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segunda-feira, 22 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25424: In Memoriam (503): Agradecimento a René Pélissier (1935-2024) que ao blogue é devido; paraninfo a um devotado historiador (Mário Beja Santos)

Fotografia oferecida por René Pélissier ao blogue, o historiador está na sua biblioteca em Orgeval, França


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Abril de 2024:

Queridos amigos,
Dito cabalmente por quem agora nos deixou, a única vez que este notável historiador colaborou com um blogue, foi connosco, ofereceu-nos uma meditada reflexão sobre a dimensão caleidoscópica sobre a literatura da guerra colonial. E jamais esqueci a observação que ele me fez, em jeito de admiração, quanto à singularidade dos nossos encontros de veteranos, para ele era a prova provada de que as tribulações da guerra jamais se apagam, a elas se volta nesses encontros de partilha, foi nesse convívio que diariamente todos arriscaram a vida, o encontro, segundo ele, tão mais do que a recordação dos que partiram era a lição ao vivo de quanto pesa a solidariedade e a camaradagem.

Um abraço do
Mário



Agradecimento a René Pélissier que ao blogue é devido; paraninfo a um devotado historiador

Mário Beja Santos

Acaso ou destino, no exato momento em que tive a infausta notícia do falecimento daquele que terá sido o historiador francês que mais se dedicou a investigar o império português, fundamentalmente do século XIX aos tempos da descolonização, folheava na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa o Boletim Oficial do Governo Geral de Cabo Verde e da Costa de Guiné, a décadas que vão de 1840 a 1860, o início do trabalho de Pélissier na sua História da Guiné. É chocante o contraste entre a documentação oficial e a realidade que se vivia naquele momento no enclave português daquele ponto da costa ocidental africana, a França a procurar “despejar” a presença portuguesa das margens do Casamansa e os britânicos a querem apossar-se do Rio Grande de Bolola e de Bolama, dava-lhes jeito em termos de feitorias até à Serra Leoa.

Pélissier desvela o tráfico de escravos quase oficial, as sublevações de Bissau que exigiram a implantação de tropas preparadas naquela que vai ser a capital da colónia, mas aonde os Grumetes não dão descanso ao Governador da Praça. Isto para dizer ao leitor que Pélissier nos prestou um grande serviço tratando de forma rigorosa e verosímil a nossa presença, naquele também bastante circunscrita aos rios e rias da faixa litoral, as menções a Gabu só serão conhecidas em meados do século XIX.

Há um texto do notável historiador no nosso blogue, uma importante apreciação da literatura saída do punho dos militares, convido os confrades a relê-la, continua atual.[1]
Pélissier andava sempre a bater à porta das editoras pedindo-lhe livros não só referentes à literatura da guerra colonial como historiografia vária. No princípio do século ele só tinha sido publicado na Editorial Estampa: "História das Campanhas de Angola", "História de Moçambique" e esta "História da Guiné" circunscrita ao período de 1841 a 1936 (como se tivesse desenhado um arco histórico entre o término formal da abolição da escravatura e a pacificação de Canhabaque), conheceu edições posteriores ligadas à Faculdade de Letras do Porto. Era colaborador assíduo de publicações científicas.

Não me cabe fazer a laude do cientista, é trabalho para historiador avisado, que eu não sou. Mas sinto-me agradecido a Pélissier, ele distinguiu o nosso blogue, não se sentia animado a participar nas redes sociais, enviou-me cartas manuscritas e exigiu rever o que dele procurei adaptar. Há um aspeto para mim muito tocante da leitura que ele fazia da literatura da guerra e que se prende com os encontros regulares dos veteranos. Ele não escondia o seu assombro, a sua leitura, disse-me numa carta, passava por aquela camaradagem e solidariedade comuns que se prendia com as condições precárias, a tensão permanente e os medos partilhados. Tratava-se de um património que marca a existência até ao fim dos dias. Esses tais encontros podiam ser assumidos como um hino à vida, depois de tanta devastação e companhia do horror e das tribulações do quotidiano, tivesse a vida tido os êxitos que teve na existência de cada um, nada demais exaltante que estar um dia por ano com quem nos acompanhou naquele que terá sido o acompanhamento mais importante da vida de cada um. Agradeço esta lembrança a este historiador francófono cuja imponente biblioteca veio para Portugal.

René Pélissier (à direita), quando distinguido pela Universidade de Lisboa como Doutor Honoris Causa, 2022[2]

Obras de René Pélissier sobre a Guiné colonial
_____________

Notas do editor:

[1] - Vd. posts de:

26 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11159: Bibliografia de uma guerra (67): Alguns comentários sobre a guerra na Guiné e a sua literatura (1) (René Pélissier / Mário Beja Santos)
e
28 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11173: Bibliografia de uma guerra (68): Alguns comentários sobre a guerra na Guiné e a sua literatura (2) (René Pélissier / Mário Beja Santos)

[2] - Vd. post de 7 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23150: A Universidade de Lisboa, sob proposta da Faculdade de Letras, atribuiu o grau de Doutor Honoris Causa a René Pélissier como reconhecimento de mérito Académico, Científico e Profissional na área da História de Portugal

Vd. post anterior de 19 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25413: In Memoriam (502): Historiador René Pélissier (1935-2024), que dedicou vasta obra literária às antigas possessões portuguesas em África

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23807: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (30): Ilhotas no rio Cacheu, entre a tabanca de Elia e Susana, vistas pelo drone da doutoranda em agronomia Sofia Conde, da Universidade de Lisboa

 



Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Rio Cacheu > Fotos tiradas com um drone, pela doutoranda em agronomia Sofia Conde, engenheira agrónoma, Universidade de Lisboa, Forest Research Centre (CEF)

Fotos (e legendas): © Sofia Conde / Patrício Ribeiro (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. M
ensagem do Patrício Ribeiro (nosso correspondente em Bissau, colaborador permanente da Tabanca Grande para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau, onde vive desde 1984, e onde é empresário, fundador e diretor técnico da Impar Lda; tem cerca de 130 referências no blogue: autor da série, entre outras, "Bom dia desde Bssau"


Data - 20/11/2022, 16:33

Assunto - Fotos do Cacheu

Luís, bom dia desde Bissau.

Junto umas fotos, tiradas pela Sofia Conde no seu drone... nos seus trabalhos de doutoramento em  agronomia, e que lhe solicitei para partilhar.

São de lugares muito bonitos que existem no Norte da Guiné, entre a tabanca de Elia e Susana (vd. carta de Susana, 1955, escala 1/50 mil) (**)

Pequenas ilhas cercadas por água salgada do rio Cacheu, onde existem casas. Na tabanca de Elia, há poucos anos foram contruídas habitações para ecoturismo. Algumas ainda existem, como documentam as fotos.

Abraço

Patricio Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau, Guine Bissau
Tel,00245 966623168 / 955290250
URL; www.imparbissau.com
Email: impar_bissau@hotmail.com



Guiné > Região de Cacheu > Carta de Susana (1955) > Escala: 1/50 mil > Posição relativa de Susana, Arame, Elia e Jobel (**).

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)

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Notas do editor:

(**) 15 de janeiro de  2020 > Guiné 61/74 - P20560: Antropologia (35): Djobel, uma tabanca vítima das alterações climáticas, por Lúcia Bayan (Mário Beja Santos)

Djobel, uma tabanca vítima das alterações climáticas

Por Lúcia Bayan

[Omitem-se as fotos,  numeradas de 1 a 6]


Djobel (...) é uma pequena tabanca baiote situada no noroeste da Guiné-Bissau, no sector de São Domingos, região de Cacheu. Os Baiote são, como os Felupe, um subgrupo Joola. Em tempos idos, os Baiote desceram do Senegal e conquistaram aos Felupe o seu chão actual, entre Suzana e São Domingos. A última batalha foi travada entre Arame, tabanca baiote, e Suzana, a principal tabanca felupe. Arame venceu e ficou com as bolanhas de Suzana, situadas entre as duas tabancas. Uma pequena ponte à entrada de Suzana marca a fronteira entre os dois grupos: Felupes a oeste e Baiotes a leste.

Djobel, a quem os Felupe chamam Nhabane, está situada a sul de Arame e de Elia, muito próxima desta, e é uma tabanca muito diferente das tabancas baiote e felupe. Instalada no meio dos mangais e da água (Foto 1), na maré alta, as casas parecem palafitas e só na maré baixa se percebe que estão situadas em pequenos montículos rodeados de lama.

