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sexta-feira, 8 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20954: (In)citações (148): Homenagem ao ex-alf mil capelão, Arsénio Puim, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), no seu 84º aniversário - Parte IV: o termos vivido e sofrido a mesma contradição numa realidade que nos obrigou, cada um de sua maneira, a uma reviravolta na vida (Lino Bicari)


Região Autónoma dos Açores > Ilha de São Miguel >  Maio de 2019  > O reencontro de dois amigos da Guiné, ao fim de 48 anos: à esquerda,  o ex-missionário italiano Lino Bicari (, casado com uma portuguesa, vivendo hoje no Alentejo) e, à direita, o Arsénio Puim, ex-alf mil capelão, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), expulso depois do exército e do CTGI, em maio de 1971, sendo hoje enfermeiro reformado: casado, deixou o sacerdócio em finais dos anos 70. (*)

O Lino Bicari é da mesma idade, nasceu em Itália. Missionário do PIME - Pontifício Instituto para as Missões Exteriores. chegou à Guiné em maio de 1967.  Além da telogia, tinha formação em medicina tropical, em psicopedagogia e didáctica e em etnologia.

O Puim e o Bicari conheceram-se na Guiné, em Bafatá, "numa altura em que o capelão chefe, padre. Gamboa promoveu um encontro durante dois dias dos capelães da Zona Leste – Bafatá, Bambadinca, Galomaro, Nova Lamego e Piche – precisamente na Casa dos Padres Missionários Italianos de Bafatá."

O Puim voltaria mais tarde "duas ou três vezes à Casa dos simpáticos missionários italianos, aproveitando sempre esta estadia para um reconfortante convívio sacerdotal e um renovar de forças no exercício da minha missão de capelão." (*)

O capelão-chefe major Gamboa, que vivia no "Vaticano", em Bissau, na altura em que o Puim fui expulso do CTIG, nasceu no Fundão, Castelo Novo, em 21 de agosto de 1919  DE seu nome completo,.Pedro Maria da Costa de Sousa Melo de Gamboa Bandeira de Melo

Em 1973, o Bicari aderiu ao PAIGC, e tornou-se responsável pelo Hospital Regional do Boé, já depois da declaração unilateral de independência em 24 de setembro de 1973.

Foto (e legenda): © Arsénio Puim (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. Testemunho de Lino Bicari, que nos chegou pela mão do Miguel Puim, com a  devida autorização para se publicar  no blogue.


1. Em 1970 já tinha conhecido vários capelães militares em missão de serviço na então Guiné Portuguesa e tinha tido com todos bons relacionamentos, mas só com o Padre Arsénio Puim, capelão em Bambadinca, no leste do país, entrei no "mesmo comprimento de onda", porque desde o primeiro encontro percebi que partilhávamos sentimentos perante a dramática situação da guerra colonial em que estávamos ambos mergulhados. 

Arsénio tornou-se assim o único português com quem, nesse tempo da PIDE omnipresente, com a sua rede de informadores, podia falar de tudo à vontade.

Nasceu assim uma amizade quase à primeira vista, sem muito conhecimento um do outro.

Dois foram os encontros a sós que nunca poderei esquecer. Um, no final de 1970, na Missão Católica de Bafatá, onde eu trabalhava há já quatro anos. 


Arsénio Puim, ex-alf mil capelão, CCS/ BART 2917 (Bambadinca, 1970/72): açoriano, da Ilha de Santa Maria, foi expulso do exército e CTIG em maio de 1971, apenas com um ano de comissão; no final da década de 1970 deixou o sacerdócio, formou-se em enfermagem, casou-se, teve 2 filhos; vive na Ilha de São Miguel; está reformado; é membro da nossa Tabanca Grande; tem cerca de 40 referências no nosso blogue; é autor da série "Memórias de um alferes capelão", de que se publicaram doze postes]

Foto: © Gualberto Magno Passos Marques (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Bafatá >  1970 > Exterior da capela de Bambadinca ... Aquartelamento e posto administrativo de Bambadinca. Foto de Benjamim Durães ex-fur mil op esp, Pel Rec Inf, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)

Foto ( e legenda): © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Vejo-me ainda sentado a uma mesa na biblioteca dessa Missão. À minha frente o amigo Arsénio, de pé, a tremer de indignação, percorria com passos nervosos, o pequeno espaço livre. Parece-me ainda ouvir da sua boca, num tom enfadado, a narração dos feitos horrorosos da guerra a que quase diariamente assistia, acentuando o contraste com a narrativa oficial e com a propalada missão civilizadora do regime. 

Contou-me as frequentes saídas nas chamadas “missões de soberania”. Era a própria “malta” a pedir a participação do capelão nessas saídas de alto risco, acreditando talvez que a sua presença pudesse funcionar como um talismã protetor, nos terríveis momentos do rebentamento de minas e nas mortíferas emboscadas do inimigo invisível. Para o Padre Arsénio, no entanto, a sua presença era sobretudo para impedir ou atenuar os excessos da guerra.

