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quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24979: Historiografia da presença portuguesa em África (399): Magul, Moçambique, 8 de setembro de 1895: um marco na história da nossa artilharia


 
Guiné > Zona leste >Região de Bafatá >  Setor L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > O alf mil Torcato Mendonça (1944-2021) junto a obus 10,5 ou 105 mm, em cujo tubo se pode ler "Nagul - 1895".

Foto : © Torcato Mendonça (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Moçambique > c. anos 1920 >  Monumento de Magul, comemorativo do combate de 8 de setembro de 1895, no qual tomaram parte, entre outros oficiais do exército português, Mouzinho de Albuquerque, Freire de Andrade e Paiva Couceiro


(Cortesia de Hemeroteca Digital de Lisboa)

1. Magul não é um topónimo guineense, mas se calhar por causa dele e de outros que nós lá fomos parar à Guiné, na sequência das  "guerras de pacificação" do 3º quartel do séc. XX (a que também se chama "guerra colonial", "guerra do ultramar", "guerra de África"...)  Marracuene, Magul , Coolela e Chaimite (em Moçambique), Mofilo, Môngua (em Angola), etc., são nomes de batalhas das campanhas de "pacificação", "ocupação" ou "manutenção do Império"...

Magul (*) apareceu aqui, pela primeira no blogue, numa foto de um obus. 10.5 (*), da autoria do Torcato Mendonça.  Conversa puxa conversa, ficámos a saber mais um pouco sobre a historiografia da presença portuguesa em África (**).

Foi o nosso saudoso Vasco Pires (1948-2016 ), que vivia no Brasil, quem deu a primeira dica (***): a inscrição "Mgul - 1895" no tubo do obus 10.5 de Mansambo (*) só poderia ter a ver com o combate de Magul, de 8 de setembro de 1895, em Moçambique. 

Por outro lado, o artilheiro C. Martins, bravo de Gadaamel (1973/74), esclareceu os infantes que, no tubo dos obuses e peças da BAC,  " às vezes era inscrito o nome de batalhas onde a artilharia se distinguiu por feitos valorosos"...

Sobre o combate de Magul, recolheu-se na atura mais a seguinte informação na Wikipedia:

(...) "O Combate de Magul foi uma batalha travada na região de Magul (Moçambique) entre uma força expedicionária Portuguesa, liderada por Alfredo Augusto Freire de Andrade e os guerreiros tribais Ronga, liderados por nuã-Matidjuana caZixaxa Mpfumo e pelo seu primo Mahazul.

"O confronto insere-se nas chamadas "Campanhas de Pacificação de África" levadas a cabo por Portugal nas suas colónias, nos finais do século XIX e início do século XX, fruto da crise do Mapa cor de rosa. A primeira fase destas campanhas, iria culminar na captura do imperador de Gaza, Ngungunhane.

"A batalha deu-se no dia 8 de setembro de 1895, sendo a desproporção de forças entre os dois lados bastante substancial. Do lado Ronga, contavam-se 13 Mangas (regimentos de guerreiros tribais) com cerca de seis mil homens, enquanto que a tropa portuguesa dispunha de 275 soldados europeus, auxiliados por 500 ajudantes africanos (na sua maioria angolanos).

"Os guerreiros africanos lançaram-se na sua tática habitual de meia lua, enquanto os portugueses, usaram a sua tática do quadrado habitual, (soldados virados para as quatro frentes, em linha de fogo, com as peças de artilharia nos cantos).(...)

"O poder de fogo das metralhadoras e da artilharia europeia era enorme, fazendo com que os Ronga não conseguissem furar o quadrado Português. Ao fim de duas horas de combate, os africanos retiram, deixando para trás 400 mortos. Do lado português contabilizam-se 5 baixas entre os soldados continentais, uma vitória esmagadora e que muito desmoralizou os Ronga.

"Depois da vitória inquestionável, a tropa portuguesa aproveita para semear o medo entre as povoações, tentando desta forma quebrar o sentimento de revolta contra o domínio colonial, e são incendiadas varias aldeias.

"Ngungunhane não intervém, pois aguardava ainda por ajuda inglesa que no entanto não surge. Os britânicos ao verem a determinação que o governo português emprega nestas ações, retiram o apoio ao imperador africano.

Nesta batalha distinguiu-se com enorme bravura o famoso Henrique de Paiva Couceiro" (...).



2. Ficámos também a saber também algo mais sobre o céldebre Ngungunhane ou Gungunhana (c. 1850-1906):

Ver o sítio "Vidas Lusófonas", a biografia de Gungunhana, hoje herói nacional para os moçambicanos e que, no nosso tempo de escola, fazia parte do nosso imaginário...

http://www.vidaslusofonas.pt/ngungunhane.htm (página, entretanto, descartada)

NGUNGUNHANE (resistente anticolonial, 1850? – 1906)

Quando tudo aconteceu...

