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sábado, 20 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21922: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (20): O pão nosso de cada diz nos dai hoje, diz a "chef" Alice... E se for de farinha de trigo de Barbela, do Moinho de Avis (Cadaval, Montejunto,1810), ainda melhor!

Foto nº 1


 Foto nº 2


 Foto nº 3


Foto nº 4




Foto nº 5

Cadaval > Vilar > Vila Nova > Serra de Montejunto > 20 de agosto de 2015 > O nosso camarada e amigo Joaquim Pinto Carvalho levou-me, a mim, à Alice e mais uns amigos do Norte (o Gusto, a Nita e a Laura) até ao moínho do Miguel Nobre, no alto da serra... 

É conhecido como o moinho de Avis, tem mais de dois séculos de existência,,, Daqui vê-se, do lado do poente,  o oceano Atlântico, e do lado nascente, o rio Tejo e o estuário e, a sul, as serras da Arrábida e de Sintra, a norte as serras de Aire e Candeeiros... Dizem que é o mais alto da península ibérica, dos moinhos ainda a funcionar. O Miguel Nobre também é engenheiro de moinhos, uma arte e um ofício em risco de extinção, tal como a arte e o ofício de moleiro...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Foi com a farinha de trigo de Barbela, obtida neste moinho, que a "chef"Alice cozeu os absolutamente deliciosos pãezinhos que vemos nas fotos acima: uns com chouriço de porco preto e fatias de "bacon" (foto nº 1) e outros sem qualquer recheio... 

Tudo simples, cozido no forno a gás... Segredos ? Saber amassar um quilo e pouco de farinha (que tem um pequena percentagem de centeio), e usar o fermento q.b, deixar a levedar e...pôr ao forno (, que nem sequer é a lenha, como na Tabanca de Candoz).

Obrigado ao Miguel Duarte e aos "duques do Cadaval", régulos da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã), pela gentil oferta de um saco de cinco quilos de farinha (Fotos nºs 3 e 4).

O Moinho de Avis tem página no Facebook. E já teve direito a dois postes no nosso blogue, na época pré-covid, no já longínquo ano de 2015 (*).

Com a pandemia de Covid-19 a fazer um ano no próximo mês de março (!),  e com dois duros confinamentos gerais, continuamos aqui a  deixar algumas sugestões gastronómicas, nacionais e internacionais, apropriadas  às circunstâncias... Esperemos que elas contribuam também para o revigoramento  da nossa saúde física e mental...

Sabemos, de experiência própria, com 3 anos de tropa e de guerra, ao serviço da Pàtria, da Mátria e da Fátria, que não há um "bom moral na tropa" sem um bom rancho... E no rancho o pãozinho nosso de cada dia, esse,  não podia faltar... 

O famoso "casqueiro!... Faziam-se perigosas colunas para se ir buscar às sedes de batalhão os sacos de farinha que faltavam nas padarias improvisadas  dos nossos destacamentos e aquartelamentos no mato... Quantas belas (e algumas trágicas) histórias ainda haverá por escrever e publicar, aqui, no nosso blogue, sobre o Pão Nosso de Cada Dia Nos Dai Hoje!...

Como já temos dito, esperemos que os tempos que correm, com longos períodos trancados em casa, e muitas incertezas para o futuro, continuem  a ser  propícios à descoberta de talentos culinários dos camaradas e amigos da Guiné...

Vejam, caros/as leitores/as,  esta série como uma forma, bem humorada também, de diversificar a experiência de leitura do blogue e sobretudo nos ajudar  a combater a tão falada "fadiga pandémica"...  

