sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19118: 'Então, e depois? Os filhos dos ricos também vão pra fora!'... Todos éramos iguais, mas uns mais do que outros... Crónicas de uma mobilização anunciada (6): Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Virgílio Teixeira, aspirante a oficial miliciano, com a especialidade de SAM - Serviço de Administração Militar. Foto para o BI militar. Junho de 1967.


Foto (e legenda): © Diniz Souza e Faro (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Comentário ao poste P19106 (*):

Autor: Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, set 1967/ ago 69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de de 90 referências no nosso blogue.

Há casos e casos, e lá vem o meu caso.
Não era rico, nem mais ou menos. Não era filho de General nem de Coronel. 200 contos [, na época,] era uma visão de uma estrela.

E mesmo assim, vou parar a uma coisa que alguns gostam de chamar de 'escritório' no meio do mato. 

Alguém tem de fazer esta função. Quem?  Aqueles que estão habilitados, se alguém tinha de saber alguma coisa e aplicá-la era no SAM - Serviço de Administração Militar.

Porque me calhou a mim? Na especialidade fui um zero, porque não ligava àquilo. Foram as provas físicas e militares, de tiro e aplicação militar que me deram as maiores notas, e assim puder passar o curso do COM [, Curso de Oficiais Milicianos].(**)

Mas tínhamos os psicotécnicos, faziam-se testes, tinha-se o curriculum. E o meu estava acima de qualquer suspeita. Já tinha 12 anos de trabalho em cima, com contribuições para a Segurança Social, a Caixa de Previdência, que muitos nem sabem o que isso é.

Passei pela Escola Comercial, passei pelo Instituto Comercial, estava na Faculdade de Economia [do Porto], que mais era preciso para ir para a minha especialidade?

Podem ser todos burros na tropa, mas não iam desperdiçar um 'quadro' já formado cá fora e mandá-lo para "infante" ou coisa melhor. 


Depois foi coisa de aprendizagem e para quem já tem as bases, não custa nada.

Um menino, vindo do Liceu, muito dificilmente agarrava esta especialidade, era assim tratada tipo elite, não tenho vergonha de o dizer, só tinha uma pessoa a mandar em mim, o meu Chefe, nem o comandante do batalhão me dava ordens.

Agora há outras coisas facilmente explicáveis, e isso já está atrás proferido nas insinuações e bem feitas. O meu Tesoureiro, por exemplo, fazia parelha comigo no CA ], Conselho de Administração], a função dele era ir uma vez por mês a Bissau levantar o p
atacão e distribuir pelas Companhias, nada mais. Trabalhamos dois anos e nas assinaturas nunca notei a designação dele. Eu assinava Virgilio Teixeira e por baixo, Alf Mil do SAM.

Esse cara, de que falei agora, vi nuns documentos passado quase 50 anos, que ele assinava 'Alferes Miliciano de Infantaria'. Fiquei pasmado. Consegui o email dele na Ordem dos Advogados, e perguntei-lhe assim directamente: "Como é que um alferes de infantaria vai para Tesoureiro do Batalhão?"

Ainda aguardo a resposta, e já lá vão uns 3 anos.

Mas ir parar à Guiné já é um grande castigo de Deus, e todos nós, de uma forma ou outra, levamos no pelo por causa disso.
Ainda tenho uma 'micose' qualquer aqui no pé, que trouxe da Guiné, dei por ela em 1969 antes de embarcar, devia ter feito o mesmo tratamento que tinha feito a outra, com tintura de iodo, mas não fiz e cá está. 

Uma lembrança da Guiné, com amor.(***)

Virgilio Teixeira
________________

(**) Vd. postes de:

2 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18704: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXIII: Como se faz um alferes miliciano do Serviço de Administração Militar (I)

6 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18715: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXIV: Como se faz um alferes miliciano do Serviço de Administração Militar (II)

6 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Camaradas, precisamos de mais histórias !... Como é que foi contigo ? Puseste cunha, não puseste cunha ? Ou a tua cunha era mais pequena que a minha ?...


Se não puseste cunha, tens histórais de outros camaradas, teus conhecidos... LG

paulo santiago disse...

Escrevem-se uns post's em que fico na dúvida...é realidade?ou é ficção?
Pensava que na especialidade de SAM,o forte seria contabilidade,gestão,
mas,pelo que li,importante era o tiro e a aplicação militar...talvez onde
está especialidade devesse estar recruta,talvez...
Peço desculpa,não consigo imaginar numa CCS,dois Alferes Milicianos,a trabalharem
em conjunto,durante dois anos,e um deles,só ao fim de 50 anos,saber que o outro,o
Tesoureiro,também era Alferes...
O Tesoureiro não andava fardado?

Santiago

Anónimo disse...

Então vou explicar melhor.
A recruta em Mafra, jan,fev,mar67 foi uma brincadeira para mim. Eu já fazia coisas daquelas desde criança, menos o Tiro é claro.
A verdadeira 'recruta' foi mesmo na EPAM, meio dia para a especialidade, e outro meio para dar no duro, continuo a dizer que não para mim, tudo isso eram brincadeiras de criança, menos o Tiro, claro. Fiquei em Nº 1 em todas as áreas ditas de militar, infante. Ajudei alguns colegas a carregar as armas nos crosses de 17 e 20 kms, porque eu tinha realmente uma grande experiencia, e força física, apesar da minha leveza, de 47 quilos.
O CA era formado por 3 elementos: O Presidente (Major) o Chefe da Contabilidade, alferes miliciano do SAM,(eu) e o Tesoureiro, um Alferes que devia ser de uma especialidade tirada na EPAM. Claro que andávamos todos fardados, claro que ele assinava os papeis todos, os 3 membros do CA. Nunca reparei que por baixo da assinatura ele escrevia Alf Mil de Infantaria. Só passados 45 anos vi um papel.
Nunca lhe perguntei qual era a especialidade dele, agora que devia ter uma 'cunha' era aí que eu queria chegar, por isso era muito chegado ao Comandante do Batalhão e eu não era 'um menino bonito dele'.
Resumindo é isto, e aqui, como em todas as coisas que escrevi, 'não há ficção' a não ser quando expressamente digo que se trata de uma ficção.

Há coisas difíceis de encaixar, mas é assim, aliás, foi mesmo assim.
Quanto a tiro eu era um especialista durante o curso, e no IAO em Santa Margarida.

Estou aqui para esclarecer mais dúvidas, para quem as tiver.

Obrigado,
Virgilio Teixeira

Anónimo disse...

Luis onde foste buscar esta foto, de todas a que menos gosto. Este Boné da farda de gala, foi a minha mulher, na altura a minha namorada, que o comprou, juntamente comigo numa casa de especialidades de fardamento, na Rua de Santo António no Porto. Foi a prenda dela pelo fim do curso, mas a ideia era ir comprar os galões de alferes, pois em breve iria precisar deles. Havia o 'Casão Militar' mas não eram tão perfeitos, e ela gostava e gosta da perfeição. Depois o casaco para a foto, foi do meu irmão ou do meu pai, vesti no fotografo, e depois da foto, nunca mais soube do Chapéu, até hoje. Não gosto muito dela, pois parece-me um boneco de gesso, com uma cara de menino de coro, e já tinha os meus 24 anos e tal. Além disso falta aqui nesta foto os meus óculos, esta não era a minha cara nessa época, eu já usava óculos de ver ao longe - estigmatismo - desde os meus 18 anos, por isso acho estranho como fui fazer uma foto destas!
Eu gostava mais das fardas camufladas, com todos os roncos. O meu irmão que tinha chegado de Angola quando eu parti para a Guiné, emprestou-me a sua farda camuflada, mas especial, almofadada, parece igual a estas das tropas dos EU no Iraque. Tenho algumas fotos interessantes na Guiné, não passava despercebido, todos queriam saber como se arranjavam estas fardas, mas eu não sabia, além disso eram mais quentes.
Não sabia que o meu comentário iria dar origem a um novo Poste e Tema, senão faria tudo com mais cuidado, pois normalmente escrevo ao sabor da pena, como se estivesse a conversar com alguém, e assim evitavam-se alguns mal entendidos.
Eu já devia perceber que muitos leitores andam só à procura de falhas para 'criticar' e eu sou avesso a criticas, é o meu feitio ou defeito.
Virgilio Teixeira

Hélder Valério disse...

Ora bem....
É evidente, e natural, que cada um, cada qual, tenha a sua história.
E, com ela, teremos uma 'visão' própria que será, muito naturalmente, diferente das de outros camaradas. Até porque, como se vai dizendo agora, "cada caso é um caso".

O que o Virgílio nos conta não deixa de ser interessante, pelo menos na medida em que os que não tiveram a 'proximidade' com as actividades do pessoal do SAM podem assim fazer uma ideia mais aproximada. Quanto ao aspecto das "cunhas".... bem, isso hoje já pouca importância terá mas, tal como as bruxas, embora não acreditando, lá que as há (houve e há) isso há.

Relativamente à foto... amigo Virgílio, podes não gostar, pode até estar diferente da realidade da época (até pela questão dos óculos) mas não deixa de ter 'piada' e ser uma imagem de marca de uma época.

Abraço
Hélder Sousa

Anónimo disse...

Caro amigo Helder,
Já fico bem mais confortado, a foto realmente é uma imagem de marca, mas não sei porque a tirei sem óculos, pois nunca os largava, nem podia, fazia-me dores de cabeça não usar.
As 'cunhas' sempre existiram, e continuam hoje mesmo, todos o sabem.
Conheço e conheci gente bem na vida, filhos de pais de grandes fortunas, com muitas 'conection' e foram parar à Guiné e para o mato.
Um meu amigo de infância, filho de pai operário, vivendo numa 'ilha' do Porto (sabem o que é uma ilha?) foi tirar Direito em Coimbra com bolsa de estudo, ele era quase filho da minha mãe, que lhe dava de comer, pois ele não se alimentava bem. Somos da mesma idade, eu fui já com 2 anos de atraso, ele ficou, ainda foi para 'Magistrado' fez dois anos como Juiz, e depois já velhinho foi para a Guiné fechar as portas, porque não tinha cunha, era de origens pobres, mas chegado lá para onde devia ir? Para o mato? Não. Era um desperdício. Foi para aquilo que lhe competia, QG / Serviço de Justiça, claro, aproveitando o CTIG os seus conhecimentos. Hoje é Juiz Conselheiro aposentado.
Tal como eu para o SAM, só que não fiquei em Bissau. Tinha lugar se alguém desse um empurrão, ficar no QG / Chefia de Contabilidade, como alguns dos meus colegas de curso, aliás eu conhecia-os a todos. Há algum problema? Não.
Abraço, Virgilio