1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 5 de Junho de 2018:
Queridos amigos,
Havia que experimentar um passeio no bairro histórico de Marselha, o Panier, entrar em La Vieille-Charité, onde decorria uma fascinante exposição de Picasso e visitar no centro de exposições o fabuloso acervo museológico, deu-se preferência a África e ao Egipto, até se encontrou a arte dos Djolas, objetos provenientes do Casamansa, e sobretudo visitar o melhor acervo de arte egípcia fora do Louvre.
Depois contemplar a catedral e vagabundear entre as maciças fortalezas de pedra e as novas construções onde o vidro espelha o sol e a orgânica do ferro e outros metais dialogam sem nenhum choque com a arquitetura militar do passado.
Mas ainda há muito mais coisas a ver em Marselha, antes de regressar a Lisboa.
Um abraço do
Mário
De Aix-en-Provence até Marselha (12)
Beja Santos
A deambulação em Marselha dirige-se agora para o bairro histórico, o Panier, com origem no século XVII. Entre os seus edifícios notáveis, o viandante decidiu-se por La Vieille-Charité, antigo hospital e hospício, aqui se albergavam os pobres marselheses. É obra do arquiteto Pierre Puget, tem capela de inspiração barroca romana, com fachada do século XIX. A Charité acolhe hoje um conjunto de museus, graças a colecionadores de renome, bem como exposições, no momento em que o viandante por ali cirandou estava patente a exposição de Picasso “Voyages Imaginaires”.
O centro de museus é visita incontornável. Podem visitar-se aqui coleções importantes de arte africana, egípcia, grega, medieval e do Extremo Oriente. Sobretudo o museu egípcio – com os espólios do médico Clot-Bey (início do século XIX) – reúne, depois do Louvre, a coleção mais valiosa do seu género. E não se deve sair dali sem ir ao departamento das peças arqueológicas celto-ligúricas, têm grande valor.
Abaixo da Vieille-Charité, à beira-mar, afastada dos centros da cidade moderna, ergue-se a Catedral, tem cores sumptuosas, foi erigida na 2.ª metade do século XIX, tem uma extensão de 140 metros e uma altura de 60 no interior. Quem a desenhou tinha em mente a mais bonita catedral pós-medieval de França, é de um fascinante ecletismo. A abside com deambulatório é inspirada nas grandes construções românicas francesas, as cúpulas na arquitetónica bizantina e há claras ressonâncias naquela alternância de pedras da arquitetura medieval italiana.
À beira-mar, como no interior, são impressionantes as marcas da arquitetura moderna. No interior está localizada uma das principais obras de Le Corbusier, um prédio residencial em forma de caixa, separado da terra por suportes curvilíneos. No exterior, toda aquela massa de pedra da fortaleza acolhe agora construções panorâmicas excecionais. Acresce que o Bairro Euromediterrânico também tem uma vasta operação de reabilitação em 480 hectares, no coração da Metrópole. Voltando à margem esquerda do Velho Porto, é ali que estão as novas ousadias em vidro como La Villa Mediterrânica, por ali se saltita com a satisfação de ver estas espantosas edificações tão bem articuladas com as do passado. A região do Velho Porto está de parabéns, não se pode vir a Marselha sem calcorrear estes trilhos e apreciar a graciosidade deste nexo entre os séculos.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 11 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18913: Os nossos seres, saberes e lazeres (279): De Aix-en-Provence até Marselha (11) (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 18 de agosto de 2018
Guiné 61/74 - P18932: Parabéns a você (1481): Coronel Inf Ref António Melo de Carvalho, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 2465 (Guiné, 1964/65) e Alice Carneiro, Amiga Grã-Tabanqueira, esposa do nosso Editor Luís Graça
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de Agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18929: Parabéns a você (1480): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apont Metralhadora da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70)
sexta-feira, 17 de agosto de 2018
Guiné 61/74 - P18931: Notas de leitura (1092): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (47) (Mário Beja Santos)
Vista sobre a entrada principal da Câmara Municipal de Bolama, imagem de Francisco Nogueira no livro “Bijagós Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016, com a devida vénia.
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Fevereiro de 2018:
Queridos amigos,
Aqui fica um relato parcial das dificuldades vividas na Guiné em 1927, faltava dinheiro para salários, a Associação Comercial da Guiné enviou uma longuíssima exposição ao Ministro das Colónias refutando qualquer bondade, interesse ou vantagem em transferir a capital para Bissau. Entretanto, José Granger Pinto, que se diz amigo de Francisco Vieira Machado, escreve-lhe a pedir ajuda e a lembrar-lhe que é um homem cheio de projetos, tem todos os elementos para que se faça a construção de um Casino Hotel, pede dinheiro ao BNU.
Dentro em breve vamos presenciar os acontecimentos turbulentos de um movimento revolucionário que sacudiu a Guiné em 1931, bem registado em ampla documentação guardada no Arquivo Histórico do BNU.
Um abraço do
Mário
Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (47)
Beja Santos
Introdução
De V. Senhorias para V. Exas.
Na documentação avulsa respeitante a 1926, há um documento importante com data de 22 de Dezembro, assinado pelo Administrador Francisco Vieira Machado e endereçado ao gerente de Bissau. Tecem-se comentários ao movimento da caixa, aos câmbios, às letras descontadas sobre a praça, aos devedores e credores, e questões afins, e passamos a ter conhecimento de um novo património do BNU, o da fábrica de cerâmica adquirida à Sociedade Comercial e Fabril da Guiné, Lda, abarcando edifícios, maquinismos, móveis e utensílios, combustíveis e produtos manufaturados, a propriedade inclui armazéns, terrenos, edifícios e uma flotilha de cinco embarcações e também camiões.
O administrador em Lisboa comenta positivamente a importação de tabaco e faz considerações à crise que se vivia na Guiné, como exprimiu por escrito:
“São muito interessantes as informações e o parecer de V. Sas. sobre este assunto, quer na generalidade, quer em particular sobre a administração do Estado nessa colónia.
Os governos não têm feito na Guiné, infelizmente, qualquer obra de fomento, nem grandiosa nem modesta, e as estradas inúteis não podem ser consideradas como obras de fomento.
