segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19104: Notas de leitura (1110): Os oficiais milicianos paraquedistas da FAP, volume I: os que combateram em África (1955-1974)- Um trabalho sério, rigoroso e honesto de mais de 2 anos, de José da Fonseca Barbosa, em homenagem a uma geração de portugueses que ajudaram a escrever algumas das mais belas páginas de sacrifício e abnegação da nossa história contemporânea (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72)


Capa do livro de José da Fonseca Barbosa, "Oficiais milicianos pára-quedistas da Força Aérea Portuguesa: volume I: Os que combateram em África, 1955 a 1974. Porto: Fronteira do Caos, 2018, 343 pp.


Jaine Silva: leste de Angola (c. 1970/72)
1. Nota de leitura do nosso camarada Jaime Bonifácio Marques da Silva, membro da nossa Tabanca Grande, natural de (residente em)  Lourinhã, preofessor de educação física, docente reformado do ensino superior politécnico, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72 [, foto à direita]


 Introdução

José da Fonseca Barbosa  fundamenta e aborda com grande seriedade e objetividade o papel dos oficiais milicianos paraquedistas que participaram na Guerra em África.

 “Dos milicianos, no geral, diz-se que ... 'não se sabe quase nada'...". Enfim, "a sua história ainda está por fazer.” (...) "Na História, são praticamente ignorados e o seu sacrifício a Pátria ignora”.  talvez porque “ quando se faz a história, são os QG que a escrevem, logo ...”

Eles, escreve ainda o autor, “estão  entre os que contribuíram para que as Tropas Paraquedistas portuguesas deixassem escritas. a letras de ouro, páginas duma história que já leva 60 anos de existência, é justo e inteiramente merecido que se refira o conjunto de oficiais Milicianos Paraquedistas”.

Alicerça o seu trabalho na pesquisa que efetuou nos arquivos das Tropas Paraquedistas, nos testemunhos de um grande número de Oficiais Milicianos que fizeram a guerra e na bibliografia disponível,  alusiva ao tema.

Na minha modesta opinião, considero a obra de José da Fonseca Barbosa  de inegável valor histórico e pedagógico, não só pela seriedade com que fundamenta e organiza a pesquisa , mas também   pelo importante contributo que dá para o estudo e compreensão do papel dos Oficiais Milicianos Paraquedistas durante a guerra colonial.  

O seu trabalho alerta ainda, por analogia, para que  o país não  esqueça  o  contributo de todos os outros oficias milicianos que serviram nos restantes Ramos das Forças Armadas Portuguesas nas três frentes da  Guerra em África. Sem o contributo dos Oficiais Milicianos, seguramente que o decisores políticos e militares não conseguiriam aguentar por tantos anos essa guerra, reconhecidamente travada “fora do  tempo histórico” em que se realizou.


Sobre o autor:

José da Fonseca Barbosa viveu em Angola  até 1975. Depois de concluir o COM na EPI (Mafra), ingressou nas tropas Paraquedistas em 7 de junho de 1976. Pertenceu ao 92.º curso de Para- quedismo,  tem o Brevet n.º 13436 e serviu nas Tropas Paraquedistas até março de 1983.

Nas Paraquedistas desempenhou várias funções nomeadamente a de instrutor militar, chefe do Centro de Treino Físico, 2.º comandante e comandante de subunidades de Apoio de Serviços, designadamente de destacamento de Apoio e Serviços de missão portuguesa na IFOR/SFOR na Bósnia Herzegovina, durante o ano de 1996.

 Do seu currículo consta, ainda: “ A sua formação militar inicial foi marcada pela influência da geração que combateu em África, pela história que construiram, pela forma como o fizeram. Do legado dos combatentes retirou luzeiros que orientaram toda a sua carreira militar.
Passou à situação de reserva em 31 de dezembro de 2002".


Sobre a obra:

O autor apresenta o seu trabalho ao longo de 343 páginas e, depois da “Dedicatória”,  “Agradecimentos” , “Introdução – Razões e Retrospetiva” e “Notas do  Autor”, desenvolve o objeto do seu estudo em seis capítulos.

Dedica o seu trabalho a todos os oficiais Milicianos Paraquedistas de ontem, de hoje e a todos os que fizeram dele soldado, paraquedista, boina verde e o acompanharam como oficial e militar e agradece a todos os paraquedistas ou não que o ajudaram a levar por diante este empreendimento.

Refere, ainda, as dificuldades  que encontrou na recolha da informação e as opções que teve de  tomar para organizar a obra e esclarece a razão por que decidiu dividir o trabalho em dois volumes:

O Volume I, referente ao período de 1955 -1974, é dedicado aos que combateram em África, perfazendo um total de 197 brevetados;   e o Volume II,  referente ao período 1975 – 1993, corresponderá  à geração pós Império, com 97 brevetados. 


