sábado, 13 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15743: Fotos à procura de... uma legenda (70): Spínola e Costa Gomes em Caboxanque, com o Cap Cav Carvalho Bicho, outros oficiais, um milícia e o chefe da tabanca (Rui Pedro Silva, ex- cap mil, CCAV 8352, Caboxanque, Cantanhez, região de Tombali, 1972/74)


Guiné > Algures > Maio de 1973 > Costa Gomes, CEMGFA (Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas), dá início, a 25 de maio de 1973, a uma visita ao Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG), para se inteirar do agravamento da situação militar e analisar medidas a tomar com vista a garantir o espaço de manobra do poder político em Lisboa.

Foto: © Pierre Fargeas / Jorge Félix (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



1. Comentário, de 13 do corrente,  de Rui M. Silva ao poste P15734 (*)

[Foto à esquerda: Rui Pedro Silva, membro da nossa Tabanca Grande, ex-alf mil, CCAÇ 3347 (Angola, 1971), ex-ten mil, BCAÇ 3840 (Angola, 1971/72), e ex- cap mil, CCAV 8352 (Guiné, Caboxanque, 1972/74)]


O Gen Costa Gomes visitou a Guiné por duas vezes em 1973 (Janeiro e Maio).

Estas fotos foram tiradas em Caboxanque, Cantanhez. Julgo que a foto é de Janeiro mas sendo assim entre estes oficiais deveria estar o Ten Cor Araújo e Sá, Cmdt do BCP 12 e do Cop 4,  e/ou o Major Moura Calheiros [, 2º comandante].

No livro "A Última Missão", do agora Cor  pára ref  Moura Calheiros (**),  verificarão que a páginas 351 se encontra uma foto desta visita em que se reconhecem muitos dos presentes nas fotos agora publicadas. E nessa foto vê-se parcialmente a minha cara atrás do Gen  Spínola.

Não reconheço o militar que está atrás do Gen Costa Gomes.

A carregar a papelada, meio encoberto,  julgo ser o Cap Matos,  ao tempo comandando o destacamento de Caboxanque.

O oficial à esquerda do Gen Spínola (de boina) é o Cap Cav Carvalho Bicho,  ao tempo comandando a CCaç 4541/72,  sediada em Caboxanque,  tendo participado na operação "Grande Empresa",  de ocupação do Cantanhez.

O outro oficial por estar parcialmente encoberto não consigo identificar.

Em primeiro plano temos um milícia de Cufar e o homem grande e chefe da tabanca de Caboxanque.

Tenho que recorrer aos papeis para me recordar do seu nome que merece ser referido.

Um abraço a todos,

Rui Pedro Silva
Ex-Cap Mil,  CCav 8352/72,
Caboxanque
(Dezembro de 1972 / Junho de 1974)



 Angola, Zemba >  Dezembro 1971 > Visita do Gen Costa Gomes (em segundo plano, á esquerda, de camuflado e óculos escuros). Em primeiro plano,do lado direito,  o oficial de dia, o então alf mil da CCAÇ 3347 (Angola, 1971), Rui Pedro Silva. (***)

Foto (e legenda): © Rui Pedro Silva (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]

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Notas do editor;

(**) Vd. poste de > 5 de dezembro de 2010 >  Guiné 63/74 - P7385: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (4): "A História, tal como a ficção, não pode ficar em suspenso sem um epílogo que a justifique e lhe dê um sentido" (António-Pedro de Vasconcelos)

Guiné 63/74 - P15741: Efemérides (214): Dia 8 de Novembro de 1967, data do falecimento do primeiro militar da CART 1742, numa acção de reconhecimento na Tabanca de Ganguiró (Abel Santos, ex-Soldado At Art)

 

1. Em mensagem do dia 28 de Janeiro de 2016, o nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) fala-nos do dia 8 de Novembro de 1967, data do falecimento do primeiro militar da sua Companhia numa acção de reconhecimento na Tabanca de Ganguiró.
 


A Tabanca de Ganguiró

Aquele dia 8 de Novembro de 1967 foi fatídico para a malta da CART 1742, porque foi abatido pelo IN o primeiro camarada, numas das muitas incursões que a malta já tinha realizado no sector Leste, o chamado L 4, cujo centro operacional se situava em Nova Lamego (Gabu), abrangendo uma vasta área geográfica, como a imagem mostra a cinzento, que vai desde o Boé até Pirada, e do Sonaco a Buruntuma, toda esta zona patrulhada pela 1742, que dava ainda apoio às populações, assim como às colunas de reabastecimentos que se faziam periodicamente a Madina do Boé e Beli, assim como a Bambadinca, para o nosso próprio consumo.


Chegámos a Canjadude ao fim do dia anterior daquele fatídico 8 de Novembro, onde pernoitámos. De manhã cedo lá abalamos em direcção a Ganguiró, objectivo que alcançámos pelas 16 horas. A ordem que nos foi transmitida era para inspecionar o local e ver o que tinha acontecido à população. O que encontrámos foi a tabanca incendiada, sem população, que tinha abalado dali, tendo os seus parcos haveres sido transformados em cinza. Um espectáculo aterrador que nos foi apresentado, mas o pior estava para vir.

Posição relativa da Tabanca de Ganguiró ao quartel de Canjadude
Vd. Carta de Cabuca 1:50.000

Enquanto o grupo de combate se foi instalando para fazer a segurança próxima ao local, para passar a noite, sem que nada o fizesse prever, deu-se uma explosão fortíssima junto a uma árvore, local onde uma secção se ia instalar. Tinha sido provocada pelo acionamento de uma mina antipessoal pelo camarada Neto, decepando-lhe a perna direita e provocando ferimentos a outros militares. Passados alguns segundos reagimos à inércia momentânea, começámos a prestar os primeiros socorros a quem deles precisava, improvisando macas com canas de bambu para o transporte dos feridos para Canjadude, estando já o camarada Neto em agonia, que acabamos por perder perto do aquartelamento.

