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sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27348: Notas de leitura (1855): "Ecos Coloniais", coordenação de Ana Guardião, Miguel Bandeira Jerónimo e Paulo Peixoto; edição Tinta-da-China 2022 (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Outubro de 2025:

Queridos amigos,
Ecos Coloniais não é nem um guia de viagem nem um almanaque de curiosidades histórico-culturais onde as memórias coloniais e imperiais se interpenetram. Juntaram-se académicos, ativistas, museólogos e jornalistas e fazem uma apreciação desses espaços, lugares, monumentos, instituições onde pulsam as tais reverberações que dão ensejo a encarar a História de Portugal na faceta que as marcas do Império nos arrastam à compreensão da nossa identidade, na dimensão do passado. Começámos no Arquivo Histórico Ultramarino, estamos hoje em frente ao monumento a Sá da Bandeira, vamos até ao Forte do Bom Sucesso, o monumento aí é outro, homenageiam-se os combatentes mortos nas guerras do Ultramar, seguimos depois para o Museu Nacional da Etnologia. Dá-se esta obra como relevante, é um exercício original para debates sobre passado e o presente, mostra como o património colonial está obrigatoriamente associado a uma memória inapagável.

Um abraço do
Mário



Império e colonialismo: reverberações na Lisboa atual - 3

Mário Beja Santos

Ecos Coloniais resulta de um exercício coletivo de investigação sobre o património histórico e cultural, aqui se interrogam instituições, entidades, monumentos, obras de arte, palácios onde se interseccionam a história colonial e imperial portuguesa, do passado ao presente, edição ilustrada com fotografias de Pedro Medeiros e o acervo de textos tem a coordenação de Ana Guardião, Miguel Bandeira Jerónimo e Paulo Peixoto, edição Tinta-da-China 2022. Logo na introdução, os organizadores referem que este levantamento é uma obra consciente e que há muito por investigar e por saber, importa evitar generalidades e simplismos mobilizadores para escapar aos engenheiros e empreendedores da “história” e da “memória”.

Encaminhamo-nos agora para o monumento a Sá da Bandeira, sito ali perto do Mercado da Ribeira e da Marconi, tendo a Avenida 24 de julho pela frente. O bravo Marechal, de nome Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, de bravura incontestável, liberal e irredutível, está ligado à abolição da escravatura em Portugal. Como escrevem os autores deste texto, “Na década de 1850, quando vários decretos vão progressivamente libertando os escravos do Estado e das misericórdias, quando se estabelece o conceito da liberdade do ventre e aqueloutro de ‘libertos’. São estes dois bons exemplos de carácter gradual, feito de concessões e cedências, e hesitações, que marcou não só o abolicionismo português como a própria figura de Sá da Bandeira (…) A estátua de celebração do Marquês Sá da Bandeira não se esgota no movimento abolicionista. No sope, uma outra estátua, de uma mulher africana evoca aquilo que era um tropo na altura: o agradecimento do continente e seus habitantes, ao abolicionismo protagonizado pelas classes esclarecidas dos países ‘civilizados’. O problema da escravatura enquanto injunção moral que os poderes imperiais projetavam sobre si mesmo havia sido transformada num novo instrumento de geopolítica. A escravatura, real, que existia ainda no continente africano, apesar das várias ‘abolições’, era então identificada como problema congénito das sociedades locais a que estavam associados outros: poligamia, canibalismo, uso imoderado de álcool, predisposição para a indolência. A escravatura, alimentada que tinha sido ao ponto de alcançar uma dimensão quase industrial na sua versão transatlântica, era agora apresentada como o resultado do atavismo e violência de grupos socioculturais tidos por atrasados.”

O marechal e aquela mulher africana com a criança ao colo, no significado que a época lhe deu, representa a homenagem do país a quem deu a liberdade aos escravos, mas num quadro ideológico de tornar estes libertos indígenas com possibilidade de aceder à civilização.

Tomámos agora o rumo para Belém, vamos até ao monumento aos Combatentes do Ultramar. Diz a autora do texto: “Numa instrumentalização da dor, os monumentos aos mortos de guerra revelam que a morte não dá igualdade. A abstração do morto aniquila as diferenças dos que lutaram integrando-as num processo hegemónico.” Anteriormente, a autora apresentara assim o monumento inaugurado em 5 de fevereiro de 2000:
“Ao Forte do Bom Sucesso foram adicionadas placas talhadas com os nomes, dispostos cronologicamente, de cerca de 10 mil soldados mortos na Guerra Colonial, incluindo soldados africanos das Forças Armadas Portuguesas. A associação dos mortos procura fortalecer, por um lado, a ideia de uma linearidade histórica, sem as ruturas que momentos de crise como as guerras poderiam causar e, por outro lado, a integração orgânica dos membros do corpo nacional, onde também se encontra o colonial. A 11 de novembro de 2015, no 97.º aniversário do Armistício, foi integrado ao conjunto memorial o Soldado Desconhecido caído na Guiné durante a Guerra Colonial, depositado na Capela do Combatente. Tal como em 1921, o morto anónimo é colocado no centro do palco. O herói não identificado, figura idealizada e transversal, é chamada à função de regenerar a nação e transladado para o Panteão Nacional.”

Um monumento que esteve envolvido em controvérsia, e que tem a estatura de uma ferida histórica, há quem o encare como espelho de memória de uma descolonização acabada. Com o passar dos anos, este espaço público vai gerando o sentimento de uma memória comum, ganha o papel de reconciliador, torna-se numa memória comum, o país ajustou-se à veneração dos seus mortos, já são muito poucos os que, por razões ideológicas, pretendem instrumentalizar a dor.

A última viagem é ao Museu Nacional de Etnologia, a autora do texto revela-se bastante crítica quanto ao teor da exposição permanente e releva o papel do multiculturalismo que em Portugal se agigantou com as sucessivas vagas de imigração, logo a dos “retornados” após a revolução do 25 de abril, o que está patente no Museu oculta o lado violento e racista do colonialismo português, abre espaço para exibir narrativas como a panaria de Cabo Verde e Guiné Bissau, e a autora destaca a importância do Serviço Educativo que valoriza as coleções a partir do presente, contribuindo para a construção de relações recíprocas, tal serviço educativo volta-se hoje para a população afrodescendente, contribuindo de forma crítica para o combate à marginalização de grupos sociais que buscam sentido de cidadania, fora da ética dos Descobrimentos. “Coleções como as do Museu Nacional da Etnologia constituem uma oportunidade única para conhecer uma história profundamente desumana, permitindo-nos ativar práticas reparadoras no campo das temporalidades, das materialidades e da dignidade, e compreender melhor o mundo em que vivemos, para podermos assumir o compromisso de contribuir para a construção de um presente melhor.”