2. O outro inesquecível encontro com o amigo Arsénio deu-se no inicio de 1971, no quartel militar de Bambadinca a 30 km de Bafatá. Após a missa dominical na Missão desta localidade, a convite do Arsénio, no seu quarto, voltei a ouvir e desta vez também a ver, através de fotografias, os horrores da guerra, o que me permitiu compreender melhor o seu drama interior.

Ele, pensei, deve ter lido e ouvido inúmeras vezes o que estava resumido numa frase do Boletim dos Capitães militares e que aqui vou citar: 

“O capelão militar é um dos elementos mais importantes do nosso exército porque, pregando a doutrina do amor cristão, ajuda grandemente a obra de pacificação e de reunião de todos os povos das províncias ultramarinas sob a única bandeira portuguesa”. 

Para mim,  foram esta mistura e esta instrumentalização politico-bélica com a mensagem evangélica que levaram o drama interior do amigo a explodir em desabafo durante a homilia dominical no inicio de Maio de 1971, que teve como consequência a sua expulsão do exército.

Eu também, nessa altura, estava a viver , de forma menos dramática, esta mesma contradição que iria durar oito anos, de 1966 a 1974, resumida no artigo 2 do Estatuto Missionário português, aprovado por Salazar e Cerejeira, na lógica da Concordata de 1939. Esse artigo refere textualmente: 

“As Missões católicas portuguesas são Instituições de utilidade imperial e de sentido eminentemente civilizador”.

Aquilo que criou a amizade entre mim e o Arsénio não foi o facto de sermos coetâneos (hoje oitentões) ou ambos padres cumpridores da missão incumbida, mas sim o termos vivido e sofrido a mesma contradição numa realidade que nos obrigou, cada um de sua maneira, a uma reviravolta na vida.

Completámos desta forma, a nossa missão comum, a de colocar a nossa pedrinha na construção da paz e da liberdade dos povos português e guineense.

Lino Bicari (**)
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 9 de maio de  2019 > Guiné 61/74 - P19766: (De)Caras (105): O reencontro de dois velhos amigos, na ilha de São Miguel: Arsénio Puim, ex-capelão militar, açoriano, e Lino Bicari, ex-padre missionário, italiano...

(**) Último poste da série >  8 de maio de  2020 > Guiné 61/74 - P20952: (In)citações (147): Homenagem ao ex-alf mil capelão, Arsénio Puim, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), no seu 84º aniversário - Parte II: Mais um de nós (Tony Levezinho); Parte III: O único santo que conheci em Bambadinca (Luís Graça)

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19766: (De)Caras (129): O reencontro de dois velhos amigos, na ilha de São Miguel: Arsénio Puim, ex-capelão militar, açoriano, e Lino Bicari, ex-padre missionário, italiano...


Região Autónoma dos Açores > Ilha de São Miguel > O reencontro de dois amigos da Guiné: o ex-missionário italiano (e ex-guerrilheiro do PAIGC) Lino Bicari (, casado com uma portuguesa, vivendo hoje no Alentejo) e o Arsénio Puim, ex-alf mil capelão, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), expulso depois do TO da Guiné, em maio de 1971, e hoje enfermeiro reformado.

Foto (e legenda): © Arsénio Puim  (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Arsénio Puim, Bambadinca, c. 1970/71
Foto: © Gualberto Magno  Passos Marques (2009).
 Todos os direitos reservados.
1. Mensagem, datada de 6 do corrente, do nosso camarada Arsénio Puim:

[ açoriano, da Ilha de São Jorge, ex-alf mil capelão; foi expulso do seu Batalhão, o BART 2917, e do CTIG em maio de 1971, apenas com um ano de comissão; no final da década de 1970 deixou o sacerdócio, formou-se em enfermagem, casou-se, teve 2 filhos; vive na Ilha de São Miguel; está reformado; é membro da nossa Tabanca Grande; tem cerca de 40 referências no nosso blogue; é autor da série "Memórias de um  alferes capelão", de que se publicaram doze postes]


Caro Luís Graça

Envio em anexo um pequeno texto relativo a uma fotografia de dois amigos da Guiné (dos quais conheces um) que mando noutro email, para publicação no Blogue, se assim o entenderdes.

