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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20391: (De)Caras (144): A liberdade que as motos e as motorizadas nos davam... Ia-se de Bissau a Safim, Nhacra, Ensalma, João Landim... (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAC 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)



Foto nº 1 >  Guiné > Região de Bissau >  11 de março de 1968 > Ponte sobre o rio Mansoa, em Ensalmá (, inaugurada em 1952). De motorizada, o fur mil SAM Riquito (Peugeot) e o alf mil SAM Virgílio Teixeira (Honda)


Foto nº 2 > Guiné > Região de Bissau > 11 de agosto de 1968 > Rio Mansoa, João Landim, junto à "famosa jangada"---


Foto nº 3 > Guiné > Região de Bissau > Nhacra, piscina do quartel, 11 de março de 1968


Foto nº 4 >  Guiné > Região de Bissau > Nhacra, piscina do quartel, 11 de março de 1968: um salto mortal...


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira  (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Comentário ao poste P20386 , com data de 27 nov 2019, 23h33,  de Virgílio Teixeira,   ex-al mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1965/67) (*):


Luís, só agora estou a ver estas fotos, excelentes, e de motas a sério, bem como esta mensagem.

Virgílio Teixeira (*)
A minha foto de Safim, está correcta, é em março de 1968, quando o meu batalhão esteve um mês em Brá. Era uma Peugeot, acho que de 50 cc, uma coisa de dar gás, mas que me levava a todo o lado.

Virgílio Teixeira (*)
Depois temos outra em Bissau, na minha nova Honda de 50 cc, ali ao lado era onde se realizava o famoso mercado de Bandim.

Não sei se já foi enviada, estão tantas em postes, mas esta em João Landim (Foto nº 2), junto à jangada que me levou para a outra margem, já não sei o nome do local. Jugudul,  talvez, A mota, que não sei a marca, era de um outro militar, furriel, que está junto de mim.

Tenho outra que também junto, numa outra altura, em que estou eu e o meu Furriel Riquito, na ponte de Ensalma (foto nº 1), e são ambas minhas, a Peugeot e a Honda, mais nova, que tinha lugar para passageiro.

Vejo agora que não tinham matrículas, não devia ser preciso, há aqui uns anos de diferença, ou as motas tinham que ter a matricula ?!

Ambas foram compradas na mesma casa aqui referida, era o representante da Peugeot, e outras marcas e comprei lá ambas, acho que custaram uns 5 contos cada. Não sei o que fiz delas, penso que as deixei por lá, não vendi nada, isso eu sei.

António Martins de Matos (*)
Com aquela de 200 cc [, do ten pilav António Martins de Matos] (*), podia 'abrir' à vontade, e fugir dos turras que por acaso aparecessem, o que não foi o caso.

Em Nhacra no meu tempo, não se comia ostras em parte nenhuma, e em Safim, eram camarões, e talvez ostras, mas não me lembro. Ostras comia por todas as esplanadas em Bissau.

Em Nhacra ia dar uns mergulhos à piscina do quartel, lá de cima da prancha. Junto duas fotos, para os devidos efeitos, estão todas fracas, mas ainda não tinha os dons da fotografia {Fotos nº 3 e 4].

Não parava de contar aventuras, mas tenho receio (medo!) que me venham a dizer que eu fazia a guerra a andar de motorizada, quer pelas aldeias e cidades à volta de Bissau, ou a percorrer o Pilão.

Eduardo Jorge Ferreira
 (1952-2019) e Jorge Pinto (*)
Como se pode ver, quem podia, comprava uma, porque era uma grande independência para a gente desfrutar por todo o lado, sem horários, sem stress [, como era o caso do alf mil Polícia Aérea, Eduardo Jorge Ferreira (1952-2'0199]

Por agora é tudo, gostei de ver novamente as minhas fotos nas minhas loucuras pela Guiné. Tempos, de saudade, pois tinha muito menos idade, e por tudo o mais que não posso aqui  'introduzir' !

P.S. Ressalvo, quaisquer erros, omissões e outras bestialidades que possa ter escrito em cada foto.

Um abraço, podes publicar o meu comentário, se for de interesse.

Um abraço, Virgilio



Guiné > Bissau > Carta de Bissau (1949) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bissau, Bissalanca, Safim, Ensalma, Nhacra, ... De Nhacra a Bissau eram cerca de 20 km. De Bissalanca a Nhacra, por Safim, devia ser um pouco mais... E não havia problemas de segurança na região de Bissau, até ao fim da guerra... 