Notas do autor (pp.. 11 – 14)

"A organização da informação pesquisada e recolha ao longo de 25 meses, bem como a redação do texto, são da minha responsabilidade", escreve o autor.

Alerta o leitor para não esperar encontrar na sua obra histórias, análises profundas e/ou reflexões demasiado elaboradas e muito menos juízos de valor sobre atos e atores, mas outrossim, cópias, transcrições, relatos e testemunhos feitos por quem viveu um determinado período de História das Tropas Paraquedistas com o estatuto de oficial miliciano..

A fundamentação do seu trabalho, escreve, está comprovada em todas as Ordens de Serviço (BCP/RCP/BET e BCP 21/ BCP 31/BCP 32/ BCP 12) que foram passadas página a   página  de 1956 a 1978, bem como testemunhos que recolheu e na bibliografa existente da especialidade.

Alerta o leitor, ainda, para as dificuldades que encontrou na numeração de Brevet que não coincide com o números do diploma,  as divergências que encontrou, também,  na numeração sequencial dos cursos de paraquedismo e as imprecisões quanto à data do início das Comissões de Serviço no Ultramar.


Capitulo 1 - COMO FOI (pp. 15 - 86)

No capitulo 1 o autor enumera, primeiro, por ordem cronológica, o número de cursos de paraquedismo e de oficiais milicianos participantes  desde   o primeiro curso terminado em
Alcantarilha a 15 de abril de 1955 até ao último curso em 1974.

 Na segunda parte deste capítulo o autor aborda com grande oportunidade todos as fases da formação pelas quais tiveram de percorrer  e ultrapassar os  oficiais  Miliciano paraquedista, desde as “as  razões pelas quais quiseram servir nos Paraquedistas”  até à enumeração de todos os fatores que prevaleceram até hoje e são únicos na identificação de um Paraquedista como: “Tradições ... Princípios e valores ... identidade”.


Capítulo 2 - QUEM FORAM E QUEM SÃO (pp. 87 - 181)

Para a concretização do seu trabalho José da Fonseca Barbosa, com os condicionalismos que encontrou e  mencionou na sua “Introdução”, apresenta os testemunhos recolhidos entre alguns dos milicianos, concretamente: “o que nos dizem alguns dos que deram o seu testemunho escrito
individualizando (...), o que fizeram/ fazem depois de cumprido o serviço militar como oficiais milicianos.”

Para além de um quadro síntese, analisa individualmente o percurso de vida de cada um por curso, terminando com as fotografias (rostos com nome) e a lista nominal.


Capítulo 3 - O QUE FIZEERAM E COMO FIZERAM ( pp. 183 - 234)

O autor introduz o capítulo com um subtítulo bem a propósito - Uma História por fazer? - e afirma: “Dos milicianos, no geral, diz-se que ... não se sabe quase nada...”

Ao longo do capítulo descreve as “funções desempenhadas” pelos milicianos (para além de comandantes de pelotão), enumera em cada ano, a partir de 1961, “Quem e Quando Foram” prestar serviço em cada uma das Unidades no Ultramar e “O papel que tiveram na guerra” e termina com a lista de “Aqueles, que pelos ilustres feitos foram condecorados”


Capítulo 4 - IMAGENS DE UM TEMPO PASSADO (pp. 235 - 315)

Neste capítulo o autor dá a palavra às imagens. Durante 80 páginas documenta, numa primeira parte, com uma sequência fotográfica as várias etapas da formação de um paraquedista, evocando nas restantes, figuras e nomes de muitos dos milicianos que contribuíram para a história dos paraquedistas.


Capítulo 5 – O BALANÇO FEITO (pp. 317 - 331)

O autor, através do testemunho de alguns milicianos,  faz o balanço do que foram aqueles anos vividos há meio século para alguns e dezenas de anos para outros.

Termina o seu trabalho com um voto.

“Voto a fechar: Que os atuais e vindouros Oficiais Milicianos Para-quedistas saibam aproveitar o melhor que lhes foi legado e que sejam dignos descendentes e continuadores da obra dessa plêiade de homens que ajudaram a escrever das mais belas histórias de sacrifício e abnegação da nossa História Contemporânea.”


Jaime Silva
CAPÍTULO 6 - AQUELES QUE PELO “LAJEDO DO SACRIFÍCIO”, POR LÁ SEQUEDARAM.

Em África tombaram seis: Três na Guiné, dois em Angola e um em Moçambique.


Jaime Silva

[Cumpriu o Serviço Militar Obrigatório nas Tropas Paraquedistas como Oficial Miliciano, sendo mobilizado para uma comissão de serviço em Angola no BCP 21 (1970/1972); tem cerca de meia centena de referências no nosso blogue, foto atual à esquerda]

Sem comentários: