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quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24850: Efemérides (410): Há 56 anos: onze mortos (além de dezenas de feridos), da CART 1661, na estrada Porto Gole-Bissá, em duas minas A/C (uma incendiária), em 5 e 6 de outubro de 1967... Ainda hoje recordo os soldados queimados, alguns com o terço ao pescoço, rezando para os salvarmos! (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, Enxalé, Missirá, Porto Gole e Ilha das Galinhas, 1966/68)


Guiné> Região do Oio > Porto Gole > CART 1661 > O estado em que ficou umas das viaturas que acionou uma mina A/C, em 5 ou 6 de outubro de 1967, na estrada Porto Gole-Bissá

Foto (e legenda): © José Manuel Viegas (2023). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de José António Viegas, ex-fur mil do Pel Caç Nat 54 (Enxalé, Missirá, Porto Gole e Ilha das Galinhas, 1966/68), um dos animadores da Tabanca do Algarve:

Data: quinta, 5/10/2023 à(s) 10:47

Assunto: 56 anos passados

Faz hoje 56 anos do pior dia para a Cart 1661 e Pel Caç Nat 54, uma segunda mina na estrada Portogole - Bissá, com vários mortos, a maioria queimados. (*)

Ainda hoje recordo os soldados queimados, alguns com o terço ao pescoço rezando para os salvar. Dia difícil. Paz às suas almas. José Viegas.

2. Excerto do poste P20283, do nosso coeditor Jorge Araújo (**):

(...) A morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Arménio Moutinho da Costa, natural de Gondim, Maia, em 7 de Outubro de 1967, sábado, no Hospital Militar 241, em Bissau, ocorreu um dia depois da viatura que conduzia ter accionado uma mina anticarro, incendiária, na estrada entre Porto Gole e Bissá.

Pertencia à CART 1661 (02Fev67-19Nov68) que, no espaço de três semanas, ficara sem dois condutores auto rodas, o primeiro - o soldado Manuel Pinto de Castro, em 16Set67 - caso abordado no poste anterior [P20217, ponto 3.8], e três viaturas, para além de outras baixas, entre feridos e mortos.

Para a descrição deste doloroso acontecimento, recorremos, de novo, à análise de conteúdo do livro (...) do camarada Abel de Jesus Carreira Rei «Entre o Paraíso e o Inferno: De Fá a Bissá: Memórias da Guiné, 1967/1968», edição de autor. Lousa. 2002 (...).

Refere que Setembro e Outubro de 1967 vão ser dois meses negros para a CART 1661, onde o primeiro morto da companhia ocorre ao oitavo mês de comissão, em 16Set67, por efeito da explosão de uma mina anticarro, no cruzamento da estrada para Mansoa, quando uma coluna auto, saída de Porto Gole, ia ao encontro de forças de Bissá com o objectivo de lhes fazer a entrega de géneros alimentícios.

Depois, a 5 de Outubro de 1967, 5.ª feira, uma outra viatura, na estrada Porto Gole - Bissá, faz accionar outra mina anticarro, originando mais uma baixa mortal e duas dezenas de feridos.

No dia seguinte, ou seja em 06Out67, 6.ª feira, uma nova mina anticarro, esta incendiária, é accionada perto do local da mina anterior, provocando alguns mortos e feridos, entre eles o soldado Arménio Moutinho da Costa que foi evacuado para o HM 241, juntamente com os seus camaradas com ferimentos graves, em particular queimaduras provocadas pela explosão.

Dos evacuados, seis acabariam por falecer em Bissau nos dias seguintes, enquanto dois pereceram no Hospital Militar Principal, em Lisboa, a 14 e 23 do mesmo mês.