Será certo que a influência comercial portuguesa na Guiné se tenha quase perdido, em proveito das casas estrangeiras, devido um pouco à nossa forçada retracção na concessão de créditos, era e ainda é indispensável seguir tal política, devendo atribuir-se este mal à falta de capitais próprios das empresas nacionais.
Se estas tivessem recursos seus, que pudessem constar como garantia para o nosso banco, jamais lhes negaríamos auxílio, que nunca regateámos àqueles que em condições aceitáveis no-lo demandam.
E as casas estrangeiras, se melhor concorrência tivessem do comércio tradicional, ver-se-iam obrigadas a aperfeiçoar a sua rede de instalações.
Quanto ao financiamento indispensável da Província, sabemos o que o governo central poderá fazer. A importância que poderia utilizar não poderia ser muito superior a 5 mil contos, que não daria para pôr a casa em ordem, e a colónia precisa, evidentemente, de melhoramentos que permitam um melhor aproveitamento das riquezas do seu solo.
De contrário, corre-se o risco de ver aumentar todos os dias o êxodo já tão grande dos seus indígenas que nas colónias vizinhas encontram meio mais favorável e compensador.
Não basta olhar ao problema financeiro. Ele está indissoluvelmente ligado ao problema económico e erro se nos afiguram em tentar separá-los.
Para tanto, importa começar a pensar no estabelecimento de certas indústrias, por forma a valorizar as exportações e a diminuir as importações; e, além disso, no estabelecimento de uma pauta mais racional e consentânea com os interesses nacionais.
O trabalho de V. Sas. foi por nós muito apreciado e assim o felicitamos”.
Em 19 de Julho de 1927, José Granger Pinto, com escritório em Bolama, envia a Francisco Vieira Machado, vice-governador do BNU uma longa missiva, recordando a velha amizade e recomendando-lhe atenção para o projeto do Casino Hotel em Bolama. Projeto esse que tem alguma elasticidade, já se falava na transferência a capital para Bissau, o Casino Hotel poderia ser construído aqui.
E começa aqui uma carta pessoal, há motivos sérios para a reproduzir tal como foi escrita:
“Vai certamente ficar admirado de eu me encontrar nestas paragens, mas um mau sócio comprometeu tudo quanto eu tinha, vejo-me na necessidade de recomeçar a vida. A transição da Alemanha e Bélgica para aqui foi bastante violenta, mas paciência.
Sua Excelência, o Governador, tem mostrado a melhor boa vontade em me auxiliar, já escreveu ao Dr. João Ulrich, que se encontra ausente, recomendando o meu projecto que, permite-me dizer, sendo construído em Bissau, com garantia pelo Governo de juro de 10% sobre o capital empregado é negócio seguro. Aquela cidade está tomando um desenvolvimento considerado, carecendo de um hotel e local aprazível aonde os negociantes do interior e viajantes encontrem conforto, durante os dias que são obrigados a permanecer ali.
Tomei esta iniciativa estimulado pelo Senhor Governador, a fim de aproveitar eficazmente todos os maquinismos que possuo, grupo eléctrico poderoso de 14HP, capaz de iluminar a cidade de Bissau, máquina de fabricar gelo, máquina cinematográfica e plateia completa para um cinema, faltando-me apenas o mais importante, que é o edifício adequado para a instalação destas máquinas.
Já me elegeram para Presidente da Associação Comercial, Vice-Presidente da Câmara e Delegado do Comércio junto da Comissão de Revisão de Pautas Aduaneiras, pelo que me tenho obrigado a fazer um pequeno estudo económico da colónia”.
Vieira Machado responde a 20 de Setembro e informa que se pensa em transferir a capital para Bissau, “foi resolvido sobrestar este assunto até que essa ideia se efective ou seja abandonada”. Logo prontamente José Granger Pinto volta à carga, conta o que anda a fazer:
“Por enquanto estou procurando a probabilidade de fornecer com o meu motor e dínamo luz eléctrica à cidade de Bolama, mas apesar da Câmara me pagar a instalação, tenho que adiantar o numerário necessário para adquirir o material, o que na ocasião não é possível. Já falei com o Sr. Machado, gerente do banco aqui, que me respondeu que embora a minha proposta não oferecesse risco ao banco e fosse de interesse público, não a podia atender, porque tem rigorosas instruções da direcção para não abrir créditos.
Conversando com o Sr. Governador, disse-me que se tivesse dinheiro do Crédito Agrícola mo forneceria, e que referisse o assunto ao meu amigo, que sendo possível não me deixaria de dar as facilidades necessárias desde que não haja risco para o Banco, pelo que tenho atrevimento de lhe falar sobre esta pretensão, visto a importância do crédito não ir além de 50 contos”.
Desconhecemos o desenlace deste pedido de empréstimo, mais adiante se volta ao assunto do Casino Hotel em Bissau.
Este mesmo ano de 1927 deverá ter sido de penúria e carestia para os projetos do Governo da Guiné, logo em Janeiro o Encarregado do Governo expede para o Gerente do BNU em Bolama o ofício com o seguinte teor:
“Encontrando-se actualmente esta Província numa situação deveras angustiada, proveniente da falta de numerário em cofre, situação que não pode ser resolvida enquanto pelo Governo da Metrópole não sejam dadas as providências já pedidas; e desejando satisfazer o pagamento de rações a pesos, doentes, soldados e assalariados e bem assim os vencimentos dos funcionários de categoria inferior a 1.º Oficial; rogo a V. Exª se digne autorizar um adiantamento de trezentos mil escudos, reembolsável com as primeiras receitas a entrarem, possivelmente no corrente mês, a fim de debelar a situação aflitiva em que se encontram os pequenos servidores do Estado entre os quais já lavra a fome”.
Viviam-se tempos terríveis, acrescia que era público e notório que Bissau começara a juntar os requisitos suficientes para pretender vir a ser a capital, a inquietação instalara-se em Bolama, e daí a extensa exposição que em 15 de Agosto de 1927 a Associação Comercial da Guiné envia ao Ministro das Colónias, juntamente com a Comissão Urbana da cidade de Bolama. É de facto um documento de iniludível importância, daí a larga referência que dele faremos.
