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domingo, 27 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27058: As nossas geografias emocionais (535): Nhacra, Safim, Ensalmá e João Landim do meu tempo (Benito Neves, ex-fur mil, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)


Brasão da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67)


1. Mensagem enviada ontem, dia 26, àss 17:42, pelo Benito Neves, ex-fur mil, CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), através do formulário de contacto do Blogger:

Em 1965/66 a CCav 1484 esteve sediada em Nhacra e fazia a guarnição de Safim com um pelotão que destacava uma secção para João Landim e outra para Ensalmá. 

Também em Safim havia um pelotão de milícia que, à noite, reforçava Ensalmá e João Landim. (*)

Em Ensalmá havia uma ponte móvel sobre o canal do Impernal que periodicamente beneficiava de manutenção. No canal as mulheres praticavam a pesca. Quer num ou noutro destacamento havia um posto de rádio. 

Em João Landim as instalações eram precárias permanentemente invadidas por baratas. No exterior havia uma mesa de madeira e barris com água expostos ao sol. Em determinada altura resolveu-se fazer uma cobertura para que a água não estivesse ao sol e se pudesse almoçar à sombra. 

Enquanto estes trabalhos decorriam com alguns militares em tronco nú, chegou na
jangada, vindo de Bula um senhor major que não gostou de ver o pessoal em tronco nú. Perguntou a um militar quem era o comandante do Destacamento e o nosso furriel Moniz (que Deus o tenha) apresentou-se ao sr major que lhe deu uma reprimenda por o pessoal andar mal fardado e do facto fez participação superior. 

A jangada fazia o seu trabalho enquanto a tropa fazia o controle de pessoas e haveres. Diariamente a CCav 1484 fazia patrulhamentos pelas tabancas da zona com controlo da população e assistência sanitária. 

A guarnição militar de Safim, Nhacra e João Landim era feita por períodos de quinze dias. No Cumeré, naquele tempo, não havia qualquer guarnição militar, apenas a tabanca onde frequentamente se faziam patrulhamentos.

Cumprimentos,
Benito Neves (**)
________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 26 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27055: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte V: Arredores: Safim, João Landim, Ensalmá e Nhacra

(**) Último poste da série > 20 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26942: As nossas geografias emocionais (534): Arábia Saudita, Mar Vermelho, Jeddah, "a porta de Meca", 2023 (António Graça de Abreu, Cascais)

sábado, 26 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27055: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte V: Arredores: Safim, João Landim, Ensalmá e Nhacra

 


Foto nº 116A e 116


Foto nº 117A e 177



Foto nº 118 e 118A



Foto nº 114 e 114A


Foto nº 107A e 107




Foto nº  106, 106A e 106B


Foto nº 108A e 108

Foto nº 109A e 109


Foto nº 110A


Foto nº 111A


Foto nº 112


Foto nº 113A

Guiné > Ilha de Bissau   > Arredores: Safim, João Landim, Ensalmá e Nhacra

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1.  Continuação da publicação de fotos do álbum do Virgílio Teixeira  (ex-alf mil, SAM, CCS/BCaç 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*)


A Bissau do meu tempo > Arredores: Safim, João Landim, Ensalmá e Nhacra


Legendas das fotos:

F106 – Cruzamento de estradas em Safim: Logo ao sair de Safim, está um cruzamento: para o lado esquerdo, Landim  (8 km) e Bula;  Para o lado direito, Ensalmá (5 km), Nhacra (e depois, Mansoa e Mansabá). Mas também uma ligaçáo mais curta e direta entre Bissau e Nhacra. 11 março 1968

 F107 – Ponte de Ensalmá, sobre o rio Impernal, afluente do rio Mansoa.  Ficava entre Safim e Nhacra. A 5 km do cruzamento em Safim a caminho de Nhacra, segundo diz na placa. 11 março 1968.

F108 – Vista da povoação de Nhacra. Por aqui já se viam casas e ruas arranjadas, erauma zona aparentemente calma, nessa época, mais tarde não era assim. Não me lembro de encontrar um tasco qualquer para comer umas coisas, acho que não havia, Safim ficava perto, e passava lá a tropa.  11 março 1968

F109 - Vista da povoação de Nhacra.  11 março 1968

F110 - Vista da povoação de Nhacra. 11 março 1968

F111 – Uma tarde de lazer , sentado na berma da piscina do quartel de Nhacra.  11 março 1968

F112 – Vista geral da pequena piscina do quartel de Nhacra.  11 março 1968.