Ecos Coloniais, vale a pena repetir, debruça-se sobre um eco diversificado de espaços, atores, instituições e símbolos, permitem-nos ver ou refletir sobre histórias imperiais e coloniais que podemos ver em Lisboa e arredores. É um trabalho coletivo, envolve uma equipa em que há autores e um fotógrafo. Impondo-se uma súmula ou resenha desses espaços e lugares, falando de um quadro que está no Museu Nacional de Arte Contemporânea, “os Pretos de Serpa Pinto”, iremos depois ao Porto de Lisboa e à Sociedade de Geografia de Lisboa.

Monumento aos combatentes do Ultramar, junto do Forte do Bom Sucesso
Museu Nacional de Etnologia, objetos em exposição
Os Pretos de Serpa Pinto, Catraio e Mariana, por Miguel Ângelo Lupi, 1879, Museu Nacional de Arte Contemporânea

(continua)
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Notas do editor

Vd. post de 17 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27326: Notas de leitura (1852): "Ecos Coloniais", coordenação de Ana Guardião, Miguel Bandeira Jerónimo e Paulo Peixoto; edição Tinta-da-China 2022 (2) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 20 de outubro de 2025 >
Guiné 61/74 - P27336: Notas de leitura (1854): "Um Império de Papel", por Leonor Pires Martins; posfácio de Manuela Ribeiro Sanches; Edições 70, 2.ª edição, 2014 (2) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27326: Notas de leitura (1852): "Ecos Coloniais", coordenação de Ana Guardião, Miguel Bandeira Jerónimo e Paulo Peixoto; edição Tinta-da-China 2022 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Outubro de 2025:

Queridos amigos,
Continuando a viagem por Lisboa onde há reminiscências imperiais desde arquivo, ao nome de ruas, monumentos alusivos, praças, museus, palácios, e muito mais. Os organizadores deste interessantíssimo projeto escolheram até pontos de encruzilhada entre o antes, o durante e o depois, é o caso da estação Terreiro do Paço, que conheci pelo nome de Sul e Sueste, como se podia ter escolhido o comboio da linha de Sintra, onde arribam e partem afrodescendentes e imigrantes aos magotes. Desta feita a viagem começa no Banco Nacional Ultramarino, na Baixa Lisboeta, seguimos para o Palácio Burnay, na Junqueira, onde funcionou o ISCSPU, a última escola de preparação da elite administrativa colonial; e procurámos visualizar o que poderá vir a ser o Memorial de Homenagem às Pessoas Escravizadas, no antigo Campo das Cebolas, hoje Largo José Saramago. Seguiremos depois para um lugar não muito longe deste, o Monumento a Sá da Bandeira, ali ao lado do Mercado da Ribeira.

Um abraço do
Mário


Império e colonialismo: reverberações na Lisboa atual - 2

Mário Beja Santos

Ecos Coloniais resulta de um exercício coletivo de investigação sobre o património histórico e cultural, aqui se interrogam instituições, entidades, monumentos, obras de arte, palácios onde se interseccionam a história colonial e imperial portuguesa, do passado ao presente, edição ilustrada com fotografias de Pedro Medeiros e o acervo de textos tem a coordenação de Ana Guardião, Miguel Bandeira Jerónimo e Paulo Peixoto, edição Tinta-da-China 2022. Logo na introdução, os organizadores referem que este levantamento é uma obra consciente e que há muito por investigar e por saber, importa evitar generalidades e simplismos mobilizadores para escapar aos engenheiros e empreendedores da “história” e da “memória”.

Já se andou pelo Arquivo Histórico Ultramarino, pela Associação Comercial de Lisboa e pelo Bairro das Colónias, vamos começar a itinerância de hoje no Banco Nacional Ultramarino. A sua sede na Baixa Lisboeta tinha a dimensão de um quarteirão inteiro, hoje é o MUDE – Museu do Design e da Moda. O BNU foi durante mais de cem anos o instrumento e a imagem do financiamento do Fomento Ultramarino; constituiu-se em 1864, é, pois, contemporâneo do crescente interesse pela nossa presença em África. À cabeça dos promotores figurava Oliveira Chamiço, ligado a uma família de negociantes do Porto e educado em Inglaterra.

Era um Banco privado que recebeu do Estado importantes prerrogativas: privilégio exclusivo de constituição e administração de instituições bancárias e de emissão de notas nos territórios ultramarinos, tinha isenção de impostos e funcionava como caixa do Estado. Nas listas de acionistas figuraram grandes negociantes com interesse em África, mas a maioria das participações eram puras aplicações financeiras. Um Banco que sofreu várias crises, sobreviveu com auxílio do Estado. Não é despiciendo falar numa triangulação entre a Sociedade de Geografia de Lisboa, a Associação Comercial de Lisboa e o BNU, era gente que se conhecia e sonhava com negócios em África.

O BNU fomentou a agricultura em São Tomé. Na administração de João Ulrich (1918-1931) a expansão da atividade foi acompanhada pelo alargamento das instalações, prosperou, internacionalizou-se com sucursais em Inglaterra, França e no Brasil e, tirando Angola, tinha delegações em todas as parcelas ultramarinas. Chegou a estar à beira da falência em 1931, o Governo ordenou o resgate, foi uma intervenção que durou vinte anos. Em 1951 começou uma nova fase na vida do BNU, preparou-se para as celebrações do centenário remexendo no exterior e no interior da grande construção na Baixa. O BNU não sobreviveu à descolonização, mas continuou a funcionar por trinta anos, então na órbita da Caixa Geral de Depósitos, transferiu-se para a Avenida 5 de Outubro, um projeto de Tomás Taveira. O edifício da Baixa está a ser gradualmente recuperado, o visitante tem oportunidade de admirar vestígios da antiga grandiosidade.

Podíamos apanhar um elétrico em direção a Algés e sair no Palácio Burnay, na Junqueira, onde funcionou o ISCSPU – Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina que para aqui se transferiu em novembro de 1962. Este foi o espaço escolhido para acolher os formandos do Corpo Administrativo do Império Colonial Português, acolhia à época o Conselho Ultramarino, este datava do início do século XVIII. Este Palácio andou de mão em mão entre proprietários civis e eclesiásticos até ser comprado à família Burnay pelo então Ministério das Colónias, em 1940, aqui foram instalados o Conselho Técnico de Fomento Colonial, a Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais, a Inspeção Superior de Administração Colonial, para além do então designado Conselho do Império Colonial, posteriormente Conselho Ultramarino.

