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quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23741: "Despojos de Guerra" (Série documental de 4 episódios, SIC, 2022): Comentários - Parte V: 4º e último episódio, "Laços de Sangue", hoje, 5ª feira, dia 27, às 20h00, na SIC Notícias, Jornal da Noite


Série documental "Despojos de guerra", 4ª episódio: "Laços de sangue", Fotograma do "trailer" (3' 58''). Um dos entrevistados é o José Maria Indequi, secretário da direção da Associação da Solidariedade dos Filhos e Amigos dos Ex-Combatentes Portugueses na Guiné-Bissau (FIDJU DI TUGA).

1. Sinopse, com a devida vénia, SIC Notícias > 25 out 2022, 12h17;

Chamam “filhos de tuga” aos mestiços nascidos das relações entre militares portugueses e mulheres africanas que foram deixados para trás. Entre a revolta e a esperança, ainda hoje tentam encontrar um nome de pai e descobrir a outra metade da sua identidade, como sucede aos irmãos Elva e José Maria Indequi.

"Despojos de Guerra" revela histórias extraordinárias de espionagem, patriotismo, sobrevivência e romance, tendo como pano de fundo a guerra colonial portuguesa em África (1961 a 1974).

Com recurso a imagens de arquivo extraordinárias e pela primeira vez submetidas a um processo de colorização inédito em Portugal, esta série documental, com assinatura de Sofia Pinto Coelho, vem dar voz a heróis anónimos que relatam agora, na primeira pessoa, as encruzilhadas que enfrentaram em tempo de guerra e de descolonização.

"Despojos de Guerra" é uma coprodução da Blablabla Media com a SIC, com o apoio à inovação audiovisual do ICA – Instituto do Cinema e Audiovisual.

Esta quinta-feira é apresentado o último episódio da série documental "Despojos de Guerra", disponível na plataforma Opto.

Sobre este tema, e sob o descritor "filhos do vento", temos mais de 6 dezenas de referências no nosso blogue. ]

sábado, 22 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23730: "Despojos de Guerra" (Série documental de 4 episódios, SIC, 2022): Comentários - Parte IV: 3.º Episódio, "O Corredor da Morte"...Valeu pela prestação dos nossos "camarigos" Giselda e Miguel Pessoa (Carlos Vinhal / Luís Graça / Hélder Sousa / Morais Silva / Joaquim Mexia Alves / Manuel Resende / António J. Pereira da Costa / Joaquim Costa / Jorge Ferreira)

 

Sic Notícias > Primeiro Jornal > Grande Reportagem > "Despojos de Guerra", 3.º Episódio: O Corredor da Morte (31' ) > 20 de outubro de 2022 > Miguel Pessoa e Giselda Antunes: fotogramas do "trailer" (2' 37'') (Com a devida vénia...) 


1. Seleção de comentários dos nossos leitores (*)

(i) Carlos Vinhal:


"Neste episódio, Giselda revela os processos de salvamento e conta como era recolher soldados feridos em territórios controlados pelas forças inimigas."

Esta expressão não será da autoria da nossa querida Enfermeira Paraquedista Giselda. Uma coisa era um "território" onde o conflito acontecia, outra seria um "território controlado" pelas forças inimigas.

Estas séries documentais são feitas para consumo do grande público, aquele que não esteve "lá", portanto nelas cabe tudo, incluindo imagens que não têm nada a ver com o que "lá" se passou.

Este episódio foi o que mais me interessou particularmente porque nele intervieram duas pessoas que muito prezo e que viveram a guerra nas suas vertentes mais duras. A Giselda porque viu e lidou de perto com o sofrimento e a morte de camaradas combatentes, e o Miguel, ele próprio uma vítima de armas poderosas, numa altura em que a guerra assumia um ponto de não retorno.

Uma coisa ficou por dizer é que o Miguel Pessoa voltou a voar nos céus da Guiné apesar do grande susto que apanhou em Março de 1973, quando o seu Fiat foi derrubado.

Muito obrigado a ambos porque muito lhes devemos enquanto infantes.

21 de outubro de 2022 às 15:15

(ii) Luís Graça:

Carlos, estamos de acordo: há sempre "questões terminológicas" nestes trabalhos de jornalistas que são "leigos" nestas matérias, eles e elas: é uma geração que nem sequer fez a tropa, muito menos pôs os pés na Guiné do nosso tempo... Ainda bem para eles, que são muito mais novos do que nós...

Confesso que dou de barato estes erros ou imprecisões... Mas nós temos a obrigação de pugnar pelo rigor... De qualquer modo, é preciso perceber que o estilo destes programas de "grande reportagem", para mais em televisão, não admitem demasiadas legendas, notas de rodapé e muto menos "explicadores" em voz "off record"... Isto não é uma aula ou uma conferência..., é um programa de televisão.

Se entares em pormenores "demasiado técnicos" (como o uso do napalm, que foi explicitamente falado pelo Miguel, e que precisava de ser "conteztualizado"; ou o funcionamento do míssil Strela), estás feito: o programa não capta a atenção do telespectador... Não te esqueças que estamos em "horário nobre", em competição com outras estações, e a Sic Motícias não é a RTP 2 ou o Canal História...

De qualquer modo, fizeste bem em lembrar que o nosso Miguel Pessoa teve que "voltar para o castigo", depois de recuperação no "resort" do Hospital Militar Principal, em Lisboa... É ele que que nos conta na sua apresentação à Tabanca c Grande, no já longínquo ano de 2009 (ainda escrevíamos todos Strella com dois ll):

(...) "Cumpri a comissão na Guiné no período de 18NOV72 a 14AGO74, com um intervalo passado em Lisboa (entre 7ABR73 e início de AGO73) para recuperar das mazelas sofridas quando da minha ejecção de Fiat G91, depois de atingido por um SAM-7 Strella durante um apoio de fogo ao aquartelamento do Guileje." (...)

21 de outubro de 2022 às 16:08

(iii) Hélder Sousa:

Pois sim senhor, um conjunto de circunstâncias favoráveis permitiram-me ver este episódio.

E, é verdade, também reparei em imprecisões, imagens de outros locais que não a Guiné, expressões menos acertadas ou carecendo de explicação mas, e há sempre um "mas", posso dizer que gostei bastante.

E gostei, logo à cabeça, pela serenidade dos depoimentos dos nossos camaradas e amigos, sem alardes de heroísmo, sem fanfarronices, sem vitimização. Tudo com sobriedade e até, em alguns momentos, com a revelação de situações dramáticas referidas como se "não fosse nada".

Gostei também porque, embora de forma abreviada, ficaram alguns tópicos para que, quem quiser, possa aprofundar e conhecer melhor aqueles tempos, aqueles locais, aquelas situações.

O proverbial humor do Miguel está bem retratado na forma brincalhona como se dirige à Enfermeira Giselda sobre a "temperatura da água" aquando do seu (dela) resgate da DO. A forma com a Giselda relatou o "embate" com a triste realidade com a "dar a mão" ao moribundo é realmente cativante.

Também poderia ser motivo para mais e melhores explicações a advertência/conselho que o Sr. Tenente-Coronel Brito deu ao Miguel de que não estava ali para medalhas mas para ajudar aqueles 40 mil que "lá em baixo" precisavam de ajuda.

Por fim, devo dizer que o "saldo" do episódio é positivo e que deixa margem para continuidade.

21 de outubro de 2022 às 16:56

(iv) Morais Silva:

Independentemente das imprecisões ou erros, o importante foi que a Sofia Pinto Coelho deu à luz um impressivo retrato do sofrimento de muitos e da abnegação, coragem e solidariedade de muitos outros.

Das enfermeiras páras guardo a imagem de prontidão e cuidado com que recolheram os meus feridos e os conduziram para lugar seguro no HM 241 considerado no mato como passaporte para a sobrevivência.

Com os pilotaços, só tenho dívidas, tantas foram as vezes que me apoiaram, eficazmente e sem delongas, quer em evacuações quer em apoio de fogos.

Para a minha camarada Giselda vai um abraço de muita estima e reconhecimento do, agora velho, capitão de Gadamael 1970-72. Para o Miguel Pessoa, meu contemporâneo na AM que não na Guiné, vai um grande abraço e o desejo de muita saúde.

Gostei de vê-los e rever a história incrível de que são protagonistas.

