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terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26387: História de vida (53): Mário Gaspar ex-fur mil art, MA, CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), lapidador de diamantes reformado... mas começou por ser um "rapaz de Alhandra"



Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68) > ... "É preciso ser doido para vir para aqui a 4 mil quilómetros da minha Alhandra", parece dizer o nosso Mário Gaspar, em 1968, "apanhado do clima".



Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Gadael > CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68) >  "Uma foto importante para os tempos de hoje. Sempre no mato na Guiné. De vez em quando, ou me vestia à civil ou então era um Militar vestido a rigor. À direita nota-se movimentação de naturais. Abandonado o aquartelamento de Sangonhá, sucede a distribuição da população. É a instalação da população e o princípio de muitas asneiras militares, (...) Foi em 1968. Outra curiosidade, essa bem mais forte:  Estou sobre um paiol construído pela CART 1659, Gadamael Porto, com cimento e ferro, material que sobrou da construção do cais, Na Escola Prática de Engenharia, em Tancos, onde frequentei o XX Curso de Minas e Armadilhas, os Paióis eram - e de certeza que ainda são - em tijolo. É obrigatório que um paiol seja um cofre forte."



Foto nº 3 > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68) > Gadamael, 1968


Foto nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68) >  Gadamael, s/d, sem legenda...



 
Foto nº 5 > Guiné > Bissau > CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68) > "Eu com alguns Bravos Militares que comandei na Guiné, no regresso a Bissau no fim da comissão... Estou em cima, ao centro, de pé".


Foto nº 6 > Guiné > Bissau > 1968 > CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68) >  Despedida: foto do Mário Gaspar tirada junto á estátua do cap Teixeira Pinto (ou "capitão-diabo", para os guineenses)

Fotos do álbum foto gráfico do Mário Gaspar, disponíveis no seu Facebook.

 Fotos (e legendas): © Mário Gaspar (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Mário Vitorino Gaspar, ex-fur mil art,  minas e armadilhas, CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), está connosco desde  8/12/2013 (*). Tem mais de 140 referências no blogue.


(i) nasceu na freguesia de Santa Maria, em Sintra, e foi no antigo edifício dos Bombeiros Voluntários de Sintra que foi à Inspecção, embora desde os três anos morasse em Alhandra: 

(ii) Alhandra; "vila industrial, foi aí que aprendi a ser Homem, embora tenha estudado no então famoso Externato Sousa Martins, em Vila Franca de Xira";

(iii) "desde os meus treze anos namorei com uma sueca, linda boneca, Ingrid Margaretha Gustavsom: Alhandra foi a minha Universidade, tive como Professores Sábios Avieiros e os Operários";

(iv) à vila de Alhandra, no concelho de Vila Franca de Xira, estão ligados os nomes de grandes portugueses como Afonso de Albuquerque (Alhandra, 1452 -Goa, 1515), o médico Sousa Martins (Alhandra, 1843- Alhandra, 1897) (que o povo transformou em santo) ou o escritor Soeiro Pereira Gomes (Baião, 1909 - Lisboa, 1949), autor de "Esteiros" (1941) (obra ilustrada por Álvaro Cunhal, e dedicada aos "filhos dos homens que nunca foram meninos");

(iv) durante a pandemia de Covid-19, o Mário foi  também um dos nossos bons e fiéis companheiros, mandando-nos quase todos os dias emails, alimentando o nosso blogue com imenso material, desde poemas a vídeos, mesmo que muito desse material  não fosse publicável, por razões editoriais (por exemplo, tudo o que era referente à atualidade política, social e cultural);

(v) é também um exemplo, corajoso, de um camarada nosso que, apesar dos seus diversos problemas de saúde nos últimos anos, tem sabido remar contra a maré da infelicidade, e ensinar-nos a maneira como podemos envelhecer, ativa, proativa, produtiva e saudável:  escrita, no nosso blogue ou em boletins como  "O Olhar do Mocho", é apenas um dos muitos meios que ele aponta; 

(vi) é DFA.



Foto nº 7 > Vila Franca de Xira > Alhandra > O Mário, na escola primária


Foto nº 8 > Vila Franca de Xira > Alhandra >  A sua querida mãe



Foto nº 9 > Lisboa > Sede da Dialap– Sociedade Portuguesa de Lapidação de Diamantes, SA (posteriormente foi edifício da Expo 98 e atualmente da RTP). Peça emblemática da arquitetura fabril de Lisboa na década de 60 (arquitectos: Carlos Manuel Ramos e António Teixeira Guerra) (LG).


 "Trabalhei lá perto de 30 anos. Éramos, nós Portugueses, os Melhores Lapidadores de Diamantes do Mundo, e a Dialap talvez a maior Empresa de Portugal. 

"Alterámos e criámos novas ferramentas e ultrapassámos tudo e todos. Após o 25 de Abril houve uma troca de galhardetes entre os dois Estados. Portugal nacionaliza o capital angolano na Dialap e Angola nacionaliza o capital Português da Diamang. Nada se fez para se encontrar uma solução. A Empresa de quase 700 trabalhadores, a pouco e pouco sumiu-se. Os trabalhadores foram simplesmente títeres, robertos e palhaços. A Administração deixou de administrar e passou a ter quotas em tudo que era da Dialap. Abrem uma Empresa em Viseu (Porcut) ficando o Estado com 49% e eram nossos adversários e concorrentes. A Dialap é feita de pedaços. Qual a razão de não terem ficado com 51%? 

"E trabalhámos pedras que ninguém queria lapidar. Foram as administrações e o Estado que mataram a Dialap. Fui dos últimos a ser despedido. Falou-se sempre em reestruturar. Existiam hipóteses da Dialap ser maior. Verdade que houve trabalhadores que tiveram culpas no desmanchar da Empresa. A Dialap pagou tudo para a Expo 98 se instalar e a Secção de Pessoal desta chegou a abrir a minha correspondência. Queixei-me ao senhor administrador Sá Pires que nada fez. Fui à Judiciária queixar-me e responderam-me que a Expo 98 era forte e com poder e perdia tempo. Acrescentou que a Empresa era para acabar. Este um muito pequeno resumo da extinção de uma Grande Empresa."