O acesso a Djobel só é possível de barco e na maré alta. Para quem chega a tabanca é lindíssima, mas a sua beleza esconde um tipo de vida muito duro. Não há água potável, apenas a captada em depósitos na época da chuva (Foto 2) e a que as mulheres vão buscar de canoa a Elia (Foto 3). Sair ou entrar em casa, ir ao mercado, trabalhar, à escola, buscar água, visitar o vizinho ou obter ajuda, tudo depende das marés.

Em condições tão adversas a vida em Djobel só é possível devido à enorme mestria dos Joola na construção de diques. E é também em Djobel que melhor se pode observar esta técnica, pois os habitantes desta tabanca, além de construírem diques para os arrozais, as bolanhas, também utilizam diques para defender os pequenos montículos ou ilhas da subida da água (Foto 4), impedindo assim que chegue às casas, e para a comunicação entre as ilhas, como pode ser visto na imagem retirada do Google (Foto 1).

A construção destes diques envolve toda a população da tabanca. Todos os adultos contribuem para a compra dos materiais necessários, como kirintis, placas de entrelaçado de tiras de bambu ou palmeira utilizado para fazer vedações, e para o seu transporte. Os homens cortam os paus e tecem as cordas e, depois de reunidos todos os materiais necessários, é marcada a data da construção. Nesse dia, todos participam e a tabanca fica vazia (Fotos 5 e 6).

No entanto, a subida acentuada do nível do mar, provocada pelas alterações climáticas, traz consigo a morte de Djobel. A água já chega às casas e, apesar das suas técnicas e esforços, os habitantes de Djobel terão de abandonar a tabanca.

A Guiné-Bissau faz parte dos 10 países do mundo mais vulneráveis às mudanças climáticas, especialmente à subida do nível do mar. Em Varela o mar sobe cerca de 7 metros por ano. A mudança de populações será uma necessidade cada vez mais recorrente.

As negociações para a mudança da população de Djobel iniciou-se há algum tempo. Este é um processo muito complexo que, nos últimos meses, tem originado uma série de conflitos. A escolha do novo espaço foi feita recorrendo à história: Djobel foi fundada por um filho de Arame e, por isso, esta tabanca aceitou receber os habitantes da primeira. Mas não os seus santuários!

O local escolhido, e certificado pelas entidades oficiais, situado entre Arame e Elia, começou a ser desmatado para a construção das casas. Contudo, as queimadas para preparação do terreno abrangeram uma horta de caju de uma família de Elia que, além da perda da horta, alega o terreno ser da sua família. Claro está, que os direitos à terra desta horta de caju originaram um conflito entre Arame e Elia. Cada tabanca defende uma localização diferente da fronteira que as divide. O conflito agravou-se e despoletou alianças e rivalidades tradicionais entre tabancas, alastrando-se às tabancas vizinhas Kassu e Colage. Em 24/05/2019, houve tiros e morreram duas pessoas.

O ministro do interior Edmundo Mendes deslocou-se a Elia, foram estabelecidos percursos seguros para os habitantes de cada tabanca e a situação acalmou. No final do ano passado, em 10/12/2019, a Associação Onenoral dos Filhos e Amigos da Secção de Suzana (AOFASS), uma instituição de jovens, muito activa e muito influente, com sede em Bissau, e outras instituições realizaram, em Suzana, um encontro com os líderes tradicionais da secção de Suzana, «com o intuito de sensibilizá-los a serem patrocinadores da promoção do diálogo entre as tabancas de ELIA, ARAME, DJOBEL, KASSU E COLAGE» 

(https://www.facebook.com/aofass.suzana/).

 As fotos desta reunião, publicadas pela AOFASS, mostram que compareceram muitos líderes tradicionais: todos os que têm gorro vermelho, sendo os principais os também vestidos de vermelho. Um sinal de esperança para os habitantes de Djobel?

Lúcia Bayan, 11/01/2020

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terça-feira, 11 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23695: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (99): Alguém tem exemplares do jornal "Nô Pintcha", do PAIGC, criado em 1975? Ou de panfletos, do tempo da luta armada, com a expressão "Nô Pintcha"? (Paulo Marchã, militar da FAP, ref, estudante de licenciatura em Estudos Africanos pela FL/UL)



Guiné-Bissau > Bissau > 1975 > Cabeçalho do jornal trissemanário "Nô Pintcha", ano I, nº 18, 6 de maio de 1975. Era apresentado como "órgão do subcomissariado de Estado de Informação e Turismo" e, em princípio, com este formato, foi criado em 1975. Em 27 de março de 2015 celebrou 40 anos, e passou a bissemanário.