Para que conste na historiografia desta ocorrência, elaborámos um quadro detalhado dos onze mortos provocados pelas duas minas anticarro, accionadas a 5 e 6 de Outubro de 1967, no cruzamento de Mansoa, no itinerário entre Porto Gole e Bissá, de que foram vítimas os seguintes militares da CART 1661. (...
)

____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24812: Efemérides (409): 1 de novembro, dia de lembrar e homenagear os nossos queridos mortos

(**) Vd. poste de 28 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20283: Jorge Araújo: ensaio sobre as mortes de militares do Exército no CTIG (1963/74), Condutores Auto-Rodas, devidas a combate, acidente ou doença - Parte IV

Vd. também poste de 14 de agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4820: Notas de leitura (15): As memórias do inferno de Abel Rei (Parte II) (Luís Graça)


 (...) A 5 de Outubro (de 1967), uma viatura saída de Porto Gole em direcção a Bissá fazaccionar outra mina A/C. Balanço: 1 morto e 26 feridos. 

A 6, uma nova mina (desta vez incendiária!) com emboscada (por um grupo calculado em 80 elementos), junto ao local do rebentamento da mina anterior, faz 10 mortos e mais de duas dezenas de feridos, “com queimaduras, todos evacuados para a Metrópole”…

Diz-nos o Abel, em nota de rodapé, que “para estas evacuações, foi preciso um avião especial de emergência que, ao chegar a Lisboa, fez correr a notícia de que Bissau tinha sido bombardeada, simultaneamente ‘boatado’ pelo inimigo)” (p. 114).

Nesse dia, Abel estava em Bissá, fazendo contas à vida de ‘cabo vagomestre’, sem comer para dar ao pessoal… mas no dia 8/10/67 fez o balanço desta “série negra” que fez de Bissá “o pior aquartelamento” (p. 166) da Guiné, nessa época.

“Tanto na mina como na emboscada, foi precisa imediata colaboração da aviação, que desta vez chegou de pronto, vindo dois bombardeiros que ajudaram os helicópteros a localizar o acidente” (8/10/67, Bissá, p. 115). (...)

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23990: Fotos à procura de uma legenda (168): "Cabeças grandes" ou... uma questão de pudor feminino ? (Padre José Torres Neves / Cherno Baldé / Luís Graça)



Foto nº 5 > Guiné > Região do Oio > Sector de Mansoa > Bissá > c. 1970 > Há festa na aldeia ... e "cabeças grandes" (em consequência do excesso de "vinho de palma")... Foto do álbum do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71).

Foto (e legenda): © José Torres Neves (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Vamos passar a valorizar mais os comentários dos nossos leitores. O ano passado tivemos uma média de 3,9 comentários por poste (*). Atingimos um total de 4180 comentários (limpos de mensagens Spam), num total de 1068 postes. O que é muito bom. 

Mas também lembrámos que este valor médio não nos deve deixar enganar; "há postes sem um único comentário, a maior parte tem um, dois ou três... Às vezes podem ter meia dúzia, ou até 10... Outros podem ter, excecionalmente, algumas dezenas: 20, 30, ou até mais... Tudo depende do tema, do conteúdo, do interesse, do autor, da ilustração fotográfica, etc."Na realidade, aparecem ao longo da semana "postes mais 'polémicos' ou mais 'interessantes' ou até mais 'apaixonantes' do que outros. Tudo depende do assunto e da sua abordagem. Ou até do autor",,, Enfim, os postes, com pontos de vista menos 'consensuais' ou mais 'fracturantes' , podem originar mais comentários, às vezes 'marginais' (há uma tendência para a malta ver mais a árvore do que a floresta).

Por fim, há que não esquecer esta realidade: "ler e escrever comentar dá muito trabalho"... Mais no blogue do que no facebook onde o comentário, se bem que também "instantâneo", não fica visível na "montra grande"... Por outro lado, sofremos, nestes últimos anos, de uma "dupla fadiga": uma "bloguística" (vamos fazer 19 anos), e outra "pandémica"...

Dito isto, temos que passar a "premiar" mais quem nos lê e comenta... Um deles é o nosso Cherno Baldé, nosso colaborador permanente, a viver em Bissau, um "jovem" de sessenta e poucos anos, que elegemos como nosso assessor para as questões etno-linguísticas... Mas ele é mais do que isso: é a nossa "Guinipédia"...