É a possibilidade da mudança da capital da colónia que põe estes comerciantes ao rubro, mas iniciam a exposição com macieza:
“Não nos animam mesquinhos propósitos de bairrismo. Para nós esta questão não é uma questão de duas cidades disputando-se a primazia de serem a cidade principal da colónia. Podemos ter, é certo e decerto os temos interesses ligados a Bolama. Esses interesses são, de resto, os próprios interesses da colectividade e da qual o Estado não é mais do que a expressão jurídica. Mas procuramos ver o problema através do alto interesse da colónia. Para isso temos de considerá-lo à face da História, da situação geográfica, económica, financeira e sanitária da Província e até da política internacional”.
Procede-se a uma narrativa sobre a existência de capitais, o descobrimento da região, a sua ocupação, fala-se de Cacheu, de Bissau, da Ilha de Bolama e do conflito luso-britânico pela posse da ilha, e quanto à geografia mais indicada para a capital, seguem-se alguns parágrafos originais:
“Se fôssemos procurar um ponto equidistante de todos os centros da colónia, então não se fixaria a capital nem em Bolama nem em Bissau. Mediríamos o mapa da Província com o compasso e era a geometria e não as necessidades de ordem administrativa, política, económica e social que determinavam a sede. Seria sensivelmente Bissorã o meio, em Bissorã instalaríamos o Governo Provincial.
Haverá maior absurdo?
A Ilha de Bissau está separada do continente por um rio, o Impernal, na região dos Balantas. A Ilha de Bolama encontra-se separada do continente pelo mar. Mas é uma distância pequeníssima; de Bolama a S. João há uma distância menor que a do Terreiro do Paço a Cacilhas. Quer-se dizer que quem estiver em S. João, defronte da cidade de Bolama, está em toda a parte do continente.
A situação de Bolama permite comunicações rápidas com os principais pontos da colónia, tendo até o Governador Caroço projectado, com a construção de uma ponte no rio Corubal, a mais importante rede de estrada do continente que fica fronteiro a Bolama. Rigorosamente, estão a grande distância de Bolama as regiões de S. Domingos e Cacheu, apenas. Como, também, ficam a grande distância de Bissau as regiões de Cacine e Gabu…”
É claro que os subscritores louvam Bissau, recordam a riqueza da região de Cacine e o rico e fértil arquipélago dos Bijagós. Seria uma estragação gastar dez mil contos para instalar as repartições públicas em Bissau, abandonando as repartições públicas e as residências dos funcionários em Bolama, edifícios públicos que valem, numa avaliação muito por baixo, cerca de sete mil contos. A haver tal transferência de capital resultaria uma desvalorização da riqueza pública.
E há outra conveniência que parece subestimar-se quando se fala na mudança da capital para Bissau, a salubridade de Bolama, o clima saudável e aprazível de Bolama, e não falta à exposição uma pirueta literária:
“Bolama, com o seu ar de velho burgo, docemente ensombrada por altas árvores, que dir-se-ia estender-nos, ao chegarmos, os seus braços verdes e aconchegantes, com a sua fisionomia de velha cidade de província portuguesa, é inclusivamente pela atmosfera de quietude, de paz e de tranquilidade que nela se respira, a cidade mais indicada para a capital política da colónia”.
A exposição remata com uma conclusão cujas premissas já a anteveem:
“A situação económica, financeira e internacional da Província não aconselha, antes se opõe a essa transferência. Bolama vale para o Estado e para os colonos que há tantos anos nela labutam esforçadamente qualquer coisa como vinte mil contos. Se deixasse de ser a capital da colónia, morreria como meio social. É lícito abandonar esta velha terra portuguesa?”
(Continua)
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Notas do editor
Poste anterior de 10 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18911: Notas de leitura (1090): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (46) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 13 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18919: Notas de leitura (1091): Nó Cego, por Carlos Vale Ferraz; Porto Editora, 2018 (2) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Fevereiro de 2018:
Queridos amigos,
Aqui fica um relato parcial das dificuldades vividas na Guiné em 1927, faltava dinheiro para salários, a Associação Comercial da Guiné enviou uma longuíssima exposição ao Ministro das Colónias refutando qualquer bondade, interesse ou vantagem em transferir a capital para Bissau. Entretanto, José Granger Pinto, que se diz amigo de Francisco Vieira Machado, escreve-lhe a pedir ajuda e a lembrar-lhe que é um homem cheio de projetos, tem todos os elementos para que se faça a construção de um Casino Hotel, pede dinheiro ao BNU.
Dentro em breve vamos presenciar os acontecimentos turbulentos de um movimento revolucionário que sacudiu a Guiné em 1931, bem registado em ampla documentação guardada no Arquivo Histórico do BNU.
Um abraço do
Mário
Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (47)
Beja Santos
Introdução
De V. Senhorias para V. Exas.
Na documentação avulsa respeitante a 1926, há um documento importante com data de 22 de Dezembro, assinado pelo Administrador Francisco Vieira Machado e endereçado ao gerente de Bissau. Tecem-se comentários ao movimento da caixa, aos câmbios, às letras descontadas sobre a praça, aos devedores e credores, e questões afins, e passamos a ter conhecimento de um novo património do BNU, o da fábrica de cerâmica adquirida à Sociedade Comercial e Fabril da Guiné, Lda, abarcando edifícios, maquinismos, móveis e utensílios, combustíveis e produtos manufaturados, a propriedade inclui armazéns, terrenos, edifícios e uma flotilha de cinco embarcações e também camiões.
O administrador em Lisboa comenta positivamente a importação de tabaco e faz considerações à crise que se vivia na Guiné, como exprimiu por escrito:
“São muito interessantes as informações e o parecer de V. Sas. sobre este assunto, quer na generalidade, quer em particular sobre a administração do Estado nessa colónia.
Os governos não têm feito na Guiné, infelizmente, qualquer obra de fomento, nem grandiosa nem modesta, e as estradas inúteis não podem ser consideradas como obras de fomento.
Será certo que a influência comercial portuguesa na Guiné se tenha quase perdido, em proveito das casas estrangeiras, devido um pouco à nossa forçada retracção na concessão de créditos, era e ainda é indispensável seguir tal política, devendo atribuir-se este mal à falta de capitais próprios das empresas nacionais.