(Imagem: Cortesia de Fundação Mário Soares > Casa Comum >Arquivos > Arquivo de Mário Pinto de Andrade).


1. Mensagem de Paulo Marchã, militar da FAP na reforma, a concluir a licenciatura em Estudos Africanos, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FL/UL)

Data - sábado, 8/10/2022, 17:12

Assunto - Imprensa antes da independencia e brochura No Pintcha

Caro camarada Luís Graça,
Espero encontrá-lo bem, assim como todos os seus familiares.
Chamo-me Paulo Marchã, tenho 64 anos e sou militar da FAP na Reforma.
Voltei aos bancos da Universidade, Faculdade de Letras de Lisboa e estou a concluir a Licenciatura em Estudos Africanos.
O Centro de História da Universidade de Lisboa lançou há dias o website do Jornal No Pintcha, onde eu estou envolvido academicamente.

Vinha solicitar os seus préstimos se haverá números que poderia disponibilizar, apesar de ser um jornal público, com tiragem inicial em 1975. No entanto, parece-me que o mesmo jornal, poderia ter uma linha de existência, mesmo precária e singela antes da independência, com o mesmo título.
Se porventura existir algum exemplar em Arquivo, ou na posse de algum camarada, mesmo outra edição de clandestinidade do PAIGC, muito lhe ficava grato que me facultassem acesso para digitalização e para fins académicos, de investigação e de estudo.

Com estima, queira acetar os meus cumprimentos,

Paulo Marchã


2. Resposta do editor LG:

Olá, Paulo, obrigado pelo contacto. Vou pôr à consideração dos nossos leitores o seu pedido (*). Temos escassas referências ao jornal "Nô Pintcha", no nosso blogue, tratando-se de uma publicação periodica oficialmente criada em 1975, já depois da independência da Guiné-Bissau. As balizas temporais do nsso blogue são basicamente as da guerra do ultramar / guerra colonal (1961/74).

Pode ser, entretanto, que alguém, entre as centenas de amigos e camaradas da Guiné que integram a nossa Tabanca Grande, possa responder positivamente ao seu pedido. Mas não temos conhecimento de nenhuma coleção do "Nô Pintcha". Pode haver, isso sim, um ou outro exemplar avulso na posse de algum dos nossos camaradas.

Quanto à existência de um eventual "Nô Pintcha", reproduzido a "stencil", durante a luta de libertação, e distribuído pelo PAIGC "no mato", a única referência que temos é a que vem no poste P16962, de 17 de janeiro de 2017 (**).

Para já ficas-nos a dúvida, se se tratava de uma publicação periódica, de um jornal, ou antes de "folhas soltas", "panfletos" com o cabeçalho "Nô Pintcha", "slogan" que o PAIGC usava na sua propaganda?... Por outro lado, pode perguntar-se: mas quem é que sabia ler, numa tabanca da margem direita do Rio Corubal, em Mina, uma das matas do Xime, em agosto de 1963, no início da guerra de guerrilha?

Infelizmente o autor do achado dessas "folhas feitas em stencil de um pequeno jornal chamado e intitulado de No Pintcha" , o Alcídio Marinho, já faleceu eem 2021 (***).  

Antigo furriel miliciano atirador de infantaria, com a especialidade de minas e armadilhas, da CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65), o Alcídio Marinho vivia no Porto. Conheci-o em 2011, a ele e à sua companheira Rosa. Compartilhou comigo algumas informações "off record" do seu tempo como opercional no TO da Guiné. Não me lembro de me ter falado desses exemplares de jornais ou panfletos de propaganda do PAIGC, capturados no mato, e muito menos que ele os tenha trazido com ele, no regresso a casa. O material apreendido, como seria normal, foi entregue ao BCAÇ 506 (Bafatá, 1963/65).

Pessoalmente inclino-me mais para a hipótese de se tratar de panfletos avulsos, encimado com o título "Nô Pintcah" (em português, Avante), como este que a seguir se repoduz, com a foto do Amílcar Cabral ao centro. (****)

Bom trabalho. Boa sorte para o projeto.