Foto nº 10 > Lisboa > Dialap– Sociedade Portuguesa de Lapidação de Diamantes, SA > Cartão profissional do Mário Gaspar, lapidador qualificado, secção de facetagem.

Fotos do álbum fotográfico do Mário Gaspar, disponíveis no seu Facebook.,,, (Com a devida vénia.)

 Fotos (e legendas): © Mário Gaspar (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



2. Mensagem do Mário Gaspar, que fomos recuperar, e onde podemos saber algo mais sobre a sua singular história de vida (**), em complemento de outros postes dele já aqui publicados (***):

Data: 29 de janeiro de 2017 às 04:16
Assunto: Dois Poemas de José Gomes Ferreira

Conheci muita boa gente. Além dos meus Pais, fixo a minha "padeira de Aljubarrota", a Mãe. E a "Tia Quitéria".

Que tal a figura de Soeiro Pereira Gomes, o "Gineto" ? Esse rapaz, de Alhandra e que nasceu numa bateira no rio que amo – o meu Tejo – "meninos que nunca foram meninos" e tinham de suportar o calor do tijolo e telha queimada sobre as costas. Os telhais existiram mesmo.

Estive lá. Pois o "Gineto", do livro "Esteiros", de Soeiro Pereira Gomes, tornou-se no maior atleta da época, o nadador que venceu as ondas do Canal da Mancha, Joaquim Baptista Pereira foi meu amigo. Ainda é um grande Amigo.

E os avieiros? Aprendi com homens e mulheres muito pobres que vieram de Vieira de Leiria para o Tejo.

E os operários das fábricas de Alhandra, onde cresci?

Tanto que aprendi... Conheci um Senhor da Nossa Literatura, Alves Redol. Reunia com ele, nem sequer inicialmente pensei estar com aquele Homem que também me ensinou a crescer. Sonhava. Nunca ser rico, milionário, antes operário. 

A primeira profissão depois de deixar de estudar, foi de "Ajudante de Padeiro", com Carteira Profissional. Portanto Operário, trabalhava todos os 7 dias – visto ter de suportar de sexta para sábado o dobro de horas. Tinha uma pequena Venda de Pão, deslocava-me à casa do cliente. 

Fui Operário e continuo a ser um mero Operário. Lapidador, palavra nem sequer é reconhecida. Sou Lapidador de Diamantes na situação de Reformado. Fui Sindicalista. Cooperativista (fiz parte de um Grupo que fundou uma estrutura – pensou-se ser Nacional), existem uns restos em algumas terras – a"COOP Lisboa".

Na Dialap – Sociedade Portuguesa de Lapidação de Diamantes, SA, foi onde passei toda a minha vida de trabalho, após cumprir o Serviço Militar – nem fui voluntário, e obrigaram-me a passar por Comandos, essa tropa de elites. Também passei pelos Rangers, em Lamego. 

Acabei por novamente ser obrigado a tirar um Curso de Minas e Armadilhas, após julgar estar a terminar essa vida militar. 

Fui para a Guiné, como Furriel Miliciano, Atirador e de Minas e Armadilhas. Sou Deficiente das Forças Armadas. 

Na Dialap fui eleito e fiz parte da Comissão Negociadora após Greve, antes do 25 de Abril, nos princípios de 1974. Se não acontecesse o Abril,  bem arranjados estávamos. Fui eleito para o Grupo de Reestruturação da Empresa, era um dos três executivos. Colocaram a hipótese de representarmos os Trabalhadores como Administradores. 

Conheci muito escritor da nossa praça. Fui fundador de Comissões de Moradores e fui Autarca. Mais tarde, em 1996 fui fundador da Associação Apoiar – Associação de Apoio aos Ex Combatentes Vítimas do Stress de Guerra. Onze anos Dirigente, os últimos seis como Presidente. Fundador e Director do Jornal Apoiar.

Conseguimos vencer todos os objetivos que se pretendia. Percorri o país. Reuni com Ministros, Deputados, Presidentes e de tudo um pouco. Após muitos dias sem dormir – por tal venci – caí como um passarinho que voa alto.

Operado ao coração e em coma. Acordei, voltei e assinei Protocolos. Fui para uma Academia Sénior e ainda fui fundador e primeiro diretor do jornal "Olhar do Mocho"

A vida ofereceu-me tudo. Recusei. Sonhava, um sonho que se evaporou. Foi uma onda que molhou areias e se afundou nelas. Se ainda sonho? Espero sonhar sempre – até acordado – vejo-me pequeno, tão minúsculo no meio de uma multidão.

Estive num debate e o tema era o "Dia da Liberdade", ou o "Dia Mundial da Liberdade". Desconhecia essa homenagem a esse "dia de liberdade", anunciada.

Liberdade,  onde estás tu ?!... Encontrei-me com o Jornalista José Luís Fernandes que foi director do "Diário de Notícias". Conheci-o, nunca mais nos vimos. Foi ele que me reconheceu.

Neste momento, o meu computador também teve uma síncope, não tem cura e ficou em coma.

Reconheceram que não temos essa Liberdade, tal como a Liberdade de Imprensa. Quem domina é o dinheiro. Os portugueses andam nas penumbras do medo.

Mas dá gosto termos estes poemas. Portugal é pobre, mas rico na Literatura. Grandes Senhores e Esquecidos. Cada dia mais um. José Gomes Ferreira foi outro que conheci.

Mário Vitorino Gaspar

PS -  O Mário mandou-nos em anexo dois poemas do José Gomes Ferreira ("Viver Sempre Também Cansa!"  e "Devia Morrer-se de Outra Maneira"): um deles talvez venha a ser escolhido para figurar oportunamente na série "A Nossa Poemateca". Obrigado, Mário. E força para ti!

