Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Espectacular vista aérea do aquartelamento, tirada no sentido leste-oeste, ou seja, do lado da grande bolanha de Bambadinca (vd. mapa da região)
Reconstituição feita, de memória, por Humberto Reis, Luís Graça e Gabriel Gonçalves (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)... Está disponível, noutro poste, o resto das legendas (1)...
O Beja Santos estava instalado em 6 (quartos dos oficiais) e a escola primária de Bambadinca e casa da senhora professora, Dona Violete, era em 19. O aquartelamento de Bambadinca(e posto administrativo do concelho de Bafatá) situava-se numa pequena elevação de terreno, sobranceira a uma extensa bolanha (a leste). Para a esuerda da escola, e já já ñão vísíveis na foto, ficavam o edifício dos correios, a casa do administrador de posto (que era um caboverdiano, na altura), e outras instalações que chegaram a ser utilizadas por camaradas nossos que trouxeram as esposas para Bambadinca (foi o caso, por exemplo, do Alf Mil Carlão, nosso camarada da CCAÇ 12).
Guiné-Bissau > Zona Leste > Bambadinca > 1997 : "O que resta da antiga escola... A professora portuguesa do nosso tempo chamava-se Dona Violeta (eu já não me lembrava do nome, o meu amigo Zeca é que mo indicou)".
Foto e legenda: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados.
Guiné-Bissau > Zona Leste > Bambadinca> CCS do BCAÇ 2852 (1968/70) > Novembro de 1969 > O Beja Santos, tranferido para Bambadinca, com o seu Pel Caç Nat 52, em meados de Novembro de 1969, em frente às suas novas instalações,as dos oficiais... "Os primeiros tempos, Novembro de 1969... A adaptação não foi fácil, havia barulho em demasia, para quem vinha do fim do mundo,nos ermos do Cuor. Depois, a natureza da intervenção, fazendo de tudo um pouco, sem se verem resultados práticos. Mas vinha tonificado, depois de meses com idas diárias a Mato de Cão,sabia-me bem ter deixado um aquartelamento reconstruído,vinham comigo alguns dos melhores soldados da Guiné. A seguir deprimi, com patrulhamentos à volta da pista de aviação"...
Fotos: © Humberto Reis (2007). Direitos reservados.
Texto enviado pelo nosso camarada Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), em 13 de Novemrbo de 2007´:
Luis, aqui vai novo episódio. Penso que podias usar a ilustração da escola. Reenvio-te uma fotografia minha, dessa época. Quinta feira reencontro o Pires que me telefonou dizendo-me que tem recordações desse tempo. Eu estava a adoecer e não sabia, agora é que dou conta do frenesim da nossa vida em Bambadinca, as operações com guias que desconheciam o terreno, a brutalidade dos nossos horários. Os livros seguem pelo correio. Um abraço do Mário.
Operação Macaréu à Vista > Episódio XV > A PRIMEIRA DAMA DE BAMBADINCA (2)
Beja Santos
(i) Uma dificílima carta de amor, entre o pretérito, o presente e o futuro
São 10h da manhã de um dia desse Novembro que caminha para o fim. Emboscámos na estrada para o Xime, sempre com a obrigação de andar às voltas perto do campo de aviação. Regressámos pelas 3h da madrugada, agora é necessário levar mantimentos à nossa secção que está em Sinchã Mamajai, iremos depois a Afiá levar doentes que vieram à consulta, mais alguns sacos de arroz, seguir depois com o correio para Bafatá, regressar e patrulhar nos Nhabijões, jantar e emboscar de novo. Tenho uma hora antes de partir para este dia de trabalho que começa com Sinchã Mamajai, escrevo à Cristina:
“Estou na mesma messe de oficiais de onde parti em 3 de Agosto do ano passado na companhia do Saiegh, Mamadu Camará, Adulai Djaló e Sadjo Baldé. O ambiente é o mesmo dessa época, tendo partindo todos os oficiais com a excepção do Machado, do pelotão Daimler.