Mantenhas. Luís Graça




Guiné-Bissau > s/d > Amílcar Cabral e a sua mensagem revolucionária, Nô Pintcha (título posterior de semanário guineense, de informação geral, fundado em 1975 e dirigido por Simão Abina)... Em crioulo, a expressão "Nô Pintcha" quer dizer: Avante, Vamos dar um empurrão, Vamos para a frente...
Fonte: Sítio Xico Nhoca, consultado em 17 junho de 2010. Disponível em http://www.xiconhoca.org/nopintcha/ ) (com a devida vénia...)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23658: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (98): Em Mansabá havia 2 geradores Lister que trabalhavam alternadamente, em turnos de 4 horas (Carlos Vinhal, ex-fur mil art, MA, CART 2732, Mansabá, 1970/72)

(**) Vd. poste de 17 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16962: (Ex)citações (323): em 1963 já havia um jornal "Nô Pintcha", a stencil... Apanhámos vários exemplares, na Ponta do Inglês, em 28 de janeiro de 1964, com um título de caixa alta: "Os colonialistas também têm mercenários"... Numa foto, via-se um individuo de cabelo comprido, camisa com ramos de flores, calções escuros e sandálias havaianas, a montar uma armadilha... Esse indivíduo era eu (Alcídio Marinho, ex-fur mil at inf, MA, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

(...) No meu tempo, quando o 3º pelotão da CCAÇ 412 esteve no Xitole de junho a fim de agosto de 1963, um dia na região de Mina, numa tabanca encontrei umas folhas feitas em stencil de um pequeno jornal chamado e intitulado de No Pintcha [, leia-se: Avante, em crioulo].

Nesses panfletos davam notícias sobre a chamada luta de libertação. Mais tarde, depois de estarmos no Enxalé 28 de outubro de 1963 até 25 de janeiro de 1964, fizemos a nível de Companhia uma operação à Ponta do Inglês, em 28 de janeiro (operação Ponta do Inglês), em que levámos 13 longas horas para chegar ao acampamento inimigo, sendo este depois destruído.

Aí apareceram diversos desses jornais, onde me foi chamada a atenção por um camarada que a minha fotografia aparecia na 1ª página. O titulo era o seguinte: " Os colonialistas também têm mercenários". Via-se um individuo de cabelo comprido, camisa com ramos de flores, calções escuros e sandálias havaianas, a montar uma armadilha. O individuo da fotografia era eu. O cabelo andava comprimido, porque eu tinha tido um problema no couro cabeludo e por indicação do nosso médico, dr. Jacinto Botas, e devido ao tratamento, não podia cortar o cabelo.

A minha camisa era azul com folhas e flores amarelas, comprada em Bissau. Os calções eram azuis e tinham sido feitos pelo cabo (alfaiate) Eurico Valpaços Alves. A foto era, na época, a preto e branco, e foi tirada na zona do Enxalé. (...).

Alguns exemplares foram entregues no Batalhão [de Çaçadores] 506 que os fez chegar a Bissau, onde oficialmente se ficou a conhecer a minha actividade. Um militar sem curso de Minas e Armadilhas, fazia mais estragos que muitas unidades.

Portanto já em 1963 havia um jornal chamado Nô Pintcha. (...)

(***) Vd. poste de 1 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22244: In Memoriam (397): Com o Alcídio Marinho (1940-2021), ultrapassamos a centena de amigos e camaradas, membros da Tabanca Grande, que "da lei da morte já se libertaram" (n=103)... Quase um quarto dos falecimentos (n=25) ocorreu em 2020 e 2021 (últimos 5 meses), ou seja, em plena pandemia de COVID-19.

(****) Vd. poste de 17 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6609: Controvérsias (87): Nô Pintcha, Vamos P'rá Frente, Guiné-Bissau! (Carlos Silva, membro da ONGD Ajuda Amiga)

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23150: A Universidade de Lisboa, sob proposta da Faculdade de Letras, atribuiu o grau de Doutor Honoris Causa a René Pélissier como reconhecimento de mérito Académico, Científico e Profissional na área da História de Portugal

Com a devida vénia à Universidade de Lisboa



1. No sítio da Universidade de Lisboa, pode ler-se sobre o novo Doutor Honoris Causa:

(...) René Pélissier (Nanterre,1935), Doctorat d’État ès lettres pela Universidade da Sorbonne em 1975, com a tese intitulada Résistances et révoltes en Angola. 1845-1961, foi distinguido em 1978 com o Prix Kastner-Boursault, da Academia Francesa.