_________________
 
Notas do editor:

(*) Vd. poste de;


10 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12426: Tabanca Grande (414): Ainda o "zorba" Mário Gaspar (ex-fur mil, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), natural de Sintra, residente em Lisboa, e lapidador de diamantes reformado

 (***) Vd. postes de:



13 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14356: A minha mãe, Maria Eugénia da Conceição Vitorino Gaspar, a minha Padeira de Aljubarrota (Mário Vitorino Gaspar)

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26303: Notas de leitura (1757): "Lavar dos Cestos, Liturgia de Vinhas e de Guerra", por José Brás; Chiado Books, 2024 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Dezembro de 2024:

Queridos amigos,
A originalidade desta narrativa memorial passa pela bem conseguida assembleia de conversa que o José Brás urdiu numa estonteante viagem entre a infância e a adolescência e a comissão na Guiné, toda passada em quartéis do Sul. Usa o discurso direto, aponta-nos o dedo, quase que nos pede resposta, mas nos antípodas da diacronia a que é manifestamente avesso, saltita quase febrilmente nos tempos e lugares, é uma montanha-russa que mete quartéis como o das Caldas da Rainha e Tavira, tascas com cenas de naifada, corpos carbonizados na estrada para Buba, flagelações, tudo isto se vai passar num tabuleiro restrito daquele Sul da Guiné que ele não quer ver apagado do mapa, Mejo, Cutima-Fula, Guileje, Gadamael, não terá estacionado muito tempo em Aldeia Formosa e seguramente que ouviu os rebentamentos ali ao lado, no octógono de cimento e sofrimento que se chamou Gandembel. Se um bom livro é obrigatoriamente uma história bem contada, José Brás passa com distinção e louvor.

Um abraço do
Mário



Filipe Bento volta a fazer vindima e diz-nos que do capim há memórias que não se apagam (2)

Mário Beja Santos

Vale a pena recordar que o mais recente livro de José Brás, "Lavar dos Cestos, Liturgia de Vinhas e de Guerra", Chiado Books, 2024, tem uma matriz de gabarito, trata-se do, seu romance premiado pela Associação Portuguesa de Escritores, em 1985, "Vindimas no Capim". Está de novo em ação Filipe Bento, continuamos numa ruralidade da Estremadura e naquele Sul da Guiné onde se combate ferozmente, Filipe Bento tem a sua comissão em Mejo e arredores, não esquece de nos contar que qualquer coluna de abastecimento seja a Buba ou a Gadamael é uma autêntica operação, por vezes próximo do inferno. O poder arquitetural da escrita de "Lavar dos Cestos" assemelha-se muito às "Vindimas no Capim", salta-se com a maior das facilidades das vinhas para o mato guineense, daquela vida duríssima do preparo da terra e das cepas, a puxar terra aos pés, a podar, a empar, a cavar, a sachar, a sulfatar, a enxofrar, a vindimar, tudo para ganhar uma miséria, era esta a condição deste povo vindimador, e num ápice estamos na guerra.

Toda a obra é uma sala de conferência, temos direito a desabafos íntimos: Daniel Padeiro era um vigarista, aldrabava no pão, no carvão, no que podia, apanhamos as conversas na tasca, irmanamos com a dureza do trabalho; e, como num salto sobre o abismo, caímos na Guiné, barquinho rio abaixo até Cacine, até Catió, Gadamael, mas também Gandembel, um octógono de cimento e sofrimento, Quebo ou Aldeia Formosa, é mais ou menos esta a quadricula de eleição onde se processa a liturgia da guerra; e saltamos ao passado, isto é, a terras estremenhas, à catequese, ao rio Tejo, ao major Leiria que era lá da terra e que Filipe Bento reconheceu no quartel, integrados somos na vida das instituições militares e, por artes mágicas, voltamos à floresta subtropical, também no quartel, é como se viajássemos de um pesadelo para outro, e as viagens pelos rios não têm graça nenhuma, como Filipe Bento conta quando foi de Bissau para Mejo no batelão Anita, furando a noite já funda, caiu uma chuvada das antigas, houve quem procurasse proteção no meio dos sacos de farinha, de lá saiu enfarinhado.

Foi gerente do bar, experiência para esquecer, ou não, pelo que se viu ter apanhado contas mal feitas. E voltamos às colunas, o cabo Júlio morreu entre labaredas, é uma descrição tremenda:
“Ali aos pés tinha o volume do resto do que fora o corpo do Júlio, meio aterrado ainda, com os coutos dos braços e das pernas a fumegarem, apontando ao alto. A pele da barriga esticara, rebentado, e mostrava um amontoado de carvão.
Toda a cabeça encolhera e as feições haviam desaparecido. O crânio estava repuxado e aberto também.
A posição agora seria a mesma que seria sentado na viatura, de pernas de fora.
Só que das pernas restavam uns espetos, maior o da direita, mais curto o da esquerda, mas ambos dobrados na bacia, fazendo o ângulo da posição mal sentada.
Os braços, mostrando os ossos dos pulsos, estavam também estendidos para a frente, quase perpendiculares ao corpo. Apenas as mãos haviam desaparecido.”