Mandem-nos  fotos (com legenda...) das vossas habilidades como "chefs", para publicação nesta série, "No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande"...  É preciso voltar a indicar o email, que consta na coluna do lado esquerdo  ? Então aqui fica, mais uma vez, os endereços dos nossos editores: 




joalvesaraujo@gmail.com

luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

2. Na página do Facebook de Adolfo Henriques pode ler-se o seguinte artigo sobre o trigo Barbela... que  reproduzimos na íntegra, com a devida vénia (e os nossos parabéns ao autor por manter viva a tradição da cultura do trigo Barbela):

Trigo Barbela, um trigo escravo

Variedade de trigo mole cultivada desde tempos imemoriais em todo o Portugal, a sua cultura só tem perdurado, essencialmente, no distrito de Bragança e, a partir de agora, na Maçussa [, concelho de Azambuja]. Vamos proceder ao seu cultivo e aqui acompanharemos todas as fases, desde o semear até á prova do pão. Será moído da maneira tradicional, bafejado pelos ventos que sopram na Serra de Montejunto, no moínho de Aviz, obra do amigo Miguel Nobre que domina a difícil arte de usar o vento com maestria. 

Com este trigo se faz o delicioso Cusco de Trás-os Montes, em tempos usado como substítuto do arroz ou da batata por exemplo, ou ainda os célebres doces do mesmo nome. Com efeito, a variedade tradicional Barbela reúne um conjunto de características que lhe proporcionam grande rusticidade e capacidade de adaptação a difíceis condições climáticas. 

A sua capacidade de produzir palha em quantidade e qualidade também contribuiu para a preferência dos produtores da região pelo Barbela, apesar das entidades responsáveis pela cerealicultura nacional não lhe terem reconhecido ainda o devido valor agronómico e comercial. 

Para além disso tem um teor muito baixo de glúten. A conservação da variedade tradicional Barbela pressupõe a preservação de um conjunto de conhecimentos e práticas agrícolas transmitidas ao longo de gerações de agricultores. 

Obrigado ao meu amigo João Vieira pelas sementes e a Ana Maria Pinto Carvalho e Associação Tarabelo, de Vinhais,  pelas informações que disponibilizam na internet sobre o Barbela. Mais notícias em breve !

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 11 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21887: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (19): O cardápio secreto do "chef" Tony (Levezinho) - Parte I: ainda não é verão (, mas um dia destes há de ser!), e já me está a apetecer uma saladinha de queixo fresco e uma paelha, com um bom branquinho...

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20085: Manuscrito(s) (Luís Graça) (168): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (X e Última Parte - De 91 a 100 de 100 pictogramas)


Lourinhã > 22 de abril de 2017 > Frente à igreja do convento de Santo António (finais do séc. XVI), com a sua torre sineira e o relógio (que esteve muitos anos avariado),  uma réplica de "Stegosaurus" (7 m de comprimento, 3,4 de altura)... Este e outros dinossauros da Lourinhã evoluiram  no Jurássico  Superior (c. 150 milhões de anos).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






Cadaval > Vilar > Vila Nova > Serra de Montejunto > 20 de agosto de 2015 > O belíssimo  moínho do Miguel Nobre, no alto da serra... Dizem que é que é "o mais alto" da península ibérica, dos moinhos ainda a funcionar.

Daqui tem-se uma vista fantástica sobre o mundo, ou pelo menos sobre o meu/nosso oeste estremenho, do rio Tejo à serra de Sintra, o oceano Atlântico, as praias de Torres Vedras, Lourinhã, Peniche,  as Berlengas, a Serra dos Candeeiros... Está-se mais perto do céu e eu, da minha infância onde havia muitos moinhos e cabeços. Mas o mais fascinante é o moinho, o moinho de Aviz, e o seu dono, sem esquecer naturalmente a serra de Montejunto e os seus miradouros. O moinho, que ostenta o símbolo Aviz nas suas velas, estava em ruínas há uns anos atrás,  foi reconstruído e é hoje uma beleza de se ver... Tudo somado, ficou-lhe em cerca de 200 mil euros, o preço na altura de um bom apartamento em Lisboa... Infelizmente, mais recentemente o Miguel teve um AVC... Está recuperar e a lutar contra o infortúnio. O amor aos moinhos de vento tem-no ajudado a superar este problema de saúde. Um grande abraço para ele e para os meus amigos do Cadaval, Céu e Joaquim Pinto Carvalho,  que lá me levaram.

 Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde [em 100 pictogramas]

Texto (inédito):

© Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados.


