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terça-feira, 25 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27463: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (6): O Cais fluvial de Enxudé (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

1. Em mensagem de 20 de Novembro de 2025, Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), enviou-nos a sexta reportagem das "Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade", levadas a efeito pelos nossos camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu.


VIAGENS À GUINÉ BISSAU: AMIZADE E SOLIDARIEDADE

O CAIS FLUVIAL DE ENXUDÉ

As viagens à Guiné Bissau realizadas pelos camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu, no âmbito da Amizade e Solidariedade, por razões afetivas, foram às localidades de Tite, Fulacunda e Nova Sintra. Para chegar a estes destinos por via fluvial, saídos do cais do Pidjiguiti, em Bissau, tiveram de aportar no Cais do Enxudé, na margem esquerda do rio Geba, distante 10 Km de Tite.

As fotografias anexas, a partir da terceira, dizem respeito à viagem de 2019, a penúltima, já que a última foi em 2024.

Cais do Enxudé da época da Guerra Colonial que foi desativado
Estacas que suportavam o cais antigo, distante 50 metros do atual, construído em betão pela empresa portuguesa Soares da Costa
Cais novo a servir de lota
Cais atual do Enxudé onde se comercializam os produtos da terra com os viajantes em trânsito
Aproximação do barco ao cais
O desembarque
Ricardo Abreu entre as autoridades militares. Um por cada localidade da região do Quínara
Posto de apoio ao cais
Início da estrada rumo a: Tite; Fulacunda; Jabadá; Nova Sintra; São João/Bolama e Buba.
Aglomerado de passageiros oriundos de diversas localidades da região do Quinara e o barco que os transporta até Bissau. Nos dias em que há barco, há também transporte rodoviário que percorre as diversas localidades.
Uma das viaturas que faz o transporte rodoviário
Um passageiro renitente a entrar a bordo

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 28 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27361: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (5): Ruínas da Messe de Sargentos e do Quartel de Tite (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27361: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (5): Ruínas da Messe de Sargentos e do Quartel de Tite (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

1. Em mensagem de 23 de Outubro de 2025, Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), enviou-nos a quinta reportagem das "Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade", levadas a efeito pelos nossos camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu.


VIAGENS À GUINÉ BISSAU: AMIZADE E SOLIDARIEDADE

RUÍNAS DA MESSE DE SARGENTOS E DO QUARTEL DE TITE


Vista aérea do quartel de Tite

No decurso das viagens realizadas à Guiné Bissau, os camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu tiraram fotografias às ruínas do quartel de Tite e entre elas o edifício da Messe de Sargentos e o interior da mesma. A pintura de dois painés existentes nas paredes do refeitório da messe, em 2017, ainda se mantiham em razoável estado de conservação. Ver fotos que passo a partilhar, em particular com os ex-Furriéis Milicianos que por lá passaram durante os anos de guerra.
Ruína do edifício da Messe e estrutura metálica da enfermaria
Refeitório e balcão do bar
Um dos quartos dos Furriéis
Balneários
Painel de parede
Painel de parede


RUÍNAS DE OUTROS EDIFÍCIOS

Cruzeiro na parada
Comando
Refeitório das Praças
Dormitório das Praças
Messe de Oficiais
Capela
Cozinha
???

TITE e as SUAS GENTES

Ricardo com a autoridade local na sala que foi das Transmissões
Armando e Ricardo tendo este à esquerda a sua lavadeira de outrora
Um fraterno abraço com a Maria Mancanha, uma das lavadeiras de Tite
Convívio com familiares da Maria Mancanha
Em conversa com um descendente de algúem que o Ricardo conheceu
Armando e o poilão existente próximo à porta de armas de Tite

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 21 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27337: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (4): Nova Sintra (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27347: A nossa guerra em números (43): afinal, a nossa ração diária de vinho era de 0,5 litros... O melhor assistente de IA, em matéria dos nossos comes & bebes, é o nosso vagomestre... Aníbal Silva (ex-fur mil SAM, CCAV 2483 / BCAV 2867, Nova Sintra e Tite, 1969/70)