21 de outubro de 2022 às 18:14

(v) Joaquim Mexia Alves:

Valeu pela grande, sincera e emotiva prestação da Giselda e do Miguel, queridos amigos. O resto teve o enviesamento habitual com a profusão de imagens de Amílcar Cabral a contar mentiras e imagens de bombardeamento de napalm em sítios que não são a Guiné e a velha conversa dos territórios libertados e da supremacia aérea

Parabéns à Giselda e ao Miguel pelo seu contributo cheio de sensatez, bom senso, e verdadeiro

21 de outubro de 2022 às 20:25

(vi) Manuel Resende:

Comento só para dar um abraço ao Miguel e Giselda. Gostei muito de vos ver e ouvir. Andava ansioso pelo dia 20.

Não sabia que voltaste a voar para ir ver onde estava a Giselda, no acidente. Pelo menos percebi isso.

Já sabia a tua estória, do Marcelino da Mata a dizer "sou eu, o Marcelino", contado pelo próprio Marcelino, e igual com a tua versão.

Continuação de boa saúde para ambos e a ver se em Janeiro nos encontramos. Abraços,  Miguel e Giselda

21 de outubro de 2022 às 23:54


(vii) António J. Pereira da Costa:

Foi um mau programa de TV e, por ele poderemos avaliar os outros que, se calhar não conhecemos tão bem por se terem passados noutros TO...

Faço coro com o Mexia Alves: "Valeu pela grande, sincera e emotiva prestação da Giselda e do Miguel, queridos amigos".

Estou farto das imprecisões e de tudo do resto de que o Helder Valério fala (imagens de outros locais que não a Guiné, expressões erradas ou carecendo de explicação).

Como se diz às vezes "se não sabes jogar à bola porque não vais aprender? Mas não é assim! Estes "programas" mal feitos não são inocentes...

Enfim é a TV que temos. Que se escuda num trailleur demasiado longo e com numa ficha técnica final que nunca mais acaba. Ainda não entendi porque é que os noticiários têm que durar mais de hora...

Não se esqueçam que são estes "programas" que ainda por cima chegam atrasados vários anos, que vão ficar em arquivo e que futuramente farão fé, perante as "novas gerações eventualmente interessadas".

Já foi aqui perguntado: "O que querem os ex-combatentes?" Várias vezes a resposta foi "Respeito!" Programas construídos assim, passados mais de um ano depois de gravados, não são uma prova de respeito. Não sou adepto de que vale mais assim do que nada. E ficar agradecido - como os pobrezinhos - também não fico.

22 de outubro de 2022 às 11:26

(viii) Joaquim Costa:

Para quem não esteve lá,  “come” tudo como se fosse real e passado na Guiné, nomeadamente a injeção do piloto Pessoa.

Para os ex-combatentes é uma fraude. Como já alguém disse: Merecíamos mais respeito.
Ou melhor, o Pessoa e a Giselda mereciam mais respeito.

Acredito que a reportagem acaba por dar uma imagem aproximada do que foi o "annus horribilis"  de 1973, aproveitando imagens reais mas descontextualizadas. Tivessem o cuidado de visitar o nosso blogue e tudo seria mais real… e mais barato.

Quanto ao facto de dar voz, também, ao outro lado, não obstante sabermos como funciona a propaganda na guerra, ouvir só um lado, não seria sério, nem honesto… nem democrático. Ninguém é detentor de toda a verdade. Já nos basta as Coreias, Chinas, Rússias, etc.

Ficam as excelentes prestações dos nossos Maiores: Giselda e Pessoa. Contudo sou da opinião que é melhor isto que nada
 
22 de outubro de 2022 às 12:13

(ix) Jorge Ferreira:

(membro da Tabanca da Linha e da Tabanca Grande, ex-al mil, 3ª CCAÇ, Nova Lamego, Buruntuma e Blama, 1961/63):

(comemtário no Facebook da Tabanaca Grander)

Magnifico contributo para as actuais gerações se aperceberem do que foram as vicissitudes dos "então" jovens de 60/70.

Faço minha a frase "estas séries documentais são feitas para consumo do grande público".

Grato aos depoimentos dos Camaradas Giselda/Miguel Pessoa.
22 de outubro de 2022 às 12:48
__________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 21 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23727: "Despojos de Guerra" (Série documental de 4 episódios, SIC, 2022): Comentários - Parte III: 3.º Episódio, "O Corredor da Morte" ou.... "Uma história de amor improvável em tempos de guerra" (protagonizada por Miguel Pessoa e Giselda Antunes)

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23727: "Despojos de Guerra" (Série documental de 4 episódios, SIC, 2022): Comentários - Parte III: 3.º Episódio, "O Corredor da Morte" ou.... "Uma história de amor improvável em tempos de guerra" (protagonizada por Miguel Pessoa e Giselda Antunes)



Sic Notícias > Primeiro Jornal > Grande Reportagem > "Despojos de Guerra", 3.º Episódio: O Corredor da Morte  (31' ) > 20 de outubro de 2022 > Miguel Pessoa e Giselda Antunes: fotogramas do "trailer" (2' 37'')  (Com a devida vénia...) (*)


1. Gostei da "prestação" dos nossos "camarigos" Miguel Pessoa e Giselda Antunes (, depois, Pessoa, por casamento com o Miguel)... O mesmo é dizer, tem mérito o trabalho da equipa da jornalista e realizadora Sofia Pinto Coelho, que os entrevistou, no Museu do Ar - Polo de Alverca, há cerca de um ano atrás. (Só agora, devido à pandemia e à guerra da Ucrânia, esta série foi para o ar, devendo ser exibido, no próximo dia 27, o 4.º e último episódio, dedicado ao tema dos "filhos do vento").

O Miguel e a Giselda foram protagonistas de uma história de guerra, já conhecida há muito dos leitores do nosso blogue, mas é bom que fique também  gravada, em programas televisivos como este, e que chegue ao grande público. 

Um dia de gravações é resumido ou condensado em escassos 30 minutos. É o preço que se paga pela produção televisiva, que é caríssima. Podemos apontar alguns erros e falhas na narrativa e na escolha das imagens (à equipa faltou a asssessoria de especialistas em história militar e "air warfare": vejam-se as imagens da rampa fixa de lançamento do Strela, que o PAIGC não chegou a ter durante a guerra; ou o bombardeamento da aviação, com um tipo de avião e de bombas que a FAP não usava no TO da Guiné...). Mas o mais importante é o lugar de honra que, neste episódio, cabe a dois "camadas de armas", que representam algo mais do que eles próprios, 

Para além da sua história pessoal (e ambos passaram por situações muito dramáticas, duas das quais são aqui contadas e reconstituídas), para além dos seus destinos que acabaram por se cruzar, na guerra e no amor), o Miguel e a Giselda representam os nossos bravos pilotos e as nossas não menos corajosas e pioneiras enfermeiras paraquedistas. 

Miguel e Giselda, gostei de vos rever sob os "céus da Guiné", onde vocês deram o vosso  melhor na paz e na guerra. (E continuaram, depois de 1974, a servir a FAP e Portugal.)

Este é o comentário que faço, em cima do joelho, antes de ir para a minha sessão matinal de fisioterapia,  Prometo voltar ao episódio nº 3 da série "Despojos de Guerra", depois de rever o programa, que gravei. E deixo a porta aberto para os valiosos comentários dos nossos leitores..Mas,  por favor, não digam que o jornalismo português não se interessa pela "nossa" guerra... Ou que o trabalho dos jornalistas portuguesas sobre a "nossa" guerra, é sempre mau ou superficial ou trapalhão... Ou que há uma "pobreza franciscana" nos arquivos sobre a "nossa" guerra... Em suma, não digam sempre mal... 

PS1 - Convenhamos: o subtítulo pode  enviesar o sentido da história... De qualquer modo, as televisões, em concorrência feroz pelas audiências, precisam de títulos e subtítulos apelativos: "O corredor da morte" é um deles, mas na reportagem não se explica que raio de "corredor" era este, que passava por Guileje... onde o avião do Miguel foi atingido por um Strela em 25 de março de 1973... 

