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quinta-feira, 27 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26622: Ser solidário (280): O que se passa com o caudal de água da Fonte Frondosa / Sanjuna, de Empada ? (Henk Eggens / Vincent Kuyvenhoven / Luís Graça / José Teixeira / Inês Allen / Arménio Estorninho)





Foto nº 1 e 1A > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 1983 > Fotografia da Fonte Frondosa com a esposa Anke (holandesa) no meio das lavadeiras.


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > s/d > A nascente da Fonte Frondosa (cuja construção data de 1946, ao tempo do governador Sarmento Rodrigues)



Vídeo (00:22) > s/d > A "sanjuna" entupida




Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > s/d > A Fonte Frondosa / Sanjuna, na língua local. Imagem do sítio da ONGD Sanjuna.nl


Sobre a ONGD Sanjuna.nl ver também o vídeo  Sanjuna in 100 sec (01' 40'') (em neerlandês)
 

Fotos, vídeo (e legendagem):  © Vincent Kuyvenhoven  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Do nosso amigo, Henk Eggens, holandês (ou neerlandês) (que vive em Portugal, em Santa Comba Dão, tendo trabalhado como médico, cooperante, na Guiné-Bissau, em Fulacunda e em Bissau, de 1980 a 1984) recebemos a seguinte mensagem, com data de 21 do corrente:


Olá, Luís,Tudo bem contigo?

Estou na minha terra natal, curtindo filhas, netinh@s e amigos.

(...) Tenho um pedido para publicar no blogue, pedir informação aos tabanqueiros sobre a Fonte Frondosa,  no Empada, sul da Guiné.

O tabanqueiro José Teixeira escreveu uma história cómica  (*) sobre os soldados, atormentados pelos "hormónios"  
[o português é tramado. ó Henk, querias dizer... "hormonas"] da juventude, observando as bajudas a tomar banho naquela fonte.

Provavelmente (era) a visão dos soldados naquela época.

Minha pergunta é a seguinte:

Meu amigo e colega Vincent Kuyvenhoven trabalhou como médico na Guiné, baseado em Empada (1983-1986). Gostou (junto com a esposa Anke) da experiência e o ambiente. Decidiram apoiar a população de Empada, até agora. Criaram uma fundação chamada Sanjuna.

Sanjuna é o nome local da Fonte Frondosa.

Um breve resumo em português dos principais pontos do relatório anual de 2023 da Fundação Sanjuna:

Introdução
- 2023 foi o nono ano completo da fundação desde a sua criação em abril de 2014
- O coordenador Vincent Kuyvenhoven fez duas visitas a Empada para acompanhar projetos

Atividades Apoiadas
- Foco principal em educação, água potável, saúde e desporto
- Financiaram bolsas de estudo, construção de escolas, formação de professores
- Construíram tanques de água em várias aldeias
- Apoiaram cuidados de saúde comunitários e formação de agentes de saúde
- Contribuíram para torneios de futebol locais

Finanças
- Receitas totais: €36.100
- Despesas totais: €29.200

Vincent e Anke costumam visitar Empada pelo menos uma vez por ano.


Azulejo da Fonte Frondosa, cuja construção
é de 1946, do tempo do governador 
Sarmento Rodrigues




A pergunta deles é sobre a bacia de água atrás do quadro de azulejos e torneira.

Vincent me escreveu o seguinte:

"A fonte está a degradar-se um pouco em 2 aspectos: poluição da bacia de água (cuja função não me é clara) e drenagem dificultada, que veio à tona na época das chuvas."

Veja o clipe em anexo que mostra a situação atual na época da chuva.

Será que alguém dos tabanqueiros que viveram na Empada podem esclarecer a função  
desta bacia? 

Os homens grandes e mindjeres grandes lá não podiam esclarecer a função da mesma.

Agradeço se achas oportuno publicar esta pergunta no blogue. (...)

Um AB desde Holanda,
Henk

2. Resposta do editor LG, na volta do correio:

Que bom, Henk, a nossa terra é sempre a melhor do mundo... Boa estadia. O tempo por aqui não está grande coisa, chegou ontem a primavera...

Vamos ajudar os teus amigos...Vou-te pôr em contacto com dois tabanqueiros nossos, que têm uma forte ligação a Empada, a Inês Allen (filha de um antigo combatente, já falecido) e o José Teixeira ( e coordenador da ONGD Tabanca de Matosinhos, já lá voltou â Guiné-Bissau meia dúzia de vezes, foi enfermeiro durante a guerra)...

Ver aqui a página do Facebbok da Inês Allen.

Sobre Empada temos 185 referências no nosso blogue:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Empada

A carta de Empada (1961) (Escala 1/50 mil) está disponível aqui:

https://arquivo.pt/wayback/20170222021858/http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial51_mapa_Empada.html

Diz-me se posso reencaminhar para a Inês e o Zé o teu mail... Conhecem a gente atual da tabanca de Empada... Aqui fica o pedido dos teus amigos (já visitei o "site" da Sanjuna, tenho que traduzir para inglês...)

Boa saúde, bom descanso... Luís

3. Comentário do editor LG:

Henk, com a tua devida autorização aqui tens a nossa troca de mensagens no blogue, com enfoque nos problemas da Fonte Frondosa /Sajuna, de Empada. 

Já falei com o Zé Teixeira, que ficou radiante com a hipótese de poder ser útil ao teu amigo Vincent, o mesmo é dizer, à população de Empada. Ele, tal como a Inês Allen, mantem fortes laços afetivos com Empada, que se traduzem também em ajuda material. Ele e ela vão gostar de poder falar contigo. Seguem os endereços de email dos dois.

Falei com a Inês, que é uma linda menina, e com um grande coração, tal como o falecido pai, Xico Allen (1950-2022). Esteve em maio de 2024, em Empada, na inauguração do campo de futebol que tem o nome do pai. Já então o problema da "Sajuna" fora-lhe abordado pela população, que a adora. Conta lá voltar para o ano...

Quanto ao Zé Teixeira, disse-me que já em 2015, quando passou por lá, a fonte estava com menos água...Ele acha que a diminuição do caudal tem a ver com as alterações climáticas... E, infelizmente, esse problema não é exclusivo de Empada...A água doce na Guiné - Bissau é um bem escasso. Temos essa dolorosa experiência, que nos vem do tempo da guerra, nomeadamente no tempo seco. A água era salobra e ferrosa. Bebiamos água engarrafada (Vichy e Perrier) com uísque... Até o gelo era horrível...

No nosso tempo, há 50/60 anos, chovia muito mais. O Zé é de 1968/70, um ano mais velho do que eu...Ambos conhecemos a guerra "pura e dura", ele na região do Forreá (Buba, Empada, Quebo, Mampatá...).


Região de Quinara > Empada > 1969 > "Eu, tomando banho à fula, na Fonte Frondosa, principal zona de banhos e de lavadouro". Foto do álbum do Arménio Estorninho, ex-1º cabo mec auto, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70).