Um abraço amigo, Arsénio Puim


2. O reencontro de uma amizade originada na Guiné 

por Arsénio Puim

Na semana passada tive o prazer de receber, nesta bela ilha açoriana de São Miguel, o meu grande amigo Lino Bicari e sua esposa, que residem hoje no Alentejo. (*)

Conhecemo-nos na Guiné em 1970 – era eu capelão militar em Bambadinca e ele era padre missionário em Bafatá – numa altura em que o capelão chefe, pe. Gamboa [, Pedro Maria da Costa de Sousa Melo de Gamboa Bandeira de Melo, ] promoveu um encontro durante dois dias dos capelães da Zona Leste – Bafatá, Bambadinca, Galomaro, Nova Lamego e Piche – precisamente na Casa dos Padres Missionários Italianos de Bafatá.

Mais tarde voltei duas ou três vezes à Casa dos simpáticos missionários italianos, aproveitando sempre esta estadia para um reconfortante convívio sacerdotal e um renovar de forças no exercício da minha missão de capelão.

Desde então, há 48 anos, nunca mais nos tínhamos visto e comunicámos apenas em duas ocasiões, por email.

Na sua simplicidade, Lino Bicari é sem dúvida um homem de altos ideais humanos e dum currículo muito rico, corajoso e autêntico. Desenvolveu uma acção profunda e muito válida ao serviço do povo da Guiné (e não só) concretamente na área do ensino e educação e da saúde, quer enquanto missionário quer, depois, sob a vigência do Partido e do Governo do PAIGC. 

Uma história de vida rara!

Mando uma fotografia do reencontro destes dois «jovens», ambos com 83 anos de idade, que, se assim o entenderem, poderão publicar no Blogue. (**)

Arsénio Puim
 _____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19116: Notas de leitura (1111): Salvatore Cammilleri, missionário siciliano do PIME, expulso da Guiné em 1973 por ordem de Spínola, autor de "A identidade cultural dos balantas" (Lisboa, 2010, tr. do italiano: Lino Bicari e Maria Fernanda Dâmaso) - Parte I (Luís Graça)

(...) Lino Bicari é um ex-padre, italiano, missionário do PIME que no início dos anos 70 descobriu outra vocação, levado pelo romantismo revolucionário de Che Guevara e Camilo Torres (também ele ex-padre). Nascido em 1936, aos 23 anos, Lino Bicaria aderiu à guerrilha do PAIGC e é o único estrangeiro que tem o estatuto de combatente da liberdade da Pátria. Viveu 23 anos na Guiné-Bissau. Radicou-se em Lisboa em 1990. Dele disse o jornalista João Paulo Guerra, no jornal Público, de 24 de setembro de 1990:

(...) Não é um homem desiludido, mas um homem amargo quer hoje, à margem da Igreja e do Estado da Guiné-Bissau, continua, no entanto, a afirmar-se religioso e militante do PAIGC." (...)

 Fui saber mais, socorrendo-se da entrevista com ele, feita pelo João Paulo Guerra ("Crónica dos feitos da Guiné: A última missão do padre Lino").

(...) "O padre Lino Bicari chegou à Guiné em Maio de 1967. Tinha 31 anos, um curso teológico e formação em medicina tropical, em psicopedagogia e didáctica e etnologia. De passagem por Lisboa, meteu na bagagem curso rápidos de língua portuguesa e administração colonial e, como todos os missionários destinados às colónias portuguesas, assinou compromissos renunciando aos seus direitos como cidadão italiano e submetendo-se às leis e tribunais portugueses, à Concordata, ao Acordo e ao Estatuto missionários.

Na Guiné vivia-se o quarto ano de guerra e Lino Bicari foi colocado em Bafatá, a cidade natal de Amílcar Cabral. A guerra, para ele como para os outros missionários, significava ouvir tiros Ao longe e viver num centro populacional sob controlo militar, de onde só podia ausentar-se à luz do dia.

(..) Foi em Itália, onde se deslocou em 1972 no âmbito de um programa de apoio ao Terceiro Mundo, que o padre Lino Bicari conheceu José Turpin, dirigente do PAIGC e, por seu intermédio, trocou correspondência com Amílcar Cabral. Quando tomou a decisão da sua vida, resolvendo trabalhar com o PAIGC, a Secretaria de Estado do Vaticano sentiu-se embaraçada. Não disse que sim, nem que não, e acabou por consentir, pedindo-lhe apenas que, formalmente, se desligasse do [Pontifício] Instituto para as Missões Estrangeiras [PIME]

(...) "No final de 1973, proclamado já o Estado da Guiné-Bissau [, em 24 de setembro de 1973,], Lino Bicari entrou de novo no território. Mas, dessa vez, não levava o visto de Lisboa nem as guias de marcha do colonialismo missionário. Entrou através da fronteira com a Guiné-Conakry, numa ambulância da Cruz Vermelha e foi instalado pelo PAIGC na região de Boé, a sul de Madina, como responsável pelo Hospital Regional. 'Não era uma base de guerrilha mas uma zona totalmente libertada, defendida por forças armadas locais e, dada a sua configuração geográfica, de difícil acesso às tropas portuguesas', recorda Bicari." (...).