A formação do corpo administrativo colonial deu passos com a criação da Escola Colonial, que começou a funcionar na Sociedade de Geografia de Lisboa. Foi depois Escola Superior Colonial, na década de 1920, andou pelo Palacete Anjos, no Príncipe Real e daqui transferiu-se para a Junqueira. É indiscutível que a Instituição teve um papel relevante na formação de uma elite de funcionários. A um nível institucional elevado, é de destacar a colaboração cientifico-social empreendida no quadro da Comissão de Cooperação Técnica na África ao sul do Saara – organismo criado em 1950 pelos governos de França, Reino Unido, Portugal, Bélgica, União da África do Sul e Rodésia do Sul, como se compreenderá para procurar responder à era da descolonização. Deu-se na formação dos funcionários coloniais a incorporação das ciências sociais. Criou-se o Centro de Estudos Políticos e Sociais, em 1956, na Junta de Investigações do Ultramar para funcionar junto do Instituto Superior de Estudos Ultramarinos. Com o 25 de abril, a instituição mudou de look e natureza, o Palácio Burnay ficou vazio.

Falando agora do Memorial de Homenagem às Pessoas Escravizadas, com projeto aprovado do artista angolano-português Kiluanji Kía Henda, que tem dado tanta controvérsia, faz agora aqui, faz agora acolá, tem como lugar escolhido o Largo José Saramago, o antigo Campo da Cebolas, com sobejas ligações aos tempos coloniais, fabricação de navios, mercado de bens comerciais, etc. O Memorial surge pela iniciativa da Djass – Associação de Afrodescendentes, beneficiará de apoios camarários. A obra que ganhou o concurso chama-se Plantação do já referido artista angolano-português, ele propõe um lugar de memória aberto à reflexão. Trata-se de uma instalação de 540 canas-de-açúcar de três metros de altura e oito centímetros de diâmetro, em alumínio preto, dispostas na forma de triângulo, em representação do comércio triangular entre África, América e Europa.

Numa entrevista dada ao Público, em março de 2020, Henda afirma que o memorial representa uma floresta em luto uma memória para todos, pois é uma singela homenagem que nos evita cair numa amnésia coletiva. O monumento constituirá um espaço para “poder compreender as origens do racismo contemporâneo e as continuidades históricas que existem entre o que foi o período de escravatura do projeto colonial português e o racismo contemporâneo.” Recorde-se que Lagos foi o primeiro porto de chegada de pessoas escravizadas, Zurara, na sua Crónica dos Feitos da Guiné, dá-nos uma descrição pungente. Em 2009, foram encontrados restos de 158 corpos de pessoas escravizadas que foram abandonados num depósito de lixo fora dos muros medievais da cidade. Em Lagos foi criado o “Núcleo Museológico Rota da Escravatura – Mercado de Escravos” no lugar onde foram comercializadas as primeiras pessoas provenientes de África. Este pequeno museu é muito criticado pela falta de uma leitura ampla, reforçando a instrumentalização da escravidão em lugar de a questionar.

A nossa próxima viagem começará no Monumento a Sá da Bandeira, mesmo ao lado do Mercado da Ribeira, seguiremos depois para Belém para o monumento aos mortos da guerra colonial.

Era assim o nosso principal Banco Imperial.
Imagem retirada do blogue Restos de Coleção, com a devida vénia
Sala do administrador. Daciano da Costa assinou o projeto de arquitetura e mobiliário.
Imagem retirada do blogue Restos de Coleção, com a devida vénia
O Palácio Burnay já conheceu melhores dias, há movimentos de cidadãos a pedir a sua reabilitação
O que se pensa vir a ser o Memorial de Homenagem às Pessoas Escravizadas

(continua)
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Notas do editor:

Vd. post anterior de 10 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27304: Notas de leitura (1849): "Ecos Coloniais", coordenação de Ana Guardião, Miguel Bandeira Jerónimo e Paulo Peixoto; edição Tinta-da-China 2022 (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 14 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27315: P27259: Notas de leitura (1851): "Os Có Boys (Nos Trilhos da Memória)", de Luís da Cruz Ferreira, ex-1º cabo aux enf, 2ª C/BART 6521/72 (Có,1972/74) - Parte III: de Leiria a Coimbra, e da Carregueira a Penafiel, a caminho do CTIG (Luís Graça)

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27304: Notas de leitura (1849): "Ecos Coloniais", coordenação de Ana Guardião, Miguel Bandeira Jerónimo e Paulo Peixoto; edição Tinta-da-China 2022 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Outubro de 2025:

Queridos amigos,
Só agora descobri este interessantíssimo livro editado pela Tinta-da-China em 2022, trata-se de um projeto coletivo envolvendo académicos, ativistas, museólogos, jornalistas que interrogam Lisboa através de um quadro sólido de instituições, entidades, espaços públicos, monumentos, infraestruturas e até nomes de ruas e que são ecos, e mesmo reminiscências, da nossa presença colonial. Dedica-se hoje atenção ao Arquivo Histórico Ultramarino, à Associação Comercial de Lisboa e ao Bairro das Colónias, o primeiro é um lugar fundamental de uma imensidade de estudos, para aqui convergiram documentos multisseculares, os arquivos do Ministério das Colónias, do Arsenal da Marinha, entre outros, deram-se muitas alterações, quando andei a pesquisar João Vicente Santana Barreto, tenente médico que esteve em Cabo Verde e prestou meritíssimos serviços na Guiné, pensei que o seu processo estivesse no Arquivo Geral do Exército, não senhor, o melhor que encontrei foi mesmo aqui; a Associação Comercial de Lisboa esteve ligada a nomes bem representativos de negócios africanos caso de Angola e São Tomé; e o Bairro das Colónias é assim tratado por toda a gente, só resiste a outro tratamento a antiga Praça do Ultramar, hoje Praça das Novas Nações, é um Bairro altamente miscigenado, tem a Farmácia Colonial e o Restaurante Sabores de Goa...

Um abraço do
Mário



Império e colonialismo: reverberações na Lisboa atual - 1

Mário Beja Santos

Ecos Coloniais resulta de um exercício coletivo de investigação sobre o património histórico e cultural, aqui se interrogam instituições, entidades, monumentos, obras de arte, palácios onde se interseccionam a história colonial e imperial portuguesa, do passado ao presente, edição ilustrada com fotografias de Pedro Medeiros e o acervo de textos tem a coordenação de Ana Guardião, Miguel Bandeira Jerónimo e Paulo Peixoto, edição Tinta-da-China 2022. Logo na introdução, os organizadores referem que este levantamento é uma obra consciente e que há muito por investigar e por saber, importa evitar generalidades e simplismos mobilizadores para escapar aos engenheiros e empreendedores da “história” e da “memória”.