Na Tabanca de Ganguiró

Este episódio, que recordo com muita mágoa, ainda hoje me provoca interrogações inexplicáveis. O meu camarada não deveria estar ali, ele era o carpinteiro da Companhia, e por ironia do destino, era a primeira vez que nos acompanhava, perdendo a vida daquela maneira.

Recordo que em Canjadude havia um cartaz colado na parede (julgo que na caserna), simbolizando a união entre os Portugueses e os Guineenses, que mostrava a imagem de um aperto de mão entre um branco e um preto, com a frase: Juntos venceremos.
Puro engano, tamanha mentira que ainda hoje perdura.

Sem mais, recebam um Alfa Bravo, e até já.
Abel Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15723: Efemérides (213): 1969, um ano trágico para as NT, em matéria de desastres em transportes fluviais: não foi apenas o desastre do Cheche, no rio Corubal, em 6 de fevereiro, mas também em 21 de junho o desastre de Mopeia, no Rio Zambeze, Moçambique, com uma centena de vítimas militares

Guiné 63/74 - P15742: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (7): O Soldado João Parrinha, natural de Cabeça Gorda, Beja

O José Nascimento no cais do Xime,
que foi construído no tempo da CART 2520
1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 3 de Fevereiro de 2016, com uma pequena homenagem a um Soldado do seu Pelotão.


O Soldado João Parrinha


O João Parrinha era um rapaz tipicamente alentejano. Natural de Cabeça Gorda, nas proximidades de Beja, bonacheirão, muito simples e humilde, sem qualquer instrução, quando lhe perguntei por que razão não sabia ler nem escrever, pois no tempo em que eu fui para a escola primária, já o era obrigatório, ele respondeu-me:
José Nascimento, foto atual
- Obrigatório sim, mas como poderia eu ir à escola se ela ficava a mais de 20 quilómetros de onde eu morava?

Passado algum tempo de estarmos na Guiné, apercebi-me da sua proximidade, mais do que qualquer dos outros elementos do meu pelotão. Quando saíamos para o mato,  ele procurava estar sempre perto de mim e até quando fazíamos segurança à ponte sobre o rio Udunduma, os nossos colchões eram colocados no chão ou em cima de algumas chapas de zinco e o nosso tecto eram as estrelas, eu dormia entre os soldados e normalmente o Parrinha era o que ficava mais por perto.

Certa vez quando houve uma pequena escaramuça com elementos do PAIGC, na zona de Madina Colhido, o Parrinha foi ferido por um estilhaço dum rocket e logo gritou por mim:
- Meu furriel,  estou ferido!

Fui ver o que se passava, foi de imediato tratado pelo nosso enfermeiro. Felizmente era um ferimento ligeiro nas costas e sem qualquer gravidade.

Por coincidência ou não,  ele fazia anos na mesma data que eu e numa das nossas deslocações a Bambadinca, cruzámo-nos com um nativo que transportava um pequeno porco e logo ali fez negócio e o animal seria para fazer um petisco no dia do nosso aniversário.

Levado o bicho para o Xime, o Parrinha construiu uma pequena pocilga e com os restos da cozinha lá ia alimentando o nosso bácoro, que foi comprado a meias.

Mas,  para nosso descontentamento,  os "turras" resolveram estragar-nos a nossa planeada festa de aniversário e numa noite qualquer atacaram o quartel do Xime. Felizmente para o 3.º pelotão estávamos no Udunduma.

O que aconteceu é que a improvisada pocilga foi pelos ares e o nosso pitéu passados alguns dias deixou de o ser em consequência do incidente.

De vez em quando o Parrinha pedia-me dinheiro emprestado e logo se prontificava a pagar,  assim que recebia o seu modesto vencimento.

No destacamento do Biombo [,, quando fomos para Quinhamel], onde a actividade era mínima, andava quase sempre desenfiado, até chegava a dormir nas tabancas e eu fazia que não sabia de nada.

Já na Metrópole,  e passados alguns anos após o nosso regresso da Guiné, numa passagem por Cabeça Gorda,  fui à procura do Parrinha, e qual não é a minha surpresa quando me dizem que ele estava no Algarve, até me disseram em pormenor onde ele morava.

Assim que tive oportunidade lá fui a Olhão, ao Bairro dos Pescadores, onde encontrei este antigo militar. Conversa puxa conversa, em determinado momento ele me diz:
- Quando fomos para a Guiné,  ia com a ideia de lhe dar um tiro.
- Porquê? - indaguei com alguma admiração.
- É que,  quando estávamos em Torres Novas, você deu-me um pontapé no traseiro.

Recordei-me que,  durante a instrução,  lhe dei um pequeno toque, sem qualquer intenção de o magoar, tipo sacudir o pó dos fundilhos das calças, como que a lhe dizer "vamos lá, você é capaz de fazer este exercício".. Ficou melindrado.


Fiquei então a perceber o porquê da sua proximidade na nossa passagem pela Guiné... Conversámos por mais algum tempo e saí da sua casa com vários quilos de peixe de primeira qualidade e com a convicção que o ódio (se é que existiu) se transformou em amizade.

Infelizmente já não voltei a falar com este rapaz que foi a minha sombra na Guiné. O coração do João Parrinha resolveu pregar-lhe uma partida e deixou de bater precocemente, ele já não pertence ao número dos vivos.

Adeus,  João Parrinha, até à eternidade!... E para o pessoal da Tabanca Grande um enorme abraço.