Se estas tivessem recursos seus, que pudessem constar como garantia para o nosso banco, jamais lhes negaríamos auxílio, que nunca regateámos àqueles que em condições aceitáveis no-lo demandam.
E as casas estrangeiras, se melhor concorrência tivessem do comércio tradicional, ver-se-iam obrigadas a aperfeiçoar a sua rede de instalações.
Quanto ao financiamento indispensável da Província, sabemos o que o governo central poderá fazer. A importância que poderia utilizar não poderia ser muito superior a 5 mil contos, que não daria para pôr a casa em ordem, e a colónia precisa, evidentemente, de melhoramentos que permitam um melhor aproveitamento das riquezas do seu solo.
De contrário, corre-se o risco de ver aumentar todos os dias o êxodo já tão grande dos seus indígenas que nas colónias vizinhas encontram meio mais favorável e compensador.
Não basta olhar ao problema financeiro. Ele está indissoluvelmente ligado ao problema económico e erro se nos afiguram em tentar separá-los.
Para tanto, importa começar a pensar no estabelecimento de certas indústrias, por forma a valorizar as exportações e a diminuir as importações; e, além disso, no estabelecimento de uma pauta mais racional e consentânea com os interesses nacionais.
O trabalho de V. Sas. foi por nós muito apreciado e assim o felicitamos”.
Imagem retirada do livro Guiné Portuguesa, II Volume, por Luís Carvalho Viegas, 1936
Em 19 de Julho de 1927, José Granger Pinto, com escritório em Bolama, envia a Francisco Vieira Machado, vice-governador do BNU uma longa missiva, recordando a velha amizade e recomendando-lhe atenção para o projeto do Casino Hotel em Bolama. Projeto esse que tem alguma elasticidade, já se falava na transferência a capital para Bissau, o Casino Hotel poderia ser construído aqui.
E começa aqui uma carta pessoal, há motivos sérios para a reproduzir tal como foi escrita:
“Vai certamente ficar admirado de eu me encontrar nestas paragens, mas um mau sócio comprometeu tudo quanto eu tinha, vejo-me na necessidade de recomeçar a vida. A transição da Alemanha e Bélgica para aqui foi bastante violenta, mas paciência.
Sua Excelência, o Governador, tem mostrado a melhor boa vontade em me auxiliar, já escreveu ao Dr. João Ulrich, que se encontra ausente, recomendando o meu projecto que, permite-me dizer, sendo construído em Bissau, com garantia pelo Governo de juro de 10% sobre o capital empregado é negócio seguro. Aquela cidade está tomando um desenvolvimento considerado, carecendo de um hotel e local aprazível aonde os negociantes do interior e viajantes encontrem conforto, durante os dias que são obrigados a permanecer ali.
Tomei esta iniciativa estimulado pelo Senhor Governador, a fim de aproveitar eficazmente todos os maquinismos que possuo, grupo eléctrico poderoso de 14HP, capaz de iluminar a cidade de Bissau, máquina de fabricar gelo, máquina cinematográfica e plateia completa para um cinema, faltando-me apenas o mais importante, que é o edifício adequado para a instalação destas máquinas.
Já me elegeram para Presidente da Associação Comercial, Vice-Presidente da Câmara e Delegado do Comércio junto da Comissão de Revisão de Pautas Aduaneiras, pelo que me tenho obrigado a fazer um pequeno estudo económico da colónia”.
Vieira Machado responde a 20 de Setembro e informa que se pensa em transferir a capital para Bissau, “foi resolvido sobrestar este assunto até que essa ideia se efective ou seja abandonada”. Logo prontamente José Granger Pinto volta à carga, conta o que anda a fazer:
“Por enquanto estou procurando a probabilidade de fornecer com o meu motor e dínamo luz eléctrica à cidade de Bolama, mas apesar da Câmara me pagar a instalação, tenho que adiantar o numerário necessário para adquirir o material, o que na ocasião não é possível. Já falei com o Sr. Machado, gerente do banco aqui, que me respondeu que embora a minha proposta não oferecesse risco ao banco e fosse de interesse público, não a podia atender, porque tem rigorosas instruções da direcção para não abrir créditos.
Conversando com o Sr. Governador, disse-me que se tivesse dinheiro do Crédito Agrícola mo forneceria, e que referisse o assunto ao meu amigo, que sendo possível não me deixaria de dar as facilidades necessárias desde que não haja risco para o Banco, pelo que tenho atrevimento de lhe falar sobre esta pretensão, visto a importância do crédito não ir além de 50 contos”.
Desconhecemos o desenlace deste pedido de empréstimo, mais adiante se volta ao assunto do Casino Hotel em Bissau.
Este mesmo ano de 1927 deverá ter sido de penúria e carestia para os projetos do Governo da Guiné, logo em Janeiro o Encarregado do Governo expede para o Gerente do BNU em Bolama o ofício com o seguinte teor:
“Encontrando-se actualmente esta Província numa situação deveras angustiada, proveniente da falta de numerário em cofre, situação que não pode ser resolvida enquanto pelo Governo da Metrópole não sejam dadas as providências já pedidas; e desejando satisfazer o pagamento de rações a pesos, doentes, soldados e assalariados e bem assim os vencimentos dos funcionários de categoria inferior a 1.º Oficial; rogo a V. Exª se digne autorizar um adiantamento de trezentos mil escudos, reembolsável com as primeiras receitas a entrarem, possivelmente no corrente mês, a fim de debelar a situação aflitiva em que se encontram os pequenos servidores do Estado entre os quais já lavra a fome”.
Imagem retirada do livro Guiné Portuguesa, I Volume, por Luís Carvalho Viegas, 1936
Viviam-se tempos terríveis, acrescia que era público e notório que Bissau começara a juntar os requisitos suficientes para pretender vir a ser a capital, a inquietação instalara-se em Bolama, e daí a extensa exposição que em 15 de Agosto de 1927 a Associação Comercial da Guiné envia ao Ministro das Colónias, juntamente com a Comissão Urbana da cidade de Bolama. É de facto um documento de iniludível importância, daí a larga referência que dele faremos.