(**) Último poste da série > 17 de abril de  2019 > Guiné 61/74 - P19687: (De)Caras (104): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - V ( e última) Parte (Jorge Araújo)

sábado, 20 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19120: (De)Caras (121): O ex-padre italiano LIno Bicari foi meu professor em Bafatá, depois da independência, e casou com uma prima minha, Francisca Ulé Baldé, filha do antigo régulo de Sancorlã, Sambel Koio Baldé, fuzilado pelo PAIGC (Cherno Baldé, Bissau)


Guiné-Bissau > s/l >  s/d (c. 1983) > À esquerda, Lino Bicari; à direita, Amilcare Giudici (1941-2008). Foto reproduzida com a devida vénia... Fonte: blogue dos amigos do ex-padre, do PIME,  Amilcare Giudici (1941-2008), teólogo e escritor, defensor das comunidades de base e de uma igreja sem padres para o 3º milénio.


1. Comentário de Cherno Baldé ao poste P19116 (*)

[Foto à esquerda: o nosso colaborador permanente, Cherno Baldé, especialista em questões etnolinguísticas da Guiné-Bissau; tem mais de 170 referências no nosso blogue]


Caros amigos,
Cherno Baldé (n. circa 1960)
estudante universitário em Kiev,
em 1989.   É membro
da nossa Tabanca Grande
desde junho de 2009 (**)

Fui estudante do Ciclo Preparatorio e do Liceu Hoji-Ya-Henda em Bafatá, de 1975 a 1979, onde Lino Bicari, um ex-padre Italiano filiado no partido "libertador", era muito conhecido e estimado. 

Mais tarde, viria a conhecer e casar-se com uma das filhas do antigo régulo de Sancorlã (Sambel Koio Baldé) e minha prima, de nome Francisca Ulé Baldé. 

O Sambel Coio Baldé foi fuzilado pelos esbirros do PAIGC em Bambadinca,  após a independência, destino que teriam mais 4 ou 5 dos seus irmãos, todos eles príncipes de Sancorlã e ex-chefes de milicias do lado português e em defesa do seu chão sagrado. 

O ex-padre Lino é que foi o defensor da tese segundo a qual  a mãe verdadeira de Amílcar Cabral era uma mulher fula do Geba com laços de parentesco com a familia régia de Ganadu (a familia do famoso rei M'bucu ou Umbucu do tempo do tenente Marques Geraldes de Geba). 

Actualmente, vivem em Portugal, mas desconheço se continuam ou não juntos.

Sobre a questão dos Balantas / Brassa:

Segundo as fontes orais a que tivemos acesso, o termo ou etnónimo Brassa vem do termo mandinga Birassu, Brassu, Buraçu ou Braçu,  conforme as fontes em Mandinga ou Fula, Portugués ou Francés, que era a provincia ocidental do reino mandinga de Gabu (ou Kaabu) e que viria a tomar várias formas nas diferentes línguas dos povos que ai viviam antes e após o fim do imperio, na sua grande maioria mandingas, fulas, balantas, djolas, etc.

Assim, toda a zona norte da Guiné e parte da regiao de Casamança, no Senegal, se encontravam dentro desta antiga provincia, com epicentro no corredor de Farim/Mansoa que seria a capital provincial e, donde os Brassas/Balantas sairam para depois se expandirem mais ao sul do pais, até as regioes de Quinara e Tombali.

Partindo deste ponto de vista analitico, na Guiné, os Balantas não seriam os unicos "Birassu" ou "Brassa", pois também entre os fulas existem grupos, pouco conhecidos ou estudados, mas que seriam desta origem histórica, os chamados fulas Birassunka Braçunka (em mandinga: Fulas de Biraçu), com especificidades próprias da língua e cultura ainda hoje existentes, alias muito parecidas com as dos seus históricos vizinhos mandingas e balantas do norte.

Em resumo, quando um Balanta ou Djola ou Fula se identifica a si mesmo como "Brassa" ou "Birassu", isto queria dizer que se identificava com as suas raízes ou origens geográficas, em estreita ligação ao território/reino com o qual, para todos os efeitos, se identifica em relação aos outros. 

Não esquecer que em Africa, os processos de formação das identidades com base em determinados territórios ou estados nação,  iniciados no periodo pré-colonial, foram interrompidos e violentamente substituidos por relações comerciais e outras,  baseadas no tráfico de armas e de seres humanos impostas de fora para dentro ou vice-versa, e que nenhum povo africano, para poder sobreviver, podia ignorar ou dispensar em entre meados do séc. XV e fins do séc. XIX.

Cherno Baldé

19 de outubro de 2018 às 11:55
 
2. Comentários dos leitores:

(i) Antº Rosinha:

O professor Cherno Baldé já nos ensinou mais coisas,  em meia dúzia de comentários, do que aprendemos em 24 meses de comissão na "guerra do Ultramar".