F113 – Salto mortal e barrigada na piscina.  11 março 1968.

F114 – Caminhada de Safim até  João Landim.  11 março 1968

F116 – Jangada em João Landim. Junto com outro militar que ainda não sei quem era, mas andava muito comigo...11 agosto 1968.

F117 – Partida da jangada de João Landim a caminho do outro lado do Rio Mansoa..11 agosto 1968.

F118 – Na jangada na cambança do rio. 11 agosto 1968.


(Revisão / fixação de texto: LG)


2. Comentário de António Rosinha (*):


O canal Impernal que liga o Rio Geba ao Rio Mansoa, foi tão navegável que em Ensalmá foi construída uma ponte levadiça, na altura dos anos 40, uma obra caríssima de certeza, e tecnicamente interessantíssima.

O canal assoreou e em 1993 só fazia de Bissau um ilha na maré cheia.

E era em Ensalmá, onde o leito do canal dava mais pé, e um simples aqueduto resolveu a circulação da água e a ponte desativou-se.

O assoreamento deu-se, provavelmente,  porque os diques, "ouriques" em crioulo, que serviam para regularizar a água para os arrozais, não foram mais mantidos, porque a mão de obra foi para a guerra.

Talvez o amigo Virgílio ainda tenha circulado em cima da ponte de bicicleta.

Ainda conheci a ponte por cima e por baixo, uma "pérola", dava para passar uma regata de veleiros.

Hoje, no google Earth vê-se a ruina da ponte e dos encontros.


Guiné 61/74 - P27054: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte IV: Arredores: Safim



Foto nº 101


Foto nº 102



Foto nº 103


Foto nº 104


Foto nº 105





Foto nº 106A e 106



Foto nº 115 e 115A

 

Foto nº 119






Foto nº 120, 120A e 120B



Foto nº  114A e 114

Guiné > Ilha de Bissau   >  Safim >  1968 > 

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de Virgílio Teixeira  (ex-alf mil, SAM, CCS/BCaç 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69):

Data - segunda, 30/06/2025, 23:47

Assunto - Safim, Nhacra, Landim, Ensalma

Meu caro amigo e camarada Luis,

Tenho seguido diariamente, várias vezes, o Blogue e todas as histórias, que não são infelizmente deste tipo que aqui trago. (...)

Este poste ando há cerca de 15 dias a tentar acabar, mas sempre algo me aparece e me faz parar, também o tema não é dos mais atractivos. É o que tenho, e ando a refazer o meu ábum e depois perco-me como uma criança que não sabe o caminho de casa.

As minhas dificuldades estão a agravar-se mas tenho sempre muitas outras coisas a fazer em prol da familia, porque todos , o quase, recorrem a mim para os mais variados assuntos sem interesse. Sou especialista em contestar multas de trânsito, e isso ocupa muito tempo, mas vale a pena.

Vamos ver em continuação como posso ir ajudando. (...)

Um grande abraço, e boa noite (...)

Em, 2025-06-30

Virgilio Teixeira

2.  A Bissau do Meu Tempo - Parte IV: Arredores: Safim 

2.1.  Introdução

O presente Poste sobre este tema, pode ferir a susceptibilidade de alguns combatentes, que não se revêm nestas fotos e descrição das mesmas.

É um tema que esteve sempre guardado, por respeito àqueles que não tiveram estas oportunidades, posso até dizer que pode ser um atentado a todos que tiveram uma guerra que não esta. Uns excessivamente mais dura, mas há muitos que também tiveram melhor vida.spero que sirva pelo menos para o conhecimento de tantos locais a rondar os 40 km de Bissau.

Já foi parcialmente postado parte deste espólio, mas como já não me lembro, vamos tentar relembrar com melhoramento das mensagens.

Como já disse, fui sempre um empreender nas viagens por aqueles lugares que na data não havia qualquer perigo, eu tinha muita vontade de um dia ir de motorizada até Mansabá.

Não sei porquê, era o nome que me soava a algo que não consigo entender. Acabei por nunca ter ido até aquela localidade , que só poderia ir desde Mansoa com escolta.

Ainda tive a ousadia de me pôr a caminho, mas fui travado por uma coluna que,  face à minha estupidez, mandaram regressar para trás, e assim foi e terminou a aventura.

Andei muitas vezes por esta zona, com especial destaque para Safim, Nhacra, João Landim, Ensalma, Rio Mansoa.