É a possibilidade da mudança da capital da colónia que põe estes comerciantes ao rubro, mas iniciam a exposição com macieza:
“Não nos animam mesquinhos propósitos de bairrismo. Para nós esta questão não é uma questão de duas cidades disputando-se a primazia de serem a cidade principal da colónia. Podemos ter, é certo e decerto os temos interesses ligados a Bolama. Esses interesses são, de resto, os próprios interesses da colectividade e da qual o Estado não é mais do que a expressão jurídica. Mas procuramos ver o problema através do alto interesse da colónia. Para isso temos de considerá-lo à face da História, da situação geográfica, económica, financeira e sanitária da Província e até da política internacional”.
Procede-se a uma narrativa sobre a existência de capitais, o descobrimento da região, a sua ocupação, fala-se de Cacheu, de Bissau, da Ilha de Bolama e do conflito luso-britânico pela posse da ilha, e quanto à geografia mais indicada para a capital, seguem-se alguns parágrafos originais:
“Se fôssemos procurar um ponto equidistante de todos os centros da colónia, então não se fixaria a capital nem em Bolama nem em Bissau. Mediríamos o mapa da Província com o compasso e era a geometria e não as necessidades de ordem administrativa, política, económica e social que determinavam a sede. Seria sensivelmente Bissorã o meio, em Bissorã instalaríamos o Governo Provincial.
Haverá maior absurdo?
A Ilha de Bissau está separada do continente por um rio, o Impernal, na região dos Balantas. A Ilha de Bolama encontra-se separada do continente pelo mar. Mas é uma distância pequeníssima; de Bolama a S. João há uma distância menor que a do Terreiro do Paço a Cacilhas. Quer-se dizer que quem estiver em S. João, defronte da cidade de Bolama, está em toda a parte do continente.
A situação de Bolama permite comunicações rápidas com os principais pontos da colónia, tendo até o Governador Caroço projectado, com a construção de uma ponte no rio Corubal, a mais importante rede de estrada do continente que fica fronteiro a Bolama. Rigorosamente, estão a grande distância de Bolama as regiões de S. Domingos e Cacheu, apenas. Como, também, ficam a grande distância de Bissau as regiões de Cacine e Gabu…”
É claro que os subscritores louvam Bissau, recordam a riqueza da região de Cacine e o rico e fértil arquipélago dos Bijagós. Seria uma estragação gastar dez mil contos para instalar as repartições públicas em Bissau, abandonando as repartições públicas e as residências dos funcionários em Bolama, edifícios públicos que valem, numa avaliação muito por baixo, cerca de sete mil contos. A haver tal transferência de capital resultaria uma desvalorização da riqueza pública.
E há outra conveniência que parece subestimar-se quando se fala na mudança da capital para Bissau, a salubridade de Bolama, o clima saudável e aprazível de Bolama, e não falta à exposição uma pirueta literária:
“Bolama, com o seu ar de velho burgo, docemente ensombrada por altas árvores, que dir-se-ia estender-nos, ao chegarmos, os seus braços verdes e aconchegantes, com a sua fisionomia de velha cidade de província portuguesa, é inclusivamente pela atmosfera de quietude, de paz e de tranquilidade que nela se respira, a cidade mais indicada para a capital política da colónia”.
A exposição remata com uma conclusão cujas premissas já a anteveem:
“A situação económica, financeira e internacional da Província não aconselha, antes se opõe a essa transferência. Bolama vale para o Estado e para os colonos que há tantos anos nela labutam esforçadamente qualquer coisa como vinte mil contos. Se deixasse de ser a capital da colónia, morreria como meio social. É lícito abandonar esta velha terra portuguesa?”
(Continua)
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Notas do editor
Poste anterior de 10 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18911: Notas de leitura (1090): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (46) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 13 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18919: Notas de leitura (1091): Nó Cego, por Carlos Vale Ferraz; Porto Editora, 2018 (2) (Mário Beja Santos)
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Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba,
relatórios
Guiné 61/74 - P18930: Toponímia de Lisboa: em dez nomes de "heróis do ultramar", consagrados nas ruas da capital no tempo do Estado Novo, em Olivais Velho, Benfica e Alcântara, 7 são de militares falecidos na Guiné e os restantes em Angola
Ilustração: Toponímia de Lisboa (2017) (com a devida vénia)
1. Toponímia de Lisboa é um blogue do Departamento de Património Cultural da Câmara Municipal de Lisboa – Núcleo de Toponímia, que se publica desde novembro de 2012. Nele fomos encontrar um artigo interessante sobre ruas, em Lisboa, com os nomes de "dez heróis do Ultramar", 3 falecidos em Angola e 7 na Guiné. [Contacto: toponimia@cm-lisboa.pt].
Com a devida vénia reproduzimos um extenso excerto desse poste:
Toponímia de Lisboa > 23 de Fevereiro de 2017 > Dez Heróis do Ultramar em Olivais Velho, Benfica e Alcântara
Este procedimento está justificado na Ata da reunião da Comissão Consultiva Municipal de Toponímia de 16 de junho de 1971 da seguinte forma:
[Olivais Velho:]
1 de Fevereiro de 2017 > A Guerra Colonial nascida há 56 anos, também no tabuleiro da Toponímia de Lisboa
14 de Fevereiro de 2017 > Quinze cidades e vilas de Moçambique na toponímia de Olivais Sul desde 4 de julho de 1967
16 de Fevereiro de 2017 > Doze cidades de Angola na toponímia de Olivais Sul desde 1969
Último poste da série > 12 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18917: Blogues da nossa blogosfera (99): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (18): Palavras e poesia
Vd. também poste de 16 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18927: Furriéis que tombaram no CTIG (1963-1974), por acidente, combate e doença - Parte II: Em combate (n=139) (Jorge Araújo)
Dez anos após o início da Guerra Colonial, a edilidade lisboeta colocou através de um único Edital (22 de junho de 1971), de acordo com a legenda, dez «Heróis do Ultramar» em Olivais Velho, Benfica e Alcântara, «falecidos no Ultramar, em combate ao terrorismo», conforme se lê no despacho do Presidente da Câmara de então, Engº Santos e Castro.
