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sábado, 24 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22400: Os nossos seres, saberes e lazeres (461): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (8) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Junho de 2021:

Queridos amigos,
Recebe-se um aviso do Google que há para ali um excesso de imagens, é uma sobrecarga que gera lentidão no funcionamento do computador. Para não cometer barbaridades no esvaziamento desse paquiderme de imagens, põe-se tudo no ecrã e descobre-se, com uma ponta de amargura, que se andou por ali e aqui mais próximo a desfrutar em interiores e exteriores, e que não se deu conta do recado, tornar essas imagens conviventes, a palavra é estafada mas sintetiza a motivação que as levou a tirar e guardar: partilhá-las, foram coisas de que se gostou, podem interessar a A, B ou C, dar ideias para uma visita ou itinerância. Por pura cabulice, deixei cristalizar estas imagens até chegar a advertência de que delas tenho de me desfazer, pois não será de qualquer modo, reparto-as em sede própria, se me deram satisfação a registar pode muito bem acontecer que venham a ser bem acolhidas e até dêem ideias para que de outras câmaras haja outros envios para o nosso extremoso blogue.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (8)

Mário Beja Santos

Parte-se para um evento, leva-se a devida carga de curiosidade, casos há em que previamente se estuda o que se vai ver, é regular a vontade de partilhar o que se olhou e viu, aquilo que ganhou sentido e merece alguma cogitação. Será porventura o caso destas imagens em que houve, digo-o sinceramente, a determinação de as pôr em ordem e mostrá-las aqui, o diabo tece-as, entrepõem-se outros misteres, perde-se o rumo ao que se guarda na câmara, e acontece o dia em que se abre no ecrã do computador este caleidoscópio, sente-se inicialmente um amargo de boca, ora, mais vale a emenda do que o soneto, toca de cerzir ajuntamos de imagens, há evidentemente uma lógica, e de algo que se passou de Castanheira de Pera para Figueiró dos Vinhos e daqui para Tomar se dá conta do que surpreendeu e que cada um, dentro do possível, desfrute ou ganhe apetência para ir ao encontro do que estas imagens fazem sonhar.

A Casa da Criança em Castanheira de Pera, torrão natal de Bissaya Barreto, médico filantropo que criou todo este projeto – são 25 casas da criança, todas elas com muita proximidade – e responsável por uma visita que é quase obrigatória em Coimbra – o Portugal dos Pequeninos. O médico fez muito pelas crianças e a vivacidade destes azulejos falam por si. Acontece que viera a Castanheira de Pera com alguns amigos que pretendiam conhecer o que fora o mundo têxtil da região, bem desapontados daqui saíram, o que podia ter sido um valioso património industrial vai caindo aos bocados. Era inevitável irmos ao centro histórico da vila, viu-se o jardim, que guarda pergaminhos, mostrei uma magnólia como não conheço outra igual, e todos à uma foram espreitar os azulejos, houve elogio unânime. E bem merecido, digo entre parênteses. Passou-se por outro programa e as imagens ficaram. Só que…


Painel de azulejos na Casa da Criança de Castanheira de Pera. As Casas da Criança são coloridas, com muitos mosaicos, com linhas redondas, envolvidas em espaços verdes e induzem um ambiente de vivacidade e alegria.