(i) Tabanca Grande Luís Graça (**)


A foto nº 5 (poste P23488) (**) é "ambígua": Há festa na aldeia ... e "cabeças grandes" (em consequência do excesso de "vinho de palma")...

A legenda original, do nosso capelão José Torres Neves, era/é mais lacónica: "cabeças grandes", no plural... E o leitor pode perguntar: "cabeças grandes" deles, os rapazes, talvez milícias ou militares (um deles, pelo menos, enverga uma camisa camuflada do exército...), ou deles e dela ?

Não sei se as bajudas balantas também bebiam/bebem vinho de palma... Eram, em matéria de costumes, aparentemente mais "livres" do que as fulas, muçulmanas... ou pelo menos viviam em comunidades mais igualitárias, segundo o Amílcar Cabral que adorava os balantas, comunitaristas, e detestava os fulas, semifeudais...

Trocado por miúdos, a mulher balanta, "de jure et de facto", teria "mais direitos, liberdades e garantias" do que a mulher fula, no nosso tempo... (Segundo os usos e costumes jurídicos de cada etnia.).

Mas o nosso assessor, amigo e irmãozinho Cherno Baldé (que parece estar de férias...) logo dirá o que bem lhe aprouver... sobre este assunto sempre algo melindroso (quando mete as "filhas de Eva" e os "filhos do Adão")...

3 de agosto de 2022 às 19:40



(ii) Cherno Baldé (**)


Em África não existiam sociedades igualitárias, este conceito só pode ter surgido na cabeça de pessoas como o Amílcar Cabral que não conheciam bem a África profunda, porque em todos os casos a mulher sempre se encontrava em baixo na escala das hierarquias sociais e políticas, à semelhança do que acontecia pelo mundo fora até meados do século XX, incluindo nos países do Ocidente.

Direitos, liberdades e garantias, o tema é vasto e impossivel de apreciar cabalmente num simples comentário, abarcando a tradição, a religião e as influências internas/externas sobre as práticas culturais de diferentes grupos étnicos ao longo de um percurso histórico recente ou antigo.

Depois precisariamos fazer uma análise por faixas etárias, pois o usufruto de direitos, liberdades e garantias em África no sentido tradicional não é a mesma dependendo da idade dos grupos et+arios em presença e da mulher em particular.

Assim, na minha opinião, o comportamento das Bajudas (meninas) e das noivas (mulheres da idade de procriar) entre os Balantas parece ser, relativamente, mais livre nas suas atitudes e escolhas sexuais, mas a partir de uma certa idade (maiores de 49/50 anos) já os estatutos sociais em termos de direitos, liberdades e garantias são identicas, no geral, pois é nesta fase que começa a decadência masculina e a ascenção, de facto, do poder feminino tanto a nivel do agregado como da comunidade, mas sempre mantendo as devidas aparências do respeito pelo marido, pelo mais velho, pelas regras da tradição vs religião e diversos tabus que servem de base ao funcionamento da comunidade.

Resumindo, podemos dizer que, de forma geral, a mulher africana era muita controlada e limitada em termos de direitos sociais, designadamente da herança, dos direitos patrimoniais, nomeadamente a posse de terram assim como as garantias de seu usufruto fora do quadro familiar.

Embora tudo isso fosse mais do dominio teórico do que real, porque, actuando na sombra dos homens, as mulheres sempre conseguiram atingir os seus objectivos à revelia dos tabus discriminat+orios, das tradições patriarcais, dos dogmas religiosos e dos critérios socialmente estabelecidos para privilegiar o homem em detrimento da mulher, isto porque, a mulher africana sempre soube ser inteligente, perseverante e o pilar principal na construção e sobrevivência do agregado familiar e das comunidades rurais africanas sem, todavia, procurar humilhar ou ferir o orgulho masculino, conscientes de que sem os homens também não pode existir uma sociedade socialmente harmoniosa e equilibrada. O contrário de tudo o que o Ocidente está a promover hoje em dia nos países africanos e no mundo. A minha humilde opinião.

