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segunda-feira, 19 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13164: Manuscrito(s) (Luís Graça (28): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte IV): Na antiga avenida da República (, hoje Amílcar Cabral), os edifícios da Sé Catedral (João Simões, 1945) e dos Correios (Lucínio Cruz, 1950/55)



Capa da brochura de Ana Vaz Milheiro – Guiné-Bissau: 2011. Lisboa, Circo de ideias, 2012, 52 pp. (Viagens, 5). A foto  é da  Estação Metereológica de Bissau, do arq Lucínio Cruz / Gabinete de Urbanização do Ultramar, 1952. Curiosamente, este arquiteto é meu conterrâneo (nasceu em 1914 e faleceu em finais de 1990 ou princípios de 2000). Um das suas últimas obras é o prédio, na Rua da Misericórdia, na Lourinhã. onde tenho um apartamento. Em contrapartida, são  da sua responsabilidade alguns desastres urbanísticos da Lourinhã de antes do 25 de abril. Recordo-me, por exemplo, que foi ele, enquanto presidente da Câmara Municipal (1969-1974), quem tomou tomou a decisão de deitar abaixo o "coreto" da minha  infância, na Praça da República, bem como a minha saudadosa escola "Conde Ferreira"... (LG)

Imagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).



Guiné > Bissau > Catedral > Postal ilustrado do final dos anos 60. Gentilmente cedido por Beja Santos, ex-alf mil, Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca, 1968/70).   Série Postais Ilustrados. No verso deste, que não chegou a ser usado como bilhete posral, pode ler-se os seguintes dizeres, impressos: Bilhete Postal / Guiné Portuguesa / 132 - Catedral de Bissau / Fotografia verdadeira / Reprodução proibida / Edução "FOTO SERRA" / C.P. 239 Bissau / Impresso em Portugal.

Fonte: © Beja Santos (2006). Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine. Todos os direitos reservados.
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 1. Manuscrito(s) (Luís Graça)


Nota de leitura > Ana Vaz Milheiro – Guiné-Bissau: 2011.  Lisboa, Circo de ideias, 2012, 52 pp. (Viagens, 5)


Parte IV (*)

Continuação das nossas notas de leitura desta brochura da investigadora e professora do ISCTE -IUL, Ana Vaz Milheiro. Este livrinho, profusamente ilustrado com fotografias da autora, a cores.  Recorde-se que o livrinho resulta de uma singular viagem à Guiné-Bissau, de 2 arquitetos (entre as quais a autora) e de 1 sociólogo (Eduardo Costa Dias, nosso grã-tabanqueiro), durante 10 dias, de 2 a 10 de outubro de 2011.

Mais do que o Palácio do Governador e a Praça do Império, o centro urbano da Bissau colonial do nosso tempo, era o núcleo formado pelos edifícios da Sé e dos Correios (CTT), um em frente do outro, na Av da República (hoje, Av Amilcar Cabral) que desembocava no mítico cais do Pidjguiti.

Mítico ? Alguém sabia lá, no nosso tempo, em meados de 1969 quando lá desembarcámos (para não falarmos já do início da década de 60), alguém sabia, dizia eu, dos trágicos acontecimentos de 3 de agosto de 1959, pronta e habilmente explorados pelo PAIGC de Amílcar Cabral, que ainda não era PAIGC mas tão somente PAI – Partido Africano para a independência  (, criado 3 anos antes)? E muito menos sabia, diga-se de passagem, do triste papel  que jogou, nesse conflito originalmente laboral, o então administrador da Casa Gouveia António Carreira (**), mais conmhecido pela posteridade pelos seus trabalhos de etnografia colonial…



Guiné-Bissau > Bissau, capital do país. Planta da cidade, pós-independência. C. 1975. Escala 1/20 mil Pormenor: a antga Av da República, hoje Amílcar Cabral, era a avenida principal de Bissau do nosso tempo Ia da Praça do Império até ao cais de Pidjiguiti. (LG).

Imagem © A. Marques Lopes (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados [Edição: L.G.]



