes (e três vezes mais, de trabalhadores sazonais) e já um parque de máquinas, razoável para a época.

(A quantidade de produção de arrroz, destinado a exportação e ao consumo interno, era notável, sabendo-se que a média de exportação do arroz, na Guiné, no período de 1956-60 foi de 1398 toneladas e no valor de  4238 contos, destinada sobretudo a Cabo Verde. LG. )

Em suma, o Manuel de Pinho Brandão era um típico colono na época, cujo património e atividade (agrícola e comercial) vão ser profundamente afetados com o início da guerra, a começar pela ocupação da ilha do Como pelo PAIGC em 1963.   Do retrato que o autor lhe faz,  ficamos também a saber que, "embora de aspeto rude", tinha "boa presença", era "amável" (...) "conversa(va) muito bem e não e(ra) nada tolo".

E o autor remata com um piscar de olho a Lisboa: "Não seria demais o Governo da Nação tributar-lhe a homenagem que ele merece"... O que, pensamos, nunca chegou a acontecer: com a guerra, o velho Brandão caiu em desgraça e perecebe-se a razão por que ele nunca quis nada com a tropa de Catió...



















Portugal d'Aquém e d'Além Mar - Revista Ilustrada, Ano XXIV, nº 95, março de 1961
Proprietário, diretor e editor: Manuel dos Santos Guerra, pp. 38-39.


(Recortes, revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25903: Manuel de Pinho Brandão: entre o mito e a realidade - Parte VII: A Bolama de finais dos anos 30


7 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Embora hagiográfico é um " bom retrato" dos homens que colonizaram a Guiné, os Pinho Brandão, os Silva Gouveia, os Fausto Teixeira, os Boaventura Camacho e outros, beirões, transmontanos, cabo-verdianos, libaneses, etc-

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Manuel Castro: Fico-te muito grato...Não havia nenhum foto do velho Brandão de Ganjola... É um achado este artigo. Já descobri que o Ano XXIV e o nº 95 da revista ilustrada Portugal d'Aquém e d'Além Mar, (proprietário, diretor e editor: Manuel dos Santos Guerra) corresponde em princípio a 1961, ao mês de janerio ou ao 1º trimestre. Encontrei na Net uam referència ao nº 94, dezembro de 1960, Ano XXIII.

O autor do artigo (e diretor da revista, Santos Guerra, havia conhecido o Pinho Brandão cinco anos antes, portanto em 1955/56. Em 1960 ele tinha 68 anos, e tinha chegado à Guiné há mais de 40 anos (o que quer dizer, finais da década de 1910, talvez no final da I Grande Guerra). Terá nascido por volta de 1892/93. Em 1935 morava em Bolama, e em 1946 já era concessionário de muitos hectares de terra na circunscrição de Catió...

Os elementos que nos mandas são já um grande avanço na sua biografia.

Manuel Castro, vê se consegues descobrir o mês de 1961, ano XXIV, a que corresponde o nº 95. Ainda não sei bem qual erea a peridocidade da revista, em princípio era (pou chegou a ser) mensal.

Ficamos-te todos muito gratos. Mantenhas. Luís Graça

Tabanca Grande Luís Graça disse...

No período de 1933/42, na Guiné, o melhor ano de exportação de arroz foi o de 1940: 7,3 mil toneladas, no valor de 6,6 mil contos... (a maior parte, 86%, foi destinada ao Continente e ilhas adjacentes)

Guiné 61/74 - P17996: Historiografia da presença portuguesa em África (102): António Estácio: O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense - Parte IV: (vi) da importação à exportação de arroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

"E tudo o vento levou"...Tal como em Angola, em Moçambique, em São Tomé e Príncipe... Gostava de saber o fim deste drama, que não foi apenas individual mas também coletivo, o fim de u,m ciclo da nossa história história e dos povos que colonizámos ...

Há um altura em que que o Manuel deve ter chamado o seu irmão Afonso, que se irá estabelecer em Catió... E aqui deixará a sua vida e uma das suas filhas, a nossa amiga Gilda Pinho Brandão (de quem, confesso, gostaria de ter notícias; talvez ela hoje saiba mais da saga da família paterna, sei que um dia foi a Arouca à procura das raízes do seu pai biológico...).

Anónimo disse...


Gilda Brandão (by email)
3 set 2024 17:04

Boa tarde caro amigo Luís,

Espero que se encontre bem, assim como os seus.

Há muito tempo que não falamos. Houve algumas mudanças na minha vida, umas boas e outras menos boas, mas graças a Deus tudo se superou com a ajuda da família, que continua a ser o meu porto de abrigo. Há cerca de 1 ano a mãe Alice partiu para o descanso eterno, deixando um vazio enorme.

Com esta perda, decidi que estava na altura de voltar à Guiné para conhecer/ rever a família materna, antes que fosse tarde demais, foi uma viagem muito emotiva, fiz as pazes com o meu passado e com alguns familiares.

De Bissau, pouco me lembrei e, como as estradas estão em muito mau estado, não foi possível ir à aldeia onde nasci - Tchugué, nem a Mampatá, aldeia onde vivia com os meus avós quando vim para Portugal; só consegui ir visitar os familiares que vivem em Gabú e Bafatá.

Ficou combinado com os meus tios voltar daqui a 2 anos, para visitar essas 2 aldeias, onde ainda vivem alguns tios e primos que não conheço.

Relativamente ao Manuel de Pinho Brandão, os meus tios disseram que ele veio para a Guiné antes do meu pai, mas que pouco sabem da história dele. Talvez alguns militares dos anos 60 saibam mais sobre o Manuel.

Beijinhos e até breve
Gilda Brandão

Anónimo disse...

Gilda Brandão (by email)
4 set 2024 13:37
«

Boa tarde Luís,
Muito obrigada. Estou de férias no norte, regresso daqui a 15 dias. Depois falo melhor consigo e partilho algumas fotos de Bissau.
Beijinhos

Manuel Castro disse...

Caro Luís Graça,
A revista n.º 95 é de Março de 1961, que a páginas 38 e 39 se refere ao Sr. Manuel Brandão.
Sobre a sua família, há tempos, o camarada da CC 414, José Marinho, falou-me de um encontro que teve, no Hospital Senhora da Oliveira, em Guimarães com um filho do Sr. Brandão que fora lá hospitalizado com o auxílio de uma familiar que crê, à época, ser médica.
Tentarei saber mais.
Mantenhas do
Manuel Castro.