José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15490: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (6): A Bandeira

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15740: Agenda cultural (464): Lançamento, em Paris, no Museu de Arte e História do Judaísmo (MAHJ), dia 18, 5ª feira, da edição francesa do livro de Samuel Schwarz (1880-1953), "Os cristãos-novos em Portugal no séc. XX" (1ª ed, 1925) (João Schwarz)



Cartaz de promoção do encontro Os Marranos [os descendentes dos judeus, sefarditas, que viviam na Penínsual Ibérica e que,  tendo sido obrigados a  converter-se ao cristianism - daí o nome cristãos-novos- ,  não abandonaram a sua fé judaica]. 5ª feira, dia 18 do corrente, às 19h30, em Paris, no Museu de Arte e História do Judaísmo (MAHJ). nº 71, da Rua do Templo [Rue du Temple], 750'03 Paris.


Os cristãos-novos em Portugal
no século XX

Autor: Samuel Schwarz
Editora: Cotovia, Lisboa
Colecção: Judaica
Ano de Edição: 2010
N.º de Páginas: 200
ISBN: 978-972-795-309-7
O pretexto é o lançamento do livro de Samuel Schwarz, "La Découverte des Marranes, les crypto-juifs du Portugal" [A descoberta dos marranos, os cripto-judeus de Portugal"], publicado em 2015 sob a chancela da editora Chandeigne.

O encontro terá a participação de: (i) Nathan Wachtel,, professor do Colégio de França; (ii) João Shcwarz, neto do autor;  (iii) Livia Parnes, historiadora; (iv) Anne Limma, editora; e (v) Anny Dayan Rosenman, Universidade de Paris-Diderot, moderadora.

Nota sobre o autor: Samuel Schwarz (1880-1953), judeu polaco, chega a Portugal em finais de 1914; engenheiro de minas no nordeste do país, fez a descoberta, em 1917, de comunidades marranas. Ao fim de oito anos de observação, publica em 1925 um livro, que fez história, e onde se traça o retrato destas comunidades marranas. Ao descrever os seus ritos e os seus hábitos culinários, e ao transcrever as suas orações,  Samuel Schwarz estabelece as bases em que assenta hoje a investigação e o estudo dos marranos. Este livro é publicado pela primeira vez em francês. [Tradução e adptação livre de LG]




1. Mensagem que nos acaba de enviar o doutor João Schwarz,  engenheiro, investigador, a viver em França, neto de Samuel Schwarz, filho da nossa decana Clara Schwarz (n. 1015), e irmão do nosso sempre lembrado e chorado Pepito (1949-2014): 

Caro Luís

Obrigado a si e ao Mário Beja Santos pelos postes sobre Tomar e a Sinagoga (*). Junto envio um anuncio de uma palestra que terá lugar em Paris na semana que vem e que celebra a publicação do livro do meu avô em Francês. Se estiver em Paris é bem-vindo.

Abraços, João


2. Comentário do editor LG:

Samuel Schwarz, aos 20 anos.
Foto do neto,
João Schwarz (com a devida vénia...) 
João, filho de Artur Augusto Silva e de Clara Schwarz, irmão de Henrique e de Carlos (Pepito), neto de Samuel, bisneto de Isuchaar... É um prazer receber notícias do meu amigo. Obrigado pelo convite, mas estou longe em Paris, por esta Lisboa que o viu nascer... Vou, com todo o gosto, dar a notícia no nosso blogue, na nossa agenda cultural.(**)

Sobre o seu avõ, recordo ainda, para os nossos leitores, que ele se instalou em Lisboa com a I Guerra Mundial, já então casado com uma jovem russa, de Odessa (hoje, na Ucrânia). 

Samuel Schwarz, em 1952, em Lisbia,
um ano antes de morrer, com o neto João, Cortesia de
João Schwarz





Samuel Schwarz (1880-1953) será, em Portugal.  um engenheiro de minas e um homem de negócios de sucesso. Mas ficará sobretudo conhecido pela sua erudição, e pelo seu interesse pela história e cultura dos judeus sefarditas (que viviam na Península Ibérica), e em particular pelos marranos, Foi ele que identificou (e salvou do abandono, do esquecimento, da discriminação) a comunidade cripto-judaica de Belmonte.

Foi também ele quem comprou, salvou da ruina  e doou ao Estado Português a antiga sinagoga de Tomar...

A filha (única) de Samuel, Clara Schwarz, foi casada com o advogado e escritor, de origem caboverdiana, Artur Augusto Silva. O casal viveu em Bissau duas décadas, de  1948 a 1966. Formada em letras pela Universidade de Lisboa, Clara Schwarz pertenceu ao núcleo dos fundadores e dos primeiros professores do Liceu Honório Barreto, ao tempo do Governador-Geral da Guiné, Sarmento Rodrigues (1946/49). Vai fazer 101 anos, no domingo, dia 14, dia dos namorados. 

Leituras suplementares:  

(i) Página de João Schwarz (em francês) > Des Gents Intéressants > Samuel Schwarz

(ii) Wkipédia > Samuel Schwarz

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

10 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15732: Os nossos seres, saberes e lazeres (140): O ventre de Tomar (4) (Mário Beja Santos)


14 de fevereiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14249: Homenagem da Tabanca Grande à nossa decana: a "mindjer grande" faz hoje 100 anos... Clara Schwarz da Silva, mãe do Pepito (1): 100 anos não é apenas uma vida, são muitas vidas, que atravessam dois séculos e muitos lugares do mundo (Luís Graça)

23 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13788: Da Suécia com saudade (39): A estrela de David, os Torquemada de Burgos, os marranos de Belmonte... Olhares desde a Lapónia...(Joseph Belo)

19 de fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5841: Controvérsias (67): Como diria o meu avô Samuel, há orações que os lábios murmuram, mas o coração não sente (Carlos Schwarz)

1 de dezembro de  2009 > Guiné 63/74 - P5386: Parabéns a você (46): Carlos Schwarz Silva, simplesmente Pepito, para os felupes, os nalus, os fulas, os companheiros da AD e os tugas... do nosso blogue (Luís Graça)


(**) Último poste da série >  5 de fevereiro de  2016 > Guiné 63/74 - P15709: Agenda cultural (463): Apresentação dos livros "Por Chanas do Leste de Angola", da autoria de Ernesto Fonseca e "Desbravando as Silenciosas Picadas dos Dembos, MX-11-26", da autoria de Aniceto Pires, dia 11 de Fevereiro de 2016, pelas 15 horas, na Messe do Militar do Porto, Praça da Batalha (Manuel Barão da Cunha)

Guiné 63/74 - P15739: Consultório militar do José Martins (17): Arquivos, Bibliotecas e Centros de Documentação - Arquivo Histórico Militar

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 2 de Fevereiro de 2016:

Caros editores
Aqui envio mais um texto sobre Arquivos.
Vou ver o que existe sobre os outras ramos.