Guiné > Bissau > Postal de maio de 1966 > Cais do Pidjiguiti ou "Pigiguiti" (sic)

Foto: © Virgínio Briote  (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.  Todos os direitos reservados



É aqui que vamos encontrar, de novo,  um nome incontornável da arquitetura colonial estadonovista, o arq Lucínio Guia da Cruz, um contemporâneo meu, que deixou marcas indeléveis em Bissau, noutros sítios do império, e naturalmente na metrópole (cidade universitária de Coimbra, bairro de Alvalade em Lisboa, etc., incluindo na sua terra, Lourinhã, onde, além de arquiteto, foi presidente da câmara municipal, entre 1969 e 1974, e depois provedor da misericórdia local).  Como autarca, associo sempre o seu nome ao camartelo camarário: foi ele que mandou derrubou a mina “escolinha” do Conde Ferreiro, e o meu “coreto” do Largo Convento.  Embora o senhor já tenha morrido, há cerca de 20 anos, não lhe perdoo estas duas decisões “urbanísticas” que descaraterizaram o centro da nossa terra… e sobretudo destruíram o centro das minhas brincadeiras de infância…



Lourinhã > s/ d [, c. década de 50] > Praça da República: o velho coreto [, demolido no princípio dos anos 70,]. Este foi um dos lugares (mágicos) das brincadeiras da minha infância: era aqui, neste empedrado que, na hora do recreio escolar, jogávamos ao "hoquei em patins"... sem patins e com "sticks" de pau de tramagueira... Era também aqui que ouvíamos os concertos da Banda da Lourinhã, fundada em 2 de janeiro de 1878... Postal ilustrado. Edição do GEAL - Museu da Lourinhã. [Reproduzido com a devida vénia]. (Legenda: LG).



Lucínio Cruz trabalhou toda a sua vida  no Gabinete de Urbanização Colonial (depois, rebatizado Gabinete de Urbanização do Ultramar, em 1951). Era um arquiteto do regime do Estado Novo, o que não nos impede de reconhecer qualidade técnica e estética a algumas das suas obras, onde se incluem, por exemplo, o hospital de tisiologia (mais tarde, Hospital Militar 241, o edifício dos CTT, o projeto da Cãmara Municipal, e a estação metereológica de Bissau..

Mas ouçamos a opinião da conceituada cicerone Ana Vaz Milheira, ma sua crónica de viagem, a Bissau, em outubro de 2011. Sobre o edifício da Sé, diz ela:

(…) “ A Sé que hoje existe é urdida por João SDimões ainda 1945,. Em plena génese do Gabinte de Urbanização Colonial. O projeto anterior de Vasco Regaleira (1942), já sobre uma estrutura em construção, propunha uma ‘uma igreja do tipo colonial português integrando assim a composição do ambiente local’. Ao que Simões contrapõe um templo delineado ‘dentro do critério da simplicidade’, contornando assim ‘as grandes insuficiências de meios’ na Guiné, ‘no campo da construção civil’. O resultado é um edifício que se aproxima  da primeira abordagem que os arquitectos do Estado Novo tentam em África: a elaboração de um estilo original para os Trópicos,s em  abdicar dos temas da arquitectura tradicional portuguesa. Preferem,por afinidade climatérica, o sul” (p. 18).

Sita na mesma avenida, que era a avenida principal de Bissau, já traçada pelo republicano João Quinhones (que eu vim a descobrir ser o avô da nossa grã-tabanqueira, Isabel Levy Ribeiro, viúva do Pepito), temos o edifício dos CTT, em frente à Sé. Sobre ele escreveu a Ana vaz Milheiro:

(...) No lado oposto  da Avenida [da República, hoje Amílcar Cabral] encontra-se a sede dos Correios, de Lucínio Cruiz. O projeto ocupa o lote previamente destinado à Câmara Municipal, do mesmo arquitecto, que não se construiirá.  Os Correios conhecerão dois projetctos. Vinga o último, já de 1955. A fachada é monumentalizada 'à maneira' das obras do Estado Novo na metrópole, ou melhor, dos novos edifícios que emergem  no 'campus' universitário  da Alta de Cloimbra, emq ue Lucínio também trabalha. A orientação estílística  é já ouytra e ao 'maneirismo regionalista' da Sé sobrepõe-se um oputro ' maneirismo cde  Estado', mais historicista e monumental" (p. 18).


Guiné > Bissau > Anos 50 >" O novo edifício dos correios. Anteriormente os CTT eram no edifício que se encontra do lado direito e onde continuou funcionando a Emissora da Guiné ( 1º andar ). De notar a curiosa viatura que era um dos luxuosos autocarros da época que, pela semelhança, eram conhecidos por ambulâncias. Esta (ambulância) pertencia à firma A. Brites Palma. Havia ainda, tanto quanto me recordo, outras duas empresas de transportes que faziam carreiras de autocarros (ambulâncias) para toda a Guiné. Eram o Costa, sedeado em Bissau e o Escada em Teixeira Pinto (Canchungo). Tenho a vaga ideia de existir uma outra na região de Bafatá-Gabú, propriedade de um libanês, mas não tenho a certeza. Talvez alguém me possa ajudar nesta dúvida. De notar as árvores recentemente plantadas, fruto da alteração do traçado da avenida que referi neste texto". (***)