Quanto ao "subtítulo", "uma história de amor improvável em tempo de guerra", convenhamos, que é mais atrativo... Todo o mundo está cheio das imagens brutais da guerra que nos entra pela casa adentro, nos telejornais... O amor "humaniza" (?) ou "ameniza" a guerra... E, neste caso, também uma história de amor que dava um filme, como alguns de nós aqui já escreveram... Envolvendo dois seres humanos maravilhosos que foram militares, vestiram a mesma farda, honraram a mesma bandeira, e tinham (e continuam a ter)  além disso, mais outras coisas em comum, como muito bem explicou o Miguel: o sentido da lealdade, da solidariedade, da camaradagem... (e, eu já agora acrescento, o bom humor, a fina ironia, bem patente em duas ou três frases que ressaltam da entrevista: por exemplo, quando o "safado" do Miguel perguntou à "pobre" Giselda, que caiu o charco" da ilha do Colmo, em novembro de 1973,  quando o motor da DO-27  parou, e foi resgatada depois pela marinha, "se a água estava morninha"...).

Este episódio vale pela entrevista a estes nossos dois grandes "camarigos": um lisboeta, o Miguel, a outra, transmontana, a Giselda, da terra do grande poeta e contista Miguel Torga, São Martinho de Anta, Sabrosa, Trás os Montes (ou o "Reino Maravilhoso")... Vá lá, Giselda, a jornalista não te trocou o nome (costumam chamar-te Gisela...).

Quanto ao Miguel Pessoa, "lisboeta"... Sei que ele é alfacinha, de gema, nascido na Penha de França. Mas que, aos dois anos, "djubi", foi levado para Portalegre. Tem, pois, na infância e adolescência, a vivência alentejana... Tal como o vinho, aqui o "chão", o "terroir", também importa... Enfim, sesculpem, Miguel e Giselda, estas "inconfidências", mas as vossas histórias de vida também nos "pertencem"...

PS2- Ao rever hoje a gravação que fiz do episódio nº 3 da série "Despojos de Guerra", vejo com agrado que na ficha técnica há o cuidado de citar as fontes utilizadas (imagens e vídeos) e de agradecer às pessoas, individuais e coletivas, que colaboram com a equipa que concebeu e realizou este trabalho. Entre outros nomes, registei: AD - Acção para o Desenvolvimento / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, Virgínio Briote, Ramiro Jesus, Luís Graça... 


2. "Despojos de Guerra",3ª Episódio: O Corredor da Morte  (31') > Sinopse

“Despojos de Guerra” revela histórias extraordinárias de espionagem, patriotismo, sobrevivência e romance tendo como pano de fundo a guerra colonial portuguesa em África (1961 a 1974).

Esta série documental é uma coprodução da Blablabla Media com a SIC, com o apoio à inovação audiovisual do ICA – Instituto do Cinema e Audiovisual, e pode ser vista no Jornal da Noite da SIC e na plataforma OPTO.

No episódio que será exibido durante o Jornal da Noite desta quinta-feira é contada a história de Miguel Pessoa, um dos milhares de portugueses enviados para o continente africano durante a guerra colonial.

O outrora piloto-aviador relata os primeiros momentos vividos em territórios inimigos e as primeiras impressões por ele sentidas. O cheiro, a temperatura e as primeiras palavras que ouviu quando chegou à Guiné-Bissau ainda estão bem presentes na sua memória.

"Você não está aqui para ganhar medalhas nenhumas, está aqui para ajudar os 40 mil indivíduos desgraçados que estão aí abandonados", cita Miguel Pessoa as palavras que lhe foram dirigidas por um tenente, 
assim que aterrou em solo africano. 

[Na realidade, tratava-se do tenente-coronel pilav José Fernando de Almeida Brito, comandante do Grupo Operacional 1201, cujo Fiat G-91 viria também a ser abatido por um Strela três dias depois do do Miguel, em 28 de março de 1973; mas contrariamente ao Miguel, o Almeida Brito, seu comandante, não mais iria regressar à BA 12 para poder contar a história. O jornalista poderia ter pesquisado, com mais atenção, o nosso blogue.  LG].

Conta também a história que viria a mudar a sua vida, quando foi chamado para fazer o apoio de fogo ao aquartelamento de Guileje, no sul da Guiné Bissau [em 25 de março de 1973].

Nessa missão, a aeronave em que o piloto-aviador seguia foi atingido por fogo inimigo, o que o obrigou a ejetar-se do avião. Miguel conseguiu aterrar mas ficou inconsciente…

Quando os dois destinos se cruzam

Giselda Antunes tinha sido destacada para cumprir funções como enfermeira-paraquedista na guerra colonial. Neste episódio, Giselda revela os processos de salvamento e conta como era recolher soldados feridos em territórios controlados pelas forças inimigas. Um dos salvamentos iria mudar a sua vida para sempre.

O seu trajeto viria a cruzar-se com Miguel Pessoa, quando esta teve de socorrê-lo em território inimigo, tal como era sua função. Foi entre disparos e violência que surgiu uma história de amor, que pode conhecer esta quinta-feira no Jornal da Noite.



A Giselda Antunes (depois de 1974, quando se casou, Giselda Pessoa) tem cerca de 90 referências no nosso blogue. O Miguel Pessoa tem 226 referências. 
___________

Nota do editor: 

(*) Vd. postes anteriores;

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23703: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (53): A Sebastiana Valadas (1º episódio da série da SIC, "Despojos de Guerra") e os "cantineiros do mato" em Angola


Angola > Grupos étnicos > Distribuição geográfica (1970). Actualizados os nomes das cidades.Todos estes povos são bantos, com exceção dos Khoisan (Boximanes e Hotentotes)

Fonte: Angola_Ethnic_map_1970-de.svg / Wikimedia Commons (adaptado, com a devida vénia).


1. Mensagem de António Rosinha (ex-fur mil, Angola, 1961/62, topógrafo na vida civil, retornado, tendo mais tarde vivido e trabalhado na Guiné-Bissau, na TECNIL, no período de 1987/93; tem mais de 130 referências no blogue, é autor da série "Caderno de Notas de Um Mais Velho":

Data - 12 out 2022 15:19 
Assunto - Sebastiana Valadas (SIC) e um pouco da guerra no Leste de Angola.

Sebastiana Valadas contou um episódio da sua vida em Angola, na SIC (*), empolado, ou não, mas esta mulher sabe mais mas muitíssimo mais sobre o assunto e sobre aquilo que passou, mas quem quis como estas pessoas retornadas, que ficaram" para ver o fundo ao tacho", com certeza que terão dificuldades para abordar muitos pormenores que inevitavelmente viveram.

Conclusão, Sebastiana não disse "nem da missa metade"..

Pelo que se depreende daquele pedaço de entrevista fica a ideia que a vida dela teria sido sempre comerciante naquele fim de mundo.

Ora se assim foi, aquela mulher fala no mínimo uma língua indígena, e ali talvez falasse duas, pois aquela estação está situada numa região onde predominavam ganguelas  (**) e quiocos ou chócues. 

Atenção, para quem não é nem foi comerciante, "quem não é competente, não se estabelece", quero eu dizer que, aqui especialmente, se alguém quisesse ter sucesso, tinha que ter muitas competências, uma delas era ser poliglota.

Eu nunca consegui aprender nem crioulo, mas também problema do meu ouvido, ao contrário de colegas que tive que chegavam a falar 2 e 3 dialetos, a quem chegávamos a fazer exames, tínhamos muitos juris, os contratados, se era verdade ou falso.

Esses poliglotas não precisavam de intérpretes para nada, era uma vantagem enorme para poder entrar facilmente em ambientes tribais.

Como é que se fazia um "comerciante do mato"? Ou já herdava o negócio que pode ter sido aqui o caso, muita família em volta, ou praticando de jovem como empregado de uma casa deste género.

E, chegando a adulto, se sentisse as tais competências necessárias, era fácil estabelecer-se, mesmo sem capital, entrava em contacto com um grande armazenista/fornecedor... um historial que só conheço de ouvir, enfim, vi fazerem-se grandes endinheirados, e outros dar com os burrinhos na água.

Quando num jornal em anúncio se pedia empregado de balcão, para Luanda, se fosse para trabalhar no muceque, até sotaque de Luanda tinha que demonstrar para se considerar apto.

Voltando a Cassai-Gare, Cassai é um lindo rio, de águas límpidas e com diamantes, e que será o rio que dá o nome àquele lugar.

Andei na tropa em 1962, naquela zona numa companhia indígena, ainda aparece o nome no Google Earth a aldeola onde ficava a Companhia, era Nova Chaves, bem perto de Cassai-Gare, mas há ainda a sanzala Cassai onde tivemos um pelotão, de vez em quando vou ao Google, está ainda tudo no mesmo lugar.