Este procedimento está justificado na Ata da reunião da Comissão Consultiva Municipal de Toponímia de 16 de junho de 1971 da seguinte forma:
«Despacho de Sua Excelência o Presidente, solicitando parecer sobre a consagração na toponímia de Lisboa, dos nomes dos seguintes militares falecidos no Ultramar, em combate ao terrorismo : major aviador Figueiredo Rodrigues, alferes Mota da Costa, Carvalho Pereira e Santos Sasso, furriel Galrão Nogueira, soldados Rosa Guimarães, Santos Pereira e Purificação Chaves e marinheiros Correia Gomes e Manuel Viana. Considerando justificar-se plenamente uma homenagem à memória de tão heróicos militares e, tendo em vista a circunstância de os soldados e marinheiros não terem patente, a Comissão emite parecer favorável à consagração dos seus nomes».
[Olivais Velho:]
Os seis topónimos fixados em Olivais Velho foram:
Manuel Jorge Mota da Costa (Porto – freg. Cedofeita/14.05.1937 – 14.05.1961/Angola), alferes paraquedista da 1.ª Companhia de Caçadores Paraquedistas do Batalhão de Caçadores 21 em Angola onde chegou a 17 de abril de 1961 e onde faleceu menos de um mês depois no Bungo, aos 24 anos, condecorado a título póstumo com a Medalha de Prata de Valor Militar com palma, ficou no Impasse 1 do Plano de Urbanização de Olivais Velho.
- a Rua Alferes Mota da Costa/Herói de Ultramar/1937 – 1961,
- o Largo Américo Rosa Guimarães/Herói de Ultramar/1945 – 1967,
- a Rua Furriel Galrão Nogueira/Herói de Ultramar/ 1941 – 1965,
- a Rua Alferes Carvalho Pereira/Herói de Ultramar/1941 – 1966,
- a Rua Alferes Santos Sasso/Herói do Ultramar/1941 – 1965
- e a Rua Major Figueiredo Rodrigues/Herói de Ultramar/ 1939 – 1969.
Manuel Jorge Mota da Costa (Porto – freg. Cedofeita/14.05.1937 – 14.05.1961/Angola), alferes paraquedista da 1.ª Companhia de Caçadores Paraquedistas do Batalhão de Caçadores 21 em Angola onde chegou a 17 de abril de 1961 e onde faleceu menos de um mês depois no Bungo, aos 24 anos, condecorado a título póstumo com a Medalha de Prata de Valor Militar com palma, ficou no Impasse 1 do Plano de Urbanização de Olivais Velho.
O soldado Américo Rosa Guimarães (Oeiras/21.09.1945 -05.10.1967/Angola), condecorado postumamente com a Medalha de Cobre de Valor Militar com palma, também faleceu em Angola, aos 22 anos, e foi fixado no Impasse 2 do Plano de Urbanização de Olivais Velho.
Os outros quatro militares fixados em Olivais Velho faleceram na Guiné.
Os outros quatro militares fixados em Olivais Velho faleceram na Guiné.
O Furriel [Silvério] Galrão Nogueira (1941 – 1965/Guiné), falecido aos 24 anos, foi perpetuado no Impasse B do Plano de Urbanização de Olivais Velho.
Ao alferes miliciano de Infantaria José Alberto de Carvalho Pereira (Lisboa/13.02.1941 – 12.03.1966/Guiné), falecido aos 25 anos e condecorado a título póstumo com a Medalha de Cruz de Guerra de 3ª classe, coube-lhe o Impasse 3 do Plano de Urbanização de Olivais Velho.
O também alferes miliciano de Infantaria Mário Henrique dos Santos Sasso (Lisboa – freg. de Stª Engrácia/14.12.1941 – 05.12.1965/Guiné), da Companhia de Caçadores n.º 728, condecorado com a medalha de Cruz de Guerra de 3ª classe a 2 de julho de 1965 e falecido aos 23 anos, ficou no Impasse 3′ do Plano de Urbanização de Olivais Velho.
E por último, o major piloto aviador António de Figueiredo Rodrigues (Penalva do Castelo/01.01.1939 – 12.07.1969/Guiné) , falecido aos 30 anos, foi colocado na Rua A do Plano de Urbanização de Olivais Velho.
[Benfica:]
Em Benfica, homenagearam-se 3 militares falecidos na Guiné nos anos de 1964 e 1965, com a Rua José dos Santos Pereira/Herói do Ultramar/ 1943 – 1964, a Rua José da Purificação Chaves/Herói do Ultramar/1942 – 1964 e a Rua Manuel Correia Gomes/ Herói do Ultramar/1936 – 1965.
O soldado José dos Santos Pereira (Torres Vedras – A-dos-Cunhados/19.09.1943 – 15.12.1964/Guiné) faleceu aos 21 anos e foi condecorado, a título póstumo, com a Medalha da Cruz de Guerra de 2ª classe, tendo sido perpetuado na Rua C, à Estrada do Calhariz de Benfica (Quinta de Santa Teresinha).
Em Benfica, homenagearam-se 3 militares falecidos na Guiné nos anos de 1964 e 1965, com a Rua José dos Santos Pereira/Herói do Ultramar/ 1943 – 1964, a Rua José da Purificação Chaves/Herói do Ultramar/1942 – 1964 e a Rua Manuel Correia Gomes/ Herói do Ultramar/1936 – 1965.
O soldado José dos Santos Pereira (Torres Vedras – A-dos-Cunhados/19.09.1943 – 15.12.1964/Guiné) faleceu aos 21 anos e foi condecorado, a título póstumo, com a Medalha da Cruz de Guerra de 2ª classe, tendo sido perpetuado na Rua C, à Estrada do Calhariz de Benfica (Quinta de Santa Teresinha).
O soldado condutor Francisco José da Purificação Chaves (Loures/08.08.1942 – 24.01.1964/Guiné), falecido aos 21 anos na Ilha do Como e condecorado a título póstumo com a Medalha de Cruz de Guerra de 1ª Classe, ficou no Impasse I à Estrada do Calhariz de Benfica.
O marinheiro fuzileiro especial Manuel Correia Gomes (Vila Verde-Turiz/15.02.1936 – 14.03.1965/Guiné), falecido aos 29 anos e condecorado a título póstumo com a Medalha de Cruz de Guerra de 2ª classe, foi fixado no arruamento de acesso entre a Estrada do Calhariz de Benfica e o arruamento paralelo ao caminho de ferro (Quinta de Santa Teresinha).