(ii) Tabanca Grande Luís Graça:

É verdade, Rosinha, é sempre com grande prazer, curiosidade, apreço e respeito que lemos os postes e os comentários do nosso professor Cherno Baldé.

Chermo, o Mundo de facto é Pequeno e a nossa Tabanca é... Grande! Não conheço o Lino Bicari mas gostaria ainda de o encontrar em Lisboa... Espero que esteja bem de saúde, com os seus 80 e picos anos. Nos anos 90, em Portugal, esteve ligado à ONGD Oikos. Vejo-o citado como profundo conhecedor da realidade educativa da Guiné-Bissau. 

Gostaria que ele nos pudesse ler, ficando a saber que tem aqui, entre os colaboradores permanentes do nosso blogue, um seu aluno, do tempo do liceu de Bafatá. da segunda metade da década de 1970, e primo da Francisca Ulé Baldé, o hoje dr. Cherno Baldé, um filho da Guiné, quadro superior, que optou, corajosamente, por viver e trabalhar na sua terra.

Prometo ao Cherno que vou tentar descobrir o seu paradeiro (***). 

Mantenhas para o meu irmãozinho Cherno Baldé.

Luís Graça

_____________


(**) Vd. poste de 18 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4550: Tabanca Grande (153): Cherno Baldé (n. 1960), rafeiro de Fajonquito, hoje engenheiro em Bissau...

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19116: Notas de leitura (1111): Salvatore Cammilleri, missionário siciliano do PIME, expulso da Guiné em 1973 por ordem de Spínola, autor de "A identidade cultural dos balantas" (Lisboa, 2010, tr. do italiano: Lino Bicari e Maria Fernanda Dâmaso) - Parte I (Luís Graça)

Capa do livro de Cammilleri, Salvatore - A identidade cultural do povo balanta.

Lisboa: Edições Colibri; Edições FASPEBI,  2010, 110 pp.,  ilustrado. (Tradução do italiano:  Lino Bicari e Maria Fernanda Dâmaso).


1. O autor, padre católico, missionário, do PIME (Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras, fundado em Itália em 1850), nasceu na Sicília, em 1939. Aos 29 anos foi para a antiga província portuguesa da Guiné (, hoje República da Guiné-Bissau). Estava-se então em plena guerra colonial e a Igreja Católica procurava adaptar-se aos novos tempos, e à nova geopolítica do mundo, com o Concílio Vaticano II (1962-1965) e com o Papa Paulo VI (1963-1978).

As relações do PIME (ou de alguns dos seus missionários)  com as autoridades portuguesas da Guiné  nunca foram pacíficas… E em 1973, o autor terá tido problemas com a polícia política e as autoridades militares, acabando por ser expulso do território por ordem de Spínola. O que se pode ler na contracapa do livro: Salvatore Cammilleri escolheu um dos lados do conflito, o que o levou a “colaborar com o difícil processo de libertação do país” (sic).

Já anteriormente, no princípio da guerra, tinham sido expulsos dois missionários italianos do PIME: o Mário Faccioli (1922-2015), que estava em Catió; e o António Grillo (1925-2014), que estava em Bambadinca (*)

O Salvatore Cammilleri regressou em 1975, depois da independência. E é neste período, já com 36 anos, que terá decidido tornar-se “etnólogo”, passando a dedicar mais tempo ao estudo da cultura dos balantas, grupo étnico com o qual mais conviveu e trabalhou, nomeadamente em Tite, na região de Quínara, ao mesmo tempo que aqui desenvolvia atividades na área da saúde, incluindo a “construção de um hospital”. 

Vinte anos depois, em 1995, apresenta na Universidade de Génova o trabalho final da sua licenciatura (em filosofia, presumimos),   com o título “Essere Alante, essere Anin” (Ser Homem, ser Mulher). Foi feita, em livro,  a publicação parcial desse trabalho final de licenciatura apresentada na Universidade de Génova (Faculdade de Filosofia), no ano académico de 1994-95:  “Identità culturale dell’uomo africano atraverso i riti d’iniziazione presso il popolo 'Brasa', Guinea Bissau – Africa Occidentale". (O termo "tese" é para os doutoramentos; o termo "dissertação" é para os mestrados, dois graus académicos que correspondem hoje ao III e II Ciclos de Bolonha, respetivamente.)

O livro está traduzido e editado em português: Cammilleri, Salvatore - A identidade cultural do povo balanta. Lisboa: Edições Colibri; Edições FASPEBI,  2010, 110 pp.,  ilustrado, ISBN: 9789896890377, brochado, preço de capa: 8,00 €. (Tradução do italiano:  Lino Bicari e Maria Fernanda Dâmaso).