Decididamente o PAIGC nunca optou pela guerrilha urbana...Pelo menos, não consta que tenha morto ou apanhado à mão algum militar que circulava, de moto, ou de motorizada, pela região de Bissau, na maior das calmas... Afinal de contas, Bissau era uma "ilha" e uma "fortaleza"...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019).
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Nota do editor:

Vd. último poste da série > 27 de novembro de 2019  > Guiné 61/74 - P20386: (De)Caras (117): Eu e o saudoso Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019), prontos para ir a Nhacra, de motorizada, comer umas ostras (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)

sábado, 9 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4307: Humor de caserna (11): Amizades muito especiais (António M. Conceição Santos / Magalhães Ribeiro)


Amigos, tenho andado aqui atrapalhado a arranjar uns minutos, para escrever estas palavras que se seguem.  
São palavras que demoram sempre muito tempo a delinear no pensamento e depois, outro tanto ou mais, a teclar no PC.  
Os meus professores - Luís e Vinhal -, lá me vão explicando como se trabalha com o blogue, que tipos de letra se devem usar, os tamanhos ideais e correctos para as fotos, etc.  
Podem crer que não tem sido nada fácil. Escrevo, apago, volto a escrever e volto a apagar.  
Depois é a colocação do material no blogue... XIÇA!  
É a foto que se introduz mal e, ou, não está formatada e, ou desapareceu! É o texto que se encavalita nas fotos, ou as fotos que se desenquadram... APRE!  
Só vos digo que isto, de "trabalhar" no blogue apostando-se na qualidade da disposição e apresentação de cada um dos "posts" custa... MUITO TEMPO.  
Bom, desde que comecei a dar uma mãozinha no blogue, quase ainda nem tive tempo para ver sequer os meus e-mails "culturais", que se vão acumulando nas "caixas".  
Mas agora que consegui uns minutos vou-vos contar que, para se apresentar aquilo que vos é dado ver no blogue, tem que haver outro tanto "trabalho" nos "bastidores", coisa que, como facilmente se pode deduzir, é indispensável à equipa Luís Graça, Virgínio Briote e Carlos Vinhal, agora com a minha ainda muito recente colaboração.  
Sosseguem não vos vou martirizar com a descrição dos tais "trabalhos" mas, tão simplesmente, contar-vos uma das diversas trocas de e-mails, que se tornou hilariante entre os envolvidos no passado dia 27 de Abril.  
A ver:  
1- Recebi um e-mail do António Manuel da Conceição Santos, de Faro  
Dizia assim:  
"Parabéns, já te vi no blogue de Luís Graça & Camaradas da Guiné. Agora é só ocupares o teu tempo, pois segundo penso, estás disponível para estas coisas. Dou-te a maior força deste mundo.  
Um abração para ti e para todos os membros do respectivo Blogue.  
Louvo-vos e ergo a minha voz aos céus com um só pensamento comum: 