Vim de Luanda para este fim de mundo, voluntário, para escapar a um capitão que me garantiu que ainda me havia de arranjar 9 dias de prisão, já me tinha dado 3 dias de detenção.

Já outra vez me tinha oferecido em 1961 para o Norte, como voluntário para fugir a outro capitão, que levou uma rabecada do Comandante do RIL, de Luanda, por minha culpa porque como sargento de dia não obriguei os faxinas a fazer a higiene da companhia, exemplarmente, numa revista semanal de sábado.

Talvez passasse o meu tempo de guerra todo em Luanda na santa paz das praias de Luanda, pois não me convocavam porque não havia arma para mim, armas pesadas de infantaria.

Mas voltando a estes comerciantes, em geral começavam como jovens, solteiros, e origem de quase todos eles, com raríssimas excepções vinham por esta ordem, Trás-os-Montes e Alto Douro, Minho e um ou outro beirão, poucos, e mais antigos também havia açorianos e madeirenses.

Para mim, aquilo em Angola, se não fossem estes comerciantes, e se em 1961 Salazar tivesse "dialogado" com Agostinho ou Holden Roberto, milhões de angolanos tinham ficado sem brancos, sem saberem o que foi haver branco em Angola, nem Angola dizia qualquer coisa àquela gente.

No caso daquele fim de mundo onde já havia uma linha de caminho de ferro com estação e tudo, vem tudo na Internet, sabemos que foi iniciativa do tal inglês que Norton de Matos queria copiar, Cecil Rodes, e que era para transportar os minérios ingleses e belgas, para o porto do Lobito.

E tinha estação naquele fim de mundo para quê? Aqui entram também os tais comerciantes como Sebastiana.

Sabemos que o negócio era de permuta, e ali era uma região de muita mandioca, muitíssima cera, peles de caça, muitas onças em armadilhas, e toda essa mercadoria ia para os fornecedores (em conta corrente), que ou eram de Nova Lisboa ou Lobito.

Pormenores que muita gente mesmo em Angola nem sabia para que era esta linha, mas no tempo da safra da mandioca, o caminho de ferro deixava em cada estação entre Silva Porto e Teixeira de Souza, um vagão de mercadorias, onde os comerciantes depositavam a mandioca da permuta, e no dia combinado vinha uma locomotiva e rebocava todos os vagons para o porto do Lobito, era uma composição enorme digna de se ver, como eu cheguei a ver, ao longe, com a mandioca branca devido a um tratamento próprio que se chamava crueira,

Mas havia,  além dos comerciantes, outras figuras que entravam nesta guerra do Leste (ZIL). Eram os madeireiros que se dizia que estariam feitos com o duvidoso Savimbi.

E naquelas regiões havia ainda outras figuras muito variadas, uns a fazer negócios de diamantes, outros a enfiar barretes com diamantes, aquilo era uma guerra muito interessante.

Mas uma coisa era que naqueles distritos os Governadores de distrito (militares) tinham um trabalho muito especial directamente com as populações e todas as autoridades, PIDE, Chefes de Posto, judiciária, milícias, e ligados sempre com a tropa.

Conheci em 1970, na Lunda o trabalho de Major Soares Carneiro, mais tarde candidato a Presidente da República..

E, no Cuando Cubango até 1974, conheci o Major Branco Ló, ali os movimentos "andavam na linha", mas não vamos trazer aquela guerra para aqui, pormenorizando, que traria muitas discussões. Mesmo lá em Angola, Cabinda era uma coisa, e o Norte era outra coisa e o Leste outra. Só não trabalhei nem lutei em Cabinda.

Eu defendo sempre os comerciantes do mato, porque sei que muitos militares que passaram os 24 meses em Angola, saíam com a convicção que eram uns "gatunos dos negros", que tratavam mal os negros, enganavam os negros, na balança, no livro, etc.

Tal como se dizia do merceeiro da aldeia e o rol do merceeiro.

Penso que é tudo o que me ocorre sobre sobre os comerciantes, colonialistas e imperialistas.

Um abraço, Antº Rosinha (***)

PS - O soldado nunca teve tempo de compreender que a guerra durava e o comerciante continuava no seu posto, no meio daquela gente, sempre com a mesma tranquilidade


"Despojos de guerra": é uma série de 4 episódios sobre a guerra colonail, que está a passar na SIC Notícias, durante o mês de outubro. No passado dia 6, 5ª feira, foi a estreia da série, com a exibição do 1.º episódio ("A informadora", 51' ). Próximos episódios: dias 13, 20 e 27.
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23677: Agenda cultural (818): "Despojos de guerra", série em quatro episódios, de 40' cada, sobre a guerra colonial: estreia hoje na SIC, no Jornal da Noite

Vd. também postes de:

9 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23677: Agenda cultural (818): "Despojos de guerra", série em quatro episódios, de 40' cada, sobre a guerra colonial: estreia hoje na SIC, no Jornal da Noite

10 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23689: "Despojos de Guerra" (Série documental de 4 episódios, SIC, 2022): Comentários - Parte II - Luís Graça: Percebe-se agora melhor por que é que a PIDE/DGS, os seus agentes e os seus informadores, tiveram um tratamento tipo "português suave", a seguir ao 25 de Abril de 1974

(**) Vd, poste de 21 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12319: Manuscrito(s) (Luís Graça) (13): Três histórias ganguelas, três pérolas da sabedoria angolana... E onde se fala da atualidade dos Baratas, dos Cavetos e dos Heróis

(***) Último poste da série > 15 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17862: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (52): Das pequenas recordações dos vários quartéis a mais artística que ficou lá a "apodrecer", foi o memorial na ponte de Caium

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23689: "Despojos de Guerra" (Série documental de 4 episódios, SIC, 2022): Comentários - Parte II - Luís Graça: Percebe-se agora melhor por que é que a PIDE/DGS, os seus agentes e os seus informadores, tiveram um tratamento tipo "português suave", a seguir ao 25 de Abril de 1974


Carta de Angola (1968). Escala 1 / 2 milhões. Posição relativa de Luso, Luanda e Benguela. 

Fonte: Excerto de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo I; Angola; Livro 2; 1.ª Edição; Lisboa, 2006, pág. 8 (Com a devida vénia...)


1. Comentário de Luís Graça ao poste P23677 (*):

Vi na quinta feira (e revi depois, com mais atenção) este 1º episódio ("A informadora"). 

Não tinha expectativas muito altas, porquanto o jornalismo de investigação  em televisão é caro, muito caro. E depois gostava que a série documental, em 4 epísódios, fosse mais explícito sobre o sentido do título genérico "Despojos de guerra"...

Cortesia de Mosurlow / 

Mas, pensando bem, parece haver um fio condutor entre os vários episódios: 

(i) o trabalho (sujo e perigoso, em todas as guerras) do "colaboracionismo" (1º episódio);

(iii)  a "ingratidão" e a "injustiça" do colonizador que abandona os seus "harkis" (o termo, de origem árabe, tem um sentido depreciativo, na Argélia, e refere-se aos "auxiliares" norte-africanos que lutaram do lado dos franceses, durante a guerra da independência da Argélia, em 1954-62 (2º episódio); 

(iii) menos óbvia, é a inclusão do episódio do Miguel Pessoa e da sua futura companheira Giselda, nossos queridos amigos e camaradas, na sequência do abate, por um Strela, do primeiro Fiat G-91, em 25 de março de 1973, sob os céus de Guileje (3º episódio, "Corredor da Morte";

(iv)  e, no quarto episódio, esse mais óbvio, os "filhos do vento", os "restos de tuga": como em todas as guerras, esses, sim, são "despojos de guerra", já o Miguel e a Giselda não sei se não se vão ofender...

Quanto às fontes documentais, não me pareceu haver nada de novo (nomeadamemte filmes de arquivo inéditos, a não ser talvez imagens de tropas do MPLA e de um interrogatório, no mato, a prisioneiros portugueses) e com o reparo de não se identificar a sua origem, com exceção das imagens do Arquivo RTP...

Voltaram a usar-se, sem citar a fonte, imagens já estafadíssimas do documentário "Guerre en Guinée" [, "Guerra na Guiné", ORTF, Paris, 1969] , há muito disponível no portal do INA - Institut national de l'audiovisuel (13' 58'') e... no nosso blogue

O vídeo da ORTF, feito no decuros da Op Ostra Amarga,  tem sido utilizado "ad nauseram" pelas nossas televisões quando se fala da guerra colonial, à falta de "material nacional" (que era isso que competia fazer  à RTP de então e aos fotocines do exército).