 



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda 3ª C/Bart 6520/72 (1972/74) >  "Porto fluvial" (!) de Fulacunda (a 3/4  km do aquartelamento): reabastecimento quinzenal: mantimentos, caixas de munições, sacos de arroz para a população, bidões de combustível e de vinho, artigos de cantina, etc.; como não havia pontão, ou cais, a descarga era feita manualmente para as viaturas da tropa (GMC, Berliet, Unimog...). Uma tarefa penosa, feita na maré-cheia, dentro de água...

 Fulacunda era reabastecida, através do rio Grande de Buba  e do seu afluente, na margem direita, o rio Fulacunda (que ficava a sul),  com recurso a LDM (Lancha de Desembarque Média) ou barco civil (popularmente conhecido como "barco-turra").

Na foto acima, com pormenores assinalados a amarelo, veem-se bidões: 2 deles, de 1 cor verde e outro azul, podem ser de combustível, petróleo branco e gasóleo, respetivamente; um outro, com tampo branco,  com círculo amarelo mais pequeno, pode ser de vinho... Mas pergunta-se: como se descarregavam, nestas circunstâncias, bidões de 200 litros ?
  
 Fotos do álbum do Jorge Pinto  (parte dos "slides" que temos aqui publicados são dele ou do Armando Oliveira: generoso e solidário como ele, não faz questão de reclamar os créditos fotográficos: considera o seu álbum como património de todos os fulacundenses).


Fotos (e legenda): © Armando Oliveira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > "Porto fluvial", no Rio Fulacunda, afluente do Rio Grande de Buba, que ficava a sul > Chegada de uma LDP com reabastecimentos, vinda diretamente de Bissau.. A LDP e LDM eram mais práticas, podendo abicar na praia,o que facilitava a descarga de bidões e barris,

[ Foto do álbum de Jorge Pinto, ex-alf mil da 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), professor de história reformado; natural de Alcobaça, vive na Grande Lisboa e é também membro da nossa Tabanca Grande e da Tabanca da Linha]


Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. O melhor assistente  de IA  para sabermos coisas sobre os nossos comes & bebes na Guiné ? São os nossos "intendentes" e os nossos "vagomestres", pois claro. 

Infelizmente são poucos, os que integram a Tabanca Grande e estão ainda vivos. Mas felizmente que temos o nosso Aníbal   Silva (ou Aníbal José da Silva, como está registado na Tabanca Grande) que tem sido inexcedível na sua vontade em partilhar informação (oral e escrita) sobre estas matérias, que já estão tão esquecidas da maior parte da malta... Além disso, ele é o autor da notável série "Vivências em Nova Sintra", de que se publicaram 16 postes,  desde 4/3/2025  até 17/6/2025.

Perguntei a alguns de nós se se lembravam do "per diem", a verba para a nossa alimentação diária... Já ninguém se lembrava da quantia em escudos (24$50), que o gen António Spínola, no relatório do comando relativo à situação em 1971, propunha que passasse para 33$00 (um aumento de mais de 1/3), face ao agravamento do custo de #géneros de 1ª necessidade" bem como dos "transportes da Metrópole para a Província". (Não sabemos se até ao final da guerra houve alteração da verba para a alimentação diária no CTIG.)

Era com esses 24$50 que o vagomestre  tinha de nos alimentar diariamente (3 refeições).

Além de informador privilegiado como vagomestre e como gestor da cantina de Nova Sintra, ao tempo em que esteve com a sua companhia, CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), o Aníbal Silva é um excelente e afável contador de histórias e lembra-se de coisas do arco da velha.

O Aníbal (que fez a Escola Comercial e foi técnico de seguros) tem especiais competências em matéria de literacia e numeracia: só podia, pois, ser o homem certo no lugar certo. E ainda hoje guarda (o que é incrível!) documentação daquela época, rekatcionadas com a alimentação e atigos de cantina, e que faz questão de partilhar com o nosso blogue.