Mais tarde, havendo notícia de uma exposição do belo edifício do Museu e Centro de Artes de Figueiró dos Vinhos, para ali se foi num princípio de tarde, era irresistível tirar imagem da Casa da Criança, com toda a sua garridice, posso supor que nenhuma criança hesita em ali entrar. Quanto à exposição, Figueiró dos Vinhos tem alguns trunfos a dar sobre aquilo que se chama a escola naturalista, um dos sumo-sacerdotes desta corrente artística viveu ali a escassos metros, numa moradia chamada O Casulo, felizmente bem cuidada, era a casa de José Malhoa que adorava o sol de Figueiró, que interpelava velhinhas na rua, pintou até mesmo no dia em que partiu para as estrelinhas, adorava a região. Aqui também viveu Simões de Almeida, o sénior e o sobrinho, é possível contemplar belas esculturas de ambos, mas há exposições em que aparecem outros naturalistas como Silva Porto ou Henrique Pinto. Por ali se cirandou vendo obras algumas delas de grande envergadura, houve ideia de fazer delas registo, novas andanças da roda do destino, esqueceu-se que estava na câmara, mais vale tarde do que nunca, fica feito o convite para vir a Figueiró e visitar este Centro de Artes, mesmo O Casulo, e no altar-mor da Igreja há um batismo de Cristo assinado por José Malhoa. E aproveito para lembrar que em Figueiró ajudei a organizar um convívio da CCAÇ 2402, a pedido do saudoso Raul Albino, a autarquia foi recetiva ao meu pedido, recebeu toda a comitiva no Salão Nobre e cedeu as viaturas a seguir ao almoço para um belo passeio em todo o concelho. E fica a sugestão para outros encontros de unidades militares, comer satisfatoriamente e abraçar camaradas para sempre é uma dádiva irrecusável, mas se houver um bom passeio, ainda melhor, mais fica para a recordação.

Casa da Criança de Figueiró dos Vinhos
Museu Centro de Artes de Figueiró dos Vinhos, imagem de uma exposição
Há uns anos, a minha extremosa neta pediu-me para a levar a um aquaparque, mas não queria visita de médico. Encontrei a solução ali para os lados de Minde, perto das grutas de Mira d’Aire, alugam-se umas casas de madeira e o aquaparque é estonteante. Coube-me em exclusivo o ofício de andar a escorregar na água por toda aquela tubagem, com queda na piscina, a neta a insistir que queria mais, cheguei ao fim da tarde que não podia com uma gata pelo rabo, mas vê-la tão contente, aqueles olhos azuis a relampejar de alegria, fez-me esquecer a canseira. Ora, perguntará quem tem a paciência de seguir estas linhas, o que tem a ver esta conversa com a última imagem que se apresenta, o Castelo de Almourol? Na minha cabeça tem, viu-se de terra firme o castelo Templário no dia em que se chegou para a jornada de banhos aquáticos em circuito fechado, e no regresso visitou-se a Casa-Museu de Roque Gameiro, esse insigne aguarelista que assina o que o leitor está a ver, e, vamos lá, é de uma rara beleza.


Ficaria mal comigo mesmo se não vos dissesse que estas imagens, de uma exposição que já vos falei, não fossem aqui exibidas. É sempre a exultação da pedra, em pequeno a minha mãe levou-me à Avenida da Liberdade, estavam a refazer a calçada portuguesa com aqueles desenhos rendilhados do basalto embrechado no calcário, o que me impressionava era o trabalhador a sopesar a pedra, a ver se estava conforme, a martelá-la a jeito, afagando o conjunto de vez em quando, como se estivesse num ateliê com um pincel a observar a tela, e a intervir aqui e ali. Daí a importância que atribuo a esta imagem, e depois aquela seteira onde pudemos mirar o que é viver em paz, sem os calafrios de uma investida muçulmana, e por fim mais uma imagem da pedra nessa obra soberba que é o Aqueduto de Pegões, a água levada para o interior do Convento de Cristo, para mim são três imagens impressivas, a preto e branco, e tenho enormes saudades da minha infância, em que tudo era a preto e branco, e até recordo os fotógrafos à la minuta, de que guardo recordações de passeios pelas feiras ou jardins.

Imagem fotográfica extraída da exposição Os Sítios da Pedra, Complexo Cultural da Levada, Tomar, outubro/dezembro de 2020
Imagem fotográfica extraída da exposição Os Sítios da Pedra, Complexo Cultural da Levada, Tomar, outubro/dezembro de 2020
Imagem fotográfica extraída da exposição Os Sítios da Pedra, Complexo Cultural da Levada, Tomar, outubro/dezembro de 2020

E vamos continuar com mais itinerâncias, agora vamos passar para um jardim muito especial, na rua da Escola Politécnica, o Jardim Botânico. Imagine-se, fora uma tarde de surpresas, e ficara tudo cristalizado na câmara, que desperdício para quem aprecia património vegetal.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 17 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22380: Os nossos seres, saberes e lazeres (460): A pedra, a fábrica, o rio, a presença da História e da Arte em Tomar (Mário Beja Santos)