Presentemente, as noites são suaves, joga-se bridge, xadrez e damas, uns chegam e outros partem, mas está tudo fechado quando regresso de madrugada. Os meus soldados africanos vivem na tabanca, alugaram quartos, compraram camas e colchões nas lojas do Rendeiro, do Zé Maria, do Amiro e dos irmãos Brandão, fui fiador de todos eles, não podes imaginar o que é o dia dos pagamentos com a lista de descontos, incluindo os empréstimos e as dividas entre eles.
Felizmente, para a segurança de todos que as caixas de munições, as bazucas e os morteiros estão no paiol do quartel. A tropa europeia fica em casernas, aqui perto de mim, por detrás da capela e da escola.
Este ritmo de trabalho tem o condão de me destruir o sono repousante, venho de madrugada, demoro imenso a conciliar o sono, estou sempre a pensar no disparate destes passeios na noite cerrada, à volta de uma pista de aviação iluminada, dois atiradores de qualidade dizimavam-nos em minutos. Depois, há o barulho das portas a abrir e a fechar, as casquinadas, o palavrão. Li o 'Requiem de Terizin', de Josef Bor, um testemunho pungente, um verdadeiro tratado de dignidade humana em que os judeus executam no campo de concentração o Requiem de Verdi para os seus carrascos, sempre que um dos músicos era gazeado, outro substituía-o.
Estou a pôr em ordem o meu caderninho sobre todos os acontecimentos do Cuor, espero um dia descrever o que ali vi e vivi. O capitão Neves, que aqui comandou a CCS, e depois foi punido, comanda agora o aquartelamento de Mansambo. Tive muita alegria em revê-lo, ele ajudou-me imenso com materiais que desviou para Missirá e Finete. Tenho notícias do Pina, ficou com o dedo inteiro, embora torto. Continuo sem saber se tenho direito a ir de férias, no princípio do ano.
Logo que haja notícias consistentes, escrevo-te. Peço-te o favor de ires visitar o Alcino no serviços de ortopedia, no Hospital Militar Principal. Tal como o Casanova, recusa-se a falar, está muito engessado devido às fracturas da bacia e do fémur. Este mês tenho que poupar dinheiro, vim de Missirá com a roupa toda destruída pela Binta, trouxe meias desirmanadas, camisas puídas, a nova lavadeira trouxe-me a roupa podre, exigindo renovação, enfim, mais despesas.
Não sei se não te ando a cansar com o meu dia-a-dia. Por exemplo, amanhã tenho que ir Amedalai, uma tabanca com um destacamento de milícias a caminho do Xime porque uma grua de 16 toneladas guinou para dentro da bolanha, toda a equipa de desempanadores vai para lá, e tenho que montar segurança. Ser oficial de dia é fazer o mesmo que fazia nos Açores: rondas, assistir às refeições e às formaturas, tomar nota das ocorrências, etc.
Sei que o Carlos Sampaio está aí de férias, ele certamente vai procurar-te. A última carta que recebi dele era de uma infinita tristeza. Interrompo aqui, Ussumane veio avisar-me que a coluna está pronta para partirmos. Prometo escrever em breve. Peço-te que me dês as tuas mãos, que estejas bem a meu lado, mesmo quando te trago sombras e egoísmo. Agora vou deixar este aerograma na secretaria, ele segue esta tarde para Bafatá, dentro de dois, três dias está na tua caixa de correio. Volto em breve e deixo-te esta promessa: temos uma vida inteira para construir.”
(oo) Uma conversa insólita com Jovelino Corte Real
Era inteiramente impossível passar-me pela cabeça que o comandante, homem de fala sóbria, incapaz de uma pitada de humor, me estivesse a preparar uma praxe de arromba. Quando Bala, o seu ordenança, me viu chegar de Amedalai e comunicou que o comandante me queria falar com urgência, suspeitei que houvera uma qualquer desgraça que exigisse a nossa intervenção imediata, talvez em Finete ou mesmo Missirá, ou, quem sabe, nas tabancas a caminho de Mansambo. Apresentei-me no gabinete, Jovelino Corte Real levantou os olhos dos papéis e mandou-me sentar. Eu não acreditava no que estava a ouvir. Um de nós estava a enlouquecer ou fora do tempo.