Foto (e legenda): © Arménio Estorninho (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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(**) Último poste da série > 13 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26580: Ser solidário (279): Ajude sem gastar nada! Consigne 1% do seu IRS à Afectos com Letras - ONGD


segunda-feira, 10 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26569: (In)citações (263): Palavras de homenagem e de agradecimento da família do Valdemar Queiroz da Silva (1945-2025): "Perdi um pai mas encontrei muitos tios! (José da Silva) | "Pai, como você diria de uma forma muito teatral, no final de uma boa garrafa de vinho: Deste..? Deste já não há mais! " (Maaike da Silva)






1. Mensagem José da Silva, filho do nosso já saudoso e sempre querido Valdemar Queiroz (1945-2025) (*), seguida do texto que a esposa, neerlandesa, Maaike da Silva, leu na cerimónia fúnebre, no sábado à tarde, no Cacém (**):


Data - domingo, 9/03/2025 23:18  

Boa noite,  sr. Graça.

Escrevi um pequeno texto de agradecimento que, se possivel, gostava que publicasse no blog.
Repito os meus agradecimentos pelos ultimos dias, sr. Graça.
Cumprimentos,
Zé da Silva


Caros camaradas,

Alguém deve de ter dito um dia que quando algo perde, algo de novo se encontra. Essa é a ideia com que fiquei dos atribulados e emocionantes dias que se passaram. As palavras que foram chegando através de emails, mensagens e dos diversos post no blog da Tabanca Grande, deram força e acima de tudo transmitiram uma amizade por parte dos camaradas do meu pai. 

Durante a cerimónia funebre de sábado dia 8 de março, um camarada disse (e peço desculpa mas não me recordo quem foi...) " Desde que nos lembramos de alguém, esse alguém está sempre presente", e é assim que o meu pai estará sempre presente. Basta nos lembrar dele. 

Contaram-se histórias e aventuras ( eu nem sabia que o meu pai tinha veia para locutor de rádio....) mas tenho que confessar do que mais gostei de ouvir foi o orgulho que o meu pai tinha do seu filho e especialmente dos seus netos.

Perdi um pai mas encontrei muitos "tios"!

Muito, muito obrigado por parte do filho, da nora e dos netos do Valdemar Queiroz.

Bem haja a todos e ficou a promessa de um até uma próxima oportunidade.


2. Texto da esposa do José da Silva, Maaike da Silva:


Meu querido pai,

Sento-me aqui em Colares a olhar para o salgueiro chorão que está aqui em frente à casa. O salgueiro chorando como metáfora para a montanha-russa dos últimos dias. Sinto-me especialmente triste pelo período difícil que teve. Mas,  quando olho atentamente para os ramos do salgueiro chorão, vejo a nova vida de uma primavera se aproximando e, ao mesmo tempo, também sinto gratidão pelos anos que pude conhecê-lo. 

Muitas lembranças passam pela minha mente. Lembro-me do nosso primeiro encontro, do casamento com o seu filho e do leitão que levou na bagagem de mão no avião. Uma bela história que continua a ser contada anos depois. Memórias dos primeiros anos, quando as crianças ainda eram pequenas. 

Que avô orgulhoso você sempre foi para nossos filhos, fez quilómetros de material de filme e fotos durante as férias . O suficiente para nos enviar nos meses seguintes. 

Lembro-me dos anos em que se sentava à nossa mesa com a mãe e a avó Joana durante a época natalícia. Belas lembranças ..... 

As histórias e anedotas que você poderia transmitir como nenhum outro. Os guardanapos que foram dobrados em tops de biquíni. Isso para a grande hilaridade dos netos e de nós.

 Apesar de a sua saúde se ter deteriorado ao longo dos anos, manteve-se positivo. Mesmo quando já não podia estar connosco durante as férias, que grande tristeza e perda. A sua forma de se manter em contacto connosco, enviando emails com vídeos da história de Portugal, fotos e filmes de seus netos que você fez durante a temporada de Natal e férias. Sempre em contato,  sem raiva e deceção. Isto apesar de também ter dado tristeza por a distância ser tão grande. 

Sempre cheio de interesse pelos netos, especialmente quando você tem um smartphone, o contato entre você e os netos se tornou mais rápido e fácil. Nos anos seguintes quando as crianças cresceram e puderam ir para Portugal de forma independente e visitar os avós. Você poderia viver e reviver essas tais visitas por meses. 

Muitas vezes desejei e esperei que fosse diferente, que pudéssemos viver mais juntos. No entanto, a vida correu de outra maneira. O lar é onde está o coração e você sempre estará no meu coração. 

Pai, vou sentir sua falta. Levamos as histórias e memórias connosco para a memória coletiva da Família da Silva. E,  para terminar como você diria de uma forma muito teatralmente no final de uma boa garrafa de vinho: "Deste..? Deste já não há mais!"

Boa viagem meu pai

Até nos encontrarmos novamente
muitos beijinhos, tua filha Maaike.


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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26508: As nossas geografias emocionais (45): Regresso em 2007, a Bocana Nova, e a Impungueda, no rio Cumbijã, na região de Tombali (Henk Eggens, médico holandês cooperante, em Fulacunda e Bissau, 1980/84)


Foto nº 1 > "O Nhinte-Camatchol, escultura nalu, que tenho na minha casa em Santa Comba Dão".



Foto nº 2 > Guiné- Bissau  > Regiáo de Tombali > Catió > Tabanca de Bocana Nova > s/d (2007 ?) > "Centro dc saúde construído nos anos 80, pelo holandês Steven van den Berg", companheiro do nosso Henk Eggens.



Foto nº 3 _ Guiné- Bissau  > Região de Tombali > Catió > Tabanca de Bocana Nova > 2007 > "Foi no final de 2007 que visitámos Bocana Nova. A população reconheceu o meu amigo Steven e a esposa e passámos bons momentos no 'jumbai' ".



Foto nº 4 > Guiné- Bissau  > Regiáo de Tombali > Catió > Tabanca de Bocana Nova > 2007 >  "O Steven e o régulo de Tombali". Acrescentou o Steven, na sua língua materna (aqui traduzida para português): "O Rei de Tombali sente-se extremamente honrado por agora até os maiores inimigos do passado terem podido tomar nota dos feitos inesquecíveis na forma de desenvolvimento da economia local, da saúde e da educação. Obrigado, S.".




Foto nº 5 > Guiné- Bissau  > Região de Tombali > Catió > Tabanca de Bocana Nova > 2007 >  Avenida Holanda... As palmeiras   foram plantadas por meu amigo quase 30 anos antes e cresceram bem!"


Foto nº 6 > Guiné- Bissau  > Região de Tombali > Catió > Impungueda > 2007 > "Em Tombali, no extremo sul da Guiné-Bissau, com as águas presentes sempre, como no porto de Impungueda, no rio Cumbijã" (vd. carta de Bedanda, 1956, escala 1/50 mil).

 

Fotos (e legendas): © Henk Eggens (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo, Henk Eggens (foto atual a seguir),   grande amigo da Guiné-Bissau, meu colega holandês (ou neerlandês), especialista em medicina tropical e saúde pública, que vive, aposentado, em Portugal, em Santa Comba Dão, e é o administrador e editor de Portugal Portal (em neerlandês ou holan
dês) (*). 