Tudo o resto tem a ver com teorias e conspirações mal justificadas.

4 de agosto de 2022 às 19:03


(iii) Luís Graça, em tempo: 

Cherno,  o autor da foto (um então jovem padre cristão, na altura com 34 anos, dez, onze ou doze anos mais velho do que a generalidade dos militares metropolitanos ali presentes em Bissá) legendou-a com uma frase lacónica: "cabeças grandes"... (***)

Mas no caso da bajuda, ela pode estar apenas a manifestar uma atitude de respeito e de pudor... Nem todos os balantas gosta(va)m de ser fotografados pelos "tugas"... E para mais este  fotógrafo era padre, capelão da tropa... Os rapazes (um deles parece ser militar) tentam, muito simplesmente, convencê-la a mostrar o rosto... 

Enfim, mais uma possível "leitura"... Mas, é verdade, o ambiente na aldeia, Bissá,  é de festa e terá havido quem tenha, nesse dia, bebido um pouco de vinho de palma a mais... Até nas "barracas" do PAIGC o vinho de palma não podia faltar... Tal como não podia faltar nos quartéis da tropa... Afinal, "mas ainda melhor que as mulheres, é o vinho que faz esquecer as mulheres" (terá dito o Luís Pacheco, o nosso escritor maldito; claro que o fígado e elas não lhe perdoaram.)

(***) Último poste da série > 30 d dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23929: Fotos à procura de uma legenda (167): "Apanhado" na Guiné, "apanhado" no PREC, "apanhado" por viver 287 km dentro (!) do Círculo Polar Ártico!... (J. Belo, Suécia)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23838: Antropologia (44): Armazenamento tradicional de produtos agrícolas: o "flu", o celeiro balanta (excertos de: Oliveira, Havik e Schiefer, 1996, com a devida vénia)


 Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Destacamento de Bissá > c. 1970 > Celeiros para a bianda... O capelão, alferes graduado José Neves é o primeiro, de perfil, à direita... Encostado a um dos potes de barro (onde se guardava o arroz), está o alferes mil, comandante do destacamento, cujo nome ignoramos (deveria pertener à CCAÇ 2587 ou à CART 2411, dependendo da data em que a foto foi tirada, antes ou depois de 5/3/1970, altura em que a CCAÇ 2587 rendeu a CART 2411).


Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Destacamento de Bissá > c. 1970 > Celeiro para a bianda... Em balanta, chama-se "flu"...


Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Tipos de celeiros balantas. Cortesia de Oliveira, Havik e Schiefer (1996). Com a devida vénia


1. Excertos de  Oliveira, Olavo Borges de; Havik, Philip J.;  e Schiefer, Ulrich (1996) - Armazenamento tradicional na Guiné-Bissau. Produtos, sementes e celeiros utilizados pelas etnias na Guiné-Bissau: Fascículo 1, Beafada; Fascículo 2, Mandinga; Fascículo 3, Nalú; Fascículo 4, Balante; Fascículo 5, Fula deQuebo; Bissau, Lisboa, Münster, IFS 506p. ISSN 0939284X, pp. 415/417. (Disponível em http://hdl.handle.net/10071/1525 )


"Ful", o celeiro balanta

Nome Nativo

Ful

Nome crioulo

Bemba

Formato

Cilíndrico

Serventia

Reservatário de cereais

Capacidade

Variável

Tempo de construção

Uma semana

Época de construção

Véspera das colheitas


O TIPO DE CELEIRO

O “ful” ou "bemba" é um celeiro de formato cilíndrico, assemelhandose a um pote, cujo tamanho pode variar, conforme as necessidades de armazenamento. Os de maior tamanho podem atingir até dois metros de altura.

Este tipo de celeiro pode ter funções distintas, entre elas, armazenamento de produtos de consumo familiar (arroz, fundo, milho-preto,milho-cavalo, milho bacil e feijão, etc.), conservação de sementes, destinadas ao ano agrícola seguinte e, finalmente, armazenamento de cereais, arroz em particular, para fins rituais.