– Mandei-o chamar porque é um assunto que precisa hoje de ficar esclarecido. Temos que cuidar das relações protocolares no sector de Bambadinca, captar a confiança dos civis com mais prestígio. Reuno habitualmente com o administrador, com o chefe de posto, com os cantineiros, com certos agentes da segurança. O quartel tem que dar apoio a quem nos faz bem e é por isso que tenho procurado manter uma relação amistosa com a professora, a D. Violete, pondo-lhe um oficial às ordens. O Machado tem exercido essa missão, tem sido quase um estribeiro-mor, acontece que ele vai partir dentro de um mês, V. é o oficial em quem eu deposito mais confiança. É culto, tem boas maneiras, até fala de coisas que as senhoras gostam, como gastronomia e decoração. Vou nomeá-lo oficial às ordens da D. Violete.
– Meu comandante, sei o que é um estribeiro-mor, o Machado nunca me falou que era o oficial às ordens de D. Violete, para o caso não tem importância, eu não percebo é porque é que a D. Violete precisa de ter um acompanhante militar, ainda por cima com a vida que eu levo, que companhia é que quer que eu dê à senhora?
– Homem, é um encargo honorífico. A senhora quer ir a Bafatá, V. acompanha-a. A senhora vive com a mãe, é solteira, quer dar um jantar, V. faz-lhe companhia. A senhora quer ir dar um passeio ao Geba, temos para aí o Sintex, vai com ela, usando de todas as cautelas. A senhora tem primos no Xitole, pois ela vai numa viatura e V. defende-a se houver uma emboscada. D. Violete é uma senhora gentil, tem muito bons modos, ajuda-nos no ensino dos nossos soldados básicos, não se esqueça ela é professora de todas as crianças de Bambadinca, muitas delas até são filhos dos seus soldados.
– Meu comandante, desculpe mas estou confuso. Ainda ontem reunimos com os majores Cunha Ribeiro e Sampaio, vou em breve para a ponte de Unduduma, até lá tenho a escala completa para duas secções e tenho uma secção sempre em Sinchã Mamajai. Ora, não me parece correcto andar a explicar a minha vida à D. Violete, contraria o segredo militar, até parece que eu estou a fugir à companhia que o comando pretende que eu dê à senhora!
– Olhe, deixe-se de dramatismos. A senhora tem direito a andar acompanhada por um cavalheiro. E V. vai manter-se respeitador, amanhã aparece lá ao fim da tarde com um ramo de flores, vai com a farda n.º 2 de calça comprida, nada de andar a mostrar a perna, não quero insinuações de falta de respeito.
– Peço-lhe desculpa, mas há aqui um equívoco. Estamos a falar da mesma senhora que me ajudou a arranjar os professores para Missirá e Finete, com idade para ser minha mãe? Acha que eu lhe ia faltar ao respeito?
– A carne é fraca, nosso alferes. Se tem dúvidas sobre o que fazer e como se comportar, vá falar com o Machado. Agora deixe-me em paz, tenho papéis para assinar, daqui a um bocado vamos todos jantar.
Claro que saí dali e fui falar com o Machado que me surpreendeu com o seu laconismo, sim, acompanhava a senhora, de vez em quando ia lá a casa, etc., é muito delicada, com ela nunca se fala de guerra, lê livros românticos e toca piano. Amaldiçoei a minha sorte, começava a minha vida em Bambadinca a tarefar, só me faltava levar a D. Violete às compras!
O que interessa é que no dia seguinte pedi ao Domingos para informar D. Violete se podia visitá-la depois das aulas, para apresentar cumprimentos. O Domingos aproveitou logo para me perguntar se quando a tropa acabasse eu dava um jeito para ele ser professor em Finete. Disse-lhe que sim.
As minhas insónias continuam e aproveito para ler a História da Guiné, de João Barreto. De novo vem à baila a guerra do Oio, em 1897, em que saiu uma expedição terrestre de três mil homens, que contou com a colaboração de Infali Soncó. Quando as tropas foram atacadas pelos rebeldes, a gente de Infali Soncó coligou-se abertamente com os rebeldes e um lugar-tenente de Infali assassinou Quecuta Mané. Foi uma retirada penosa e humilhante para os portugueses e seus aliados. Quando cheguei à campanha de 1902, conduzida pelo governador Júdice Biker, contra os oincas, em que Infali se conluiou com os soninqués, adormeci profundamente.