A única novidade é o uso da técnica de "colorização" de filmes e imagens antigas, a preto e branco. É uma técnica há muito disponível no mercado mas pouco frequente em documentários da nossa televisão... Imagino que não seja uma técnica barata... Gostei de ver imagens de Luanda de 1961, cidade que só conheci a partir de 2003...

Quanto à Sebastiana Valadas..., bom, temos de reconhecer que é um achado. Como e onde é que a terão desencantado? Através, seguramente, dos arquivos da PIDE/DGS... Parece que vive no Alentejo, pelo que li no Expresso, de 18/2/2022. Teria ido  com os pais, com oito anos, para Angola, fugindo presumivelmente da miséria onde nasceu... E, como não terá conhecido outro paraíso, sentia-se angolana (mais do que portuguesa) de alma e coração...

A entrevista, semi-diretiva, feita pela Sofia Pinto Coelho, acho que é de "antologia"... A jornalista consegue obter informações que são dignas de nota: 

(i) Angola em 1961 não tinha "nada a ver com Portugal" (sic); 

(ii) Luanda "rivalizava" com Lisboa, no desenvolvimento, no  progresso, no chique, no "glamour"; 

(iii) "Gostava de viver a guerra" (sic), apesar de ter vivido com o credo na boca e ter estado entre fogos cruzados dos militares dos vários movimentos nacionalistas em confronto em Luanda; 

(iv) Admirava a Kalash, russa, que os guerrilherios do MPLA empunhavam  quando vinham à sua loja para se abastecerem de tabaco, sal, peixe seco, vinho  e outros produtos ("umas vezes pagavam, outras não"); 

(v) "eu e o meu marido demos cabo da 4ª Região Militar do MPLA" (uma fanfarronada...): 

(vi) e, afinal, fomos utilizados como "carne para canhão", lá no cu de Judas,  e aqui estou eu, expulsa de Angola, a morrer na miséria, sem direito sequer a uma pensão pelos meus serviços (e do meu marido) ao País... enquanto a PIDE/DGS estava, em 1972,  no "bem-bom" do Luso.

O casal (a Sebastiana e o marido, Avelino Durães, nome de guerra "Ferro",  apresentados como "agentes duplos") caiu na asneira de ficar em Angola, depois da independência, apesar dos avisos da própria polícia política de que ambos poderiam  correr sérios riscos de morte pelos resultados da Op Fina Flor, em 1972, em que foi preso entre outros o comandante João Arnaldo Saraiva de Carvalho, futuro general embaixador e chefe da polícia nacional de Angola... (Com ele terão sido captutados 6 elementos do MPLA e 3 terão sido mortos, não sabendo nós se esta Op Fina Flor foi exclusivamente pela PIDE/DGS ou pelo Exército.)

A expressão "agente dupla" é talvez abusiva: estes "cantineiros do mato", lá no "cu de Judas" (título de um conhecido romance do António Lobo Antunes), limitaram-se a "jogar com o pau de dois bicos", como aconteceu na Guiné com os comerciantes, poucos, que restaram no interior depois do início da guerra, em 1963.

A entrevista com o João Arnaldo Saraiva de Carvalho (nome de guerra, "Tetembwa", mestiço, que eu presumo ser  filho de pai português e de mãe angolana, que vem do interior para estudar em Luanda, tendo feito o 7º ano no Liceu Salvador Correia, onde teve como colega de turma o futuro presidente da república José Eduardo dos Santos, e que depois vai para Coimbra frequentar o curso de direito... e que entretanto é mobilizado para Guiné e decide desertar, fugindo com a esposa, também colega de curso, e seguindo o caminho que trilharam muitos outros africanos que estudavam nas universidades portuguesas (Lisboa, Coimbra e Porto): neste caso, a França, a Zâmbia, a URSS...)... Essa entrevista, dizíamos, não é feita pela equipa da SIC, portanto não é material de "primeira mão", remonta a 2015, é de fonte angolana, está disponível na Net:

https://www.tchiweka.org/pessoas/joao-saraiva-de-carvalho

Ficámos a saber que a Associação TCHIWEKA de Documentação (ATD) "é uma pessoa colectiva de carácter voluntário e sem fins lucrativos, com a missão fundamental de promover e divulgar actividades culturais, científicas e educativas que contribuam para preservar a memória e aprofundar o conhecimento da luta do Povo Angolano pela sua independência e soberania nacional"...

No sítio da ATD publica-se também a "Ordem de serviço do MPLA nº 28/71 (Lusaka), de Daniel Chipenda",  com a nomeação do Comando da 4ª Região: Mwandondji (comissário político com funções de comandante), Augusto Alfredo «Orlog» (operações), João Saraiva de Carvalho «Tetembwa» (adjunto do comando). 

Nunca tínhamos ouvido falar desta IV Região Militar do MPLA. Recorde-se que o Daniel Chipenda (1931-1996), antigo jogador de futebol  da Académica de Coimbra e do Benfica, saído clandestinamente de Portugal em 31 de agosto de 1962, foi o responsável pela abertura da Frente Ldo este do MPLA.  A primeira acção a primeira acção no Leste terá ocorrido em 16 de maio de 1966, na região de Lumbala,  e nela terão morrido sete soldados portugueses. Mas depois perdeu influência, em 1972, devida à contra-ofensiva das NT. (Vd. CECA, 2006, op cit, p. 152).

... Em 1972, o "Tetembwa" é preso por denúncia dos agentes duplos, a Sebastiana e o marido... Como recompensa, a PIDE, face ao grande "ronco" (como dizíamos na Guiné), aumenta a avença mensal do "Ferro"  para o dobro, oito contos  (antes recebia quatro contos pelos seus serviços, dele e da esposa), além de uma recompensa choruda de 30 contos (o equivalente, a preços de hoje, a 7.253,42 €)... (Tudo isto documentado em papel timbrado da PIDE.)

Depois da independência, o casal que decidira, levianamente (?),  continuar em Angola, é preso, certamente por denúncia ou buscas da polícia, o "Ferro" é torturado pelo próprio "Tetembwa" mas nunca terá confessado quem denunciou a presença deste comandante e do seu grupo na loja, em Cassai-Gare (estação do caminho de ferro da linha de Benguela, província de Moxico, cuja capital era o Luso, hoje Luena), no leste, na região dos diamantes... Ao fim de ano e meio de prisão, foi solto, sem julgamento, e expulso para Portugal onde entretanto viria a morrer...

Acho que o episódio vale sobretudo pelas "confidências" (cruas, despudoradas, mas sinceras e serenas, autênticas, com alguma basófia aqui ou acolá, quiçá demasiado ingénuas..., confundindo-se às vezes ingenuidade com desassombro) desta mulher, que é entrevistada na cozinha da sua casa (no Alentejo?) enquanto ela e outra matam e depenam um enorme galo (que seguramente não era o da UNITA)...

Claro que ela sabia que, na vida e na guerra, é difícil (e sobretudo perigoso) servir dois senhores, manter dois amores, defraldar duas bandeiras... (Sem querer, ela denuncia alguma atração por aqueles rapazes de vinte anos a que ela chama "turras", que até eram bem parecidos e educados...).

Malhas que o império teceu... e cujos "despojos" ainda chegam às "praias lusitanas" da nossa memória...

Por que é que eu gostei da entrevista? Porque a verdadeira "vedeta", a protagonista, é a Sebastiana, a entrevistada, não a entrevistadora... É importante que estas pequenas grandes histórias fiquem registadas, para a História, para a nossa memória e para memória futura, sem retoques, sem comentários, sem quaisquer preocupações com o "politicamente correto"... Ficamos também a saber o importante papel que a PIDE/DGS desempenhou na guerra, com a sua tentacular (e eficaz) rede de "informadores"...

E não brincavam em serviço: quando a Sebastiana e o marido são descobertos e denunciados pelos "negócios" com o MPLA (afinal, um bom "cliente", naquele cu de Judas...), o casal, que tinha filhos pequenos, terá ficado sem alternativa: ou colaboravam com a PIDE (correndo o risco de ficar sem  ou o então o  Durães "apanhava 20 anos no Tarrafal" (sic)... 