(Continuação) (*)

[...] 1. Domingo à tarde… Sempre detestaste os domingos à tarde: ou chovia ou fazia vento e um cão uivava na vinha vindimada do Senhor. Nada acontecia, no domingo à tarde, e até o tempo parava no relógio, sonolento, da torre da igreja da tua aldeia.[...]

91. O chiqueiro, o quinteiro, o curral, mais as galinhas, os pintos, os perus, os coelhos, os patos, os gansos, a coquicha, a galinha pedrês não-a-mates-nem-a-dês, a retrete de madeira, na casa dos teus tios do Nadrupe, as batatas comidas em comum, numa travessa que tinha um cavalinho ao meio, e que ainda não era o cavalo da GNR, louça de Sacavém, barata, para o povo, o terceiro estado, o mísero estado.

E nada de alvoraçá-lo, sangrai-o e sangrai-o e, se morrer, enterrai-o.

92. O vinho dava de comer a um milhão de camponeses que eram todos os habitantes da tua aldeia.

Lembras-te de vomitar a ceia, em dia de matança do porco, quando o teu pai chegou, à noitinha, de motorizada, a anunciar a vinda de mais um herdeiro, o terceiro, era menina e chamava-se… Inha.


93. Se havia uma idade da inocência era quando se subia à portentosa figueira da ti Elvira e do ti Manel da Quinta, da Quinta do Bolardo, e se partia a cabeça, e se descobria o sangue, não o de Cristo, mas o teu sangue, que não era frio e azul, era espesso, quente e vermelho.

Faziam inocentes tropelias, brincavam aos índios & cobóis no meio da vinha do Senhor, tomavam banho, nus, nas tinas de fazer o vinho, os meninos do campo e da cidade, da vila e da aldeia, e dormiam com primas mamalhudas em camas de ferro e colchões de palha e travesseiros de barbas de milho.


94. Até um dia em que no calendário deixou de haver o domingo à tarde, e o cão a uivar na vinha vindimada do Senhor, morreu o ti Silvano, de morte súbita, assim de repente, em plena força da vida, sem tempo para chamar nem o médico nem o padre, muita saúde, que Deus não dava tudo!, ameaçava o coadjutor do padre vigário, e confirmava o facultativo, o doutor das Beiras, que veio casar com a menina rica da tua aldeia.

95. Lembras-te dos gritos lancinantes das mulheres, das tias, das primas, da tua mãe, o último adeus, o muro rente do cemitério, as campas rasas dos fiéis defuntos, as cruzes de latão, as flores murchas, o talhão dos anjinhos que iam para o purgatório!... Tu, sem deitares um lágrima, siderado, colado ao chão!

Ainda não havia flores de plástico, nem muito menos sabias tu o que era a morte, só a do porco, e Deus era pai, infinitamente misericordioso, e o padre vigário (que sucedeu ao que te batizara na igreja do Castelo,) tinha para tudo uma explicação, até para o absurdo da vida e da morte dos pobres de Cristo, da morte dos tios queridos em plena força da vida, ou para a dor das pobres crianças inocentes, e que nem batizadas tiveram tempo de ser, a não ser talvez pela parteira aparadeira, a verdade é que tu nunca mais foste capaz de lá ir à noite brincar, para o adro da igreja do Castelo, ao lado ao cemitério, que bastava o sinistro pio da coruja, no alto da torre sineira, e os fogos fátuos de verão, para o sangue nas veias te gelar!


96. Deixou de haver domingo à tarde, e a inexplicável magia da infância, bordaram-te o enxoval, as meninas da rua do Clube, uma rua abaixo da tua, aos serões, as meninas do ti Louçã, que era pintor de portas e janelas, tetos, paredes e tabuletas, as meninas costureirinhas, tuas vizinhas, meteram-te na camioneta dos Capristanos, nunca soubeste quem, com destino ao seminário de Santarém, antigo palácio real, medieval e depois colégio dos jesuítas, tu e o teu baú, terrivelmente sozinho ante os dilemas da fé, da vida, da carne, do pecado, da morte, da ressurreição e do esplendor da vida eterna, amén!, ali especado, aterrorizado, num corredor pavorosamente alto e comprido, mais alto e mais comprido do que a tua rua dos Valados, e as paredes cobertas de retratos de reis e rainhas e de azulejos com contavam histórias que só podiam da ser da bela vida que levavam os reis e as rainhas, entre caçadas e danças palacianas.

