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sábado, 22 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26517: As nossas geografias emocionais (46): Quem se lembra do Café Portugal, junto ao Hotel com o mesmo nome, na Praça Honório Barreto (hoje Che Guevara) ?


Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado: (i) em cima, várias paisagens do país; (ii) em baixo:  o edifício onde era o antigo Café Portugal (à direita), junto ao Hotel Portugal, na antiga Praça Honório Barreto (rebatizada Pr Che Guevara, a partir de 1975)... A escultura do Honório Barreto já há muito tinmha sido derrubada... É uma das raras imagens que temos deste estabelecimento... (Ninguém se lembrava de tirar fotos às fachadas dos "tascos" lá do sítio...).

Este postal foi trazido pelo ex-fur mil António J. P. Magalhães, infelizmente já falecido: pertencia ao 1º Gr Comb CART 1525, Os Falcões (Bissorã, 1966/67) (grupo de combate comandado pelo ex-alf mil Rui César S. Chouriço) e terá sido dos nossos primeiros camaradas a fazer uma "viagem de saudade" à Guiné-Bissau, depois do fim da guerra, em 1993.

Foto (e legenda): ©  António J. P. Magalhães (1993). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Bissau > Praça Che Guevara > 2008 > Antiga Praça Honório Barreto. Foto do domínio público, cortesia de Wikipedia.

Guiné > Bissau > s/d [. c 1969/70] > "Praça Honório Barreto e Hotel Portugal"... Bilhete postal, nº 130, Edição "Foto Serra" (Coleção "Guiné Portuguesa") (Detalhe). Coleção: Agostinho Gaspar / Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010)

Agora a Praça chama-se Che Guevara... e o antigo Hotel Portugal era, em 2008,  o Hotel  Kalliste (que também funcionava como casino)...


1. Antes que desapareçam, definitivamente das nossas memórias (*) (e dos nossos álbuns fotográficos), vamos lembrar aqui algumas referências ao Café Portugal, que fazia parte do roteiro dos nossos "comes & bebes" em Bissau, a par de outros já falados: Café Bento ou 5ª Rep, Café e Pastelaria Império, Café Ronda, Cervejaria Solmar, Solar dos 10, Zé da Amura, Grande Hotel,  Pelicano, Nazareno,  Chez Toi, etc.

O Café Portugal não existe mais, tal como o Café Bento,  a Solmar, o Pelicano, etc. Eram tudo lugares da "Bissau Velho", colonial, que prosperaram com a guerra e durante a guerra... Depois da independência, os seus donos arrumarama as malas, e deixaram lá as paredes...

Bissau Velho, símbolo do colonialismo, foi votada ao desprezo e abandono... Os bissauenses, os velhos e os novos, também não tinham "patacão" para gastar nas esplanadas...Deixou de haver esplanadas... E  à noite, não havia iluminação pública... 

Enfim, era preciso construir um "país novo", um "homem novo", uma "pátria nova"... Agira com a ajuda dos suecos, dos russos, dos cubanos... Os "tugas" só passaram a fazer "turismo de saudade" a partir do final do século XX... Bissau Velho tinha poucos ou nenhuns atrativos para estes "saudosistas"... Preferiam calcorrear o mato, à redescoberta de lugares de que tinham boas e más memórias...(Sabe.se que no final da guerra as NT tinham uma de rede de cerca de 220 guarnições e destacamentos, fora as tabancas em autodefesa e onde com maior ou menor regularidade também havia reforço da tropa...)

Alguns dos nossos camaradas deixaram, no blogue,  referência breves, pontuais,  ao Café Portugal, dos anos 60 e princípios de 70. Eis um apanhado:


(i) Nuno Mira Vaz, hoje cor pqdt ref, antigo comandante do CCP 121 / BCP 12  (Brá, 1966/68):

(...) Recordo o Quartel de Santa Luzia com a piscina de águas tão espessamente esverdeadas que nada se via a dez centímetros de profundidade, o UDIB onde passavam filmes de cowboys, a Associação Comercial com os torneios de bridge e o naipe de restaurantes e cervejarias: o Café Portugal, o Zé da Amura, o Solar do Dez e o Grande Hotel. (...) (**)

(ii) Veríssimo Ferreira (1942-2022) (ex-fur mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) 

(...) As noites eram famosas e já apareciam simulacros de boites. Em momentos vagos, visitei a Sé, o Liceu,  o palácio do Governador (Arnaldo Schutlz, então), o Pilão, a  fábrica da gasosas, o Café Portugal, o Pintosinho, a Ultramarina, a casa Gouveia, o  BNU, a  rádio,  as tascas que serviam ostras ao natural, as..., enfim!!! (..) (***)

(iii) Álvaro Mendonça de Sousa, ex-fur mil, Manutenção Militar, 1966/68, e que mora em Ermesinde:

(...) E as escapadelas ao Bairro do Cupelon [ou Pilão], e as noitadas da cerveja e das ostras no Café Portugal? E as codornizes fritas do Zé da Amura? Que será feito do célebre Hotel Berta, onde se comiam os melhores gelados do Mundo? Mas o que mais me emocionou foi ver, através das fotos, o estado de ruína desta cidade de terra vermelha. 