A viagem começa no Arquivo Histórico Ultramarino, instituição criada na década de 1930, pensado desde o início como o arquivo histórico do Império. O seu próprio nome é revelador da profunda ligação que este projeto manteve com uma visão histórica do Império Colonial. Era intento do Estado Novo moldar a memória colonial para se obter uma narrativa oficial sobre o passado de Portugal enquanto nação imperial. Os autores do artigo contam a história deste arquivo que está instalado no Palácio dos Condes da Ega, na Calçada da Boa Hora n.º 30, na Junqueira, lembram a convergência de outros arquivos para aqui, a grande preocupação era a do investimento ideológico no controlo da memória e do discurso histórico sobre o Império. Prevendo-se, após a II Guerra Mundial, o surto da descolonização rebatizou-se o Arquivo Histórico Colonial de Ultramarino.

Depois do 25 de abril, o arquivo conheceu várias tutelas até que em 2015 foi incorporado na Universidade de Lisboa, está integrado na Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas. Há vários discursos e narrativas estratégicas na vida deste arquivo e fala-se agora muito de que é um património arquivístico comum da lusofonia. Observam os autores:
“É fundamental que a inventariação da enorme massa documental do Arquivo seja acompanhada por uma sensibilidade crítica relativamente à sombra que esta genealogia continua a projetar sobre o Arquivo”, e advertem que “convém ter presente que os sistemas coloniais de classificação documental podem ocultar certos sujeitos ou certos temas tidos no passado por secundários ou, de algum modo, irrelevantes ou inconvenientes”.
Os autores também referem que também se está a proceder na atualidade a um levantamento dos fundos do Conselho Ultramarino.

Passamos agora para a Associação Comercial de Lisboa, edifício projetado pelo arquiteto Álvaro Augusto Machado, o mesmo da Sociedade Nacional de Belas Artes, aqui se alojou inicialmente um espaço de diversão noturna, o Club Palace, quando este fechou as portas, foi aqui que a Associação se estabeleceu. Esta Associação transferira-se em 1895 para o antigo Palácio Seiscentista dos Condes de Povolide, o Ateneu Comercial de Lisboa. No século XIX fora constituída a Associação Mercantil Lisbonense, muitos dos seus dirigentes estavam ligados a negócios coloniais. “Entre os seus fundadores, muito poucos vinham dos tempos anteriores à abertura dos portos do Brasil à navegação estrangeira, em 1808. A regularização das relações comerciais com o Brasil, sobre as quais a direção solicitava ao Rei providências urgentes, foi uma das suas primeiras preocupações. O mesmo sucedeu com a promoção do comércio com as colónias de África. Logo em 1835, o Conselho da Associação apreciou o memorando sobre a situação de Angola após a abolição do tráfico de escravos. Após ter mudado de denominação para Associação Comercial de Lisboa, em 1855, a Associação formou várias comissões especializadas, uma das quais dedicadas às questões ultramarinas.”

Refere o autor as ligações da Associação com o Banco Nacional Ultramarino, com donos de roças São Tomé e Príncipe e Angola, entre outras, e escreve:
“É impressionante a identificação, durante quase um século entre a direção da Associação e os interesses coloniais. E ainda hoje, passadas décadas sobre a descolonização, embora se concentre mais nas suas funções de Câmara de Comércio e Indústria, a memória dessa relação vive no percurso de vida do atual presidente. À frente da Associação desde 2005, Bruno Pinto Basto Bobone viveu quase toda a sua infância em Moçambique, de onde só regressou depois do 25 de abril.”
Conclui nestes termos:
“Investigar organizações como a Associação Comercial de Lisboa, o processo de recrutamento dos seus dirigentes e de formação das suas posições, enquanto instituições que representam, no plano político, os mesmos interesses económicos coletivos ao longo do tempo, mas sondá-las também como lugares de encontro de indivíduos e de grupos, contribui-se certamente para compreender como mesmo na sociedade de hoje, se seguem certos rumos e se tomam certas opções.”

Da rua das Portas de Santo Antão, passamos para o Bairro das Colónias. Mudou o nome da Praça do Ultramar para Praça das Novas Nações, o nome das ruas mantém-se, há mesmo uma placa de trânsito a indicar o Bairro das Ex-Colónias. Este local corresponde a uma etapa da urbanização da cidade, foi um dos últimos bairros construídos em torno da Avenida Almirante Reis, resultou de um projeto apresentado à Câmara Municipal para urbanizar o espaço que restava da Quinta da Mineira e da Quinta da Charca, era um terreno que se situava entre dois bairros recentes, o Bairro Andrade e o Bairro de Inglaterra. O Bairro das Colónias começou a ser construído na década de 1930.

“Uma das forças mais eficazes na normalização da nomenclatura do Bairro das Colónias é o negócio imobiliário. Se alguém consultar as principais empresas imobiliárias com a intenção de comprar ou arrendar uma casa não encontrará nenhuma oferta no Bairro das Novas Nações. Já no Bairro das Colónias as possibilidades são diversas.”

As transformações do Bairro, a avalanche de nossos compradores levou a alterar o perfil do comércio; é verdade que ainda existe a Farmácia Colonial, o restaurante central das Colónias, a oficina de automóveis Auto-Colonial ou a Pastelaria Nova Ultramarina, mas este imaginário tem vindo a dar lugar a negócios geridos por imigrantes, sobretudo os provenientes do Nepal, do Bangladesh, do Paquistão e da Índia, o Bairro dispõe de massagens tailandesas, de um café com serviços para imigrantes, ostentam-se nos prédios bandeiras da Guiné-Bissau, do Nepal, do Senegal e da Roménia. E para concluir diz o autor:
“Com mais de noventa anos de história, maioritariamente vividos em democracia, o Bairro das Colónias passou por mudanças significativas, mas o seu anacrónico nome permanece sem aparente contestação”.

O autor recorda que o Bairro Africano de Berlim conheceu um movimento de contestação nacional e internacional que propôs a renomeação das ruas do Bairro, que mantinham alusões às antigas colónias e a colonialistas de renome. A não existência em Lisboa de movimentos semelhantes aos de Berlim não deveria suster a ação urgente dos poderes autárquicos locais, começando eventualmente pelas placas de trânsito. Num processo que deveria conduzir à tão necessária mudança do Bairro, seria igualmente relevante considerar que as populações que lá viveram e alguns dos que ficaram, escapando à fúria dos imobiliários, associam este nome às suas geografias sentimentais. Bem explicada, a ideia de que não se deve celebrar um regime colonial e predador será certamente compreendida pela maioria.

Regressamos falando do Banco Nacional Ultramarino e de vários monumentos espalhados pela cidade.