Os "ful" destinados ao armazenamento exclusivo de produtos de consumo, são normalmente os de tamanho maior, sendo os outros dois tipos de tamanho relativamente inferior.

Quanto ão lugar de instalação do "ful" na morança ("pang"), este pode variar. Às vezes, são instalados dentro da casa, ou na varanda, e muitas vezes no quintal. Por uma questão de segurança, podem mesmo ser instalados dentro do quarto de dormir do dono da morança. Isto passa-se, em especial, com os celeiros destinados ão armazenamento de produtos de consumo familiar.

AS TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO

Para a construção deste tipo de celeiro utilizam-se materiais locais e técnicas de construção simples.

A matéria-prima básica para a construção do "ful" é a lama e palhas secas de cereais. São utilizadas, com mais frequência, as palhas de arroz e fundo. Estas palhas são misturadas com a lama e apodrecendo, fazem com que a lama se torne ainda mais resistente.

Só depois desta lama preparada, é que iniciam a construção do celeiro "ful" A sua construção é feita, normalmente, junto do lugar onde vai ser instalado. Primeiramente, é construída a base do celeiro, com uma camada de palhas de.arroz coberta com lama. 

Depois de construída a base, inicia-se o levantamento das paredes por fases. Constroem-se camadas que se deixam secar, antes de se acrescentar nova camada, de modo a evitar a queda da estrutura, durante o período em que são trabalhadas. 

Depois de completa a construção das paredes, deixam-nas secar bem. No mato, colhem as cascas de uma árvore, chamada na língua de origem “rutch”. Estas são piladas e misturadas com água.

Com a. massa quase líquida que daí se obtêm, são polidas as paredes externas do "ful", tornando-o mais resistentes, e protegendo-o contra a entrada de insectos. No fim deste processo, deixam o "ful" secar novamente

Para que a base do mesmo possa ter uma protecção sólida, nunca o fincam em contacto direto com o solo. No local onde vai ficar instalado o celeiro, colocam uma camada de pedras que cobrem com palhas de arroz ou fundo e sobre a qual colocam o "ful"


A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO


A iniciativa de construção do celeiro é da responsabilidade do dono da morança. A sua construção pode ser organizada individualmente, ou então de uma forma colectiva

Em geral, o chefe da morança procura a ajuda de familiares ou vizinhos. Embora seja uma actividade dos indivíduos de sexo masculino, a participação feminina não é excluída nesse processo. As mulheres podem dar o seu apoio, ajudando, por exemplo, a trazer água, lama e outrosmateriais.

O PROCESSO DE ARMAZENAMENTO

A entrada dos produtos nos celeiros "ful", efectua-se logo a seguir às colheitas.

Os cereais depois de preparados, são em seguida transportados pelas mulheres, directamente para a moranças, e armazenados dentro dos celeiros.

Para se evitarem gastos arbitrários dos produtos, é ao dono da morança quem cabe a responsabilidade de controlo da entrada e saída dos cereais nos celeiros. É o chefe da morança que mede a quantidade de produtos a ser entregue à sua esposa, para os gastos diários. 

Se tiver mais que uma esposa, o seu dever é entregar os produtos à sua primeira mulher e esta se encarregará da sua distribuição pelas outras. Normalmente, cada uma das mulheres tem, dentro da sua palhota, um celeiro de tamanho inferior, a que chamam "ftchelé" (pote), onde guarda os produtos destinados ao consumo exclusivo do seu fogão. 

Quando as várias esposas do chefe da morança se dão bem, podem ter um só "ftchelé"para toda a morança,mas isto acontece raras vezes.

AS PRINCIPAIS AMEAÇAS

Os factores que poderiam constituir perigo para os celeiros do tipo "ful"são: as águas da chuva, o fogo e os ratos

Dado que, as casas dos balantas são cobertas todos os anos, os efeitos nocivos da chuva são quase neutralizados.