(iii) D. Violete, está aqui o seu oficial às ordens!
À hora aprazada, saí do meu quarto e avancei para casa de D. Violete, ao lado da escola. Levava um ramo de flores que Tunca Sanhá, que fora jardineiro em Bafatá, me arranjara no mercado de Bambadinca. Noto, contudo, um movimento desusado no passeio junto dos gabinetes do comando, vários oficiais conversam amenamente e desejam-me boa sorte.
Bato à porta, quem abre é D. Violete da Silva Aires, cabo-verdiana de pele clara, um pouco amarelecida, pôs pó de arroz e carmim, o seu cabelo oxigenado está repuxado para trás, num quase carrapito, sorri e manda-me entrar numa casa de estilo português, numa sala onde está um piano velho, há cadeiras confortáveis, muitas fotografias, sinais de alguma abastança no passado. Abre-se um mosquiteiro numa ligação de outra divisão com a sala e surge D. Ema, a mãe, um senhora de idade indefinida. De pé, com a conversa estudada, vejo a anfitriã a arremelgar os olhos enquanto me apresento.
– Senhora professora, apresento-lhe cumprimentos do senhor comandante, que lhe envia estas flores. O alferes Machado vai partir em breve, a partir de agora sempre que precisar da minha companhia, faça o favor de dispor. Como deve imaginar, terei o maior gosto de lhe dar essa companhia, o batalhão agradece-lhe imenso o serviço que nos presta e às populações da região, a partir de agora, passo a ser o seu oficial às ordens.
– Estou encantada. No passado, tive bons amigos ali no quartel. É verdade que o alferes Machado veio aqui uma vez com uns bolos e até lhe pedi boleia para ir a Bafatá, mas nunca pensei que ia ter esta companhia. O alferes Almeida levava-me de bicicleta até Samba Juli, eu ia no quadro, as minhas costas apoiavam-se no braço dele. Ele era alto como o senhor alferes, um verdadeiro homem, uma senhora gosta sempre de ser bem tratada. Posso portanto pedir-lhe ajuda no futuro? E em que é que eu lhe posso ser útil?
– D. Violete, a senhora podia ajudar-me a conhecer a história desta região. Gostava muito de conhecer o passado do Cuor, de Badora, de Bambadinca, como era a população antes da luta armada, o comércio, os usos e costumes...
– Com muito gosto. Mãe, por favor, traga chá, vamos beber com o senhor alferes. Nós as duas somos desenraizadas. Antes da guerra, vivíamos em Fá. Não se esqueça que eu sou a filha do administrador Aires. Por dever de ofício, desloquei-me frequentemente a Sansão, a Canturé (Missirá não tinha importância nenhuma na altura e Finete tinha população flutuante, que vinha para a cultura do arroz), subia até Madina, pela estrada de Geba ia até Bucol. São essas as recordações que me interessam? Sente-se mais pertinho de mim, deixe-me ver a cor dos seus olhos.
Fomos bebendo chá, falámos dos alunos da D. Violete e, inevitavelmente, de livros. D. Violete desabafou:
-Vivo numa terra de brutos. Aqui ninguém lê Stendhal, Camilo ou Eça de Queirós. Os brancos são, de um modo geral, uns analfabetos. Não pode imaginar a solidão em que vivo.
O seu olhar era súplice, D. Violete ia-se aproximando de mim. É nesse preciso instante, sabendo agora que o Machado era tão oficial às ordens como eu régulo do Cuor que pressenti que tinha caído numa armadilha. As horas escoavam-se naquela penumbra suave, do lado das casernas fervilhava a barulheira da hora do rancho. Olhei o relógio, pretextei que era muito tarde, garanti que voltava ou quando as senhoras precisassem bastava que informassem Bala, o ordenança do comandante. E despedi-me:
-Minhas senhoras, senti-me muito bem na vossa companhia. Eu vou voltar, mais não seja para conversarmos e eu tirar notas sobre esta terra de que gosto tanto.