97. Lá atrás ficava o mar, a Atalaia e o Mont’oito, a P’ralta, a Areia Branca, o Porto das Barcas e os casais de Porto Dinheiro e a Ribamar dos teus antepassados Maçaricos, e os fantasmas dos corsários que infestavam a costa, assaltavam, roubavam, violavam, matavam, queimavam, faziam reféns, para trás ficava o relógio, sonolento, da torre da igreja matriz, a vinha vindimada do Senhor, o piar da coruja, os fogos fátuos, os terrores do inferno e da castração, e os sardões que se apanhavam com anzol e pedaços de pão embebidos em leite na parede do cemitério, restos da antiga muralha do castelo que fora alcáçova e antes castro ou dólmen ou promontório.

E a história era isso: sedimentos e sedimentos sobrepostos, o pouco que restava da passagem de tantos povos que se matavam e enterravam uns aos outros.

98. E as primeiras beatas fumadas às escondidas, e os putos todos em fila a mijar contra a parede do cemitério, e a medir o tamanho das pilas, e os primeiros nomes das putas da tua terra, segregados ao ouvido pelos mais velhos, o "Frasco do Veneno", que era teu primo, em segundo grau, e que há emigrar, sem retorno, para o Brasil, e que te ensinou todas as asneiras do teu vocabulário de carroceiro, cada uma custando-te depois muitos valentes puxões de orelhas da tua mãe, e um ror de rosários, avé-marias, padre-nossos, e salvé-rainhas, pesado castigo do teu confessor.

99. E o moinho do T’chico Moleiro e os ventos que sopravam nas velas e nas cabaças, numa sinfonia agoirenta, e a amante do moleiro que vigiava os putos que lhe iam roubar as pêras, as uvas e as ameixas, o terror e a magia, enfim, das pequenas e grandes coisas da vida quando já se tem dez anos feitos, a 4ª classe e o exame de admissão ao liceu.

100. Levaste contigo a tela do Brugel , o Velho, como se fora uma cruz, pesada, tê-la-ás perdido para sempre quando te sentiste estrangeiro como o Camus, na tua própria terra. 


Ou então, deixa-me adivinhar: enterraste-a, definitivamente, na guerra, lá nas bolanhas ou na florestas-galeria da Guiné, entre os mais pobres dos pobres, os teus camponeses fulas pretos da Guiné.

Ou talvez nem isso: nunca te libertarás dela, dessa tela da infância, um caleidoscópio cheio de pictogramas, a não ser talvez através do exorcismo da memória e da escrita.

Fim


Lourinhã, 10/11/2005. Revisto.


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Nota do editor:

(*) Postes anteriores da série:

11 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20052: Manuscrito(s) (Luís Graça) (159): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte I - De 1 a 10 de 100 pictogramas)

13 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20056: Manuscrito(s) (Luís Graça) (160): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte II - De 11 a 20 de 100 pictogramas)

14 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20058: Manuscrito(s) (Luís Graça) (161): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte III - De 21 a 30 de 100 pictogramas)

15 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20060: Manuscrito(s) (Luís Graça) (162): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte IV - De 31 a 40 de 100 pictogramas)

16 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20064: Manuscrito(s) (Luís Graça) (163): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte V - De 41 a 50 de 100 pictogramas)

17 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20068 Manuscrito(s) (Luís Graça) (164): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte VI - De 51 a 60 de 100 pictogramas)

18 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20071: Manuscrito(s) (Luís Graça) (165): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte VII - De 61 a 70 de 100 pictogramas)

20 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20077: Manuscrito(s) (Luís Graça) (166): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte VIII - De 71 a 80 de 100 pictogramas)