Aqui fica um resumo daquilo que andei a fazer, nas horas mortas, quando estava em Bissau e quando me deslocava para lá em serviço.

Os petiscos de Safim, a piscina de Nhacra, a jangada de João Landim, e Ensalma, as ostras de Quinhamel, e Biombo...

(22.2.  Mapas



Guiné > Bissau > Carta de Bissau (1949) (Escala 1/50 mil) >  Posição relativa de Bissau, na margem direita do estuário do Rio Geba (assinalada a vermelho) e seus arredores: Cumeré, Brá, Bissalanca, Safim, Ensalma, rio Mansoa, Nhacra (assinalados a amarelo). 

Em rigor Bissau não é uma ilha, como dizíamos no nosso tempo, diz a IA (Chatpgt)...Embora Bissau esteja quase rodeada de água por todos os lados, o que pode dar a sensação de ser uma ilha, não cumpre a definição geográfica de ilha, que exige ser completamente rodeada de água em permanência. Contrariamente à antiga capital, Bolama.

Senão vejamos: é limitada a norte e oeste pelo Rio Mansoa,a leste pelo rio ou canal do Impernal, e a sul, pelo estuário do rio Geba (navegável e ligado ao Atlântico). A oeste, porém, não há uma separação completa de água que isole a cidade do continente. Há ligações por terra que não implicam atravessar água, embora parte da área seja pantanosa ou de difícil acesso na época das chuvas.

Já outros assistentes de IA (Gemini e Perplexity) dizem que Bissau é uma ilha estuarina... Em que é que ficamos ? A Wikipedia diz que Bissau é uma ilha... 

Infografia: Blogue Luís Graça & Camarada da Guiné (2025)


Este mapa ajuda-me a perceber melhor por onde andei, com alguma "ligeireza",  nas minhas "acenturas de motorizada" quando estava em (ou vinha a) Bissau. Sem mapa!

Agora verifico que, saindo de Bissau, de Santa Luzia (Clube Militar) ou de Brá (Depósito de Adidos) (a 3 km) , e passando por Bissalanca (aeroporto e BA 12) (5 km), e chegando a Safim (18 km), temos depois duas vias alternativas:

(i) para a direita, íamos  por Nhacra (a 15 km de Safim), passando por Emsalma e atravessando o rio ou canal Impernal, afluente do rio Geba,

(ii) mas havia uma estrada, direta, de Bissau para Nhacra, sem passar por Brá, Bisslanca e Safim, que seguia  depois   para Mansoa e Mansabá, onde nunca fui, infelizmente; antes de Mansoa, à direita, cortava-se para leste (Jugudul, Porto Gole, Bambadinca,  Bafatá...), mas estava em 1967/69; mais e já para o o fim da guerra, estará em construção, o troço (alcatroado) Jugudul-Bambadinca, que deu muita porrada;

(iii) de Safim para o noroeste, região do Cacheu (Bula, Binar...),  só havia uma maneira de "cambar" o rio Mansoa:  era de jangada, em João Landim (cerca de  7 km de Safim).

Estive no outro lado do rio Mansoa, em João Landim por alguns momentos, o tempo de ir e vi na mesma jangada.


Guiné > Bula > Carta de Bula (1953) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Bula, Binar, João Lamdim e Rio Mansoa.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camarada da Guiné (2025)

2.3. Legendas das fotos

F101 – A caminho de Safim, partindo de Bissau, ou dos Adidos em Brá. Captada em 11 março 1968

F102 – E lá continuamos com nova paisagem, ao lado esquerdo estende-se um novo bairro com novas tabancas, parecido com o Bairro da Ajuda à entrada de Bissau. 11 marco 1968,

F103 – Continuando o caminho vejo a primeira pessoa, uma mulher local do outro lado da estrada, ela deveria andar pelo lado oposto, mas ainda não tinha chegado as novas regrs de peões nas estradas. 11 março 1968

F104 – Já vai longe a cidade de Bissau e o Depósito de Adidos em Brá, o terreno está deserto, vendo bem, qualquer turra me apanhava à mão, mas nunca pensei nisso, pelo que não há aqui qualquer louro para as minhas aventuras, era pura ignorância, leviandade, inocência, apesar da idade, pois já tinha os 25 anos de vida. 11 março 1968

F105 – Chegada a Safim, com foto da Placa.11 março 1968

F106 – Cruzamento de estradas em Safim: logo ao sair de Safim, está um cruzamento; para o lado esquerdo, Landim e Bula; para o lado direito, Ensalma, Nhacra, Mansoa e Mansabá. 11 março 1968.