Já há tempos o convidei para integrar a nossa Tabanca Grande. Esteve em Fulacunda e Bissau, na primeira década de 80, como médico. Tem um grande conhecimento e carinho por aquela terra e suas gentes. É casado em segundas núpcias com uma luso-brasileira, sua colega da saúde pública global, Tem um excelente domínio do português, escrito e falado (sua primeira língua estrangeira, a par do inglês). 



Assunto - Nhinte-Camatchol

Data - 17/02/2025, 16:07 (há 1 dia)
 
 
Olá,  Luís,

Gostei da publicação do poema (teu?) "Quem disse que a Guiné-Bissau não tem futuro?", publicado no blogue de 16-2-2025 (*). 

É um poema tipo 'verso livre' no estilo dos poetas americanos Walt Whitman e Allen Ginsberg. Cheio de otimismo, esperança e valorização do povo guineense. É bem preciso este encorajamento num momento de crise política profunda. Dia 28 de fevereiro terminará o mandato do atual presidente da Guiné-Bissau, Sissoco. Parece que não tem nenhuma ideia para sair do poder e convocou eleições para novembro de 2025!

Gosto da fotografia da obra de arte nalu no blogue. Tenho uma escultura igual em casa (foto nº 1), junto com um flamingo de Moçambique. 

Meu companheiro Steven (holandês) trabalhou na região de Tombali nos anos oitenta. Construiu centros de saúde na província, um deles na aldeia de Bocana Nova (Foto nº 2). 

Conhecia o escultor destas estátuas, o Sr. Nfalde Câmara naquela aldeia. O artista produziu várias cópias destes pássaros mágicos em madeira. Imagina minha surpresa quando vi uma cópia no museu Aliança Underground Museum de Berardo, em Sangalhos! E percebi, pelo  blogue, que funcionou como símbolo no Simpósio  Internacional de  Guiledje em 2008.

Foi no final de 2007 que visitámos Bocana Nova. A população reconheceu o meu amigo e esposa e passámos bons momentos no 'jumbai' (Fotos nºs 3 e 4) . As palmeiras nas imagens foram plantadas por meu amigo quase 30 anos antes e cresceram bem! (Foto nº 5) Tudo no Tombali, no extremo sul da Guiné-Bissau, com as águas presentes sempre, como no porto de Impugueda.(Foto nº 6)

Os números correspondem aos títulos das fotografias em anexo.

Se achas oportuno, podes publicar o texto e as fotografias.(**)


AB Henk

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  16 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26501: Manuscrito(s) (Luís Graça) (265): Que o Nhinte-Camatchol, o Grande Irã, te proteja, Guiné-Bissau!

(**) Último poste da série > 16 de fevereiro de 2025 > 
Guiné 61/74 - P26500: As nossas geografias emocionais (44): A Fulacunda do meu tempo (José Claudino da Silva, "Dino", ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART /BART 6520 / 72, Fulacunda, 1972/74) - Parte III

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26507: Timor-Leste: passado e presente (30): Elementos para a compreensão da revolta de Manufai, ao tempo da República (1911/12)


Timor Leste > Parque Dom Boaventura. Comemoração,  dos 20 anos do referendo sobre a independência da Indonésia (1999-2019). 

A estátua de Dom Boaventura foi inaugurada em 23 de novembro de 2012, por ocasião comemoração do 37° Aniversário da Proclamação da Independência (28 de Novembro de 1975 – 28 de Novembro de 2012) e do centenário da Revolta de Manufai, liderada por Dom Boaventura (1912 – 2012).


Foto: cortesia de Wikimedia Commons (editada pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2024)



1. No tempo da República, Timor era, como as restantes colónias portuguesas, parte integrante de Portugal (segundo o artº 2º da Constituição de 1911). 

A desastrosa, mal planeada e sangrenta participação de Portugal na I Guerra Mundial, foi justificada pelos políticos da República como o  imperioso dever do país face ao imperalismo alemão que olhava, com olhos de rapina, territórios como Angola e Moçambique.  Timor ficava mais longe e podia ter menos interesse para as grandes potências coloniais europeias, com exceção da Holanda (hoje Países Baixos)...

A República (1910-19269)  sempre defendeu, para as colónias, um modelo de descentralização administrativa e financeira, com recurso a um Alto Comissário ou governador. A instabilidade política, militar, social e económica da República não permitiu o aprofundamento e aperfeiçoamento do modelo.

Com a  Ditadura Militar (a partir de 1926) e o Estado Novo (a partir de 1933), há um claro retrocesso na autonomia administrativa e financeira das colónias.  O Acto Colonial (1930) vai ser integrado na Constituição de 1933. É o triunfo da perspetiva imperial na relação metrópole-colónias.

A relação da República com Timor e os timorenses também não será pacífica... Há a  "revolta indígena"  de Manufai (1911/12),  cuja história merece um poste â parte. O triunfo das autoridades portuguesas e seus aliados vai marcar a consolidação da até então precária soberania  em toda a parte oriental da ilha.( A delimitação da fronteira só fica resolvida em 25 de junho de 1914, com a devcisão do tribunal de Haia sobre o diferendo relatibvamente ao enclave de  Oecussi-Ambemo: a demarcação no terreno só vai acabar em abril de 1915.)

Só para se ter uma ideia da pulverização do poder político, o território (do que é hoje Timor Leste) estava  dividido em 71 reinos !... 


Segundo o autor que lemos (Fernando Figueiredo, "Timor (1910-1955), in: "História dos Portugueses no Extremo Oriente", 4º volume: Macau e Timor no Períod0o Republicano", dir. A. H. de Oliveira Marques, Lisboa: Fundação Oriente, 2003, pp. 521-575), haveria alguns causas próximas para explicar a revolta, réplica de resto da iniciada em 1895, sob o governo de Celestino da Silva (desta vez liderada por Dom Boaventura da Costa Sottomayor, filho de Dom Duarte da Costa Sottomayor):

(i) a "troca de bandeiras" , com o fim da monarquia: os timorenses davam (e ainda dão) muita importància a simbolos nacionais como a bandeira:  a sua lealdade ia para o rei e para a bandeira "azul e branca" da monarquia, de repente (em 29 de novembro de 1910) substituída por uma outra, "verde e rubra", a da República, que lhes era totalmente estranha;

(ii) a instabilidade da transição política foi aproveitada pelos holandeses para incitar os timorenreses à revolta contra os "novos senhores" da metrópole, e pôr em causa as fronteiras do território:

(iii) substituição da "finta" pelo "imposto de capitação " (imposto de palhota na Guiné); vem afetar os poderes gentílicos, limitar o poder discriconário dos "régulos" (ou "liurais");

(iv) escassa presença militar portuguesa no território (agravada pela longa distância, por via marítima, entre Lisboa e Díli).

Sobretudo o aumento do imposto de capitação (implicando também o arrolamento de coqueiros e gados, a principal riqueza dos timorenses), a par da proibição do corte de árvores de sândalo (prática sancionada com multas), é uma das razões fortes para a revolta de Manufai (ou a sua segunda edição) que ocorreu, em grande parte,  durante o governo de Filomeno da Câmara Melo Cabral (1911-1917). A partir do reino de Manufai, a revolta conquista grande adesão das populações e levará mais tempo a ser debelada. 