21 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20082: Manuscrito(s) (Luís Graça) (167): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte IX - De 81 a 90 de 100 pictogramas)

sábado, 29 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15051: Memória dos lugares (316): Serra de Montejunto, o moinho de Aviz, de Miguel Luís Evaristo Nobre (Vilar, Cadaval) - Fotos de Luís Graça, II (e última) parte





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Cadaval > Vilar > Vila Nova > Serra de Montejunto > 20 de agosto de 2015 > O nosso camarada e amigo Joaquim Pinto Carvalho levou-me, a mim, à Alice e mais uns amigos do norte, o Gusto, a Nita e a Laura, até ao moínho do Miguel Nobre, no alto da serra... É conhecido como o moinho de Aviz,,, Dizem que é o mais alto da península ibérica, dos moinhos ainda a funcionar.

Daqui tem-se uma vista fantástica sobre  grande parte do oeste estremenho, do rio Tejo à serra de Sintra... A serra de Montejunto e os cabeços à volta com as sua intermináveis filas de moinhos de vento fazem, ainda hoje,  parte das memórias de infância de muitos de nós. Memórias que eu e muitos camaradas aqui do oeste levaram para a Guiné das bolanhas e florestas-galerias, onde não havia (com exceção da região do Boé) elevações do terreno... E muiito menos moinhos. Era o pillão qyue fazia a vez das nossas azenhas e moinhos. 

Hoje, na Estremadura da minha infância, os cabeços estão pejados de inestéticas eólicas, tão feias como os horroros e tísicos eucaliptos que estão a dar cabo do nosso querido Portugal mediterrânico... Confesso que é uma dor de alma ver, de Lisboa à Lourinhã,  as eólicas em vez dos moínhos de vento da minha infância.,.. E as manchas de eucalipto a dominaram a paisagem... Quem disse que a paisagem não tem dono ?

Havia alguns milhares de moínhos de vento no oeste, meia dúzia em cada aldeia, no meu tempo de menino e moço. Hoje restam-nos alguns belos exemplares, ainda em funcionamento (incluindo no meu concelho Lourinhã, no Moledo, no Porto Dinheiro, na Pinhoa...). Enfim, restam-nos a arte e a ciência da molinologia, e alguns, poucos, moleiros vivos e raros técnicos de moinhos,  como o Miguel Luís Evaristo Nobre, que domina a "arte ao vento". Vejam o seu sítio  na Net, "Arte ao Vento",  que merece uma visita , tal como seu moinho... O moinho de Aviz estava em ruínas até há alguns anos... É hoje uma obra-prima, digna se ver, dar a conhecer, divulgar, promover...

A "arte ao vento" é o sítio da empresa do Miguel (que vive no Vilar, Cadaval, vizinho portanto do Joaquim Pinto Carvalho e da Céu Pintéus), "dedicada ao Restauro e Manutenção de Moinhos de Vento". Ele tem construções e restauros em muito lugares, incluindo na minha terra. 

Aqui ficam, para quem tem a paixão dos moinhos como eu, o resto das fotos  que tirei, selecionei, editei e prometi publicar no blogue (*). Falando há dias com o Fernando Henriques, moleiro do Moledo, antigo emigrante em França (e cuja pai esteve como meu, em Cabo Verde, no Mindelo, durante a II Guerra Mundial), ouvi esta confissão espantosa:

- Quando eu morrer, a saudade maior que vou levar da terra,  depois da minha mulher, filhas e netos, é a deste moinho, que já está na família há várias gerações... Hoje teria rico se ele, em vez de estar aqui plantado no meio das pedras do Moledo, pudesse ter sido transplantado para o monte do Sacré Coeura em Paris... Os estrangeiros que me visitam ficam de boca aberta e olhos arregalados... (O moinho foi restaurado recentemente pelo Miguel Duarte, depois de um grave acidente provocado pela força do vento).