F114 – Caminhada de Safim para  João Landim 11 março 1968

F115 – Bar esplanada à entrada de Safim. Um local muito calmo. 11 agosto 1968

F116 – Jangada em João Landim, no Rio Mansoa (cambança para Bula):

F117 – Partida da jangada de João Landim a caminho do outro lado do Rio Mansoa. 11 agosto 1968

F118 – Na jangada na cambança do rio. 11 agosto 1968

F119 – Novamente na Esplanada de Safim, com outro companheiro a bater a chapaAo lado um Unimog com tropa que foi beber uns copos 11 Agosto – 1968

F120 – Na esplanada de Safim noutro ângulo, a tomar uma bebida, junto com o furriel Riquito do meu CA (Conselho de Administração do BCAÇ 1933)  e o outro que não sei quem é, mas parace-me ou irmão ou familiar do Riquito. Em novembro de 1968

2.4. Notas complementares

 Muitas fotos são do mês de  março de 1968, foi o mês em que o meu batalhão esteve em Bissau, vindo de Nova Lamego em fins de fevereiro a caminho de São Domingos no final do mês de março. Foi o tempo mais longo em Bissau. Depois, e antes, seria uma vez por mês para a prestação de contas na Chefia de Contabilidade.

Nota-se a descontração saloia em que fazia estas aventuras, já tinha ido antes mas sem fotos.

Em várias fotos percebe-se que vai outro camarada noutra motorizada, também minha, para tirar a chapa. Uma vez foi o furriel Riquito do meu CA e acho que tinha lá um irmão ou alguém parecido que aparece em muitas fotos com ele e eu.

Uma das vezes fui com o meu homologo do BCAÇ 1932 de Farim, quando nos encontrámos em Bissau. Ele não sabia conduzir a motorizada, e fomos os dois na mesma, com o nosso peso, eu nem tanto, mas ele era muito alto e no assento de trás chegava com os pés ao chão.

Numa vez que chegámos de noite já com uns copos, ao Clube de Oficiais, eu a conduzir, ele só desiquilibrava, tinha medo de tudo.

Caimos nas valas altas, a motorizada mandou-nos pelo ar, foi uma gargalhada enorme, ele só perguntava se tinha sido o IN, fomos para o Biafra, mudar de roupa e tomar banho, depois para a Messe jantar.

O trambolhão foi grande e aparatoso, mas , tirando umas escoriações, tive de mandar reparar a minha Peugeot mas tinha a Honda entretanto.

Estive várias vezes em Safin, a maioria delas ia sozinho, não tinha muita malta para me acompanhar, não sei a razão.

Era um sitio agradável, longe da confusão de Bissau, tinha um café-cervejaria-bar logo è entrada, com boa esplanada. Bom local para descansar, comer umas ostras ou camarão e e beber  umas 'bazucas' de cerveja bem fresca. Não existiam outros motivos de interesse para fazer fotos, julgo eu, era lugar de passagem para  Bula (através de João Lamdim, a noroeste).

Como ia muitas vezes sozinho, nem sequer levava a máquina fotográfica, além do peso faltava outro para chapear. Claro que hoje penso doutra maneira, em vez de sistematicamente fazer fotos a mim próprio (narcisismo?!) deveria fotografar tantos locais que hoje não me lembro muito bem.

Faltam as fotos de Quinhamel por onde passei e do Cumeré também, não havia nada de interesse, mas o destino prega-nos partidas, pois passados mais de 15 anos, depois do meu regresso, estive lá nas instalações industriais de descasque de arroz, que foram abandonadas. (...)

Em 30 de Junho de 2025

(Continua)

(Revisão / fixação de texto: LG)

_______________

Nota do editor LG:

Último poste dsa série > 19 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26936: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte IIIc: O "Clube Militar de Oficiais" de Bissau, QG/CTIG, Santa Luzia (Fotos de 18 a 24)

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20393: Memória dos lugares (402): Nhacra, a guarda avançada da capital, Bissau: afinal, era um sítio onde se podia ir, com relativa tranquilidade, até ao final da guerra... (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540 /72, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar, Bissau, Nhacra, 19 set 1972/ 25 ago 1974)


Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477, "Os Gringos de Guileje"  (Guileje, Nhacra e Brá, 1971/73) > O fur mil Herlander Simões numa patrulha nas imediações de Nhacra.