A pirotecnia da escrita, acompanhada destes saltos bruscos em que andamos por dois continentes, surpreendentemente, não nos desorientam porque um bom livro é sempre uma história bem contada, ainda há pouco andávamos de sachola na vindima, o Filipe Bento fez a recruta e a especialidade, já está a caminho de Buba, recorda as delícias do seu amor com Luísa, soa a voz do capitão Velês a deitar os bofes pela boca, Filipe está agora em Cutima-Fula, recorda a tasca do João Gato e a preparação que teve em Tavira, seguem-se as colunas a que não falta metralha, mas bem vistas as coisas Cutima-Fula era o paraíso, em termos de comparação com Mejo e o que se seguiu. Mas aquelas colunas ao cais de Buba não tinham mesmo graça nenhuma, dito por ele, reafirmado mil vezes:
“Eram uns trinta quilómetros para cada lado, a picar estrada, a cinco à hora, com um calor lixado, a água nunca chegava… e com a emoção da busca e descoberta de uma mina ou outra, de um fogachal daqueles e a incerteza permanente na alma dos malteses embarcados em Lisboa.
Vergar a mola à bruta na estiva do cais de Buba a carregar o material nas carripanas. Toneladas de trampa a fingir de produtos alimentares, remédios, balas, granadas, vinho mais que duvidoso, cerveja e outras bugigangas que, durante o percurso de volta, haviam de ser descarregadas para desatascar as viaturas, e transportadas ao longo da malta para uns metros à frente, atolados na chafurdice da bolanha, e carregados de novo, várias vezes repetindo o exercício no tempo das chuvas, com o estômago vazio e muita sede.”


Os nomes sucedem-se: Mejo e Guileje, Sangonhá e Cacoca, Catió e Cufar, Cabedu e Bedanda, Cacine, Mato Farroba, Cufar e Caboxanque, Salancaur e Cumbijã, e há lembranças de uma viagem em que se passava fome e foi possível comprar doze peixinhos, eram bicudas, pelo peixe, lá se fez uma fogueira em Catió, impossível não invocar aqui o repasto.

E há a denúncia dos compadrios: “O furriel Machado regressou a Lisboa tuberculoso. Deixou o pessoal de boca aberta. Parecia vender saúde e, de repente, zás, um rádio de Bissau a chamá-lo ao Hospital Militar.
E o Espírito Santo, que dois dias depois regressava de férias no Puto, informava-nos que encontrara o gajo de boa saúde no aeroporto com guia de marcha para a metrópole. Mais tarde soubemos que a doença dele se chamava Beja ou Évora ou lá o que era… seu tio.”

Voltemos ao universo estremenho, não havia campo de futebol, fazia-se bola com o que calhava, na falta do campo o adro da igreja era o único lugar capaz para garantir alguma distância entre dois pares de calhaus a fazerem as balizas e com duas equipas de cinco ou sete jogadores. Filipe é adolescente e sentiu a campanha de Humberto Delgado, o seu pai sempre prudente, talvez medroso, empolga-se com a campanha e explica porquê:
“Ponham-se vocês no meu lugar, nascido numa aldeia de ganhões de vinhas, de terceiros, de meeiros… gente que rebentava a vida inteira a fuçar sem tirar os cornos das cepas; anos e anos a fazer vinho, a bem dizer, dos torrões; a tirá-lo das veias para meter nos tonéis do senhoritos, senhorões filhos da puta; a apodrecerem na lama do inverno, a estorricarem no Sol de verão, a endoidecerem na hora dos acertos com o merceeiro, com o armazenista, com o aldrabão, sem um protesto, sem uma praga, sem um gesto de insubmissão. Na minha aldeia era tudo boa gente.”
Lisboa, Casa do Alentejo, dia 1 de Dezembro de 2024 > Lançamento do livro "Lavar dos Cestos", por José Brás > Aspecto geral da Sala
Lisboa, Casa do Alentejo, dia 1 de Dezembro de 2024 > Lançamento do livro "Lavar dos Cestos", por José Brás > Intervenção do Coronel Carlos Matos Gomes
Lisboa, Casa do Alentejo, dia 1 de Dezembro de 2024 > Lançamento do livro "Lavar dos Cestos", por José Brás > Intervenção do nosso camarada Mário Beja Santos


Lisboa, Casa do Alentejo, dia 1 de Dezembro de 2024 > Lançamento do livro Lavar dos Cestos, por José Brás > Actuação do Grupo Coral Fora D'Oras


(continua)
_____________

Notas do editor

Vid. post de 16 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26272: Notas de leitura (1755): Lavar dos Cestos, Liturgia de Vinhas e de Guerras", por José Brás; Chiado Books, 2024 (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 20 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26294: Notas de leitura (1756): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (6) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26255: Fotos à procura de... uma legenda (191): a 4ª e última foto por identificar não pode ser o reordenamento e a pista da "minha" Gadamael, em finais de 1971 (Morais da Silva, cor art ref)

 

Guiné > Região de Tombali >  s/l > finais de 1971  > Foto nº 20 (reordenamento por identificar)


Guiné > Região de Tombali >  s/l > finais de 1971  > 
Foto nº 20A (detalhe)  (reordenamento por identificar)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1971 > Vista aérea do reordenamento de Gadamel e da pista de aviação   > Foto s/n (1)


 Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1971 > Vista aérea do reordenamento de Gadamel e da pista de aviação  (detalhe)  > Foto s/n (2)


Guiné > Região de Tombali >  s/l > finais de 1971 > 
Foto nº 20B (detalhe) (reordenamento por identificar)


Guiné > Região de Tombali >  s/l > finais de 1971  > 
Foto nº 20C (detalhe) (reordenamento por identificar)


Fotos (e legendas): © Morais da Silva (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Tombali > Carta de Bedanda (1956) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Bedanda, rio Cumbijã e, a sudoeste, Cufar, Mato Farroba, Ilhéu de Infandre e Príame (Catió).


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


Cor art ref
Morais da Silva

(i) cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar (e depois, mais tarde, professor de investigação operacional na AM, durante cerca de 2 décadas); 

(ii) no CTIG, foi comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre jan 1971 e fev 1972; instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga;  adjunto do COP 6, em Mansabá; 

 (iii) fez parte do Grupo L34, na Op Viragem Histórica, no 25 de Abril de 1974; 

(iv) é membro da nossa Tabanca Grande, com cerca de 150 referências no blogue.


1. A foto nº 20 é mesmo a última das 4 fotos aéreas do álbum do cor art ref Morais Silva (*) de que falta identificar a localização (**).
 
O fotógrafo diz que a foto nº 20 pode ter sido tirada a um reordenamento dos arredores de Catió.  