Com uma vasta obra bibliográfica, destacam-se como obras maiores do seu percurso como historiador, as monografias que redigiu sobre quatro colónias portuguesas: Les guerres grises. Résistances et révoltes en Angola (1845-1941), La colonie du Minotaure. Nationalismes et révoltes en Angola (1926-1961), Naissance du Mozambique. Résistances et révoltes anticoloniales (1854-1918), Timor en guerre. Le crocodile et les Portugais (1847-1913), Naissance de Ia Guinée. Portugais et Africains en Sénégambie (1841-1936), bem como a síntese publicada, posteriormente, sobre o terceiro império: Les campagnes coloniales du Portugal (1844-1941).

René Pélissier construiu, ao longo de uma vida muito prolífica, uma biblioteca de mais de 12.000 obras publicadas depois de 1820, a maior parte delas sobre o antigo império português, um espólio que encontra agora também uma nova casa na Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. (...)


quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20387: Agenda cultural (715): Mesa redonda sobre “Arquivos e Fontes para o Estudo dos Contextos Coloniais”, organização do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL) e do Centro de História da Universidade de Lisboa (CH-ULisboa), hoje dia 27 de Novembro, pelas 17h00, com a participação de Mário Beja Santos

C O N V I T E




Mesa-redonda: Arquivos e Fontes para o Estudo dos Contextos Coloniais

O Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL) e o Centro de História da Universidade de Lisboa (CH-ULisboa) organizam, no próximo dia 27 de Novembro, uma mesa redonda sobre “Arquivos e Fontes para o Estudo dos Contextos Coloniais”.

Partindo do debate sobre a utilização, por Mário Beja Santos, no seu livro “Os Cronistas Desconhecidos do Canal de Geba: O BNU da Guiné” (Edições Humus, 2019), dos relatórios dos gerentes da filial do BNU na então Guiné Portuguesa, esta mesa redonda alarga o âmbito da discussão e procura pôr em confronto virtualidades de diferentes tipos de arquivo, nomeadamente as que advém da riqueza própria das fontes neles guardadas.

A mesa redonda contará com a participação dos especialistas em arquivos e fontes Ana Canas (AHU e CH-ULisboa), Augusto Nacimento (CH-ULisboa e CEI-IUL), João Figueiredo (CEDIS, FD-UNL), Maria João Vaz (CIES-IUL, ISCTE-IUL) e Mário Beja Santos, e será moderada por Carlos Almeida (CH-ULisboa) e Eduardo Costa Dias (CEI-IUL, ISCTE-IUL).

A sessão será de entrada livre, na sala C1.01 (Ed. II, ISCTE-IUL), pelas 17h00.

OBS: - Com a devida vénia ao Centro de Estudos Internacionais - ISCTE-IUL
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20362: Agenda cultural (714): 26 de novembro, 3ª feira, na Livraria-Galeria Municipal Verney, Oeiras, lançamento da 10ª edição do livro "Longas Horas do Tempo Africano", de Manuel Barão da Cunha. Prefácio de Isaltino Morais, presidente da CM Oeiras

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19410: Agenda cultural: Encerra amanhã a exposição "Movimento Estudantil no Técnico 1967-1974", com colóquio às 18h00, no IST - Instituto Superior Técnico. moderado pelo historiador José Pacheco Pereira (Fernando Cerdeira)


Cartaz do colóquio a realizar amanhã, 6ª feira, às 18h00, no Instituto Superior Técnico (IST),  Universidade de Lisboa, no Salão Nobre, Campus Alameda, Lisboa. com o apoio da IST, da respetiva associação de estudantes e da Ephemera - Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira


1. Mensagem do nosso leitor Fernando Cardeira


Data - Terça-feira, 8 jan 2019  09h18
Assunt o - Encerramento da Exposição do IST com colóquio no dia 18 de Janeiro, 18H00


Caros amigos,

A exposição "Movimento Estudantil no Técnico 1967-1974",  inaugurada a 8 de Novembro de 2017,  vai encerrar no dia 18 de Janeiro de 2019, 18H00. com um Colóquio. Nele participarei ao lado de Luís Pessoa, Baptista Alves e Carlos Costa. A moderação estará a cargo de José Pacheco Pereira.
Uma hora antes é feita uma homenagem ao antigo dirigente associativo João Crisóstomo.
Contamos com a vossa presença.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1794: Blogoterapia (21): Falar da guerra, com pudor... e com alegria do novo Doutor, Leopoldo Amado (Luís Graça)