OS RITOS TRADICIONAIS

Não é costume a realização de rituais específicos na altura da construção dos celeiros.

Os "ful"  destinados exclusivamente à conservação de produtos com fins rituais, são construídos aquando do nascimento de uma criança e esta atingir a idade de desmame (normalmente aos três anos de idade). Nessa altura, os pais são obrigados a instalar um "ful"  de pequenas dimensões dentro da casa, onde vão reservando uma quantidade determinada de arroz, destinado só para as cerimónias a realizar para a criança. Sempre que ela adoece, ou lhe acontecer qualquer coisa, que os pais não possam explicar, tiram deste "ful" um pouco de arroz. Com ele preparam comida, a que misturam óleo de palma e leite de vaca, e procedem a um ritual junto do "ful" da criança, onde pedem a sua salvação.

Existe. também,  um "ful" único para os rituais de toda a morança. Os produtos alí conservados são destinados às cerimónias, que têm a ver com a vida dos membros de toda a morança. Os cereais armazenados provêm de cada um dos agregados familiares, que fazem parte da morança. 

As cerimónias que fazem, na altura do início da época das chuvas e no inicio do ano agrícola, dizem respeito a todos os membros da morança e são organizadas pelo chefe máximo da morança. É na altura destas referidas cerimónias, que se pede ao Irã da morança bem-estar para todos os seus elementos, durante a época das chuvas, e boas colheitas.

(pp. 415/417)


[Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos: LG]

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Guné 61/74 - P23834: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte VI: Bissá: as últimas fotos do destacamento e tabanca balanta















Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 > Tabanca e destacamento de Bissá.

Os militares que se vêem nas fotos possivelmente pertenciam à CCAÇ 2587 / BCAÇ 2885, que em 5mar70, rendendo a CArt 2411, assumiu a responsabilidade do subsector de Porto Gole, com um destacamento em Bissá. A tabanca era balanta.

Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71
).

Organização e seleção feitas pelo seu amigo e nosso camarada Ernestino Caniço, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa) e Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, (Bissau) (Fev 1970/Dez 1971) (médico, foi diretor do Hospital de Tomar, 6 anos, de 1990 a 1996, e diretor clínico cumulativamente 3 anos, de 1994 a 1996, vivendo então em Abrantes; hoje vive em Tomar).

O José Torres Neves é missionário da Consolata, ainda no ativo. Vai fazer 86 anos. Vive num PALOP. Esteve no CTIG, como capelão de 7/5/1969 a 3/3/1971. Os capelães eram, em geral, graduados em alferes.

As fotos (de um álbum com cerca de 200 imagens) estão a ser enviadas, não por ordem cronológica, mas por localidade, aquartelamentos ou destacamentos do sector de Mansoa. Sobre Bissá, temos já mais de 3 dezenas de referências no nosso blogue. A tabanca (e o destacamento) de Bissá ficava a oste de Porto Gole. (Vd. carta de Fulacanda, 1955, escala 1/50 
mil.)

As fotos de hoje, enviadas pelo Ernestino Caniço, em 29 de outubro passado, são "o remanescente das fotos do álbum do Padre Zé Neves, relativamente a Bissá".
__________

terça-feira, 20 de setembro de 2022

Guné 61/74 - P23631: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte V: Bissá: há festa na aldeia

Foto nº 1A > Tocador


Foto nº 1 > Tocador (o instrumento musical parece ser feito de chifre de vaca)


Fotoo nº 2 > Jovem caçador (de arco e flecha)


Foto nº 3 > Festa é partilha


Foto nº 4A > Festa, "manga de ronco" para as bajudas


Foto nº 4 > Festa, "manga de ronco" para as idades


Foto nº 5A> Festa (com participação de militares do destacamento, todos em tronco nu)... E claro, em aldeia balanta, não falta o vinho de palma e a aguardente de cana...


Foto nº 5 > Festa (com participação de militares do destacamento)


Foto nº 6A > E a festa continua...