Recorde-se, mais uma vez,  que o cor art ref Morais Silva andava a "rearrumar" fotos do seu álbum da Guiné. Mas tinha umas tantas, sem legendas... E pediu-nos "ajuda"...

São vistas aéreas, tiradas de avioneta quando um dia, em finais de 1971, foi fazer uma visita de cortesia, camaradagem e amizade ao Augusto José Monteiro Valente (1944-2012), cmdt da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedu, 1970/72) (precocemente falecido, com o posto de maj gen ref).

Na altura, ele comandava, desde janeiro de 1971, a CCAÇ 2796, os "Gaviões", em Gafamael. A caminho de Catió tirou umas tantas fotos ("slides"), incluindo umas quatro ou cinco do quartel e reordenamento de Gadamael.

Reconstituindo o seu percurso de avioneta (DO 27 da FAP ou Cessna dos TAGP), já vimos que:

  • ele seguiu para sul, ao longo do rio Cacine;
  • sobrevoou Cacine (foto nº 30);
  • atravessou a península de Cubucaré (que é delimitada pelos rios Cacine e Cumbijã);
  •  tirou uma foto ao destacamento de Cabedu (nº 29);
  • e chegou finalmente a Catió (fotos nºs 23 e 25). (*)

Recorde-se que, na altura, em finais de 1971, o PAIGC ainda estava fortemente implantado no Cantanhez. A reocupação da península de Cubucaré começa só em 12 de deembro de 1972 (Op Grande Empresa), não havendo aqui, até então, reordenamentos feitos pela NT.

Onde terá sido, pois, tirada esta última foto (nº 20) ? Catió, Príame, ilhéu de Infandre, Mato Farroba, Cufar, na margem direita do rio Cumbijã ?

2. O Valdemar Queiroz, o Manuel Reis e o Virgílio Teixeria dizem que é Gadamael. O Luís Mourato Oliveira e o António Graça de Abreu dizem que não é Mato Farro (contrariando o palpite de Luís Graça) (*).

Comentário do cor art ref Morais Silva ao poste P26189 :


Comparem-se as fotos aéreas de Gadamael e a que não sei identificar (nº 20). Conclua-se que esta não é de Gadamael, porque:

Reordenamento de Gadamael (pista na direcção Norte-Sul)
  •  parte Norte do Reordenamento PARALELA à pista e APENAS a Oeste dest
  • quadriculado da construção na totalidade do reordenamento

  • inexistência de vegetação expressiva no interior da área construída

  •  inexistência de profusão de traçados de “pé posto” no interior

Foto ainda não Identificada

  • não há PARALELISMO COM A PISTA
  • há construção nas duas áreas laterais da pista
  • vegetação expressiva no interior
  •  profusão de traçados de pé posto

2024 M11 26, Tue 22:00:01 GMT (***)


________________

Notas do editor:



(***) Último poste da série > 4 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26229: Foto à procura de... uma legenda (190): O Portugal do Minho a Timor... O passatempo teve pouca participação, afinal não dava... "patacão".

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26223: Humor de caserna (83): "Oh, senhora enfermeira, deixe-me pôr os olhos... em cima de si!" (Natércia Neves)

 

"Penso que a sexualidade dos militares no isolamento do mato era uma questão complexa, que por vezes levava a comportamentos algo inesperados e um pouco bizarros", escreveu a enfermeira paraquedista Maria Natércia Pais no livro coletivo, "Nós,  enfermeiras paraquedistas" (2014)... 

E narra dois casos que, sem ofensa nem para ela nem para os visados (de resto, nem sequer identificados), cabem aqui muito bem na série "Humor de caserna" (*),

A Natércia Neves era enfermeira paraquedista, graduada em furriel. É beirã. De seu nome completo, Maria Natércia Conceição Pais Neves. Pela Arminda Santos, sabemos que ele é do 7º curso, de 1970 (e,m que o brevet 8 enfermeiras paraquedistas...  Fez uma comissão de serviço nma Guiné, em 1971/72 (terá chegado logo no início de 1971 pela referência que faz a Gadamael e à morte do cap inf Assunção Silva, cmd da CCAÇ 2796). 

As duas pequenas histórias que aqui conta, são uma delícia, pelo seu fino humor. Merecem figurar num cantinho do nosso blogue. Vem inseridas no capº X ("Aspetos humanos da nossa atividade") do livro "Nós, enfermeiras paraquedistas" (2014)...

E ela passa a ter pelo menos uma primeira referência no blogie. Acrescente-se que participou no filme "Quem vai à Guerra" (Realização: Marta Pessoa | Produção: Real Ficção | Ano: 2009 | Duração:123 minutos).


Sexualidade em tempo de guerra...

por Natércia Neves


Um dia aterrei numa povoação 0nde existia um médico que, quando me viu sair do avião, não mais tirou os olhos da minha pessoa. Quando chegou muito próximo de mim, ainda antes de o ferido a evacuar chegar ao avião,  com o ar mais natural da vida, disse-me:

 − Oh, senhora enfermeiras, deixe-me pôr os olhos em cima de si! Já não vejo uma mulher há tanto tempo....

E ali ficou como que hipnotizado, a olhar-me! 

Fiquei em silêncio,um pouco encabulada, e nada disse. A maca com o ferido aproximou-.se, meteram-na dentro do avião. O médico não me disse sequer o que se tinha passado com o militar, nem qual era o seu  estado, como era sua obrigação... 

E eu também nada perguntei, pois senti que para ele não era oportuno.

Descolámos para Bissau, e o médico ficvou ali a olhar-me até que o avião, com a minha figura lá dentro, saiu do seu ângulo de visão. 

Ele não foi desrespeitoso, apenas pediu, e explicou o seu olhar...

Tive um outro caso, em que tive de fazer um qualquer tratamento em terra a um ferido antes de este entrar no pequeno avião DO-27. 

Com a maca no chão, ajoelhei-me no solo para executar o que tinha de fazer e, de repente, reparo que alguém também se ajoelhou perto de mim, mas não olhei na sua direção.

