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sábado, 5 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23763: Contactem-nos, há sempre alguém que pode ajudar ou simplesmente saber acolher (2): amostra de mensagens recebidas entre setembro e dezembro de 2021


Formulário de Contacto do Blogger: disponível na coluna estática, do lado esquerdo do blogue.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022)


1. Seleção de mensagens recebidas através do Formulário de Contacto do Blogger, entre setembro de 2021 até ao final do ano (*). É um veículo importante de comunicação imediata e fácil entre os leitores e os editores do blogue.

 Nalguns casos, já houve uma resposta direta dos nossos editores ou um reencaminhamento para outros destinatários. Também num caso ou noutro a mensagem pode já ter dado origem a um poste (**).

Algumas destas mensagens são extremamente lacónicas, limitando-se a cumprimentar-nos, o que de qualquer modo nos sensibiliza, mas não vamos publicá-las aqui. Noutros casos, os autores procuram antigos camaradas... Outras há que são incompletas ou imprecisas, ou têm a ver com outros territórios que não a Guiné (Angola, Moçambique, Brasil, etc.).

Evitamos, em princípio, divulgar o endereço de email de cada um destes contactos, a menos que haja interesse para o próprio (nos casos, por exemplo, em que divulga um livro ou a realização de um encontro: ou procura informação que extravasa o âmbito do blogue, o qual, como é público e notório, é centrado nos antigos combatentes da guerra do ultramar / guerra colonial, que estiveram na Guiné, no período que vai entre 1961 e 1974).

Podemos fornecer o email a quem no-lo pedir, para respostas a pedidos ou futuros contactos. Lamentavelmente, só agora, por manifesta falta de tempo, nos foi possível, selecionar, organizar e listar estas mensagens. Omitimos as expressões protocolares (saudações, cimprimentos, etc.). A lista está organizada cronologicamente por data / hora.



2021 (setembro/dezembro)

29/12/2021, 11:37

Sou de 15 de setembro 1950, venho por este meio felicitar os obreiros deste blogue simplesmente formidável. Bravo!... Fiz tropa no BENG 447,  Brá, de 1972 a
1974. Se puder ajudar em alguma coisa é de boa vontade na medida do possível sou reformado e vivo na Suíça. Americo Aflalo.

Resposta do coeditor Carlos Vinhal (que também serve para mensagens semelhantes de camaradas que manifestam interesse em integrar a Tabanca Grande):

Caro Américo Aflalo: Muito obrigado pelo teu contacto via Formulário do Blogger. Se te quiseres juntar a nós e ser admitido na tertúlia para que possas ver publicadas as tuas memória e fotos, manda-nos um mail para luis.graca.prof@gmail.com ou carlos.vinhal@gmail.com, com indicação do teu nome, posto, especialidade, unidade em que foste integrado para a Guiné (ou rendição individual se for o caso), localidades onde estiveste e outras informações que julgues úteis para te conhecermos. Deverás enviar ainda uma foto actual e outra dos teus velhos tempos de Guiné e, se quiseres, uma pequena história. Ficamos na expectativa de novo contacto teu.


22/12/2021, 21:05


Queria enviar uma mensagem a todos os meus camaradas e amigos da CCAÇ 2548.
Um grande abraço a todos amigos do 1º pelotão que me acompaharam desde 1969 a 71.
José Dias de Sousa

21/12/2021, 23:14

Eu estive na Guiné de setembro 1971 a dezembro de 1973. Estive na zona de
Teixeira Pinto no destacamento de Batuca. BCAÇ 3863, CCAÇ 3461. Jorge Reis.



5/12/2021, 13:51

Pergunto se têm conhecimento onde se encontra o meu camarada Idálio Reis, da CAÇ 2317 (Gandembel, Balana e Cansissé, 1968/69) ?

António José Silva Nabais Pinheiro  (presumivelmente a viver no Brasil, pelo seu endereço de email).


24/11/2021, 8:25


Há vidas que se esquecem, mas há recordaçºoes que perduram pro muito que se queiram esquecer. Guiné, CCAÇ 4942/72, 5 jan 73/ Out 74. Manuel João Sampaio Lima.


9/11/2021, 17:20


Mantanhas para todo o pessoal da Tabanca Grande. A propósito do fardamento, lembro-me de uma ocasião, já a minha gente tinha manga de tempo na terra sabi, ter pedido para Bissau a substituição dos mosquiteiros, que já pouco mais eram do que farrapos remendados vezes sem conta, e nos foi respondido num ríspido ofício dos serviços da administração que os ditos cujos tinham uma duração de não sei quantos anos e, portanto, os nossos ainda tinham que aguentar uns mesitos mais até poderem ser substituídos... Não houve outro
remédio, o nosso primeiro-sargento foi a Bissau comprar panos de mosquiteiro que o alfaiate mandinga de Buba transformou em mosquiteiros próprios mesmo... E. Esteves de Oliveira.


14/10/2021, 10:06

Bom dia camarada Luis Graça, sou residente no Vimeiro, concelho da Lourinhã há 43 anos pois sou natural de A dos Cunhados.. Casualmente há dias , passou por aqui um individuo à minha porta, ia visitar a campa de camarada Eduardo  Jorge. E a minha mulher chamou-me a atenção, pois o sr. andava para trás para a frente olhando para tudo. Fui espreitar à janela, e qual o meu espanto, disse para a minha mulher, conheço este sr. Fui de imediato à Net e procurei, e acertei mesmo, era o camarada e conterrâneo João Crisóstomo.

Fui à rua chamei-o e claro confirmou. Ficou muito satisfeito por o reconhecerem, falamos um pouco da nossa terra, e lá foi prestar homenagem ao Eduardo Jorge. Desculpa, mas achei que devia partilhar este momento feliz, para mim que conheci o João Crisóstomo e para ele que ficou satisfeito de o conhecerem pela Net.  Artur Eduardo Januário Inácio.


25/9/2021, 14:08

Boa tarde o meu pai fez parte dessa CCAÇ 797, na Guiné, comandada pelo Capitão Carlos Fabião, é o Manuel Marques Lamarosa, era atirador. João Manuel Marques.

19/09/2021, 12:12

Diamantino Paiva Leite, soldado condutor da CART 1526 que prestou serviço na Guine nos anos 1966 a 1968, a residir em França desde 1971. solicitou-me que soubesse algo dos seus antigos camaradas que com ele viveram esse tempo de luta na Guiné. A saúde não lhe permite aceder a estes meios. Em seu nome, o meu muito obrigado. Arlindo Moreira da Silva (ex-soldado cond, CCS / BCAÇ 1933, Guine 67/69).



9/9/2021, 19:08

Chamo-me Nuno Inácio e sou filho de um Comandante do Pelotão de Caçadores Nativos 67, Alf Mil Gil da Silva Inácio,  conhecido como "O Gringo" - Cufar, Guiné 1973.

Tomei conhecimento deste website através de um grande amigo que viu um artigo onde mencionava um Alf Mil na Guiné conhecido como "o Gringo" e como outrora lhe tinha referido essa alcunha do meu pai fui verificar e de facto é o meu pai.

Estimo informar que o meu é vivo, cheio de saúde e ainda pronto para as curvas. Neste sentido gostaria de saber se alguns dos inúmeros heróis aqui presentes e representados conheceu o meu pai, gostaria de saber mais histórias desses tempos, porque o meu pai tem algumas reservas em partilhar essas histórias e se ainda existem encontros de ex-combatentes desses GE e, em caso afirmativo, pedia o favor a V. Exas. ser notificado para o efeito. Nuno Inácio (Indica o nº de telemóvel). (**)
 

8/9/2021,19:54

Com referência ao post do camarada António Abrantes, lembro-me da emboscada e da passagem da sua companhia por Buba, onde me encontrava na altura. A companhia que fez a escolta entre Aldeia Formosa e Fulacunda foi a CCaç 411, de Buba. A atribulada viagem da CCaç 423, que ficou conhecida como a "Volta à Guiné de Camioneta", deu pano para mangas sobretudo peo final, no fim de contas era a maneira mais lógica - por via marítima. 

Se fosse possível, agradecia que o Abrantes confirmasse se o ten Carlos Afonso Azevedo (falecido em combate) fazia parte da sua companhia. E. Esteves de Oliveira.

2/9/2021, 21:09

Eu António Lopes Pereira sou o ex-1º cabo da CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832. Estive
em Mansoa, Braia e Infandre de 1970 a 1973, sou o nomero 701 da Tabanca Grande. António Lopes Pereira.



23/8/2021, 13:07

Estive na Guiné de novembro de 1966 a outubro de 1968. Na CArt 1612 / BArt 1896 até agosto de 1967, primeiro em Bissorã e depois em Buba, transitando depois para Bissau, para o Comando Chefe do CTIG:

Recebo os e-mails da vossa Tabanca, quase desde o princípio. Jorge Paes da Cunha Freire.



18/08/2021, 19:16

Caros camaradas militares: anseio por voltar ao nosso convívio; para quando está previsto - se está - o próximo encontro? Francisco Vilas Boas.



16/8/2021, 17:38


Estive na Guiné de 68/70 na 16ª Companhia de Comandos da qual em 69 o Marcelino da Mata fez parte . Um abraço a todos quanto por la passaram. Sou de Coimbra. Luis Cunha


10/8/2021, 01:04

Boa noite! Alguém por aqui do BAA 3434, 191/73, "As Avezinhas - Venham
Comigo Os fortes" ? António Martins.


10/08/2021, 09:09

 Os meus Bons Dias desde as «arábias». 
Faz hoje quarenta e nove anos (1972.08.10-2021.08.10) que vários elementos do contingente militar da CART 3494, a terceira unidade de quadrícula do BART 3873, tiveram de “mergulhar”, sem o desejarem, nas águas revoltas, escuras e lodosas do Rio Geba, na região do Xime/Bambadinca (Sector L1), onde, por efeito da falta de bom senso mesclado com alguma improvisação, perderam a vida três jovens milicianos, naquele que ficou gravado como o «Naufrágio do Geba».

Ao recuperar esta horrenda efeméride que a todos marcou, naturalmente mais aos que viveram e sobreviveram à experiência, quero prestar a minha sentida homenagem aos que pereceram naquele acidente náutico: ao José Maria da Silva Sousa, ao Manuel Salgado Antunes e ao Abraão Moreira Rosa.

Para compreender a trágica ocorrência devem-se ler os P10246; P13482 e P13494.  Jorge Araújo

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15655: Álbum fotográfico de António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494 e CART 3567 (1): BAA 3434, dispositivos para iluminação do campo de batalha e Cumeré

1. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74), com data de 10 de Janeiro de 2016, com as primeiras fotos para o seu Álbum fotográfico:

Olá Camaradas
É minha intenção enviar todas as minhas fotos da Guiné. Vou enviá-las por assuntos:
Segue o primeiro - a Btr AA 3434 que defendia heroicamente (digo eu) a Base Aérea 12 contra ataques aéreos e terrestres como aconteceu por duas vezes que me recorde.
Depois do guião e do emblema de peito um portefólio feito numa noite de exercício de defesa Anti-Aérea.
O Malogrado TCor Brito voava num T-6 e largou um ou dois flares - dispositivos para iluminação do campo de batalha) que ficavam a pairar à vertical da base e os artilheiros, PUMBA! Fogo neles.
E até acertaram... Era incipiente, mas era o que se podia arranjar. A defesa AA da Base tinha muitas limitações, como já se disse, mas se houvesse tempo era possível pôr tiros no ar que é o que faziam todas as AA da II GM que utilizavam os materiais de que dispúnhamos. O resto era rezar e esperar que Deus fosse português (e do Benfica de preferência...). Caso contrário poderia ser uma tragédia.
Seguem duas fotos do Cumeré, em MAI71. Ainda não estava completamente acabado, mas já fazia serviço e "embrulhou" na noite de 9 para 10UN71, quando foram atacados todos os quartéis à volta de Bissau e ao mesmo tempo 6 foguetões de 122 mm caíam à beira do "Pelicano" um restaurante bem agradável de que todos nos lembramos.
Voltarei à antena com mais fotos.

Um Ab.
António J. P. Costa



 





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terça-feira, 2 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5919: Blogoterapia (146): E tu, quem és? Já se passaram muitos anos (Fernando Santos)

Texto Fernando Silva Santos* (ex-Soldado Informações e Operações de Artilharia, BAA 3434, Bissau, 1971/73), enviado pelo nosso camarada Jaime Machado em mensagem de 1 de Março de 2010.


E tu, quem és?
Já se passaram muitos anos...


Abril ainda baila nos corações nostálgicos de quem ainda tão novo, foi embalado nas ondas do Atlântico ao encontro daquela terra vermelha com sabor africano.

Era um tempo de saltimbancos e de biscates silenciosos, de andorinhas e de melros que cantavam ao fim da tarde nos jardins das casas burguesas. Mas era, igualmente, um tempo de mar e de traineiras, um tempo operário e clandestino, com a Fábrica das Redes, a Algarve Exportadora, a Oliveira & Ferreirinhas e tantas, tantas outras empresas do nosso Matosinhos a verem partir os seus colaboradores para a guerra colonial.

O destino era África e as colónias portuguesas.

Naquele tempo, era muito difícil explicar aos rapazes jovens o “porquê” de terem de combater numa extensão territorial muito diferente do solo que os vira nascer. Era um tempo diferente. Um bocado à imagem da submissão instituída e da divisão por sexos, com escolas para meninas e escolas para meninos. Era um tempo em que os rapazes jogavam à bola na rua, em renhidas peladinhas do “muda aos seis e acaba aos doze” e, as meninas, faziam casinhas de brincar para desenvolverem a sua capacidade para a procriação, para no futuro cuidarem da casa, do maridinho, dos filhos e desenvolverem o modelo de mulher como um dia o sonhou Filipa de Vilhena.

Mas nesse tempo dos nossos vinte anos, existia uma coisa muito bonita que era o “respeitinho!”

Naquela altura, nos transportes públicos, as pessoas levantavam-se dos seus lugares, para o oferecerem a uma mulher grávida ou a uma pessoa mais velha que, entretanto, viajava de pé.

E hoje?

Naquela altura, os pais eram mesmo “Encarregados de Educação” e os professores eram respeitados nas escolas e nas salas de aulas.

E hoje?

Naquela altura a utopia vestia-se de vários encantos. Até o puritanismo era diferente; aliás, não era senão uma forma de enganar desejos ocultos e assentes, na maioria das vezes, nos tabus impostos pela política dominante.

E estávamos na década de sessenta e depois, apareceu a década de setenta do século passado!...

Foi um tempo de Coimbra, de Maio, de uma Seara Nova e dos Movimentos estudantis. Foi, igualmente, um tempo de Miller Guerra, de Sá Carneiro, de Francisco Balsemão e de outros liberais que, na então Assembleia Nacional, representavam a mudança que Abril mais tarde protagonizou.

E nós, éramos jovens.

A maioria de nós, éramos mesmo muito jovens.

Passei muitos anos que tinha jurado a mim mesmo nunca mais falar disso. Nem à minha mulher, nem aos meus filhos, nem aos meus amigos. Percebo agora que fiz mal. Devia ter contado a toda a gente para que toda a gente soubesse o que foi a Guerra e em especial a Guerra na Guiné-Bissau.

Hoje, numa espécie de catarse, tento recuperar o tempo perdido e sempre que posso, confraternizo com os camaradas que estiveram, igualmente, naquele território africano.

Graças à persistência e convivência destes camaradas, que há tempos se juntam num almoço em Matosinhos, com o fim de sedimentarem camaradagens e amizades antigas, foi criada recentemente, uma Associação, para ajuda ao povo guineense. E quando a causa é Solidariedade, todas as acções são bem vindas.

Amanhã, Sábado dia 6 de Março, aqui num Restaurante em Matosinhos, um grupo considerável de matosinhenses que têm em comum, um dia terem sido mobilizados para a Guiné-Bissau, vão confraternizar num almoço de camaradagem e de saudade e perante proeminentes barriguinhas e névoa em alguns cabelos, vão recordar a generosidade esbelta da sua juventude e perguntar ao camarada do lado:

- E tu, quem és?

- Em que zona da Guiné estiveste?

E perante o desfilar das recordações vai ser bonito ouvir balbuciado nos lábios destes combatentes, novamente, a palavra “Pátria”.

f.silvasantos@netcabo.pt

OBS:- Este texto de Fernando Santos, que é colunista do Jornal de Matosinhos, vai ser publicado no próximo dia 5 de Março neste periódico.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Novembro de 2009 Guiné 63/74 - P5318: Blogoterapia (130): A guerra exisitu!... (Fernando Santos)

Vd. último poste da série de 20 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5852: Blogoterapia (145): Considera que Portugal valoriza os seus ex-combatentes? (Carlos Cordeiro)

domingo, 22 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5318: Blogoterapia (130): A guerra exisitu!... (Fernando Santos)

1. Mensagem de Fernando Silva Santos, ex-Soldado IO Art.ª da BAA 3434, Bissau, 1971/73, com data de 16 de Novembro de 2009, reencaminhada para a Tabanca Grande pelo nosso camarada Jaime Machado:

Camaradas:
Se tiverem algum interesse neste artigo, podem divulgá-lo, inclusivé para publicação no Blogue.
[...]

Abraços,
Fernando Santos
BAA 3434 "As Avezinhas" - Guiné 1971/73

Jaime Machado e Fernando Santos, na Tabanca de Matosinhos.
Foto retirada do site da Tabanca de Matosinhos, com a devida vénia



A Guerra Existiu!...
“Os que morreram, viajaram envoltos na Bandeira da Honra, com a legenda: Portugal!...”

Foi há 36 anos. Já lá vai muito tempo!...

De repente, apetece-me escrever que a Liberdade, hoje, ainda não é como o ar que respiramos. Não sendo anómala nem rara é uma causa muito preciosa que todos temos de manter e dela falar!... É que o silêncio, não é só a ausência das palavras. Também é o adormecimento das causas, a camuflagem dos valores e tantas vezes a renúncia imposta às memórias que não deveriam sumir na poeira dos tempos!...

A Guerra Existiu!...

E há 36 anos, no dia 26 de Maio de 1971, no cais de Alcântara em Lisboa, a bordo do navio “Angra do Heroísmo”, uma Bateria de soldados, especializados em anti-aérea, partiu rumo à Guiné. Era a Bateria Anti-Aérea 3434, baptizada com o nome dos “Avezinhas”.

Também nessa altura, era um tempo de Maio. Um Maio já prestes a despedir-se de maduro, vestido de incerteza e de mistério por tudo aquilo que haveria de acontecer no futuro das madrugadas nascentes, no seio daquela terra africana, no coração do seu Paiol e dos bafos vermelhos que acariciavam o rosto de rapazes na casa dos vinte e poucos anos de idade!...

Na altura, o serviço militar era obrigatório.

Que o digam as centenas de matosinhenses que foram mobilizados para as nossas ex-colónias ultramarinas.

Mas é acerca da Bateria Anti-Aérea 3434 – os “Avezinhas” – que eu gostaria de escrever esta semana. Até porque neste contingente militar, foram incorporados alguns camaradas de armas, patrícios meus, que ainda hoje, felizmente, vivem e habitam no nosso concelho.

E se é verdade que as pessoas reagem a estímulos exteriores, o encontro convívio e de saudade, que tive com os “Avezinhas”, no passado Sábado, motivou-me a comungar com os meus caros amigos leitores, alguns testemunhos de vida que marcaram, indelevelmente, os meus 21/23 anos!... Foram tempos já distantes, em que os horizontes para a minha pequena adultês pareciam quebrados e o medo existia escondido nos nossos olhares que se cruzavam com os olhares côncavos e famintos das crianças nativas vestidas de inocência!

No passado Sábado, no Santuário do Sameiro, em Penafiel, os “Avezinhas” tiveram o seu encontro de ex-militares que fizeram parte daquela incorporação. Evocamos – alguns de nós já com o babado estatuto de avós – o nosso tempo de juventude passado a combater na ex–colónia da Guiné. Rezamos pelos camaradas já falecidos e relembramo-nos de alguma da nossa actuação, ainda que involuntária, no palco das operações do teatro da guerra.

Nesse encontro estavam camaradas de Matosinhos e que, curiosamente, lêem o Jornal de Matosinhos!

Prometi-lhes que escreveria uma crónica a referir a guerra colonial para que, a juventude matosinhense não se esquecesse que os seus pais e os seus avós, provavelmente, passaram por essas acerbas provações! Não podemos branquear esta parte da História recente de Portugal.

A Guerra Existiu!

O papel dos soldados portugueses, como embaixadores da política do Estado Novo, terminou no dia em que a bandeira portuguesa foi arreada dos palácios dos Governadores das respectivas colónias e de todos os edifícios públicos.

Hoje, passados estes anos, a pergunta continua escondida acutilantemente, na mente de muitos ex-combatentes:

- Valeu a pena?!...

Claro que valeu a pena, digo eu!...

A História é feita de tudo isto. De dicotomias. De contradições. Neste caminhar inexorável, vivemos amores e lavramos desamores; semeamos amizades e criamos ódios inóspitos; fomos o “eu” e fomos o “outro” num caminhar intermédio e subterrâneo; embrutecemos e tornamo-nos sensíveis transportando na nossa formação constante o cheiro das tabancas e a melodia da mata verde que moldaram para sempre o nosso sentir e a nossa personalidade. Anjos ou Demónios, francamente não sei, nesta catarse ainda por inventar…

O que sei, é que nesse dia de final de Maio de 1971, quando os “Avezinhas” chegaram à Guiné, ao desembarcarem no cais do Geba, em Bissau, sentiram um sol intenso, vermelho, a confundir-se com o vermelho de uma terra jamais vista!... Depois, em coluna militar, lá fomos, com destino ao primeiro aquartelamento situado no Cumeré. Pelos estradas – algumas de terra batida – camaradas de guerra prestes a regressarem à metrópole, saudavam-nos num ritual e praxe guerreira: “Piu…Piu…Piu. Salta Pira…”, ou então, numa música mais estridente e sádica do que motivadora, cantavam gozões e intimidatórios:

Piriquito vai pró mato, olé, olé… que a velhice vai p’ra Bissau, olé, olé!...”.

Nessa altura, os nossos olhares virgens de maçaricos, admirados, penetravam naquele mundo novo, feito de mulheres negras com os seios caídos de uma nudez sensual, jovem e hirta que da berma dos caminhos nos acenavam, ou então, pelas “mulheres grandes” de pele ressequida, as quais, nos olhavam sentenciadoras, como quem já adivinhava o nosso futuro!...

Chegados ao Cumeré, a nossa primeira reacção foi perguntar:

- Aqui já aconteceram ataques?!...

A resposta surgiu motivadora e a vida lá continuava num ritmo de adaptação às novas gentes, ao novo clima e às novas mentalidades. Como recordo os dias decepcionantes do “lerpanso” do correio. Nem uma carta. Nem um aerograma. Nada! Só as carícias cantadas em crioulo pelas bajudas nativas.”Parte um peso, pessoal!...” E lá recebiam o “patacão!...”

No dia 9 de Junho de 1971 (faz amanhã 36 anos), o “inimigo” – de propósito entre aspas – brindou-nos com o seu “baptismo de fogo!...”

Era uma quarta–feira!... A noite espreitava do poente. A G3 era a nossa companheira, num artifício de fogo tricotado, belo e trágico!... Não víamos nada!... Só fogo reluzente e o ribombar das granadas e dos obuses!... Disparávamos ao encontro do vácuo!...

Era a Guerra!... Os “Avezinhas” tinham chegado somente há nove dias à Guiné!...

Nesse ataque, no dia 9 de Junho de 1971, morreu um camarada. Outros ficaram marcados no corpo e no espírito para toda a sua vida…

Eu sou testemunha que a Guerra Existiu!...

f.silvasantos@netcabo.pt



Fotos da Guiné-Bissau de autoria Fernando Inácio © Direitos Reservados, com a devida vénia


2. Comentário de CV:

Caro Fernando. Não costumo fazer comentários aos textos dos camaradas. Quem sou eu para isso?

No entanto é um prazer publicar prosa ou verso com qualidade. Foi o caso deste teu trabalho.

Sei que tens participado nos almoços dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, porque tenho registo da tua presença. Não por isto, mas também, estou a convidar-te a colaborares neste Blogue, que como sabes tem a missão de fazer um registo de histórias dos ex-combatentes da Guiné. Nesta Caserna virtual têm lugar militares do Quadro Permanente ou Milicianos; oficiais, sargentos e praças; licenciados ou não. Tudo em pé de igualdade, porque o que nos une é aquele pequeno país de terra vermelha e ar sufocante, e tudo o que por lá passámos.

Envia-nos os teus elementos militares como: posto, locais por onde andou a tua Unidade, data de ida e regresso, e uma foto actual e uma antiga, tipo passe em JPEG. Manda-nos também mais um dos teus textos e eu faço a tua apresentação formal à tertúlia. Teremos muito prazer em receber-te nossa Tabanca Grande.

O endereço electrónico do nosso Blogue é: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

Obrigado por esta tua colaboração que espero seja a primeira de muitas.
Recebe um abraço do camarada
Carlos Vinhal
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Vd. último poste da série de 18 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5294: Blogoterapia (129): A guerra que Portugal não ganhou (José Teixeira)