Abraço
José Martins

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Nota de editor

Último poste da série de 6 de fevereiro de 2016 28 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15680: Consultório militar do José Martins (16): Arquivos, Bibliotecas e Centros de Documentação - Arquivo Geral do Exército

Guiné 63/74 - P15738: Notas de leitura (807): “Spínola”, de Luís Nuno Rodrigues, A Esfera dos Livros, 2010 (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Abril de 2015:

Queridos amigos,

Não é incomum negar o óbvio quando se faz uma leitura à procura de fundamentos para certas tomadas de posição. Lendo esta biografia do investigador Luís Nuno Rodrigues, ganha meridiana clareza a permanente atitude de Spínola de avisar os seus superiores sobre a evolução do teatro da guerra. Esses superiores nem sempre aceitarão esses argumentos, consideravam que Spínola pintava o quadro em tons melodramáticos, o que ele queria era mais meios humanos e materiais e os seus escritos funcionavam como intimidações.

Ora, estudos posteriores vieram reconhecer que Spínola, de um modo geral, advertia aos seus superiores sobre a gravidade da situação sem bazófia. Tem pela frente um inimigo ideológica e militarmente bem preparado para destruir e retirar para pontos ermos ou para território estrangeiro. E nessa correspondência vemos claramente a evolução da guerra até ao rodopio final. Mas não pior cego do que aquele que não quer ver.

Um abraço do
Mário


Spínola e a evolução militar da Guiné (1968-1973) - (1)

Beja Santos

É uma pura banalidade dizer-se que há releituras que permitem um olhar remoçado sobre a qualidade de um romance, de uma obra poética ou de uma investigação histórica. Li a biografia “Spínola”, de Luís Nuno Rodrigues, A Esfera dos Livros, 2010, com a compreensível atenção de que este investigador, dois anos antes, dera à estampa, também em A Esfera dos Livros, o livro "Marechal Costa Gomes", um trabalho irrepreensível.

Na leitura que fiz de Spínola, vai para cinco anos, pareceu-me que era uma investigação asseada, bem documentada, mas que não trazia a palpitação de factos novos. Agora, que estou a trabalhar numa história da Guiné portuguesa que chega à independência efetiva, todos os acontecimentos da guerra da libertação têm que ser reposicionados à luz de obras de mérito indiscutível, com as de Fernando Policarpo, Leopoldo Amado e Julião Soares Sousa. 

Inevitavelmente, reli o trabalho de Luís Nuno Rodrigues e revelou-se-me, como em clarão, que o investigador, ao mostrar a correspondência de Spínola com governantes e altas chefias militares, deixou iniludivelmente registado a evolução militar da Guiné, e o que escreveu é seriamente desconfortável para aqueles que continuam a jurar a pés juntos que a evolução militar não caminhava para o caos total.

No seu encontro com Salazar, em Maio de 1968, Spínola não tece equívocos quanto ao seu pensamento: a guerra na Guiné já tinha atingido uma fase em que o “problema militar” se sobrepunha a qualquer outro, mas era no campo político social que estava o fulcro da contrassubversão. Nessa mesma conversa recordou a Salazar que um insucesso na Guiné teria efeitos devastadores, e apresentou condições através de um documento intitulado “Alguns aspetos que condicionam a solução da presente situação na Guiné". Salazar ouviu tudo sem comentários e limitou-se a dizer: “É urgente que embarque para a Guiné”

Em 26 de Junho de 1968, Spínola escreve a Salazar: “Se não enfrentarmos o problema da Guiné em regime de exceção, a Nação perderá esta guerra, não obstante a possamos ganhar, com base nas qualidades do nosso soldado”.

Spínola encarou com otimismo a nomeação de Caetano, os militares conheciam a posição que este defendera quanto à criação de uma “federação de Estados”, no início da década de 1960. A Guiné de 1968 correspondia a uma implantação do PAIGC na região Sul, a uma presença segura em áreas designadas como santuários entre o Corubal e o Boé. O conceito de manobra adotado por Schulz arrecadara resultados manifestamente insatisfatórios, com perda de controlo do território e o PAIGC a alargar as suas ações ao Leste, no Chão Manjaco, a beneficiar da tolerância senegalesa que passou a permitir abertamente a passagem de armamento pela fronteira Norte. A partir de 1966, Cuba é uma presença técnica constante para o uso da artilharia. 

Luís Nuno Rodrigues recorda o conteúdo das primeiras diretivas, apelava-se ao governo central o tratamento da Guiné como território em situação crítica, sob pena de Portugal acabar por perder o controlo efetivo da Guiné. Recriminava o velho armamento utilizado, a falta de meios de transporte de assalto, nomeadamente helicópteros. Era uma guerra em duas frentes: o desenvolvimento económico do território, quebrando argumentos de propaganda ao inimigo e reconquistar e manter o controlo efetivo da província. É uma tecla que vai ser sempre martelada, reforço dos meios operacionais, constituição do núcleo de forças de intervenção, revisão do esquema de instrução dos militares europeus, alargar o recrutamento africano e implantar estruturas de autodefesa das populações; solicita insistentemente armamento e equipamento antiaéreo e a instalação de um centro emissor para difundir a propaganda portuguesa. 