Também encontramos a Rua José dos Santos Pereira, em Maceira, no Concelho de Torres Vedras, de onde este soldado era natural, bem como a Rua Francisco José Purificação Chaves em Loures, concelho de nascimento do soldado.
Também encontramos a Rua José dos Santos Pereira, em Maceira, no Concelho de Torres Vedras, de onde este soldado era natural, bem como a Rua Francisco José Purificação Chaves em Loures, concelho de nascimento do soldado.
[Alcântara:]
Finalmente, em Alcântara ficou a Rua Manuel Maria Viana/Herói de Ultramar/1944 – 1968, na Rua A à Travessa da Galé, também conhecida por Rua A à Avenida da Índia.
Finalmente, em Alcântara ficou a Rua Manuel Maria Viana/Herói de Ultramar/1944 – 1968, na Rua A à Travessa da Galé, também conhecida por Rua A à Avenida da Índia.
O marinheiro fuzileiro especial Manuel Maria Viana (Odemira – S. Teotónio/07.08.1944 – 16.08.1968/Angola), integrado no Destacamento n.º 2 de Fuzileiros Especiais faleceu aos 24 anos e foi condecorado a título póstumo com a Medalha de Cobre de Valor Militar, com palma. Em 1971 a Escola de Fuzileiros criou também o Prémio Manuel Viana, em sua honra, a ser atribuído anualmente ao aluno com melhor classificação nos cursos de aplicação do 1.º grau.
A maioria destes topónimos – oito – são exclusivos de Lisboa e não se encontram na toponímia de mais nenhum local do país, excepto nos 2 casos mencionados de homenagem prestada na terra natal.
A maioria destes topónimos – oito – são exclusivos de Lisboa e não se encontram na toponímia de mais nenhum local do país, excepto nos 2 casos mencionados de homenagem prestada na terra natal.
Ver também outros artigos relacionados:
14 de Fevereiro de 2017 > Quinze cidades e vilas de Moçambique na toponímia de Olivais Sul desde 4 de julho de 1967
[Revisão e fixação de texto: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:
Marcadores:
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toponímia
Guiné 61/74 - P18929: Parabéns a você (1480): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apont Metralhadora da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70)
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Nota do editor
Último poste da série de 16 de Agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18926: Parabéns a você (1479): Armando Faria, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)
Nota do editor
Último poste da série de 16 de Agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18926: Parabéns a você (1479): Armando Faria, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)
quinta-feira, 16 de agosto de 2018
Guiné 61/74 - P18928: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XL: As minhas estadias por Bissau (viii): o ano de 1969 (fotos de 82 a 90) (fim)
Foto nº 82
Foto nº 83
Foto nº 84
Foto nº 85
Foto nº 86
Guiné > Bissau > Virgílio Ferreira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Diomingos, 1967/69)
Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, set 1967/ ago 69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já 75 referências no nosso blogue.
Últimas fotos das passagens por Bissau (de 81 a 90) (**=
Legendas:
F82 - A estrada de Santa Luzia, entre o QG e a cidade de Bissau, são uns 5 km de distância. Foi um percurso que fiz imensas vezes, de um lado para o outro. Havia transporte militar com horas marcadas, para levar a Bissau o pessoal e voltar a trazer para as instalações do QG.
Estrada muito estreita, alcatroada, sem bermas, e com muito arvoredo. Apesar de ser ainda dia, o sol deve estar a pôr-se, mas com o arvoredo denso, ficou tudo escuro. Não sei como tirei a foto, mas pode ter sido a conduzir a motorizada, eu raramente utilizava os transportes militares, pois tinham um horário, coisa que eu não me interessava. Algures numa casa destas, conheci quando cheguei, em 21 de set 67, uma rapariga cabo-verdiana, eu ia a pé nesses dias pela estrada abaixo, e meti conversa, depois foi uma história que não é para contar agora, não que seja proibitiva, mas porque foi triste o seu final. Bissau, 2º trimestre de 69.
F83 – No bar do Clube de Oficiais do QG, em convívio com camaradas e amigos. Estamos na recta final da comissão, e não se pensa noutra coisa senão regressar. Junto a mim está o alferes Camelo, foi meu parceiro na EPAM, no curso da especialidade de Administração Militar. Ajudei-o muito na aplicação militar, ele era bastante gordo, nem conseguia segurar na arma, quando se faziam as marchas e os crosses de 17 e 20 km. Eu carregava tudo dele e o meu, ele andava no passo normal, eu chegava muito antes. Deve-me esses favores, depois nunca mais o vi, apesar de o pai ter uma casa comercial em Matosinhos, que se chamava a Casa Camelo, não sei o que vendia. Mas era endinheirado em comparação comigo.
Venho a encontrá-lo precisamente na Messe de Oficiais nesse dia e não mais o vi na Guiné. Passados mais de 20 anos cheguei a cruzar-me com ele no Porto, mas nunca falamos, talvez ele não me reconhecesse, pois eu engordei 20 kg e fiquei de cabelos brancos, mas ele na mesma. Hoje não sei dele. Ao lado, outro alferes da Chefia de Contabilidade, não me lembro o nome. Eu parecia o dono daquilo tudo (DDT), era uma visita frequente. Bissau, 2º. Trimestre de 69.
F84 – Um dia de muita chuva, entre Maio e Julho 69, tempo dela... Na zona nobre da cidade, das vivendas, embaixadas, consulados, e gente importante da terra. Uma viatura militar Mercedes, nova, deslizando entre a chuva e os ribeiros de água. Apesar de não haver quase movimento de viaturas, neste cruzamento tínhamos um Policia Sinaleiro de capacete branco, coisas de África de outros tempos. Quando chovia forte, até os sapos saiam das bolanhas e inundavam as ruas e passeios, depois à noite com a falta de iluminação, esmagávamos sem querer dezenas deles, era uma porcaria do terceiro mundo. Bissau, 2º Trimestre de 69.
F85 – Mais um barco de T/T chegou e atracou, não é o Uíge pois esse ficava ao largo. Vemos na escadaria o pessoal a descer com malas, por isso estão a desembarcar, mais umas centenas de militares para esta guerra. Um camião militar Mercedes para levar o pessoal e bagagem para os seus destinos, normalmente para o Depósito de Adidos em Brá, onde esperavam transporte para os seus locais definitivos de destino. Tempo de chuva, pelas nuvens carregadas. Era tempo dela, e quando caía não era a brincar. Bissau, 2º Trimestre de 69.