Guiné > Bissau > Anos 50 > "Perspetiva da Avenida da República , hoje, Amílcar Cabral], obtida a partir da torre da catedral já ao final do dia. O primeiro edifício, de que se vê pouco mais que o telhado, é a sede da uma das importantes firmes comerciais da Guiné: Nunes & Irmão. Mais ao fundo, do lado direito, o cinema UDIB e o palácio do governador na praça do Império. O edifício da Associação Comercial (hoje PAIGC) situado na mesma praça, ainda não existia".(***)

Fotos (e legendas): © Mário Dias (2006). Direitos reservados.





Sé Catedral de Bissau > Projeto de reformulação de João Simões / Gabienete de UIrbanização Colonial  (1945) > Fachada principal (à esquerda) e alçado posterior (à direita)






Lisboa > CCB - Centro Cultural de Belém > Garagem Sul > Exposições de Arquitectura > "ÁFRICA – VISÕES DO GABINETE DE URBANIZAÇÃO COLONIAL". A curadoria foi da Ana Vaz Milheiro (com Ana Canas e João Vieira). A exposição esteve aberta ao público de 7 de dezembro de 2013 a 28 de fevereiro de 2014 [com prolongamento até 2 Março].

Fotos de Luís Graça (2014).

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Nota de leitura:

(*) Vd. postes anteriores:

25 de abril de  2014 > Guiné 63/74 - P13042: Manuscrito(s) (Luís Graça (26): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte III): Sarmento Rodrigues, o seu palácio e a sua praça do império (fotos de Benjamim Durães, julho de 1971)

14 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12980: Manuscrito(s) (Luís Graça (25): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte II): o Pavilhão de Tisiologia, mais tarde HM 241

29 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12911: Manuscrito(s) (Luís Graça (24): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial

Último poste da série >

17 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13157: Manuscrito(s) (Luís Graça) (27): Os nossos convívios anuais: não há fome que não dê em fartura... Os (des)encontros do BCAÇ 2852, do BART 2917, da CCAÇ 12 e outras subunidades, gente de Bambadinca, 1968/72...
(**) Vd. I Série do nosso blogue > 15 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXXV: Pidjiguiti, 3 de Agosto de 1959: eu estive lá (Mário Dias)

(...) Acordo estabelecido, as várias firmas comerciais começaram a pagar aos marinheiros o novo salário. Porém, a Casa Gouveia não procedeu ao aumento e continuou a pagar pela tabela do ano anterior. Passaram-se meses e os marinheiros questionavam o gerente - na altura o ex-funcionário do quadro administrativo Intendente Carreira - sem resultados e até com uma certa sobranceria, tique que lhe deve ter ficado dos tempos de funcionário administrativo. Com o descontentamento a aumentar e ânimos cada vez mais exaltados se chegou à tristemente célebre tarde de 3 de Agosto de 1959. (...)

(***) Vd. poste de 27 de março de 2008 > Guiné 63/74 - P2691: Memórias dos Lugares (6): A Bissau dos anos 50, que eu conheci (Mário Dias)

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12980: Manuscrito(s) (Luís Graça (25): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte II): o Pavilhão de Tisiologia, mais tarde HM 241


Guiné > Bissau >  s/d > O antigo Pavilhão de Tisiologia, desenhado pelos arquitectos Licínio Cruz e Mário Oliveira, do Gabinete de Urbanização do Ultramar, Projeto de 1951/53. Passará a Hospital Militar, o HM 241, com o início da guerra, em 1963, Foto comprada na Feira da Ladra, pelo nosso infatigável Mário Beja Santos.

Foto: © Mário Beja Santos (2013). Todos os direitos reservados.


Guiné > Bissau > HM 241 > 1970 > Varanda do Hospital Militar de Bissau. Foto do álbum de Elias dos Anjos Rodrigues, ex-soldado atirador do 3.º pelotão (, comandado pelo alf mil Ravasco), da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72). O Elias mora em Vale de Anta, Chaves. Foi gravemente ferido em 10 de Agosto de 1970, numa mina A/C na região de Jifim.

Cortesia do blogue CCAÇ 2700 - Dulombi (1970/72), criado (em 2007) pelo nosso grã-tabanqueiro Fernando Barata. Foto reproduzida com a devida vénia.

Foto: © Elias Anjos Rodrigues (2012). Todos os direitos reservados.