A resposta foi militar, com o envio de tropas  oriundas da metrópole, de Goa, de Macau e sobretudo de Moçambique (os "landins"). A artilharia fez grandes razias. As baixas entre os revoltosos vão reflectir-se mais tarde na demografia do território. Fala-se em 5 mil a 20 mil mortos, números difíceis de confirmar. 

A par disso, e como seria de prever, a forte repressão vai agravar as relações entre colonizados e colonizadores... O Estado anexa terras dos vencidos (caso da futura Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho). O poder dos "liurais" passou a ser mais simbólico, mas mesmo assim o governador Filomeno da Câmara soube depois imprimir uma dinâmica de desenvolvimento e pacificação efetiva do território, política que será prosseguida com algum êxito até à II Guerra Mundial.

A revolta do régulo de Manufai será o último dos grandes levantamentos contra a autoridade colonial. E tende hoje a ser vista como uma "revolta protonacionalista", de cariz anticolonialista, "avant la lettre".

Carlos Bessa ("Timor. Do Domínio Liurai â Pacificação Portuguesa", in Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira, ed. lit - Nova Históriaa Militar de Portugal. Vol. 3. S/l: Círculo de Leitores. 2004. 323-333), tirou deste período trágico da história de Timor a  seguinte conclusão:

(...) A nobreza nativa sairá muito enfraquecida destas campnhas, mas, mesmo assim, a autoridade portuguesa continuou a não pretender ser mais do que superestrutura aglutinadora e arbitral das autoridades nativas dos vários reinos, embora se tornasse marcante factor de identidade e unificação política através da influência de uma cultura luso-timotense e do catolicismo,  contrapostos ao islamismo e à influência calvinista holandesa excercida na restante Indonésia, do que resultou o tão impressionante e conhecido culton dos Timorenses pela bandeira portuguesa" (pág. 333).

PS - Num próximo poste apresentaremos alguns dados sobre a demografia do território antes da II Guerra Mundial.



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Nota do editor:

domingo, 12 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26381: Recortes de imprensa (142): Lusodescendentes do Sri Lanka e o seu crioulo de base portuguesa (Diário de Notícas e Agência Lusa, 8 mai 2023 )



Jovens falantes de português no Sri Lanka, segundo o projecto "Preserving Sri Lanka Portuguese" 

 Foto DR/Facebook, https://www.facebook.com/preservingsrilankaportuguese1 (com a devida vénia)


Lusodescendentes do Sri Lanka com "interesse crescente" em salvar o crioulo

Diário de Notícias | Agência Lusa | 08 mai 2023 09:40  


É uma peça da Agência Lusa, reproduzida no portal www.dnoticias.pt, que merece a nossa atenção, de portugueses e lusófonos: a existência de uma pequena comunidade de lusodescendentes do Sri Lança (o antigo Ceilão) que teima em manter a sua identidade e inclusive  o crioulo de base portuguesa que está em sério risco de extinção. 

A estes esforços está associada a investigadora Patrícia Costa do Centro de Linguística da Unibversidade de Lisboa (CLUL) e que é entrevistada pela Agència Lusa.

Reproduzimos alguns excertos da peça, com a devida vénia (*):

(...) A investigadora Patrícia Costa lançou um projeto para divulgar o crioulo de base portuguesa do Sri Lanka nas redes sociais porque considera que há 'um interesse crescente' nas comunidades lusodescendentes em preservar a língua."

Em abril de 2023, um grupo de jovens começou a organizar aulas de crioulo português para jovens e crianças. 

(...) "O mesmo grupo tem também procurado dinamizar ações para promover a língua no Sri Lanka, onde 'a maior parte da população desconhece totalmente que existe esta comunidade de euro-asiáticos e desconhece que há uma língua totalmente diferente', referiu Costa." (...)

Destaque para um desses jovens, "Derrick Keil, lançou em fevereiro uma versão moderna de uma canção tradicional em crioulo português, 'Minha Amor',  após ter participado no programa de talentos 'The Voice Sri Lanka' (...)

 Patrícia Costa, ouvida pela Agência Lusa, diz que  é "um marco importante na história da comunidade, porque pela primeira vez temos uma música dirigida a audiências várias que tem o crioulo como língua" (...)

A "baila", hoje o género de música talvez mais popular no país, foi introduzidda no Sri Lanka justamente pela "comunidade de falantes do crioulo português",

Patrícia Costa e Vyvonne Joseph, "jovem falante da língua",  foram quem,  em 2020, kançaram o projeto Preserving Sri Lanka Portuguese (Preservar o Portuguès do Sri Lanka), nas redes sociais (Instagram e Facebook).

O objetivo da inciativa, segundo a investigadora  portuguesa do CLUL é4 de "dar a conhecer a audiências mais gerais, também fora do Sri Lanka,  a existência desta língua, porque mesmo em Portugal não há uma grande consciência de que estas comunidades crioulófonas existem".

Um segundo objetivo é auxiliar, com materiais didáticos simples, os membros da comunidade que querem aprender ou aperfeiçoar a língua.

(...) O crioulo português do Sri Lanka 'neste momento é uma língua definitivamente ameaçada. O número absoluto de falantes é bastante reduzido', por volta de 1.300, sendo que a maioria são 'pessoas mais velhas' (...). Para os jovens, 'aprender o crioulo português não tem o valor instrumental que as línguas oficiais do Sri Lanka, o cingalês e o tâmil, têm, no acesso à educação e ao emprego, referiu Costa" (...)

Além disso, disse a investigadora, é preciso superar alguns preconceitos e ideias feitas, no seio da própria comunidade: para alguns membros  seria uma língua obsoleta, e segundo outros   "aprender o crioulo português em casa pode prejudicar a aprendizagem de outras línguas na escola"...

Embora em risco de desaparecer, o crioulo português do Sri Lanka  pode ter futuro.

(...)  "A académica defendeu ainda que uma maior ligação com os países falantes de português 'seria muitíssimo vantajoso para as comunidades crioulófonas, que teriam uma espécie de reconhecimento oficial da sua existência, da sua importância e da sua herança.

"O crioulo português do Sri Lanka, antigo Ceilão, é uma herança da expansão marítima portuguesa no século XVI, quando nasceu como língua de contacto entre cingaleses e portugueses, os primeiros europeus a lá chegar.

"A colonização portuguesa da ilha não durou mais de 150 anos, mas, mais de meio século depois, este crioulo continua a ser falado no seio das comunidades burghers, tradicionalmente católicas." (...)


A palavra "burghers" ( "cidadãos", "citadinos", "burgieses", em holandês) é a designação comum, usada hoje  para todas as pessoas que tèm uma ascendência euro-asiática (n0omeadeamente  portugueses e holandeses),  no Sri Lanka.



Fonte: USA > CIA > The World Factbook (com a devida vénia...)