 Mais uma vcz, obrigado, Joaquim e Miguel, pela magnífica tarde, que passei com eles dois, e que começou pela Artvilla, em Vila Nova, freguesia do Vilar, concelho de Cadaval, no sopé da serra que é familiar a alguns de nós, e nomeadamente aos camaradas da FAP, que por aqui passaram no tempo de tropa (Estação de Radar, nº 3, Lamas, Cadaval).(**)


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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(**) Último poste da série > 23 de agosto de  2015 > Guiné 63/74 - P15032: Memória dos lugares (315): Pragança, aldeia da serra de Montejunto, união das freguesias de Lamas e Cercal, concelho de Cadaval - fotos de Luís Graça

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15027: Memória dos lugares (314): Serra de Montejunto, o moinho de Aviz, de Miguel Luís Evaristo Nobre (Vilar, Cadaval) - Fotos de Luís Graça, parte I















Cadaval > Vilar > Vila Nova > Serra de Montejunto > 20 de agosto de 2015 > O nosso camarada e amigo  Joaquim Pinto Carvalho levou-me, a mim, à Alice e mais uns amigos do norte, o Gusto, a Nita e a Laura,  até ao moínho do Miguel, no alto da serra... Dizem que é o mais alto da península ibérica, dos moinhos ainda a funcionar.

Daqui tem-se uma vista fantástica sobre o mundo, ou pelo menos sobre o meu/nosso oeste estremenho, do rio Tejo à serra de Sintra... Mas o mais fascinante é o moinho, o mominho de Aviz, e o seu dono, sem esquecer naturalmente a serra de Montejunto e os seus miradouros, a par da aldeia de Pragança que eu, inacreditavelmente (!), ainda não conhecia... O moinho, o moinho de Aviz,  que estava em ruínas há uns anos atrás floi reconstruído e uma beleza de se ver... Tudo somado, ficou-lhe em cerca de 200 mil euros, o preço de um bom apartamento em Lisboa...

Obrigado, Joaquim e Miguel, por esta magnífica tarde, que começou pela tua Artvilla, em Vila Nova, freguesia do Vilar, concelho de Cadaval, no sopé da serra que é familiar a alguns de nós, da FAP, que por aqui passaram no tempo de tropa (Estação de Radar, nº 3, Lamas, Cadaval).

Texto e fotos: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados


1. Confesso que tenho uma velha paixão pelos moinhos de vento, paixão essa que me vem da infância: nasci e cresci ao som do vento a bater nas velas e a redemoinhar nas cabaças dos moinhos de vento da Lourinhã... a escassos dois quilómetros do mar... Há sons que nunca mais se esquecem.

O vento e o mar, o som e a fúria do vento e do mar, as velas, os mastros, os moinhos, os barcos à vela... A estética solitária e quixotesca do moinho de vento no cimo dos cabeços da minha região natal... E a sua barra azul. E os seus portentosos mastros, a alvura e fortaleza do seu velame... "Redes e moínhos" era o título do jornal da minha terra, quando eu era puto, tendo antecedido o quinzenário "Alvorada" onde trabalhei, como redator-.chefe, antes de ir para a tropa...

Havia alguns milhares de moínhos de vento no oeste, meia dúzia em cada aldeia, no meu tempo de menino e moço... Hoje há uma ciência que se dedica ao seu estudo, a molinologia. E há homens que ainda dominam a "arte ao vento", como o Miguel Luís Evaristo Nobre.

Preciso de mais tempo e vagar para escrever sobre este homem e a sua obra, e em especial sobre este moinho, conhecido  como o moinho de Aviz,  que visitei e fotografei ontem.  Prometo apresentar-vos, na II parte, fotos do interior do moinho... Para já há um sítio na Net, "Arte ao Vento", que merece uma visita... É o sítio da  empresa do Miguel (que vive no Vilar, Cadaval), "dedicada ao Restauro e Manutenção de Moinhos de Vento",

 (Continua)

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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10120: Os nossos seres, saberes e lazeres (47): Festa do pão do moinho, 1 de julho de 2012, Atalaia, Lourinhã (Parte I): O som inconfundível do vento a soprar nas velas, nos mastros, nas cordas e nos búzios dos moinhos da minha terra, acompanhou-me desde sempre, desde a minha infância até Bambadinca..., tal como o cheiro, o sabor, a cor e a textura do pão, feito com a farinha do moleiro... Desculpem-me a fra(n)queza!... (Luís Graça)