Só quando  acabei de fazer o meu trabalho é que levantei a cabeça e vi     que o meu "vizinho" estava a espreitar para o discreto decote da minha t-shirt branca, quase de gatas. e alheio a tudo o que o rodeava.

Era o comandante dessa unidade que, quando deu conta do meu raparo, tentou disgfarçar e se levantou de imediato desviando o olhar. sem nada dizer. Nem se despediu...


Fonte: Excertos de Natércia  - "Sexualidade na guerra". In: "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pág. 344(com a devida vénia)


(Seleção, revisão / fixação de texto, título: LG)


Capa do livro "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014,  439 pp.). 


Coautoras: Maria Arminda Pereira | Maria Zulmira André (†) |  Maria da Nazaré Andrade  (†) |  Maria do Céu Policarpo | Maria Ivone Reis (†) | Maria de Lourdes Rodrigues | Maria Celeste Guerra | Eugénia Espírito Santo |  Ercília Silva | Maria do Céu Pedro  (†) | Maria Bernardo Teixeira |  Júlia Almeida |  Maria Emília Rebocho |  Maria Rosa Exposto (†) | Maria do Céu Chaves |  Maria de Lourdes Cobra | Maria de La Salette Silva | Maria Cristina Silva |  Mariana Gomes | Dulce Murteira | Aura Teles |  Ana Maria Bermudes |  Ana Gertrudes Ramalho | Maria de Lurdes Gomes |  Octávia Santos | Maria Natércia Pais |  Giselda Antunes |  Maria Natália Santos |   Francis Matias | Maria de Lurdes Costa.~





Depoimento da Natércia Neves (ou Maria Natércia Pais), "Olhando para trás..." 
(op. cit., 2014, pp. 429 - 430).

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26178: Humor de caserna (82): "Anestesiado... com uísque" (António Reis, ex-1º cabo aux enf, HM 241, Bissau, 1966/68)


quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26171: Fotos à procura de... uma legenda (187): O fotógrafo, o então cmdt da CCAÇ 2796, "Gaviões" (Gadamael, 1970/72), Morais Silva (hoje cor art ref) pergunta se seria Cabedu... Vejam se o podem ajudar, que ele quer arrumar os "slides"...



Foto nº 29A


Foto nº 29B


Foto nº 29C


Foto nº 29D


Foto nº 29E


Foto nº 29D


Foto nº 29F




Foto nº 29 

Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Península de Cubucaré > Vista aérea de uma tabanca e  destacamento das NT  em  finais do ano de 1971 > Será o destacamento de Cabedu ?, pergunta o fotógrafo... Ao fundo, avista-se o rio Cacine,,,

Foto (e legenda): © Morais da Silva (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Cor art ref Morais da Silva:

 (i) cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar (será depois professor de investigação operacional na AM, durante cerca de 2 décadas);

 (ii) no CTIG, foi instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, em 1971/72;

 (iii)  “avancei no fim de janeiro de 1971 para o comando da CCaç 2796,  em Gadamael,  quando da morte em combate do seu comandante, meu camarada de curso e amigo Capitão de Infantaria Assunção Silva; fiquei, a meu pedido, no comando desta companhia até ao fim da comissão em outubro de 72”;

 (iv) fez parte do Grupo L34, na Op Viragem Histórica, no 25 de Abril de 1974; 

(v) membro da nossa Tabanca Grande, com c. 150 referências no blogue:


1. O cor art ref Morais Silva  andava a "rearrumar" fotos do seu álbum da Guiné. Mas tinha umas tantas, sem legendas (*)... São vistas aéreas, tiradas de avioneta (civil ou da FAP) quando um dia, em finais de 1971, foi fazer uma visita de cortesia, camaradagem e amizade ao Augusto José Monteiro Valente (1944-2012), cmdt da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedu, 1970/72) (precocemente falecido, com o posto de maj gen ref).

Na altura, ele comandava, desde janeiro de 1971,  a CCAÇ 2796, os "Gaviões", em Gafamael. Deixou  ao cuidado dos seus homens o  aquartelamento de Gadamael (que, logo, por azar, foi flagelado nesse dia, mas felizmente   sem consequências). 

A caminho de Catió tirou umas tantas fotos ("slides", aliás de excelente qualidade), incluindo uns quatro ou cinco do quartel e reordenamento de Gadamael.  

Reconstituindo o seu perscurso de avioneta (DO 27 ou Cesdsna), deve ter seguido para sul, ao longo do rio Cacine, sobrevoado Cacine (**) e atravessado a península de Cubucaré (que é delimitada pelos rios Cacine e Cumbijá), para chegar finalmente a Catió (***).

Recorde-se que, na altura, em finais de 1971, o PAIGC ainda estava fortemente implantado no Cantanhez. A reocupão da pensínsula de Cubucaré começa em finais de 1972 (Op Grande Empresa).

Ele está a pedir à malta do blogue, que andou por estas bandas (Gafamael, Cacine, Cabedu, Catió, Cufar, Bedanda, etc.) para o ajudarem a legendar corretamene estas "vistas aéreas!" (fotos nºs 23 e 25, que já identificámos como sendo de Catió; nº 30, que respeita a Cacine; e agora esta, a nº 29; a próxima será a nº 20, e é de um reordenamento).

Vamos lá dar uma ajuda, que a memória já não é o que era... E  mesmo sabendo que muita malta, como eu,  nunca teve o privilégio de andar de avião no interior da Guiné, em serviço ou à boleia.




Guiné > Mapa Geral (1961) (Escala 1/500 mil) > Posição relativa de Gadamael, Cacine, Rio Cacine, Cabedu, Rio Cumbijã, Catió, Cufar e Bedanda... Cabedu era um das nossas guarnições militares que ficava na península do Cubucaré, delimnitada pelos rios Cacine e Cumbijã. O Cubucaré alberga hoje Parque Nacional das Florestas de Cantanhez (criado em 2008).