Lisboa > Universidade de Lisboa > Reitoria > 28 de Maio de 2007 > Provas públicas de doutoramento do luso-guineense Leopoldo Amado, em História Contemporâena > Alguns minutos antes do início da defesa da sua tese (Guerra colonial 'versus' guerra de libertação: o caso da Guiné-Bissau). O Leopoldo e os seus amigos (incluindo a malta do nosso blogue): 

Da direita para a esquerda (sem qualquer conotação ideológica): Eugénio Alameida (angolano, viajante entre Angola e Portugal, editor dos blogues Pululu e Malambas), António Santos, Hugo Moura Ferreira, Leopoldo Amado, José Martins, António Lopes (jornalista, ex-Público), Luís Graça e João Tunes. Tirando o Eugénio Almeida e o António Lopes, os demais pertencem a esta tertúlia, de seu nome Luís Graça & Camaradas da Guiné. Na foto só não está... o fotógrafo que, na ocasião, foi o nosso Carlos Fortunato.



Universidade de Lisboa > Reitoria > 29 de Maio de 2007 > Provas públicas de doutoramento do luso-guineense Leopoldo Amado, em História Contemporânea > Depois da decisão do júri, os amigos e a família manifestaram o seus contentamento ao novo Doutor > Na foto, o Leopoldo com duas das suas manas, simpatiquíssimas (eles são oito irmãos, espalhados pelo mundo), mais o seu filho (à esquerda) e o marido de umas das irmãs, que é farmacêutica (à direita).

Fotos: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.


Comentário do editor do blogue, a propósito do poste anterior (1) e do doutoramento do Leopoldo Amado (2):

1. A nenhum dos membros desta tertúlia move, hoje, o espírito revivalista da guerra e muito menos o espírito belicista... É bom que isso fique claro.

Não somos um clube de veteranos, de guerreiros, mortos ou aposentados... Não somos uma tertúlia de gente saudosista, que perdeu o Império, o coconote e o pôr do sol nas praias dos Bijagós... Não somos muito menos um corja de neocolonialistas, à direita, ou de antiqualquer coisa, à esquerda, como já têm insinuado a nosso respeito... Somos apenas um grupo de amigos e camaradas da Guiné, com existência mais virtual do que real...

Se falamos da guerra, e dos seus factos brutais - os mortos, os feridos, de uma lado e de outro - é apenas porque a guerra (a colonial, a do Ultramar, a de Libertação...) existiu e prolongou-se, infelizmente, por demasiado tempo... Se falamos da Guiné, é porque aprendemos a amar a terra e o seu povo...

Não defendemos aqui a superioridade - moral, militar, cultural ou civilizacional - de ninguém... O Victor Tavares foi paraquedista e foi um bom paraquedista, ao que sei. Mobilizado para a Guiné, já com um ano de paraquedista, só podia ser paraquedista e um bom paraquedista... Tem escrito sobre as suas memórias, sobre as operações em que participou... Uma escrita simples, singela, escorreita, narrando os factos, sem grandes justificações e sobretudo sem desculpas nem alibis...

Infelizmente, continua-nos a faltar aqui o ponto de vista do combatente do outro lado, bem como das populações, sob o controlo do PAIGC, que sofreram os ataques da nossa aviação, da nossa artilharia ou das nossas tropas especiais... Ninguém aqui faz a apologia da guerra. 

Nenhum de nós, camaradas da Guiné, foi rambo ou cultivava o espírito rambo... A guerra é a actividade mais trágica a que o ser humano se pode dedicar... Quando evocamos, com letimidade e propriedade, a nossa experiência de guerra, de combatentes, fazêmo-lo com pudor... Falo em geral, por que às vezes as palavras atraiçoam-nos...

Alguns de nós - a começar pelo editor do blogue - não concordavam com aquela guerra mas também não desertaram... Não vale a pena retocar a fotografia, nem muito menos destruí-la: de Junho de 1969 a Março de 1971, eu por exemplo estive na Guiné... Não direi de corpo e alma... Estive objectivamente na Guiné, de corpo inteiro, às vezes com a morte na alma, como muitos outros camaradas meus cujo sofrimento não posso avaliar... Não tenho nenhum alibi histórico... Passei muitos anos a autojustificar-me. Em vão. Hoje só quero percebero verso e o reverso da mesma moeda, da mesma guerra, colonial, do ultramar ou de libertação...