Palácio da Ega, Arquivo Histórico Ultramarino
Associação Comercial de Lisboa - Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
Rua de Angola, Bairro das Colónias, imagem de Jorge Ferreira, com a devida vénia

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 7 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27293: Notas de leitura (1848): "O capelão militar na guerra colonial", de Bártolo Paiva Pereira, capelão, major ref - Parte IV: "Até 1966 eram todos voluntários" (Luís Graça)

domingo, 25 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26844: Convívios (1031) Encontro no convento do Varatojo, Torres Vedras: Famílias Crisóstomo & Crispim + amigos e camaradas da Guiné, hoje de manhã (João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, BENG 447, Brá, 1967/1971)




Foto nº 1A e 1 > O João na escadaria exterior


Foto nº 2 >  Vilma e João




Fotos nºs 3B, 3A e 3 > O grupo dos "primos" Crisóstomo e Crispim: em primeiro plano, o João ao lado do Padsre Victor Melícias e do Rui Chamusco (Foto nº 3B); A Vilma entre as primas (Foto nº 3A)



Foto nº 4A e 4 > Banca com fotos de convívios anteriores. O último realizou-se, também no Varatojo, em outubro de 2021: Sim, em outubro de 2021, Portugal ainda tinha algumas restrições relacionadas à COVID-19, embora muitas tivessem sido levantadas a partir de 1 de outubro de 2021, com o país a passar da situação de contingência para a situação de alerta.



Foto nº 5 > O magnífico claustro do convento


~~

Foto nº 6 e 6A > Capela )Na foto bº 61, em primeiro planod e costas, o nosso camarada Estêvão Henriques e a esposa Rosário, que vieram do Seixal, Lourinhã)



Foto nº 7 > Altar mor


Foto nº 8 > Escudo das armas reais de Portugal > Peça recente, anos 60, a autoria de  António Passaporte (Loty)


Foto nº 9 > Portaria: entrada interior principal




Foto nº 10 > Placa com dístico, em latim, na parte superior da entrada para o refeitório: "De paupertate nostra frangamus Jesu esurienti panem" (tradução: Da nossa pobreza, partilhemos o pão para Jesus faminto).


Foto nº 11 > Painel de azulejos, datado de 1927, dedicado "santo da paz e da fraternidade", Francisco.

Torres Vedras > Convento do Varatojo > 25 de maio de 2025

Fotos: © João Rodrigues Lobo (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





cmdt do PTE (Pelotão de Transportes
Especiais) / BENG 447 (Bissau, Brá, dez1967/fev1971);  
fez o 1º COM, em Angola, na EAMA, Nova Lisboa;
 vive em Torres Vedras onde trabalhou durante mais de 3 décadas 
como chefe dos serviços de aprovisionamento do respetivo hospital distrital;
 membro nº 841 da Tabanca Grande.



1. O nosso camarada Jão Rodrigues Lobo foi de propósito,  esta manhã para conhecer o João Crisóstomo (que é natural de Torres Vedras) e dar-me também uma abraço. Por razões de última hora, não compareci a este convívio, como tinmha previsto, estou em Alfragide (só amanhã volto â Lourinhã). O João R. Lobo teve a gentileza der mandar algumas das fotos que tirou.



ENCONTRO NO CONVENTO DO VARATOJO 


1. Mensagem do nosso camaraad João Rodrigues Lobo: 


Data - 25 mai 2025 14:19
 Assunto -. Encontro no Convento do Varatojo

Boa tarde,

Hoje tive o prazer de conhecer João Crisóstomo e sua esposa Vilma no seu encontro das famílias Crispim e Crisóstomo.

No magnifico Convento do Varatojo, assistiu-se à missa dominical.

Anexo fotografias que tirei.

Grande abraço, João




(...) "Arquitectura religiosa, maneirista e barroca. Igreja conventual de planimetria maneirista - planta longitudinal, com capelas colaterais encimadas por tribuna num dos lados e sem transepto. Conserva elementos de diversos estilos: gótico - o portal integrado em gablete, os baixos relevos com representação heráldica que o ladeiam (já de um gótico flamejante), e o claustro; no manuelino - tecto mudéjar da portaria, alguns painéis pintados e os portais do claustro e o da capela do S. Jesus; maneirista - o púlpito e os azulejos ponta de diamante; barroco - os azulejos de albarradas, padrão ou figurativo, sendo os da capela-mor joaninos; os da sacristia são atribuídos a Policarpo de Oliveira Bernardes; a talha dos retábulos, sendo o mor do estilo nacional; a da capela de Nossa Senhora das Dores é já rocaille. A tela da capela-mor é do italiano Bacarelli." (...)

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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26837: Convívios (1030): Crispins & Crisóstomos + Amigos & Camaradas da Guiné, Convento do Varatojo, Torres Vedras, domingo, 25 de maio 10h00 (João e Vilma Crisóstomo, Nova Iorque)

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23809: Carta aberta a... (18): Ministros da Cultura e da Defesa.... Portugal pode e deve recuperar os restos das estátuas, abandonadas no forte do Cacheu, dos nossos Teixeira Pinto (séc. XX), Nuno Tristão (séc. XV) e Diogo Gomes (séc. XV-XVI) (António J. Pereira da Costa, cor art ref / Mário Beja Santos, ex-Alf Mil Inf)

Guiné > Bissau > Região de Cacheu > Forte de Cacheu (séc- XVIII) > Restos da estátua de Diogo Gomes, que até à Independência, estava em Bissau, frente à ponte cais de Bissau...

Foto: © Patrício Ribeiro (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos, ex-Alf Mil Inf, com data de 17 de Novembro de 2022, a propósito das Estátuas do Cacheu:

Meu caro Luís,
(...)
Há hoje uma forte corrente de opinião, na classe política guineense, que devem ser recuperados os sinais da presença portuguesa. O assunto deverá ser deliberado pelos próprios guineenses e depois feitos pedidos de cooperação para a recuperação da estatuária, seja ao Estado português no âmbito de um protocolo cultural, seja a uma entidade como a Fundação Calouste Gulbenkian que tem recuperado património da presença portuguesa pelo mundo fora. Seria afrontoso, parece-me, ser um departamento governamental português a propor a recuperação das estátuas, compete às autoridades guineenses tomar essa decisão, fazer apelo à cooperação e depois de tais esculturas estarem recuperadas decidir a sua colocação.
Eu concordo que se trata de um opróbrio, uma indignidade manter dentro de um património histórico esculturas que num determinado momento da independência parecia ter sentido o seu desaparecimento. Veja-se como Cabo Verde preserva o seu passado. Recordo uma conversa havida em finais de novembro de 2010 com Delfim Silva, Chico Bá e Filinto Barros, foram unânimes que a memória colonial não podia ser iludida, nenhum país pode viver sem passado.
Em suma, devemos manifestar a nossa indignação, a Guiné-Bissau tem uma embaixada em Portugal, não nos ficaria mal manifestar o nosso sentir nessa representação diplomática.