Percebe-se melhor então por que é que o rapaz era um grande consumidor de ansiolíticos... enquanto a mulher, com o seu ar "felino" (a avaliar pela foto de quando era nova) adorava a guerra e o cheiro da pólvora e devia ter fantasias com as  fardas e as armas ("lindas") dos "turras"...
 
...Percebe-se também agora melhor por que é que a PIDE/DGS, os seus agentes e os seus informadores, tiveram um tratamento tipo "português suave" a seguir ao golpe militar do 25 de Abril... Amor com amor se paga... E, como dizia o outro, não há almoços grátis... (**)
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Notas do editor:

(*) Vd,. poste de 6 de outubro de  2022 > Guiné 61/74 - P23677: Agenda cultural (818): "Despojos de guerra", série em quatro episódios, de 40' cada, sobre a guerra colonial: estreia hoje na SIC, no Jornal da Noite

(**) Último poste da série > 9 deoutubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23687: "Despojos de Guerra" (Série documental de 4 episódios, SIC, 2022): Comentários - Parte I - António Rosinha e Valdemar Queiroz: as diferenças entre a guerra de Angola e o "inferno da Guiné"

domingo, 9 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23687: "Despojos de Guerra" (Série documental de 4 episódios, SIC, 2022): Comentários - Parte I - António Rosinha e Valdemar Queiroz: as diferenças entre a guerra de Angola e o "inferno da Guiné"


Cortesia da SIC (2022)

1. "Despojos de guerra": série de 4 episódios, está a passar 
na SIC, durante o mês de outubro. No passado dia 6 
foi a estreia da série, com a exibição do 1º episódio ("A informadora", 51' ).  Publicam-se os primeiros comentários dos nossos leitores, António Rosinha e Valdemar Queiroz.




Sinopse: 

No auge da guerra colonial em Angola, uma comerciante e o marido avisavam a PIDE (polícia política) quando os guerrilheiros iam à sua loja abastecer-se de mantimentos. Sebastiana Valadas revela qual era o seu nome de código, quanto recebiam pelas informações e como prendiam os “turras”. Depois da descolonização, um deles ajustou contas e mandou prendê-la.
 
"Com recurso a imagens de arquivo extraordinárias e pela primeira vez submetidas a um processo de colorização inédito em Portugal", a série documental "Despojos de Guerra" é uma coprodução da Blablabla Media com a SIC, tendo o o apoio à inovação audiovisual do ICA – Instituto do Cinema e Audiovisual. A realização é da jornalista Sofia Pinto Coelho cuja equipa contactou o nosso blogue para cedência de algumas imagens e contactos.
 

Vd, também artigo no Expresso, de 18/2/2022.

Entretanto, apareceram  já, no nosso blogue, alguns comentários sobre a série e este primeiro episódio, que parilhamos com os nossos leitores, na montra grande (*).

(i) Antº Rosinha (**)

Antº Rosinha,
II Encontro Nacional
da Tabanca Grande,
Pombal, 2007.
Foto: LG


Valdemar, esta pequena reportagem sobre a senhora 
comerciante, que atraiçoou o comandante do MPLA  [João Sebastião Arnaldo de Carvalho, "Tetembwa", comandante adjunto da 4ª Região do MPLA] já bem nos finalmentes da nossa guerra [, em 1972] , dá um pouco para entender as enormes diferenças entre o que se passava em Angola durante 13 anos e o inferno da Guiné.

Embora a reportagem vá buscar as lembranças dos massacres 
do Norte com a UPA do 15 de Março de 1961, que foi mesmo e apenas na região dos Bacongos, mas que apesar de esse partido UPA/FNLA ainda hoje apenas continue nas eleições com 1%, continua sempre na nossa memória aqueles massacres, mas que não teve nunca a ver com esta região do Luso, que a senhora da galinha   [Sebastiana Valadas] que estava a mais de 1000 Km.

Também trabalhei nesta região pela Junta de Estradas. A povoação de Cassai Gare, que tem uma estação dos caminhos de ferro de Benguela, é uma região onde nunca houve guerra a sério, ou seja a UNITA andava por ali mas bem controlada pelos Flechas e PIDE, e já quase no fim uma franja do MPLA instalou-se na vizinha Zâmbia, dizia-se que seria a "facção Chipenda". Mas seria em número tão reduzido e com pouco armamento, que não se lhe conheceu qualquer actividade.

De notar que medido no Google Earth, de Cassai Gare até à fronteira mais próxima (Catanga) são 150 km, mas se for para a fronteira da Zâmbia que vai pelo Cazombo,  são mais de 300 Km.

Portanto, esse grupo atraiçoado pela senhora da galinha já demonstrou muita audácia onde dominava a UNITA e mesmo esta não andava muito à vontade porque os Ganguelas não gostavam deles.

Valdemar, vou dar uma informação sobre esses comerciantes que durante os treze anos de guerra em Angola, em todo centro, sul, litoral sudoeste e interior sudeste (Congo à parte) falavam em geral mais que um idioma, que era uma arma de defesa muito importante.

O angolano naquele tempo vivia em tribos muito fechadas umas das outras e falava apenas a sua língua e mal o português.

É o que me cumpre informar sobre o que vi na SIC e o que me lembro há mais de 45 anos, e o que vi no Google Earth, onde se reconhecem as casas dos comerciantes já meio em ruinas.

7 de outubro de 2022 às 00:16


(ii) Valdemar Queirox (foto à esquerda) 
(ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70):

Antº. Rosinha, não dá para comparar a guerra na Guiné e o que se passava na extensa Angola.

A galinha pareceu-me um galo. A senhora tinha naquele lugar, junto da estação, quase a família toda, ficou sozinha mais outra e nunca lhes fizeram mal, nem com um dedo.

Estes comerciantes "colons" eram conhecidos por serem informadores dos dois lados, e tanto uns como outros sabiam disso.

O meu compadre, casado com a madrinha do meu filho, teve durante muitos anos um restaurante no norte de Angola, junto da fronteira com o Congo e zona de implantação da UPA/FNLA. Dizia que camionistas faziam milhares de quilómetros para ir lá comer bife à ...(não me lembro). Tínhamos grandes discussões por ele ser salazarista, mas tinha uma bandeira da FNLA.

A realização da reportagem arranjou a coisa de maneira a não ferir suscetibilidades.

7 de outubro de 2022 às 02:59


(iii) Antº Rosinha;

Valdemar, a Guiné não tinha nenhuma comparação com Angola, no entanto o grande sonho de Cuba e União Soviética era alcançar primeiro Angola e depois África do Sul.

E taticamente, usaram o ponto fraco e mais fácil e mais barato e com menos riscos, a Guiné-Bissau.

E mesmo depois da independência usavam a Guiné e Cabo Verde para apoio logístico para aquela guerra de 28 anos em Angola. Essa, sim, guerra africana a  sério.

Mas essa dos comerciantes, e toma atenção, os camionistas que faziam milhares de quilómetros por um bife. Camionista era uma profissão considerada como se fosse uma especialidade, em Angola, tinham a mesma fama de jogar com pau de dois bicos.

Em geral ser-se Camionista era ser dono do próprio camião e que no Congo da UPA deslocava-se em coluna militar mas no resto de Angola viajava por conta e risco e até contrabando fazia para os países vizinhos com mercadorias sem "guia", vez por outra apanhados pela polícia.

Essas duas actividades, comerciantes e camionistas, tipo caixeiros viajantes,  é que foram no meu entender os grandes colonialistas à portuguesa, contacto total com as etnias porque o resto não passávamos de uns funcionários à espera do tempo passar.

Mas não pensemos que esses comerciantes "do mato" e os camionistas, durante a guerra não estavam conectados com os Governadores de distrito e com a PIDE e com os Chefes de posto.

Essa gente comprovadamente eram aqueles que melhor sabiam utilizar a Psico, a maneira deles, e como sabiam utilizar os idiomas tribais, conseguiam pôr os clientes a fazer-lhe a protecção que precisavam.

E como em 1961 aconteceu com a UPA no Norte o tal terrorismo, que a mulher do galo fala nisso, serviu de lição e dali para a frente tudo ficou de pé a trás.

Eu e centenas de colegas das Estradas, outros de Geologia e Minas, e várias outras missões, também agrónomos, corríamos tudo, mas olho no burro olho no cigano, e onde houvesse comerciantes estacionavamos sempre, e até se pernoitava e pedíamos conselhos.