  • Ao Luís Graça, com toda a justiça te digo, parabéns por continuares com esta tarefa inacabada;
  • Ao Carlos Vinhal, com toda a justiça te digo, parabéns por continuares com esta tarefa inabalável;
  • Ao Virgílio Briote, com toda a justiça te digo, parabéns por continuares com esta tarefa sem fim;
  • Ao Humberto Reis, com toda a justiça te digo, parabéns por continuares com esta tarefa indestrutível;
  • Ao Magalhães Ribeiro, com toda a justiça te digo, parabéns por continuares com esta tarefa imperdível.  
É que, este trabalho só terá fim, quando todos os camaradas que passaram pela Guiné entre 1963 e 1974, tenham contado as suas histórias. Muitos, mas muitos já contaram as suas, mas ainda faltam muitos, mais que ainda não as contaram.  
Histórias de recordações, boas ou más. Histórias de angústia. Histórias de dor, de amor e de saudades.  
São as nossas histórias, memórias do passado, que neste singelo blogue nos é permitido escrever.  
Um grande alfa-bravo para a equipa.  
De um leitor que faz parte da lista do vosso/nosso blogue.  
António Manuel da Conceição Santos - Faro 
Ex-Furriel de Operações Especiais - Ranger 
Guiné (Cadique) 1972 a 1974 - CCAÇ 4540  
2- Logo de seguida reenviei-o para o L. Graça, C. Vinhal e B. Vriote 
Amigos Luís, Vinhal e Briote,
Reenvio-vos o e-mail abaixo, que me foi enviado, para vosso conhecimento. 
Já estou a receber parabéns e ainda não fiz nada... eheheheheheheh... 
Estas palavras são 100% para vós! Merecidas sem qualquer dúvida.  
Um abraço para todos vós do MR  
3- Respondi então ao Santos
Boa noite Amigo Santos,
Vamos a ver se eu consigo dar conta do recado. 
Eu, na EDP, estou só c/ mais 4 engenheiros mecânicos para a manutenção de cerca de 30 grandes barragens e quase 50 mini-hídricas.  
Além de ter que "alimentar" o meu blogue... eheheheheheh... ainda dou algum contributo, para 4 Associações, pois neste momento, sou Vice-Presidente da Delegação do Porto, da A.P.V.G. (Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra), Membro da Assembleia Geral da A.O.E. (Associação de Operações Especiais), Membro da Assembleia Geral da L.A.M.M.P. (Liga dos Amigos de Museu Militar do Porto) e Membro da Assembleia Geral da Beneficiência do Porto. 
Tenho a meu favor o método e a organização, senão estava lixado.  
Tempo precisava 27 ou 28 horas por dia... eheheheheheheh... 
São assim os RANGERS.  
Grande abraço para ti e até 10 de Junho se Deus quiser. 
MR  
4- Passados uns minutos recebi do Santos
Desculpa a minha intromissão: "como é que tens tempo para trik e trik?" heheheheheheh.   
5- A minha resposta 
Ó pá a mulher ainda não se queixou... palavra de honra!
Quando saio para as barragens, por muitos dias e durmo fora, ela vai comigo... eheheheheheheheh...  
Abraço Amigo do MR 


A Barragem de Belver situada no Rio Tejo, a cerca de 7 kms a montante da cidade Abrantes, está equipada com 6 grupos geradores
_________
Nota de MR:
Vd. último poste da série de:


quarta-feira, 29 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4266: Louvores e condecorações (7):O 10 de Junho de 1973 - Um louvor, uma estrada e suas gentes: Cadique/Jemberém (António Manuel da Conceição Santos)

 



António Manuel da Conceição Santos 
Ex-Furriel Miliciano de Operações Especiais - RANGER da CCAÇ 4540






CCAÇ 4540 – CADIQUE (Região de Cantanhez – zona libertada) 1972 a 1974 

Breve resumo da minha trajectória na Guiné 


Desembarquei na Guiné em 26 de Outubro de 1972.
Como a CCAÇ 4540 já se encontrava no Norte da Guiné na localidade de Bigene, mandaram-me para lá com uma guia de marcha (transporte em coluna terrestre). Quem emitiu a guia de transporte não sabia as dificuldades que se deparavam para lá chegar, por esta via. Tenho impressão que, se não me tivesse "desenrascado", ainda hoje andava à procura de uma coluna militar com o mesmo destino. 
Todavia, encontrei em Bissau, um sargento meu amigo, cá dos "Algarves", que se prontificou a ir comigo ao Quartel-general de Bissau e responsabilizar-se pelo meu transporte até Bigene. 

Como ele era da marinha e precisamente nessa semana (finais de Outubro/1972) se deslocava a Bigene, para efectuar um reabastecimento à nossa Companhia de Caçadores, deu-me "boleia" e assim cheguei à minha guerra. 
A 12 de Dezembro de 1972, desembarcamos em Cadique – região de Cantanhez – zona libertada do PAIGC, cuja história conto e ilustro neste texto. 
Em finais de Agosto 1973, regressamos a Bissau e fomos colocados a 8 de Setembro de 1973 em Nhacra, ficando eu a comandar a secção de Ensalmá, que efectuava o controlo de viaturas que circulavam numa pequena estrada, que passava sob uma pequena ponte junto a esta localidade, muito próxima de Bissau. 
Em 25 de Agosto de 1974 regressei à Metrópole no paquete UÍGE, que chegou a Lisboa em 30 do mesmo mês, tendo passado à disponibilidade em 22 de Setembro de 1974. 
"10 de Junho de 1973" 
UM LOUVOR, UMA ESTRADA E SUAS GENTES 
Estávamos a 12 de Dezembro de 1972, quando desembarcámos de bordo, da LDG BOMBARDA, na localidade de Cadique, situada na península dos rios Cumbijã e Cacine. Levávamos como missão, recuperar a zona de Cantanhez ao PAIGC. Tal feito foi conseguido com o auxílio da Força Aérea Portuguesa e um bi-grupo da Companhia de Caçadores Paraquedistas – 121. Sua Exª O General António de Spínola (Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas), acompanhou sempre de perto o desenrolar desta operação que ainda tenho no meu pensamento. Foi designada por: “GRANDE EMPRESA” e durou até ao dia 17 de Agosto de 1973.  