Mapa do Sri Lanka: principais cidades do país... Em três delas (assinalada a tracejado verde e vermelho) residem comunidades de lusodescendentes. Os portugueses e seus descendentes fixaram-se sobretudo na costa leste, em Trincomalee e em Batticalloa 

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)



(...) No Sri Lanka de hoje o crioulo limita-se à linguagem falada. A maioria dos falantes são os burghers da província oriental, em Baticaloa e Triquinimale. Atualmente o inglês tornou-se a língua comum, com o cingalês ensinado nas escolas como segunda língua. De influência portuguesa existem ainda os cafrinhas ou kaffir do Sri Lanka, uma comunidade de origem africana, na província do noroeste Putalão, originalmente trazidos por portugueses, neerlandeses e ingleses para trabalhar no Seri Lanca, e que mantêm assumidamente uma cultura e religião portuguesas.

No Censo de 1981 os burghers (holandeses e portugueses) contavam cerca de 40.000 (0,3% da população total do Sri lanka).

Muitos burghers emigraram para outros países. Existem ainda 100 famílias em Baticaloa e Triquinimale e 80 famílias Kaffir em Putalão que falam o crioulo português. Numerosos apelidos de origem portuguesa permanecem até hoje, como Perera, Pereira, Abreu, Salgado, Fonseca, Fernando, Rodrigo e Silva, que se tornaram parte da cultura do Seri Lanca.

A população burgher no mundo será de 100.000 aproximadamente, concentrada sobretudo no Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. (...)

(Fonte: Excerto de Wikipedia > Burghers Portugueses (com a devida vénia)...



Excerto de banda desenhada infantil "Portuguese in Sri Lanka: part two: their exploits" (em inglês). Texto. Hashana Bandara; ilustração: Saman Kalubowila. (Sumitha Publishers. s/d., s/l. 24 pp.) Fonte: Poth Pancha, Panadura, Sri Lanka: uma livraria "on line" para crianças com menos de 12 anos (Imagem reproduzida com a devida vénia...)


Na primeira imagem acima pode ler-se em inglês: "Os Portugueses que chegaram ao Sri Lanka acidentalmente, em 1505, empenharam-se em estabelecer o seu poder na região costeira norte da ilha, até por volta de 1580" (... o que não é exato: a presença portuguesa manteve-se até meados do séc. XVII, Colombom na costa oeste,  cairia nas mãos dos holandeses apenas em 1656, depois de uma heróica resistência, tendo sobrevivido apenas menos de uma centena de defensores...Os holandeses por sua vez serão substituídos pelos ingleses em finais do séc. XVIII, princípios do séc. XIX. O Sri Lanka tornou-se, mais ou ,menos pacificamente, independente da coroa britânica em 1948. 
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Nota do editor:

sábado, 4 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26349: Tabanca dos Emiratos (13): Visita nas férias de Natal ao antigo Ceilão, a Taprobana de "Os Lusíadas", hoje Sri Lanka (Jorge Araújo) - Parte I

 

Banda desenhada infantil "Portuguese in Sri Lanka: part two: their exploits" (em inglês). Texto. Hashana Bandara; ilustração: Saman Kalubowila. (Sumitha Publishers. s/d., s/l. 24 pp.)  Fonte: Poth Pancha, Panadura, Sri Lanla: uma livraria "on line" para crianças com menos de 12 anos  (Imagem reproduzida com a devida vénia...)

A primeira estrofe de "Os Lusíadas" do Luís Vaz de Camões, cujos 500 anos do seu nascimento estamos a comemorar, começa justamente por fazer uma referència ao antigo Ceilãpo, a Taprobana, dos gregos e dos romanpos:  "As armas e os barões assinalados / Que da ocidental praia Lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram ainda além da Taprobana / Em perigos e guerras esforçados / Mais do que prometia a força humana / E entre gente remota edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram". (JA/LG) 


Foto nº 1 > Ceilão > 20 de dezembro de 2024 > Aeroporto de Colombo, a capital  (uma cidade fundada pelos portugueses, no séc. XVI). O atual Sri Lanka tornou-se indepente, pacificamente, em 1948: estava desde o séc. XVIII sob o domínio da coroa britànica.



Foto nº 2 > Ceilão > 20 de dezembro de 2024 > Sigiriya, na região Norte



Foto nº 3  > Ceilão > 20 de dezembro de 2024 >  Jipe das picadas na região de  Sirigiya

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Foto nº 4 > Ceilão > 20 de dezembro de 2024 > Elefante na região de Sigiriya, na região Norte




Foto nº 5 > Ceilão > 20 de dezembro de 2024 > Mais elefantes na região de Sigiriya


Foto nº 6 >  Ceilão >20 de dezembro de 2024 > A picada dos elefantes


Foto nº 7 e 7A >  Ceilão >20 de dezembro de 2024 > Canoas de  passeio para os turistas


Foto nº 8 > Ceilão >20 de dezembro de 2024 > Mesa com vários alimentos para o almoço, em casa rural


Foto nº 9 > Ceilão >20 de dezembro de 2024 >  Cozinha, onde se confeccionam os alimentos (A Maria João à esquerda.)


Foto nº 10 > Ceilão >20 de dezembro de 2024 >   Espaço exterior ao local onde se tomam as refeições



Foto nº 11 > Ceilão >20 de dezembro de 2024 > "Bolanha" de arroz 


Foto nº 12 > Ceilão >20 de dezembro de 2024 >   A estação de comboios de Badulla (1)


Foto nº 13 > Ceilão >20 de dezembro de 2024 >   A estação de comboios de Badulla (2)



Foto nº 14 > Ceilão >20 de dezembro de 2024 >   A estaçáo de comboios de Badulla (3)



Fotos (e legenda): © Jorge Araújo (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); nosso coeditor, a viver há uns anos entre Almada e  Abu Dhabi, Emiratos Árabes Unidos. É um dos nossos coeditores. Como autor, tem mais de 335 referências no nosso blogue. Tem várias séries: "Tabanca dos Emiratos", "Memórias cruzadas...", "(D)o outro lado combate"...



1. A escassas semanas de completar 520 anos do início da conquista e ocupação do então Ceilão pelos portugueses, aproveitamos as férias da atividade académica para visitar este país do sul da Ásia, no Oceano Índico, tendo Colombo por capital. (População estimada; 22 milhões de habitantes; superfície: 65,6 mil km2.)

Este é um destino muito procurado pelos estrangeiros residentes  nos Emiratos Árabes Unidos (EAU).

Neste contexto e de modo a simbolizar o período das Festas Natalícias, envio algumas "rabanadas recheadas de história", sobre a presença dos lusitanos nesta região, em particular na agora República Democrática  Socialista do Sri Lanka, seguida de imagens desta minha nova "comissão de serviço".

Segundo consta na literatura consultada (Enciclopédia de História Inglesa), o primeiro português a alcançar esta ilha, foi o capitão-mor Lourenço de Almeida (Martim, c. 1480 - Chuil, Índia. 1508),  único filho varão de Francisco de Almeia (Lisboa, c. 1450 - Baía de Saldanha, costa sul-ocidental da África do Sul,  1 de março de 1530).(Foi o primeiro vice-rei da  Índia Portuguesa, 1505-1509).

Lourenço de Almeida tornou-se capitão-mor, ao serviço do pai, e em 1505 foi incumbido,  por ele, da missão de interceptar uma frota moutra, carregada de especiarais, que navegava pelo Oceano Índico. Por motivo de uma tempestadae, a sua embarcação saiu da rota pretendida, acabando por aportar no Ceilão, na cidade de Galle, na costa sul. (Ceilão, também conhecida por Taprobana, na antiguidade clássica e na idade média.)