Mensagem recente, de 22/10/2025, 09:10 

Bom dia, caríssimo Luís

Depois da nossa conversa telefónica de ontem, que muito me honrou, procurei e encontrei o livro sobre a alimentação, o "missal" dos vagomestres, que tem umas dezenas de páginas e do qual envio em anexo meia dúzia dessas páginas, digitalizadas. 

Numa delas, relativa às ementas, verifico que a quantidade de vinho que cada militar tinha direito por dia era de 0,5 litros  (0,2 ao almoço e 0,3 ao jantar). 

Tenho também uma sebenta que para além das questões da alimentação, aborda outros assuntos, tais como: prestação de contas; fardamentos; vencimentos e até armamento. Na sebenta fui encontrar o protótipo do mapa modelo 1, o tal lençol de que te falei.

Caso pretendas, para os teus estudos e análises, posso enviar-te pelo correio os dois "documentos". Na afirmativa, fico a aguardar que me facultes o teu endereço. (...)


Capa do "missal dos vagomestres":  1º Grupo de Companhias de Administração Militar: Gabinete de Estudos - "Elementos sobre o Serviço de Alimentação no Exército" (Compilados de apontamentos editados pela EPAM em 1962).



Capítulos 1 e 2 (pp. 1-14)


Capítulos 3,4,5,6 e 7 (pp. 15 -28)


Capítulos 8, 9 e 10 (pp. 29 -40)

Índice do livro, de 40 pp. Cada página corresponde a uma ficha





De acordo com as ementas nºs 5 e 6.  a ração diária de vinho, dos militares, nos anos da guerra do ultramar, era de 0,5 l (0,2 l ao almoço, e 0,3 l ao jantar).



A famigerado mapa modelo 1 (que era o quebra-cabeças do vagomestre). Como curiosidade, repare-se no preço (unitário) do vinho: 6$00 (em 1969/70); em 1974 era já   quase o dobro (11$60). O mesmo se  verifica com outros bens essenciais: arroz (6$50, que passa para 14$50); batata (5$00 | 8$20)... O açúcar mantem-se (6$00 | 6$70). 

Fotos (e legendas): © Aníbal Silva (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Aníbal Silva, ex-fur mil SAM,
  CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70)

2. O que transcrevo a seguir é um apanhado das conversas que vou tendo com ele ao telemóvel (ele vive em Arcozelo, se não erro, freguesia de Vila Nova de Gaia, já prometemos encontrarmo-nos quando eu for à Madalena).

2.1.  São João, frente a Bolama, era abastecido diretamente por Bissau. Tite também. E Fulacunda. E Bambadinca. E, claro, Nova Sintra,

 A via fluvial ainda era a mais rápida, económica e relativamente segura (rio Cacheu, na zona Oeste; rio Geba, na zona Leste; canal do Geba e de Bolama, para a região de Quínara; o rio Cumbijã  e o rio Cumbijã e o rio Cacine, para a região de Tombali).

O vinho era transportado de Bissau em barris de 100 litros (mais tarde bidões de 200 l, mas já não é do tempo do Aníbal Silva, nem do meu, somos de 69/71,.

2.2. Em Nova Sintra, era através de um afluente do rio Grande de Buba.

Como não tinham outro sítio para os guardar os barris de 100 litros, utilizava um antigo galinheiro, que estava vago; claro que era um sítio de fácil acesso aos "ladrões de vinho" (não havia "guarda á adega").

Uma vez aberto  um barril, durava dois a très dias... E a opinião que a malta ainda hoje tem é que vinho que se bebia em  Nova Sintra  até era de boa qualidade, tinha bom paladar; e de resto toda a gente bebia vinho. 

E interessante a informação de que um barril de 100 l dava só para 2 ou dias. Ou seja, não havia risco de oxidar.Utilizava-se um tubo de borracha para encher recipientes mais pequenos como garrafões. Também já não é do seu tempo o uso de garrafões de 10 l, empalhados, para o transporte de vinho (deve ter sido prática dos primeiros anos de guerra).

