Queridos amigos,
Fica-nos a resignação de que o tempo não dá para tudo, se é verdade que se viu o passadiço das Fragas de S. Simão, um ponto alto das belezas naturais de Figueiró dos Vinhos, não se pôs os pés sem criado passadiço do Penedo do Granada, no vale do Cabril, seja como for ainda se foi ao Moinho das Freiras, que tem muito para ver com as ondulações do Zêzere entre as fragas e penedias. Chega-se a Figueiró dos Vinhos, já se tinha saudado o pintor Malhoa, havia que escolher entre o Convento de Nossa Senhora do Carmo e a igreja matriz, preferiu-se esta, guarda no seu interior, mesmo à entrada do lado esquerdo uma terna lembrança da gente do concelho que tombou lá na Flandres. E subiu-se às Fragas de S. Simão e dali se desceu à praia fluvial, tudo beleza magnânima, um curso de água esplendente protegido pelo arvoredo, cada vez que percorro estas imagens pergunto-me se os nossos artistas paisagistas conhecem este rincão e o gravam nos seus quadros, é natureza propícia para fascinar artistas (e dos visitantes já não falo, andam por ali esmagados e a gozar com aquelas penedias que na primavera se enchem de pedreiras, parecem andorinhas, vieram fazer ninho).
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (166):
Uma romagem de saudades pelo Pinhal Interior – 5
Mário Beja Santos
O tempo não é elástico, terá de ser breve a itinerância por Pedrógão Pequeno, regressar a Figueiró, percorrer as Fragas de S. Simão e abalar para o último dia da romagem de saudade, ver obras na Charola de Tomar. Escreve-se este parágrafo com uma ponta de nostalgia, vontade não faltava, embevecido pelas belas imagens o livro Tojos e Rosmaninhos, uma poesia sem graça nenhuma e um desenho de primeira categoria que, havia vontade de fazer o Vale do Cabril quase nos termos em que Alfredo Keil, que vinha acompanhado do cenógrafo Luigi Magnini, andarilhou, os seus desenhos são de facto soberbos, mostram a rudeza daqueles rochedos declivosos que mergulham no Zêzere, é um passei como poucos. Paciência, fica para a próxima, até houve o cuidado em trazer calçado apropriado para a caminhada. Aqui se deixa a menção a este livro, hoje é uma preciosidade para bibliófilos, e algumas imagens sugestivas de quem andou desde Ferreira do Zêzere e Dornes até ao Cabril.
Imagem de uma festa local
Mais festa, desta vez em Pedrógão Pequeno. Olho para a varanda daquela casa e recordo com muita saudade uma varanda quase igual que o senhor Carlos Paulino, carpinteiro e residente na Ribeira de S. Pedro, Figueiró dos Vinhos, executou para uma casa que tive em Casal dos Matos, Pedrógão GrandeNum determinado ponto no bairro do Cabril, onde vivi, avistava-se a ligação da Ribeira de Alge ao Zêzere, a pouca distância da barragem do Cabril, tendo no alto destas penedias o chamado Penedo do Granada, diz a tradição que cantado por Camões
Vim despedir-me do Moinho das Freiras em Pedrógão Pequeno. É um belo recante onde se avista o Zêzere sinuoso que vai a caminho de Constância e aqui entra no Tejo. É um território que tem conhecido incêndios uns atrás dos outros, mas a natureza reocupa-se mais cedo do que a gente pensa, deixa à mostra os fraguedos e as encostas enchem-se de flores silvestres para nos recordar que a primavera é multicolorida e odorosa
Pormenor do altar-mor da igreja matriz de Figueiró dos Vinhos, tendo no centro a pintura O Batismo de Cristo, de José Malhoa
Mudei de concelho, faço uma nova visita de médico a Figueiró dos Vinhos, a praia fluvial de Ana de Aviz ainda está adormecida. A pretexto de tomar um café ainda voltei à igreja matriz, mais um desses templos que vêm do século XIII e conheceram sucessivas reconstruções, entre 1898 e 1904 houve obras de remodelação sobre a direção do arquiteto Ernesto Reynaud, parece que mexeu em tudo menos no pórtico renascentista. As Fragas de S. Simão são verdadeiramente um contraponto, estou agora no miradouro a contemplar as imponentes fragas, a vista pode descer até à praia fluvial ou ao mesmo nível lá do alto, ver na correnteza a aldeia de xisto de Casal de S. Simão. Inaugurou-se há pouco um passadiço que nos leva até à praia fluvial, sempre entre estas fragas e penedos. Ficará para uma próxima viagem a ida ao Casal de S. Simão.