O capitão-mor Lourenço de Almeida procurou manter relações  conmerciais amistosas e cordiais com o rei de Cota,  Dharmaparakrama Nahu - a quem inclusive chegou a oferecer proteção militar em troca de de um tributo anual, pago em canela (uma especiaria de alto calor  comercial na Europa de então).

Este foi o primeiro passo dado rumo à consolidação do predomínio comercial e político lusitano naquela região, tendo culminado em 1518 quando o rei de Cota  outorga aos portugueses a autorizaçáo para erigir um forte na cidade portuária de Colombo,  bem como um rol de concessões especiais que lhes conferiam o direito de ezxercer actividades na ilha. 

O Ceilão passou, assim,  a integrar a esfera de influência colonial de Lisboa, tendo aí permanecido até meados do séc. XVII.

Após a  construção do forte na cidade portuária de Colombo, os portugueses estenderam gradualmente o seu controlo sobre as áreas costeiras, nomeadammnete a Norte. Em 1592, após guerras intermitentes  com os portugueses, o rei mudou a capital do seu reino para a cidade interior de Kandy, um local que ele considerou mais seguro contra ataques. 

Em 1619, sucumbindo aos ataques dos portugueses, chegaria ao fim a existência independente do Reino de Jaffna.

Durante o reinado de Rajasinghe II (1629-1687), exploradores holandeses chegaram à ilha. Em 1638, o rei assinou um tratado com  Companhia Holandesa das Índias Orientais para se livrar dos portugueses, que governavam a maior parte das áreas costeiras. 

A guerra holandesa-portuguesa que se seguiu, resultou numa vitória holandesa. Colombo cairia nas mãos dos holandese em 1656.

Foi exatemente por Colombo que começámos, depois de termos aterrdo no Aerporto Internacional Bandarnaike, criado em 1944, em plena II Guerra Mundial, como uma base aérea da Real Força Aérea do Reino Unido. A conversão para aeroporto civil foi completada em 1967. 

De seguida apresentaremos algumas das imagens mais emblemátias desta nossa nova "comissão de serviço" (Ver fotos acima.)

(Continua)

(Revisão / fixação de texto, seleção e edição das fotos, título: LG)

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 22 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26067: Tabanca dos Emiratos (12): "Prova de vida" (Jorge Araújo)

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26209: Ser solidário (275): Quatro anos como médico cooperante (1980-1984), em Fulacunda e em Bissau (Henk Eggens, neerlandês, consultor internacional em saúde pública, reformado, a viver em Santa Comba Dão)



Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Fulacunda > 1980 > "Eu,  Henk Eggens, médico  neerlandês, cooperante"... Esteve dois anos em Fulacunda (1980-82) e depois em Bissau (1982-84)


Foto nº 2 > Antiga Guiné Portuguesa > Região de Quínara > Fulacunda > s/d > "
Casa no quartel onde depois fiquei, em 1980".  

Fonte: https://rumoafulacunda.wordpress.com/fulacunda/ (com a devida vénia).



Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Fulacunda > 
"Farmácia da Tabanca" .  



 Foto nº 5 > 
Guiné-Bissau > Região de Quínara > Fulacunda > 1980 > *Ilustração: parto",.   Fonte: Livro Formação das matronas, 1978, MINSAS, Guiné-Bissau.




Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Fulacunda > 1980 > "Ilustração: rede mosquiteira para crianças*,  Fonte: Livro Formação das matronas, 1978, MINSAS, Guiné-Bissau. 



Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Fulacunda > 1980 > "Ilustração: 
   Cinco doenças a tratar pelos Agente de Saúde de Base",  Fonte:  Fonte: Livro Formação das matronas e dos agentes de saúde de base (A.S.B.) nas tabancas, 1980, CESAS, Guiné-Bissau.



Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Fulacunda > 1980 > "Ilustração:  latrina".  Fonte: Livro Formação das matronas e dos agentes de saúde de base (A.S.B.) nas tabancas, 1980, CESAS, Guiné-Bissau.



Foto nº 9 > Antiga Guiné Portuguesa > Região de Quínara > Fulacunda > s/d >  "
Fulacunda no tempo colonial com campo de vólei". Fonte desconhecida




 Foto nº 10> Guiné-Bissau > Região de Quínara > Fulacunda > 1980 >   "Casa do médico, Land Rover do projeto,  mota da noiva e carro 404 privado".



Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba > 1980 > "Bomba da água,  do projeto de Buba". 


1.  Já troquei alguns mails, com o meu colega holandês (ou neerlandês), Henk Eggens, especialista em medicina tropical e saúde pública, que vive, aposentado, em Portugal, em Santa Comba Dão, e é o administrador e editor de Portugal Portal (em neerlandês ou holandês) (*).

No passado dia 9 de setembro último, ele escreveu-me o seguinte, em resposta a um email que lhe tinha mandado:

 (...) Bom dia, Luís!
Foi bom ver o teu e-mail. Temos algumas coisas em comum, isto foi claro para mim.

Primeiramente o nosso primeiro ano nesta terra: 1947!

Segundo, a paixão para conhecer outras terras: Conheceste o mundo académico do TNO na Holanda (que conheço só por nome), além do teu passado na Guiné, e provavelmente outros países.
Trabalhei 20 anos no Royal Tropical Institute (**), Amesterdão,  como consultor de saúde pública (lepra, tuberculose, cuidados primários de saúde). O que me levou a todos continentes no Sul. A minha vida nunca foi monótona... A nossa vida atual na aldeia,  perto de Santa Comba Dão,  é mais tranquila (...).
Terceiro, a paixão de comunicar algo de substancial para um público (nos blogues, no ensino). Tua carreira académica, o blogue 'Tabanca Grande' que admiro.
Durante a minha vida profissional desenvolvi cursos de saúde tropical, também 'online', e dei muitas aulas. Com muita satisfação. Gosto de ser editor de Portugal Portal e partilhar com o público neerlandófono (como se diz isso, mesmo?) sobre Portugal, a sua história, cultura, pequenas histórias da vida.(...)
 Mantenhas!
(Na altura na Guiné, aprendi bem a conversar em crioulo, não havia outra hipótese de comunicar com o povo lá. Agora perdi já muito a fluidez)

Henk
2. Nova mensagem do nosso leitor Henk Eggens, médico, especialista em medicina tropical, reformado, a viver em Portugal.
Data - sexta, 1/11/2024, 13:03


Boa tarde, Luís.

Espero que estejas  bem, já de volta da vindima no Norte no mês passado.

Vi a mensagem recente do bloguista Patrício Ribeiro no blogue (...) e decidi escrever-te.

(i) Recebeste o meu e-mail de 12 de setembro 2024 com a apresentação dum amigo meu, intitulado 'Amílcar Cabral e os cuidados de saúde durante a luta de libertação' ? Achas apto para publicar no teu blogue?