O livro está dividido em 4 partes, sendo a I, "o contexto histórico", e a II, "a situação económica e social", de resto as menos originais e menos interessantes. As partes III e IV é que têm a ver com o essencial do estudo, que não é filosófico mas etnográfico:  A integração social  da mulher e do homem,  balantas (pp. 37-98), segundo os respetivos ritos e etapas de iniciação. A obra é ilustradas com 20 fotos a cores.

 Na apresentação (pp. 7/8),  o autor faz duas prevenções ou levanta duas questões pertinentes:  (i) o que é ser "estrangeiro";  e (ii) o povo "brasa" e os seus segredos.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Nhabijões > 1970 > Luta balanta, entre dois "blufos", presenciada por militares destacados para protecção do reordenamento (à esquerda, o furriel miliciano Luís Manuel da Graça Henriques, da CCAÇ 12, de calções, tronco nu e óculos escuros, hoje editor deste blogue e autor desta nota de leitura)... Ao fundo, a nova tabanca, reordenada... Nhabijões deve ter sido o maior ou um dos maiores reordenamentos jamais feitos no tempo de Spínola. Foi um duro golpe para o PAIGC. Os reordenamentos são do tempo do BCAÇ 2852 (1968/70) e BART 2917 (1970/72)... Uma equipa (técnica) da CCAÇ 12 foi destacada o reordenamento. 

Foto do arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-Fur Mil At Inf, Op Esp, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


De resto, esses são sempre os constrangimentos (ou inibições) dos etnólogos: eu sou estrangeiro. mas quero conhecer-te, a ti e ao teu grupo; pertenço à cultura europeia ocidental (e, podia acrescentar: "sou homem, padre, católico, missionário, e os meus pares querem evangelizar-te", já que a religião católica é proselitista como a religião muçulmana e outras).  Por outro lado, o dono da casa que me acolhe, "vive  zelosamente a sua identidade cultural africana" (p. 7). Numa situação de "observação participante",  é impossível não comunicar, e não passar os valores de um e de outro grupo...

Põe-se aqui um questão ética, deontológica, até mesmo epistemológica: pode um cientista social fazer investigação independente, "ao mesmo tempo" que desempenha outros papéis sociais ou socioprofissionais ? Por exemplo, ser missionário, médico, arquiteto, gestor hospitalar, administrador, militar... Salvador Cammilleri é pároco de Tite, está a construir e a gerir um hospital, é admirador do povo balanta e...etnólogo (ou etnógrafo).

O caso não é virgem: António Carreira, o maior etnólogo (ou etnógrafo) da Guiné, era administrador colonial e depois administrador da Casa Gouveia (e a quem., de resto, é imputada a responsabilidade, pelo menos moral, do "massacre do Pigiguiti, ou Pindjiguiti, como se diz hoje em crioulo, no dia 3 de agosto de 1959, acontecimento habilmente explorado "a posteriori" pelo futuro PAIGC).

A resposta não é fácil. A verdade é que Salvatore Cammilleri acumulou ao longo de mais de 2 dezenas de anos um precioso conhecimento empírico da língua e dos usos e costumes do povo balanta, por quem tem uma especial predileção. De resto, o mesmo se passou com os padres Mário Faccioli, em Catió, e António Grillo, em Bambadinca, que sempre tiveram uma "relação especial" como os balantas.

A explicação pode ser esta: no grupo das etnias "animistas", os balantas serão, provavelmente, os mais "recetivos" à mensagem do cristianismo; por outro lado, os missionários católicos terão mais dificuldade em lidar com as populações que já são historicamente muçulmanas, como é o caso dos fulas e dos mandingas.

Na nota introdutória, o autor também evoca o "tornado histórico" (invasões, migrações, viagens, contactos com outros povos e religiões, esclavagismo, colonialismo, guerra colonial, guerra civil, imperialismo...) aque foi sujeito o continente africano, e em particular o território da Guiné (hoje bem mais pequeno do que no passado). Apesar disso, "a cultura africana em geral e a urasa [, balanta,] em particular tem resistido e conservado a sua identidade tradicional" (p. 7).

Infelizmente, não estamos tão seguros disso... De qualquer modo, o autor coloca-se na perspectiva mais etnográfica do que sociológica. Ficamos sem saber até que ponto  vai hoje a resistência do povo "brasa" à "aculturação" imposta do exterior, com o êxodo rural, a urbanização, a diáspora, a economia mercantil e a globalização (a par da cristianização e islamização de algumas minorias balantas).

O dilema do autor, que não é um académico, revela a sua "convição" de que "só a partir do conhecimento de um povo como tal, pode nascer outro projeto de confronto, de diálogo e de intervenção a seu favor" (p. 8).  O encontro de duas culturas tem um duplo risco; cair no erro de uma "exaltante superioridade" ou deixar-se  arrastar por uma "resignação interesseira".