De qualquer modo, um dos princípios fundamentais deste blogue é a recusa em fazer, publicamente, juízos de valor - condenar ou louvar - as acções de guerra, quer de um lado quer do outro, relatadas na primeira pessoa do singular ou do plural... Matámos e morremos, quer de um lado e outro, da Ponta do Inglês ao Quirafo, de Guileje ao Cufeu, de Missirá às colinas do Boé: alguém tem que contar, em primeira mão, estas histórias, para que os historiadores possam fazer a História...

Na blogosfera e fora dela, queremos contribuir para que a guerra (colonial, do ultramar ou de libertação) deixe de ser aquilo que ainda é na sociedade portuguesa (e na sociedade guineense, acrescento, eu) : um "tabu contornado", para usar as palavras certeiras do meu amigo e camarada João Tunes (2).

Atrevo-me, de resto, a fazer meus os votos do embaixador Manuel Amante, para "que as memórias, por mais dolorosas que possam ter sido, não sejam apagadas mas se possam erigir numa teia que envolva ainda mais a todos os que nasceram, viveram ou tenham passado pela Guiné" (3)...


2. E a propósito da História e da guerra da Guiné, o nosso amigo, lusoguineense, Leopoldo Amado acaba hoje mesmo de obter o grau de doutor, pela Universidade de Lisboa, em História Contemporânea. 

A decisão do júri foi por unanimidade e com distinção... A nossa tertúlia está mais rica... O mérito é do Leopoldo que, nascido em Catió, em 1960, teve que comer o pão que o diabo amassou para chegar até aqui (4)... 

Nem a arrogância intelectual de um dos senhores professores doutores do júri conseguiu estragar a festa e a boa disposição dos presentes, sempre atentos, críticos e solidários... De qualquer modo, é de sublinhar a cordialidade, a pertinência e a elegância do desempenho dos restantes membros do júri.

As provas disputaram-se em dois dias. No primeiro, 28, foi a arguição da tese, sendo o principal arguente o coronel Aniceto Afonso, ex-director do Arquivo Histórico-Militar. No segundo dia, 29, foram discutidas duas questões, previamente sorteadas: (i) o Islão e a Guiné-Bissau; (ii) Etnicidade(s) e identidade nacional...

Iremos dar-lhe, ao Leopoldo e à defesa da sua tese, o devido destaque, em próximos posts. (LG).

PS 1 - Ontem foi recebido uma mensagem de apoio ao Leopoldo, que passo a transcrever:

Bom dia! Quero desejar ao Leopoldo Amado as maiores felicidades nestes dias da sua tese de doutoramento!

Um abraço a todos os camaradas Tertulianos!

José Rocha
Ex-Alferes Miliciano - CART 2410 - OS DRÁCULAS


PS 2 - No blogue Amante da Rosa, escreve-se:

Terça-feira, Maio 29, 2007 > Um Post e uma Tese de Doutoramento

Há um dia ou dois que andava meio desconfiada com o número, cada vez maior, de visitantes aqui no blog. Isto sempre foi meio intimista (pouco conhecido - é mais correcto) e de repente passo a ter mais visitantes num dia do que numa semana inteira. 20, 30 e 40 visitantes! Wow!
Desvendei o mistério. Os novos visitantes vêm todos do blogueforanadaevaotres que fez um post sobre o meu post. É engraçado e espero que seja uma descoberta agradável para os visitantes que por cá passem pela primeira vez. 

Fiquei mesmo foi com muita vontade de ler a tese de Doutoramento em História Contemporânea - Guerra colonial 'versus' guerra de libertação: o caso da Guiné-Bissau - do Professor Doutor Leopoldo Amado. Quem sabe um dia... o lançamento... aqui em Cabo Verde, uh?

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 29 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1793: Operação Muralha Quimérica, com os paraquedistas do BCP 12: Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael, Abril de 1972 (Victor Tavares)

(2) Vd. posts de:

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1782: O nosso doutorando Leopoldo Amado vai ter o seu 'baptismo de fogo' no próximo dia 28, na Universidade de Lisboa (Luís Graça)

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1783: Tese de doutoramento de Leopoldo Amado: Guerra colonial 'versus' guerra de libertação (João Tunes)

(3) Vd. post de 27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...

(4) Vd. post de 4 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P840: Curriculum Vitae do nosso doutorando Leopoldo Amado