Aqui, gravitamos entre a rudeza agreste e uma paisagem agrícola que se impões no vale. Ao longo do percurso encontramos áreas naturais, com vegetação muito próxima daquela que seria a vegetação climácica, há resquícios de Laurissilva, formação vegetal que em tempos ocupou parte de Portugal continental. Desce-se à procura da praia fluvial, o percurso encanta, há aqui pormenores que devem fascinar pintores amadores de tendência impressionista, naturalista, romântica.
No cimo da ponte que nos vai ligar à praia fluvial, tendo tido a sorte de um potente raio de luz que se rasgou de um céu cinzento, aqui temos as águas da Ribeira de Alge que vêm da praia fluvial e no verão lá mesmo no fundo é possível encontrar campistas a gozar as delícias desta natureza.
Aqui é a praia fluvial, ainda ninguém se quer banhar nesta água gelada, as comportas estão abertas, lá vai esta água em cachão, barulhenta, em festa, deixam-na a correr em total liberdade. E aqui me despeço do pinhal do interior, também tenho muitas saudades de Tomar e estou bem curioso em ver a limpeza ao exterior da Charola que vem do século XII.
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 10 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25827: Os nossos seres, saberes e lazeres (640): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (165): Uma romagem de saudades pelo Pinhal Interior - 4 (Mário Beja Santos)
2 comentários:
O topónimo Figueiró é interessante, e como Figueira e Figueiredo nada tem a ver com árvore de figos ou figos.
Nas várias localidades Figueira, Figueiró ou Figueiredo não há nem nunca houve figueiras do latim ficaria, antes ser a origem dos topónimos do latim figiccarie que quer dizer ficar,
fixar, fixar-se, estacionar em algum lugar, alojar-se, permanecer, estabelecer-se, povoar, sendo Figueira (grande povoado), Figueiró (pequeno povoado), Figueiredo (vários povoados).
Neste caso de Figueiró dos Vinhos começou por ser um pequeno povoado com vinhas.
Valdemar Queiroz
O comentário do Valdemar merece tempero.
Os pré-portugueses do Norte (Afife incluída...) já malhava nos mouros que nem Santiago, o rei das Astúrias Afonso I o Católico fez um filho à sua namorada Sisalda, uma escrava moura, foi batizado com o nome de Mauregato; chegado o momento sucessório, ele renegou o cristianismo, negociou a sua sucessão a rei das Astúrias com o califa de Abbad-el-Raham I, ao preço do pagamento do tributo anual de 100 virgens cristãs, que enviava para o serralho seu harém de Córdoba.
O seu neto Afonso II o Casto derrotou esse califa na batalha de Rio Tinto (freguesia perto da minha e o seu rio nasce aqui perto), destronou o Mauregato, acabou com esse tributo, mas as 6 virgens nobres da quota do Norte já iam a caminho, o cavaleiro Guesto Ansur saiu-lhes ao caminho, deu batalha à sua escolta, a sua espada quebrou-se, ele arrancou uma figueira e libertou-as à "figueirada" - a semântica de Figueiredo, Figueiró, etc.
Não foi condecorado, mas premiou-se: trocou a sua legítima pela mais formosa formosa das suas libertadas...
Ah, as mouras daquele tempo eram "encantadas", os seus olhos eram grandes, os seus cabelos eram loiros, em tranças - não usavam burca, etc.,
Lá pelo Gabu, no meu tempo, havia "mouras" semelhantes, sem burca, cor de bronze, cabelos lisos de azeviche, olhos grandes, lábios finos - e em top-lesse...
Abraço
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