1850: Data aproximada de nascimento de Ngungunhane;

1858: Morte de Manukuse, fundador do império de Gaza, avô de Ngungunhane;

1884: Morte de Muzila, pai de Ngungunhane e subida deste ao poder;

1885, Fevereiro: Conferência de Berlim e partilha de África pelas potências europeias;

1890, 11 de Janeiro: Ultimato britânico ao governo português;

1894, Agosto: Rebelião dos tsongas na região de Lourenço Marques;

1895, 8 de Setembro: Combate de Magul;

1895, 11 de Novembro: O exército português vence os ngunis, arrasa e incendeia Mandlakasi, capital do império de Gaza;

1895, 28 de Dezembro: Mouzinho de Albuquerque aprisiona Ngungunhane em Chaimite, a aldeia sagrada dos ngunis;

1896, 13 de Março: Ngungunhane, sete das suas mulheres, seus filho e tio e dois régulos são desembarcados em Lisboa, em estado de festa pelas capturas;

1896, 23 de Junho: Ngungunhane chega à ilha Terceira, Açores, onde fica desterrado até à morte;

1906, 23 de Dezembro: Morte de Ngungunhane;

1985, 15 de Junho: as ossadas, provavelmente falsas, chegam à República de Moçambique.

Fonte: Vidas Lusófonas > Carlos Pinto Santos > NGUNGUNHANE (resistente anticolonial, 1850? – 1906)

https://arquivo.pt/wayback/20141001000628/http://www.vidaslusofonas.pt/ngungunhane.htm
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Notas do editor:

(*) Vd. pposte de 20 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24978: Capas da Gazeta das Colónias (1924-1926) (6): Moçambique: monumento aos heróis de Magul (8 de setembro de 1895)... Guiné: o rio Grande a que aportaram as caravelas portuguesas em 1446 não era o Casamança mas o Geba: nele foi observado o fenómeno do macaréu

Guiné 61/74 - P24978: Capas da Gazeta das Colónias (1924-1926) (6): Moçambique: monumento aos heróis de Magul (8 de setembro de 1895)... Guiné: o rio Grande a que aportaram as caravelas portuguesas em 1446 não era o Casamança mas o Geba: nele foi observado o fenómeno do macaréu

 


"Moçambique - Monumento de Magul.  Comemorando o combate de 8 de setembro de 1895, no qual com Mousinho de Albuquerque, tomaram parte, entre outros oficiais, os srs, General Freire de Andrade e Paiva Couceiro"

(Cortesia de Hemeroteca Digital de Lisboa)
 

Detalhe: "À memória dos soldados portugueses aqui mortos pela Pátria, 
em 8 de setembro de 1895"



Diretor: Oliveira Tavares; editor: Joaquim Araújo; propriedade: Empresa de Publicidade Colonial, Lda. 


1. Lá descobrimos mais um pequeno artigo sobre a Guiné: da autoria do eng. agr. Armando Cortesão,  foi publicado no nº 14, de 27 de novembro de 1924, da "Gazeta das Colónias" (será nomeado no ano seguinte Agente Geral das Colónias), e diretor do boletim da Agència Greal das Colónias). 

Com os conhecimentos de cartografia, mostra-nos que o rio a que as caravelas portugueses chegaram em 1446, sob o comando de Fernão de Vilarinho  e Estêvão Afonso foi o rio Geba, e não o Casamança, a que os cronistas da época chamavamo Rio Grande, e onde observaram o fenómeno do macaréu...






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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de dezembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24969: Capas da Gazeta das Colónias (1924-1926) (5): Angola, Companhia do Amboim: a roça "Ajuda e Amparo"... E propaganda da Guiné, por Armando Cortesão: "Ainda há 10 anos Bissau era um pequeno povoado, cercado por uma muralha e ai do europeu que dela se atrevesse a afastar-se umas centenas de metros"...

sábado, 29 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13959: (Ex)citações (255): A minha aventura (e da minha mulher, grávida) a bordo da BOR, numa viagem atribulada entre Bolama e Bissau (Rui Santos, ex-alf mil inf, 4ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65)

A. Mensagem enviada ao fimd a tarde, pelo correio interno, a toda a Tabanca Grande:

Camaradas:

1. Desculpem importunar o vosso descanso de fim de semana, que deveria ser sagrado para um guerreiro... Mas esta nossa partilha de menórias não tem dia(s) nem hora(s)...E é sempre mutuamente vantajosa...

2. Há dias mandei-vos uma "charada": que raio de inscrição era aquela no cano do mais puro aço Krupp no obus 10.5 de Mansambo, 19678, onde o nosso camarada Torcato Mendonça pousou (descansou) o braço direito e posou para a eternidade, qual Napoleão, mostrando o relógio Rolls Royce Breitling de duas mila patadas, no pulso do braço direito ?... A inscrição dizia Magul 1895 [, vd. foto acima]...

Foi preciso um "brazuca", ex-artilheiro de Gadamael, o Vasco Pires, mandar, do outro lado do Atlântico, a contra-senha: Magul (8/9/1895)... foi a célebre batalha que precedeu, em 3 meses, a de Chaimite (28/12/1895), em Moçambique, quando Gungunhana, rei de Gaza, e aliado dos ingleses, é aprisionado por Mouzinho de Albuquerque... Bolas, a escolinha foi há mais de meio século!... Alguém se lembraria de Magul!...

3. O exercício deste fim de semana não é menos desafiante: a BOR, já ouviram, falar? Alguns de nós andaram nela (ou nete)... Era um pachorrento ferryboat capaz de levar a carga de uma LDG... Spínola "passeou" nele(a) no Rio Corubal, em 17/3/1969... O Torcato, o Ismael e outra malta do leste andou na BOR...Eu não tenho ideia, e como não tenho a certeza não ponho no meu currículo... Andei no Bubaque, mas na BOR não me lembro...

O nosso camarada e hoje embaixaxdor de Cabo Verde em Itália, Manuel Amante da Rosa, descreve-a nestes termos

(...) "Quanto ao BOR, como os outros, também era do Comando da Defesa Marítima. Era o que se chamava um ferryboat, para transporte de viaturas, cargas a granel, passageiros, gado e tudo o mais que houvesse, incluindo a guarnição de várias unidades militares a nível de companhias e seus apetrechos e viaturas. Tinha dois potentes e ruidosos motores, um a bombordo e outro a estibordo, que lhe permitia grande capacidade de manobra e calava pouco. Mas era lento de exasperar e desconfortável. O sol era abrasador para quem não estivesse abrigado. Levava facilmente mais de 400 passageiros e cargas.Era seguro e muito utilizado para o transporte das guarnições militares". (...)

4. Não acreditam, mas nós que já publicámos cerca de 30 mil fotos no nosso blogue, não temos uma foto da BOR!... Temos tropa na BOR, na viagem de regresso de Bambadinca a Bissau, mas não temos uma foto de corpo inteiro desta valente embarcação que fez a guerra e a paz....A foto que anexo é do Fernando Cachoupo, a quem saúdo, bato pala e tiro o quico!...

Camaradas, vasculhem osvossos álbuns e baus, mas por favor mandem-me uma foto da mítica BOR!...

Um alfabravo de camarada para camarada, de amigo para amigo. Luís Graça


B. Resposta pronta do nosso veteraníssimo Rui Santos [ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65]



Ainda há poucos dias contei, não sei onde, a minha história a bordo do Bor, minha e de minha mulher que estava pançuda e o médico disse que não devíamos ir de avião... Então vai disto ... Bor,  "bamo bora" e lá vai um jovem casal,  sentados em rolos de cabos grossos, quando começa uma tempestade daquelas que todos conhecem, os que estiveram pisando o solo da Guiné, quase à saida do Canal de Bolama...

À passagem defronte da Ilha das Cobras começa o motor a... puff, puiuff e puift mêmo,  já perto do Geba, chuva na chube noss alfer ...

Pois... e eu à rasca por causa da minha mulher que nem lhe via a cor branca da face, mas aguentou estoicamente, fui falar ao "Comandante" mas pouco, e ninguém conseguía pôr a nau Catrineta a funcionar, e eu a ver os canais do Geba e a ver duas coisas ou ficamos aqui nos baixios ou vamos a caminho do Atlântico, sem rádios sem comunicação com terra ... zero!

Não sei o que se passou...  De repente ouço os motores trabalhando e os "mecânicos" rindo,  cantando e dançando, fui para o pé da minha mulher e, passado uma hora, para mais  não para menos, eis-nos chegando ao Pidjiguiti (se não for assim, é parecido) onde estava o Capitão João Nogueira e a esposa esperando e muito apreensivos.

A aventura do Bor...


Boa noite, Rui Santos


C. E a propósito, cumpre-me lembrar e reproduzir  aqui uma outra mensagem recente,  do nosso camarada e grã-tabanqueiro de longa data, e que queremos partilhar com o resto da Tabanca Grande:


Eu, Rui Gonçalves dos Santos, alferes miliciano 
de 1963 a 1965,  prestei serviço no CTIGuiné, em rendição individual, no sudoeste desse território, Bedanda (4ª CCaç) e Bolama (CIM), passando também em Fulacunda  por uns dias, por actos praticados em cumprimento do meu dever, galadoaram-me com a Medalha de Mérito Militar de 3ª classe.

Fui ... um militar de infantaria ... das operações banais .... Hoje, 13 de Novembro de 2014,  pelas 15 horas e 30 , em Chelas, numa cerimónia singela,  a meu pedido, um sr major e um sargento ajudante colocaram-me fora do peito o que tenho e sinto com muita honra dentro dele ... Obrigado!

As fotos do acto registado por meus filhos, que foram comigo testemunhar e apoiar-me na respectiva sessão da condecoração.

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13958:(Ex)citações (254): quando Spínola viajou, com mais 300 homens, na BOR, em 17/3/1969, no decurso da Op Lança Afiada, em pleno Rio Corubal, da Ponta Luís Dias à Ponta do Inglês