Utilizando a metodologia da investigação etnológica, a "pesquisa no terreno", a observação participante, o objeto de estudo do autor foi "o sistema educativo em ação do povo brasa, isto é, das classes de idade e dos rituais de iniciação", e a partir dái "definir o perfil do homem e da mulher adultos", tal como são moldados pela "tradição ancestral" (p. 8).

O risco do autor é o de considerar o pov so brasa como "o bom selvagem", na esteira de resto de Amílcar Cabral... [Para ele, os balantas representavam a sociedade horizontal, tendencialmemte igualitária, "sem estratificação", embora gerontrática... No outro extermos, estavam os fulas, "sociedade semi-feudal" e, para mais, historicamente aliada dos colonialistas. Entre os balantas, era o  conselho dos anciãos da aldeia (ou de um conjunto de aldeias, em geral ribeirinhas e próximas) que tomava as decisões relativas à vida comunitária. A propriedade da terra era da aldeia.  Cada família recebia uma parcela para trabalhar. Os instrumentos de produção, por sua vez, pertenciam à família ou ao indivíduo. O balanta era monógamo, dizia Amílcar Cabral,, apesar de 'fortes tendências para a poligamia' (sic). A mulher teria mais liberdade e estatuto na aldeia balanta do que entre os fulas.  O que Cabral parecia omitir ou não valoirizar, nos seus escritos,  eram os seus rituais de passagem, a cultura da virilidade (o culto do "macho"), a conflitualidade com vizinhos, o tribalismo, o uso e o abuso do consumo do “vinho de palma” e das suas eventuais consequências (v.g., saúde mental, violência doméstica, comportamentos antissociais.] (**)

O "outro lado da lua dos balantas" também é ignorado por Salvatore Cammilleri que, algo estranhamente, faz questão de ocultar, nesta edição portuguesa (não conhecemos a italiana), certos pormenores da cultura brasa, por mor dos anciãos que os querem continuar a manter "secretos" aos olhos dos vizinhos e dos estrangeiros.

Por outro lado,  vejo que o autor, homem, padre católico, italiano, siciliano,  não se sente tão à vontade a falar da mulher balanta / brasa, daí o  recurso à colaboração da irmã missionária Maristella  De Marchi (p. 40).

O trabalho de campo foi feito na setor de Tite, em cinco aglomerados populacionais a seguir discriminados (entre parêntesis o número de famílias entrevistadas): Tite, centro urbano (4); Foia, a norte (8), Flak ndekte, a leste (6), Tite ni hãn, a oeste (6), e Bissassima, a oeste (8). Total de famílias: 32.

O autor faz questão de referir que todas as pessoas que foram os seus informantes privilegiados são adultos, anciãos, "em nada influenciados nem pela atividade escolar do Estado, nem pelas religiões importadas, Islão e Cristianismo" (p. 40)... As entrevistas foram gravadas e em parte traduzidas e transcritas em "língua crioula", com a ajuda de "alguns jovens iniciados", citados na p. 40. O que também é revelador das dificukdades e obstáculos com que se depara a investigação etnológica de grupos e populações sem escrita-

O autor tem, na p. 9, uma "nota linguística" sobre o modo como procedeu na transcrição dos fonemas da língua brasa: utilizou os signos gráficos da língua italiana e, complementarmente,  os símbolos do alfabeto internacional (sempre que não havia correspondência entre o italiano e o brasa)...E , como todas as línguas, há alguns sons especiais na língua balanta: por ex.,  N'h e n'h ("Consoante dupla: nasal velar e fricativa velar [h]") (p. 11): N'hala é o ser supremo, o deus criador, a origem de todos os seres... (p.99), embora o vocábulo seja polissémico, significando também a abóboda celeste,  o lugar da fecundidade donde vem a chuva, esposa de N'hala (...); é ainda a casa de N'hala (...); os conceitos de sorte, sucesso, destino dos homens e dos acontecimentos (...); razão universal ou justificação última de toda a realidade existente" (pp. 99/100).

Como dissemos a edição portuguesa tem a colaboração dos tradutores Lino Bicari e Maria Fernanda Dâmaso (que, pela nota publicada no final, pp. 105/106, parecem-nos ser especialistas em linguística e etnologia, de qualquer modo profundos conhecedores do crioulo, da história e da cultura da Guiné-Bissau).

Numa primeira leitura, achamos que a tradução podia ser um pouco  mais cuidada, num ponto ou noutro, a começar pelo etnónimo "brasa" [que em português também já vi grafado como "braza" ou como "brassa", mas não constam ainda, estes três vocábulos, nos nossos dicionários: Priberam, Houaiss; noutras línguas já vi grafado como "brasa" (em francês) e "brassa" (em inglês)].  Enfim, outros casos de etnónimos, escreve-se biafada e beafada, manjaco e manjak...