Ao lembrar-me de tudo isto e ao escrever estas linhas não consegui travar algumas lágrimas. Sobretudo, porque à distância de quarenta anos no tempo, não mais consegui reunir todos os camaradas desse tempo, todos esses amigos que, como muito bem sabe, eram a nossa família de afinidade durante 24 os 25 meses de comissão. (...). (****)

(iv) Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens, STM/QG/CTIG, 1968/70)

(... ) Tínhamos, na Praça Honório Barreto: o Internacional, o Portugal e o Chave de Ouro, tudo cafés/cervejarias mas também onde se comiam umas febras ou uns bifes, quando havia. (...) 

(v) David Guimarães (ex-fur mil at inf, MA, CART 2716 / BART 2917, Xitole, 1970/1972):

(...) Daqui a pouco, ilha do Sal e logo depois Bissalanca... e lá estávamos nós outra vez na Guiné... Caminho para a pensão Chantra - ou Chantre, já não me lembro… Bom, não interessa, era uma residencial onde se dormia. Que não era má e sobretudo não era cara, aliás nada era caro naquela terra ... para quem tinha dinheiro. E isso havia. Uma coisa: os graduados tinham, os outros nem tanto, parecia injusto, mas enfim...

Café Portugal ... que lindo, comprámos uma navalha cada um, três estalos (é que as havia de cinco). Aquela era de três. Mais um ronco... Aproveitei e comprei um relógio Seiko: que maravilha, trabalhava bem, o outro que eu tinha já havia apanhado água do rio Poulom (...).

À noite, uma volta... Sim,  lá para o escuro, para lados de Pilão... Porra, a certa altura uma mulher a gritar por não sei quem... Poça, vamos lá, era o único lugar com luz... De trás da árvore surge uma voz:

- O
h furriel, furriel!?

Furriel ?... Mas nós estávamos à civil !... Bem, lá atendemos às solicitações da mulher, nem sei o que ela queria, e afastámo-nos rapidamente para os lados da luz, os canivetes de 3 estalos abertos no bolso… Correu tudo bem, lá chegámos à residencial... Bem, aconteceu nada, mas como é que nós éramos furriéis, vestidos à civil? Fiquei a matutar nessa:

- Mistério… (...)

(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos e itálicos: LG)

________________

Notas do editor LG:




(***) Vd. poste de 3 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11188: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (27): 28.º episódio: Memórias avulsas (9): Do inferno para o céu

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26454: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (52): A antiga Cervejaria Solmar, na Av Domingos Ramos, perto do mercado novo e da Segurança Social




Fotos nºs 1 e 2 Guiné- Bissau > Bissau > Av Domingos Ramos > A antiga Cervejaria Solmar

Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Bissau > "Mais um artéria da cidade, em obras"... a Av Domingos Ramos... E do outro lado, à esquerda, o edifício da antiga Cervejaria Solmar... Fotograma do vídeo do Paulo Cacela, " A transformação de Bissau...", disponível aqui no You Tube. (A imagem é obtida a partir da entrada do Novo Mercado...)


Fotograma (e legenda): © Paulo Cacela (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Patrício Ribeiro, nosso amigo e camarada (foi fuzileiro em Angola, 1969/72), histórico membro da Tabanca Grande, nosso "embaixador em Bissau",  cicerone, autor da série "Bom dia desde Bissau"; fundador da empresa Impar Lda; vive na Guiné-Bissau há 4 dezenas de anos; tem mais de 180 referências no blogue.


1. Mensagem do Patrício Ribeiro (*), com data de ontem,  por volta dads 23h00:

Solmar... Morei em mesmo cima, durante 5 anos. (Aliás, a sede da Impare Lda, é nesta artéria.)

Nunca mais abriu como restaurante. Propriedade do jovem António Carvalho que já fez 90 anos. E que passa o inverno de Lisboa em Bissau.

O edifício foi alugado para comércio a um amigo, fuzileiro do destacamento de fuzileiros especiais, DFE  nº 8,  da nossa idade, que aqui fez uma comissão e por aqui anda há mais de 2 dezena de anos.

A rua anda em obras.. Vai levar asfalto novo. Fica junto ao mercado novo, o velho ardeu. Em frente ao edifício da Segurança Social (INSP - Institituto Nacional de Previdência Social, AvDomingos Ramos, nº 12).




Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Bissau > Av Domingos Ramos > 2001 > O mercado municipal, aliás, "Mercado Central" (entre a Av Domingos Ramos e a R Vitorino Costa)... A mesma tabuleta esmaltada de há trinta e tal anos atrás... Ardeu entretanto, foi construído um novo nno mesmo sítio. (Devia ser o nº 376 da antiga Av. Carvalho Viegas) (*) (A Av Domingos Ramos é paralela  à Av Amílcar Cabral, do lado direito de quem desce para o cais do Pidjiguiti).

Recorde-se que o antigo mercado,  construido na época colonial, ficou fechado durante 16 anos devido aos bombardeamentos de que foi alvo durante a guerra de 7 de Junho 1998, tendo sido reabilitado um ano depois, mas, em 2006, um incêndio voltou a destruí-lo por completo. Os feirantes acabaram por montar o seu negócio ao longo das ruas adjacentes... 

O novo mercado foi inaugurado em 26/12/2023, é um edifício de três pisos contando com 360 lugares para venda e com capacidade para albergar 480 comerciantes. (Vd. fotohgramas  do "youtuber" Paulo Cacela, umportuguês que vive em Cabo Verde:  vd. poste P24853 (***).