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


2. Ficha da unidade  > CCAÇ 2796 , "Gaviões" (Gadamel e Quinhamel, 1970/72

Companhia de Caçadores n.º 2796
Identificação CCaç 2796
Unidade Mob: RI2 - Abrantes
Cmdt: Cap Inf Fernando Assunção Silva (falecido em combate em 24/1/1971) | Cap Art António Carlos Morais da Silva
Divisa: "Gaviões"

Partida: Embarque em 310ut70; desembarque em 10nov70 | Regresso: Embarque em 50ut72

Síntese da Actividade Operacional

Após uma curta permanência em Bissau, seguiu em 27nov70, para Gadamael e assumiu a responsabilidade do respetivo subsector em 01Dez70, em substituição da CArt 2478, ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 2865 e depois do BCaç 2930.

Em 1fev72 foi rendida pela CCaç 3518, tendo seguido para Quinhámel, por fracções, em 24jan72 e 2fev72. 

Em 22fev72, rendendo. a CCaç 2724, assumiu a responsabilidade do subsector de Quinhámel com destacamentos em Ponta Vicente da Mata, Orne e Ondame, colaborando na segurança e protecção das instalações e das populações e ainda nos trabalhos dos reordenamentos de Blom e Quiuta, na dependência do COMBIS.

Em 5set72, foi rendida no subsector de Quinhámel pela CCaç 3326, recolhendo seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 87 - 2ª Div/4ª Sec, da AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002,pág. 398

(**) Vd. poste de 17 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26161: Fotos à procura de... uma legenda (185): O fotógrafo, o então cmdt da CCAÇ 2796, "Os Gaviões" (Gadamael, 1970/72), Morais Silva (hoje cor art ref) pergunta se seria Cacine... Vejam se o podem ajudar, que ele quer arrumar os "slides"...

(***) Vd. poste de 18 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26163: Fotos à procura de... uma legenda (186): O "gavião" que perdeu, não a "pena", mas... as legendas das fotos nº 23 e 25 do seu álbum... Ele pergunta se será Catió (...falamos do cor art ref Morais Silva)

Guiné 61/74 - P26169: Elementos para a História dos Pel Art - Parte II: a artilharia de campanha estava bem representada no CTIG, com 34 Pel Art, e 47% das do total (=283) das bocas de fogo

 

Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1973 > 15º Pel Art > Obus 14 cm.... O heróico obus de Gadamael... 

Foto do nosso amigo e camarada J. Casimiro Carvalho, ex-fur mil inf op esp/ranger, CCAV 8350 (Piratas de Guileje) e da CCAÇ 11 (Lacraus de Paunca), que passou por Guileje, Gadamael, Nhacra, Paúnca, entre 1972 e 1974...

Foto (e legenda): © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados Blogue. [ Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]. 

 



Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)



1. Além das antiaéreas, a arma de artilharia mobilizou unidades próprias de apoio de fogos (artillharia de campanha) (#). Foram usados diversos modelos de bocas de fogo no CTIG, nomeadamente:

  • os obuses britânicos 8,8 cm m/43, e 14 cm m/43, além da peça 11,4 cm m/46;
  • os obuses alemães  R 10,5 cm m/41 e K 10,5 cm m/41.
Na Guiné, a artilharia de campanha estava muito descentralizada, chegando a ter no final da guerra mais de 3 dezenas de Pel Art , espelhados pelo território, tanto no interior como ao longo das linhas de fronteira. Cada um dispunha em geral de 3 armas (às vezes 2). 

Os Pel Art, em 1972 e 1973, estavam uniformente espalhados pelo território (de acordo com o quadro que se reproduz acima):
  • Zona Oeste > 13
  • Zona Sul > 11
  • Zona Leste > 11

Os valores constantes do quadro são relativos sobretudo ao dispositivo em 1972 (incluindo os primeiros 29 Pel Art, numerados de 1 a 29). Depois, em 1973, foram acrescidos mais 5, chegando aos 34 do final da guerra. 

Houve, entretanto, de 1972 para 1973 significativas alterações (trocas de guarnição, de modelos de bocas de fogo, etc.) 

Em 1 de julho de 1973, por exemplo, o 15º Pel Art (que estave em Guileje até 22/5/1973) foi colocado em Gadamael (14 cm). E,  segundo a "ordem de batalha" de 10/4/1974, é o 15º Pel Art (14 cm) que está em Gadamael (e já não o 23º Pel Art, 10,5 cm, como consta do quadro acima reproduzido).

Nessa data, em Jemberém está o 5º Pel Art (10,5 cm). E o 17º Pel Art (14 cm) está em Chugué... O 4º Pel Art (10,5 m) está em Empada... O 30º Pel Art (14 cm) mantem-se em Catió, tal como 14º Pel Art (14 cm) continua em Aldeia Formosa, e o 31º Pel Art (14 cm) em Bajocunda...

Em Buba está o 19º (14 cm) (em 1972 estava em Canquelifá)... O 2º Pel Art (10,5 cm) está agora em Fulacunda.  Em Ganjauará está agora o 6º Pel Art (10,5 cm )(em 1972 estava em Tite)... 

Tite, por sua vez, tem agora o 10º Pel Art (14 cm) que estava em Cuntima...

O 8º Pel Art (10,5 cm) continua em Pirada, na fronteira com o Senegal. Enquanto em Canqueliá está o 27º Pel Art (14cm) (que em 1972 estava emFarim)... O 28º Pel Art (14 cv,) que estava em Sare Bacar e Bafatá foi "socorrer" Buruntuma... Piche passa a ter o 14 cm (já não havia granadas para a peça 11,4...). 

Entre Nova Lamego e Piche, ficava Dara, que continua pachorrentamente com o seu 16º Pel Art (10,5 cm). Tal como em Camaju, o 3º Pel Art (10,5 cm). Sare Bacar, na fronteira Norte, com o Senegal, contnua como 22º Pel Art e com os obuses 10,5.  