(ii) Acabei de escrever algumas das minhas aventuras na Guiné-Bissau nos anos 1980-1984. Me pediste para contar as minhas experiências durante minha estadia como médico na região de Quínara. Segue o texto e as fotografias em anexo.

Se achas oportuno,  podes publicar no teu blogue.

Um abraço desde Santa Comba Dão,

Henk



3. Comentário do editor LG:

Obrigado, Henk. Já vi que tens página no Facebook.   Fazes parte do grupo público Santa Comba Dão - Lugares, Factos e a Nossa Gente.  E do teu CV, no Linkedin, respiguei o seguinte:

"Consultor internacional em saúde públiva, aposentou-se após quarenta e cinco anos de experiência na prestação de cuidados de saúde em países com poucos recursos em três continentes. Amplas relações de trabalho entre governos e ONG internacionais.. Missões de longo prazo em Angola, Guiné Bissau, Tanzânia e Indonésia. Missões de curto prazo  em mais de 15 países. 

"Idiomas: Inglês, Português: excelente. Francês: bom. Espanhol, Kiswahili, Indonésio: básico. Holandês: língua materna.  Competências curriculares: : monitorização e avaliação, controle da tuberculose, controle da hanseníase (doença de Hansen ou lepra), desenvolvimento curricular, e-learning".  Fonte: Linkedin > Henk Eggens.

Espero que esta seja a primeira de muitas colaborações tuas no nosso blogue (***), onde cabem todos os amigos da Guiné-Bissau com tudo o  que os une e até com aquilo que nos pode separar. O teu portuguê é muito bom. Dei apenas um retoque numa palavra ou outra (e nomeadamente no tempo dos verbos)...

E a teu pedido, acrescento mais duas linhas sobre o período em que estiveste na Guiné: (...) 

"Trabalhei apenas dois anos em Fulacunda (1980-1982). Depois, fui coordenador do Projeto de Saúde de Base no Ministério da Saúde em Bissau (1982-1984)."



Esta é a história dum médico holandês que foi trabalhar na província rural de Quínara, Guiné-Bissau, de 1980-1984, quando o país se tornou independente havia poucos anos.

Por Henk Eggens 
 

Em abril de 1980, desembarquei no aeroporto de Bissalanca. Estava bem preparado. Já durante pos meus estudos de medicina, eu tinha decidido que queria trabalhar em África. 

Após cinco anos de estudos teóricos, tirei um ano sabático. Viajei pela África Ocidental através do Saara e pelo Congo até a África Oriental. Durante sete meses, conheci muitas Áfricas. No final dos meus estudos de medicina, fiz um curso de três meses sobre doenças tropicais, o que me preparou melhor para reconhecer e tratar essas doenças.

O meu primeiro emprego foi em Angola. Em 1976, quatro meses após a declaração de independência (****), viajei para Cabinda e trabalhei lá durante  dois anos na ala pediátrica do hospital provincial. Lá, aprendi muito: a falar português, e palavrões cubanos dos meus colegas médicos. Aprendi na prática a tratar a patologia tropical. Perdi também a ilusão da viabilidade e desejabilidade duma sociedade comunista.

Em 1980, tive a oportunidade de trabalhar na Guiné-Bissau. Consegui um emprego no Ministério da Saúde da Guiné-Bissau e fui colocado na região de Quínara, no sul da Guiné-Bissau. A província tinha cerca de 40.000 habitantes. Ninguém sabia exatamente quantos. Já fazia parte da área libertadada durante a guerra colonial, com exceção dos quarteis do exército português e as tabancas. 


Excerto da carta de Fulacunda  (1955) (Escala 1/50 mil)
  Fonte: Cortesia  do Blogue Luís Graça
& Camaradas da Guiné
Fui morar em Fulacunda, uma vila de mil habitantes onde existiu um quartel militar (Vd. fotos nº 1  e 3).

 O que encontrei quando cheguei em Fulacunda? 

Não havia hospital. Um posto de saúde em Fulacunda consistia em uma cabana, parte do antigo quartel
 e havia uma cadeira ginecológica enferrujada. E uma caixa de medicamentos enviada pelo ministério. 

Outros lugares na região de Quínara tinham cabanas semelhantes com um mínimo básico de recursos.

Havia mais pessoal de saúde. Em Tite, morava Augusto, um enfermeiro treinado na época colonial que sabia de tudo e me explicou muitas coisas, me tornando mais sábio sobre como as coisas aconteciam na região. 

Em Fulacunda e Empada, trabalhavam dois ‘meio-médicos’ guineenses. Digo ‘meio-médicos’ porque eram jovens que foram treinados na União Soviética como feldshers, um tipo de treinamento prático para atuação médica (*****). 

Além disso, havia alguns socorristas presentes nas tabancas. Em Nhala, que também era um antigo quartel do exército colonial português, havia um centro de treinamento onde os socorristas, muitas vezes analfabetos e que haviam trabalhados na guerra de libertação, recebiam treinamento formal como auxiliares de enfermagem. 

No início, eu viajava muito por todas as vilas e postos de saúde para ver o que estava acontecendo. Era muito pouco. Sempre faltavam medicamentos.

As pessoas moravam longe dos postos de saúde e a medicina tradicional era a principal fonte de cuidados de saúde. Logo comecei a organizar cuidados materno-infantis. Sob a mangueira (ou o poilão), reuníamos regularmente as grávidas e as crianças e administrávamos as vacinas necessárias, contra tuberculose, sarampo, difteria, tétano, poliomielite e coqueluche.  
Providenciávamos medicamentos (foto nº 4) e conselhos ás grávidas. Com um cartão onde os pesos das crianças eram anotados e que eu mesmo havia mimeografado, acompanhávamos o crescimento e desenvolvimento das crianças pequenas. 

Eram passeios populares. Mães e crianças vinham de longe para receber as vacinas e ouvir nossas palestras.

Parte do meu trabalho era treinar os voluntários (Agentes de Saúde de Base) nas tabancas para reconhecer e tratar cinco doenças (fotos nºs 5, 6 e 7).

Também treinámos as parteiras tradicionais (matronas). Elas recebiam um pequeno kit, uma caixinha com uma faca esterilizada e fios esterilizados  para cortar e amarrar o cordão umbilical depois do parto. Além disso, eram instruídas sobre a importância de um comportamento antisséptico durante o parto (foto nº 5).

A ideia era que os voluntários na tabanca recebessem uma caixa de medicamentos com os quais pudessem tratar cinco doenças (foto nº 7). Essas eram:

  • paludismo (corpo quente), 
  • conjuntivite (dor di udjo), 
  • dor de cabeça,
  • diarreia (panga barriga), 
  • tosse e feridas. 

Posteriormente à formação,  a tabanca recebia uma caixa de medicamentos. Depois, a própria tabanca, por meio de contribuições voluntárias (abota), arrecadava dinheiro para comprar novos medicamentos no Depósito Central de Medicamentos em Bissau. 

Havia muita hesitação na tabanca para juntar dinheiro, pois nem todos confiavam que seria bem utilizado. Foi necessária muita persuasão para convencer as pessoas a contribuir, e, eventualmente, isso funcionou em algumas tabancas.

Além de poder tratar estas doenças,  os Agentes foram ensinados sobre medidas preventivas da higiene nas tabancas  (fotos nº 7 e 8).