Tudo foi muito difícil. Não havia nenhuma estrutura montada, a situação era de total isolamento e a logística era muito precária. Mas começamos por ir desbravando a mata que, naquela região era muito densa. Depois com a ajuda de máquinas de engenharia militar construímos as nossas “fortalezas”, uns pequenos buracos feitos no chão, tapados com paus de palmeiras e terra por cima (não fosse cair alguma morteirada lá em cima). Abrimos estradas, poços e construímos um heliporto e um cais. Assim criamos as mais ínfimas e elementares condições para sobreviver. 
Mais à frente da nossa posição, existia uma ou outra “tabanca” dispersas, ocupadas por velhos e crianças, pois os mais novos debandaram e juntaram-se ao PAIGC. Fomos desbravando a mata com muito custo e suor. O sol não nos ajudava muito, com um brilho intenso, passava repentinamente a escuro e barulhento. Trovoadas e chuvas intensas, faziam de nós farrapos humanos, mas lá conseguimos montar o nosso aquartelamento dentro de uma clareira que conquistamos àquela mata tropical. 
Assim, embora o terreno fosse plano estávamos cercados, por um lado por uma extensa bolanha, e pelo outro lado, pela extensa mata de Cantanhez até à aldeia de Jemberém. A Norte passava o Rio Bixanque que desagua no Cumbijã e a Sul tínhamos o Rio Macobum. Rodeados de mosquitos por todos os lados. 

Um pouco mais distante, mas não muito, encontramos a aldeia de Cadique Nalú e de Cadique Imbitina, com a existência de alguma população e um pouco mais a Norte, encontramos a aldeia de Cadique Iala, um importante aglomerado populacional. 
A minha CCAÇ 4540 (Companhia de Caçadores), esteve quase sempre acompanhada por uma Companhia de Paraquedistas, depois por uma Companhia de Fuzileiros e, finalmente, por uma Companhia de Comandos.  

Os primeiros contactos que tivemos fisicamente com os turras, eram quase diários, pelo que optamos pelas emboscadas. Nestas confrontações posso afirmar, sem qualquer sombra de dúvida, que a seguinte era sempre mais difícil que a anterior. Muitas foram as nossas acções programadas e concretizadas com a intenção de por fim à intensificação dosa ataques do inimigo que, cada vez mais, se fazia sentir naquela região de Cantanhez. 
Tinha que se fazer alguma coisa para por fim àquela flamejada situação. Então, politicamente, foi decidido construir uma estrada desde Cadique a Jemberém. 
Para tal, foi desbravada a floresta, palmo a palmo por uma Companhia de Engenharia Militar sendo que, a nossa Companhia de Caçadores 4540 ficou incumbida de fazer a protecção diária à obra, aos adstritos trabalhos da construção da estrada (*) e aos respectivos trabalhadores militares e civis. 
10 de Junho de 1973 
Assim, no dia 10 de Junho de 1973, em Cadique, fomos atacados com tiros de canhão sem recuo e morteiradas de 82, bem como com fogo de canhão 6F7-66 e 6F5-95. Nesse dia estávamos a descarregar a LDG “Bombarda”, que tinha vindo reabastecer as nossas tropas. Foi um inferno, só assim sei descrever, felizmente não houve vítimas, mas a destruição foi enorme. 
De imediato, as nossas tropas reagiram ao fogo do IN (inimigo) com morteiros de 60, bazucas, G3 e HK21, tendo também a LDG "Bombarda" reagido ao ataque do IN e, em simultâneo, foi pedido, por nós, apoio de fogo com obus a Cufar. 

Estava eu a chegar ao acampamento numa Berliet atestada de mantimentos que tinha ido carregar à LDG, quando subitamente, fomos atacados com artilharia pesada já dentro do acampamento. 
Acto contínuo (poucos dias antes tinha visualizado a zona numa carta militar), orientei o tiro do morteiro 81 para um “azimute” virtual, afim de determinar a localização do IN e, calculando mentalmente a distância então visualizada, fiz calmamente "cantar" o seu tubo. A raiva era tanta que acertei em cheio na base de fogo do IN, tendo-se feito um silêncio profundo e terminado o tiroteio de ambos os lados. 
Por estes factos fui assim, naquele dia 10 de Junho de 1973, louvado pelas altas patentes militares, pela eloquente maneira como reagi debaixo do intenso fogo IN. Fi-lo fora da minha posição de defesa, tornando-me útil ao acorrer de imediato ao espaldão do morteiro 81 e ao ser ainda o primeiro homem a reagir, acertadamente, ao ataque do IN. 

Após a construção daquela estrada, deixamos Cadique. É certo que ficámos com saudade, pois foi com muito sacrifício que ajudamos a construir aquela estrada. Posteriormente, colaboramos na construção de várias tabancas naquelas aldeias perdidas no mato e contrubuímos para o desenvolvimento e a prosperação daquela região de Cantanhez.  
Lá ficou um pedaço de nós todos, do nosso suor e muitas lágrimas derramadas e partilhadas com as nossas mães. Os nossos pais aguardavam desesperadamente o nosso regresso, pois as notícias tardavam e os meios de comunicação eram deficientes. Lembro-me, como se fosse hoje, do dia em que se ouvia o helicóptero chegar trazendo os nossos aerogramas. Eram notícias da civilização que se dissipavam à medida que se deixava de ouvir o ruído daquela máquina voadora. 

Dizia um, olha o meu filho já diz papá… mais ao lado, dizia outro com a voz triste e meio chorosa, chorosa sim, porque estava angustiado, que a namorada não aguentava mais tão longa separação e que sua mãe estava a passar mal. Outros encostados aos troncos das árvores, estavam em silêncio, daquele silêncio que todos nós já estávamos habituados, até que se ouviu um camarada, que olhando para o infinito do céu, murmurou: “Não tenho notícias da minha gente... há mais de três semanas que não recebo nenhum aerograma, não sei o que fazer”. 
Tudo isto meus amigos, meus camaradas de armas, marcou-nos de facto e como disse o nosso Capitão Manuel Varanda Lucas: “Pedaços de nós todos ficaram indissoluvelmente ligados para sempre a Cadique”.
Por muito que nós tivéssemos feito, ficou ainda muito por fazer, nomeadamente, não conseguimos transmitir os nossos usos e costumes às gentes daquelas aldeias, que viviam em tribos e se vestiam apenas com uma tanga. O seu modo de estar na vida, a sua alimentação era muito deficiente e o conceito de trabalho não existia. Estes nossos valores inquestionáveis não foram aceites por aquelas raças Balantas e Nalus. 
Hoje, tal como no passado, devemos erguer a nossa voz, para que as Organizações Internacionais interfiram junto dos mais jovens, na tentativa de encontrarem melhor sorte de vida. 

E a nós, “gentes” que tão bem, melhor do que nos ensinaram, soubemos defender a nossa Pátria, quais “Bandos” porque somos agora intitulados, mas que jamais ousamos voltar as costas ao perigo, mesmo nas mais sangrentas confrontações (e agora deixo de utilizar o termo IN), com os guerrilheiros do PAIGC. 

Que ousadia meu Deus, utilizar aquele termo de “bandos” que ofendeu muitos milhares de ex-militares que passaram por Angola, Moçambique, Guiné ou Timor. Quantos lá não ficaram, quantos regressaram mortos ou feridos, quantos não ficaram inutilizados para o resto da vida, quantos meu Deus?! 

Passados tantos anos, muitos ainda sofrem de doenças graves e apresentam traumas da guerra. 

Quantos não vieram sem pernas, ou sem braços?!

Quantos são aqueles que hoje nos apelidam de “Bandos”? 

Tu que está a ler este texto, dizes para contigo, conhecido “somente um”, que Deus o perdoe porque não sabe o que diz. 
__________
(*) - Estou a construir um blogue, cujo endereço é: http://www.umraiodeluzefezseluz.blogspot.com/, onde coloquei um ficheiro: “A MINHA GUERRA 1972 a 1974 Guiné” onde se pode ver essa mesma estrada e uma das aldeias. 
(António Manuel C. Santos, Ex-Furriel Miliciano de Operações Especiais/RANGER)