Bafatá foi despromovida: o 29º Pel Art (10,5 cm) deve ter cedido auma boca de boca alguém mais aflito... O 20º Pel Art (10,5 cm) continua de pedra e cal no Xime (agira com a CCAÇ 12 como unidade de quadrícula), mas a artilharia não chega ao coração do IN (Ponta do Inglês / Poindom, margem direita do Rio Corubal), é preciso ajuda de Ganjauará (na península de Gampará)...

Na zona oeste, vemos a pacata S. Domingos com o 25º Pel Art (10,5 cm), que vem do antecente (1972). O mesmo se passa com Ingoré (33º Pel Art, 10,5 cm). E com Bachile, com o 21º Pel Art (10,5 cm). Guidaje está mais calmo, depois dos acontecimentos de maio de 1973: continua a ter lá o 24º Pel Art (10,5 cm). Em Bigene, por sua vez, a defendre a integridadeas fornteiras, está lá o 18º Pel Art, com os seus temíveis obuses 14 cm. E em Cuntima, o 23º Pel Art (10,5), que trocou com Gadamael, "a ferro e fogo" (em maio/junho de 1973): tem uma secção em Jumbembem e outra em Canjambari... (Mesmo só uma boca de fogo mantem a rapaziada do PAIGC à distância..., do outro lado da fronteira ou nas suas confortáveis imediações.)

Enfim, uma verdadeira dansa (absolutamente esquisofrénica...) da nossa artilharia de campanha, dando resposta a alterações (cada vez mais imprevisíveis) da situação militar no terreno... 

Os Pel Art, no final da guerra, dão a impressão de serem como 112, ou sejam, uma "barata tonta", como aqui escreveu o cor art ref Morais Silva: não têm mãos a medir, a "apagar fogos"... 

Amigos e camaradas: só com tempo, vagar e muita paciència poderíamos atualizar o quadro que elaborámos com os dados fornecidos pelo ten cor Pedro Marquês de Sousa, e que são sobretudo respeitantes ao ano 1972. (Felizmente, para ele, não conheceu os vários infernos do CTIG...).

Na Guiné a Bateria de Artilharia, sediada em Bissau (mais tarde,  Grupo, GA7 / GA 7) funcionava como unidade territorial, para efeitos de instrução, administração e gestão logística). Recorria-se essencialmente a praças do recrutamento local, sendo os graduados oriundos da metrópole.

Segundo Pedro Marquês de Sousa, nas três frentes da guerra de África chegaram a estar presentes 283  bocas de fogo de artilharia (31,4% em Angola; 47% na Guiné; e 21,6% em Moçambique) (op. cit, pág. 197). 

A evolução da artilharia de campanha, na Guiné, foi a seguinte ao longo do tempo:

  • 1963 > 1 bateria
  • 1964/65 > 6 Pel Art
  • 1966/67 > 12 Pel Art
  • 1968 > 15 Pel Art 
  • 1969 > 20 Pel Art
  • 1970/73 > 29 Pel Art
  • 1974 > 34 Pel Art.
Estes números também são reveladores da escalada da guerra no CTIG.

No final da guerra, predominavam os seguintes modelos de bocas de fogo:

  • Obus 10,5 > 20 Pel Art
  • Obus 14 >  12 Pel Art
  • Peça 11,4 > 2 Pel Art (só existia no CTIG)
  • Obus 8,8 > 1
As bocas de fogo eram posicionadas em espaldões  dentro do perímetro dos aquartelmentos e destacamentos. Eram usadas na resposta aos ataques e flagelações do IN, mas também no apoio às NT em operações no mato.


2. Comentário do nosso camarada C. Martins,que comandou o 15º Pel Art (14 cm) em Gadamael, em 1973/74. (Beirão, hoje médico reformado,  nunca se increveu formalmente na Tabanca Grande, por razões pessoais,  profissionais edeontológicas, mas é um leitor assíduo e ativo, com mais de 35 referências no blogue)  (##):


Caro Camarada Luís Graça:


 (...) Para tua informação e de todos os camaradas, éramos reabastecidos por batelões só com granadas,  espoletas e cargas e outro material só para o Pel Art.

Ía em média uma vez por mês[ o batelão]. Como é evidente, este stock foi feito durante vários meses. Não tínhamos restrições, mas conseguiu-se aumentar o stock falseando os gastos,  isto é gastavámos menos do que dizíamos para Bissau. Isto tinha como única finalidade não sermos apanhados com as "calças na mão".

Nos intervalos das flagelações, coçavámos a micose mas também repunhamos granadas e etc. lavavamos os obuses ( "tocar punheta", na gíria artilheira, sim que ao lavar o tubo aquilo parecia mesmo isso), [fazíamos} pequenas reparações, etc..

.Quando era necessário vinham mecânicos de Bissau no mesmo dia de heli até Cacine e depois de sintex ou zebro até Gadamael.

Onde guardávamos tanto material ? No paiol, obviamente, que tinha a porta aberta e cada um servia-se à vontade. Um dia dei-me ao trabalho de contar os cunhetes de munições de G3 e cheguei aos 400 e depois desisti.

Cada granada pesava 45 kg (...)  e cada tiro custava 2.500$00  [c. 600 euros, a preços de hoje].

Tínhamos 3 companhias,  1 Pel Art (52 militares e não trinta), 1 pelotão de canhões s/r, 1 pelotão  de morteiros 81, e 2 pelotões de milícias, no total éramos à volta de 600 militares. (##)


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Notas do editor:


(#) Último poste da série > 18 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26162: Elementos para a História dos Pel Art - Parte I: Manuel Friaças, ex-fur mil art. 1º Pel Art (14 cm) (Cameconde e Cacine, 1971/73); vive em Aljustrel

(##) Vd. poste de 8 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9460: Lições de artilharia para os infantes (2): Cada granada de obus 14 pesava 45 kg e custava 2500$00 (C. Martins, ex-comandante do Pel Art, Gadamael, 1973/74)