A tradução segue o novo ortográfico. A edição portuguesa tem o apoio financeiro da Fondazione PIME ONLUS.


2. Numa pesquisa pela Net, descobrimos que Lino Bicari é um ex-padre, italiano, missionário do PIME que no início dos anos 70 descobriu outra vocação, levado pelo romantismo revolucionário de Che Guevara e Camilo Torres (também ele ex-padre).   Nascido em 1936, aos 23 anos,   Lino Bicaria aderiu à guerrilha do PAIGC e é o único estrangeiro que tem o estatuto de combatente da liberdade da Pátria. Viveu 23 anos na Guiné-Bissau. Radicou-se em Lisboa em 1990. Dele disse o jornalista João Paulo Guerra, no jornal Público,  de 24 de setembro de 1990:

(...) Não é um homem desiludido, mas um homem amargo quer hoje, à margem da Igreja e do Estado da Guiné-Bissau, continua, no entanto, a afirmar-se religioso e militante do PAIGC." (...)

É a primeira vez que ouço falar no nome deste Camilo Torres italiano (que, apesar de tudo, não acabou tragicamente como Che Guevara e Camilo Torres)... Fui saber mais, socorrendo-se da entrevista com ele, feita pelo João Paulo Guerra ("Crónica dos feitos da Guiné: A última missão do padre Lino").

(...) "O padre Lino Bicari chegou à Guiné em Maio de 1967. Tinha 31 anos, um curso teológico e formação em medicina tropical, em psicopedagogia e didáctica e etnologia. De passagem por Lisboa, meteu na bagagem curso rápidos de língua portuguesa e administração colonial e, como todos os missionários destinados às colónias portuguesas, assinou compromissos renunciando aos seus direitos como cidadão italiano e submetendo-se às leis e tribunais portugueses, à Concordata, ao Acordo e ao Estatuto missionários.

Na Guiné vivia-se o quarto ano de guerra e Lino Bicari foi colocado em Bafatá, a cidade natal de Amílcar Cabral. A guerra, para ele como para os outros missionários, significava ouvir tiros Ao longe e viver num centro populacional sob controlo militar, de onde só podia ausentar-se à luz do dia.

(..) Foi em Itália, onde se deslocou em 1972 no âmbito de um programa de apoio ao Terceiro Mundo, que o padre Lino Bicari conheceu José Turpin, dirigente do PAIGC e, por seu intermédio, trocou correspondência com Amílcar Cabral. Quando tomou a decisão da sua vida, resolvendo trabalhar com o PAIGC, a Secretaria de Estado do Vaticano sentiu-se embaraçada. Não disse que sim, nem que não, e acabou por consentir, pedindo-lhe apenas que, formalmente, se desligasse do [Pontifício] Instituto para as Missões Estrangeiras [PIME]

(...) "No final de 1973, proclamado já o Estado da Guiné-Bissau, Lino Bicari entrou de novo no território. Mas, dessa vez, não levava o visto de Lisboa nem as guias de marcha do colonialismo missionário. Entrou através da fronteira com a Guiné-Conakry, numa ambulância da Cruz Vermelha e foi instalado pelo PAIGC na região de Boé, a sul de Madina, como responsável pelo Hospital Regional. 'Não era uma base de guerrilha mas uma zona totalmente libertada, defendida por forças armadas locais e, dada a sua configuração geográfica, de difícil acesso às tropas portuguesas', recorda Bicari." (...).

Mas voltemos ao nosso amigo do povo Balanta / Brasa, Salvatore Cammilleri (, apelido comum na Sicília) (***). E, já agora, porquê balanta, porquê brasa ?  São dois etnónimos curiosos que merecem uma explicação mais detalhada, na II parte da nossa nota de leitura. (****)

(Continua)
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


22 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14065: (Ex)citações (256): Eu gostava de saber um pouco mais sobre esse missionário italiano, o padre António Grillo (1925-2014), que tinha um especial carinho pelos balantas de Samba Silate (e era respeitado por eles) (A. M. Sucena Rodrigues, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972-74)

(**)  Vd. poste de 30 de junho de 2008 > Guiné 63/74 - P3000: Bibliografia (28): Amílcar Cabral: nada mais prático do que uma boa teoria (Luís Graça)

(***) Vd. também poste de 13 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10258: Notas de leitura (391): A Identidade Cultural do Povo Balanta, de Padre Salvatori Cammilleri (Mário Beja Santos)

(****) Último poste da série > 15 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19104: Notas de leitura (1110): Os oficiais milicianos paraquedistas da FAP, volume I: os que combateram em África (1955-1974)- Um trabalho sério, rigoroso e honesto de mais de 2 anos, de José da Fonseca Barbosa, em homenagem a uma geração de portugueses que ajudaram a escrever algumas das mais belas páginas de sacrifício e abnegação da nossa história contemporânea (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72)