Numa reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional, no início de Novembro de 1968, Spínola apela que se defina claramente a missão a desempenhar pelas Forças Armadas. Se tal não acontecesse, “corremos, a passos largos, para a perda da Guiné”.

Alguns dos políticos presentes consideraram o cenário como demasiado negro, seja como for houve resposta favorável a parte dos seus pedidos. A pressão que irá exercer sobre o governo central será permanente, alega que pretende reduzir drasticamente a capacidade militar do PAIGC, começa por apear vários coronéis e tenentes-coronéis, exige um “Comando Operacional Único”, que Marcello Caetano sanciona em Julho de 1969. 

Jamais irá abdicar da prerrogativa de escolher os seus oficiais. E quando necessário ameaça com a demissão. Apercebe-se que o transporte através dos rios é fulcral e autorizou Alpoim Calvão a levar por diante operações de destruição de lanchas rápidas do PAIGC. A africanização da guerra acelerou-se, enquanto em 1968 esse número era de 3280, em 1973 subira para 6425. Tratou-se de uma africanização que encontrava correspondência no discurso ideológico de Spínola assente na construção de uma “Guiné melhor”. Carlos Fabião reorganizou as milícias, nasceram os Comandos Africanos, e mais tarde os Fuzileiros.

É facto que com a chegada de Spínola à Guiné houve alterações significativas. Ao longo de 1969 e 1970 encontra-se correspondência entre Spínola e o Ministro da Defesa e as queixas não param, exige mais médicos, faz alusões ao caso da Índia. Caetano assiste em Bissau, em 14 de Julho de 1969, a uma reunião extraordinária de Comandos e pergunta a Spínola qual a evolução que este previa para a Guiné num futuro próximo. O cenário apresentado pelo Governador foi manifestamente negativo. Era necessário retomar a iniciativa no campo militar, já que a situação dava sinais de se tornar “extremamente crítica”. 

Caetano e Spínola reencontram-se em Lisboa em 8 de Maio, Spínola sentiu-se ufano, parecia que iria receber mais reforços em prejuízo de Angola e Moçambique. Reencontram-se a 24 de Setembro, em Lisboa, Spínola alerta o Presidente do Conselho para o agravamento da situação militar. E os meios humanos e materiais pedidos não obtêm resposta. Em Abril de 1970, ocorre o massacre de oficiais na região de Jolmete, o sonho de uma fração do PAIGC ser incorporada nas Forças Armadas evapora-se. 

Em Julho de 1970, Spínola alerta o Chefe do Estado-Maior e o Ministro do Ultramar para o facto de estarem a enfrentar uma nova ofensiva militar. Bate na tecla da insuficiência de meios materiais e humanos. Em Novembro de 1970, Spínola volta a insistir num agravamento da situação militar, e é nesse contexto que decorrem os preparativos da Operação Mar Verde que se saldou num revés diplomático em toda a linha, fez crescer o isolamento da diplomacia portuguesa. Por essa altura, e verdadeiramente desencantado com a situação militar, Spínola dá prioridade às soluções políticas.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15722: Notas de leitura (806): Textos de Carlos Schwarz (Pepito), na Revista Sumara, publicação da responsabilidade da Fundação João Lopes, Cabo Verde (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15737: Blogoterapia (274): Portas estreitas da vida onde nem sempre se consegue passar (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto, CART 3493, Mansambo, Fá Mandinga, Bissau, 1972/74)

Foto tirada durante a quinta sessão de quimioterapia no IPO de Coimbra



1. Em mensagem de ontem, dia 10 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga e Bissau, 1972/74) enviou-nos este texto, a que deu o título de:


Portas estreitas da vida onde nem sempre se consegue passar

Ao decidir escrever este poste, reconheço que nada tem a ver com a guerra que, uns mais de que outros, todos nós vivemos na então província da Guiné.

O que me levou a escrever sobre esta doença que algumas pessoas não gostam sequer de ouvir falar, a esses peço desculpa, foi saber que muitos daqueles que por lá passaram já viveram e outros estarão nesta altura a viver uma situação como aquela que eu tenho vivido há já mais de uma dezena de anos.
Conheço pessoas que fazem tudo que estiver ao seu alcance para que ninguém saiba que são doentes oncológicos, tal comportamento, em meu entender, é um autêntico disparate e revelador de uma ignorância lamentável. Pois não só os priva do apoio que alguém que já viveu a mesma situação lhes possa dar, como,á com o seu silêncio, negam ajuda a quem dela possa necessitar.

Então como encarar a vida quando confrontados com tal situação?

Primeiro “descer à terra” e pensar que apesar de não parecer, estamos a ser confrontados com algo cada vez mais normal. Por vezes somos levados a perguntar, mas porquê a mim? Pergunta que só tem razão de ser pelo desnorte que naquele momento estamos a viver. Quantos, antes de nós não passaram pelo mesmo? Uns mais velhos, outros mais novos, algumas ainda crianças.

A minha doença foi diagnosticada nos últimos meses do ano de dois mil e quatro, seguiram-se cinco meses de espera e a cirurgia em fevereiro do ano seguinte, hoje talvez esperasse menos tempo, passados cerca de dois meses, fui sujeito a trinta e cinco tratamentos de radioterapia, reagi sempre bem, os efeitos secundários foram quase inexistentes. Ao longo destes anos continuei sempre a ser seguido no IPO de Coimbra.

No início do ano passado os valores tumorais estavam demasiado altos, foi então que foi decidido que tinha de fazer quimioterapia o que aconteceu a partir do início do mês de abril, seguiram-se dez tratamentos com intervalos de três semanas. No início fiquei um pouco assustado atendendo ao que ouvia falar acerca dos possíveis efeitos secundários, no primeiro dia fui acompanhado por uma pessoa de família ao tratamento, a viagem é de aproximadamente cem quilómetros de minha casa até ao hospital, nas restantes nove sessões a que fui sujeito entendi que não era necessário ir alguém comigo.