Foto (e legenda)  © Herlander Simões (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Como era Nhacra ao tempo do nosso grã-tabanqueiro Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540 /72 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar, Bissau, Nhacra, 19 set 1972/ 25 ago 1974) ? (*)


(...) Em Nhacra, fomos encontrar os camaradas do Pelotão de Morteiros 4581/72 e os do 3º Pelotão AA da Btr AAA 7040/72, além de dois pelotões de Milícias: o 329,  aquartelado em Oco Grande, e o 230, aquartelado em Bupe, ambos pertencendo à Companhia de Milícias de Nhacra e que ficaram adidos à CCAÇ 4540.

O IN não possuía, dentro da ZA, pessoal suficiente em quadros e grupos que lhe permitisse desenvolver uma actividade dinâmica e poderosa, quer para flagelar e atacar o aquartelamento e o Centro Emissor de Nhacra, quer para emboscar as NT fora do aquartelamento. 

No entanto, fomos informados que Nhacra e o Centro Emissor foram flagelados pelo IN duas vezes:

(i) a primeira ao tempo da CCAÇ 3326, em maio de 1972, por um grupo equipado com armas automáticas e RPG-2 e 7;

(ii)  e a segunda em agosto de 1972, utilizando também um canhão s/r. 

Em ambos os casos sem qualquer consequência material ou pessoal para as NT.

Sabíamos que o IN andava por ali perto e que atravessava, frequentemente, algumas linhas principais de infiltração, para o interior da nossa ZA, a saber: de Choquemone, Infaide, Biambe, pela península de Unche para Iuncume, quando se dirigiam para Nhacra.

As principais prioridades da nossa Companhia eram: 

 (i) a garantia da segurança do Centro Emissor de Nhacra; 

(ii) o itinerário Bissau–Mansoa; 

(iii)  e, através de intensa actividade (patrulhamentos e reconhecimentos), evitar que o IN se aproximasse de forma a impedir que pudesse atacar a cidade/capital de Bissau, o Aeroporto de Bissalanca, os complexos milttares de Brá e da Sacor, bem como as instalações militares e civis do Cumeré.

Em onze meses de permanência em Nhacra, nunca tivemos contacto com IN, nem as instalações sofreram qualquer ataque.


Os aglomerados populacionais da ZA da nossa Companhia, distribuíam-se por dois regulados: 

(i) o Regulado de Nhacra com as tabancas de Nhacra (Nhacra, Teda, Sal, Bupe, Sucuto, Incume, Sumo, Nhoma e Cholufe);

(ii)  e o Regulado do Cumeré com as tabancas do Cumeré, Com, Cuntanga, Quide, Birla, Caiana, Som Caramacó, Cola, Nague, Ocozinho, Rucuto e Oco Grande (reordenamento zincado).

A estrutura agrícola existente baseava-se numa economia básica de subsistência, cujos produtos, que ocupavam lugares especiais de relevo, eram o amendoim, o arroz, o milho, a mandioca, o feijão, a cana sacarina e pouco mais. Na pecuária existiam boas condições para a criação de gado, condicionante porém pelo ancestral costume tribal, que considerava o gado como um sinal exterior de respeito e riqueza e não com um factor económico.

Era evidente e manifesto o desagrado em abater, ou mesmo vender, qualquer cabeça de gado, fosse para alimentação ou para outros fins industriais. Em toda aquela zona predominava a etnia Balanta, coexistindo com algumas minorias étnicas que se estabeleceram em chão Balanta, vindas de outras regiões, escorraçadas pela insegurança que a guerra originava, principalmente Fulas, Mandingas e alguns Manjacos.

Os Balantas eram dotados de uma impressionante constituição física, trabalhadores, valentes, enérgicos e com grande força de vontade pela vida, ao que acrescentaria que eram bons agricultores, arrancando da terra os meios de subsistência de que necessitavam, alimentando-se à base de arroz, azeite de palma, milho e mandioca. Além disso, eram polígamos e condenavam o celibato. Extremamente supersticiosos, acreditavam na transfiguração da alma, atribuindo à feitiçaria as suas desgraças.
Bissalanca, BA 12, c. 1972/74: os alf mil
 Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019) ~
e Jorge Pinto, prontos para ir até Nhacra,
de motorizadas, comer umas ostras (**)...
Foto: Jorge  Pinto (2019).