2.3. Claro que também aqui havia pequenos furtos: havia sempre ums "jeitosinhos" que, com uma broca manual,  fazia um furinho na tampa, e com uma borrachinha ia lá encher o cantil.. "Pró petisco".

Tal como havia malta que, no dia de descascar batatas para o rancho levava as calças de camuflado para encher os bolsos..."pró petisco". Os iam de calções, que era o traje habitual...

Tal como havia malta que era capaz de, numa coluna logística ao porto fluvial, no reabastecimento mensal, e antes da chegada ao quartel,. , "desviar uma ou duas caixas de cerveja", gurdá-las no mato em sítio seguro e  ir lá depois buscá-las, passadas 24 ou 48 horas.

2.4. Mas também havia a ração de aguardente. A meio da comissão,  a Intendência mandou perguntar se a companhia tinha barris de aguardente. O Aníbal disse que não. Passados uns tempos, foi abrir um barril (que julgava ser de vinho) e  viu que era aguardente. Havia 300 litros (3 barris) de aguardente, em "stock", intactos!...  Bom, deu para o resto da comissão,  enquanto a malta esteve em Nova Sintra antes de ir para Tite. Uma ração de aguardente passou a ser distribuída pelos abrigos.

2.5.  O Aníbal, vagomestre, tirou a especialidade em Póvoa do Varzim, na antiga Escola Prática de Administração Militar (hoje Escola de Serviços do Exército)  ficou também, em Nova Sintra, com a cantina, ao tempo do segundo capitão da companhia que detectou irregularidades na gestão anterior. 

Havia um "buraco" nas contas que era preciso sanear... E que ele saneou... (Como "prémio", ficou, no fim, na "comissão liquidatária" da companhia e do batalhão, um "pincel" que ninguém queria, podendo atrasar o regresso a casa.)

Não havia máquinas de calcular, naquele tempo, as contas eram feitas à mão, uma, duas, três, quatro vezes, até baterem certas. E havia um lençol, o famigerado mapa modelo 1, que era um a quebra-cabeças para qualquer vagomestre.


2. Falando há dias com um antigo comandante de companhia, hoje cor art ref, o nosso grão-tabanqueiro Morais da Silva, disse ele que "nunca bebeu vinho em Gadamae
l" (onde comandou a CCAÇ 2796, entre jan 1971 e fev 1972). Nem ele nem os seus alferes e furriéis,. Bebiam cerveja. Aliás, deixou de beber vindo desde que  veio de Angola. onde fez o  curso de comandos.

Já não se lembrava do "per diem" nem da ração de vinho diária...Vai perguntar ao vagomestre que é hoje um quadro superior do BCP, reformado.  Gaba-se de ter tido excelentes colaboradores em todos os setores de apoio, da saúde (onde teve um  1º cabo aux enf  excecional, e de quem toda gente perdeu o rasto) às transmissões,  da intendência ao material.

Tem ideia, sim, que a malta se queixava que a Intendência punha uns "pozinhos no vinho". 

O Humberto Reis, ex.fur mil op esp /ranger, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) e colaborador permanente do nosso blogue também confirma que os nossos soldados, pro serem resarranchados, recebiam mais 750$00 por mês.

 Quando o Gr Comb dele, o 2ª, ia para o destacamento do rio Undunduma, o pessoal metropolitano recebia o seu rancho, confeccionado em Bambadinca, mas a viatura também trazia os "tachos de arroz" que as mulheres dos nossos soldados cozinhavam para eles na tabanca... Cada um tinha um lenço da sua cor.... Em operações no mato, também levavam a sua "marmita" (arroz cozido embrulhado num lenço)...

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Nota do editor LG:

Último poste da série > 2 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27340: A nossa guerra em números (42): com um "per diem" (verba de alimentação diária) de 24$50 (hoje 4,10 euros) dava para fazer uma... ometela simples mas saborosa!