Tudo foi menos complicado que eu imaginava, o mais aborrecido era a deslocação, mas também se tornou fácil a partir do momento em que decidi utilizar o transporte facultado pelo hospital em viaturas dos bombeiros, permitiu-me assim ultrapassar mais uma serie de preocupações: se chegava a horas, se estaria em condições para conduzir, onde arrumar o carro o que não é nada fácil naquele local e, saber que mesmo aqueles que terminam o tratamento mais tarde há sempre alguém que os espera para regressar a casa.

Terminadas as dez sessões, fim do tratamento, senti um alívio enorme próprio de quem passou por mais uma porta estreita da vida, daquelas que nunca se sabe se conseguimos passar, os efeitos secundários comparando com o que acontece a algumas pessoas foram poucos o que me permitiu continuar a fazer uma vida quase normal, com exceção do dia do tratamento, todos os outros continuei a fazer a caminhada como antes fazia, de aproximadamente uma hora.

Para que tudo decorresse tão bem há que realçar o trabalho desenvolvido por um grupo de pessoas que tudo faz para que os doentes se sintam o melhor possível, desde o pessoal médico, as enfermeiras/os, os técnicos, pessoal administrativo, e outros, não esquecendo os voluntários sempre prontos a ajudar sem receber nada em troca.

Sem esse conjunto de pessoas, nada podia ser feito, mas o doente também pode e deve ajudar, e a forma de o poder fazer é pensar que já que ali está, apenas terá a ganhar com isso, seguir rigorosamente os conselhos que lhe são dados, muito importante também numa fase tão confusa da vida é saber distinguir as pessoas que merece a pena escutar. As outras o melhor será afastar-se delas.

Normalmente ouve-se falar sobre esta doença, se alguns sabem de que falam e o que dizem, outros há que prestariam uma grande ajuda aos doentes se estivessem calados. Cada caso é um caso, o meu tratamento tinha uma duração de aproximadamente duas horas, outros demorava o dobro e alguns ainda mais, os efeitos secundários podem ser muito diferentes de pessoa para pessoa, pois o tratamento administrado não é igual para todos e a reação de cada um também pode ser diferente.

Havia muito a contar sobre o tempo que tenho vivido depois de me ter sido diagnosticada a doença e como tenho procurado minimizar as situações menos agradáveis que sempre acontecem, mas ficará para uma próxima… por hoje termino dizendo aos camaradas que possam estar a viver uma situação igual ou parecida com a que eu tenho vivido ao longo destes anos, que devemos pensar um dia de cada vez, amanhã logo se verá, a coragem, a esperança e, já agora a fé, devem de estar sempre connosco pois são uma preciosa ajuda.

A todos um abraço

Hoje assino com o nome completo,
António Eduardo Jerónimo Ferreira
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15501: Blogoterapia (273): Notícias do nosso camarada António Paiva, ex-Soldado Condutor Auto do HM 241 (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P15736: Álbum fotográfico de António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494 e CART 3567 (3): Arte guineense

1. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74), com data de 31 de Janeiro de 2016, com algumas fotos sobre a arte da Guiné para o seu Álbum fotográfico:

As esculturas que se seguem foram feitas pelo artesão Mussé (não lhe conheço mais nomes) era nalú e trabalhava à beira-rio, sentado no chão.
O Capitão da Companhia anterior (Sá Nunes) "deu-lhe" um miúdo para que ele o ensinasse e a arte não se perdesse. O Mussé era teimoso e não deixava o miúdo praticar.

Creio que este tipo de arte se perdeu, embora ande por ai, em diversos desenhos um iran - Karamanchol - parecido com um outro que apresentarei, mas mais trabalhado. O Mussé usava um gorro à fula e metia o cachimbo sob o gorro, deixando apenas o fornilho de fora.

As três primeiras são uma Banda que se coloca na cabeça do bailarino apoiada naquela ranhura que está em baixo. O bico mais afiado fica para frente.

As outras duas dizem respeito a outro adorno de dança que chama, se não erro, Lumbé.

A madeira usada era clara, fibrosa e não muito dura. Não sei de que árvore provinha. Não sei em que danças eras utilizadas, pois nunca as vi em uso.






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CIRANS

Julgo que é arte fula, pois foi um soldado fula - o Aliu Embaló - Atirador em 1968 e Campanha, obús 14 / 11,4 em 1971, que mos deu. Tinha nesta altura duas mulheres - a Aminata e a Umu - uma por amor e outra por dever social, dada a estirpe a que pertencia, Vestiam sempre de igual (até o chapéu de sol/chuva), e já havia duas filhas - a Jénabu e a Salimato - uma de cada mulher. Em 1972 nasceu o António Zé que tem este nome em homenagem ao nosso arfero/capitão; este vosso criado.

Este ciran foi construído para oferecer ao meu cunhado Pedro, então com dois anos.

Este ciran, com asa, é para adulto e parece-me mais autêntico.


Um Abraço
António J. P. Costa
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15681: Álbum fotográfico de António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494 e CART 3567 (2): Arte guineense

Guiné 63/74 - P15735: Álbum fotográfico de Armando Costa, ex-fur mil mec auto, CCAV 3366 / BCAÇ 3846 (Susana, 1971/73): Parte VII: Susana, tabanca e arredores (1)


Foto9 nº 1 > Bolanha

Foto nº 2 > Piroga



Toto nº 3 > Mercado (1)

Foto nº 4 > Mercado (2)


Foto nº 5 > Escola

Guiné > Região do Cacheu > Susana > CCAV 3366 (Susana, 1971/73) >  A tabanca de Susana e arredores


Fotos: © Armando Costa (2016). Todos os direitos reservados.


