Guiné > Zona leste > Setor L1 > Xime > CART 3494 > Dezembro de 1972 > O fur mil João Ruivo Fernandes, "periquito", em Bafatá, depois de um almoço na véspera de Natal.
1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro nº 2, o
Sousa de Castro, com data de 7 do corrente:
Caríssimos camarigos editores,
Apresento mais um camarada d’armas João Ruivo Fernandes, ex-Furriel Miliciano, que rendeu na CART 3494 o malogrado, fur mil Manuel da Rocha Bento, morto em combate no dia 22 de abril de 1972.
Um abraço, Sousa de Castro
2. Mensagem do
João Ruivo Fernandes, com data de 7/2/2013 (enviada diretamente para o mail do Sousa de Castro)
Assunto: Pedido de admissão à Tabanca Grande
Caro Sousa Castro
Junto as 2 fotografias, antiga e actual e a história da minha chegada e lembranças do Xime. Vou entrar na vossa Grande Tabanca e, quem sabe, futuramente participar nos vossos convívios anuais. Vou muitas vezes ao Norte, tenho um filho a morar em Braga.
Sou dos Lentiscais, uma aldeia situada a 18 Km de Castelo Branco, mas a minha morada é em Oeiras.
Junto mais 2 fotografias: uma, em almoço em Bafatá; outra em Bissau, mas não tenho a certeza do nome do Furriel que está comigo.
Sem mais de momento, um abraço,
João Ruivo Fernandes
Guiné > Zona leste > Setor L1 > Xime > CART 3494 > Dezembro de 1972 > O fur mil João Ruivo Fernandes, "periquito" > Almoço de Natal. Legenda do
Jorge Araújo (ex-fur mil op esp e também membro da nossa Tabanca Grande): "Da esquerda para a direita, furriéis Pacheco, Araújo, Neves, Fernandes e Godinho".
Fotos: © João Ruivo Fernandes (2013). Todos os direitos reservados
3. Praxado no Xime, no próprio dia da minha chegada à CART à 3494
por
João Ruivo Fernandes
Sou o João Ruivo Fernandes, ex-Furriel Miliciano de Infantaria, colocado no Xime, em rendição individual.
Desembarquei no Xime, no dia 7 de Dezembro de 1972, para substituir um Furriel que, segundo informação recebida, tinha falecido numa emboscada, penso que era o
Manuel da Rocha Bento. (**)
No próprio dia em que cheguei ao Xime, sem que me apercebesse, fui sujeito a uma "praxe" que, inicialmente, foi violenta mas no final tornou-se engraçada. Puseram-me a comandar o meu pelotão e mandaram-me fazer uma operação no mato, a uma zona muito perigosa. Enfrentei vários problemas, soldados completamente "pirados", outros a não quererem continuar na missão, outros a não obedecerem às minhas ordens, etc. etc. Quando cheguei ao Quartel é que me informaram que tinha sido tudo a fingir. Paguei 2 garrafas de whisky e houve alegria.
Mas a minha estadia no Xime não chegou a 2 meses. Durante esse tempo participei na actividade regular do meu pelotão, penso que era o 4.º, não posso precisar. Participei várias vezes, na segurança à estrada de Xime para Bambadinca , em Ponta Coli.
Lembro-me que na véspera de Natal de 1972, num domingo, eu e outros ex-camaradas fomos almoçar a Bafatá (junto fotografia).
Dia de Natal, segunda-feira, saímos para o mato às 6 horas da manhã e regressamos cerca das 11 horas. Houve depois um almoço para graduados e praças no qual esteve presente a mulher do Comandante.
No dia 31, final do ano, tivemos a visita do General Spínola da qual tenho ainda uma frase que ele proferiu no seu discurso: "Estais longe das vossas famílias mas estais perto da Pátria"
Na segunda quinzena de Janeiro de 1973, devido a doença, fui enviado para Bissau (Quartel dos Adidos) e posteriormente internado no Hospital Militar 241, até Abril de 1973. Aqui vi os piores horrores da guerra colonial, tantos militares mutilados.
Durante esta estadia em Bissau (, nos Adidos), opir volta de final de Janeiro de 1973, estive várias vezes com o Furriel Araújo ou Godinho, não me lembro do nome, mas junto fotografia que tirei com ele
[, foto à direita, sendo o Fernandes o primeiro da direita]. Se algum ex-camarada me puder confirmar o nome, desde já agradeço.