Guiné > Bissau > 1972 > O edifício do Hospital Militar, o HM 241... Os horrores da guerra (os mutilados, os politraumatizados, os feridos graves...) eram ali despejados todos os dias, de helicóptero... Foto do Carlos Américo Rosa Cardoso que pertenceu aos Serviços de Saúde Militar, com o posto de 1º Cabo Radiologista.

Foto: © Carlos Américo Rosa Cardoso (2007). Todos os direitos reservados



Guiné- Bissau > Bissau > Novembro 2000 > Antigo Hospital Militar de Bissau, HM 241, num processo já de degradação irreversível...

Foto: © Albano Costa (2005). Todos os direitos reservados


1. Manuscrito(s), por Luís Graça

Nota de leitura >  Ana Vaz Milheiro – 2011: Guiné-Bissau. Lisboa, Circo de ideias, 2012, 52 pp. (Viagens, 5)

Parte II   

Recorde-se o que já dissemos em poste anterior sobre esta brochura da investigadora e professora do ISCTE -IUL, Ana Vaz Milheiro.

Este livrinho, profusamente ilustrado com fotografias da autora, a cores, resulta de uma singular viagem à Guiné-Bissau, de 2 arquitetos (entre as quais a autora) e de 1 sociólogo (Eduardo Costa Dias, nosso grã-tabanqueiro),  durante 10 dias, de 2 a 10 de outubro de 2011.

Com a promoção de Bissau a capital da colónia, em 1941, em plena II Guerra Mundial e em plena batalha do Atlântico, dificultando as ligações marítimas da Metrópole com as colónias africanas, agravam-se os problemas de habitação. A procura é maior do que  a oferta.

Em, 1944 chega finalmente a Bissau  uma "Brigada de construção de moradias", sob a cehefia do arq Paulo Cunha. E com ele vêm mais um arquiteto adjunto, um construtor, um desenhador, 5 carpinteiros e 8 pedreiros. Vão ser construídas casas de 3 tipologias. Por exemplo, as de 2 pisos custavam o triplo do seu valor em Lisboa. O que seria explicado por Ana Vaz Milheiros,  por 3 ordens de fatores: (i) escassez de materiais; (ii)  atrasos nas remessas financeiras da metrópole; e (iii)  falta de qualificação da mão de obra local. 

O trabalho da Brigada (1944-46) é objeto de críticas de um lado e outro. Mas, de entre os eliogios, destacam-se: (i) o desenho inovador dos projetos, superando o tradicional bangalô tropical; (ii) as preocupações de ordem estéstica que passam também a ser tidas em conta  pelos promotores imobiliários, públicos e privados; e (iii)  a atenção que é dada às condições locais de clima, luz e calor.

A volumetria de Bissau resulta em grande parte deste "padrão unifamiliar, impresso pelos projetos residenciais da Brigada", marcando a sua escala, e "contribuindo para acentuar uma fisionomia de tipo Garden City [,Cidade Jardim,] que continua a qualificar o actual ambiente urbano" e que remonta à I República (p, 12).


Do Pavihão de Tisiologia (1951-53) ao Hospital Militar 241 (a partir de 1963), com assinatura de um lourinhanense, o arq Lucínio Guia da Cruz

O antigo hospital militar, o HM 241, é hoje uma triste ruína.  Mas já fora um Pavilhão de Tisiologia, do   Hospital de Bissau  (hoje, Hospital Nacional Simão Mendes).

Localizava-se fora do perímetro urbano, a cerca de 6 km do centro. Tem risco dos arquitectos Lucínio Cruz e Mário Oliveira, ambos do Gabinete de Urbanizações do Ultramar. Data de 1951-1953. A sua localização fora da cidade, e longe do seu  buliço, obedecia às concepções higiossanitárias da época, ou sejam, as da luta antituberculose (que, na metrópole, impunham a localização dos sanatórios em altitude ou nas zonas marítimas, com "bons ares"). (A tísica, ou tuberculose pulmonar, ainda era então um grave problema de saúde pública, tranto noa metrópole como nos trópicos).

São arquitectos de regime, conservadores, mas com qualidade técnica e conhecimento da realidade local. Curiosamente, fico a agora a saber que o meu conterrâneo e vizinho arq Lucínio Cruz, já falecido, tem obra vária, edificada em  Bissau e outras partes do império. Por ex., a Estação Metereológica, em Bissau, também é dele (1952), bem como o edifício dos CTT (1950, alterado). Também fez o projeto para a Câmara Municipal de Bissau (1948, não construído). E, já agora: a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (1952-58), o Departamento de Física e Química da FCT/UC (1956-1975), parte do projeto da nova Cidade Universitária de Coimbra, exemplo acabado da arquitetura estadonovista.