Este Projeto de Saúde de Base ocorreu em vários lugares da Guiné-Bissau, sob a inspiradora liderança do vice-ministro da saúde, Dr. Manuel Boal. Havia projetos no Oio, na ilha de Canhabaque, em Tombali e no extremo leste, em Lugadjol, no setor de Madina do Boé, e em Quínara, onde eu trabalhava. 

O projeto teve bastante sucesso nos primeiros anos, graças à liderança entusiástica dos coordenadores guineenses e dos cooperantes estrangeiros. Depois de algum tempo, a confiança dos aldeões foi conquistada e eles contribuíram voluntariamente com dinheiro, e isso era muito pouco dinheiro, para comprar medicamentos para serem usados na tabanca. No entanto, ficou claro que este projeto nunca seria completamente autossuficiente, pois sempre havia preços que eram altos demais para o que os aldeões podiam pagar.

As minhas atividades curativas (ou mais propriamente clínicas) eram bastante limitadas porque eu não tinha muitos recursos. Poucos medicamentos e nenhum instrumento para realizar qualquer procedimento terapêutico mesmo simples. 

Um dos eventos mais impressionantes foi quando, numa manhã, uma jovem mulher chegou a Fulacunda dizendo que havia sido mordida por uma cobra enquanto pegava água no rio. Ela não sabia exatamente que tipo de cobra era, mas foi mordida na perna. 

O que podíamos fazer? Tínhamos soro antiofídico, mas não sabíamos há quanto tempo estava fora da geladeira, então não sabíamos se ainda era eficaz, mas usámo-lo mesmo assim. Injetámos na esperança de que ajudasse. 

Observávamos a jovem mulher e, após algumas horas, os seus dedos de pé começaram a paralisar. As suas pernas começaram a enfraquecer e paralisar, e em seis horas, ela acabou por faleceu porque os seus músculos respiratórios também paralisaram. 

Tentámos de tudo: respiração artificial, administração de oxigênio que tínhamos por acaso. Mas nada ajudou. Nunca esquecerei os olhos assustados e suplicantes da jovem mulher que morreu de uma picada de cobra.

Outro evento que me marcou foi ajudar no chamado fanado

O fanado é um ritual realizado pelo grupo étnico Beafada, onde eu morava. Uma vez a cada poucos anos, jovens homens e meninos de 7 a 12 anos eram isolados na floresta por meses, onde aprendiam os segredos da tribo e como sobreviver e cumprir seu papel nas comunidades da tabanca. 

Durante o período colonial, esses fanados eram realizados em segredo, e agora, com a independência, os líderes decidiram que os serviços de saúde poderiam contribuir. No final dos meses de isolamento, os jovens eram circuncidados. Meu assistente e fiel colaborador Sanquinho, o auxiliar médico, foi convidado a ir à floresta para desinfetar os pénis recém-circuncidados. Eu não podia ir porque era branco, um estrangeiro. 

Ele foi. No dia seguinte, ele voltou dizendo que não conseguiu. Ele levou iodo como desinfetante, que é à base de álcool, mas o primeiro menino que foi desinfetado começou a gritar tão alto que desistiram dessa ajuda. O que fazer?

Felizmente, tínhamos outro desinfetante, a violeta genciana, que era à base de água. Sugeri usá-lo, mas com a condição de que eu mesmo fosse à floresta para observar e aplicar. Após alguma discussão, isso foi permitido e viajámos para a floresta. Em um determinado momento, chegámos a uma árvore caída, que era o limite absoluto até onde podíamos ir. Dali para a frente, a área era proibida para nós e, atrás da árvore caída, havia uma fila de meninos. Meninos com rostos assustados, com as mãos cobrindo suas partes íntimas, esperando para desinfetar os seus pénis recém-circuncidados.

Um por um, eles levantavam os panos sujos que cobriam suas partes íntimas e podíamos aplicar o desinfetante. Como era à base de água, não era irritante e foi bem tolerado pelos meninos. Ganhei uma experiência valiosa e os meninos, espero, foram desinfetados após uma circuncisão que não foi feita completamente de acordo com as normas antissépticas.

A minha vida em Fulacunda não era tão fácil. A sra. Maria cuidava de mim, preparava as comidas e limpava a casa. Tinha algumas galinhas para ter um ovo no mata-bicho. Importei legumes desidratadas de Holanda e, de vez em quando, conseguíamos uns tomatinhos. Os pescadores traziam-me de vez em quando uma barracuda, peixe grande e deliciosa.

Na frente da minha casa havia um campo de jogos (antigamente para jogar vólei?) (foto nº 9).  Às vezes eu instalava o meu gravador lá à noite e os moradores e nós dançávamos ao som de uma música animada.

Antes de viajar para Guiné-Bissau, comprei na Bélgica uma caixa de cartuchos (calibre 12). Provou ser muito útil. Não sabia caçar, mas o meu amigo Manuel sabia. Levou de noite um ou dois cartuchos para o mato e voltou de manhã com um antílope. Dividimos a carcaça e havia carne para umas semanas. 

Raramente era  abatida uma vaca na tabanca. Costumavam-me chamar para inspecionar o estado de saúde da carne. Tinha um livro de medicina veterinária, assim podia verificar os pulmões, o fígado e se a carne oferecia as condições mínimas de salubridade. Levava  uma balde grande para  inspeção: depois de autorizar a venda da carne, era o primeiro a poder escolher a minha parte da vaca.

 A minha noiva (holandesa) vivia em Bissau. Tanto quando possível viajávamos para nos encontrarmo-nos (foto nº 10). Ela tinha uma mota Honda 125 cc off-the-road. Com um barco tradicional ou um barco dum projeto holandês costumávamos travessar o rio Geba. Nem sempre havia águas tranquilas.

Em Buba havia na altura um grande projeto de abastecimento de água (foto nº 11). No antigo quartel foi estabelecido o centro do projeto, que incluiu também uns 5 a 7 técnicos holandeses. No Catió era o centro duma empresa holandesa Stenaks, que construiu centros de saúde na região de Tombali e Quínara. 
Foi uma grande ajuda ter estes compatriotas relativamente perto. 

No tempo da chuva era praticamente impossível viajar, pois as estradas eram intransitáveis, mesmo com meu carro de trabalho, o formidável Land Rover (foto nº 10).

Foram alguns anos de muitas experiências. Foi a base para minha futura carreira na área de saúde tropical. 

Obrigado, Guiné, obrigado,  guineenses!

(Revisão / fixação de texto, edição de fotos: LG)

______________

Notas do editor:


(**) Equivalente ao nosso Instituto de Higiene e Medicina Tropical / NOVA, Lisboa

(***) Último poste da série > 25 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25981: Ser solidário (274): Bilhete-postal que vai dando notícias sobre a "viagem" da campanha de recolha de fundos para construir uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau (10): O mel da Guiné-Bissau (Renato Brito)

(****) 11 de novembro de 1975

(*****) Na China e em Moçambique eram chamados "médicos de pé descalço"... Prestadores de cuidados de saúde, sem qualificações formais, atuando sobretudo na áreas da prevenção da doença e da promoção da saúde.