Praticavam o roubo, em especial de gado, com a consciência de um acto não criminoso, mas sim um admirável e enaltecedor sinal que revelava a perícia pessoal, bem com de toda a sua própria tribo. O gado bovino que possuíam destinavam-no às cerimónias de sacrifício, nomeadamente nos seus rituais de acompanhamentos fúnebres (choros).

Os Fulas, de um modo geral,  eram hospitaleiros, considerando mesmo a hospitalidade como um dever sagrado. Apesar da influência que o Islamismo tinha entre eles, praticavam ainda o feiticismo e criavam gado, considerado este facto como um sinal de respeito e nobreza.

A acção psicológica desenvolvida pela NT na zona era bastante intensiva, apesar de se constatar em alguns núcleos, certa reserva em relação à mesma, quando não nula, com maior evidência nas tabancas de Sal e Bupe.

As populações tinham apoio médico/sanitário, transporte em viaturas militares, assistência educativa prestada por missões religiosas em várias escolas, um professor militar e vários elementos africanos que estavam adidos à Companhia, sendo também de salientar a assistência religiosa prestada por padres missionários aos domingos. (...).

(...) A área do subsector de Nhacra tinha por limite a norte o Rio Mansoa, a sul o Rio Geba, a oeste o Canal do Impernal e, a leste, confinava com o Dugal.

Era atravessada, nos seus limites, por uma estrada asfaltada (com grande movimento de pessoas e viaturas), que ligava Bissau a Mansoa e, ainda, pela ligação entre Nhacra e Cumeré, também ela em estrada asfaltada. 

A piscina de Nhacra.
Foto de Eduardo Campos (2009)
As tabancas mais populosas tinham ligações com as estradas principais, através de picadas largas. Sobre o Canal de Impernal e no itinerário Bissau – Mansoa, encontrava-se a Ponte de Ensalmá, onde se mantinha em permanência um destacamento da Companhia, dada a sua importância estratégica e pelo facto capital de ser a única ponte que permitia a ligação por terra, entre Bissau e o resto do território da Guiné.

O terreno apresentava uma uniformidade e configuração incaracterísticas, em que os relevos praticamente não existiam, apenas entrecortado pelas bolanhas que abundavam nessa região, visto formarem-se a cotas inferiores às do terreno.

Hidrograficamente a região era rica, com os importantes rios Mansoa e Geba, bastante caudalosos na praia-mar, que chegavam a atingir cerca de três metros de amplitude e invadiam uma série de canais, do qual se destacava o Canal do Impernal, que estabelecia a ligação entre eles, dando origem à ilha de Bissau… Sim, disse ilha, porque Bissau era uma ilha e, curiosamente, muitos dos nossos camaradas desconheciam o facto.

A mata era muita reduzida nessa região, exceptuando-se pequenas manchas existentes no extremo norte do Rio Geba e nas proximidades do Canal do Impernal. Na zona interior a savana arbustiva, era salpicada, aqui e além, por árvores de grande porte (poilões), mangueiros e cajueiros.

Nas Zonas marginais dos rios e dos canais, zonas extremamente pantanosos, abundavam as plantas hidrófilas que se ramificavam em múltiplas raízes, formando o que se designava por “tarrafo”. A fauna, sem ser abundante, poderia considerar-se rica em diversas espécies.

Afinal, Nhacra, a 25 / 30 km, a nordeste de Bissau, era um sítio onde se podia ir, de carro, de moto ou de motorizada, com relativa tranquilidade, até ao final da guerra. (***)
_________

Notas do editor:

(**)  Vd, postes de:


27 de novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20386: (De)Caras (117): Eu e o saudoso Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019), prontos para ir a Nhacra, de motorizada, comer umas ostras (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20391: (De)Caras (144): A liberdade que as motos e as motorizadas nos davam... Ia-se de Bissau a Safim, Nhacra, Ensalma, João Landim... (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAC 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)



Foto nº 1 >  Guiné > Região de Bissau >  11 de março de 1968 > Ponte sobre o rio Mansoa, em Ensalmá (, inaugurada em 1952). De motorizada, o fur mil SAM Riquito (Peugeot) e o alf mil SAM Virgílio Teixeira (Honda)


Foto nº 2 > Guiné > Região de Bissau > 11 de agosto de 1968 > Rio Mansoa, João Landim, junto à "famosa jangada"---


Foto nº 3 > Guiné > Região de Bissau > Nhacra, piscina do quartel, 11 de março de 1968


Foto nº 4 >  Guiné > Região de Bissau > Nhacra, piscina do quartel, 11 de março de 1968: um salto mortal...