Tem também, o arq Licínio Cruz, obra espalhada por outros sítios, incluindo a sua terra natal (n. 1914 e faleceu em finais de 1990 ou princípios de 2000). Inclusive o prédio, onde tenho um apartamento, na Rua da Misericórida, Lourinhã,  foi desenhado por ele. Ao que soube, na altura, terá posto termo à vida, na presença na sua última companheira, de origem africana. Foi presidente da Câmara Municipal da Lourinhã (1969-74) e provedor da Misericórdia local, no pós-25 de abril. Também era conhecido por Licínio Guia da Cruz. Lamentavelmente não encontro, na Net,  uma simples nota biográfica sobre ele, contrariamente ao seu colega Mário Oliveira (1914-2013), "o arquiteto que morreu duas vezes", no dizer de Ana Vaz Milheiro, que também é jornalista do Público.

(...) "O desaparecimento do arquitecto Mário de Oliveira, que morreu na terça-feira [, 17/12/2013,]no Hospital de Vila Real, equivale a uma segunda morte. A primeira ter-se-á dado simbolicamente, quando, nos anos de 1980, decidiu retirar-se voluntariamente da vida pública e exilar-se no Hotel Mira Corgo, em Trás-os-Montes, para pintar.

A sua actividade ao serviço do Ministério do Ultramar e o esquecimento a que Mário de Oliveira e os seus colegas arquitectos estiveram votados durante os anos que se seguiram ao 25 de Abril talvez tenham, em parte, justificado a opção. (...)

"Quanto às ruínas do velho Pavilhão de Tisiologia, estas parecem desmentir  rumores que as descrevem como mal construídas e com problemas estruturais graves (...). O estado ruinoso é já  uma realidade pós-colonial" (p. 16).

Na prática isto é uma elogio a dois dos arquitectos que fizeram carreira no Gabinete de Urbanização Colonial (1944-51), e depois Gabinete de Urbanização do Ultramar (1951-57) e por fim Direcção de Serviços de Urbanização e Habitação da Direcção Geral de Obras Públicas e Comunicações do Ministério do Ultramar (1957-74).

Estes e outros são homens, hoje  injustamente esquecidos. Tal como a arquitetura que deixamos na Guiné-Bissau

O Pavilhão de Tisiologia (que com o início da guerra colonial em 1963 vai transformar-se em Hospital Militar 241, dramaticamente familiar a muitos de nós, e tornar-se um dos melhores de África, nomeadamente ao nível  da cirurgia ortopédica. É um edifício público, tal como outros da época, que seguia a "cartilha estadonovista" da arquitetura colonial: (i) funcionalidade, (ii) resistência; e (iii) adaptação ao clima...

Já em artigo publicado, em 2009, na revista brasileira "on line" Arquitectura e Urbanismo, do mestrado de arquitectura e urbanismo, da Universidade São Judas Tadeu, em São Paulo, Ana Vaz Milheiro e Eduardo Costa Dias chamavam a atenção para o facto de  "o trabalho do Gabinete de Urbanização Colonial – um organismo central dependente  do Ministério das Colónias, criado em 1944 e exclusivamente dedicado à execução de projectos  de arquitectura e de urbanismo para as colónias, nunca foi objecto de uma investigação monográfica, embora surja parcialmente citado em algumas investigações sobre arquitectura portuguesa em  África"... Os autores, neste artigo, elegem a cidade de de Bissau, capital da Guiné Portuguesa a partir de 1941, como um caso de estudo demonstrativo dos diferentes papéis que o Gabinete assume ao longo das suas  três décadas de existência".... Assim, e como "primeira etapa da análise dos princípios de actuação dos arquitectos  ao serviço do Gabinete e da cultura de projecto seguida, procura-se aqui conhecer a extensão dos  projectos efectivamente realizados, a datação de edifícios e a identificação algumas autorias assim  como verificar o estado de conservação em que este património actualmente se encontra"...







Gabinetes de arquitetura e urbanismo coloniais (1944-1974) > Bissau > Lista de obras (feitas e por fazer) e respetivos arquitetos 






Fonte: Milheiro, Ana Vaz, e Dias, Eduardo Costa - A Arquitectura em Bissau e os Gabinetes de Urbanização colonial (1944-1974). usjt - arq urb , nº 2, 2009 (2º semestre), pp.80-114 [ Disponível aqui em pdf ]

(Continua)