Foto (e legenda): © David Guimarães (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

(***) Vd. poste de 16 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24853: As nossas geografias emocionais (16): O novo rosto da "nossa" Bissau Velha: fotogramas de vídeo recente de @PauloCacela, ciceroneado por Tita Pipoka e Liliana Correia

domingo, 2 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26449: As nossas geografias emocionais (38): Sítios em Bissau que faziam parte do no nosso roteiro dos comes & bebes: Restaurante Pelicano, Café Bento, Cervejaria Somar

 


Guiné > Bissau > s/d (c. 1970) > Restaurante Pelicano e vista da marginal (hoje Av 3 de Agosto=... Foto de autor desconhecido, e do domínio público, reproduzida provavelmente de revista de turismo ou brochura de propaganda da província da Guiné Portuguesa. Também podia ser um "postal ilustrado" da época... "Guiné Melhor" remete para a polìtica spinolista (1968/73)... De qualquer modo, a imagem nunca pode ter sido criada em 1960, como diz a Wikidata: o Pelicano foi inaugurado em finais de 1969... Cortesia de Delcampe / Wikidata.

Guiné-Bissau > Bissau > 1996 >  "Pelicano,  Restaurante, Bar, Night Cub"... Um quarto de século depois da sua inauguração (em finais de 1969) já tinha alguns sinais de decadência e degradação... Em 1970 era" o melhor café-esplanada de Bissau", diz o autor da foto, o Humberto Reis, ex-fur mil OE, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)... (Ninho de camarão era uma das suas especialidades, mas também as ostras com lima e priripiri; vários militares trabalhavam aqui como empregados de mesa)... O fotógrafo voltou ao "local do crime" em 1996...Fica na marginal (antiga Av Oliveira Salazar, hoje Av 3 de Agosto), no enfiamento do Baluarte da Puana do Forte da Amura, à direita da estátua do Diogo Cão (que foi derrubada).

(Foto "capturada", sem menção de autor, pela página do Facebook da Society for Promotion of Guinea-Bissau, uma ONG, com sede emBissau, mas de origem brasileira.)

Foto (e legenda): © Humberto Reis (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Bissau > s/d >  "Pelicano" > Foto de autor desconhecido, reproduzida na página do Facebook da Society for Promotion of Guinea-Bissau (criada em 2018) (as fotos capturadas por esta página não tem menção de autor, o que é n0 mínimo estranho).

Vd. aqui a localização exata do Restaurante Pelicano (na Mapcarta)

Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral (antiga Av República, rebatizada  em 1975) >   2001 >  À esquerda a Pensão D. Berta ou Pensão Central... A saudosa Berta de Oliveira Bento, cabo-verdiana radicada na Guiné Bissau há várias décadas, faleceu  em 2012, aos 88 anos. Não deixou filhos, mas tinha muitos amigos. O edifício ficava a seguir à Catedral de Bissau, do lado esquerdo de quem desce, da antiga Praça do Império até ao Geba... 

Guiné-Bissau > Bissau > 2001>  Bomba da GALP... Era aqui o antigo Café Bento ou a famosa 5ª Rep do nosso  tempo..  Ficava na esquina da Rua Tomás Ribeiro, hoje Rua António Nbana, com a Av da República (hoje Av Amílcar Cabral). O posto de combustível da GALP era então único na Bissau Velha. A sede da delegação da RTP África também ficava aqui perto.

O Café Bento era um dos nossos locais de convívio preferidos. Tantos os gajos da PIDE como do PAIGC tinham lá os seus "ouvidos" (informadores)... Curiosamente, era um bom alvo para um ataque terrorista... o que nunca chegou felizmente  a acontecer (por medo ou bom senso do IN).


 Guiné-Bissau > Bissau > 2001 > Praceta junto ao Forte da Amura (construção militar setecentista), por detrás do Zé da Amura, que ficava na rua Capitão Barata Feio (hoje, Rua 24 de Setembro)... Confunde-se, ainda hoje,  o Zé da Amura com o Café Bento (que ficava na Rua Tomás Ribeiro, hoje Rua António Nbana).

Fotos (e legendas): © David Guimarães (2001). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Bissau > Café Bento > c. setembro de 1972 >  
Foto tirada na esplanada do café Bento, local de encontro não só para quem prestava serviço na cidade, mas também para muitos que pelas mais variadas razões passavam por Bissau

Era cerca de meia noite quando a foto foi tirada, estávamos todos muito animados… Os três que estão trajados à civil não eram da minha aldeia, Moleanos, com o posto de primeiro sargento enfermeiro prestavam serviço no hospital militar de Bissau. O que está com o copo na mão era nosso vizinho, de Alcobaça, o primeiro sargento Canha.

Dos que estávamos com farda militar, o do centro era eu, Jerónimo, a primeira vez que vim de férias, o  outro, a seguir ao Canha,  era o Inácio (António Ferreira da Silva Inácio, pertencia à polícia militar, o único da nossa aldeia que passou todo o tempo de comissão em Bissau); e o último da direita era o Faustino (José Fernando Pimenta Faustino, de seu nome completo, assentou praça em em agosto, era soldado condutor auto, embarcou, em rendição individual, para a Guiné em 12 de março de 1971, no navio Uíge; esteve seis meses em Teixeira Pinto, CAOP 1, o resto da comissão foi passado em Bissau; veio uma vez de férias à metrópole; regressou por via aérea a de fevereiro de 1973).