[No seu blogue, o Sousa de Castro, diz que o outro furriel é o Godinho].
Durante o mês de Abril de 1973, fui evacuado para Lisboa, estive no hospital da Estrela durante 6 meses. Em junta médica, passei aos Serviços Auxiliares e enviado novamente para a Guiné em Dezembro de 1973, onde permaneci até Agosto de 1974. Este percurso na Guiné, contá-lo-ei mais tarde se estiver dentro do espírito que o Blogue pretende atingir.
Um abraço, João Ruivo Fernandes
3. Comentário do editor:
Antes de mais, o meu/nosso obrigado ao Sousa de Castro, grã-tabanqueiro nº 2, que bem poderia ganhar o
prémio de melhor angariador da Tabanca Grande!... Ele é o mais entusiástico e indefetível apoiante da nossa causa. Já perdi a conta aos camaradas cuja entrada ele apadrinhou, sendo uma boa parte pessoal da CART 3494 (, a companhia mais representada na Tabanca Grande). É um valente minhoto, e o primeiro camarada a bater à porta do nosso blogue, vai já fazer 9 anos!
Quanto ao João Ruivo Fernandes (que chegou ao
blogue do Sousa de Castro através de um vídeo no You Tube), o nosso novo grã-tabanqueiro, com o número de entrada 605, é bem vindo, e fica a saber que vem enriquecer uma vasta e diversificada "caserna virtual", composta de gente oriunda das mais desvairadas partes do país e da diáspora portuguesa, dos EUA à Austrália.
João: és o primeiro grã-tabanqueiro de Lentiscais, sítio por onde ainda não passei (, tanto quanto me diz o meu GPS mental)... Segundo leio na Wikipedia, a tua aldeia natal pertence à freguesia e concelho de Castelo Branco, situando-se aproximadamente a 2 Km da margem esquerda do Rio Pônsul e albergando uma uma população de 200 almas, na sua maioria já idosas. "A população ativa dedica-se à agricultura, principalmente horticultura, olivicultura e vinicultura. Historicamente começou por ser um Monte, conforme outras aldeias vizinhas. As primeiras habitações foram construídas ao início da Rua Velha. Julga-se que contribuíram para o seu povoamento os pastores da Serra da Estrela que deixavam a Serra no inverno devido à neve (
transumância). Hipóteses disso são a padroeira de Lentiscais (Nossa Senhora da Estrela) e várias famílias de apelido Serrano"... Enfim, fico com curiosidade em passar por lá, um belo dia destes. Até para relembrar os tempos (, escassos 2 meses, jan/fev 1969, em que rapei o maior frio da minha vida) no BC 6, em Castelo Branco antes de ser mobilizado para o TO da Guiné...
O Sousa de Castro já te explicou as regras do jogo. Já pagastes as quotas e a joia: 2 fotos da praxe + 1 história. Queremos naturalmente saber o resto das tuas aventuras e desventuras pela Guiné. Pelo que percebi, terás ficado em Bissau, depois do teu demorado tratamento hospitalar (que te levou ao HM 241, em Bissau, e depois ao HMP, em Lisboa). Fica bem, desejo-te muita saúde, e que nos faças boa companhia, aqui à volta do poilão da nossa Tabanca Grande. Espero poder conhecer-te brevemente. (LG)
____________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 10 de fevereiro de 2013 >
Guiné 63/74 - P11084: Tabanca Grande (385): José Carlos Lopes, ex-fur mil reabastecimentos, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), grã-tabanqueiro nº 604
(**) Vd. poste de 8 de fevereiro de 2012 >
Guiné 63/74 - P9457: Memória dos lugares (174): 1.º e 4.º GCOMB da CART 3494/BART 3873 emboscados na Ponta Coli - Xime em 1972 (Sousa de Castro)
(...) Em 22 de Abril 1972 (...), na primeira emboscada, em Ponta Coli, o 1º Gr Comb sofreu um morto, o Fur Mil Manuel da Rocha Bento, natural de Ponte de Sor, onde está sepultado, teve 19 feridos, 7 dos quais graves. Foram louvados em 23 de abril de 1972, pelo comandante do CAOP 2 [, Bafatá,] o Fur Mil Manuel da Rocha Bento a título póstumo e o Fur Mil António Espadinha Carda. (...).
Vd. também poste de 3 de abril de 2012 >
Guiné 63/74 - P9698: O caso da ponta Coli, Xime-Bambadinca (Jorge Araújo)