Foto nº 1, 1A e 1B
Foto nº 2 e 2A
Foto nº 3 e 3A
Foto nº 4 e 4A
Guiné > Região de Quínara > Fulacunda 3ª C/Bart 6520/72 (1972/74) > Aspetos do quotidiano da população civil de Fulacunda (Fotos nºs 2, 3 e 4); porto fluvial de Fulacunda (a 2 km a nordeste do aquartelamento): reabastecimento quinzenal: mantimentos, caixas de munições, sacos de arroz para a população, etc. (foto nº 1).
Fotos (e legenda): © Jorge Pinto (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]
1. Mandei há dias uma mensagem ao Jorge Pinto com o pedido de resposta a várias perguntas:
Dá uma vista de olhos por este poste com mais fotos tuas "melhoradas", e com alguns acrescentos meus nas legendas (*).
Confirma ou corrige, por favor:
(i) a população de Fulacunda andava à volta das 300/400 pessoas ?
(ii) a tropa, cerca de 220 ? (3ª C/BART 6250/72 + 1 Pel Mil + 1 Pel Art)
(ii) o PAIGC, quantos bigrupos teria no teu subsetor (Fulacunda) ? um ou dois, no máximo...
(iii) não havia bolanhas, não havia comerciantes... logo o arroz vinha de fora...
(iv) mancarra ou milho painço ? (a mim parece-me milho, ou sorgo, diz o Cherno Baldé);
(v) população: só biafada ? balantas também ? as milícias eram fulas ? E,se sim, originárias donde ?
Manda mais fotos destas, se tiveres... Um chicoração, Luis
PS - Sei que o Fernando Carolino, cunhado do Juvenal Amado, e que foi alferes da tua companhia, e vive am Valada de Frades, tem "slides" de Fulacunda...
Dá um jeitinho, tu e o Juvenal para ele se juntar ao blogue e partilhar essas fotos (Diz-lhe que essas fotos vão parar um dia ao lixo, os netos não vão querer saber nada da Guiné, e muito menos de Fulacunda, e nós temos o dever de as salvar...
2. Resposta do Jorge Pinto:
Data - 25/01/2025, 22:05
Boa noite , Luís
Data - 25/01/2025, 22:05
Boa noite , Luís
Hoje, decidi que não adiaria mais a resposta ao teu mail. Vou tentar responder às questões que colocas e enviar mais umas fotos de Fulacunda e Bissau...
(i) Quanto à população de Fulacunda seriam mais ou menos 400 pessoas de etnia Biafada;
(vi) Havia uma família Balanta em que chefe de família usava sempre com um chapéu de cipaio, todo o dia pedia vinho ao nosso vagomestre e estava quase sempre metido em desacatos na tabanca.(Parece que o pai é que tinha sido cipaio, ou seja,elemento da "polícia administrativa, antes da guerra.)
Havia, ainda, uma família Fula, pacata e que caçava às vezes umas gazelas que nos vendia, bem caras. (Havia pouca caça, em redor de Fulacunda.)
(ii) Toda esta população tinha familiares nas tabancas do mato que rodeavam Fulacunda e que muitas vezes vinham de visita, nos davam algumas "informações" sobre o movimento do bigrupo de Bunca Dabó, levando em troca uns quilos de arroz.
O pelotão de milícias era composto por uns 35 / 40 elementos, comandados pelo alferes Malá, homem grande e muito respeitado, com uma idade aproximada de uns 55 anos.
(iii) Em Fulacunda não havia comerciantes. Existia uma "mini e velhinha loja", pertença de um libanês ausente em Bissau e que às vezes um "rapazola" da tabanca abria para vender à população uns panos (tecidos) que ele enviava pelo barco que nos reabastecia.
Havia muito pouca atividade agrícola. Apenas era cultivada a área em redor do arame farpado que circundava todo o aglomerado. Cultivavam principalmente mancarra e algum milho painço. O alimento da população era basicamente o arroz fornecido pela tropa. (Os homens eram milícias, as mulheres lavadeiras... Enfim,. "economia de guerra"...)
Envio 5 fotos. A última foi tirada em Bissau, um ou dois dias antes do nosso regresso, por volta de 23 de agosto de 1974. Quem não conhece esta esplanada?!!![Será publicada noutro poste.]
As outras foram sendo tiradas em Fulacunda, durante os dois anos de comissão. (**)
Forte abraço e desejo de boa saúde, Jorge.
3. Em conversa o telefone, o Jorge Pinto adiantou ainda mais as seguintes informações adicionais:
Fulacaunda era uma terra importante amntes da guerra. Tinha um porto fluvial a 2 km, no rio Fulacunda, afluente do Geba (e, portanto,com fácil ligação a Bissau).
Além disso, era um ponto de cruzamento de várias estradas, conforme se pode ver na carta da antiga província da Guiné (1961) (escala 1 /500 mil):
- para oeste/noroeste, Enxudé, Jabadá. Tite, Bissássema..);
- para sudoeste (São João, Bolama);
- par sul/ sudeste: Nova Sintra, Buba, Aldeia Formosa, Empada)...
A leste tinha formidável barreira do rio Corubal, cujas margens e bolanhas eram controladas pelo PAIGC (pelo menos até 1972, ano em que foi reconquistada a península de Gampará, a nordeste de Fulacunda).
Antes da guerra havia uma numerosa população (uns 4 tabancas) à volta da vila, que era sede de circunscrição, com casas de estilo colonual, uma delas a do administrador. A população refugiou-se no mato, ficando sob controlo do PAIGC. A restante (c. 400) foi a que ficou em Fulacunda. Tudo a gente com família no mato (na guerilha ou na população sob controlo do PAIGC=...
Havia, para leste, junto ao rio Corubal, margem esquerda, duas grandes bolanhas, que continuaram a ser cultivadas, e que eram uma importante fonte de abastecimento de arroz para o PAIGC (tral como as bolanhas do outro lado rio, no sector L1, subsetores de Xime, Mansambo e Xitole): Guebambol e Canturé (a tropa chamava-lhe Cantora, nesse tempo, diz-me o Jorge).
Havia cerca de 220 homens em armas em Fulacaunda:
- a 3ª C/BART 6520/72;
- 1 pleotão de milícias (comandado pelo prestigiado alf de 2ª linha Malan;~
- 1 pel art, com 3 obuses 14 cm.
O PAIGC tinha um bigrupo na zona, comandando pelo Bunca Dabó.
________________
Notas do editor:
Sem comentários:
Enviar um comentário