Foto do álbum do António Eduardo Jerónimo Ferreira, (Évora de Alcobaça, Alcobaça, 15 de maio de 1950- Moleanos, Alcobaça, 19 de outubro de 2023) (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493 / BART 3873, Mansambo, Cobumba e Bissau, 1972/74) 

Foto (e legenda): © António Eduardo Ferreira (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Bissau > Novembro de 1968 > Avenida do Império e ao cimo o Palácio do Governador. Foto tirada perto do café Bento (?)...


Guiné > Bissau > Abril de 1968  > O Virgílio Teixeira, "na esplanada do  café  Bento, o  sítio mais emblemático da cidade"...



Guiné > Bissau > Junho de 1968 > "No café Bento – a 5ª Rep – com mais alguns camaradas numa noite quente e húmida. Sou o segundo a contar da direita, de óculos escuros, a acender um cigarro".

Fotos do álbum  do Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69);

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guine > Bissau > s/d (c. 1969) > "Eu e o Valdemar, salvo erro na Solmar, em Bissau"... Foto do Abílio Duarte (x-fur mil, CART 2479, mais tarde CART 11 e, finalmente, já depois do regresso à metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa Companhia de “Os Lacraus de Paunca” (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70); faz parte da Tabanca Grande desde 27/8/2010; tem mais de 7 dezenas de referências no blogue; está reformado como bancário do BNU - Banco Nacional Ultramarino; vive na Amadora)


Foto (e legends): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luía Graça & Camaradas da Guiné.]



Guiné > Bissau > Finais de fevereiro ou princípios de março de 1969 > > O Valdemar Queiroz na Solmar. Foto do seu álbum (foi fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70), membro da Tabanca Grande desde 16 de fevereiro de 2014; tem  200 referências no nosso blogue, de que é um leitor atento e comentador assíduo).


Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luía Graça & Camaradas da Guiné.]





Planta de Bissau (edição, Paris, 1981) (Escala: 1/20 mil)


1. Caros leitores: agora temos que descobrir mais fotos e histórias do Restaurante Pelicano, do Cafe Bento, da Cervejaria Solmar  (*) e de outros sítios do nosso roteiro dos "comes & bebes" em Bissau (e, já agora,  arredores: Nhacra, Quinhamel, Cumeré...). 

Tudo isto faz parte das nossas geografias emocionais (**), da nossa memórias dos lugares, boas e más...

Estas "geografias" de Bissau são apenas emocionais. a "Bissau Velha" que conhecemos, já náo existe ou está irreconhecível... O que resta de pé é património dos guineenses, só têm a ganhar de o souberem preservar... 

A história faz-se também  com as sucessivas camadas dos vestígios do passado, sinalizando a passagem de diferentes povos... Lisboa é um exemplo, desde o calcolítico  aos romanos e aos árabes... Bissau era uma cidadezinha colonial, antes de se  tornar capital (destronando Bolama), desenhada a regra e esquadro no tempo da I República, que era tão colonialista como o Estado Novo... 

Não vamos branquear nem escamotear o passado...Bissau tem hoje outras marcas, novas arquiteturas pós-modernas, pós-coloniais, mas também neocolonialistas... Em todas há a marca da passagem e da interação de diferentes povos, épocas, poderes, assimetrias, ideologias, mitos...

Este exercício de exorcismo da memória pode ser patético, ou até infantil, saudosista... Chamem-lhe o que quiserem... Não estamos preocupados com o p0liticamente correto... Somos apenas um blogue de partilha de memórias (e de emoções). Náo somos historiadores. 

______________

Notas do editor:

(*) 31 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26443: Fotos à procura de... uma legenda (192): Bissau, agosto de 1974: qual a mais famosa esplanada da cidade ? Café Bento ou cervejaria Solmar ? E esta foto é da 5ª Rep ou da Solmar ?

(**) Último poste da série > 30 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26442: As nossas geografias emocionais (37): A Fulacunda do meu tempo (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74)

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25438: Humor de caserna (59): O anedotário da Spinolândia (X): Alferes, cabra de mato!... Pum, pum!!! (David Guimarães, ex-fur mil at art, MA, CART 2716, Xitole,, 1970/72

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David Guimarães, Guiné-Bissau, 2001

1. O David Guimarães (ex-fur mil at inf, MA, CART 2716 / BART 2917, Xitole, 1970/72) é um dos nossos "dinossauros", um dos nossos VCC (velhinhos como o c...).

Ele é do tempo do "blogue-fora-nada", que deu origem ao atual blogue... Ele, o Sousa de Castro, o A. Marques Lopes, o Humberto Reis... foram alguns dos primeiros camaradas que me ajudaram a "exorcizar os meus fantasmas" da Guiné...

Tem 113 referências no nosso blogue.. E hoje faz anos. 77. Entrou tarde para a tropa, quando chegou ao Xitolee tinha já 23, e, quando regressou a casa, 25.

Claro que, ao fim destes anos todos (vinte!), só muito raramente ele aparece agora no blogue... É mais "feicebuqueiro" do que "blogueiro", como tantos outros... Mas a gente não se esquece do seu papel, na "proto-história" da Tabanca Grande. Tenho especial carinho e amizade por ele.

E, neste dia, além de já lhe ter telefonado e mandado "by air", para Espinho, um "balaio" cheio de votos de parabéns e de muita saúde e coragem para o resto da caminhada... (que de minas e armadilhas sabe ele!), vou ressuscitar duas das suas histórias deliciosas, passadas ainda no tempo em que eles "periquitos",o pessoal da CART (chegaram em maio de 1970).. Tem um fino sentido de humor, o David, ou não fosse ele um ex-fur mil at inf, de minas e armadilhas, que viu morrer um sapador (Quaresma) e outro furriel ficar cego (Leones).

Estas duas histórias merecem figurar no "anedotário da Spinolânda"... Diz o Carlos Matos Gomes, no seu novo livro ("Geração D: da Ditadura à Democracia", Lisboa, Porto Editora, 2024), a Guiné sempre foi até ao fim, "uma coutada pessoal de Spínola" 
(pág. 188), ao ponto de querer transformar os comandos africanos numa guarda pretoriana... 

Justa ou injustamente, temos falado aqui na Spinolândia (*), e no seu anedotário (que alimentava o nosso humor de caserna)... Na realidade, o nosso general parecia comportar-se, no CTIG, como se fosse o dono daquilo tudo... E o pessoal também o via como tal... 



Humor de caserna > O anedotário da Spinolândia>  Alferes,  cabra de mato!... Pum, pum!!! 
 
por David Guimarães


(i) Alferes, cabra de mato!


Um dia, novinhos ainda, piras, com as fardinhas novinhas em folha, aí vamos nós. Sai o 1º Grupo de Combate. Patrulha em volta do aquartelamento para os lados de Seco Braima, o que era normal: acampamento IN....

Era bem de manhã. E a certa altura, zás, ouve-se o matraquear de espingardas automáticas:

− Que coisa!... Oh diabo, estão a enrolar…

Os morteiros fixos lá fazem fogo de barragem. Novamente os experientes homens de armas pesadas. E que eficientes! Como eles faziam aqueles morteiros dispar tão amiúde e certeiro... Cessar fogo, tudo silêncio à volta, fora os abutres que logo foram ver o que acontecia.

− Que aconteceu? E agora... Estará alguém ferido ? O que aconteceu ? O que vamos fazer ?

Nenhum deles disse nada... mas voltaram depressa. E nós nem percebíamos ainda porque que é que eles voltaram assim tão rapidamente... Bem, lá regressa, da patrulha, o 1º Grupo de Combate. Ofegantes, e agora dentro do aquartelamento esboçando sorrisos, todos pretos... Que coisa, sempre que havias tiros ficava-se todo preto!

−Que aconteceu ?!...

Lá vem a explicação: o grupo estava a instalar-se, para um tempinho em posição de emboscada. Uma cabra de mato passa em frente... Um soldado diz para o aferes,  muito baixinho:

− Alferes, cabra de mato!
−  Atira-lhe − , responde o Alferes… 

Ah rico tiro, pum, pum!!!

E não é que o IN estava lá emboscado, do outro lado da cabra ? Seriam poucos, mas ao sentirem-se detectados deram uns tiros e fugiram, pois que entretanto também começaram a cair bem perto as granadas do morteiro do aquartelamento....

− Manga de cu pequenino

Olha que sorte, a santa cabra do mato! ... Foi ela, afinal, o nosso anjo da guarda. O Correia voltou com o seu grupo de combate inteiro e o soldado que detetou a cabra... herói. Mais tarde,  foi-lhe proposto e concedido o prémio Governador Geral. Todos achámos muito bem, veio à metrópole. Se não fora assim, nunca iria lá de férias, porque não tinha dinheiro para isso...

Ninguém soube se a cabra morreu ou não, mas os homens, depois de contados, estavam todos... E os abutres também voltaram ao aquartelamento e continuaram a comer o que restava da vaca morta nesse dia...

A guerra tinha disto também, e ainda bem... Como entendê-la ? Só um combatente... Este era o nosso tempo de recreio de guerra dentro da guerra.

(ii) O Caco Baldé no Xitole

Um helicóptero que pousa na pista do Xitole, gente da alta e o Homem Grande (General, Comandante-Chefe e Governador do CTIG - Comando Territorial Independente da Guiné): António de Spinola, ele mesmo, mais conhecido por... Caco Baldé!

Spínola, Governador e Com-Chefe, era conhecido por  Caco, Caco Baldé, Homem Grande de Bissau...

Volta à companhia, verificação da posição das NT dentro do Aquartelamento... Rapidamente se forma um U, cada qual fardado o melhor que podia, era um ver se te avias.... Sua Excelência, de pernas afastadas, mãos atrás das costas, impecavelmente fardado e com seu monóculo começa assim um discurso:

− Tenho péssimas informações do Batalhão [ BART 2917, com sede em Bambadinca ], à exceção desta companhia [ CART 2716 ]... Continuem,  etc., e tal e tal...

E lá foi o homem embora: meteu-se no helicóptero e saiu pelos ares da Guiné, algures no Leste, rumo a Bissau, possivelmente.

− - Porra que elogio, mas para quê? Ele afinal até é bom!

− Porreiro !   −  dizia um...

− Que se foda !  −  dizia outro...

− Bem, sempre é melhor este elogio do que o contrário...

− Que se lixe, já foi...

− Mas seremos assim tão bons para levar este elogia? Tão novos... merda, que se dane!...

Percebemos pouco tempo depois o que ele nos queria a dizer... Tinha-se realizado a Op Abencerragem Candente (Ponta do Inglês, Xime, 25 e 26 de Novembro de 1970, que o Luís e o Humberto já têm aqui evocado várias vezes), com um porrada de mortos e feridos...

Aí percebemos melhor o discurso do General quando na ordem de serviço veio o seguinte (reproduzo de cor): Segue para a Metrópole o tenente coronel de artilharia M. F.,  por ser incompetente para comandar um Batalhão... Em seu lugar nomeio João Polidoro Monteiro, tenente coronel de infantaria, etc. etc. etc... 

Nestas coisas, o Caco Baldé não brincava em serviço, cortava a direito... Não percebo por que é poupou o major A.C. (dizem que foi por ser antigo professor da Academia Militar...).

− Ai,  olha, ele varreu com o Nord Atlas  −   assim chamávamos nós ao M. F. (um bom homem, mas que de guerra efectivamente só deveria saber o que vinha nos livros)... 

Apanhou uma porrada desse nível e, ainda por cima, estava de férias, enquanto o A. C., o principal responsável pelo fracasso dessa operação e o consequente desastre, ficava...
 
__________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 6 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25396: Humor de caserna (58): O anedotário da Spinolândia... O "Fugitivo", por Manel Mesquita ("Os Resistentes de Nhala, 1969/71", s/l, ed. autor, 2005, pp. 130/132)

Guiné 61/74 - P25433: Parabéns a Você (2263): David Guimarães, ex-Fur Mil At Art MA da CART 2716 / BART 2917 (Xitole, 1970/72)

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Nota do editor

Último post da série de 15 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25387: Parabéns a Você (2262): António Pimentel, ex-Alf Mil Rec Inf da CCS / BCAÇ 2851 (Mansabá e Galomaro, 1968/70)

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24766: Armamento do PAIGC (6): A mina antipessoal PDM-6 (António Alves da Cruz, ex-fur mil, 1ª C/BCAÇ 4513/72, Buba, 1973/74)









Fotos  nºs 57, 58, 59, 60, 61 e 62- Recordação levantada na zona de Nhacobá. Mina anti pessoal PMD 6,

Fotos (e legenda): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. São fotos do álbum do António Alves da Cruz (ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72, Buba, 1973/74), que tem já cerca de duas dezenas de referências no nosso blogue (*).

Está por estudar os temíveis efeitos das minas e armadilhas na guerra da Guiné, de 1961 a 1974... Terão provocado muitos mortos e feridos graves. Eram a "arma suja" da nossa guerra, e da guerra do outro lado (**).

Com o descritor "minas e armadilhas" (incluindo as minas A/C e as A/P) temos mais de duas centenas e meia de referências.

Relativamente ao TO da Guiné, temos alguns dados referentes aos últimos anos da guerra, e às minas implantadas (pelo IN) e neutralizadas (pela NT) (vd. quadro abaixo) (***).

Nos anos de 1972, 1973 e 1974 (até 30 de abril), o PAIGC implantou 1570 minas e engenhos explosivos, com destaque para as minas A/P (sete em cada dez):
  • minas A/P: 1132 (72,1% do total); neutralizadas: 80,2% (quatro em cada cinco);
  • minas A/C: 381 (24,3% do total); neutralizadas: 74,8 % (uma em cada quatro);
  • outros engenhos explosivos: 57 (3,6% do total); neutralizados: 35,1% (um em cada três).
  • Total (minas e outros engenhos explosivos) minas aquáticas, armadilhas e outros): 1570 (100,0%); neutralizados: 77,6% do total (quase quatro em cada cinco).
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá >  Xitole > 1970 > CART  27716 (1970/72) > A temida mina antipessoal PDM-6 (vd caixa aberta, acima), reforçada com uma carga de trotil de 9 kg (as barras do lado direito). Detectada e levantada na estrada Bambadinca-Xitole pelo furriel de minas e armadilhas David Guimarães,  da CART 2716. "Bem, ia uma GMC ao ar, isso sim!...".

Foto (e legenda): © David J. Guimarães (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 
2. Sobre a PMD-6:


(i) são minas antipessoal do tipo explosivo (havia outras, de fragmentação, como a "bailarina", que lançava milhares de estilhaços a 1 metro do solo, atingimdo um homem nas partes vitais);

(ii) de origem soviética, consistem em uma caixa de madeira com uma tampa articulada com uma fenda cortada nela; a ranhura pressiona um pino de retenção, que retém o percussor;

(iii) quando é aplicada pressão suficiente à tampa da caixa, o pino de retenção se move, permitindo accionar o detonador.

As minas antopessoais normalmente têm uma pressão operacional de 1 a 10 kg. Tal como acontece com outras minas de caixa de madeira, a mina tem uma vida útil relativamente curta, uma vez que a caixa é vulnerável ao apodrecimento e rachaduras, inutilizando a mina.

 A PMD-6, na sua  versão original, foi  usada pela primeira vez na Guerra de Inverno de 1939 entre a União Soviética e a Finlândia.


Fonte: Relatório da 2ª Repartição/CCFAG relativo ao período de 1Jan73 a 150ut74, citado por CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da actividade operacional: Tomo II - Guiné - Livro III (1.ª edição, Lisboa, 2015), pág. 497.
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(**) Último poste da série > 8 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24735: Armamento do PAIGC (5): O sistema Grad, o "jacto do povo", a "mulher grande", o foguetão 122 mm: as expetativas, demasiado altas, de Amílcar Cabral

sábado, 26 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23818: Efemérides (377): Foi há 52 anos, a carnificina da Op Abencerragem Candente, 26/11/1970, subsector do Xime..."Choro para uma morte anuncidada" (poema de Luís Graça)

Caldas da Rainha > RI 5 > 1968 > O futuro furriel miliciano David Guimarães, de minas e armadilhas [CARt 2716, Xitole, 1970/72], está a tocar viola, rodeado de camaradas que estavam a fazer a recruta no CSM - Curso de Sargentos Milicianos. Lá ao fundo, à direita e em último plano, uma carinha pequenina, é o Joaquim Araújo Cunha (assinalado com um círculo a vermelho).... Era de minhoto, de Barcelos. Viria a morrer em combate, no subsector do Xime, no decurso da Op Abencerragem Candente, em 26 de Novembro de 1970; pertencia à CART 2715, unidade de quadrícula do Xime, que integrava o BART 2917, chegado há poucos meses ao Setor L1 (Bambadinca). 

Foto (e legenda): © David Guimarães (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Parece que ainda estou a vê-lo... O Cunha, o Joaquim de Araújo Cunha, o pequeno e valoroso Cunha, ainda com o seu ar de criança tímida, era o único dos seis corpos que não estava desfeito pelos rockets. (*)

Tinha apenas um fiozinho de sangue na testa: o primeiro tiro fora, seguramente, para ele que ia à frente da secção, juntamente com o nosso guia e picador Seco Camarà (que veio connosco de Bambadinca). A imagem que retenho dele, era de alguém que caíra, exausto, em cima do capim, na berma do trilho... Quando cheguei à sua beira, ainda lhe dei uma bofetada, sacudindo-o energicamente: "Acorda, meu sacana!"... Em redor a maior carnicifina que vi na minha vida... Trouxemos os restos mortais dos nossos camaradas em trouxas feitas com os ponchos... O Cunha foi o único veio às costas, do Abibo Jau,  o "bom gigante" da CCAÇ 12 (e depois da CCAÇ 21)  que o PAIGC irá fuzilar em 1975, juntamente com o seu comandante, o ten  'comando' graduado Abdulai Jamanca.

Em tempos fomos contactados por uma sobrinha do Cunha, que nos deixou este comentário no poste P9863, de 8 de maio de 2012 (mas, lamentavelmente,  não temos o seu email ou o seu nº de telemóvel):

"Sou Sobrinha do Fur Mil Joaquim de Araújo Cunha. Apesar da mágoa, a minha mãe gostou muito de ler estas palavras e perceber que era acarinhado pelos colegas. Temos, ainda, guardadas todas a fotografias pelo que teremos todo o gosto em as partilhar. Obrigada. Cumprimentos para todos". .11 de março de 2015 às 22:14. 

Não sei como voltar a evocar esta trágica efeméride (**), a não ser republicando uma  versão (ligeiramente modificada) de um  dos poemas que escrevi há uns anos sonre etsa tragédia (***).

Choro para uma morte anunciada!


por Luís Graça


Em memória  
de todas as vítimas 
da Op Abencerragem Candente,
Xime, 26/11/1970,
 em memória do Cunha (1948-1970),
em memória dos demais camaradas da CART 2716, 
caídos em combate, nesse dia e local,
o Ribeiro, o Soares, o Monteiro, o Oliveira,
em memória do nosso guia e picador Seco Camará,
em memória do Amaro dos Santos (1944-2014),
em memória de todos nós, afinal,
que lá morremos todos um pouco...



Esquecer a Guiné, camarada!,
a salada de atum, cebola e tomate,
que vai ser a tua última ração de combate,
e o copo de vinho verde tinto
que tomas de um trago do teu cantil de fel
e o último cigarro
que partilhas connosco,
nharros de 1ª classe, 
tu,  camarada e amigo, ainda "pira",
que não sabes que vais morrer,
à hora marcada, 
às 8h50…

Um, dois,  três, quatro, cinco, seis homens
vão morrer daqui a três ou quatro horas,
às 8h50,
em vinte e seis de novembro de mil novecentos e setenta,
no cacimbo da madrugada,
na antiga picada do Xime-Ponta do Inglês.
Cinco brancos e um preto,
a lotaria da morte, em L,
numa emboscada que é cubana, 
numa roleta que é russa,
com os RPG, amarelos, "made in China"...
na corrocel da morte que é, afinal, universal!

Qualquer um de nós, 
que está aqui à volta da mesa,
pode vir a morrer, camaradas,
na próxima hora!, 
galhofas tu, com um sorriso amarelo,
para exorcizar os teus medos,
os nossos medos todos juntos, de "piras" e "velhinhos"...

Ou nem isso,
um gajo que se preza,
não fala da morte na guerra, 
às 3 horas da madrugada,
no Xime de todas as batalhas,
a caminho do vespeiro da Ponta do Inglês,
indo exatamente pelo mesmo trilho da véspera,
porque não há outro, di o Seco Camará,
e os olhos e os ouvidos e a boca dos irãs do Xime
não estão do teu lado, pobre tuga,
que vais morrer a cinco mil quilómetros da tua terra,
lá no teu verde Minho, 
tu que nunca mais irás de Barcelos a Viana,
em noite de romaria!

Camaradas, 
qualquer um de nós pode lerpar
na próxima saída para o mato,
ou até com os cornos enfiados no abrigo,
porque há sempre uma hora para morrer.
De um tiro no coração,
de um roquetada, 
de uma canhoada,
de uma mina antipessoal, 
do despiste de um Unimog,
de um ataque de abelhas assassinas,
da picadela mortal da cobra verde, 
da explosão de uma granada de morteiro
ou até de paludismo cerebral
ou de simples morte súbita,
fulminado por um raio dos irãs irados,
debaixo do poilão onde dormes com a tua bajuda... 

Esquecer a Guiné, camarada!,
o teu jovem capitão de artilharia, 
vinte e tal anos,
acabado de sair da Academia Militar,
que se recusa a sair com os seus homens
para a Ponta do Inglês…
E o safado do segundo comandante do batalhão
que lhe manda dizer, alto e som,
pelo altifalante da parada:
"O nosso capitão vai e torna a ir,
nem que seja a reboque de uma GMC!"...

Esquecer a Guiné, camarada,
nem que seja por uma noite,
por esta noite 
em que um de nós,  quatro,  
que estão aqui à volta desta mesa tosca, 
vai morrer!

O sabor a sangue e a merda
que a vida aqui tem,
aos vinte e poucos verdes anos,
a merda da Guiné,
a merda verde rubra do Xime,
a merda que te cobre o corpo e a alma,
é muito mais do que a merda toda,
das bolanhas, das lalas e do tarrafo

do Geba e do Corubal!
Podes lavar-te todos os dias,
mesmo que não morras amanhã, 
à hora aprazada,
às 8h50,
que essa merda nunca mais te sai,
nunca mais te sairá, 
nunca mais te sairá do corpo e da alma!
Podes até trocar de camuflado,
de bandeira,
arrancar a pele,
trocar a G3 pela Kalash,
venderes a alma ao diabo,
essa merda que te vai matar,
está te entranhada, 
no corpo e na alma, 
até ao tutano!
Vais levá-la para a eternidade, 
mesmo que sejas cremado a mil e tal graus centígrados.

Quem foi o idiota que  disse 
que descansarás em paz, camarada,
e que a terra da tua pátria te seria leve ?!

Meu pobre camarada, 
meus bravos camaradas,
meu Deus,
que pedaço de inferno foi este
que nos coube em vida,
nesta terra?!

Última versão: 26/11/2022


2. Op Abencerragem Candente: há 52 anos atrás  terá sido a mais sangrenta das operações realizadasa no subsetor do Xime, durante a guerra colonial,  de que na altura tínhamos  registo e memória, no sector L1 (Bambadinca). Dela resultaram pesadas baixas para as NT: 6 mortos e 9 feridos graves:

(i) Da CCS/BART 2917, ao serviço da CCAÇ 12: guia e picador Seco Camará, assalariado, trabalhando sobretudo com a CCAÇ 12; está sepultado em Nova Lamego:

(ii) Da CART 2715 / BART 2917 (Xime, 1970/72):

- Furriel Mil Mec Auto Joaquim  Araújo Cunha, nº mec 14138068; sepultado em Barcelos;

- 1º Cabo Atirador José  Manuel  Ribeiro, nº mec 18849069; sepultado em Lousada.

- Soldado Atirador Fernando Soares,  nº mec 06638369; sepultado em Fafe;

- Soldado Atirador Manuel Silva Monteiro, nº mec 17554169; sepultado em em Condeixa-a-Nova;

- Soldado Atirador Rufino Correia Oliveira, nº mec  17563169; sepultado em Oliveira de Azeméis...

Dos feridos graves (9), helievacuados em Madina Colhido, não temos infelizmente registo dos seus nomes, tirando o sold Sajuma Jaló (apontador de bazuca do 4º Gr Comb/CCAÇ 12, onde eu ia integrado, como comandante de secção). 

A emboscada, em L, possivelmente enquadrada e/iu comandada por cubanos, apanhou na "zona de morte"  os 3 Gr Comb do Agr C [ CART 2715] e 1 Gr Comb (4º) do Agr B [CCAÇ 12]. Estiveram envolvidos nesta operação 3 agrupamentos, 8 grupos de combate, cerca de 250 homens em armas.

"O ataque durou cerca de 20 minutos, sendo a retirada do IN apoiada com tiros de mort 82 e canhão s/r (!) que incidiram sobre a antiga estrada Xime-Ponta do Inglês, e especialmente sobre os 2 últimos Gr Comb (1° e 2º) da CCAÇ 12, assim como rajadas enervantes de pistola-metralhadora, de posições que ainda não se haviam revelado, nomeadamente de cima das árvores." (Fonte: poste P1318).

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 27 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16765: Manuscrito(s) (Luís Graça) (102): Para ti, camarada, que ainda não sabes que vais morrer, às 8h50 da madrugada do dia 26 de novembro de 1970...

(**) Último poste da série de 17 DE NOVEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23792: Efemérides (376): Inauguração de um Monumento aos Combatentes do Ultramar de Vitorino das Donas (Ponte de Lima), realizada no dia 12 de Novembro (António Mário Leitão, ex-Fur Mil)

(***) Vd. poste de 27 de novembro de  2021 > Guiné 61/74 - P22756: O nosso blogue por descritores (5): duas dezenas de referências à "Op Abencerragem Candente" (subsetor do Xime, 25-26 de novembro de 1970: um banho de sangue, com 6 mortos e 9 feridos grave, do lado das NT )