Votos de boa recuperação
Um abraço do Mário


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2. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa, Cor Art Ref, com data de 22 de Novembro de 2022:


Olá Camaradas
Aqui vai (mais uma resposta do Ministério da Cultura).
Se compararem com a outra vão ver que o assunto ainda não saiu do Ministério.
Julgo que o próprio MC poderia ter enviado o assunto ao Instituto Camões e dar-me conhecimento disso, mas isto sou eu a pensar...
Chegámos, portanto, a um momento em que o assunto teria ou terá de ser exposto do MNE,nomeadamente o Instituto Camões".
Se os participantes no blog se quiserem continuar, não se acanhem.
Para completar o processo, segue, de novo, a primeira resposta do MC

Um Abraço
António J. P.Costa


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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE NOVEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23787: Carta aberta a... (17): Ministros da Cultura e da Defesa... Portugal pode e deve recuperar os restos das estátuas, abandonadas no forte do Cacheu, dos nossos Teixeira Pinto (séc. XX), Nuno Tristão (séc. XV) e Diogo Gomes (séc. XV-XVI) (António J. Pereira da Costa, cor art ref)

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23787: Carta aberta a... (17): Ministros da Cultura e da Defesa... Portugal pode e deve recuperar os restos das estátuas, abandonadas no Forte do Cacheu, dos nossos Teixeira Pinto (séc. XX), Nuno Tristão (séc. XV) e Diogo Gomes (séc. XV-XVI) (António J. Pereira da Costa, cor art ref)

 

Cópia do ofício enviado pelo chefe de gabinete do Ministro  da Cultura, ao nosso camarada António J. Pereira da Costa.


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Antigo Forte ou Fortim de Cacheu (séc. XVI) > Restos da estátua de Teixeira Pinto, o "capitão-diabo" ...Estátua, em bronze, da autoria do professor de Belas Artes, o escultor Euclides Vaz (1916-1991), ilhavense. Encontrava-se no  Alto do Crim, antigo parque municipal, onde agora está a Assembleia Nacional. 


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Antigo Forte ou Fortim de Cacheu (séc. XVI) >   O que resta da estátua, também em bronze, do Nuno Tristão:  erigida por ocasião do 5.º centenário do seu desembarque em terras da Guiné (1446), a estátua ficava no final na Av da República, hoje, Av Amílcar Cabral... 

Esta artéria, a principal avenida de Bissau no nosso tempo, vinha da Praça do Império ao Cais do Pidjiguiti, tendo no final a estátua de Nuno Tristão; no sentido ascendente, ou seja, do Pidjiguiti para a Praça do Império, tinha à esquerda a Casa Gouveia, por detrás da estátua, e mais à frente, à direita, a Catedral.
 

Guiné > Bissau > Região de Cacheu > Forte de Cacheu (séc- XVIII) >  Restos da estátua de Diogo Gomes, que até à Independência, estava em Bissau,  frente à ponte cais de Bissau...

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagens recentes de António J. Pereira da Costa, cor art ref:

(i) Data - 7/11/2022

Assunto - Estátuas do Cacheu

Olá Camaradas

Venho só comunicar que, hoje, enviei ao Ministro da Cultura e à Ministra da Defesa duas cartas a pedir o respectivo interesse na recuperação das estátuas do Cacheu.
Seguem, em anexo.

Como se recordam tentei levantar esta questão junto do pessoal do blog. Pouco êxito! (Vd. ponto 2).

Claro que o NÃO está sempre garantido, mas valeria a pena tentar.

Obrigado pelo vosso (des)interesse.

Um Ab.
António J. P. Costa

PS - Se não vos der muito trabalho façam uma tentativa idêntica junto do PR. Pode ser que ele dali tir algum proveito político... Bora ajudá-lo? Bora

(ii) Data . - 11/11/2022, 16:49

Assunto - Estátuas do Cacheu

Olá, Camaradas.

Em respostas às cartas que enviei, recebi esta carta do Ministério da Cultura.

Julgo que pode servir de orientação para a exposição do assunto supra.

Entretanto, descobri que na Presidência da República há um "muro de lamentações" que poderemos usar. É só preencher e... esperar, claro. (**)

O não está garantido...
Um Ab. Tó Zé

2. O assunto em apreço foi lançado há  menos de dois meses, por mensagem de António J. Pereira da Costa (que na altura não chegou a ser publicada no nosso blogue) (*):

Data - 20/9/2022 10:34
Assunto - Ainda a os restos das estátuas do Cacheu

Bom dia, Camaradas:

Acham que valeria a pena lançarmos, no blog, um apelo para que o Estado Português mandasse recolher o que sobras das estátuas "colonialistas" e as depositasse no local mais adequado, a determinar?

Podíamos enviar cartas individuais (para aumentar o impacto) aos ministros da Cultura e da Defesa para que se dedicassem ao assunto.

E,  se perdêssemos a cabeça,  ir até ao PR?!

Por mim, tenho duas cartas prontas a partir e poderiam servir de modelo a quem quisesse.
Ora digam...

Um abraço, 
António Costa
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Sugestão de carta a mandar, por mais camaradas e amigos da Guiné,  aos Ministros da Cultura e da Defesa e, eventualmente, ao Presidente da República:

Mem-Martins, 5 de Novembro de 2022

Excelentíssimo Senhor Ministro da Cultura

Excelência

Desconhecendo, em detalhe, a estrutura do Governo, mas pressupondo que, de alguma forma, o assunto que exponho se incluirá na área da vossa tutela, tomo a liberdade de me dirigir a V. Ex.ª para expor o seguinte:

No blog de ex-combatentes da Guiné em que frequentemente participo, encontrei algumas fotografias que me permitem concluir que, na Guiné-Bissau, mais exactamente do forte português que se ergue, desde o Séc. XVII, junto da localidade de Cacheu, estão depositados os restos de três estátuas portuguesas que foram colocadas em Bissau, quase todas por ocasião do 5º centenário do desembarque em terras da Guiné (1446) e que foram apeadas após a independência.

Uma é estátua do capitão de Infantaria João Teixeira Pinto que comandou as forças que, entre 1912 e 1915, dominaram a revolta de uma parte da população (balantas e grumetes) contra as autoridades portuguesas. Este oficial veio a morrer, em Moçambique, no posto de major, na Batalha de Negomeno (1917) durante a I Guerra Mundial.