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira  (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Comentário ao poste P20386 , com data de 27 nov 2019, 23h33,  de Virgílio Teixeira,   ex-al mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1965/67) (*):


Luís, só agora estou a ver estas fotos, excelentes, e de motas a sério, bem como esta mensagem.

Virgílio Teixeira (*)
A minha foto de Safim, está correcta, é em março de 1968, quando o meu batalhão esteve um mês em Brá. Era uma Peugeot, acho que de 50 cc, uma coisa de dar gás, mas que me levava a todo o lado.

Virgílio Teixeira (*)
Depois temos outra em Bissau, na minha nova Honda de 50 cc, ali ao lado era onde se realizava o famoso mercado de Bandim.

Não sei se já foi enviada, estão tantas em postes, mas esta em João Landim (Foto nº 2), junto à jangada que me levou para a outra margem, já não sei o nome do local. Jugudul,  talvez, A mota, que não sei a marca, era de um outro militar, furriel, que está junto de mim.

Tenho outra que também junto, numa outra altura, em que estou eu e o meu Furriel Riquito, na ponte de Ensalma (foto nº 1), e são ambas minhas, a Peugeot e a Honda, mais nova, que tinha lugar para passageiro.

Vejo agora que não tinham matrículas, não devia ser preciso, há aqui uns anos de diferença, ou as motas tinham que ter a matricula ?!

Ambas foram compradas na mesma casa aqui referida, era o representante da Peugeot, e outras marcas e comprei lá ambas, acho que custaram uns 5 contos cada. Não sei o que fiz delas, penso que as deixei por lá, não vendi nada, isso eu sei.

António Martins de Matos (*)
Com aquela de 200 cc [, do ten pilav António Martins de Matos] (*), podia 'abrir' à vontade, e fugir dos turras que por acaso aparecessem, o que não foi o caso.

Em Nhacra no meu tempo, não se comia ostras em parte nenhuma, e em Safim, eram camarões, e talvez ostras, mas não me lembro. Ostras comia por todas as esplanadas em Bissau.

Em Nhacra ia dar uns mergulhos à piscina do quartel, lá de cima da prancha. Junto duas fotos, para os devidos efeitos, estão todas fracas, mas ainda não tinha os dons da fotografia {Fotos nº 3 e 4].

Não parava de contar aventuras, mas tenho receio (medo!) que me venham a dizer que eu fazia a guerra a andar de motorizada, quer pelas aldeias e cidades à volta de Bissau, ou a percorrer o Pilão.

Eduardo Jorge Ferreira
 (1952-2019) e Jorge Pinto (*)
Como se pode ver, quem podia, comprava uma, porque era uma grande independência para a gente desfrutar por todo o lado, sem horários, sem stress [, como era o caso do alf mil Polícia Aérea, Eduardo Jorge Ferreira (1952-2'0199]

Por agora é tudo, gostei de ver novamente as minhas fotos nas minhas loucuras pela Guiné. Tempos, de saudade, pois tinha muito menos idade, e por tudo o mais que não posso aqui  'introduzir' !

P.S. Ressalvo, quaisquer erros, omissões e outras bestialidades que possa ter escrito em cada foto.

Um abraço, podes publicar o meu comentário, se for de interesse.

Um abraço, Virgilio



Guiné > Bissau > Carta de Bissau (1949) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bissau, Bissalanca, Safim, Ensalma, Nhacra, ... De Nhacra a Bissau eram cerca de 20 km. De Bissalanca a Nhacra, por Safim, devia ser um pouco mais... E não havia problemas de segurança na região de Bissau, até ao fim da guerra... 

Decididamente o PAIGC nunca optou pela guerrilha urbana...Pelo menos, não consta que tenha morto ou apanhado à mão algum militar que circulava, de moto, ou de motorizada, pela região de Bissau, na maior das calmas... Afinal de contas, Bissau era uma "ilha" e uma "fortaleza"...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019).
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Nota do editor:

Vd. último poste da série > 27 de novembro de 2019  > Guiné 61/74 - P20386: (De)Caras (117): Eu e o saudoso Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019), prontos para ir a Nhacra, de motorizada, comer umas ostras (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)