F86 – Base aérea de Bissalanca. À esquerda algumas DO com o focinho amarelo. Ao lado destas, outro avião que penso ser um Héron onde também viajei, poucas vezes. Ao fundo à direita, algumas Dornier em cor branca ou clara, onde viajei muitas vezes. Em grande plano pode ver-se um grande avião, de hélice, quadrimotor. Penso tratar-se de um DC6 da Douglas, o tal avião que me levou para a Guiné. Tem a bandeira nacional atrás, e uma cruz de guerra pintada atrás. Mais ao fundo podem ver-se outros dois iguais, virados de frente. Mas aquele DC6 não foi o que me levou, pois eu sei que foi um pintado de cinzento e camuflado, feio, velho, sem bandeiras nenhumas, quase a cair de podre. Bissau, 2º trimestre de 69.
F87 – Base naval da Marinha Portuguesa em Bissau. Foto tirada possivelmente no dia anterior à minha partida, a bordo do T/T Uíge. Algum movimento de barcos e lanchas, mas não era o dia de saída, pois faltam alguns pormenores. Vou adiantar uma data. Bissau, 3Ago69.
F88 – Aerogare da BA12 em Bissalanca. Militares preparam-se para embarcar rumo a qualquer sítio, penso que eu estou também a caminho de um deles, só pode ser para São Domingos. Pode ver-se uma fileira de DO27 – focinho amarelo-torrado, outra fileira de Caças T6, e mais adiante outra fileira de Fiat G91. Tantas vezes por aqui passei que me recordo quase de tudo, mas às instalações do pessoal da aviação fui lá uma vez se me lembro. Bissau, 1º Trim 69.
F89 – Vista geral da pista de aterragem da Base Aérea e do aeroporto civil de Bissalanca, que era comum para todos os aviões. Pelo aspecto estamos já na época de chuvas. Os elementos que se vêm na foto, deve tratar-se da PA, Polícia Aérea. em verificação da pista ou qualquer outra formalidade que desconheço. Bissau, Mai69.
F90 – Render da guarda no Palácio do Governador. Aos domingos de manhã havia esta festa de ronco, a população vinha para a rua ver as cerimónias. Aqui mostra-se apenas o Palácio, os homens da Marinha, a fanfarra e tropa do exército. Estamos na Praça do Império, era aqui que se mostrava que isto ainda era Portugal. Já existe uma reportagem destas cerimónias num outro Poste já publicado no Blogue. Bissau, Junho69.
Em, 24-04-2018
Virgílio Teixeira
«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».
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Notas do editor:
(*) Vd. ppste de 19 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18859: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXVIII: As minhas estadias por Bissau (vii): o ano de 1969 (fotos de 71 a 81)
Guiné 61/74 - P18927: Furriéis que tombaram no CTIG (1963-1974), por acidente, combate e doença - Parte II: Em combate (n=139) (Jorge Araújo)
"João Nunes Redondo (Ílhavo /? – 22.03.1963/Guiné), era um Furriel Miliciano que quando estava no sul da Guiné, na Tabanca do Cubaque, a proceder ao levantamento de minas, verificou que o dispositivo de disparo de um dos engenhos fora inadvertidamente acionado por um dos sapadores que o auxiliavam na tarefa e, deliberadamente, lançou-se sobre a mina prestes a explodir, que o vitimou de imediato evitando a morte dos camaradas próximos. A título póstumo, foi agraciado com o grau de Cavaleiro com Palma da Ordem Militar da Torre de Espada e foi promovido a Sargento Ajudante, a 12 de março de 1964. O seu nome consta também na toponímia da sua terra natal como Rua Sargento Nunes Redondo." (Fonte: Toponímia de Lisboa > 13 de fevereiro de 2017 > Mortos na Guiné e Angola, em 1963, na toponímia de Olivais Norte) (Foto: Sérgio Dias, com a devida vénia... Reeditada pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).
OS 221 FURRIÉIS QUE TOMBARAM NO CTIG [1963-1974] (POR ACIDENTE, COMBATE E DOENÇA) - Parte II: Em combate (n=139)
Sinopse:
2- QUADROS POR CATEGORIAS E ORDEM CRONOLÓGICA (Continuação)
Jorge Araújo
(Continua)
________________
Nota do editor:
Último poste da série > 15 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18924: Furriéis que tombaram no CTIG (1963-1974), por acidente, combate e doença - Parte I: Por acidente (n=68) (Jorge Araújo)
Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do nosso blogue
OS 221 FURRIÉIS QUE TOMBARAM NO CTIG [1963-1974] (POR ACIDENTE, COMBATE E DOENÇA) - Parte II: Em combate (n=139)
Sinopse:
Na sequência da actualização da lista dos camaradas «Alferes» que tombaram no CTIG (1963-1974), publicada no P18860, anexo agora a referente aos camaradas «Furriéis», apresentando-a ao Fórum organizada segundo a mesma metodologia anterior, ou seja, por quadros de categorias (acidente, combate e doença) e por ordem cronológica.
Para que não fiquem na "vala comum do esquecimento", como é timbre do nosso blogue, eis os quadros estatísticos dos 221 (duzentos e vinte e um) furriéis, nossos camaradas, que tombaram durante as suas Comissões de Serviço na Guerra no CTIG, por diferentes causas: combate (n=139), acidente (n=68) (*) ou doença (n=14).
Para que não fiquem na "vala comum do esquecimento", como é timbre do nosso blogue, eis os quadros estatísticos dos 221 (duzentos e vinte e um) furriéis, nossos camaradas, que tombaram durante as suas Comissões de Serviço na Guerra no CTIG, por diferentes causas: combate (n=139), acidente (n=68) (*) ou doença (n=14).
2- QUADROS POR CATEGORIAS E ORDEM CRONOLÓGICA (Continuação)
Jorge Araújo
(Continua)
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Nota do editor:
Último poste da série > 15 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18924: Furriéis que tombaram no CTIG (1963-1974), por acidente, combate e doença - Parte I: Por acidente (n=68) (Jorge Araújo)
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