Ali estão também as estátuas dos navegadores portugueses ligados à Guiné: a de Diogo Gomes e a de Nuno Tristão

Além destas, é provável que ainda seja possível localizar os restos da estátua do Governador (entre 1906 e 1909) João Augusto de Oliveira Muzanty, primeiro-tenente da Marinha, que também participou em diversas operações de pacificação. Esta foi erguida em 1950, em Bafatá. Será da autoria do escultor António Duarte, tendo permanecido intacta após a independência, embora tombada no chão e terá sido destruída, em 1992. O respectivo pedestal encontrar-se-á no referido local.

Creio que estes restos poderiam ser recuperados para Portugal e colocados em locais/instalações relacionadas com as actuações destas personalidades. Atrevo-me a sugerir que a de Teixeira Pinto seja colocada na Escola da Armas do Exército e as dos navegadores numa instalação naval relacionada com os descobrimentos.

A Guiné parece não ter qualquer interesse neste espólio, pelo que nada justificará que não seja recolhido e transportado para o nosso país

Em anexo apresento algumas fotografias da localização/estado das estátuas

Mais informo V.Ex.ª que, nesta data enviei á Senhora ministra da Defesa uma carta de teor idêntico ao desta.

António José Pereira da Costa
Coronel de Artilharia (reformado)
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


(**) Último poste da série >  7 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23333: Carta aberta a... (16): José Belo, um intelectual contemporâneo luso, sueco-lapão-americano, hábil a usar palavras (Francisco Baptista, transmontano de Brunhoso)

sábado, 27 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22757: Agenda cultural (790): Camarada, se vives em Lisboa ou na Grande Lisboa, leva amanhá o(s) teu(s) neto(s) à Maratona de Robertos, no Museu da Marioneta... Eu levo a minha neta, que acabou de fazer dois anos..... (Luís Graça)

Teatro Dom Roberto, Porto. Com a devida vénia...


1. Ólh'óó Rrrrrrroberrrrto!!!
Maratona de Robertos


Lisboa, Bairro da Madragoa, Comvento das Bernardas
Endereço: Rua da Esperança 146, 1200-660 Lisboa

Domingo, 28 Novembro de 2021 |
Sessões contínuas :  das 11h00 às 18h00 | Aconselhado a famílias |
Entrada Livre! 

No dia 28 de novembro o Museu da Marioneta festeja 20 anos, mas festeja também a classificação no Inventário do Património Cultural Imaterial do Teatro Dom Roberto, uma das formas mais antigas e mais genuínas de teatro de marionetas português. 

Dom Roberto é direto e rude, mas também simpático e bonacheirão, criando grande empatia nos seus públicos!

Até meados do século XX, era comum encontrarem-se Robertos e as suas coloridas barracas nas ruas, praças, jardins e praias de todo o país. De carácter essencialmente popular e frequentemente ignorada pela maioria dos historiadores e investigadores das artes teatrais, o repertório do teatro de robertos era composto por textos de tradição oral, de sabor popular, com direito a muito improviso. 

Novos e velhos, crianças e adultos, acorriam aos primeiros sons agudos da palheta, prontos a deliciarem-se com os episódios cómicos que aqueles bonecos protagonizavam com ritmo e destreza.

No final do século XX, no entanto, esta forma teatral estava quase esquecida. Foi João Paulo Seara Cardoso, do Teatro de Marionetas do Porto, que primeiro percebeu a necessidade de preservar os Robertos, aprendendo a arte com o marionetista António Dias, ainda em atividade nos anos 80. 

Hoje, em Portugal, há de novo uma família de bonecreiros que percorrem o país com os seus ‘atores de palmo e meio’, as suas guaritas e a sempre característica voz de palheta.

No domingo dia 28 estarão reunidos no Claustro do Museu, para uma Maratona de Robertos. Venha celebrar connosco e assistir ao teatro de marionetas Dom Roberto – pelos roberteiros:

  • Fernando Cunha
  • Filipa Mesquita
  • Francisco Mota
  • João Costa
  • Jorge Soares
  • José Gil
  • Manuel Dias / Trulé
  • Marcelo Lafontana
  • Nuno Pinto
  • Raul Constante Pereira
  • Ricardo Ávila
  • Rui Sousa
  • Sara Henriques
  • Vítor Santa Bárbara 

Vd. também aqui a história do Museu e Página do Facebook do Museu da Marioneta 

 
2. O Teatro Dom Roberto  é um género de espectáculo, teatral, popular,  satírico, itinerante, de bonecreiros, também conhecido como "teatro de fantoches", destinado a todas as idades, mas que faz parte, muito em particular  das nossas melhores recordações de infância...  Era então um dos grandes divertimentos populares, até cair hoje (quase) no esquecimento... Foi recentemente  inscrito no Inventário de Património Cultural Imaterial Português.

Nesse tempo, em que éramos putos,  ainda  não havia a televisão, nem a Net nem muito as redes sociais. Víamos os "robertos", literalmente maravilhados, fascinados, boaquiabertos, assombrados, divertidos, sentados no chão, à volta de uma "barraquinha de feira", montada nalguma praça, jardim,  feira, terreiro de festa ou praia das nossas santas terrinhas...  Infelizmente, esses espetáculos, sazonais, não eram tão frequentes quanto isso...

Citando o sítio das Marionetas do Porto: “Nos finais dos anos 50, ainda os fantocheiros populares calcorreavam terras portuguesas por festas e romarias, divertindo o povo de pequenos e grandes que acorria a ver os seus espetáculos. Os pequenos bonecos de madeira e trapos bailavam caprichosamente ao som dos gritos estridentes produzidos pelo fantocheiro e tudo terminava invariavelmente pela tradicional cena de pancadaria, para grande alegria do público.

"Hoje, o Teatro Dom Roberto é apenas uma imagem feliz da infância de alguns, um traço  vivo de uma preciosa herança cultural que se vai esvaindo com os tempos da 'modernidade' ".
 