Foto nº 6 > Festa (com participação de militares do destacamento)


Foto nº 7 > Festa (com participação de militares do destacamento)


Foto nº 8 > Construção de casa ("morança"), possivelmente integrada num reordenamento  

Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/ d > c. 1970 > Tabanca e destacamento de Bissá em dia de festa.

Os militares que se vêem nas fotos possivelmente pertenciam à CCAÇ 2587 / BCAÇ 2885, que em 5mar70, rendendo a CArt 2411, assumiu a responsabilidade do subsector de Porto Gole, com um destacamento em Bissá.

Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71).

Organização e seleção feitas pelo seu amigo e nosso camarada Ernestino Caniço, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa) e Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, (Bissau) (Fev 1970/Dez 1971) (médico, foi diretor do Hospital de Tomar, 6 anos, de 1990 a 1996, e diretor clínico cumulativamente 3 anos, de 1994 a 1996, vivendo então em Abrantes; hoje vive em Tomar).

O José Torres Neves é missionário da Consolata, ainda no ativo. Vai fazer 86 anos. Vive num PALOP. Esteve no CTIG, como capelão de 7/5/1969 a 3/3/1971.

As fotos (de um álbum com cerca de 200 imagens) estão a ser enviadas, não por ordem cronológica, mas por localidade, aquartelamentos ou destacamentos do sector de Mansoa. Sobre Bissá, temos já mais de 3 dezenas de referências no nosso blogue. A tabanca (e o destacamento) de Bissá  ficava a oste de Porto Gole.
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23488: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte IV: mais gentes de Bissá, c. 1970

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23488: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte IV: mais gentes de Bissá, c. 1970


Foto nº 1A > Guiné Região do Oio > Bissá > c. 1970 > Celeiros para a bianda... O capelão é o primeiro, de perfil, à direita (1): manifesta curiosidade e boa disposição olhando para o Periquito-massarongo [, nome científico Poicephalus senegalus], quje o alferes,comandante do destacamento,ostenta ao ombro.


Foto nº 1 > Guiné Região do Oio > Bissá > c. 1970 > Celeiros para a bianda... O capelão é o primeiro, de perfil, à direita (2)... Encostado a um dos potes de barro (onde se guardava o arroz), está o alferes mil, comandante do destacamento, cujo nome ignoramos (deveria pertener à CCAÇ 2587 ou à CART 2411, dependendo da data em que a foto foi tirada, antes ou depois de 5/3/1970, altura em que a CCAÇ 2587 rendeu a CART 2411).


Foto nº 2A > Guiné > Região do Oio > Sector de Mansoa > Bissá > c. 1970 >  Edifício da escola > Entrada de alunos (1)


Foto nº 2 > Guiné > Região do Oio > Sector de Mansoa > Bissá > c. 1970 >  Edifício da escola > Entrada de alunos (2)


Foto nº 3 > Guiné > Região do Oio > Sector de Mansoa > Bissá > c. 1970 >   A tabanca vista de helicóptero,  AL III


Foto nº 4 > Guiné > Região do Oio > Sector de Mansoa > Bissá > c. 1970 > O chefe da tabanca e família


Foto nº 5 > Guiné > Região do Oio > Sector de Mansoa > Bissá > c. 1970 > Há festa na aldeia...


Foto nº 5 > Guiné > Região do Oio > Sector de Mansoa > Bissá > c. 1970 > Há festa na aldeia ... e "cabeças grandes" (em consequência do excesso de "vinho de palma")...


Foto nº 6 > Guiné > Região do Oio > Sector de Mansoa > Bissá > c. 1970 > Bajuda construindo roncos


Foto nº 7 > Guiné > Região do Oio > Sector de Mansoa > Bissá > c. 1970 > Bajuda no pilão...


Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/ d > c. 1970 > Tabanca e destacamento de Bissá.  

Os militares que se vêem nas fotos possivelmente pertenciam à CCAÇ 2587 / BCAÇ 2885, que em 5mar70, rendendo a CArt 2411, assumiu a responsabilidade do subsector de Porto Gole, com um destacamento em Bissá.

Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71).

Organização e a seleção feitas pelo seu amigo e nosso camarada Ernestino Caniço, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa) e Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, (Bissau) (Fev 1970/Dez 1971) (médico, foi diretor do Hospital de Tomar, 6 anos, de 1990 a 1996, e diretor clínico cumulativamente 3 anos, de 1994 a 1996, vivendo então em Abrantes; hoje vive em Tomar).

O José Torres Neves é missionário da Consolata, ainda no ativo. Vai fazer 86 anos. Vive num PALOP. Esteve no CTIG, como capelão de 7/5/1969 a 3/3/1971, sendo alferes graduado.

As fotos (de um álbum com cerca de 200 imagens) estão a ser enviadas, não por ordem cronológica, mas por localidade, aquartelamentos ou destacamentos do sector de Mansoa. Sobre Bissá, temos cerca de 3 dezenas de referências no nosso blogue. A tabanca (e o destacamento) de Bissá  ficava a oste de Porto Gole.
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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de junho de  2022 > Guiné 61/74 - P23369: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado  capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte III: tabanca balanta e destacamento de Bissá, c. 1970

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23369: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte III: tabanca balanta e destacamento de Bissá, c. 1970






Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/ d > c. 1970 > Tabanca e destacamento de Bissá. A população era balanta. Na 4ª foto acontar de cima, ao lado da mulher que remenda roupa, pode ver-se em "ouri" ou "uril", um jogo tradicional africano de estratégia.

Os militares que se vêem nas fotos possivelmente pertenciam à CCAÇ 2587 / BCAÇ 2885, que em 5mar70, rendendo a CArt 2411, assumiu a responsabilidade do subsector de Porto Gole, com um destacamento em Bissá.

Fotos (e legenda): © José Torres Neves (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71).


Organização e a seleção feitas pelo seu amigo e nosso camarada Ernestino Caniço, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa) e Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, (Bissau) (Fev 1970/Dez 1971) (médico, foi diretor do Hospital de Tomar, 6 anos, de 1990 a 1996, e diretor clínico cumulativamente 3 anos, de 1994 a 1996, vivendo então em Abrantes; hoje vive em Tomar).

O José Torres Neves é missionário da Consolata, ainda no ativo. Vai fazer 86 anos. Vive num PALOP. Esteve no CTIG, como capelão de 7/5/1969 a 3/3/1971.

As fotos (de um álbum com cerca de 200 imagens) estão a ser enviadas, não por ordem cronológica, mas por localidade, aquartelamentos ou destacamentos do sector de Mansoa. Sobre Bissá, emos cerca de 3 dezenas de referências no nosso blogue. A tabanca de Bissá (e o reseptivo destacamento, guarnecido por um 1 Gr Comb) ficava a oste de Porto Gole.



Guiné > Carta de Fulacunda (1955) > Escala 1/50 mil > Pormenor: posição relativa de Porto Gole e Bissá, e de outras povoações na margem direita do rio Geba, algumas abandonadas com a guerra.

Segundo o nosso camarada Abel de Jesus Carreira Rei, autor do livro  "Entre o Paraíso e o Inferno: De Fá a Bissá: Memórias da Guiné, 1967/1968" (Prefácio do ten gen Júlio Faria de Oliveira. Edição de autor. 2002. 171 pp. Execução gráfica: Tipografia Lousanense, Lousã. 2002), a ocupação de Bissá pelaos NT remontava a 7 de abril de 1967.  

Passaria a ser um destacamento, guarnecido por um pelotão (-) da CART 1661 e uma companhia (-) da Polícia Administrativa de Porto Gole, Uns dias depois, a 15 de abril de 1967, seria um “dia trágico”: um ataque do PAIGC a Bissá, de duas horas, na noite de 14 para 15, faria sete mortos e cinco feridos. Entre os mortos, contou-se o Abna Na Onça, capitão de 2ª linha, balanta. Na sequência deste desastre, o destacamento foi (temporariamente) abandonado e depois reocupado pelas NT.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)
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