Este foi o primeiro encontro com D. Violete e D. Ema. Quando chego à messe, sinto no olhar de todos a zomba e a mofa mal contidas. Então vinguei-me, falando directamente ao comandante, bem alto para que todos ouvissem:
-A professora ficou encantada com a amabilidade do meu comandante, agradece ter um oficial às ordens e aceitou vir cá jantar em breve, mas antes vai convidar para sua casa o comando, ela tem muito apreço por pessoas da sua idade.
Sentei-me, não sem antes ter sentido no ar atónito de Jovelino Corte Real que o feitiço se virara contra o feiticeiro. Mas quem acabou por jantar em casa de D. Violete fui eu.
Capa do romance policial de Rex Stout, A Caixa Vermelha. Lisboa: Livros do Brasil. s/d (Colecção Vampiro, 55): Capa de Cândido Costa Pinto.
(iv) A inesquecível Virgínia Woolf
Esta semana reli A Caixa Vermelha, de Rex Stout. Nero Wolfe, o paquidérmico detective novaiorquino que nunca sai de casa e passa horas junto das suas orquídeas, recebe um cliente que lhe pede insistentemente para ir a uma casa de moda onde uma manequim morreu envenenada após ter comido um bombom. Para surpresa de Archie Goodwin, o seu secretário, Wolfe saiu de casa, foi ao local do crime, falou com o proprietário e outras manequins, nada descobriu mas todos começam a bater-lhe à porta, inclusive o inspector Cramer, que está às aranhas. A trama desenvolve-se, descobrem-se relações de parentesco entre o proprietário da loja de moda e outra manequim, esta tem dois apaixonados, um deles vai ser assassinado como o próprio proprietário. É aqui que se revela a inteligência fulgurante do mais pesado de todos os detectives, a caixa vermelha acabará por fazer justiça, lá dentro Nero Wolfe pôs uma ampola de cianeto de potássio e a maldosa do romance expia os seus crimes. Como quase sempre, a capa de Cândido da Costa Pinto é uma maravilha.
Capa do livro de Virgínia Woolf, Mrs. Dalloway. Lisboa: Livros do Brasil. s/d. (Colecção Miniatura, 38). Capa de Bernardo Marques.
A grande surpresa, no entanto, foi Mrs. Dalloway, de Virgínia Woolf. É um dia na vida de Clarisse Dalloway, uma senhora de meia idade que vai dar uma festa e que sai de casa com uma grande alegria de viver, num grande frémito. Vemos passar as horas, Clarisse percorre o centro de Londres, é assaltada por memórias, todo o seu passado é reavivado ao som de cheiros cores, sons. O seu casamento com Richard não é dos mais felizes e quando regressa a casa é surpreendida pelo aparecimento de Peter, uma velha paixão.
É um romance assombroso, cadenciado pelas badaladas do Big Ben, as horas passam chega-se à festa chegam as visitas, Mrs. Dalloway exulta com as suas memórias, por, na sua solidão, ainda tocar nos corações, ainda despertar a paixão. O romance começa por uma frase que ficou célebre: “Mrs. Dalloway disse que ela própria iria comprar as flores”. No final, é Peter quem fala: “Mas que terror é este? - pensou consigo. Que êxtase me assalta? Que é que me enche de tão extraordinária excitação? É Clarisse, descobriu. Pois ela estava ali.” E a capa de Bernardo Marques é um espanto de grafismo.
Vem aí o mês de Dezembro, iremos patrulhar tabancas e sueste de Bambadinca, patrulhar entre Mero e Santa Helena, até frente de Aldeia de Cuor, continua o jogo do gato e do rato, gente de Madina camba o Geba vem obter informações e abastece-se sempre que pode, nas nossas barbas. E depois iremos participar nas operações Lua Nova e Punhal Resistente. Nada que tenha passado à história, desgastou e fez perder a paciência.
______________
Notas de L.G.:
(1) Vd. poste de 27 de Abril de 2007 >Guiné 63/74 - P1704: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (43): Em louvor de Bambadinca, a nossa tabanca grande
(2) Vd.poste anterior, 4 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2407: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (14): O falso descanso em Bambadinca
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
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