1. Sétima parte da publicação de uma seleção de fotos do álbum que o Armando Costa, ex-fur mil mec auto, CCAV 3366 / BCAV 3846, Susana, 1971/73) (*) pôs generosamente à nossa disposição:


Recorde-se, muito resumidamente, que a sua subunidade, a CCAV 3366, esteve no CTIG de 9  de março de 1971 a 8 de março de 1973 (24 meses).

Depois da IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional) no Cumeré, foi colacada,  em maio de 1971, no subsetor de Susana, na região do Cacheu, no noroeste da Guiné, em pleno coração do chão felupe.

Além do Armando Costa, que é "periquito", há mais dois camaradas da CCAV 3366 / BCAV 3846 (Susana, 1971/73), formalmente registados na nossa Tabanca Grande, e estes são "veteranos":

(i)  o Luís Fonseca, ex-fur mil trms, que vive em Vila Nova de Gaia; e

(ii) o Delfim Rodrigues, ex-1.º cabo aux enf, que mora em Coimbra, e é um dos nossos habituais participantes do Encontro Nacional da Tabanca Grande.



Guiné > Região do Cacheu > Susana, no noroeste, junto à fronteira com o Senegal, tendo à esquerda Varela e à direita São Domingos > Carta 1/50 mil (1953) > Pormenor

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)

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Guiné 63/74 - P15734: Fotos à procura de... uma legenda (69): o CEMGFA, gen Costa Gomes, no CTIG, em 25 de maio de 1973 (Foto de Pierre Fargeas / Jorge Félix)


Foto nº 1 A


Foto nº 1 B


Foto nº 1

Guiné > Algures > Maio  de 1973 > Costa Gomes, CEMGFA (Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas), dá início, a 25 de maio de 1973, a uma visita ao Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG), para se inteirar do agravamento da situação militar e analisar medidas a tomar com vista a garantir o espaço de manobra do poder político em Lisboa. Creio que foi nesta visita que ele disse que a Guiné era defensável, se o PAIGC não viesse a utilizar os MiG que se dizia que tinha ou poderia vir a ter...

Foto: © Pierre Fargeas / Jorge Félix (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Uns dias antes, a 22, Spínola tinha mandado um telegrama ao Ministro da Defesa,  gen Horácio José Sá Viana Rebelo (1910-1995), com o seguinte teor: 

"Conforme seu pedido telefónico informo que sob pressão IN comandante local mandou evacuar Guileje e destruir acampamento sem ordem deste comando. Trata-se de lamentável estado de pânico perante manifesta superioridade inimigo,  o que em caso algum justifica tal decisão. Esclareço Guileje estava sem comunicações Bissau virtude destruição antena pelo inimigo. Mandei levantar auto corpo de delito comandante responsável. Insisto pedido reforços" (Fonte: Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso - Os anos da guerra: volume 14: 1973: perder a guerra e as ilusões. Matosinhos: QuidNovi, 2009. p.46).

 Na foto (, por nós editada), vê-se o CEMGFA,  Gen Costa Gomes à direita de Spínola, falando com milícias guineenses (ou um mílicia e um civil). É a única foto que temos dos dois, juntos, Spínola e Costa Gomes, no CTIG... É a única foto, aliás, que temos do Costa Gomes no CTIG...

A foto é do francês Pierre Fargeas (técnico que fazia a manutenção dos helis AL III, na BA 12, Bissalanca, em representação do fabricante), gentilmente enviada pelo nosso camarada Jorge Félix (ex-alf mil pil heli, BA12, Bissalanca, 1968/70). Presumimos que o Pierre Fargeas tenha acompanhado, por razões de segurança, a comitiva militar...

2. De acordo com o documento do CEMGFA que reproduzimos no poste P15731, o gen Costa Gomes deslocou-se novamente à Guné, passados uns dias, numa visita de 4 dias, com início a 6 de junho de 1973, acompanhado do cor Ramires de Oliveira: "Durante os quatro dias que ali permanecemos, tivemos ocasião de observar, auscultar e conversar com muitas pessoas". No dia 8, teve  a tal renião com os comandos do CTIG...

Pergunta-se: não haverá aqui uma troca de datas ? Fazia sentido duas visitas do CEMGFA à Guiné no espaço de suas semanas (uma a 25 de maio e outra a 6 de junho) ?  É verdade que ele fez mais do que uma visita à Guiné...

3. De qualquer modo, fica aqui o desafio aos nossos leitores: para além do Spínola e do Costa Gomes, quem serão os outros oficiais ?

(i) Quem é oficial que está por detrás do Costa Gomes ? (Foto nº 1 A)

(ii) E o que carrega um coleção de papelada, provavelmente mapas, e que está entre o Costa Gomes e o Spínola ? (Foto nº 1 A)

(iii) Quem são os dois oficiais que estão  à esquerda de Spínola ? (Foto nº 1 B)

(iv) Quem seria este milícia e este civil ? (Foto nº 1)

(v) Onde é que a foto foi tirada ? (Foto nº 1)...

... Dão-se "alvíssaras" a quem responder e acertar!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15733: Memória dos lugares (333): Antigo Quartel do RAL 5 de Penafiel (Abel Santos, ex-Soldado Atirador)

 Antigo Quartel do RAL 5 - Penafiel
Foto retirada da internete, com a devida ao seu autor


 

1. Em mensagem do dia 22 de Janeiro de 2016, o nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) fala-nos do antigo RAL 5, Unidade Mobilizadora da sua Companhia.


O antigo Quartel do RAL 5 de Penafiel

A cidade de Penafiel, detentora de uma unidade militar denominada Regimento de Artilharia Ligeira N.º 5 (RAL 5), onde deu formação correspondente àquilo a que se chamava Especialidade as vários Batalhões e Companhias, entre elas a minha CART 1742, local onde recebeu ordem de embarque após mobilização para a Província da Guiné Portuguesa, onde chega em 30 de Julho de 1967, conjuntamente com a CART 1743 do mesmo RAL 5.