Essa insignificante reportagem da mulher com o galo, é muitíssimo elucidativa de um dos pormenores que se passavam em Angola.

Quase incompreensível para quem tenha vivido a guerra da Guiné, e até para muitos milhares de portugueses que apenas viveram nas cidades de Angola.

O povo não tinha a mínima fé nos 3 movimentos, 3 sem falar nas facções do MPLA que depois se viu a mortandade do 27 de maio de 1977 entre eles.

Era o povo que nos segurava, 13 anos fabulosos "escandalosamente" que eu vivi.

Evidentemente que enquanto houvesse uma mina na estrada estávamos em guerra.

Mas o mais perigoso para a tropa, onde ficou muita gente,  foi aquelas estradas para pequenas velocidades, mas que os unimog guiados por jovens motoristas largavam-se,  até eu andei aos trambolhões.

7 de outubro de 2022 às 12:09


(iv) Valdemar Queiroz:

Então, quer dizer que aqueles milhares de jovens que morreram na guerra da Guiné, em Angola e Moçambique foi para defesa dos interesses dos EUA, e não teve nada a ver com o barrete salazarado do Portugal de Rio de Onor a Timor ...e quem se lixou foram os mexilhões da costa vicentina?|

7 de outubro de 2022 às 13:44
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de outubro de  2022 > Guiné 61/74 - P23677: Agenda cultural (818): "Despojos de guerra", série em quatro episódios, de 40' cada, sobre a guerra colonial: estreia hoje na SIC, no Jornal da Noite

(**) António Rosinha: 

(i) ) beirão, tem mais de 130 referência no nosso blogue;

(ii) é um dos nossos 'mais velhos' e continua ativo, com maior ou menor regularidade, a participar no nosso blogue, como autor e comentador;

(iii) andou por Angola, como topógrafo, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, sendo fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974 e continua a considerar-se um impenitente 'reacionário' (sic);

(vi) 'retornado', andou por aí (com passagem pelo Brasil, já sem ouro, nem pedras preciosas...), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sabedoria, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, fazendo gala de ser 'politicamente incorreto' e de 'chamar os bois pelos nomes';

(x) a ele poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado debaixo da árvore a fumar o seu cachimbo". 

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Guiné 61/74 – P23675: Agenda cultural (816): "Despojos de Guerra", mini-série da SIC, a ir para o ar nos próximos dias 6; 13; 20 e 27 de Outubro, no fim do Jornal de Noite. No dia 20, o episódio é dedicado aos nossos camaradas Giselda e Miguel Pessoa, "o casal mais strelado do mundo"




Guiné > Bissalanca > BA12 > 1974 > 26 de março de 1973 > O então ten pilav Miguel Pessoa na pista do aeroporto, em maca, ... À esquerda, a 2.ª srgt enfermeira paraquedista Giselda Antunes (mais tarde, Pessoa).

 No dia anterior, domingo, 25, e em pleno dia, o aquartelamento de Guileje fora duramente atacado durante cerca de hora e meia. Foram usados foguetões 122 mm. A parelha de Fiat G-91 (Miguel Pessoa e António Martins de Matos) que estava de alerta em Bissalanca, nesse dia e hora, veio em apoio de fogo. A aeronave do Miguel Pessoa, que vinha à frente, foi atingida por um Strela, sob os céus de Guileje... Foi o primeiro Fiat G-91, na história da guerra da Guiné, a ser abatido pela nova arma, fornecida pelos soviéticos ao PAIGC, o míssil terra-ar SAM-7 Strela (de resto, já usada e testada na guerra do Vietname)... 

O ten pilav  Miguel Pessoa conseguiu, felizmente, ejectar-se. E a sua posição foi sinalizada pelo seu asa... Vinte quatro horas depois, era resgatado, são e salvo, pelo grupo de operações especiais do Marcelino da Mata e por forças da CCP 123, comandadas pelo malogrado cap paraquedista João Cordeiro).

Foto (e legenda): © Miguel Pessoa (2009). Todos os direitos reservados, (Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


1. Com a devida vénia ao nosso camarada Miguel Pessoa (Coronel PilAv Ref, ex-Capitão PilAv da BA 12 - Bissalanca, 1972/74) e ao Blogue da Tabanca do Centro, reproduzimos o Poste 1343, ali publicado, que dá conta da emissão de uma mini-série na SIC, intitulada "Despojos de Guerra", com um episódio no dia 20 dedicado ao casal mais strelado do mundo:


“DESPOJOS DE GUERRA” , NA SIC

Meus caros:

Há já mais de um ano a SIC, através do trabalho da jornalista Sofia Pinto Coelho, preparou a apresentação de uma mini-série a que chamou "Despojos de Guerra", com 4 episódios, já prontos há bastantes meses, mas que as vicissitudes do conflito na Ucrânia levaram a adiar a sua exibição até agora.

Referiu-me agora a Sofia Pinto Coelho que esta mini-série vai finalmente ser apresentada, prevendo-se a sua exibição na SIC numa rubrica “Grande Reportagem” integrada no final do Jornal da Noite da SIC (cerca das oito e picos da noite) nas datas abaixo indicadas:

6OUT - Episódio sobre uma informadora da PIDE

13OUT - Episódio sobre um combatente africano DFA (Deficiente das Forças Armadas)

20OUT - Episódio que acharam suficientemente curioso para abordar uma conversa com a Giselda e Miguel Pessoa…

27OUT - Episódio sobre os Filhos do Vento - crianças que nasceram fruto das ligações de militares nossos a mulheres africanas.

Segundo a jornalista, esta apresentação será antecedida de uma promoção prévia no canal SIC - de que não me dei ainda conta; mas, pelos vistos, tendo estado em banho-maria há largos meses, este projecto encontrou finalmente pernas para andar... E, como o primeiro episódio está previsto já para 5.ª feira 6 de Outubro, aqui fica o aviso para quem possa estar interessado em ver.

Abraço
Miguel Pessoa

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Nota do editor

Último poste da série de 5 de Outubro de 2022 > Guiné 61/74 – P23673: Agenda cultural (815): Apresentação do meu 11.º livro "Bola de Trapos - Crónicas Desportivas do Baixo Alentejo, 1904 a 2022", Edições Colibri, no próximo dia 11 de Outubro, pelas 19h00, na Bibiloteca Municipal José Saramago, em Beja (José Saúde)

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16691: Agenda cultural (512): SIC: Programa Perdidos e Achados, em 29 de outubro passado: onde estavam os repórteres da guerra colonial, onde estavam os nossos fotocines?


Fotograma do vídeo "Os repórteres da guerra colonial", que passou no passado dia 29 de outubro na SIC, no programa "Perdidos e Achados". (Reproduzido com a devida vénia.)


1. No passado 29 de outubro passou na SIC o programa "Perdidos e Achados", para a produção do qual o nosso blogue também deu alguns contributos (*)

SIC | Programa Perdidos e Achados > "Os Repórteres da Guerra Colonial"

29.10.2016 | 22h19


Vídeo 16' 53'', aqui disponível

Sinopse

O Perdidos e Achados dão a conhecer os jornalistas e militares que relataram e retrataram a guerra colonial. Deixaram fotografias, filmes e crónicas, que ajudam hoje a compreender o que se passou em Angola, Moçambique e na Guiné entre 1961 e 1974. Reencontrámos quem esteve na guerra para contar o que via, e questionar o que se passava, mesmo que muitas das notícias fossem sujeitas à censura do regime.

Como aconteceu com as peças que Fernando Correia enviava a partir de Angola. Aquele que hoje é um reconhecido jornalista desportivo, chegou a ser repórter de guerra, mas mudou de área jornalística para não pactuar com a mentira.

Fomos também ao encontro daqueles que filmavam as tradicionais mensagens de Natal dos soldados e encontrámos o repórter de guerra que esteve durante 13 anos, tantos quanto durou  o conflito.


2. Comentários dos nossos camaradas Alcídio Marinho e José Colaço (*)

(i) Alcídio Marinho

Quando a nossa Companhia  foi formada, 24 de setembro de 1962 (em Chaves),  foi chamada de Companhia de Caçadores Independente nº 412, aliás como a 411 e  mais outras três Companhias, pela simples razão de que tinham pessoal de  todas as especialidades; carpinteiros, pedreiros, alfaiate, cozinheiros, etc., e até fotocine. 