Lourinhã, Atalaia, 1 de julho de 2012. Festa do pão do moínho.  Um dos moinhos da Atalaia, construído em 1928, que ainda continua em atividade. Um regalo para os cinco sentidos... e para o estômago, porque graças a ele e ao moleiro (sem esquecer o burro do moleiro) faz-se o melhor pão do mundo, o da nossa infância no oeste estremenho, onde chegou haver mais de 10 mil moinhos de vento, soberba herança da civilização árabe (os árabes, ou melhor, os mouros do norte de África, comandados por uma aristocracia árabe, invadiram a península ibérica em 711 e por cá ficaram até 1492)... O som inconfundível do vento a soprar nas velas, nos mastros, nas cordas e nos búzios dos moinhos da minha terra, acompanhou-me desde sempre, desde a minha infância até à Guiné. Tal como o cheiro, o sabor, a cor e a textura do pão, feito na casa das minhas tias do Nadrupe, com a farinha do moleiro... Desculpem-me a fra(n)queza!... (LG)


Vídeo (1' 44''):  Luís Graça (2012). Alojado em You Tube > Nhabijoes



1. Lourinhã, Atalaia, 1 de julho de 2012. Festa do pão do moínho, 2ª edição.  [, Imagem do cartaz publicitário, à esquerda].


A iniciativa foi  da Associação Musical da Atalaia (AMA) e tinha como objetivo a angariação de fundos para o acabamento das obras da sua sede.  Tal como no passado, a festa realizou-se junto aos moinhos da povoação, que é vila e sede de freguesia.

Com entrada livre, houve lugar ao lazer, ao convívio, a 
visitas aos moinhos em atividade, à visita, 'in loco', do fabrico de pão à moda antiga, à exposição e venda de produtos hortícolas e artesanato, à uma exposição molinológica, a um esmerado serviço de bar, à animação  musical (a cargo da banda da AMA), à exibição de um rancho folclórico, e, por fim e não menos importante, à venda e degustação  das mais variadas formas de pão, de trigo, de centeio, de milho, com azeitonas, com chouriço, com passas, com figos, com sardinhas, etc.





Lourinhã > Atalaia > 1 de julho de 2012 > Festa do pão do moinho > Os sabores da infância ao alcance de um euro e meio... Que os eventuais lucros destinam-se ao financiamento do acabamento das obras da AMA.






Lourinhã > Atalaia > 1 de julho de 2012 > Festa do pão do moinho > O pão com sardinhas... com que os pobres matavam a fome nos anos 50 do século passado...



Lourinhã > Atalaia > 1 de julho de 2012 >  Festa do pão do moínho> Exposição molinológica (pormenor)




Lourinhã > Atalaia > 1 de julho de 2012 >  Festa do pão do moínho > Travessa dos Moinhos... Uma imagem de moinhos espelhada numa vidraça...






Lourinhã > Atalaia > 1 de julho de 2012 > Festa do pão do moínho > Exposição molinológica (pormenor) > O diretor da AMA, o dr. Manuel José Vitorino, técnico superior de turismo na Câmara Municipal da Lourinhã, tem-se dedicado à molinologia, se bem que da perspectiva da tríade turismo, desenvolvimento sustentado e património cultural. Julgo que estes dados são da sua tese de dissertação de mestrado, recentemente defendida em provas públicas, no Instituto Politécnico de Leiria, polo de Peniche. Segundo o levantamento que ele fez, haveria cerca de um centena de moinhos no concelho da Lourinhã.Apenas 1 em cada 10 está atuamente em atividade.




Lourinhã > Atalaia > Travessa dos Moinhos > Um dos belos mais exemplares de moínhos de vento do concelho da Lourinhã. Foi construído em 1928, e o dono é um orgulhoso moleiro da Atalaia...


(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10095: Os nossos seres, saberes e lazeres (46): Não trocaria por nada aquele tempo de comissão na Guiné (António Melo)