O Regimento de que estou falando formava também militares com a Especialidade de Ajudante de Cozinheiro, alguns desses camaradas foram colocados nas companhias que dali partiam para o Ultramar Português, entre elas a CART 1742, onde o Albino, o Silva e o Guilherme, dentro dos condicionalismos de então, nos prepararam algumas deliciosas refeições.

Sem mais, um Alfa Bravo para todos.
Abel Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15672: Memória dos lugares (332): Camajabá do tempo da CART 1742 (Abel Santos, ex-Soldado Atirador)

Guiné 63/74 - P15732: Os nossos seres, saberes e lazeres (140): O ventre de Tomar (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Janeiro de 2016:

Queridos amigos,
Nesta deambulação por interiores (ou entranhas) da aprazível cidade de Tomar, foi-se ao barbeiro, revisitou-se a sinagoga, uma das principais igrejas e vários estabelecimentos. Não escondo o culto pelo pormenor: a lápide judaica, as pias de água-benta, a pose quase majestática de um barbeiro de gentil atendimento, um antigo lava-loiças de taberna, hoje detalhe incontornável de uma casa de pasto que tem um magnífico ambiente típico.
Infiro que esta coletânea de pormenores só é possível porque há uma exuberância ditada pela história de ricos vestígios. Casos há em que essa exuberância é patente na epiderme dos edifícios e simultaneamente no seu interior - é o caso do Convento de Cristo, magnificente no seu manuelino, magnificente nos seus interiores, recordando que naqueles tempos de riqueza não se poupava dentro e fora, era naturalmente tudo feito em grande, havia dinheiro à farta de escravos, especiarias e ouro.
São sinais interiores de riqueza de diferentes níveis que aqui se desvelam.

Um abraço do
Mário


O ventre de Tomar (4)

Beja Santos


Naquele fim de manhã, o viajante passou a mão pelos cabelos e sentiu que chegara a hora de uma tesourada, desde muito novo que não aprecia andar com uma farta cabeleira, e não são só as motivações higiénicas. O que para o caso interessa é que viu uma barbearia sem clientela, foi bem agradável conversar com aquele profissional que foi desbastando e contando histórias, até ao momento da última escovagem e do pagamento da prestação, o viajante nunca desarmou, não confundiu papéis. No final, apresentou-se e pediu licença para o fotografar com o seu meio de locomoção ao fundo e o seu resto de cabelo ali no chão. Este senhor tem pinta de filósofo, um falar fluido, consistente e sapiente, tem um nome daquele fadista do Embuçado, estivemos ali em maré de confidências, gosto muito do jeito natural com que pousou para esta falsa eternidade. Assim nos aproximamos, damos e deixamos um pouco de nós, sem nenhuma certeza de repetências, e é nessa fragilidade que assenta uma das grandezas do género humano.


A zeladora da sinagoga já me conhece de ginjeira, nunca me deixa sair do templo sem eu botar assinatura da visita, venha sozinho ou acompanhado. O que é belo, tudo aquilo que franqueia as fronteiras do extraordinário, revê-se sem cansar, o mais poderoso são estas divinas proporções entre a altura, o comprimento e a largura, e, passe a retórica do amador de arte, estas colunas esguias, que se encaminham para o céu, aquele teto imaculado de onde saem dedos gigantes que parecem que parecem suportar as colunas e dão a ilusão de que esta imagem está a baloiçar, ou quase.


Naquele largo aprazível onde outrora esteve instalado um quartel de onde saiu gente para várias guerras, agora erguem-se ali instâncias de cultura: um museu dos fósforos, que embasbaca qualquer visitante, e um ateliê de ceramistas, aqui pesponta o talento artesanal, das muflas saem rincões de génio, coisas muito belas, a ligação a Tomar é uma constante em azulejos, potes e tudo mais. É um lugar apetecível, também. Dá gosto meter conversa e fazer perguntas, são senhoras devotadíssimas sentadas como em escritório da vida monástica, daquelas mãos sai mais calor do que das muflas, perdoem a expressão, há entusiasmos esplendentes, e ainda bem.




Temos aqui três imagens de devoção. Olho para aquela lápida na sinagoga como boi para palácio, não entendo nada, mas é certo e seguro que está ali o fervor da memória: ó tu, caminheiro, que por aqui passas, lembra-te que me entreguei ao meu deus misericordioso… Temos depois duas pias de água benta, e aqui a memória vai para aquele pedido de unção dos crentes que confiavam que aquelas gotas ajudavam a lavar o pecado, eram um passaporte para a remissão, ajudavam ao arrependimento. Dizem que o nosso tempo está indiferente a Deus, mas a verdade é que a gente contrita não fica indiferente a todo este poder simbólico, a água que nos encaminha para a Vida.


A cozinha conventual é impressionante pelas dimensões e a natureza dos preparos que aqui se faziam. Aqui está a marca da inclemência do tempo, uma perigosa erosão, fica-nos a certeza que um dia destes por aqui vai entrar uma equipa de arqueólogos que fará uma intervenção desejável. A ironia disto tudo é que para além dos riscos do desabamento (salvo seja!) a imagem ganha força, pela simples razão de que todos nos impressionamos tanto com as inclemências do tempo como com as da natureza.


Aqui se devem ter vendido uma infinidade de tonéis em vinho a copo. Depois deu-se a reciclagem do espaço, empinam-se as pipas gigantescas, em vermelho vivo, há um corredor e depois mesas onde aparecem iguarias servidas em loiça de barro. Prova provada que do velho se faz novo, que todos os espaços têm encanto, basta harmonizar o que já foi funcional com o gosto em bem conviver e bem comer. Olarila!

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15701: Os nossos seres, saberes e lazeres (139): O ventre de Tomar (3) (Mário Beja Santos)