Era o 1.º Cabo Fotocine, Virgílio Albino Casaca Barradas, natural de Lisboa, que tinha a especialidade de fotocine, mas material foto e cine, só o que era dele, pois na vida civil era fotógrafo. Na Guiné serviu apenas como  atirador como os outros. Infelizmente ele já faleceu há alguns anos com um tumor no pâncreas. Mas a curiosidade maior é a sua viúva (D. Antónia) e suas  filhas, genros e netos que continuam a honrar-nos, todos os anos, com a sua  presença nos nossos almoços comemorativos.


(ii) José Colaço

Também a CCAÇ 557 tinha um 1.º Cabo Fotocine que apareceu lá no Cachil passados aí uns 3 meses,  já depois de concluída a Operação Tridente, mas de material para exercer a especialidade nada e durante a comissão também não o recebeu, ainda hoje me interrogo para que servia aquela especialidade sem material para exercer "publicidade enganosa".

Mas, como eu tinha uma máquina fotográfica, fomos grandes amigos até conseguimos fazer um pequeno estúdio de revelação dentro do posto rádio onde eu, por inerência da especialidade, cumpria 12 horas seguidas de serviço.

O capitão, como ele não era atirador,  também não o escalava nas saídas para o mato.
Não veio connosco, ficou a trabalhar na Foto Serra, em Bissau, e por lá faleceu ainda novo, mais ou menos entre os 50 e 60 anos de idade.  


 (iii) Editor LG:

Fomos nós que chamámos a atenção da produtora Madalena Perdigão para o nosso poste P7734, de  6 de fevereiro de 2011 (**).

E mais uma vez lá passaram pelos nossos ecrãs as imagens da equipa da ORTF, a televisão francesa, que filmou as cenas dramáticas, já no final,  da Op Ostra Amarga... Infelizmente, não havia lá nenhum fotocine português... E, o que é mais revoltante, é sabermos hoje, pela boca de antigo fotocine Joaquim Pessoa, que se encenavam operações, se não erro, na ilha de Bubaque, no arquipélago de Bijagós, para "mostrar" ao Zé Povinho, na RTP, o único canal de televisão que tínhamos, como é que os bravos soldados portugueses faziam a guerra na portuguesíssima Guiné...

O que é que os pobres fotocines podiam fazer, senão alinhar na farsa, amouchar como nós amouchávamos quando apanhávamos uma emboscada, um sinal de resto que só revelava inteligência emocional, serenidade, realismo, bom senso... e bravura! (***),

Obrigado ao Alcídio Marinho e ao José Colaço pelas preciosas informações sobre os camaradas fotocines das suas companhias...  No meu tempo (1969/71), não tenham ideia de haver fotocines nas CCS dos batalhões. Aliás, pode-se confirmar pela composição orgânica dos batalhões. Já existiriam então os Destacamentos de Fotografia e Cinema (DFC), dependentes do QG, suponho.

Em 2008 foi criado um blogue, de vida efémera, chamado “Fotocines”, por alguém que esteve, em Luanda, no Destacamento de Fotografia e Cinema (DFC) nº 3011 (1972/74)… Até à data publicaram-se 3 postes… Tratava-se de um “espaço criado para reunir todos os Foto-Cines que prestaram serviço militar obrigatório no Exército Português, tendo sido distribuídos na altura por Destacamentos Foto-Cines em Angola, Guiné e Moçambique, para além dos premiados que conseguiram passar toda a sua comissão de serviço nos SCE-Serviços Cartográficos do Exército que agregava toda a comunidade Fotocine debaixo da égide do saudoso major Baptista Rosa [Niza, 1925- Lisboa, 1982], e por onde passaram parte dos expoentes do cinema feito em Portugal.”
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de setembro de 2016 Guiné 63/74 - P16542: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (38): Ajuda para reportagem da SIC, antigos militares fotocines que tenham gravado as mensagens de Natal da RTP... precisam-se! (Madalena Durão, produtora)

(**) Vd. postes de

8 de novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)


10 de dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7415: (Ex)citações (118): A propósito do vídeo da ORTF sobre a Op Ostra Amarga: "As imagens que vi, foram uma espécie de murro no estômago e cimentaram a admiração que nutro por todos aqueles que sentiram o silêncio bem no meio do capim" (Miguel Sentieiro)



sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16542: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (38): Ajuda para reportagem da SIC, antigos militares fotocines que tenham gravado as mensagens de Natal da RTP... precisam-se! (Madalena Durão, produtora)



1. Mensagerm de Madalena Durão, Produtora da SIC

Data: 26 de setembro de 2016 às 15:24

Assunto: SIC - ajuda para reportagem

Muito bom dia,

Contacto-o por indicação do administrador da página do Facebook Guerra Colonial Portuguesa 1961-1974.

Sou produtora na SIC informação. Neste momento estamos a preparar uma reportagem sobre repórteres da guerra colonial para a rubrica "Perdidos e Achados".

É uma rubrica emitida aos sábados no Jornal da Noite que procura saber que o que é feito de pessoas, locais,  acontecimentos que tenham marcado o país em determinada altura. Na sequência deste trabalho, venho pedir a sua ajuda para encontrar algum militar fotocine que tenha gravado as mensagens de Natal da RTP, para nos ajudar a perceber qual o seu papel, assim como algumas histórias que possa acrescentar à nossa reportagem.

Agradeço a colaboração,

Com os melhores cumprimentos
Madalena Durão
Produtora


2. Resposta do editor LG:

Madalema: Estive quase dois anos na Guiné, entre 1969/71, numa companhia africana, sempre no mato, e nunca vi nenhum bicho chamado "fotocine"... e muito menos equipas da RTP por altura do Natal...

Em todo o caso, no nosso blogue, pode encontrar uma referência a Vicente Batalha que foi Comandante do Departamento de Fotografia e Cinema 3011 (Angola, 1972/74), tendo tido em Mafra (EPI) instrutores ligados ao cinema como Jorge Botelho Moniz, Lauro António e Fernando Matos Silva... Tentem contactá-lo, vive em Santarém.

Caso a Madalena não veja inconveniente, vou publicar um poste com o seu pedido. Pode ser que apareça algum fotocine ou alguém que tenha conhecido um fotocine no teatro de operações da Guiné... O nosso blogue tem uma grande audiência e temos também uma página no Facebook.

Veja aqui uma história passada com uma equipa da RTP que foi gravar as mensagens de Natal num aquartelamento junto à fronteira com o Senegal:

Por outro lado, temos um camarada nosso, Constantino (ou Tino) Neves que aparece num vídeo de Natal da RTP... Vou-lhe dar conhecimento do seu pedido... mas é pouco provável que ele se lembre do nome do fotocine. Ele vive na Cova da Piedade, Almada.


Sobre o Natal na guerra, temos 189 referências... O Jorge Félix, por exemplo, que foi piloto de helicóptero, na BA 12, Bissalanca (1968/70), lembra-se de um operador da RTP, Serra Fernandes, que virá a encontrar mais tarde justamente na RTP. Hoje 
é natural que há esteja reformado (*).

Enfim, Madalena, aqui tem alguns contributos do nosso blogue em resposta ao seu pedido.(**).

Boa saúde, bom trabalho. E obrigado por se lembrar destes portugueses que pertencem a uma espécie em vias de extinção...

Boa pesquisa, boa sorte. LG
Luís Graça

PS - Ainda sobre os "fotocines", a tal dúvida que me persegue e que pus ao Fernando Matos Silva, numa sessão na Cinemateca, há uns meses, em que ele apresentou o seu filme "Acto dos Feitos da Guiné" (1980):

A minha dúvida é a de saber se os destacamentos de fotocine se limitaram a levar cinema aos quartéis do mato e a produzir programas de rádio ou a gravar as famosas mensagens de Natal e Ano Novo... ou se também "fizeram cinema" (atualidades de guerra, documentários, etc.), para além da "cobertura" de acontecimentos protocolares e propagandísticos...

E, se sim, por onde pára hoje esse material... que ninguém lhe põe a vista em cima, à parte os (poucos) documentários produzidos pela RTP no longo período em que decorreu a guerra colonial (1961-75)?

Ele, sim, foi "fotocine"... Mas não tenho o seu contacto. Conheci-o através da Catarina Laranjeiro, jovem cineasta... Talvez contactando a RTP, a Cinemateca... Veja mais sobre ele, neste sítio, da UBI
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Notas do editor: