domingo, 14 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19101: Blogpoesia (589): "Com um ponteiro de lousa...", "É amarelo o Outono" e "Pardo e negro", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Com um ponteiro de lousa...

Com um ponteiro de lousa aprendi a escrever algarismos e letras.
Aguçava-lhe o bico quando já gasto,
numa pedra macia.
Parecia uma chama, ardia, ardia.
Ensinou-me a escrever e contar,
com tabuada precisa.
Desenhava bonecos. Depois apagava.
Um farrapinho de pano.
Jogava o jogo do galo.
Conhecia-lhe a manha.
Era sempre a ganhar.
Ficava tão triste se caía ao chão.
Aproveitava os pedaços.
Custava um tostão.
Já era freguês.
Na minha sacola,
A lousa e ponteiro,
Era meu caderno diário
A caminho da escola.
Lindo fadário descobrindo as luzes.
Anos de sonho, com banhos de rio.
Trepando às árvores,
P´rá fruta madura,
Ao alcance da mão.
Pecadinhos sem mal
Que tinham perdão...

dia fulgurante de sol
Berlim, 13 de Outubro de 2018
9h50m
Jlmg

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É amarelo o Outono

É amarelo o Outono,
Caiado de sol.
Sopra-lhe o vento e as folhas,
Em fúria, caem no chão.
Lá se foi a verdura à farta.
Agora, o frio aperta
E a neve se avizinha.
É a roda do tempo.
Locomotiva em marcha.
Nem o sol a queima.
Anda e não trava.
Tange-a a fome.
O destino a espera.
Rola que rola,
Parar é que não.
Se descarta da gente.
Quando menos se espera.
Não respeita a velhice.
A mocidade a trai.
Lufadas de vento
Agitam as folhas.
Coitadas, indefesas,
Se precipitam no chão,
Tapete da terra
Onde tudo começa e tudo acaba...

dia fulgurante de sol
Bar dos Motocas, arredores de Berlim,
11 de Outubro de 2018
10h53m
Jlmg

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Pardo e negro

Vejo este mundo pardo e negro,
Quem o toldou foi a humanidade.
Tantos erros.
Foi maltratada a terra que a sustenta.
Inquinadas suas fontes. Desventrado o seu ventre.
Na voragem do petróleo e seus desvios.
Na fome cega de domínio e exploração.
Semeando a morte e exterminando a vida.
Se arvorando em dona do que lhe foi emprestado.
Dispondo de tudo a seu belo prazer.
Permitindo fortes a oprimir os fracos.
Tirar-lhe tudo, até o pão.
Reduzir a cinzas a dignidade humana.
Só é bom o que lhes dá poder.

Ouvindo Loreena McKennitt - NIGHTS from the ALHAMBRA
Berlim, 9 de Outubro de 2018
15h50m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19079: Blogpoesia (588): "A gargalhada", "Duma vareta ressequida..." e "Minha terra", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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