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Nota do editor:

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22374: Tabanca do Atira-te Ao Mar (8): "Círio" à Senhora dos Remédios, Cabo Carvoeiro, Peniche, 13/7/2021 - Parte II: uma capela, que merece uma visita, totalmente revestida por painéis cerâmicos, a azul e branco, do séc. XVIII, representando cenas da Virgem Maria



Foto nº 1 > Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remedios > Painel de azulejos no lado do Evangelho > Pormenor:   "Nascimento da Virgem"  



Foto nº  2 > Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > Painel de azulejos no lado do Evangelho > Pormenor: "Apresentação da Virgem no Templo"



Foto nº 3 > Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > 13 de julho de 2021 > Nave: painel de azulejos na parede fundeira (do lado do Evangelho) (i)



Foto nº 4 > Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > 13 de julho de 2021 > Nave: painel de azulejos na parede fundeira (do lado do Evangelho) (ii)


Foto nº 5 >  Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > 13 de julho de 2021 >  Painel de azulejos no lado da Epístola > Pormenor: "Adoração dos Pastores"


Foto nº  6 > Peniche > Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > 13 de julho de 2021 >  Painel de azulejos no lado da Epístola > Pormenor: "Adoração dos Pastores" e  cartela com a inscrição, em latim, "C(h)ristum Canamus Principem Natum Maria Virginae": Cantemos a Cristo, nosso príncipe, nascido da Virgem Maria


Foto nº  7 > Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > Painel de azulejos no lado do Evangelho > Pormenor: "Apresentação do Menino no Templo"  ou será a  "Adoração dos Reis Magos" ? Ficamos na dúvida...
  > Na cartela pode ler-se: "Vocatum est nomem eius Iesus" ("Então era esse o nome de Jesus").



Foto nº 8 > Peniche >Largo dos Remédios > Santuário da Senhora dos Remédios > Fachada lateral direita (muro do adro), lado Norte, com o mar em frente. Está situada junto à costa o num nível mais baixo em relação aos edifícios que o circundam.



Foto nº 9 > Peniche >Largo dos Remédios > Santuário da Senhora dos Remédios > Entrada, virada para nascente.

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  A capela da Senhora dos Remédios está classificada como imóvel de interesse público desde 1996. Confesso que já só tinha uma vaga ideia do seu interior, devo ter cá vindo  na segunda metade da década de 1970. E lembrava-me, não tanto dos fabulosos azulejos que revestem toda a nave da capela, como sobretudo da sala dos ex-votos, alguns deles ofertados por antigos combatentes da guerra do ultramar / guerra colonial, e que me causaram alguma impressão por serem moldes em cera de certas partes do corpo, com destaque para pernas e braços. Mas desta vez a sala de oferenas  e a tribuna não estavam acessíveis... (São revestidos, as paredes e o tecto, a azulejos polícromos seiscentistas, que não pude observar nem fotografar.)

Há sempre uma "lenda" por detrás destes locais de culto cristão, em geral mariano. No caso da Senhora dos Remédios, tudo remonta à ocupação da península ibérica pelos "inféis" (sic), vindos do Norte África, a partir de 711...

Segundo a lenda, os cristãos da região da Atouguia, atemorizados, teriam escondido uma imagem de Nossa Senhora, numa pequena gruta ou caverna junto ao mar, a norte do Cabo Carvoeiro, com as Berlengas ao fundo... "Milagrosamente", a imagem é encontrada no séc. XII, por um foragido...que calhou entrar na gruta... Nessa altura, Peniche era um ilha e a Atouguia da Baleia... um dos portos mais importantes do novo reino. (A "descoberta" da imagem da Virgem seria mais ou menos contemporânea da da Senhora da Nazaré, por volta de 1179, ou seja, 3 dezenas de anos depois da "reconquista" da região que é hoje o oeste estremenho. Diz a tradição a capela-mor terá sido construida na tal gruta onde terá "aparecido" a pequena imagem da Virgém com o Menino Jesus nos braços...e foi a partir deste local que se desenvolveu o santuário,)

O culto da Sra dos Remédios estará, pois, associado à "Reconquista Cristã"... Com o tempo tornou-se importante, à escala regional. E mantém-se até aos nossos dias, cm peregrinações anuais, os "círios", que vêm das redondezas (, desde Mafra à Nazaré, de Torres Vedras a Alcobaça, da Lourinhã a Óbidos), mas também até, imaginem!, da vizinha Espanha (Valladolid)...

 2. A capela, que chegou aos nossos dias,  é  de pequenas dimensões, e de estilo maneirista e barroco, e tem planta retangular, sendo  composta por: (i) capela-mor (onde se venera a imagem da Virgem com o Menino Jesus nos braços) e nave, abobadadas; (ii) com espaço de culto prolongado por um grande alpendre (que  estabelece a comunicação com a zona exterior e sala de oferendas );  e (iii) adro e pátio envolventes. (O extenso pátio ou terreiro fronteiriço é orlada das casas destinadas ao ermitão, aos mordomos e aos romeiros, incluindo as indispensáveis cocheiras ou  cavalariças; hoje é local de feira, em dias de romaria).

No adro, que é vedado, ergue-se, do lado poente, a fachada do santuário e a torre sineira,

A  criação do atual  santuário remonta ao séc. XVII (, embora a sua origem seja mais antiga). As paredes da nave são totalmente revestidas por azulejos azuis e brancos, setecentistas, que representam episódios da vida da Virgem, sobre um rodapé com cartelas de emblemas marianos. Esta exuberância de painéis cerâmicos significava que, na altura, o santuário era rico ou tinha benfeitores ricos.

Do lado do Evangelho, os painéis de azulejos representam cenas do Nascimento da Virgem (Foto nº 1), da Apresentação do Templo  (Foto nº 2) e o Casamento. 

Da parte da Epístola, a Anunciação foi interrompida pelo púlpito, sendo, por isso mesmo, posterior aos azulejos, e seguindo-se  a "Adoração dos Pastores"  (Foto nº 5). 
 
A cobertura da nave é também revestida a azulejos. A Assunção da Virgem é o tema principal,envolto pela figuração das virtudes. 

Lê-se no sítio Património Cultural:

(...) Assinados, na nave, por António de Oliveira Bernardes, estes azulejos constituem um importante testemunho da fortuna que este género de decoração alcançou no nosso país, e em particular em Peniche, onde pela mesma época (década de 1720), encontramos mais duas igrejas totalmente revestidas por painéis cerâmicos - Nossa Senhora da Ajuda e Nossa Senhor da Conceição. Uma diferença, no entanto, isola a ermida dos Remédios neste contexto, e que é a ausência de talha dourada, aqui substituída por talha a imitar mármore, no retábulo-mor, denotando um certo afastamento dos modelos nacionais e reflectindo um gosto mais erudito e "joanino". (Rosário Carvalho) (..:)

Horário de culto e visitas: todos os dias, exceto à sexta-feira, das 10h00 às 17h30. O santuário pertence à freguesia da Ajuda, Peniche. Pároco: padre Diogo Correia.

Fico com vontade de, um dia destes, visitar as duas referidas igrejas, Nossa Senhora da Ajuda e Nossa Senhor da Conceição. Confesso que sou fã da nossa azulejaria, uma arte única que nos veio dos árabes, e tem 500 anos de produção. "O azulejo português é uma das marcas que representa a cultura de Portugal", diz o National Geographic. E devemos ter orgulho nisso!